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Fluxo da informação, a partir dos prontuários, para a gestão das organizações em

saúde: um estudo de Caso na Liga Norte Riograndense Contra o Câncer

AUTORES
JAKELINE CARNEIRO DA SILVA
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
jakeline.carneiro@yahoo.com.br

ADRIANE ARAÚJO OLIVEIRA


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
adriane.oliveira@gmail.com

JOSÉ ALFREDO FERREIRA COSTA


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
alfredo@dee.ufrn.br

JOANNES EMMANUEL DANTAS E RODRIGUES DE LIMA


Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
joannese@rn.senac.br

RAFAELA DA SILVA BEZERRA PENHA


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
rafbezerra@gmail.com

As organizações bem gerenciadas sabem que um dos grandes diferenciais da atualidade é se


trabalhar com dados e informações que agreguem valor à estratégia organizacional. Não
pode se eximir deste contexto as organizações de saúde, visto que a exigência da sociedade,
cada vez mais consciente, por melhores serviços e transparência nas ações traz uma nova
perspectiva aos gestores de clínicas e hospitais. O valor da informação na rede
clínica/hospitalar deve ser visto como peça chave para qualquer nível de melhoria, afim de
que seja oferecido um cuidado efetivo e humanizado. Desta forma, muitos estudos apontam a
necessidade de se aperfeiçoar a gestão hospitalar, porém poucos demonstram como isto é
realizado. Consensualmente, considera-se de que o processo de gestão deste setor se inicia
pelo prontuário do paciente já que são seus dados que alimentam todo a cadeia de
informação. Partindo-se deste principio, este artigo, pretende verificar a influência do
prontuário no fluxo da informação e nos sistemas, entre departamentos das organizações
hospitalares, em especial daqueles que lidam diretamente com o paciente, e como estas
informações são utilizadas para sua gestão.
Palavras-chave: Prontuário, Fluxo de informação, Sistema de Informação.
1. Introdução

Para que qualquer organização possa ser bem gerenciada faz-se necessário trabalhar
com dados e informações que agreguem valor a estratégia organizacional.
Neste contexto, não poderiam se eximir as organizações em saúde, visto que a
exigência da sociedade por melhor atendimento e transparência nas ações traz uma nova
perspectiva aos diretores de clínicas e hospitais.
Gerir a diversidade de dados produzidos na área médico-hospitalar devido a
heterogeneidade dos vários processos de trabalho, não é tarefa fácil. Faz-se necessário investir
em sistemas que organizem os processos e o fluxo de dados, fornecendo informações
gerenciais.
O que se percebe, atualmente, é que os mecanismos de coleta e transferência de dados,
usados na rede de saúde, acontecem de forma exaustiva, gerando muitas vezes um re-trabalho
e descréditos dos mesmos, não fomentando, assim, ações condizentes com a realidade dos
serviços e necessidades de gestores, usuários e profissionais (CUNHA & MENDES, 2004).
É consenso que o pilar dessa gestão, se inicia pelo prontuário do paciente, pois é ele a
fonte para avaliação e tomada de decisões, de informação a ser compartilhada entre os
profissionais de saúde, de apoio ao ensino para os profissionais de saúde e o gerenciamento e
serviços: faturamento, autorização de procedimentos, administração, custos, dentre outros
(COSTA, 2000)
Partindo-se deste principio basilar, este estudo pretende averiguar a influência do
prontuário no fluxo da informação e nos sistemas, entre departamentos das organizações
hospitalares, em especial daqueles que lidam diretamente com o paciente.
Para alcançar este objetivo, a pesquisa que se segue apresenta um breve referencial
teórico sobre os tópicos dados e informação, fluxo de informação, prontuário e sistemas de
informação hospitalar. Em um segundo momento, apresenta-se a metodologia e os resultados
da pesquisa. Por fim, têm-se a conclusão e a bibliografia.
Esta investigação trata-se de uma dissertação de mestrado ainda em andamento, porém
já com resultados relevantes.
2. Referencial Teórico

2.1 Prontuário
A base de qualquer sistema gerencial, de clínicas e hospitais, começa pelo prontuário
do paciente. Este é o elemento de comunicação entre os vários setores internos e externos ao
hospital, e, depositário de um conjunto de informações capazes de gerar conhecimento
(STUMPF et. al., 1997).
Com a chegada da informática médica, o prontuário, até então chamado de médico,
recebe uma nova roupagem e também é informatizado.
Têm-se, atualmente, dois tipos de prontuários: o tradicional em papel e o eletrônico
denominado de PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente).

2.1.1 Prontuário em Papel


A palavra prontuário vem do latim “promptuarium” e significa “lugar onde se
guardam ou depositam as coisas de que se pode necessitar a qualquer instante”. (MASSAD
et.al, 2003)
O Conselho Federal de Medicina (CFM), por sua vez, através da Resolução nº
1.638/02, define prontuário como “documento único, constituído de um conjunto de
informações, sinais e imagens registrados, gerados a partir de fatos, acontecimentos e
situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e
científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a
continuidade da assistência prestada ao indivíduo”

2.1.1.1 Vantagens e Desvantagens

Como vantagens, consideradas como “muito contestáveis”, Costa apud Ginneken &
Moorman (1997) aponta:
o Facilidade de transporte em relação ao eletrônico;
o Maior liberdade na forma de escrever;
o Facilidade de manuseio por não requerer treinamento especial;
o Não fica “offline” como ocorre com os pc´s (computadores).
O autor aponta ainda que o acesso aos dados é feito de maneira direta, não sendo
necessário utilizar nenhum recurso ou dispositivo para leitura das informações, desde que os
arquivos sejam armazenados de forma adequada e organizados.
Rodrigues Filho apud Ehealthcoach (2001) indica também a flexibilidade de
introdução dos dados e a não necessidade de treinamento para os profissionais que fazem uso
deste tipo de prontuário.
Em oposição as afirmações acima Gubiani et. al (2003) aponta algumas desvantagens
deste tipo de prontuário. Dentre elas podemos citar:
o Só pode estar em um único lugar ao mesmo tempo
o Ilegibilidade
o Ambigüidade
o Falta de padronização
o Perda freqüente de informação
o Multiplicidade de pastas
o Dificuldade de pesquisas coletivas
o Dificuldade de acesso
o Fragilidade do papel

Rodrigues Filho apud Ehealthcoach (2001) observa que a utilização do prontuário em


papel apresenta algumas limitações, mostrando-se ineficiente para armazenar e organizar um
número grande de diferentes tipos de dados, o que acarreta diversas desvantagens no seu uso.
O seu texto apresenta geralmente uma ordem variável, adquirindo particularidade de quem o
escreve. Além disso, esta modalidade de prontuário apresenta alta inflexibilidade na
recuperação dos dados, baixa confidencialidade das informações e custos de transferência de
arquivos.

2.1.2 Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP)

Na década de 60 surgiram os primeiros sistemas de informação hospitalar,


inicialmente para integrar as atividades como faturamento e controle de estoque. Logo após
(por volta da década de 70), surgiu o Prontuário Eletrônico, visando melhorar a eficiência e a
organização do armazenamento das informações de saúde.
No Brasil, a preocupação com a investigação de um modelo de PEP surge no meio
universitário na década de 90. (WECHSLER et. al 2003 apud WECHSLER et. al 2001).
O PEP é a proposta de união de todos os diferentes tipos de dados produzidos em
variados formatos, em épocas diferentes, por profissionais de saúde em diversos locais. Deve
ser compreendido como sendo uma estrutura eletrônica para manutenção da informação sob o
estado de saúde e cuidado recebido por um paciente ao longo de sua vida. (MASSAD et. al
apud MARIN et. al, 2003)
Ele é a principal base de dados a partir da qual são construídos todos os Sistemas de
Informação (SI), sejam estes Sistemas de Informações Gerencias (SIG), Sistemas de Apoio à
Decisão (SAD), Construção de Sistemas Especialistas (SE), Sistemas de Apoio ao Ensino
(SAE), Sistemas Estatísticos para Pesquisa (SEP) ou outros (STUMPF et. al, 1997).
Finaliza Pinto (2006) expondo que o PEP além de todas as facetas ainda consideradas
apóia à gestão e o fluxo de informação e comunicação nas organizações de saúde.

2.1.2.1 Vantagens e Desvantagens


Costa apud Siting (1999) define algumas vantagens do PEP, como:

o Acesso remoto e simultâneo (vários profissionais podem acessar um mesmo


prontuário e revê-lo de qualquer parte do mundo se existir a transmissão via WEB).
o Legibilidade (dados impressos ou na tela são mais fáceis de compreensão)
o Segurança dos dados
o Confidencialidade dos dados do paciente
o Flexibilidade do layout dos dados
o Integração com outros sistemas de informação
o Captura automática de dados (dados capturados no momento da sua execução, sem
passar por digitações, por exemplo)
o Processamento contínuo dos dados
o Assistência à pesquisa
o Várias modalidades de saída de dados (voz, e-mail, texto, etc.)
o Construção de diversos tipos de relatórios
o Dados sempre atualizados
Oliveira et.al. (2004) afirma que a otimização do PEP é capaz de fazer com que os
pacientes recebam alta um dia antes do que sem o uso de SI.
Nos estágios mais avançados do PEP, o paciente passa a assumir uma posição forte,
mais responsável, frente a sua saúde. Isto porque ele passa a ser atuante no processo de
decisão sobre as condutas a serem tomadas e também na pesquisa de informações sobre a sua
doença. (SANTIAGO et. al apud BIBLIOMED, 2004)
Assim como todo e qualquer software, o PEP também tem as suas desvantagens. Cabe
à organização que deseja implementá-lo analisar os contrapontos, examinando com cautela a
relação custo x benefício.
Figueiredo et. al (2007) indica:
o Necessidade de grandes investimentos em hardware, software;
o Os usuários não se acostumarem aos procedimentos informatizados;
o Demora em perceber os reais resultados da implantação do PEP;
o Falhas no sistema que podem ficar horas ou dias inoperantes;
o Dificuldade na coleta de dados.

O hospital, em especial devido à sua complexidade, possui alguns setores cuja forma
de produção é semelhante à produção de manufaturados, como lavanderia e farmácia. Eles
possuem procedimentos bem estruturados e grande parte do trabalho pode ser automatizado.
Em setores, sobretudo, que tratam da assistência direta ao paciente, como é o caso do PEP, as
principais características são a complexidade, especialização e personalização, o que torna a
implantação mais difícil. (FERREIRA & LIRA, 2000)
Massad et. al apud Marin et. al. (2003) aditam, provavelmente, a situação mais
complexa de ser resolvida: a dificuldade para a completa e abrangente coleta de dados, visto
que as organizações de saúde não se encontram integradas.
Conclui, Tange (1995) categoricamente que “um prontuário informatizado mal
estruturado pode ser pior do que um prontuário em papel bem organizado”.

2.2 Dados e Informação


Termos bastante conhecido, mas causadores de grande confusão, a palavra informação
é muitas vezes confundida com o significado de dado. Apesar de andarem em conjunto
apresentam significados bem distintos.
Grosso modo, dado nada mais é do que a “matéria-prima” da informação, ou seja, um
produto ainda bruto. Já a informação é a tradução destes dados, após terem sido tratados.
(ANDRADE & SOARES apud MORAES, 1994).
Miranda (1999) explana ainda que a informação serve de subsídio útil à tomada de
decisão, tornando-se estratégica quando é obtida do monitoramento estratégico, que subsidia a
formulação de estratégias pelos tomadores de decisão nos níveis gerenciais da organização.
Para Moresi (2000), basicamente, a informação tem duas finalidades: para
conhecimento dos ambientes interno e externo de uma organização e para a atuação nestes
ambientes. Ainda de acordo com o autor, estas informações são utilizadas nos três níveis
organizacionais das organizações, sejam elas de qualquer tamanho ou natureza: operacional,
intermediário ou gerencial e institucional.
Entende-se, assim, que a informação é essencial para as organizações sejam elas de
qualquer tipo ou tamanho e necessária a todos os níveis hierárquicos.

2.3 Fluxo da Informação

Um dos conceitos que influenciam diretamente a informação organizacional e,


conseqüentemente, a informação estratégica é o fluxo informacional. As organizações
necessitam empreender esforços sistemáticos e conscientes para influenciar e controlar este
fluxo, promovendo um processo de negócio eficiente no ambiente da organização. (KROVI
et. al, 2003).
Conceitualmente, o fluxo de informação, em si, é uma sucessão de eventos, de um
processo de mediação entre a geração da informação, por uma fonte emissora e a aceitação da
informação por um receptor, não almejando somente uma passagem. Ao atingir o público a
que se destine deve promover alguma mudança.
Afirma-se, desta forma, que o fluxo da informação é um processo de agregação de
valor e o sistema de informação pode ser considerado como a sua cadeia de valor, por ser o
suporte para a produção e transferência da informação. (MORESI, 2000)
Com o advento da comunicação eletrônica através das Tecnologias da Informação
(TI), o fluxo de informação é alterado, passando para um foco multiorientado, conforme
simplificadamente se apresenta na figura 1. (BARRETO, 1998)

Figura 1 - Fluxo da Informação com a TI

2.4 Sistema de Informação Hospitalar

Um sistema de informação deve apoiar as decisões em uma organização e precisa ter a


capacidade de responder às necessidades dos seus diversos usuários, não somente àqueles que
utilizam o sistema em sim, mas por aqueles que utilizam as informações por ele geradas.
(Massad et. al., 2003)
Muitos setores, como faturamento, por exemplo, dependem dos dados coletados
durante a assistência dos pacientes para cumprir suas funções de forma adequada.
(FERREIRA & LIRA, 2000)
Nesse contexto, sendo o hospital um depositório de diversas informações, ele requer
controle e organização.
É preciso que as organizações tenham consciência deste fator e que comecem a
organizar seus processos organizacionais e informacionais a partir deste pilar.
Nessa linha de pensamento, Rodrigues et. al (2001) propõem um modelo de Sistema
de Informação Hospitalar (SIH), a partir do prontuário do paciente, adequado à realidade
brasileira e utilizado como base desta pesquisa.

Observa-se, a partir deste modelo que o prontuário do paciente é o centro receptor e


recebedor de todas as informações provenientes dos departamentos da organização hospitalar.

3. Metodologia
O presente trabalho pretende averiguar pretende averiguar a influência do prontuário
no fluxo da informação e nos sistemas, entre departamentos das organizações hospitalares, em
especial daqueles que lidam diretamente com o paciente. Trata-se de uma pesquisa
exploratória descritiva, subtipo estudo de caso, de acordo com Silva & Menezes apud Gil
(1991).
Os dados foram levantados pelo próprio pesquisador, através de pesquisa de campo e
realização de entrevistas semi-estruturadas com a equipe do setor de tecnologia da
informação.
4. Análise dos Resultados

4.1. Caracterização da Instituição

A Liga Norte-Riograndense Contra o Câncer é uma instituição filantrópica, sem fins


lucrativos, que prioriza a oncologia com qualidade e o compromisso social. Com 57 anos de
atuação no Estado do Rio Grande do Norte, é referência no tratamento do câncer no Nordeste,
por sua estrutura e competência profissional.
Hoje, a instituição oferece diversos serviços no segmento da saúde, atendendo em
diversas especialidades, sendo cerca de 80% destes realizados pelo Sistema Único de Saúde –
SUS.
A Liga atende tanto o setor ambulatório (clínica e exames) quanto ao setor cirúrgico,
dividindo-se basicamente em 4 (quatro) unidades distribuídas conforme se segue:
o Policlínica – Agregou-se à LIGA através de doação. É uma unidade diversificada, pois
além de oncologia, atende outras especialidades médicas, prestando serviço para
pacientes SUS, convênios e particulares (sendo estas duas últimas o foco da unidade).
o Centro Avançado de Oncologia (CECAN) – É a segunda unidade da LIGA. Atende a
parte ambulatorial, exames em geral e tratamento, como radioterapia, quimioterapia,
exames de diagnóstico por imagem e laboratoriais e medicina nuclear.
o Hospital Dr. Luiz Antônio (HLA) – Atende exclusivamente SUS e conta com diversos
tipos de procedimentos, desde atendimentos ambulatoriais à procedimentos cirúrgicos
(ênfase desta unidade), passando por todas as etapas de internação, realização de
exames e tratamento.
o Unidade de Oncologia do Seridó - Atendimentos ambulatoriais especializados e
tratamentos quimioterápicos de pacientes do interior do Estado do Rio Grande do
Norte e demais localidades vizinhas. Foi inaugurada em Julho/2006.

A Liga recebe em média três a quatro mil pacientes/mês. O seu quadro de atendidos,
atualmente, já ultrapassa os 200 mil.
O foco deste estudo concentra-se nas 3 (três) primeiras unidades. Para facilitar o
entendimento, cada unidade será chamada por um número, conforme seqüência estabelecida
acima, sendo Policlínica unidade 1 e assim sucessivamente.

4.2 O Sistema de Informação


A necessidade de informatização dos processos da Liga surgiu devido à criação de
várias unidades hospitalares que necessitavam utilizar os mesmos dados. Optou-se, a priore,
por comprar um sistema pronto, o que não resultou o efeito esperado, pois não foi projetado
para as necessidades e para a maior particularidade do hospital: as diversas unidades não
integradas.
Diante deste fato, a diretoria do hospital, solicitou a contratação de uma equipe de TI
para a criação de um sistema adequado à realidade da instituição.
Assim nasceu o INFOLIGA que se subdivide em vários módulos que integram todos
os setores da instituição, excetuando-se o setor pessoal, a contabilidade e as patologias clínica
e cirúrgica.
Os dados do sistema anterior foram re-aproveitados, especificamente o cadastro de
pacientes.
4.3 Segurança
A permissão de acesso aos módulos é definida em função do nível de autorização do
setor e do equipamento. Exemplificadamente, uma senha e login atribuídos ao computador da
recepção da radioterapia não poderá acessar de outro terminal a não ser o de origem, salvo em
casos extras (como o deslocamento de pessoal entre setores, por ex.).
Quando se trata de informações consideradas importantes pela política de segurança
da informação da instituição, faz-se necessário reafirmar login e senha para validar as
alterações. Esta atitude prevê o cuidado que muitas vezes os funcionários não têm quando
saem do seu posto de trabalho e deixam suas máquinas logadas.

4.4 Procedimento Inicial


Ao buscar um atendimento clínico, o paciente solicita a consulta e/ou exame. Nesta
fase é realizado, via sistema, um agendamento ou pré-cadastro (nos casos de primeiro
atendimento em qualquer unidade Liga).
Caso o procedimento não seja realizado (o paciente em tratamento não compareça), o
serviço social pode acompanhar em tempo real, facilitando assim contatar o paciente.
Nos casos de primeira vez, somente após a realização da consulta e/ou exame é criada
uma numeração única no sistema (denominada de ficha). Esta numeração se baseia no número
do atendimento até aquele momento e o ano deste atendimento. Ex: nº 1714.08, ou seja, o
atendimento 1.714 do ano de 2008. Os pacientes cadastrados no sistema anterior foram todos
enquadrados como ano 2006. A ficha é impressa e guardada em um envelope no arquivo da
unidade no qual o paciente foi atendido.
O paciente que já tem numeração de ficha, o status do exame e/ou consulta varia de
acordo com a posição.
Estes dois procedimentos, acima citados, são feitos pelas atendentes das recepções que
identificam quais os pacientes já foram ou não atendidos.
Quando da realização apenas de exames também é aberta uma ficha, nos casos de
primeiro atendimento, indicando a realização do procedimento, porém não há comprovação
do arquivo (resultado do exame) já que ele é entregue ao paciente.

4.4.1 Prontuário
A abertura do prontuário (capa dura) somente acontece nos casos em que o
diagnóstico confirmado é de uma neoplasia maligna.
A partir deste momento, as anteriores fichas do paciente (que formavam um arquivo),
caso haja, recebem a nomenclatura de prontuário capa dura.
Atualmente, a evolução do paciente ainda é toda feita em papel. A intenção da equipe
de TI é manter os dois arquivos em paralelo (físico e eletrônico) mesmo quando o prontuário
estiver funcionando, na sua totalidade, de forma informatizada.
A Liga ainda não conta com certificação eletrônica (assinatura digital). Isto impede a
utilização da evolução clínica em modo totalmente eletrônico, já que o prontuário precisa ter
valor legal.
Assim, todos os dados são impressos (tais como prescrição e materiais utilizados) e o
profissional de saúde carimba e assina o documento. Esta documentação é ajuntada ao
prontuário capa dura (CD).
O mesmo ocorre na realização de consultas e/ou exames. É preciso que o laudo ou a
evolução seja arquivada de forma física para respaldo legal.
O prontuário informatizado existente na Liga conta com várias informações sobre o
paciente, desde dados cadastrais, agendamento de consultas, prescrição (medicamentos) e
materiais utilizados (nos casos de cirurgia e/ou internação), status do paciente (atendido, em
procedimento, faltoso), motivo global do tratamento ou diagnóstico primário (indicando o
motivo geral pelo paciente estar sendo tratado no hospital), além do trafego do prontuário
(localização física do prontuário). Ainda há a opção para a equipe multidisciplinar, tais como
psicólogos e nutricionistas, mencionarem a evolução do paciente em suas visitas.
Quase todos os setores têm acesso ao prontuário visto que estes dados alimentam,
praticamente, todos os módulos do sistema.
4.4.2 Arquivo
Para o armazenamento dos envelopes e dos prontuários capa dura, cada unidade
hospitalar da Liga conta com o seu próprio arquivo, porém a maior concentração está presente
na unidade 3, visto que esta atende o maior público da instituição (pacientes SUS) e realiza
procedimentos cirúrgicos.
A intenção da Liga é tentar concentrar os arquivos na unidade 3 (arquivo dos pacientes
SUS) e na unidade 1 (arquivos de convênios e particulares).
Como a movimentação é elevada, são muitos atendimentos diariamente, foi necessário
criar o módulo Arquivo, onde é possível verificar a entrada e a saída de documentos, quem os
recebeu, que setor o recebeu, em que hora e data e por qual motivo solicitou o documento.
Este setor fica alocado na unidade 3, porém a diretoria do hospital já procura por novos meios
de organização destes documentos, visto que eles ocupam um espaço considerável que
poderia estar sendo aproveitado para outros fins.
A permuta de documentos entre unidades e setores, sem necessariamente passar pelo
setor de Arquivo também é uma prática comum, variando de acordo com a agenda de
procedimentos prevista para paciente. Da mesma forma que o Arquivo, ao despachar o
documento, o setor que está de posse dele deve mencionar para quem está enviando, em que
hora e data e por qual motivo foi solicitado o documento. O mesmo processo deve ser feito
por quem recebeu. Esta movimentação é acompanhada minuciosamente, através do sistema,
pelo setor Arquivo para que não haja perdas.
4.5 Gestão
Assim como todos os departamentos, a gestão da Liga conta com módulos de apoio
capazes de fornecer informações em tempo real para a tomada de decisão. Não existe um a
ferramenta de TI inteligente, mas as estatísticas e análises geradas pelo sistema atual já são
capazes de proporcionar um melhor embasamento.
O grande empecilho para a integração total, principalmente no que concerne ao
faturamento, são os dados a serem enviados a outros sistemas, como o SUS, porém, isto
envolve uma complexidade que ultrapassa as fronteiras institucionais.

5. Conclusão
A Liga deve ser tratada de forma diferente por se tratar de uma organização com 4
(quatro) unidades espalhadas pelo Rio Grande do Norte, o que adita uma dificuldade a mais
nos seus processos internos. Nenhuma outra instituição do Estado é deste porte.
A organização avançou muito no que concerne à integração e segurança de dados,
principalmente pelas características inerentes a instituição. A tarefa de administrar dados que
precisam ser usados em tempo real em diversas unidades distantes fisicamente é árdua.
Com relação ao sistema INFOLIGA, ele é leve e de interface amigável. Isto se deve ao
grande interesse da equipe de TI pela satisfação do usuário. Houve, por parte deles, o cuidado
de se estabelecer módulos e telas que atendessem a necessidades dos setores, que foram
previamente definidas em diversas reuniões.
Quando da entrada de novos funcionários, o responsável pelo setor contratante ou a
equipe de TI fica responsável por este treinamento, só habilitando o individuo a utilizá-lo
quanto este sentir-se seguro.
Como mencionado por Ferreira & Lima (2000), a complexidade das atividades
hospitalares e, em particular aquelas que estão diretamente ligadas ao atendimento do
paciente, são as mais difíceis de tornar informatizadas. Isto pode ser claramente observado na
Liga e em diversas instituições hospitalares. As atividades operacionais e de produção tais
como agendamento e recepção, são facilmente computadorizadas. Já os itens tais como
anamnese e a evolução clinica, cruciais no atendimento do paciente, ainda estão quase que em
sua totalidade no papel. Boa parte desta resistência provém dos profissionais de saúde que não
tem familiaridade com a informática ou alegam que o tempo gasto para o preenchimento, no
modelo informatizado, poderia ser utilizado para o atendimento de um paciente, menciona a
equipe de TI.
Em especial, na Liga, esta posição acarreta inúmeros empecilhos, pois um paciente
que se trata em uma unidade e, porventura, necessite de tratamento em outra, deverá ter o
transporte do seu prontuário físico através de empresas especializadas em entrega. A
programação de entrega é realizada sempre com sucesso (com 24h de antecedência do
procedimento a ser realizado pelo paciente), mas o ambiente hospitalar é instável. Em uma
urgência, alguns minutos podem retardar o pronto atendimento.
Além deste fator, o transporte terrestre é passível de problemas, como extravio, roubos
e até mesmo acidentes.
Conclui-se, no que concerne ao prontuário, que ele se encontra no nível que Costa
apud Waegeman (1993) denomina de registro automatizado, pois a informação é armazenada
em computadores pessoais e é mantido em conjunto com os prontuários de papel.
Mesmo com este problema, a Liga consegue, conforme explana Rodrigues et. al
(2001) estabelecer o prontuário como centro do seu sistema de informação, pois é através dele
que todos os demais módulos são alimentados.
Outro fator ocasionador de falta de clareza é a distinção feita entre prontuário e ficha.
A unidade 3 considera todos os procedimentos como prontuário, onde só deveria ganhar este
nome, nos casos de diagnóstico estabelecido pela diretoria do hospital. A unidade 1, já
distingue os dois parâmetros.
Existe o consenso entre os autores e até mesmo para o Conselho Federal de Medicina
que o prontuário médico é o acervo documental do paciente, organizado e conciso, referente
ao registro dos cuidados médicos prestados, assim como todas as informações, exames,
procedimentos e quaisquer documentos pertinentes a essa assistência. (PRESTES JR. &
RANGEL, 2007). Entende-se, portanto, que é preciso que haja a união de pensamentos para a
resolução destas questões.
Um terceiro fator que merece atenção é a possibilidade do diagnóstico puder ser
visualizado por outras pessoas que não sejam profissionais médicos (tais como atendentes,
recepcionistas, auxiliares administrativos). É importante que a organização observe os
preceitos éticos e envolva todos os colaboradores, mostrando que os dados ali contidos são
altamente sigilosos e dizem respeito somente ao paciente.
De forma geral, a Liga se apresenta como uma organização que está crescendo e
investindo em infra-estrutura adequada ao seu porte e parece estar no caminho certo já que
existe uma política de investimentos bem definida. Talvez, o maior problema esteja na cultura
do que propriamente tecnológico. É inerente ao ser humano ser resistente a toda e qualquer
mudança.
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