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AUTORES
JAKELINE CARNEIRO DA SILVA
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
jakeline.carneiro@yahoo.com.br
Para que qualquer organização possa ser bem gerenciada faz-se necessário trabalhar
com dados e informações que agreguem valor a estratégia organizacional.
Neste contexto, não poderiam se eximir as organizações em saúde, visto que a
exigência da sociedade por melhor atendimento e transparência nas ações traz uma nova
perspectiva aos diretores de clínicas e hospitais.
Gerir a diversidade de dados produzidos na área médico-hospitalar devido a
heterogeneidade dos vários processos de trabalho, não é tarefa fácil. Faz-se necessário investir
em sistemas que organizem os processos e o fluxo de dados, fornecendo informações
gerenciais.
O que se percebe, atualmente, é que os mecanismos de coleta e transferência de dados,
usados na rede de saúde, acontecem de forma exaustiva, gerando muitas vezes um re-trabalho
e descréditos dos mesmos, não fomentando, assim, ações condizentes com a realidade dos
serviços e necessidades de gestores, usuários e profissionais (CUNHA & MENDES, 2004).
É consenso que o pilar dessa gestão, se inicia pelo prontuário do paciente, pois é ele a
fonte para avaliação e tomada de decisões, de informação a ser compartilhada entre os
profissionais de saúde, de apoio ao ensino para os profissionais de saúde e o gerenciamento e
serviços: faturamento, autorização de procedimentos, administração, custos, dentre outros
(COSTA, 2000)
Partindo-se deste principio basilar, este estudo pretende averiguar a influência do
prontuário no fluxo da informação e nos sistemas, entre departamentos das organizações
hospitalares, em especial daqueles que lidam diretamente com o paciente.
Para alcançar este objetivo, a pesquisa que se segue apresenta um breve referencial
teórico sobre os tópicos dados e informação, fluxo de informação, prontuário e sistemas de
informação hospitalar. Em um segundo momento, apresenta-se a metodologia e os resultados
da pesquisa. Por fim, têm-se a conclusão e a bibliografia.
Esta investigação trata-se de uma dissertação de mestrado ainda em andamento, porém
já com resultados relevantes.
2. Referencial Teórico
2.1 Prontuário
A base de qualquer sistema gerencial, de clínicas e hospitais, começa pelo prontuário
do paciente. Este é o elemento de comunicação entre os vários setores internos e externos ao
hospital, e, depositário de um conjunto de informações capazes de gerar conhecimento
(STUMPF et. al., 1997).
Com a chegada da informática médica, o prontuário, até então chamado de médico,
recebe uma nova roupagem e também é informatizado.
Têm-se, atualmente, dois tipos de prontuários: o tradicional em papel e o eletrônico
denominado de PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente).
Como vantagens, consideradas como “muito contestáveis”, Costa apud Ginneken &
Moorman (1997) aponta:
o Facilidade de transporte em relação ao eletrônico;
o Maior liberdade na forma de escrever;
o Facilidade de manuseio por não requerer treinamento especial;
o Não fica “offline” como ocorre com os pc´s (computadores).
O autor aponta ainda que o acesso aos dados é feito de maneira direta, não sendo
necessário utilizar nenhum recurso ou dispositivo para leitura das informações, desde que os
arquivos sejam armazenados de forma adequada e organizados.
Rodrigues Filho apud Ehealthcoach (2001) indica também a flexibilidade de
introdução dos dados e a não necessidade de treinamento para os profissionais que fazem uso
deste tipo de prontuário.
Em oposição as afirmações acima Gubiani et. al (2003) aponta algumas desvantagens
deste tipo de prontuário. Dentre elas podemos citar:
o Só pode estar em um único lugar ao mesmo tempo
o Ilegibilidade
o Ambigüidade
o Falta de padronização
o Perda freqüente de informação
o Multiplicidade de pastas
o Dificuldade de pesquisas coletivas
o Dificuldade de acesso
o Fragilidade do papel
O hospital, em especial devido à sua complexidade, possui alguns setores cuja forma
de produção é semelhante à produção de manufaturados, como lavanderia e farmácia. Eles
possuem procedimentos bem estruturados e grande parte do trabalho pode ser automatizado.
Em setores, sobretudo, que tratam da assistência direta ao paciente, como é o caso do PEP, as
principais características são a complexidade, especialização e personalização, o que torna a
implantação mais difícil. (FERREIRA & LIRA, 2000)
Massad et. al apud Marin et. al. (2003) aditam, provavelmente, a situação mais
complexa de ser resolvida: a dificuldade para a completa e abrangente coleta de dados, visto
que as organizações de saúde não se encontram integradas.
Conclui, Tange (1995) categoricamente que “um prontuário informatizado mal
estruturado pode ser pior do que um prontuário em papel bem organizado”.
3. Metodologia
O presente trabalho pretende averiguar pretende averiguar a influência do prontuário
no fluxo da informação e nos sistemas, entre departamentos das organizações hospitalares, em
especial daqueles que lidam diretamente com o paciente. Trata-se de uma pesquisa
exploratória descritiva, subtipo estudo de caso, de acordo com Silva & Menezes apud Gil
(1991).
Os dados foram levantados pelo próprio pesquisador, através de pesquisa de campo e
realização de entrevistas semi-estruturadas com a equipe do setor de tecnologia da
informação.
4. Análise dos Resultados
A Liga recebe em média três a quatro mil pacientes/mês. O seu quadro de atendidos,
atualmente, já ultrapassa os 200 mil.
O foco deste estudo concentra-se nas 3 (três) primeiras unidades. Para facilitar o
entendimento, cada unidade será chamada por um número, conforme seqüência estabelecida
acima, sendo Policlínica unidade 1 e assim sucessivamente.
4.4.1 Prontuário
A abertura do prontuário (capa dura) somente acontece nos casos em que o
diagnóstico confirmado é de uma neoplasia maligna.
A partir deste momento, as anteriores fichas do paciente (que formavam um arquivo),
caso haja, recebem a nomenclatura de prontuário capa dura.
Atualmente, a evolução do paciente ainda é toda feita em papel. A intenção da equipe
de TI é manter os dois arquivos em paralelo (físico e eletrônico) mesmo quando o prontuário
estiver funcionando, na sua totalidade, de forma informatizada.
A Liga ainda não conta com certificação eletrônica (assinatura digital). Isto impede a
utilização da evolução clínica em modo totalmente eletrônico, já que o prontuário precisa ter
valor legal.
Assim, todos os dados são impressos (tais como prescrição e materiais utilizados) e o
profissional de saúde carimba e assina o documento. Esta documentação é ajuntada ao
prontuário capa dura (CD).
O mesmo ocorre na realização de consultas e/ou exames. É preciso que o laudo ou a
evolução seja arquivada de forma física para respaldo legal.
O prontuário informatizado existente na Liga conta com várias informações sobre o
paciente, desde dados cadastrais, agendamento de consultas, prescrição (medicamentos) e
materiais utilizados (nos casos de cirurgia e/ou internação), status do paciente (atendido, em
procedimento, faltoso), motivo global do tratamento ou diagnóstico primário (indicando o
motivo geral pelo paciente estar sendo tratado no hospital), além do trafego do prontuário
(localização física do prontuário). Ainda há a opção para a equipe multidisciplinar, tais como
psicólogos e nutricionistas, mencionarem a evolução do paciente em suas visitas.
Quase todos os setores têm acesso ao prontuário visto que estes dados alimentam,
praticamente, todos os módulos do sistema.
4.4.2 Arquivo
Para o armazenamento dos envelopes e dos prontuários capa dura, cada unidade
hospitalar da Liga conta com o seu próprio arquivo, porém a maior concentração está presente
na unidade 3, visto que esta atende o maior público da instituição (pacientes SUS) e realiza
procedimentos cirúrgicos.
A intenção da Liga é tentar concentrar os arquivos na unidade 3 (arquivo dos pacientes
SUS) e na unidade 1 (arquivos de convênios e particulares).
Como a movimentação é elevada, são muitos atendimentos diariamente, foi necessário
criar o módulo Arquivo, onde é possível verificar a entrada e a saída de documentos, quem os
recebeu, que setor o recebeu, em que hora e data e por qual motivo solicitou o documento.
Este setor fica alocado na unidade 3, porém a diretoria do hospital já procura por novos meios
de organização destes documentos, visto que eles ocupam um espaço considerável que
poderia estar sendo aproveitado para outros fins.
A permuta de documentos entre unidades e setores, sem necessariamente passar pelo
setor de Arquivo também é uma prática comum, variando de acordo com a agenda de
procedimentos prevista para paciente. Da mesma forma que o Arquivo, ao despachar o
documento, o setor que está de posse dele deve mencionar para quem está enviando, em que
hora e data e por qual motivo foi solicitado o documento. O mesmo processo deve ser feito
por quem recebeu. Esta movimentação é acompanhada minuciosamente, através do sistema,
pelo setor Arquivo para que não haja perdas.
4.5 Gestão
Assim como todos os departamentos, a gestão da Liga conta com módulos de apoio
capazes de fornecer informações em tempo real para a tomada de decisão. Não existe um a
ferramenta de TI inteligente, mas as estatísticas e análises geradas pelo sistema atual já são
capazes de proporcionar um melhor embasamento.
O grande empecilho para a integração total, principalmente no que concerne ao
faturamento, são os dados a serem enviados a outros sistemas, como o SUS, porém, isto
envolve uma complexidade que ultrapassa as fronteiras institucionais.
5. Conclusão
A Liga deve ser tratada de forma diferente por se tratar de uma organização com 4
(quatro) unidades espalhadas pelo Rio Grande do Norte, o que adita uma dificuldade a mais
nos seus processos internos. Nenhuma outra instituição do Estado é deste porte.
A organização avançou muito no que concerne à integração e segurança de dados,
principalmente pelas características inerentes a instituição. A tarefa de administrar dados que
precisam ser usados em tempo real em diversas unidades distantes fisicamente é árdua.
Com relação ao sistema INFOLIGA, ele é leve e de interface amigável. Isto se deve ao
grande interesse da equipe de TI pela satisfação do usuário. Houve, por parte deles, o cuidado
de se estabelecer módulos e telas que atendessem a necessidades dos setores, que foram
previamente definidas em diversas reuniões.
Quando da entrada de novos funcionários, o responsável pelo setor contratante ou a
equipe de TI fica responsável por este treinamento, só habilitando o individuo a utilizá-lo
quanto este sentir-se seguro.
Como mencionado por Ferreira & Lima (2000), a complexidade das atividades
hospitalares e, em particular aquelas que estão diretamente ligadas ao atendimento do
paciente, são as mais difíceis de tornar informatizadas. Isto pode ser claramente observado na
Liga e em diversas instituições hospitalares. As atividades operacionais e de produção tais
como agendamento e recepção, são facilmente computadorizadas. Já os itens tais como
anamnese e a evolução clinica, cruciais no atendimento do paciente, ainda estão quase que em
sua totalidade no papel. Boa parte desta resistência provém dos profissionais de saúde que não
tem familiaridade com a informática ou alegam que o tempo gasto para o preenchimento, no
modelo informatizado, poderia ser utilizado para o atendimento de um paciente, menciona a
equipe de TI.
Em especial, na Liga, esta posição acarreta inúmeros empecilhos, pois um paciente
que se trata em uma unidade e, porventura, necessite de tratamento em outra, deverá ter o
transporte do seu prontuário físico através de empresas especializadas em entrega. A
programação de entrega é realizada sempre com sucesso (com 24h de antecedência do
procedimento a ser realizado pelo paciente), mas o ambiente hospitalar é instável. Em uma
urgência, alguns minutos podem retardar o pronto atendimento.
Além deste fator, o transporte terrestre é passível de problemas, como extravio, roubos
e até mesmo acidentes.
Conclui-se, no que concerne ao prontuário, que ele se encontra no nível que Costa
apud Waegeman (1993) denomina de registro automatizado, pois a informação é armazenada
em computadores pessoais e é mantido em conjunto com os prontuários de papel.
Mesmo com este problema, a Liga consegue, conforme explana Rodrigues et. al
(2001) estabelecer o prontuário como centro do seu sistema de informação, pois é através dele
que todos os demais módulos são alimentados.
Outro fator ocasionador de falta de clareza é a distinção feita entre prontuário e ficha.
A unidade 3 considera todos os procedimentos como prontuário, onde só deveria ganhar este
nome, nos casos de diagnóstico estabelecido pela diretoria do hospital. A unidade 1, já
distingue os dois parâmetros.
Existe o consenso entre os autores e até mesmo para o Conselho Federal de Medicina
que o prontuário médico é o acervo documental do paciente, organizado e conciso, referente
ao registro dos cuidados médicos prestados, assim como todas as informações, exames,
procedimentos e quaisquer documentos pertinentes a essa assistência. (PRESTES JR. &
RANGEL, 2007). Entende-se, portanto, que é preciso que haja a união de pensamentos para a
resolução destas questões.
Um terceiro fator que merece atenção é a possibilidade do diagnóstico puder ser
visualizado por outras pessoas que não sejam profissionais médicos (tais como atendentes,
recepcionistas, auxiliares administrativos). É importante que a organização observe os
preceitos éticos e envolva todos os colaboradores, mostrando que os dados ali contidos são
altamente sigilosos e dizem respeito somente ao paciente.
De forma geral, a Liga se apresenta como uma organização que está crescendo e
investindo em infra-estrutura adequada ao seu porte e parece estar no caminho certo já que
existe uma política de investimentos bem definida. Talvez, o maior problema esteja na cultura
do que propriamente tecnológico. É inerente ao ser humano ser resistente a toda e qualquer
mudança.
6. Bibliografia