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A Primeira Guerra Mundial (também conhecida como Grande Guerra antes de 1939, e Guerra
das Guerras) foi um conflito mundial ocorrido entre 28 de Julho de 1914 e 11 de Novembro de 1918.
A guerra ocorreu entre a Tríplice Entente (liderada pelo Império Britânico, França, Império
Russo (até 1917) e Estados Unidos (a partir de 1917) que derrotou a coligação formada pelas Potências
Centrais (liderada pelo Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano)[1], e
causou o colapso de quatro impérios e mudou de forma radical o mapa geo-político da Europa e do
Médio Oriente.
No início da guerra (1914), a Itália era aliada dos Impérios Centrais na Tríplice Aliança, mas,
considerando que a aliança tinha carácter defensivo (e a guerra havia sido declarada pela Áustria) e a
Itália não havia sido preventivamente consultada sobre a declaração de guerra, o governo italiano
afirmou não se sentir vinculado à aliança e que, portanto, permaneceria neutro. Mais tarde, as pressões
diplomáticas da Grã-Bretanha e da França fizeram-na firmar em 26 de abril de 1915 um pacto secreto
contra o aliado austríaco, chamado Pacto de Londres, no qual a Itália se empenharia a entrar em guerra
decorrido um mês em troca de algumas conquistas territoriais que obtivesse ao fim da guerra: o
Trentino, o Tirol Meridional, Trieste, Gorizia, Ístria (com exceção da cidade de Fiume), parte da
Dalmácia, um protetorado sobre a Albânia, sobre algumas ilhas do Dodecaneso e alguns territórios do
Império Turco, além de uma expansão das colônias africanas, às custas da Alemanha (a Itália já possuía
na África: a Líbia, a Somália e a Eritreia). O não -cumprimento das promessas feitas à Itália foi um dos
fatores que a levaram a aliar-se ao Eixo na Segunda Guerra Mundial.
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Muitos dos combates na Primeira Guerra Mundial ocorreram nas frentes ocidentais, em
trincheiras e fortificações (separadas pelas "Terras de Ninguém", que era o espaço entre cada trincheira,
onde vários cadáveres ficavam à espera do recolhimento) do Mar do Norte até a Suíça. As batalhas
davam-se em invasões dinâmicas, em confrontos no mar, e pela primeira vez na história, no ar.
O saldo foi de mais de 19 milhões de mortos, dos quais 5% eram civis[carece de fontes?]. Na
Segunda Guerra Mundial, este número aumentou em 60%.
O conflito rompeu definitivamente com a antiga ordem mundial criada após as Guerras
Napoleônicas, marcando a derrubada do absolutismo monárquico na Europa.
O fracasso da Rússia na guerra acabou contribuindo para a queda do sistema czariano, servindo
de catalisador para a Revolução Russa que inspirou outras em países tão diferentes como China e Cuba,
e que serviu também, após a Segunda Guerra Mundial, como base para a Guerra Fria. No Médio
Oriente, o Império Turco-Otomano foi substituído pela República da Turquia e muitos territórios por
toda a região acabaram em mãos inglesas e francesas. Na Europa Central os novos estados
Tchecoslováquia, Finlândia, Letônia, Lituânia, Estônia e Iugoslávia "nasceram" depois da guerra e os
estados da Áustria, Hungria e Polônia foram redefinidos. Pouco tempo depois da guerra, em 1923, os
Fascistas tomaram o poder na Itália. A derrota da Alemanha na guerra e o fracasso em resolver assuntos
pendentes no período pós-guerra, alguns dos quais haviam sido causas da Primeira Guerra, acabaram
por criar condições para a ascensão do Nazismo quatorze anos depois e para a Segunda Guerra Mundial
em 1939, vinte anos depois.
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O assassinato desencadeou os eventos que rapidamente deram origem à guerra, mas suas
verdadeiras causas são muito mais complexas. Historiadores e políticos têm discutido essa questão por
quase um século sem chegar a um consenso. Algumas das melhores explicações estão listadas abaixo:
A corrida naval entre Inglaterra e Alemanha foi intensificada em 1906 pelo surgimento do HMS
Dreadnought, revolucionário navio de guerra. Uma evidente corrida armamentista na construção de
navios desdobrava-se entre as duas nações. O historiador Paul Kennedy argumenta que ambas as
nações acreditavam nas teorias de Alfred Thayer Mahan, de que o controle do mar era vital a uma
nação.
O também historiador David Stevenson descreve a corrida como um "auto reforço de um ciclo
de elevada prontidão militar", enquanto David Herrman via a rivalidade naval como parte de um grande
movimento para a guerra. Contudo, Niall Ferguson argumenta que a superioridade britânica na
produção naval acabou por transformar tal corrida armamentista em um fator que não contribuiu para a
movimentação em direção a guerra.
Este período, entre 1885 e 1914, ficou conhecido como a Paz Armada.
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Lênin era um famoso defensor de que o sistema imperialista vigente no mundo era o
responsável pela guerra. Para corroborar as suas ideias ele usou as teorias econômicas de Karl Marx e
do economista inglês John A. Hobson, que antes já tinha previsto as consequências do imperialismo
econômico na luta interminável por novos mercados, que levaria a um conflito global, em seu livro de
[5]
1902 chamado "Imperialismo". Tal argumento provou-se convincente no início imediato da guerra e
ajudou no crescimento do Marxismo e Comunismo no desenrolar do conflito. Os panfletos de Lênin de
1917, "Imperialismo: O Último Estágio do Capitalismo ", tinham como argumento que os interesses dos
[6]
bancos em várias das nações capitalistas/imperialistas tinham levado à guerra.
Os líderes civis das nações europeias estavam na época enfrentando uma onda de fervor
nacionalista que estava se espalhando pela Europa há anos, como memórias de guerras enfraquecidas e
rivalidades entre povos, apoiados por uma mídia sensacionalista e nacionalista. Os frenéticos esforços
diplomáticos para mediar a rixa entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia foram irrelevantes, já que a
opinião pública naquelas nações pediam pela guerra para defender a chamada honra nacional. Já a
aristocracia exercia também forte influência pela guerra, acreditando que ela poderia consolidar
novamente seu poder doméstico. A maioria dos beligerantes pressentiam uma rápida vitória com
consequências gloriosas. O entusiasmo patriótico e a euforia presentes no chamado Espírito de 1914
revelavam um grande otimismo para o período pós-guerra.
A guerra localizada entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia teve como principal (e quase
único) motivo o Pan-eslavismo, o movimento separatista dos Bálcãs. O Pan-eslavismo influenciava a
política externa russa, principalmente pelos cidadãos eslavos no país e os desejos econômicos de um
[7]
porto em águas quentes. O desenrolar da Guerra dos Balcãs refletia essas novas tendências de poder
das nações europeias. Para os germânicos, tanto as Guerras Napoleónicas quanto a Guerra dos Trinta
Anos foram caracterizados por invasões que tiveram um grande efeito psicológico; era a posição
precária da Alemanha no centro da Europa que tinha levado a um plano ativo de defesa como o Plano
[8]
Schlieffen . Ao mesmo tempo a transferência da disputada Alsácia e Lorena e a derrota na Guerra
franco-prussiana influenciaram a política francesa, dando origem ao chamado revanchismo. Após a Liga
dos Três Impérios ter se desmanchado, a França formou uma aliança com a Rússia, e a guerra por duas
frentes começou a se tornar uma preocupação para o exército alemão.
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Por causa desse termo, rejeitado em resposta sérvia em 26 de Julho, o Império Austro-Húngaro
cortou todas as relações diplomáticas com o país e declarou guerra ao mesmo em 28 de Julho,
começando o bombardeio à Belgrado (capital sérvia) em 29 de Julho. No dia seguinte, a Rússia, que
sempre tinha sido uma aliada da Sérvia, deu a ordem de locomoção a suas tropas. Os alemães, que
tinham garantido o apoio ao Império Austro-Húngaro no caso de uma eventual guerra mandaram um
ultimato ao governo russo para parar a mobilização de tropas dentro de 12 horas, no dia 31. No
primeiro dia de Agosto o ultimato tinha expirado sem qualquer reação russa. A Alemanha então
declarou-lhe guerra. Em 2 de Agosto a Alemanha ocupou Luxemburgo, como o passo inicial da invasão à
Bélgica e do Plano Schlieffen (estratégia de defesa alemã que previa a invasão da França, Inglaterra e
Rússia). A Alemanha tinha enviado outro ultimato, desta vez à Bélgica, requisitando a livre passagem do
exército alemão rumo à França. Como tal pedido foi recusado, foi declarada guerra à Bélgica.
Em 3 de Agosto a Alemanha declarou guerra à França, e no dia seguinte invadiu a Bélgica. Tal
ato, violando a soberania belga - que Grã-Bretanha, França e a própria Alemanha estavam
comprometidos a garantir fez com que o Império Britânico saísse da sua posição neutra e declarasse
guerra à Alemanha em 4 de Agosto.
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resultado o Império Austro-Húngaro foi obrigado a manter uma grande força na fronteira sérvia,
enfraquecendo as tropas que batalhavam contra a Rússia.
Após invadir o território belga, o exército alemão logo encontrou resistência na fortificada
cidade de Liège. Apesar do exército ter continuado a rápida marcha rumo à França, a invasão germânica
tinha provocado a decisão britânica de intervir em ajuda a Tríplice Entente. Como signatário do Tratado
de Londres, o Império Britânico estava comprometido a preservar a soberania belga. Para a Grã-
Bretanha os portos de Antwerp e Ostend eram importantes demais para cair nas mãos de uma potência
[9]
continental hostil ao país. Para tanto, enviou um exército para a Bélgica, atrasando o avanço alemão.
Inicialmente os mesmos tiveram uma grande vitória na Batalha das Fronteiras (14 de Agosto a
24 de Agosto de 1914). A Rússia, porém, atacou a Prússia Oriental, o que obrigou o deslocamento das
tropas alemãs que estavam planejadas para ir a Frente Ocidental. A Alemanha derrotou a Rússia em
uma série de confrontos chamados da Segunda Batalha de Tannenberg (17 de Agosto a 2 de Setembro
de 1914). O deslocamento imprevisto para combater os russos, porém, acabou permitindo uma contra-
ofensiva em conjunto das forças francesas e inglesas, que conseguiram parar os alemães em seu
caminho para Paris, na Primeira Batalha do Marne (Setembro de 1914), forçando o exército alemão a
lutar em duas frentes. O mesmo se postou numa posição defensiva dentro da França e conseguiu
incapacitar permanentemente 230.000 franceses e britânicos.
Numa nota curiosa, temos que no início da guerra, chegando a primeira época natalícia, se
encontram relatos de os soldados de ambos os lados cessarem as hostilidades e mesmo saírem das
trincheiras e cumprimentarem-se. Isto ocorreu sem o consentimento do comando, no entanto, foi um
evento único. Não se repetiu posteriormente por diversas razões: o número demasiado elevado de
baixas aumentou os sentimentos de ódio dos soldados e o comando, dados os acontecimentos do
primeiro ano, tentou usar esta altura para fazer propaganda, o que levou os soldados a desconfiar ainda
mais uns dos outros.
A partir de 1917 a situação começou a alterar-se, quer com a entrada em cena de novos meios,
como o carro de combate e a aviação militar, quer com a chegada ao teatro de operações europeu das
forças norte-americanas ou a substituição de comandantes por outros com nova visão da guerra e das
tácticas e estratégias mais adequadas; lançam-se, de um lado e de outro, grandes ofensivas, que causam
profundas alterações no desenho da frente, acabando por colocar as tropas alemãs na defensiva e
levando por fim à sua derrota. É verdade que a Alemanha adquire ainda algum fôlego quando a
revolução estala no Império Russo e o governo bolchevista, chefiado por Lênin, prontamente assina a
paz sem condições, assim anulando a frente leste, mas essa circunstância não será suficiente para evitar
a derrota. O armistício que põe fim à guerra é assinado a 11 de Novembro de 1918.
O nono presidente do Brasil, Venceslau Brás, declara guerra aos Poderes Centrais. Ao seu lado,
o ministro interino das Relações Exteriores Nilo Peçanha (em pé) e o presidente de Minas Gerais, Delfim
Moreira (sentado).
No Brasil, o confronto foi conhecido popularmente até a 2ª Guerra como a Guerra de 14, em
alusão à 1914.
No dia 5 de abril de 1917, o vapor brasileiro "Paraná", que navegava de acordo com as
exigências feitas a países neutros, foi torpedeado, supostamente por um submarino alemão. No dia 11
de abril o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do bloco liderado pela Alemanha. Em 20 de
maio, o navio "Tijuca" foi torpedeado perto da costa francesa. Nos meses seguintes, o governo Brasileiro
confiscou 42 navios alemães, austro-húngaros e turco-otomanos que estavam em portos brasileiros,
como uma indenização de guerra.
No dia 23 de outubro de 1917, o cargueiro nacional "Macau", um dos navios arrestados, foi
torpedeado por um submarino alemão, perto da costa da Espanha, e seu comandante feito prisioneiro.
Com a pressão popular contra a Alemanha, no dia 26 de outubro de 1917 o país declarou guerra aos
Poderes Centrais.
A partir deste momento, por um lado, sob a liderança de políticos como Ruy Barbosa
recrudesceram agitações de caráter nacionalista, com comícios exigindo a "imperiosa necessidade de se
apoiar os Aliados com ações" para por fim ao conflito. Por outro lado, sindicalistas, anarquistas e
intelectuais como Monteiro Lobato criticavam essa postura e a possibilidade de grande convocação
militar, pois segundo estes, entre outros efeitos negativos isto desviava a atenção do país em relação a
seus problemas internos.
Assim, devido a várias razões, de conflitos internos à falta de uma estrutura militar adequada, a
participação militar do Brasil no conflito foi muito pequena; resumindo-se no envio ao front ocidental
em 1918 de um grupo de aviadores do Exército e da Marinha que foram integrados à Força Aérea Real
Britânica e de um corpo médico-militar, composto por oficiais e sargentos do exército que foram
integrados ao exército francês, tendo seus membros tanto prestado serviços na retaguarda como
participado de combates no front. A Marinha também enviou uma divisão naval com a incumbência de
patrulhar a costa noroeste da África a partir de Dakar e o Mediterrâneo desde o estreito de Gibraltar,
evitando a ação de submarinos inimigos.
Portugal participou no primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, o que estava de acordo
com as orientações da República ainda recentemente instaurada.
Em Março de 1916, apesar das tentativas da Inglaterra para que Portugal não se envolvesse no
conflito, o antigo aliado português decidiu pedir ao estado português o apresamento de todos os navios
germânicos na costa lusitana. Esta atitude justificou a declaração oficial de guerra a Portugal pela
Alemanha, a 9 de Março de 1916 (apesar dos combates em África desde 1914).
Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens. As perdas
atingiram quase 10 mil mortos e milhares de feridos, além de custos económicos e sociais gravemente
superiores à capacidade nacional. Os objectivos que levaram os responsáveis políticos portugueses a
entrar na guerra saíram gorados na sua totalidade. A unidade nacional não seria conseguida por este
meio e a instabilidade política acentuar-se-ia até à queda do regime democrático em 1926.
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A Primeira Guerra Mundial foi uma mistura de tecnologia do século XX com tácticas do século
XIX.
Muitos dos combates durante a guerra envolveram a guerra das trincheiras, onde milhares de
soldados por vezes morriam só para ganhar um metro de terra. Muitas das batalhas mais sangrentas da
história ocorreram durante a Primeira Guerra Mundial. Tais batalhas incluiam Ypres, Vimy, Marne,
Cambrai, Somme, Verdun, e de Gallipoli. A artilharia foi a responsável pelo maior número de baixas
durante a guerra.
Tanque de guerra britânico capturado pelos Alemães durante a Primeira Guerra Mundial.
Neste conflito estiveram envolvidos cerca de 65 milhões de soldados e destacaram-se algumas
figuras militares, como o estrategista da Batalha do Marne, o general francês Joffre, o general Ferdinand
Foch, também da mesma nacionalidade, que veio a assumir o controle das forças aliadas, o general
alemão Von Klück, que esteve às portas de Paris, general britânico John French, comandante do Corpo
Expedicionário Britânico e o comandante otomano Kemal Ataturk, vencedor na Batalha de Gallipoli
contra a Inglaterra e o AN AC (Austrália e Nova elândia).
A guerra química e o bombardeamento aéreo foram utilizados pela primeira vez em massa na
Primeira Guerra Mundial. Ambos tinham sido tornados ilegais após a Convenção Hague de 1907. Os
aviões foram utilizados pela primeira vez com fins militares durante a Primeira Guerra Mundial.
Inicialmente a sua utilização consistia principalmente em missões de reconhecimento, embora tenha
depois se expandido para ataque ar-terra e atividades ar-ar, como caças. Foram desenvolvidos
bombardeiros estratégicos principalmente pelos alemães e pelos britânicos, já tendo os alemães
utilizado zeppelins para bombardeamento aéreo.
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Ao final da I Guerra Mundial, além de perder territórios para França, Polônia, Dinamarca e
Bélgica, os alemães são obrigados pelo Tratado de Versalhes a pagar altas indenizações aos países
vencedores. Essa penalidade faz crescer a dívida externa e compromete os investimentos internos,
gerando falências, inflação e desemprego em massa. As tentativas frustradas de revolução socialista
(1919, 1921 e 1923) e as sucessivas quedas de gabinetes de orientação social-democrata criam
condições favoráveis ao surgimento e à expansão do nazismo no país. O NSDAP, utilizando-se de
espetáculos de massa (comícios e desfiles) e dos meios de comunicação (jornais, revistas, rádio e
cinema), consegue mobilizar a população por meio do apelo à ordem e ao revanchismo. Recebe ajuda
da grande burguesia, que teme o movimento operário. Favorecidos por uma divisão dos partidos de
esquerda, os nazistas são vitoriosos nas eleições de 1932. Em 1933, Hitler é nomeado primeiro-ministro,
com o auxílio de nacionalistas, católicos e setores independentes. Um ano depois se torna chefe de
governo (chanceler) e chefe de Estado (presidente). Interpreta o papel de führer, o guia do povo
alemão, criando o III Reich (III Império).
Com poderes excepcionais, Hitler suprime todos os partidos políticos, exceto o nazista; dissolve
os sindicatos; cassa o direito de greve; fecha os jornais de oposição; e estabelece a censura à imprensa.
Apoiando-se em organizações paramilitares, SA (guarda do Exército), SS (guarda especial) e Gestapo
(polícia política), realiza perseguições aos judeus, aos sindicatos e aos políticos comunistas, socialistas e
de outros partidos. O intervencionismo e a planificação econômica adotados por Hitler eliminam, no
entanto, o desemprego e impedem a retirada do capital estrangeiro do país. Há um acelerado
desenvolvimento industrial, que estimula a indústria bélica e a edificação de obras públicas. Esse
crescimento se deve em boa parte ao apoio dos grandes grupos alemães, como Krupp, Siemens e Bayer,
a Adolf Hitler. Em desrespeito ao Tratado de Versalhes, Hitler reinstitui o serviço militar obrigatório, em
1935, remilitariza o país e envia tanques e aviões para amparar as forças conservadoras do general
Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936. Nesse mesmo ano promove o extermínio
sistemático dos judeus por meio da deportação para guetos ou campos de concentração. Anexa a
Áustria e a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia (1938). Ao invadir a Polônia, em 1939, dá início à II
Guerra Mundial.
A partir dos anos 80, na Europa, há uma retomada de movimentos autoritários e conservadores
denominados neonazistas, principalmente na Alemanha, Áustria, França e Itália. Eles são favorecidos,
entre outros motivos, pela imigração, pela recessão, pelo desemprego e pelo ressurgimento de velhos
preconceitos étnicos e raciais. Manifestam-se de forma violenta e têm nos estrangeiros o alvo
preferencial de ataque. Em determinados países, os movimentos neonazistas valem-se também da via
institucional parlamentar, como o partido político Frente Nacional, na França. No Brasil, carecas,
skinheads e white power são alguns dos grupos em evidência nos grandes centros urbanos,
promovendo ataques verbais, pichações e agressões dirigidas principalmente contra os migrantes
nordestinos.
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Gestapo (Geheime Staatspolizei ou Polícia secreta), aposta que designa a polícia política do
regime nazista, que tomou o poder na Alemanha de 1933 a 1945. Foi fundada por Hermann Goering em
1933 com o objetivo de perseguir aos oponentes políticos do nacional-socialismo.
Hermann Goering, (1893-1946), militar e político alemão. Conheceu Adolf Hitler em 1921 e um
ano mais tarde se transformou em um dos líderes do Partido Nacional Socialista (nazista). Foi ministro
da Aeronáutica, ministro presidente da Prússia, ministro do Interior e chefe de todas as forças de
segurança alemãs. Concebeu a política de terror empregada na II Guerra Mundial, na qual se
bombardearam e arrasaram cidades inteiras para submeter seus habitantes.
Oskar Schindler, (1908-1974), industrial alemão cuja atuação salvou a vida de numerosos
judeus durante o nazismo. Conseguiu, mediante subornos, que seus trabalhadores não fossem para o
campo de concentração de Auschwitz. Em 1961, foi convidado à Israel, onde recebeu a Cruz do Mérito,
existe até um filme de Steven Spilberg "A lista de Schindler" contando seus atos de heroísmo que
salvaram vários judeus.
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Irmão do braço direito de Hitler salvou judeus e outros perseguidos pelos nazistas. Seu irmão,
Hermann Goering, era o braço direito de Adolf Hitler, criou a Gestapo e foi um dos principais
responsáveis pelo genocídio dos judeus europeus. Albert Goering tinha índole inteiramente diferente.
Arriscou sua vida (e soube tirar proveito do poder do irmão) para salvar muitos judeus e outros
perseguidos pelo regime nazista. Preso depois da derrota da Alemanha na II Guerra Ͷ primeiro pelos
aliados, depois pela Checoslováquia Ͷ, Albert beneficiou-se do testemunho de pessoas que ajudou e
pôde recomeçar a vida com um certificado de inocência. O paralelo com Oskar Schindler, popularizado
por Steven Spielberg no filme A Lista de Schindler, é inevitável. A história de Albert Goering, contudo, é
quase desconhecida, além de mais surpreendente. Quem iria imaginar que o irmão do sucessor
designado de Hitler tenha permanecido durante toda a guerra firmemente do lado do bem?
Albert entregou-se ao Exército americano em maio de 1945, certo de que os aliados iriam
tentar capturá-lo por causa do parentesco com o Reichsmarschall Hermann Goering. Num relato
entregue aos americanos, Albert enumerava suas atividades desde 1933. Afirmou nunca ter-se filiado ao
Partido Nazista. Ao contrário, havia sido "um ativo combatente contra o nacional-socialismo", além de
ter ajudado "dezenas de judeus". Também apresentou uma lista de 34 pessoas que salvou da Gestapo.
Como prova adicional, dizia que Heinrich Himmler, o chefe das SS, chegou a ordenar sua prisão por
atividades antinazistas. As afirmações eram mais incríveis por ser verdadeiras.
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Hermann Goering, o irmão mais velho, é uma figura de destaque entre os maiores vilões do
século. Chefe da Luftwaffe, a Força Aérea alemã, e criador da Gestapo, a polícia política, ele foi também
o idealizador dos campos de concentração. Condenado à forca no Tribunal de Nuremberg, suicidou-se
com uma cápsula de cianureto horas antes da execução. Seria possível que, sob suas barbas, o próprio
irmão desafiasse o credo totalitário nazista? Um dos melhores relatos sobre a saga do irmão bom-
caráter do carrasco nazista foi ao ar no Channel 4, na Inglaterra. Parte desse material havia sido
publicada em forma de reportagem no jornal inglês Sunday Times seu autor, Adam LeBor, conta ter
ouvido de testemunhas como Albert se recusava a usar a saudação nazista. Sempre que era recebido
com um braço levantado e o Heil Hitler, tirava o chapéu e respondia com um polido "bom-dia". O irmão
perverso, Hermann, chamava-o de "ovelha negra da família", embora sempre o salvasse de encrencas.
Não há, na verdade, nada na família Goering que justifique o anti-semitismo fanático de
Hermann Ͷ exceto, e sobre isso só os psicanalistas podem especular, o fato de um amigo judeu da
família ter sido amante de sua mãe durante quinze anos. Esse homem, Hermann von Epenstein, era
padrinho de ambos, e os meninos passaram parte da infância em seu castelo na Bavária. Sempre houve
especulações sobre a paternidade do caçula. A suspeita era reforçada pela tez morena e cabelos escuros
de Albert, tão diferentes do loiro Hermann, que os nazistas consideravam o protótipo do perfeito
"ariano". Os irmãos eram extremamente ligados, o que deve explicar a tolerância do chefe nazista em
relação ao rebelde.
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Quando os alemães anexaram a Áustria, em 1938, Albert era empregado de uma companhia
cinematográfica cujo proprietário, o judeu Oskar Pilzer, foi preso. "Meu pai e Albert não eram amigos",
relembrou um filho de Oskar, Georges, hoje com 77 anos, em depoimento a LeBor. "Mas, quando os
nazistas o prenderam, Albert conseguiu libertá-lo na mesma tarde." No ano seguinte, Albert foi
trabalhar como diretor de exportação da Skoda, a grande metalúrgica checa, então sob controle dos
nazistas, que tinham ocupado o país. Os diretores da Skoda acharam ótimo ter entre eles o irmão do
número 2 do regime nazista. Albert ajudou a impedir que a fábrica fosse desmontada e levada para a
Alemanha. A indústria era o centro da resistência checa Ͷ e Albert com certeza sabia disso.
Como Schindler, Albert era um homem de negócios que soube tirar proveito de suas conexões
com a cúpula nazista e viver confortavelmente num mundo mergulhado no horror. Não é por isso que a
História irá julgá-lo Ͷ o que pesa são depoimentos como o do médico Ladislav Kovacs, judeu húngaro
que conheceu Albert em Roma, hoje disponíveis nos arquivos públicos em Londres. Albert propôs a
Kovacs abrir uma conta bancária na Suíça para ajudar judeus e outros refugiados do regime nazista. Em
1943, quando os nazistas invadiram a Itália, Albert escreveu pessoalmente um salvo-conduto para
Kovacs e sua família Ͷ documento sem valor legal, mas nenhum agente da Gestapo ousaria afrontar o
irmão do Reichsmarschall. Exibindo o sobrenome poderoso, Albert passou toda a guerra providenciando
dinheiro e documentos para pessoas perseguidas pela Gestapo. Umas poucas são bem conhecidas,
como Jan Moravek, diretor da Skoda e líder da resistência checa, ou o compositor Franz Lehar, de A
Viúva Alegre, e sua mulher, a judia Sophie Paschkis. Albert conseguiu do ministro da Propaganda
nazista, o sinistro Joseph Goebbels, um certificado de "ariana honorária" para Sophie.
Há registros de como os irmãos Goering mantinham negócios lucrativos (afinal, Albert fabricava
armamentos e faturou alto com a guerra). Hermann chegou a advertir o irmão para se manter longe dos
"assuntos de Estado", eufemismo para o extermínio dos judeus. O caçula era, entretanto, incorrigível.
Em 1944, foi finalmente preso, por se recusar a sentar à mesma mesa com um figurão nazista que certa
vez assassinara um político socialista. Como sempre, o irmão o socorreu. Albert Goering casou quatro
vezes e morreu em 1966, depois de trabalhar como projetista e engenheiro numa firma de construção
em Munique. Nunca falava sobre a história excepcional que viveu durante a guerra.
Uma nova ameaça de uma Terceira Guerra Mundial, mas ficou conhecida como a Guerra Fria;
Foi criada a ONU (Organização das Nações Unidas), para manter a paz em todo o mundo;
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Primeiramente cabe aqui fazer uma consideração sobre o conceito em si.Habitualmente refere-
se à Guerra Fria como um conflito que em múltiplas variantes opunha norte-americanos e soviéticos.
Dos esportes à exploração espacial, das forças militares às ideologias, dos sistemas econômicos às
organizações políticas, esta rivalidade perpassava diferentes níveis e aspectos, unidos porém na noção
de conflito.
Mas talvez caibam outras interpretações sobre o período. A primeira diz respeito a guerra fria
como uma forma de convergência de interesses, mutuamente recíprocos em termos da preservação dos
respectivos status quo: da mesma forma que as aspirações sociais na América Latina foram vistas como
manifestações de comunismo, os posteriores movimentos de oposição ao governo soviético por parte
dos húngaros (1956) ou tchecos(em 1968), foram apresentados como ações provocativas de capitalistas,
justificando-se a repressão contra eles. Em ambas situações, a guerra fria servia como pretexto para que
os EUA e a URSS mantivessem suas áreas de influência sob controle. O conflito, aqui, era um acordo
entre as superpotências.
Também podemos entender o período como uma oportunidade para que as demais potências
ʹ ainda que coadjuvantes ʹ fossem isoladas e mantidas submissas às duas superpotências.Mesmo a
temporalidade que envolveu a rivalidade entre soviéticos e norte-americanos não é vista de forma
unânime, com seu início variando de 1945 ʹ com os ataques nucleares ao Japão -, 1947 ʹ com a
doutrina Truman de contenção ao comunismo ʹ e ainda, 1949, com a detonação de uma bomba A
soviética, rompendo o monopólio nuclear americano, então vigente.
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Justificando-se à partir das guerras civis então em curso na Grécia e Turquia, onde os
comunistas aparentavam estar perto da tomada do poder nestes países, o presidente Henry Truman
anunciou a nova orientação da diplomacia dos EUA: conter o expansionismo soviético aonde fosse.
Apenas um detalhe: Stálin, voltado para a reconstrução da URSS após a guerra, ciente do poderio militar
e econômico norte-americano e sem nenhuma intenção de provocar um atrito com os EUA, não moveu
uma palha para ajudar os comunistas grego-turcos; logo, o pretexto de Truman era uma manipulação.
Por outro lado, os EUA enfrentavam um declínio militar após o fiasco no Sudeste Asiático, e
representado pela expulsão do Irã e a queda de aliados nas Filipinas e Nicarágua, além da crise
econômica mundial decorrente dos choques do petróleo. A prioridade do governo Carter em favor dos
direitos humanos foi vista como o abandono de ͞amigos͟ anticomunistas e uma oportunidade da URSS
de aproveitar a falta de vontade dos EUA.
A década seguinte foi marcada pela ascensão de Ronald Reagan e a retomada da Guerra Fria
com uma nova e mais dispendiosa corrida armamentista. Proclamando ser a União Soviética o ͞império
do mal͟, a Casa Branca implementou um grande programa de investimentos em mísseis de médio
alcance a serem posicionados na Europa (os Pershing), um novo tipo de arma nuclear ʹ a bomba de
Nêutrons -, novos aviões de bombardeio estratégico (o B-1), submarinos nucleares mais sofisticados,
devastadores e silenciosos, etc, além do dispendioso programa denominado de Guerra nas Estrelas ou
Iniciativa de Defesa Estratégica, que previa o desenvolvimento de sistemas de observação mais
avançados complementados com armas de raios instalados no espaço ou não e destinadas a destruir os
mísseis inimigos antes de atingir o território dos EUA ou seus aliados.
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Guerra Fria foi assim chamada, ͞fria͟, porque não houve uma guerra direta ou seja bélica,
"quente", entre as duas superpotências. A guerra acontece no período histórico de disputas estratégicas
e conflitos indiretos entre os Estados Unidos (que defendia o capitalismo) e a União Soviética (que era
comunista), compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da
União Soviética (1991). Em resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica,
social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência. Os soviéticos controlavam os países
do Leste europeu, enquanto os EUA tentavam manter sua influência sobre o restante da Europa.
A tensão aumento na décadas seguintes à medida que os Estados Unidos e a União Soviética
acumulavam armas nucleares. Os países queriam expandir seus ideais pelo mundo, como eram ideais
diferente, um do outro, a guerra começa. No começo da década de 1990, o então a União Soviética
começou a acelerar o fim do socialismo no país e em seus aliados. Com reformas econômicas, acordos
com os EUA e mudanças políticas, o sistema foi se enfraquecendo. Era o fim de um período de embates
políticos, ideológicos e militares. O capitalismo vitorioso, aos poucos, iria sendo implantado nos países
socialistas.
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INTRODUÇÃO
A participação política dos indivíduos na sociedade global apresenta-se como um caminho, uma
das principais vias alternativas, para o alcance da inserção social e da diminuição das desigualdades
econômicas reveladas pela globalização.
O processo de globalização em marcha acabou com os limites geográficos, mas não eliminou a
fome, a miséria e os problemas políticos de milhões de globalizados que vivem (ou sobrevivem) abaixo
da chamada linha da pobreza absoluta.
Assim sendo, é destacado nesta análise que um indivíduo livre, com autonomia é aquele que
reconhece nas leis da sociedade as suas próprias leis e o seu próprio poder. Para tanto é necessário,
como mostra o texto, que o indivíduo assuma a responsabilidade da construção das bases de uma
sociedade autônoma, que passa ajudá-lo a atingir a participação política na globalização.
A globalização fez surgir uma sociedade desregrada, com ilimitadas possibilidades de
comunicação, de intercâmbio econômico e conquistas tecnológicas. À medida que,busca analisar as
dificuldades que enfrentam os indivíduos para alcançar participação política na globalização, este
trabalho justifica-se integralmente, visto que evidencia problemas como a falta de autonomia e a
incapacidade de autodeterminação, sem a superação dos quais, está inviabilizada uma possível inserção
social no mundo global.
Ao mostrar um indivíduo ainda alienado às mudanças globais, distanciados dos centros das
decisões, preso a fatores de ordem tecnocrática e consumista, esta análise aponta para a necessidade
do posicionar-se, pensar e agir. Serve assim, como um alerta à compreensão de princípios
imprescindíveis à conquista da participação política e a uma vida cidadã na globalização.
No momento que mais a sociedade quer um indivíduo criativo, capaz de decidir, com
versatilidade de conhecimentos, parece óbvio que este perfil exigido, como mostra esta abordagem,
somente tornar-se-á realidade com a conquista de uma autonomia individual que conduzirá à
participação política.
Observa-se no âmbito da aldeia global, que é no indivíduo que está o limite ou deslimite das
ações do homem na sociedade globalizada, é na sua maior ou menor inserção política que se definem os
níveis de exclusão social. Os indivíduos são peças fundamentais no processo político que constrói a
globalização. Sem eles a sociedade global não se sustentaria, o mundo dos incluídos inviabilizaria-se na
ausência da legião dos excluídos que o sustenta.
Essas considerações respondem o que hoje está muito presente nos debates em torno da
globalização, qual seja a interdependência desigual entre quem globaliza e quem é globalizado.
Sustentam o embasamento teórico principal desta análise, obras de Octavio Ianni, Cornellius
Castoriadis, Anthony Giddens e René A. Dreifuss. Este trabalho tem uma abordagem teórica, como tal,
apresenta conceitos a partir dos quais, busca-se desenvolver uma análise crítica, que permita interpretá-
los nos limites do problema e dos objetivos propostos.
Estas afirmações de Octavio Ianni (1995), dão a dimensão da aldeia global que vive o indivíduo
no início deste novo século. Ao mesmo tempo em que perde raízes, se vê envolvo em uma imensa
multidão de solitários, satelitizada, eletrônica e desterritorializada. As mesmas condições que
alimentam a interdependência e a integração, sustentam as desigualdades e contradições em âmbito
global.
"A mesma fábrica da sociedade global, que se insere e que ajuda a criar e recriar
continuamente, torna-se o cenário que desaparece".
É a expansão avassaladora das relações, processos e estruturas de dominação em escala global,
que em qualquer lugar e a todo instante provocam uma apropriação e desapropriação de conceitos, que
transbordam fronteiras e levam ao declínio a sociedade tradicional.
O caráter particularista das estruturas econômicas, aliado ao desconcerto social e cultural, tem
colocado ao indivíduo as mais diversas formas de antagonismos, que dificultam-lhe a tomada de
decisões e o inibe de participação política.
Uma análise da participação política dos indivíduos na sociedade globalizada, mostra que as
dificuldades impostas pela globalização, para a conquista de autonomia, forjam-se na própria
globalização, porém são alimentadas e tornam-se grandes barreiras, no despreparo, intelectual ou
político, dos próprios indivíduos em tomar para si as rédeas do mundo global.
Ao indivíduo cabe perceber que as dificuldades de participação política na sociedade global não
se resumem às questões ideológicas e econômicas do neoliberalismo. Elas também se revelam em ações
do cotidiano, como o comportamento consumista na compra de algum produto ou no processo de
aculturação, de massificação de valores que sofre dos meios de comunicação.
O alienante predomínio das coisas sobre os homens, tem criado enormes barreiras para a
tomada de consciência dos indivíduos, o que dificulta ainda mais a superação das dificuldades de
participação política e a conseqüente inserção na sociedade globalizada. O indivíduo não consegue ter
domínio de um aparato mecanizado, que cria constantes necessidades, tenciona as relações sociais e
dita as normas no mundo globalizado.
Somos escravos do nosso aperfeiçoamento técnico, "(...) modificamos tão radicalmente nosso
meio ambiente que devemos agora modificar-nos a nós mesmos, para poder viver nesse novo
ambiente."
O indivíduo tem extremas dificuldades de situar-se em uma sociedade, que assim como assinala
o declínio do Estado-nação, faz emergir novos e mega centros mundiais de poder, soberania e
hegemonia. A situação é tão problemática e contraditória que ele já não consegue identificar os donos
do poder. Fica deslocado ainda mais do centro das decisões políticas, diante da doutrina neoliberal que
transfere as possibilidades de soberania para as organizações, corporações e outras entidades de
âmbito global.
As elites buscam criar condições que nunca se resolvem, acenam para os indivíduos,
constantemente, com novas perspectivas, aliam-se a setores sociais, partidos ou governos, mas definem
as decisões segundo as suas razões e interesses políticos. Como destaca Octavio Ianni (1995, p. 79): "o
povo, as massas, os grupos e classes sociais são induzidos a realizar as diretrizes estabelecidas pelas
elites modernizantes e deliberantes."
A globalização criou as condições de uma nova e moderna visão do mundo, porém não
conseguiu evitar de ser, igualmente, uma fonte reveladora das imensas desigualdades sociais, das
diversidade locais, nacionais e regionais, que assim como interagem,chocam-se nos limites e deslimites
da aldeia global.
Cornellius Castoriadis (1992), considera que o grande desafio posto para os indivíduos na
globalização é o de ascender a autonomia, ao mesmo tempo em que absorve e interioriza as instituições
existentes.
Uma política de autonomia, como recomenda Castoriadis, deve por sua vez, agir sobre os
indivíduos, com o objetivo, de que possa ajudá-los a atingir a sua própria autonomia. Um projeto de
autonomia é, pois, a transformação do sujeito de maneira que ele possa ser participante do processo,
ou seja, tenha participação política na sociedade em que vive.
A participação política, portanto, é exigência básica para que o indivíduo supere as barreiras
impostas pela globalização e consiga desenvolver ações de cidadania dentro da própria sociedade
global.
"A globalização exige também desterritorialização de decisões. O tomador de decisões terá que
acostumar-se à falta de tempo para refletir, já que uma pergunta dá a volta ao mundo em segundos."
Os indivíduos estão acoplados a uma mídia impressa e eletrônica, que transforma o mundo em
paraíso das imagens, criam linguagens e formas de expressar que dissolvem as barreiras herdadas do
territorialismo. Tudo se desterritorializa. O mundo transforma-se em território de todo mundo, "(...) se
torna grande e pequeno, homogêneo e plural, articulado e multiplicado. Mesmo os centros decisórios
mais fortes, nem sempre se afirmam absolutos, inquestionáveis. Globalizam-se perspectivas, dilemas
sociais, políticos econômicos e culturais. Os problemas nacionais mesclam-se com as realidades e os
problemas mundiais."
É necessário, porém, que o indivíduo veja o mundo como um conjunto de nações e regiões
formando um sistema global, integrado a uma rede de interdependências, que está a exigir-lhe a todo
instante tomada de decisões. O posicionar-se exige-lhe a superação da crise da razão, isto é, o
rompimento dos limites impostos pela tradição.
É importante que o indivíduo supere as práticas políticas instituídas no passado, para alcançar a
participação política na globalização. A submissão, o conformismo e a alienação não lhe conduz ao
caminho da autonomia, via principal para o alcance da reflexividade social, do conhecimento atualizado,
da tomada de decisão e, por conseguinte, da própria participação política.
A autonomia leva o indivíduo à participação política, porém, não deve estar atrelada as
justificações de ordem econômica ou ideológica que o incapacite ou o impeça a condição de ser, agir e
entender as contradições que permeiam o mundo globalizado.
Para Cornellius Castoriadis (1992), uma política de autonomia deve ter como objeto final,
ajudar a coletividade a criar as suas instituições, sem porém limitar a capacidade dos indivíduos de
serem autônomos.
"É politicamente pobre o cidadão que se entrega ao Estado e dele aguarda a sua defesa de
modo acomodado; que se encolhe diante do poder econômico que o agride; que não se organiza, para
cuidar de sua defesa, de maneira democrática e competente."
A chamada informação em tempo real, não dá tempo ao indivíduo de pensar, ou ainda o que é
fundamental, de refletir e encontrar o ponto de consciência entre o que é necessário consumir e a
necessidade consumista. O indivíduo entrega a mídia o poder não de sugerir, mas de definir ações que
deve seguir. Como destaca IANNI (1995)"algo de essencial pode ter-se modificado, quando o discurso do
poder passa ser formulado e divulgado por meios da mídia impressa e eletrônica".
Observa-se assim que os indivíduos mantêm-se reféns da globalização. Ainda não encontraram
as condições de domínio de suas próprias vontades e distanciam-se cada vez mais dos centros das
decisões.
Os fatores que os afastam se revelam tão naturalmente, que são aceitos como inerentes à
evolução tecnológica e científica da humanidade. O indivíduo é visto como o pêndulo de um relógio que
oscila aos extremos, mas não consegue o domínio ou controle dos rumos a seguir.
A participação política exige convicção de decisão, clareza do que se busca e certeza nas
escolhas. Estas exigências, apregoadas pela própria globalização, parecem tão óbvias, porém, ganham
um grau de complexidade enorme quando requeridas no contexto do desequilíbrio social e econômico
do mundo global.
Segundo Emir Sader (1996), o expansionismo das idéias neoliberais começa realmente a
acontecer e ser sentido a partir do início da década de 70, do século que passou.Destaca que o primeiro
governo a por em prática o programa neoliberal foi de Margareth Tatcher em 1979, na Inglaterra.
Conforme o autor, mais tarde os princípios neoliberais ganharam espaços em escala mundial, com os
governos de Reagan em1980 nos Estados Unidos, Helmuth Khol em 1982 na Alemanha e de Schluter na
Dinamarca em 1983.
Com o neoliberalismo, como destaca Perry Anderson (1996, p. 22), pela primeira vez, o
indivíduo passa a conviver com um movimento ideológico verdadeiramente mundial.Com isso, perde o
protecionismo, quase sempre eleitoreiro, dos grupos locais que ditavam os rumos econômicos e as
regras de vida nos limites territorializados dos seus currais eleitorais. Se antes a participação política
"vinha" pelas mãos das oligarquias, agora terá que vir pelo rompimento das amarras do poder
econômico e pelo convencimento e a imposição de idéias.
"A nova concepção econômica imposta pelo neoliberalismo reinterpreta o processo histórico
de cada país: os vilões do atraso econômico passam a ser os sindicatos e junto com eles, as conquistas
sociais e tudo que tenha a ver com a igualdade, com a equidade e com a justiça social".
Os indivíduos são condicionados a acreditar que somente uma economia de mercado mundial,
será capaz de modernizar o aparelho estatal, aumentar a produção e trazer melhores condições de vida.
Não importa ao neoliberalismo outros modelos de desenvolvimento, que não o de Estado
mínimo, privatizante, de exclusão social, insensível à generalização da pobreza. Os indivíduos
empobreceram econômica e politicamente.
A globalização econômica cria um mundo mais abastado para alguns, a custa da pobreza
crescente de outros. Ela é responsável pela globalização crescente da pobreza e ao menos que seja
refreada, um novo barbarismo irá prevalecer, à medida que a exclusão social e o desmonte social
envolverem o mundo."
A sociedade global consegui criar a magia, que sob o ponto de vista econômico, tudo se resolve
ou deve ser decidido pela via do neoliberalismo.
No que tange as questões sociais, estas não têm vias globais de resolução, são resultado do
atraso cultural, da insipiência tecnológica e de governantes corruptos do Terceiro Mundo. Os neoliberais
afirmam que os indivíduos devem ter é iniciativa econômica, assim podem superar a condição de
exclusão social, vencer as barreiras que os afastam dos centros produtivos e conquistar, naturalmente,
espaços de ascensão política na globalização.
O mundo global financeiro fez do indivíduo um amontoado de números, são senhas infinitas,
cartões múltiplos, tudo para fazê-lo crer que é único, singular, não comparável com outro globalizado.
Este é um princípio neoliberal, fazer as pessoas acreditar que não devem se preocupar com o contexto,
com a organização conjuntural da sociedade,num claro contra senso ao globalismo que apregoa.
Retira-se, assim, pontos convergentes, problemas comuns, anseios coletivos, que normalmente
conduzem à participação política. Distanciar o indivíduo da sua realidade social e econômica, é um
grande instrumento de estratégia neoliberal, que é utilizado quando se busca explicar as dificuldades
que enfrenta para inserir-se socialmente e politicamente na globalização.
Para os neoliberais, essas são razões que mostram o despreparo político do indivíduo em
construir autonomia e adquirir condições de demarcar limites, entre a globalização econômica, que é o
mundo neoliberal, e a participação política na globalização, que deve ser uma tarefa doméstica,
individual, de controle local de cada indivíduo.
No entanto, os indivíduos enfrentam enormes dificuldades para ter domínio do que sugerem os
neoliberais. Isto porque, como destaca DREIFUSS (1996, p.153), os indivíduos vivem uma globalização
que se organiza e se faz a partir de mega espaços urbanos, diferenciados por sua localização física e sua
história.
Buscar essas diferenças no âmbito da geo-política que os cerca, é um caminho que pode
conduzir os indivíduos à participação política. Para tanto, é necessário aprender a desterritorializar
decisões, definir ações políticas que alterem estilos de comportamento, hábitos, padrões e
especialmente mentalidade em relação a doutrina neoliberal. "Hoje precisamos de uma nova concepção
acerca da transformação social e da prática política.
A questão maior não é o extermínio da política neoliberal e sim como enfrentar politicamente
os efeitos nocivos da globalização, dos desníveis econômicos e da exclusão social.
Desta dualidade surgem os "incapacitados" políticos, que por não se integrarem ao projeto
ideológico do neoliberalismo, destoam da configuração integradora e modernizante da globalização.
É necessário exercer o que GIDDENS (1996, p.130), chama de democracia dialógica, que não
está centrada no Estado, mas sobre ele retrata de maneira significativa, cria formas de intercâmbio
social e pode contribuir para a reconstrução da solidariedade social.
Não há como deixar de reconhecer, que o neoliberalismo se mantém em função das nações,
das sociedades e fundamentalmente dos indivíduos.
Nunca se falou tanto em dificuldades como nos tempos atuais. A velocidade que traz a
mudança afasta a solução. Os problemas oscilam nos extremos da inquietude ou nos deslimites da
angústia. Os desafios não têm limites de exigências, renovam-se a todo instante e tornam-se mais
complexos, à medida que aumenta a globalização das relações sociais.
Questionado na globalização de exigências que o cerca, o indivíduo não consegue ter respostas
aos desafios que lhe são impostos. São exigências que criam grandes obstáculos à participação política,
que intimidam posicionamentos e revelam deficiências de formação global, de domínio de mundo.
Confinados no limite da visão dos seus mundos pessoais ou na imensidão de um, global, que os
manipula a todo instante, os indivíduos enfrentam provocações que os desnorteiam na complexidade
de exigências que lhes são feitas.
Em a "Era do globalismo", Octavio Ianni (1999, p.11) assinala a emergência da sociedade global,
como uma totalidade abrangente, complexa e contraditória. Uma realidade ainda pouco conhecida,
desafiando práticas e ideais, situações consolidada se interpretações sedimentadas, formas de
pensamento e vôos da imaginação.
No aspecto pessoal, por exemplo, como superar a ânsia do consumismo, que lhes alfineta a
realidade econômica e os conduz ao sonho do impossível ou à impossibilidade de satisfazê-lo
plenamente?
No âmbito global, como podem os indivíduos enfrentar e sobreviver aos princípios excludentes
do neoliberalismo? Como podem abrir espaços de participação política, encontrar formas alternativas
para diminuir a distância entre pobres e ricos e democratizar os acessos à ciência e a tecnologia?
Esses são desafios permanentes, que se renovam a todo instante na sociedade globalizada. Os
indivíduos são cobrados a todo momento e suas deficiências se revelam pela maior ou menor
capacidade de desempenho das suas tarefas de rotina. A globalização exige indivíduos melhores
preparados, que saibam ouvir, mas que assumam funções de tomada de decisão, que tenham iniciativa
própria, mas sejam fiéis aos princípios neoliberais de tratar globalmente as questões sociais e
econômicas.
No âmbito político, o objetivo é desconsiderar toda a forma de organização que não considere
a realidade da desigualdade social, como resultado das diferenças históricas, étnicas ou econômicas,
entre os povos.
Não há claramente definida uma cultura global, que possa dar ao indivíduo uma identidade de
cidadão do mundo.
Queiramos ou não, estamos todos presos em uma grande experiência, que está ocorrendo no
momento da nossa ação ± como agentes humanos -, mas fora do nosso controle, em um grau
imponderável.
Não é uma experiência do tipo laboratorial, porque não controlamos os resultados dentro de
parâmetros fixados ± é mais parecida com uma aventura perigosa, em que cada um de nós, querendo
ou não, tem de participar.
Aos indivíduos o processo social da globalização parece mais desafiador que o processo
político. Por uma dificuldade de contextualizar a sociedade como integrante de uma estrutura política, a
concepção ideológica do mundo não lhes está presente.
O desafio da preparação pessoal, singular dos indivíduos na globalização, não é uma tarefa
simples, já que as influências que sofrem extrapolam ao campo da invididualidade.
Nascem de múltiplas direções, estão na complexidade dos processos sociais, nas estruturas de
dominação e apropriação das instituições sociais, nos discursos ideológicos e ganham dimensão nas
informações e contra-informações de uma mídia globalizante.
São essas diversidades de condutas, muitas enraizadas em valores tradicionais (ignorados pela
globalização), que deixam os homens globalizados reduzidos a meros coadjuvantes no processo da
mundialização de ações políticas, que criam dificuldades de compreensão da heterotopia que mecaniza
o mundo global.
Os indivíduos são peças ou partes de órgãos em constantes deslocamentos pela aldeia global.
Mesmo que não saiam dos lugares onde vivem, sofrem os efeitos estonteantes da imensa cadeia de
informação disponível, veiculada em escala planetária, que os conduz, aleatoriamente, a valores
globalizantes.
A globalização da mídia trouxe para o indivíduo, o desafio de conviver com uma realidade
planetária, com formas diferentes de vida, com estilos desiguais de sociedades, que o cerca, o assedia
nos mais íntimos valores culturais e lhe exige acompanhamento permanente das mudanças que
destradicionalizam regras sociais e familiares.
A nova ordenação da sociedade mundial cria cadeias decisórias, que alteram a natureza e a
dinâmica das relações entre os indivíduos. A necessidade de participação política torna-se uma exigência
nos riscos, incerteza se conflitos que se revelam no entrelaçamento do indivíduo com o sistema global.
As ações cotidianas dos indivíduos mostram a essencialidade da prática política nos processo da
definição de rumos na globalização.
Para impor-se, enquanto cidadão nesta aldeia global, o indivíduo tem que conquistar
autonomia.
Necessita relacioná-la como principal via para vencer as dificuldades de compreensão política,
como instrumento de formação de um cidadão capaz de ser e agir, de ter um entendimento crítico da
sociedade globalizada. Esses são desafios que implicam, necessariamente, na mudança de
comportamentos, que exigem dos indivíduos atitudes claras, objetivas, frente aos princípios excludentes
do neoliberalismo. A busca da autonomia passa a ser uma exigência constante à medida que é o
principal viés para o alcance da participação política na globalização.
É igualmente um desafio para o indivíduo, ter a compreensão de uma nova ordem econômica
internacional, quando é parte integrante de uma legião de excluídos, que aumenta a todo instante a
escala da desigualdade social e cria um mundo de dominação e dependência entre os homens. "(...) um
mundo cada vez mais insubordinado e violento, no qual a pobreza, a privação e o conflito são a
realidade cotidiana da maioria dos povos".
A crise existencial do homem globalizado, mais do que uma perturbação de vida, é um desafio à
turbulência da incerteza, do medo, da perplexidade que o cerca no mundo global. Como destaca GIDDE
NS (1996), cada vez mais o homem é obrigado a abdicar da rigidez das idéias, atitudes e tipos
de comportamentos fundamentados no sistema de valores tradicionais e buscar respostas nos
parâmetros de uma "modernidade reflexiva", que em muitos aspectos ainda estão para serem
formulados.
O indivíduo é peça integrante de um cenário que ajuda a criar e recriar constantemente, mas
não consegue experimentá-lo. A todo instante torna-se o cenário que desaparece, entra e sai de cena,
parece estar sendo punido pela incapacidade política de enfrentar um processo de globalização em
mutação permanente.
"Logo que se reconhece que a sociedade global é uma realidade em processo, que a
globalização atinge as coisas, as gentes e as idéias, bem como as sociedades e as nações, as culturas e as
civilizações, desde esse momento está posto o problema do contraponto globalização-diversidade,
assim como diversidade e desigualdade, ou integração e antagonismo."
As definições da globalização, principalmente econômicas, criam nos indivíduos a desconexão
com o seu mundo social, cultural e político. Deixam de perceber a mundialização em todas as suas
esferas e não buscam paradigmas políticos para explicá-las ou o que seria mais importante entendê-las.
Vem daí, o que se pode chamar de alienação política conjuntural, isto é, os indivíduos por não
perceberem o entrelaçamento de interesses do mundo global, são facilmente manipulados pelas elites
deliberantes que os comandam.
Para Emir Sader (1996) o neoliberalismo criou condições muito mais propícias para a inversão
especulativa do que produtiva. Isto não tem sido assimilado politicamente pelos indivíduos, que sentem
os seus efeitos na destruição social criada pelo poder de mercado, mas se revelam incapazes de
alternativas, que amenizem o agravamento das desigualdades econômicas entre globalizados e
globalizantes.
"A política de vida e as disputas e lutas a elas associadas tratam de como deveríamos viver em
um mundo onde tudo que costumava ser natural (ou tradicional) agora tem de ser, em algum sentido,
escolhido ou decidido. A política de vida é uma política de identidade e uma política de escolha."
A ausência de uma política de vida, fez o indivíduo distanciar-se dos centros decisórios,
submeter-se à força do mercado. Surge, a partir de então, legiões de excluídos sociais que passam a
viver à margem de propagadas conquistas e grandes avanços da globalização. A esses a globalização é
separatista, segregacionista, espoliadora social e politicamente.
Em "A época das Perplexidades" (1996, p.12,13) René Dreifuss destaca dados oficiais da ONU,
que em 1994, mostravam um alargamento da linha de miserabilidade no mundo.
Nos países menos desenvolvidos uma em cada cinco pessoas sofre de pobreza extenuante. Um
bilhão e trezentos milhões de pessoas vivem em extrema pobreza ou são desesperadamente pobres. A
cada minuto nascem quarenta e sete bebês na pobreza.
Desde então a exclusão social vem aumentando em escala mundial, desafiando os deslimites de
uma economia de mercado e de um sistema político que apregoa democracia, mas gera situações
extremas; tanto de generalização da pobreza como de fortalecimento da plutocracia.
Aos indivíduos o desafio posto é o de encontrar vias de participação política, que evitem a
propagação ainda maior da miserabilização mundial, que não deixem sucumbir às garantias de liberdade
e de democracia; e que garantam que as possibilidades de construção de uma sociedade autônoma e da
conquista da condição de cidadão são tão reais quanto os princípios excludentes da globalização.
CONCLUSÃO
O homem é um ser essencialmente social e político. Quando lhe falta esta compreensão ou
quando nega esta condição, torna-se um ser amorfo, ausente,potencialmente manipulável, um mero
ocupador de espaços físicos, ou simplesmente um conformado observador das decisões do mundo que
o cerca. A compreensão da essencialidade política do homem torna-se exigência ao próprio
entendimento das ociedade em que vive.
Não há como separar, dissociar o indivíduo do seu meio social, não há como deixar de
reconhecê-lo na definição ou emissão das ações políticas que definem a complexidade das relações de
poder na sociedade.
As análises aqui colocadas, nos conduzem a dimensionar quanto os indivíduos precisam superar
as dificuldades de interpretação de uma nova ordem econômica e social, para construir um processo de
autonomia e alcançar a participação política na globalização. Este trabalho mostra que as dificuldades
de compreender uma sociedade desregrada (como é a global), decorrem das limitações em tomar
decisões, em eliminar comprometimentos com posições fragmentadas, em romper obstáculos
ideológicos que surrupiam a imprescindibilidade da participação política.
Os homens "globais", como evidencia o centralismo ideário deste texto, ainda não encontraram
pontos de referências que os façam partes integrantes dos centros decisórios, ainda não aprenderam a
lidar e decidir na complexidade das relações de dominação do mundo global.
Não é de se estranhar, portanto, que ainda não saibam superar as suas dificuldades de
participação política e vêem como uma exaustiva provocação à necessidade de assumir posições na
sociedade globalizada.
Todas as análises que se façam para compreendermos as dificuldades que tem os indivíduos de
ascender politicamente na globalização, se identificarão com posições deste trabalho, que apontaram
para uma desconstrução ideológica do mundo. Os indivíduos, como aqui fica evidenciado, precisam
visualizar a multiplicidade de interesses que movem o mundo global.
Necessitam compreender que vivem um novo tempo, que o processo social da globalização e o
processo político se entrelaçam na angústia e incerteza das exigências globais, que a realidade da
globalização impõe a formação de novos indivíduos, como novas idéias e novos objetivos.
Outro ponto determinante, essencial, do que aqui é exposto e que identifica as dificuldades de
participação política na globalização, se refere ao despreparo dos indivíduos em entender que nenhum
sistema, por mais materialista que seja, pode exclui-los das relações sociais que o mantém. Fica claro,
igualmente, que todo o sistema social, econômico é também político, que só se viabiliza pela ação dos
indivíduos, seja pela submissão a interesses de mercado, seja pela necessidade de questionar as forças
do poder político-decisório daqueles que comandam a globalização.
Ao buscar as razões das dificuldades de participação política dos indivíduos na sociedade global,
questão central desta análise, necessariamente conclui-se que na complexa e contraditória realidade
social da globalização, os indivíduos precisam encontrar pontos de referências de atuação de cidadania
nos formatos da própria sociedade globalizada, que necessitam lutar por autonomia e buscarem os
espaços de participação política nos limites de cada instituição, que forma o gigantismo desfronteirizado
do mundo global. Os indivíduos têm dificuldades de participação política na globalização, porque
precisam ainda compreender que é nos centros decisórios do poder político, isto é, no interior das
instituições organizadas que se definem as relações de dominação do mundo global.
Os indivíduos precisarão ainda discernir, e esta é uma dificuldade de participação política, que a
inserção social na globalização não acontecerá, como demonstra este trabalho, sem o afastamento da
passionalidade ideológica, da ortodoxia religiosa, deposições segregacionistas, que os tem impedido de
compreender novas acepções de mundo, de entender novas realidades e com elas interagir no contexto
da globalização.
Assim, resta concluir que a superação das dificuldades de participação política na globalização,
só acontecerá quanto os indivíduos forem capazes de discernir entre o que é apregoado e o que de real
acontece nas relações de interatividade universal.Quando conquistarem o entendimento político, que o
mundo da globalização é, com certeza, o do domínio da ciência e da técnica, mas é também os seus
mundos, onde ocorrem suas relações de homem e cidadão.
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