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virgens
ninguem beija como as lesbicas
libreto da ópera rock
Os gênios são a nata destes vagabundos e os únicos autorizados a sair para para o
mundo de fora para atender aos malfadados três desejos. São vários e vários os entes
dedicados a este trabalho, mas apenas alguns podem negar o atendimento e propor
outro desejo aos amos: Genhendrix, GenMorrison, GenJanis, GenLennon, GenKurt.
Mas dentro desta casta de seres iluminados que vive “Dentro da garrafa” se destaca
um líder: GenElvis, o gênio da garrafa.
Ele sabe que não é nada disso. Mas aceita a fama e degusta o elogio.
No caminho paradisíaco para o interior da garrafa, seres iluminados ou não, todos
devem responder ao enigma dos três guardiões do portão monumental: a Boca, a
Buceta e a Bunda. O problema é que eles estão sempre discutindo e acabam
esquecendo de fazer a pergunta.
música: cafajeste
Rei morto, rei posto. Com a separação de GenElvis e da mulher que hoje atende por
Puta-Mór, a vaga de “casal queridinho” de “Dentro da Garrafa” foi preenchida por
uma dupla de cantores no melhor estilo Ike & Tina Turner (ou quem sabe Jane e
Herondi?): Roy e Juju caíram na graça popular e acabaram convidados para estrelar o
blockbuster “Ninguém Beija Como as Lésbicas”, no papel do casal protagonista. Para
muitos um filme homofóbico. Para outros uma papagaiada.
Mas a vida fora das telas prega peças aos pombinhos apaixonados.Assolada pela fama
repentina, Juju se revela ciumenta e possessiva diante de Roy, o guitarrista com olhos
de rapina que vira e mexe precisa explicar seus constantes meneios de cabeça
para todo e qualquer rabo de saia que se aproxima. eEa inquiri e ele explica.
Mesmo não tendo uma religião propriamente dita, ainda que crendo em um ser
superior, a população de “Dentro da Garrafa” encara os bares como locais sagrados.
É lá que se praticam os santificados rituais da bebelança, da jogatina e da tiragostagem.
E é num destes templos alcoolatrados que, em momentos de pouca fé, o Gênio da
Garrafa pede conselhos a seu amigo Velho Safado. Os excessos provocados pela
bebida preocupam o mais popular dos entes fantásticos de “Dentro da Garrafa”.
Diante das pungentes dúvidas que assolam a mente do Gênio da Garrafa, seu
confidente confessa ter passado pelo mesmo questionamento. E mais:Velho Safado
declara já ter tentado deixar a vida boemia. Para tanto, teria inclusive agendado uma
singular despedida.Tempos mórbidos e tristes.
De volta ao bar, após saborear a vitória momentânea, nosso herói sente os chifres
pontiagudos da traição lhe atravessarem o peito.A verdade embarga sua voz e
engasga sua garganta. GenElvis precisa contar ao mundo seu drama, sua epopéia pelo
mar pegajoso e abrasivo do amor perdido. do coração partido
pela traição.
Lá vai ele, fagueiro, faceiro, dengoso, dar combustível pras más linguas da vizinhança.
música: strip'n'blues
cena 10 - o cassino central em noite de gala
Sob intensa salva de palmas, Roy e Juju assumem suas posições na área vip e se
preparam para a tão esperada exibição do mega sucesso inédito: Ninguém Beija
Como as Lésbicas. Puta-Mór e Gênio da Garrafa estão em balcões opostos, cara a
cara. Aos primeiros acordes da canção tema se misturam gritos histriônicos quando
as luzes se apagam, anunciando o início da sessão. Repentinamente, a trilha sonora é
interrompida e uma silhueta adentra o espaço branco atrás da tela, caminhando
lentamente, como uma aparição fantasmagórica inesperada.
Primeiro a gaita e depois a voz de Morganfield Gonzaga, o mentor supremo de
Dentro da Garrafa, fazem cessar imediatamente todo e qualquer resquicio de
emanação vocal dos presentes.Apenas o som hipnotizante do Bolero de Ravel serve
de fundo musical para suas palavras definitivas.
“Nos últimos dias “Dentro da Garrafa” passou por momentos de intensa exploração
midiatica da vida pessoal de seus maiores ídolos. Movidos pela vil e insaciável sede da
maledicência, nosso povo foi para as ruas comentar e questionar o conteúdo
polêmico da super produção “Ninguém Beija Como as Lésbicas”.A moral de
personagens que antes simbolizavam os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade
de “Dentro da Garrafa” foi manchada com acusações infundadas de intolerancia,
preconceito e homofobia.
Devotaram tanta atenção ao fuxiquismo e à fofocagem que se
esqueceram das três leis primordiais deste mundo
fantástico que conduzo:
-as doze horas no bar
-a camaradagem entre inebriados
-a embriaguês como forma de libertação