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A DESCOBERTA DOS CROMOSSOMOS

SEXUAIS

Oitava aula Objetivos


(T8) 1. Descrever como foi descoberto o cromossomo sexual.
2. Explicar a hipótese de McClung sobre a determina-
ção cromossômica do sexo.
3. Descrever como se dá a determinação do sexo nos
sistemas XX/X0 e XX/XY.
4. Definir: sexo homogamético e sexo heterogamético.
5. Descrever como foi descoberta a herança ligada ao
sexo em mariposas.
6. Discutir a hipótese de Doncaster para explicar heran-
Texto adaptado de: ça ligada ao sexo.
MOORE, J. A. Science as a Way of Knowing - 7. Explicar o padrão de herança para genes localizados
Genetics. Amer. Zool. v. 26: p. 583-747, 1986. nos cromossomos sexuais.

HENKING E O ELEMENTO X Como acontece com freqüência, a natureza


Como citado anteriormente, Montgomery estava realizando o experimento necessário em
havia sugerido em seu trabalho de 1901 a impor- paralelo. E foi necessário um considerável espaço
tância de se estudar uma grande variedade de de tempo para que os citologistas percebessem
organismos uma vez que alguns deles poderiam este fato.
mostrar variações no comportamento de seus Em 1891, H. Henking publicou suas observa-
cromossomos (termo usado pela primeira vez em ções sobre o comportamento dos cromossomos
1888 por Waldeyer), o que forneceria informa- na espermatogênese do percevejo Pyrrhocoris sp.
ções para se tirar conclusões impossíveis de serem No macho desta espécie, o número diplóide é de
tiradas de outra maneira. O caso dos cromos- 23 cromossomos - 11 pares mais um cromossomo
somos acessórios é um exemplo disto. Foi o adicional, que ele chamou de “elemento X”. Na
estudo do comportamento desses cromossomos sinapse, os 11 homólogos formavam 11 biva-
que forneceu a evidência definitiva de que os lentes. Mas o comportamento do X era diferente;
genes são parte dos cromossomos. como não possuía um homólogo ele não podia
Lembre-se a razão pela qual Boveri realizou se emparelhar, mas ele se duplicava, formando
experimentos de poliespermia em ouriço-do-mar. uma estrutura dupla. Assim, no início da meiose,
Seu sistema forneceu um mecanismo para se obter cada célula apresentava 11 bivalentes mais o X
a distribuição de grupos anormais de cromos- na forma de univalente. No decorrer da primeira
somos para células de embriões em início do divisão meiótica os 11 bivalentes separavam-se,
desenvolvimento. Como conseqüência, os e um univalente (= apenas um homólogo
embriões morreram, apoiando a hipótese de que duplicado, com duas cromátides) de cada biva-
um lote normal de cromossomos era necessário lente migrava para cada célula-filha. O univalente
para o desenvolvimento normal. Apesar disso, do X, no entanto, ia inteiro para um dos pólos do
este não foi um tipo de experimentação muito fuso e, portanto, era incluído em apenas uma das
produtivo. Não havia meios para reconhecer células-filhas. (Fig. 20)
cromossomos individuais ou para relacionar Na segunda divisão meiótica da célula com
fenótipos com cromossomos específicos ou apenas 11 univalentes, era observada a separação
mesmo para controlar quais cromossomos das cromátides de cada univalente e uma
entravam em que célula. cromátide de cada univalente ia para cada uma

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de algum modo relacionado
A D E com a determinação do
sexo. Ele diz: “Estando
x
convencido da fundamental
importância do cromos-
somo acessório, por causa
de seu comportamento na
espermatogônia e no esper-
matócito primário, e
fascinado pelo seu compor-
tamento não usual na
x divisão [meiose]do esper-
B C matócito, eu sugiro uma
Figura 20. Meiose em macho de Pyrrhocorissp. (A) Espermatócito em
explicação que seria coe-
telófase da primeira divisão da meiose. O cromossomo X está indo para o rente com a importância
pólo da direita. As células filhas resultantes estão mostradas nas figuras B destes fatos. Assumindo
e C; o cromossomo X está presente em apenas uma delas, na C. (Conte o que há uma diferença
número de cromossomos nas duas células). Dois tipos de espermatozóides qualitativa entre os vários
serão formados, como mostrado nas figuras D e E, um terá cromossomo cromossomos do núcleo
X e outro não (Henking,1891). segue-se necessariamente
que são formados dois tipos
das células-filhas. Na célula contendo o elemento diferentes de espermatozóide que, por fertili-
X, uma cromátide de cada um dos 11 univalentes zação do óvulo, produziriam dois tipos diferentes
ia para cada um dos pólos do fuso e o univalente de indivíduos. Uma vez que o número de cada
do X também se dividia, sendo que cada célula- um destes tipos de espermatozóides é o mesmo,
filha recebia uma de suas cromátides. deveria haver um número aproximadamente
Assim, das quatro células produzidas pela igual destes tipos de indivíduos na descendência.
meiose masculina, duas tinham 11 cromossomos Nós sabemos que a única qualidade que separa
e duas, 11 cromossomos mais um cromossomo os membros de uma espécie em dois grupos é o
X. Desse modo, dois tipos de espermatozóides sexo. Assim sendo, eu cheguei à conclusão de
eram formados, um tipo com um X e outro sem. que o cromossomo acessório é o elemento que
Henking descreveu o que ele havia observado determina que as células germinativas do
sem maiores conclusões. Mais tarde, foi embrião irão continuar o seu desenvolvimento,
constatada a presença desse cromossomo pecu- do óvulo pouco modificado até originar esperma-
liar em algumas outras espécies. tozóides muito especializados.”
Esses cromossomos eram especialmente Esta hipótese teve repercussão pelo fato de
notados por uma ou mais das seguintes razões: fornecer uma explicação para aqueles estranhos
a) eles se coravam diferentemente dos demais cromossomos que estavam sendo encontrados em
cromossomos; b) eles se moviam para os pólos um número crescente de espécies. Montgomery
do fuso antes ou depois dos outros cromossomos; (1901) havia observado diversos casos. Sutton
c) eles não apresentavam par, portanto não se (1902) havia descrito a mesma situação em gafa-
emparelhavam; d) eles eram distribuídos para nhotos do gênero Brachystola, tendo escrito:
apenas metade dos espermatozóides. A grande “assim, parece que nós encontramos uma
maioria das observações foi feita em machos, uma confirmação da sugestão de McClung de que o
vez que a espermatogênese era mais fácil de ser cromossomo acessório está, de algum modo,
estudada do que a oogênese. relacionado com a determinação do sexo.”
Inicialmente acreditava-se que os cromos-
MCCLUNG 1901 somos acessórios fossem cromossomos adicionais
e restritos aos machos. Sutton havia descrito que
Em 1901, o citologista americano C. E. os cromossomos das células do ovário eram
McClung, sugeriu que o cromossomo X estava semelhantes àqueles do testículo exceto pela falta
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do cromossomo acessório. Subseqüentemente, descoberta coincidiu com uma publicação de
foi descoberto que a fêmea de Brachystola, ao Nellie M. Stevens que havia chegado a conclusões
invés de não possuir o cromossomo acessório, semelhantes.
possui dois. Portanto, McClung propôs uma Wilson (1905c) inicia seu trabalho do seguinte
hipótese frutífera. modo: “O material pesquisado durante o último
verão demonstrou com grande clareza que os
WILSON 1905 - 1912: CROMOSSOMOS sexos em Hemiptera apresentam diferenças
SEXUAIS cromossômicas características e constantes. A
natureza dessas diferenças não deixa nenhuma
Na época em que McClung propôs que os dúvida da existência nesses animais de algum
cromossomos acessórios ou cromossomos X tipo de relação definitiva entre cromossomos e
estavam de alguma forma envolvidos na deter- determinação do sexo. As diferenças cromos-
minação do sexo, esses cromossomos já haviam sômicas entre os sexos são de dois tipos. Em um
sido observados em uma variedade de espécies. deles, as células das fêmeas possuem um
Uma vez que esta era uma das mais importantes cromossomo a mais em relação às dos machos;
hipóteses da época, muitas espécies de plantas e no outro, ambos os sexos possuem o mesmo
animais foram estudadas com o objetivo de se número de cromossomos, mas um dos cromos-
verificar até que ponto esta hipótese podia ser somos dos machos é muito menor que seu corres-
corroborada. pondente nas fêmeas (o que concorda com as
Durante a primeira década do século XX, o observações de Stevens no besouro Tenebrio
estudo dos cromossomos sexuais seguiu um molitor). Esses tipos podem ser conveniente-
padrão comum em Ciência; uma hipótese impor- mente designados como A e B, respectivamente.
tante, provavelmente de larga aplicação, foi [Mais tarde, o tipo A passou a ser chamado
proposta – embora com base em evidências Sistema XX (fêmea) / X0 (macho) e B de Sistema
inadequadas. Esta era a situação da hipótese de XX (fêmea) / XY (macho) de determinação do
McClung (1901) de que os cromossomos sexo.] ....
acessórios deviam determinar a masculinidade. Esses fatos admitem, eu acredito, uma
A partir desta sugestão inicial seguiu-se um interpretação. Desde que todos os cromossomos
período bastante ativo de pesquisa. Disso resul- da fêmea (oogônia) podem se emparelhar
taram observações conflitantes, que deixaram simetricamente, não resta dúvida de que a
claro que a sugestão original de que os machos sinapse neste sexo dá origem ao número reduzido
têm um cromossomo extra não era válida para de bivalentes simétricos, e que em conseqüência
todas as espécies. Alguns pesquisadores que não disso todos os óvulos recebem o mesmo número
conseguiam encontrar cromossomos acessórios, de cromossomos. Este número ... é o mesmo que
propuseram uma variedade de hipóteses para aquele presente nos espermatozóides que contêm
explicar este fato. Alguns acreditavam que estes os cromossomos ‘acessórios’. É evidente que
eram cromossomos em degeneração, outros que ambos os tipos de espermatozóides são funcio-
eram um tipo especial de nucléolo, outros ainda nais, e que, no tipo A, as fêmeas originam-se de
pensavam que McClung estava provavelmente óvulos fertilizados por espermatozóides porta-
correto. dores do cromossomo ‘acessório’, enquanto que
O estágio de controvérsias terminou quando os machos originam-se de óvulos fecundados por
um ou alguns poucos indivíduos, cuidadosos na espermatozóides desprovidos desse cromossomo
seleção dos dados experimentais e cautelosos em (o reverso da idéia de McClung)”. A situação em
suas conclusões, trouxeram ordem conceitual ao espécies do tipo B era essencialmente a mesma,
campo que estava sendo investigado. E, nova- exceto pelo fato de uma classe de espermatozói-
mente, como sempre acontece, dois ou mais des conter um cromossomo X e a outra, um Y.
indivíduos, trabalhando independentemente, Stevens(1905) resumiu suas conclusões do
chegam essencialmente a uma mesma conclusão seguinte modo: “Do ponto de vista da deter-
simultaneamente. E. B. Wilson foi o principal minação do sexo, nós temos em Tenebrio molitor
responsável pela solução do problema dos a mais interessante das formas consideradas
cromossomos acessórios, mas o anúncio de sua neste trabalho. Tanto nas células somáticas
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quanto nas germinativas de ambos os sexos existe pequeno – e muitos observadores poderiam não
uma diferença não no número de cromossomos, ter notado. A figura 21, do trabalho de Stevens,
mas no tamanho de um deles, o qual é muito mostra o tipo de ilustração que era usado nos
pequeno nos machos e do mesmo tamanho que trabalhos de Citogenética da época. Cortes de
os outros 19 nas fêmeas. Os núcleos de todos os tecido eram analisados na procura de células que
óvulos devem ser iguais em relação ao número e mostrassem o lote inteiro de cromossomos. Seu
tamanho de seus cromossomos, enquanto é corte 207 mostra uma célula do folículo ovariano
absolutamente certo que as espermátides são de com 20 cromossomos grandes. Nos cortes 208a
dois tipos quanto ao conteúdo cromatínico do e 208b, parte dos cromossomos estavam em
núcleo – metade delas possui 9 cromossomos um dos cortes e o restante no corte vizinho.
grandes e 1 pequeno,
enquanto a outra
metade possui 10 S

cromossomos S

grandes. Uma vez 171 172


169 170 173
que as células somá-
ticas dos machos têm
S
19 cromossomos
grandes e 1 pequeno,
enquanto as células 178
174 176 177
175
somáticas das fê-
meas possuem 20
cromossomos S
S S
grandes, parece S S

certo que um óvulo


179
fertilizado por um 183
180 182
espermatozóide 181

contendo o cromos-
somo pequeno pro-
duz um macho,
enquanto um óvulo 184 186
187
184 a 185 188
fertilizado por um
espermatozóide
contendo 10 cromos-
somos de igual
tamanho produz uma 191 192
194
193
fêmea.” 189 190 195

Nem os trabalhos
de Wilson, nem os de
198
Stevens falam da 196
a
b

grande dificuldade
em se estudar os cro- 200
202
mossomos sexuais. 197 201 203
Em Tenebrio molitor, 199

por exemplo, todos


S
os autossomos são S

muito pequenos e
208 b
idênticos na aparên- 204 206
207 208 a
205
cia. O macho difere
pela presença de um
cromossomo muito Figura 21. Desenhos de Stevens (1905) dos cromossomos de Tenebrio molitor.

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O conjunto diplóide de cromossomos do macho esses machos são denominados heterogaméticos.
está mostrado nos cortes 169 e 170. O de número As fêmeas produzem apenas um tipo de óvulo,
196 mostra o número haplóide nas espemátides sendo, portanto, homogaméticas. [Foi verificado
com 9 cromossomos grandes e 1 pequeno e o mais tarde que seres humanos e Drosophila mela-
197 mostra espermátides com 10 cromossomos nogaster apresentam sistemas cromossômicos de
grandes. Considerando a dificuldade em se determinação do sexo tipo XX / XY]. Estes dois
trabalhar com tal tipo de material, não é surpresa padrões de cromossomos sexuais, embora sejam
que a maioria dos problemas em Citologia tenha os mais freqüentemente encontrados, não esgo-
tido um início marcado por controvérsias. tam a gama de possibilidades. Algumas espécies
As mais importantes contribuições de Wilson podem ter cromossomos sexuais múltiplos. Em
estão contidas em 8 longos trabalhos, Studies in aves e em Lepidoptera (borboletas e mariposas)
Chromosomes I-VIII, publicados entre 1905 e as fêmeas são heterogaméticas e os machos
1912. Suas observações, juntamente com as de homogaméticos no que se refere aos cromos-
outros pesquisadores, revelaram uma complexi- somos sexuais.
dade não imaginada por McClung e Sutton. Na Algumas das conclusões que podem ser tiradas
maior parte dos animais, a fêmea tem um par de a partir dos numerosos estudos de Wilson,
cromossomos X e é chamada de XX. Os machos Stevens e outros são relacionadas a seguir.
de diversas espécies, por outro lado, variam consi- 1. O sexo cromossômico de um indivíduo é
deravelmente. Alguns tem somente um X, sendo determinado no momento da fertilização.
denominados X0 – o “0” indica a ausência de um 2. O sexo de um indivíduo será irreversível se for
cromossomo. Em outras espécies os machos baseado somente nos cromossomos sexuais –
podem ter dois cromossomos sexuais, um como a não ser que se possa alterar os cromossomos.
o X da fêmea e outro, em geral diferente em 3. Se a meiose é normal e a fertilização é casual,
tamanho ou forma, denominado Y. Por isso estes os dois sexos devem ser produzidos em
machos são chamados XY. (Fig. 22) números aproximadamente iguais.
Em relação aos cromossomos sexuais, os ma- 4. A relação entre sexo e cromossomos,
chos nesse último caso produzem dois tipos de firmemente estabelecida por volta de 1910, é
espermatozóides, um tipo que possui um cromos- uma evidência adicional que apóia a hipótese
somo X e outro com um cromossomo Y. Pelo de Sutton de que os cromossomos são a base
fato de produzirem esses dois tipos de gametas, da hereditariedade.

DETERMINAÇÃO DO SEXO TIPO XX / X0 DETERMINAÇÃO DO SEXO TIPO XX / XY


= autossomos = autossomos
= cromossomo sexual = cromossomos sexuais

Complemento Complemento Complemento Complemento


cromossômico cromossômico cromossômico cromossômico
diplóide do diplóide da diplóide do diplóide da
macho fêmea macho fêmea
X XX XY XX


Meiose Meiose Meiose Meiose


produz dois produz um produz dois Y
produz um
X X X X
tipos de único tipo de tipos de único tipo de
espermatozóide óvulo espermatozóide óvulo


➤ ➤
➤ ➤

Sexo é determinado pelo Sexo é determinado pelo


tipo de espermatozóide tipo de espermatozóide
fecundante fecundante
XX X XX XY

Figura 22. Esquemas mostrando os mecanismos de determinação do sexo dos tipos XX/X0 e XX/XY.

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HERANÇA LIGADA AO SEXO primeira vez que se obteve machos lacticolor
nestes cruzamentos.
Em 1906, Doncaster & Raynor descobriram O cruzamento de machos lacticolor com
um tipo de herança ligada ao sexo nas mariposas fêmeas grossulariata resultou numa descendência
que eles estavam usando como material experi- constituída por indivíduos lacticolor e grossula-
mental. Dois anos mais tarde, o mesmo tipo de riata, mas todos os lacticolor eram fêmeas
fenômeno foi descrito em canários por Durham enquanto todos os grossulariata eram machos.
e Marryat e também por Noorduyn. (Fig. 23)
A mariposa com que Doncaster e Raynor Doncaster e Reynor observaram que, quando
estavam trabalhando, gênero Abraxas, apresen- um macho lacticolor era cruzado com uma fêmea
tava duas variedades. Uma das variedades, grossulariata selvagem, todos os machos da
denominada grossulariata, tinha asas escuras descendência eram grossulariata e todas as
devido a presença de grandes manchas; a outra fêmeas, lacticolor. A conclusão que se podia tirar
variedade, denominada lacticolor, tinha manchas deste resultado era que, mesmo nas regiões onde
menores e suas asas eram mais claras. Quando não existia a forma lacticolor, as fêmeas grossula-
um macho grossulariata era cruzado com uma riata se comportavam como se fossem hetero-
fêmea lacticolor a descendência (F1) era toda zigóticas quanto a este caráter.
grossulariata, e em F2 era obtida uma proporação Foi elaborada uma hipótese baseada em duas
de 3 grossulariata para 1 lacticolor, porém todos premissas para explicar os resultados dos cruza-
os indivíduos lacticolor eram fêmeas. mentos em mariposas. A primeira premissa era
O cruzamento de machos F1 (grossulariata) que a feminidade e a masculinidade seriam deter-
com fêmeas lacticolor resultava em uma descen- minadas por um par de fatores mendelianos,
dência constituída por machos e fêmeas lacticolor sendo o fator para feminidade (F) dominante
e por machos e fêmeas grossulariata, na sobre o fator para masculinidade (M); deste
proporção de 1 : 1 : 1 : 1. Note que esta foi a modo, as fêmeas seriam sempre heterozigóticas

P MM FM P MM FM
X X
g G G g
Lact. Gross. Gross. Lact.



M F M M F M
g G Gametas
Gametas G g


➤ ➤ ➤ ➤

F1 FM MM F1 FM MM
g Gg G Gg
Lact. Gross. Gross. Gross.


F Gametas F
M Gametas M Gametas
Gametas g g
FM FM


M g M M g M
g G G G

Lact. FM Lact. FM
MM G F2 MM G
F2
gg Gg
Lact.

Gross. Gross. Gross.


MM MM
Gg GG
Gross. Gross.

Figura 23. Representação esquemática da hipótese de Doncaster e Reynor para a herança ligada ao sexo na
mariposa Abraxas. À esquerda, esquema do cruzamento entre macho lacticolor e fêmea grossulariata. À
direita, esquema do cruzamento recíproco: entre macho grossulariata e fêmea lacticolor.
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com relação a esse par de fatores (FM) e os ma- nota intitulada Sex Limited Inheritance in Droso-
chos, homozigóticos MM. A segunda premissa phila (1910). O trabalho de Morgan descrevia o
era que se os dois fatores dominantes, condicio- primeiro dos experimentos que viriam a ser consi-
nantes do estado de caráter grossulariata e da derados pelos biólogos como a “prova definitiva”
feminidade, coexistissem em um mesmo indivíduo de que os genes são parte dos cromossomos.
haveria uma repulsão entre eles de modo que em “Este paralelismo” permitia fazer deduções,
cada óvulo produzido por tal indivíduo existiria como apontado anteriormente. Uma dedução,
um ou outro desses fatores, nunca ambos, ou se relacionada aos cromossomos sexuais, era: “Se
o fator dominante para feminilidade coexistisse genes são partes dos cromossomos sexuais,
com o fator recessivo para o estado do caráter espera-se que a herança desses genes siga a
lacticolor, haveria também repulsão entre eles. herança dos cromossomos sexuais.”
O desenvolvimento da genética de drosófila Considere, por exemplo, o caso de um gene
logo iria fornecer uma explicação bem mais do cromossomo X de uma espécie em que as
simples, como veremos no próximo item. fêmeas são XX e os machos XY (veja figura 22).
A distribuição destes cromossomos é tal que os
1910: POSSÍVEIS CONCLUSÕES SOBRE AS descendentes machos só podem receber seu X
BASES FÍSICAS DA HEREDITARIEDADE de sua mãe (se recebesse um X também de seu
pai, o indivíduo seria uma filha). As filhas, por
Em 13 de Dezembro de 1910, Wilson terminou outro lado, recebem um X do pai e outro da mãe.
de escrever o trabalho Studies on Chromosomes De modo semelhante qualquer gene do cromossomo
VII (1911). Alguns meses antes, seu colega Tho- Y é transmitido somente para os machos.
mas Hunt Morgan havia publicado uma breve

EXERCÍCIOS
PARTE A: REVENDO CONCEITOS BÁSICOS PARTE B: L IGANDO CONCEITOS E FATOS

Preencha os espaços em branco nas frases de Utilize as alternativas abaixo para completar as
1 a 6 usando o termo abaixo mais apropriado. frases de 7 a 10.
(a) cromossomo X (d) sistema XY/XX a. um tipo de espermatozóide e um tipo de
(b) cromossomo Y (e) sexo homogamético óvulo.
(c) sistema X0/XX (f) sexo heterogamético b. um tipo de espermatozóide e dois tipos de
óvulo.
1. ( ) de determinação do sexo é aquele em
c. dois tipos de espermatozóide e um tipo de
que o cariótipo dos machos difere do das
óvulo.
fêmeas pela ausência de um cromossomo de
d. dois tipos de espermatozóide e dois tipos de
um dos pares de homólogos.
óvulo.
2. ( ) de determinação do sexo é aquele em
que o cariótipo dos machos difere do das 7. A gametogênese em uma espécie com de-
fêmeas pela ausência de um cromossomo de terminação do sexo tipo XX/XY produz, com
um dos pares de homólogos e pela presença relação aos cromossomos sexuais, ( ).
de um cromossomo não presente nas fêmeas. 8. A gametogênese em uma espécie com de-
3. ( ) é aquele que, apesar de presente nos terminação do sexo tipo XX/X0 produz, com
dois sexos, difere em número entre fêmeas e relação aos cromossom os sexuais, ( ).
machos.
9. A gametogênese em canários produz, com
4. ( ) é aquele presente apenas nos machos. relação aos cromossomos sexuais, ( ).
5. Em uma espécie, os indivíduos que formam 10. A gametogênese na espécie humana produz,
apenas uma classe cariotípica de gameta com relação aos cromossomos sexuais, ( ).
constituem o ( ). 11. Em uma espécie de gafanhotos, as fêmeas
6. Em uma espécie, os indivíduos que formam duas possuem 20 cromossomos nas células dos
classes cariotípicas de gameta constituem o ( ). gânglios nervosos. Sabendo-se que nessa

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espécie o sistema de determinação do sexo é 21. Por que a herança da cor em mariposas foi
do tipo XX/X0, espera-se que chamada de “herança ligada ao sexo”?
a. 100% dos óvulos tenha 10 cromossomos e 22. Qual foi a hipótese de Doncaster para
que 100% dos espermatozóides tenha 9
explicar a herança ligada ao sexo em mariposas
cromossomos. e aves?
b. 100% dos óvulos e 100% dos espermato-
zóides tenham 10 cromossomos. 23. Admitindo-se como verdadeira a teoria
c. 100% dos óvulos e 50% dos espermato- cromossômica da herança, qual seria o padrão
zóides tenham 10 cromossomos, e que 50% de herança de genes presentes no cromossomo
dos espermatozóides tenha 9 cromossomos. X? E de genes presentes no cromossomo Y?
d. 100% dos espermatozóides e 50% dos 24. Admitindo-se como verdadeira a teoria
óvulos tenham 10 cromossomos, e que 50% cromossômica da herança, qual seria a
dos óvulos tenha 9 cromossomos. explicação para a herança ligada ao sexo em
12. Considere duas espécies, uma com sistema mariposas e em aves?
XX/XY e outra com sistema XX/XO, quem 25. Represente, por meio de esquema, a
determina o sexo da prole é segregação do par de cromossomos sexuais
a. a fêmea em ambos os casos. em um indivíduo do sexo heterogamético.
b. a fêmea no primeiro caso e o macho no
segundo. 26. O heredograma abaixo representa a
c. o macho em ambos os casos. transmissão de uma anomalia que apresenta
d. o macho no primeiro caso e a fêmea no 100% de penetrância ( Uma característica têm
segundo. penetrância reduzida quando a freqüência de
expressão de um genótipo é menor que 100%,
ou seja, nem todos os indivíduos que têm um
PARTE C: QUESTÕES PARA PENSAR E DISCUTIR determinado genótipo o manifestam fenotipica-
mente. Em geral, esse conceito é utilizado para
13. O que Henking observou em 1891 sobre o estados dominantes de uma característica em
comportamento meiótico do cromossomo que indivíduos heterozigóticos.
ele chamava de elemento X?
14. Que argumentos McClung usou para sugerir
que o elemento X estava relacionado com a
determinação do sexo?
15. No que a explicação de Wilson sobre o
papel do cromossomo X na determinação do
sexo diferia da hipótese de McClung?
16. Como é determinado o sexo nos organismos
com sistema XX/X0?
17. Como é determinado o sexo nos organismos
a. Numere os indivíduos de cada geração de
com sistema XX/XY?
acordo com as regras apresentadas na aula
18. No que o sexo homogamético difere do sobre análise de heredogramas.
heterogamético? b. O padrão de herança mais provável desta
19. Os resultados obtidos por Doncaster e anomalia é
Raynor no cruzamento entre machos escuros ( ) ligada ao cromossomo X, dominante.
e fêmeas claras de mariposa estavam de ( ) ligada ao cromossomo X, recessiva.
acordo com o esperado pela primeira lei de ( ) autossômica, dominante.
Mendel? Por que aqueles resultados chamaram ( ) autossômica, recessiva.
a atenção dos pesquisadores? ( ) holândrica.
c. Se o indivíduo V-2 casar-se com um indiví-
20. Por que se concluiu que as fêmeas escuras duo não-afetado, qual é a probabilidade deles
de mariposas sempre se comportavam como virem a ter a primeira criança portadora da
heterozigóticas para esse caráter? anomalia?

80
27. Considere o heredograma abaixo. c. Supondo que o indivíduo V-2 case-se com
um indivíduo não-afetado e que a anomalia
a. Numere os indivíduos de cada geração de tenha penetrância de 85%, qual é a
acordo com as regras apresentadas na aula probabilidade de uma segunda criança que eles
sobre análise de heredogramas. venham a ter expressar a anomalia?
b. Qual é o padrão de herança mais consistente d. Na terceira geração, qual é o significado do
para a anomalia em questão? losango com o número 10 em seu interior?

10 5
2 3

3 2

81

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