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TEORIA GERAL DO PROCESSO COLETIVO

1. Noções gerais de direito processual coletivo

1.1. Histórico da coletivização do processo

Liberdade, fraternidade e igualdade (Revolução Francesa) – Código civil de 1916.


As lides devem ser preferencialmente resolvidas pelos próprios litigantes, somente se
essas pessoas não conseguirem resolver é que o Estado vai resolver a lide. Percebe-se
que tem grande liberdade.
O código civil de 1916 influenciou o CPC de 1973. Ex.: regra de competência alterada
por força de cláusula contratual.

Ex.: Parmalat quando contrata produtor rural no interior de Minas Gerais e fornece o
maquinário ela celebra um contrato e diz que a lide será resolvida em São Paulo. O STJ
diz que essas cláusulas são nulas, em razão da percepção de que os homens não são
iguais.

Estado intervencionista – wil fare state (estado do bem estar)


O Estado deve intervir nas relações intersubjetivas no sentido de gerar para os seus
cidadãos um conforto, uma comodidade que geram benefícios à população mais
carente.

O Estado intervencionista acaba tutelando os chamados novos direitos. O direito que


atenta quanto os consumidores, quanto às crianças e aos adolescentes, meio ambiente.
Situações que reclamam essa intervenção estatal. Não é possível tratar esses novos
direito na visão do Código de 1973, pois tratava de relações individuais, pois não havia
essa noção do macro, do processo e do direito coletivo.
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O CPC/73 não se presta mais como mecanismo de tutela desses novos direitos.

1.2. As “ondas” de Acesso à Justiça (Cappelletti e Garth)

- 1ª onda: assistência judiciária gratuita. Para estabelecer a igualdade de partes o sujeito


que é pobre tem que ter um advogado contratado pelo Estado, assegurando a ampla
defesa e o contraditório.

- 2ª onda: defesa de forma coletivizada. Processo coletivo. Defesa de direitos num só


processo. Evitando a fragmentação. Nesse sentido, essa onda veio como um
mecanismo de defesa dos direitos coletivos em um único processo.

- 3ª onda: o processo está falido, então o que tem que ser priorizado são os mecanismos
de solução extrajudicial de conflitos. Só se não tiver jeito é que se vai demandar em
juízo. Por isso está em voga a arbitragem, aumento dos títulos executivos
extrajudiciais.
O MP está à frente do processo coletivo, e tem usado mecanismos dessa terceira onda
do acesso à justiça.

1.3. Coletivização do processo no Brasil

- Lei 4.717/65: 1ª lei que tratou de processo coletivo. Lei de ação popular. Aplicada até
hoje.
Execução: penhora e prisão civil por dívida de alimentos.

§ 3º, art. 14 da Lei 4.717/65:

§ 3º Quando o réu condenado perceber dos cofres públicos, a execução far-se-á por desconto em
folha até o integral ressarcimento do dano causado, se assim mais convier ao interesse público.

O problema grave é a falta de tato dos operadores do direito com o processo coletivo.

O CPC só pode ser usado em processo coletivo supletivamente, tem que respeitar 2
requisitos:
1) Quando tem lacuna nas leis do processo coletivo;
2) A regra do CPC tem que ser compatível com o sistema do processo coletivo. Ex.: o
juiz não pode em qualquer situação julgar extinto o processo sem resolução do mérito.
Não pode extinguir o processo coletivo, ele deve chegar ao final sempre com sentença
de mérito.

- Lei 7.347/85 – Lei da Ação Civil Pública

- Constituição Federal de 1988

- Código de Defesa do Consumidor – 8.078/90


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- Estatuto da Criança e do Adolescente – 8.069/90

- Lei de improbidade administrativa – 8.429/92

Atualmente se tem um projeto de um Código de Processo Coletivo. Existe uma


proposta de codificação pela USP.

Foi lançada uma proposta alternativa de se alterar a lei da Ação Civil Pública, não seria
um código, mas seria uma LACP nova. Essa lei não passou na comissão de constituição
e justiça.

1.4. Conceito de Direito Processual Coletivo

“trata-se de um novo ramo do direito processual, com objeto, método e princípios próprios,
sendo, por isso, autônomo em relação ao direito processual civil individual, que estuda e
regulamenta o exercício, pelo Estado, da função de tutelar as pretensões coletivas em sentido
lato, decorrentes dos conflitos coletivos ocorridos no dia-a-dia da conflituosidade social ”
(Gregório Assagra)

Não se pode tratar um direito individual como coletivo fosse.


O regime da coisa julgada do processo coletivo é totalmente diferente.

1.5. Importância da disciplina

• Impossibilidade de tutelar os direitos coletivos com as regras do direito


processual civil clássico;
Processo civil clássico: processo civil individual.

• O tratamento dos conflitos em dimensão molecular, “(...) além de permitir o


acesso mais fácil à justiça, pelo seu barateamento e quebra de barreiras
socioculturais, evita a sua banalização que decorre de sua fragmentação e
confere peso político mais adequado às ações destinadas à solução desses
conflitos coletivos” (Kazuo Watanabe);
Propõe que essas relações jurídicas sejam tratadas de forma molecolizada e não de
forma atomizada, vai tratar tudo num mesmo processo.

• Elimina o custo das inúmeras ações individuais, torna mais racional o trabalho
do Poder Judiciário, supera os problemas de ordem cultural e psicológica que
impedem o acesso à justiça e neutraliza as vantagens dos litigantes habituais e
dos litigantes mais fortes” (Luiz Guilherme Marinoni).
A ideia é exatamente fortalecer o legitimado ativo da ação coletiva para que possa
haver uma relação de igualdade com o pólo passivo da demanda.

1.6. Base constitucional

• Art. 1º, caput


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Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

• Art. 5º, inciso XXXV

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

A base desse inciso é o acesso à justiça que é facilitado pela via do processo coletivo.

• Art. 129, inciso III

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e
social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

Foi pela primeira vez que uma Constituição brasileira tratou desse tema.

1.7. Natureza jurídica

A doutrina é unânime que o direito processual coletivo tem natureza processual


(configura um ramo do direito processual), constitucional (a sua base teórica está
estabelecida na CF), social (pela via do processo coletivo não se tutela relações
intersubjetivas, mas sim uma gama enorme de direitos que estão sendo tutelados).

1.8. Confronto entre o Direito Processual Civil Individual e o Direito Processual


Coletivo

DIREITO PROCESSUAL CIVIL DIREITO PROCESSUAL CIVIL


INDIVIDUAL COLETIVO

Busca tutelar o direito individual Busca tutelar os direitos coletivos lato


puro, ou seja, aquele pertencente a sensu (difusos, coletivos e individuais
um único titular individualizado homogêneos)

Ainda que haja litisconsórcio, as É frequente a existência de pretensões


pretensões daqueles que se postam colidentes entre si dos próprios
no pólo ativo é sempre a mesma grupos envolvidos

O produto da indenização destina-se A destinação do produto da


diretamente aos lesados indenização normalmente é especial
(Fundo dos Interesses Difusos
Lesados), salvo no tocante aos
direitos individuais homogêneos
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A sentença faz coisa julgada às partes A imutabilidade da decisão gerada


entre as quais é dada, não pela formação da coisa julgada
beneficiando, nem prejudicando ultrapassa os limites das partes
terceiros (art. 472 CPC) processuais (erga omnes ou ultra
partes)

No processo individual as pretensões dos que figuram no mesmo pólo devem ser as
mesmas.

No processo coletivo pode acontecer em determinadas situações em que a pretensão do


direito de um titular de direito lesado ou ameaçado seja diferente de outro ameaçado
de direito ou lesado.
Ex.: cidade em que uma fábrica emite poluentes. Causa danos ao meio ambiente. Cabe
ação coletiva. Medida mais drástica se essa poluição continuar é a interdição da fábrica.
Art. 84, CDC.

Transitada em julgado a sentença do processo coletivo se não aparecer ninguém


interessado em executar, os legitimados para as ações coletivas podem demandar
diretamente da pessoa jurídica que deve o valor devido vai ser destinado a um fundo.

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível
com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução
da indenização devida.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela Lei n.°
7.347, de 24 de julho de 1985.

Art. 472, CPC.


Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem
prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no
processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada
em relação a terceiros.

No processo individual os limites da coisa julgada não podem ultrapassar os interesses


das partes.

Já no processo coletivo a coisa julgada ultrapassa os limites das partes.

2. Jurisdição constitucional

2.1. Direito constitucional processual

O conjunto de regras constitucionais e princípios que vão inspirar todo o estudo do


direito processual e que vão orientar toda a legislação infraconstitucional processual.
Contraditório, ampla defesa, juiz natural, devido processo legal (vale para todas as
disciplinas).

2.2. Direito processual constitucional


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É composto pelos instrumentos constitucionais de tutela de direitos. São as chamadas


ações constitucionais.
Habeas corpus, mandado de segurança, habeas data, ação popular, ação civil pública,
ação declaratória de constitucionalidade.
Estudo das ações que estão estabelecidas em raízes constitucionais.

Há quem defenda que pelo fato dessas ações estarem inseridas nessa classificação o MP
deve obrigatoriamente intervir. O professor não concorda com isso, pois pode ter uma
ação, como o MS, que trata de direito individual.

3. Classificação

3.1. Direito processual coletivo especial

Congrega todas as ações coletivas que estão voltadas para o controle de


constitucionalidade.

3.2. Direito processual coletivo comum

Aquele que tem os olhos voltados para o trato das ações coletivas que tem por objeto a
tutela dos direitos difusos, individuais homogêneos e coletivos strictu sensu.

4. Direito material coletivo

Transindividuais: transcendem a própria identificação dos individuais. São divididos


em duas espécies, quais sejam: difusos e coletivos stricto sensu.

Direitos individuais homogêneos ou direitos acidentalmente coletivos, é possível


identificar os titulares desses direitos. é o caso de um grande litisconsórcio.

4.1. Direitos ou interesses difusos

“São os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas


e ligadas por circunstâncias de fato”

(artigo 81, parágrafo único, inciso I, do CDC)


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Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:


I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;

O direito difuso não pode ser fracionado, ele é indivisível e os titulares não podem ser
determinados, porque a titularidade recai sobre toda a coletividade.

• Direito das pessoas de não assistir comerciais contendo publicidade enganosa


ou apelo de natureza sexual censurável (art. 37 do CDC);
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

• Direito das pessoas de respirar um ar atmosférico puro e ingerir água que seja
potável;

• Direito das pessoas de ter à frente da Administração Pública agentes públicos


que observem os regramentos derivados da probidade administrativa;

• Direito das pessoas de se inscrever em determinado concurso público sem


pagar a taxa de inscrição em razão de situação de hipossuficiência econômica;

• Direito das pessoas de ver preservado um bem de valor histórico (Convento da


Penha, por exemplo).

4.2. Direitos coletivos stricto sensu

“São os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe
de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base”

(artigo 81, parágrafo único, inciso II, do CDC)

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:


II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

São transindividuais e de natureza indivisível, assim como os difusos.


A diferença para os difusos é que os direitos coletivos sticto sensu há uma relação
jurídica base e identificação do grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si.

• Direito dos correntistas de determinada instituição bancária de não se submeter


a uma mesma cláusula ilegal prevista contrato de adesão (cheque especial);

• Direito dos contratantes de determinado plano de saúde de não sofrer reajuste


das parcelas mensais em desacordo com orientação legal ou em ofensa à
cláusula geral da boa-fé objetiva (art. 51, IV, do CDC);
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Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

• Direito dos empregados da unidade industrial de determinada empresa que são


afetados pela poluição do meio ambiente de trabalho, em razão da existência de
um agente químico nocivo à saúde;

• Direito dos advogados de ter representante na composição dos Tribunais (CF


107, I);
Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados,
quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre
brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e
membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira;

• Direito das presidiárias de ter à sua disposição berçário nas unidades onde se
encontram custodiadas, a fim de que possam amamentar seus filhos (art. 83, §
2º, da Lei nº 7.210/84).
§ 2o Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as
condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis)
meses de idade.

4.3. Direitos individuais homogêneos (acidentalmente coletivos)

“São aqueles decorrentes de origem comum”

(artigo 81, parágrafo único, inciso III, do CDC)

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:


III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem
comum.

Parágrafo único do art. 46, CPC:


Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de
litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido
de limitação interrompe o prazo para resposta, que recomeça da intimação da decisão.

São direitos subjetivos pertencentes a titulares diversos, mas oriundos da mesma


causa fática ou jurídica, o que lhes confere grau de afinidade suficiente para permitir
a sua tutela jurisdicional de forma conjunta.

Ex.: acidente de avião.

• Direito das mulheres que adquiriram o anticoncepcional Microvlar, fabricado


pela empresa farmacêutica Schering do Brasil, e acabaram engravidando por se
tratar de “pílula de farinha” (1998);
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• Direito das pessoas que adquiriram leite com soda cáustica, que havia sido
misturada nas cooperativas de produtores do triângulo mineiro (2007);

• Direito das pessoas que tiveram suas casas inundadas e suportaram prejuízos
em razão do vazamento da lama ocorrido na barragem de Mirai/MG, de
responsabilidade da mineradora Rio Pomba Cataguases (2007);

• Direito das pessoas que perderam ou tiveram que abandonar suas moradias, ou
suportaram qualquer prejuízo decorrente de dano moral ou material, em razão
da cratera formada após desabamento de obras da Linha 4 do Metrô em
Pinheiros, em São Paulo (2007);

• Direito das pessoas que foram contaminadas com a micobactéria durante


operação de lipoaspiração, em razão de negligência na esterilização dos
equipamentos (2008).

QUADRO COMPARATIVO DIREITO MATERIAL COLETIVO

DIREITOS TITULAR OBJETO ORIGEM

DIFUSOS Indeterminável Indivisível Situação fática

COLETIVOS Grupo Indivisível Relação jurídica


STRICTO SENSU determinável

INDIVIDUAIS Determináveis Divisível Questão comum


HOMOGÊNEOS de fato ou direito

5. Princípios do direito processual coletivo

5.1. Princípio do devido processo social

= Princípio do devido processo legal coletivo (Zaneti / Venturi)

Art. 5º, XXXV, da CF. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito

Art. 6º da CF. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição

Todos esses direitos enumerados no art. 6º, são também direitos coletivos. Aparece o
direito coletivo como principal instrumento de tutela desses direitos sociais.
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Vige no processo coletivo o princípio do devido processo legal coletivo, o processo


coletivo se apresenta como principal instrumento de tutela desses direitos sociais.

- Notícias do STF

Quarta-feira, 17 de Março de 2010

Poder Público deve custear medicamentos e tratamentos de alto custo a portadores


de doenças graves, decide o Plenário do STF

O Plenário do Supremo Tribunal Federal indeferiu nove recursos interpostos pelo


Poder Público contra decisões judiciais que determinaram ao Sistema Único de Saúde
(SUS) o fornecimento de remédios de alto custo ou tratamentos não oferecidos pelo
sistema a pacientes de doenças graves que recorreram à Justiça. Com esse resultado,
essas pessoas ganharam o direito de receber os medicamentos ou tratamentos
pedidos pela via judicial.

5.2. Princípio da atipicidade da ação coletiva

= Princípio da não-taxatividade (Zaneti / Gregório)

Art. 1º LACP. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (...) IV – a
qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

Não existe um rol taxativo de direitos coletivos que devam ser defendidos. Até porque
podem aparecer situações que o legislador não pode prever. Esse rol é aberto. Isso
facilita muito a atuação dos legitimados para as ações coletivas.
Pode aparecer qualquer situação que essa será objeto de ação coletiva.

Tem uma promotoria residual – ajuíza ações coletivas cujo objeto não está atrelado às
ações de outras promotorias.

5.3. Princípio da máxima efetividade do processo coletivo

(Zaneti / Gregório / Venturi)

Constitui pressuposto fundamental para o implemento da tutela coletiva perceber as


peculiaridades do objeto a ser tutelado por intermédio do processo coletivo, distintas
daquelas ínsitas aos direitos de cunho individual” (ELTON VENTURI)

É um princípio tratado por todos os autores.

Quando é ajuizada uma ação coletiva tem que abstrair dessa ação com máxima
eficiência a tutela coletiva almejada daquele direito coletivo lesado ou ameaçado de
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lesão. A interpretação que dá maior proteção ao direito coletivo colocado em discussão


deve prevalecer.

- Interesse público primário: é o interesse da coletividade. O MP é responsável pela


defesa.

- Interesse público secundário: é o interesse da própria administração. São os


procuradores que defendem.

PROCESSO CIVIL INDIVIDUAL PROCESSO CIVIL COLETIVO

Art. 460, caput, do CPC. É defeso ao juiz Art. 11 da Lei nº 4.717/65. A sentença
proferir sentença, a favor do autor, de que, julgando procedente a ação
natureza diversa da pedida, bem como popular, decretar a invalidade do ato
condenar o réu em quantidade superior impugnado, condenará ao pagamento
ou em objeto diverso do que lhe foi de perdas e danos os responsáveis pela
demandado. sua prática e os beneficiários dele,
ressalvada a ação regressiva contra os
funcionários causadores de dano,
quando incorrerem em culpa.

Art. 475-J, caput, do CPC. Caso o Art. 100, caput, da Lei nº 8.078/90
devedor, condenado ao pagamento de (FLUID RECOVERY). Decorrido o
quantia certa ou já fixada em liquidação, prazo de um ano sem habilitação de
não o efetue no prazo de quinze dias, o interessados em número compatível
montante da condenação será acrescido com a gravidade do dano, poderão os
de multa no percentual de dez por cento legitimados do art. 82 promover a
e, a requerimento do credor e observado liquidação e execução da indenização
o disposto no art. 614, inciso II, desta devida.
Lei, expedir-se-á mandado de penhora e
avaliação.

Art. 273 do CPC. O juiz poderá, a Art. 84, § 3°, da Lei nº 8.078/90. Sendo
requerimento da parte, antecipar, total relevante o fundamento da demanda e
ou parcialmente, os efeitos da tutela havendo justificado receio de ineficácia
pretendida no pedido inicial, desde que, do provimento final, é lícito ao juiz
existindo prova inequívoca, se convença conceder a tutela liminarmente ou após
da verossimilhança da alegação e: I - justificação prévia, citado o réu.
haja fundado receio de dano irreparável
ou de difícil reparação; ou - fique
caracterizado o abuso de direito de
defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu. (tutela antecipada)

O juiz em sede de direito individual só pode conceder tutela antecipada se houver


requerimento da parte.
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No direito coletivo os requisitos para deferimento da tutela antecipada são mais


brandos, em razão da máxima efetividade do processo coletivo. O juiz pode deferir de
ofício a tutela antecipada.

5.4. Princípio da primazia do conhecimento do mérito do processo coletivo

= Princípio da absoluta instrumentalidade (Zaneti / Gregório)

“[...] o Poder Judiciário deve flexibilizar os requisitos de admissibilidade processual,


para enfrentar o mérito do processo coletivo e legitimar sua função social. Não é mais admissível
que o Poder Judiciário fique preso em questões formais, muitas delas colhidas em uma filosofia
liberal individualista já superada e incompatível com o Estado Democrático de Direito,
deixando de enfrentar o mérito, por exemplo, de uma ação coletiva cuja causa de pedir se
fundamenta em improbidade administrativa ou em dano ao meio ambiente” (GREGÓRIO
ASSAGRA)

Vale da mesma forma para o processo civil individual, segundo o professor.

O processo tem que ser um instrumento da justa solução da lide. O direcionamento do


processo tem que ser sempre no sentido de se buscar a pacificação social.
No processo que não soluciona a lide tem a movimentação do poder judiciário sem
solucionar o mérito.

Com muito mais força no processo coletivo o juiz tem que evitar com todas as suas
forças a sentença terminativa. O juiz tem que buscar a solução de mérito a qualquer
custo. Algumas regras do processo individual não vão valer aqui no processo coletivo.

Ex.: autor de uma ação coletiva que contém um objeto importantíssimo esquece de
juntar um documento absolutamente indispensável. O juiz manda emendar no prazo
de 10 dias. O autor não traz o documento no prazo de 10 dias. O juiz vai requisitar ao
órgão onde se encontre o documento para que este apresente o documento. O juiz deve
fazer isso de ofício. Sempre que puder o juiz deve evitar o julgamento da lide sem
julgamento do mérito.

Se o autor abandonar a ação. O MP não pode desistir da ação. Mas se o autor for um
particular? O MP assume a titularidade ativa, para evitar a sentença terminativa.

5.5. Princípio da interpretação pragmática das regras de Direito Processual Coletivo

“a importância da interpretação pragmática é tanto maior quando se percebe a excelência do


modelo processual coletivo brasileiro, que, sem exagero, pode ser considerado como um dos mais
aperfeiçoados entre os dos países que adotam sistemas de tutela coletiva. Se assim é, diante da
aparente suficiência legislativa, a responsabilidade pelo fracasso da tutela coletiva passa a ser
imputável não mais comodamente ao legislador, mas sim à doutrina e, sobretudo, ao Poder
Judiciário, personagem que protagoniza o papel decisivo nos rumos do sistema processual
coletivo no Brasil” (ELTON VENTURI)
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É um princípio que caminha de mãos dadas com o princípio da máxima efetividade.


Esse princípio trata da interpretação do processo coletivo sempre buscando o melhor
resultado prático possível da tutela do interesse público primário.

Esse princípio tem muito a ver com o ativismo judicial.

O juiz dá ao processo coletivo a importância que ele tem e saber manobrar as regras.

5.6. Princípio da máxima amplitude da tutela jurisdicional coletiva

(Gregório)

Art. 83 CDC. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva
tutela.

Art. 212 ECRIAD (= Art. 82 do Estatuto do Idoso). Para defesa dos direitos e interesses
protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes.

Quando se fala em processo coletivo nada impede que se possa ajuizar uma ação
coletiva declaratória ou desconstitutiva.
Se a outra parte não cumprir o MP vai ajuizar uma ação de execução, na maioria das
vezes segue o caminho do CPC.

5.7. Princípio da prioridade máxima da tutela jurisdicional coletiva

“Os processos coletivos devem ser analisados com a máxima prioridade, até porque o interesse
social prevalece sobre o individual” (GREGÓRIO)

O que a doutrina propõe por conta da relevância do processo coletivo é que seja dado
um tratamento prioritário.
O processo coletivo em confronto com o processo individual tem que ter prioridade de
tramitação. Isso ainda não está regulamentado por lei, apesar de ter um projeto
tramitando no Congresso.

5.8. Princípio da ampla divulgação da demanda coletiva

(Zaneti)

Art. 94 do CDC. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla
divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

A intenção é privilegiar os direitos individuais homogêneos.


O processo coletivo tem o objetivo de desafogar o judiciário.
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O processo coletivo deve ter credibilidade, mas isso está difícil. Além de as pessoas
devem ter conhecimento de que existe processo coletivo em curso para que elas não
contratem um advogado para propor ação no mesmo sentido (a imprensa ajuda muito
nisso).

5.9. Princípio da informação aos órgãos competentes

Art. 6º LACP. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a


iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que
constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção.

Hoje essa questão está regulamentada pelo Conselho nacional do MP.


Quando o MP indefere a representação de um particular, ele tem que comunicar o
particular e esse particular tem direito a um recurso administrativo.

Art. 7º LACP. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem


conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças
ao Ministério Público para as providências cabíveis.

Muitas vezes podem surgir situações em que o particular ajuíza ação que é de cunho
coletivo. No caso como esse o juiz deve encaminhar cópia para o MP a fim de que
sejam tomadas as providências.
Esse princípio complementa o anterior.

5.10. Princípio disponibilidade motivada da ação coletiva

= princípio da indisponibilidade temperada (Zaneti / Gregório)

Art. 5º, § 3º, LACP. Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa.

Para o particular não existe uma imposição de ser essa ação ajuizada, nem que essa
ação seja levada até o final.

No processo coletivo, quando tem como autor um particular as mesmas regras valem,
princípio da oportunidade, e pode desistir se ajuizar, mas se a ação for ajuizada vai ter
uma busca sempre pelo mérito da resolução do conflito, podendo o MP assumir a
titularidade da ação coletiva.

Para próxima aula: explicar o item 6.2.

6. Interpretação e aplicação das normas de direito processual coletivo

6.1. Supremacia constitucional interpretação conforme a constituição


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O sistema jurídico que apresenta estrutura escalonada, tendo em seu vértice a


Constituição, deve ser coerente e racional. Qualquer conflito ou antinomia que agrida o
postulado da primazia da Carta Magna viola pelo menos um princípio essencial, qual
seja, justamente o da Supremacia da Constituição, comprometendo assim a harmonia
do ordenamento.

“A ideia de interpretação constitucional requer a afirmação da coerência do sistema


jurídico, à luz da Constituição, no julgamento de cada caso concreto” (ALEXANDRE
COURA)

Sempre que estiver diante de uma norma infraconstitucional ela deve ser interpretada
à luz da Constituição.

6.2. Microssistema legislativo de Direito Processual Coletivo

Art. 90 do CDC. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de


Processo Civil e da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao
inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições.

Art. 21 da LACP. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e


individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o
Código de Defesa do Consumidor (Incluído Lei nº 8.078, de 1990)

Todas as leis que tratam de direito coletivo se reportam à lei da Ação Civil Pública.

A LACP tem uma importância muito grande porque foi a primeira a fazer menção aos
direitos coletivos. É muito inovadora, mas não abraçou todos os institutos que deveria
abraçar.

No Brasil o processo legislativo é muito tormentoso, é difícil de emplacar uma


tramitação.
Os autores do CDC aproveitaram a chance que lhe foi dada e emplacaram as normas
que faltavam à LACP dentro do CDC. Toda a parte de processo coletivo do CDC ela
vele para toda e qualquer ação coletiva, por conta do art. 90.

O CDC acrescentou o art. 21 na LACP.

O CDC foi integrado à LACP. Pode aproveitar sempre que necessário uma norma de
determinado corpo legislativo a uma ação coletiva qualquer. Pode pinçar uma norma
da ECA e aplicar uma ação coletiva afeta na defesa dos direitos dos portadores de
deficiência.

Todas as leis podem se reportar à LACP.

Todo microssistema gravita em torno da Constituição Federal.


16

Ex.: Não paga pensão vai executar o sujeito, pede prisão. Pelo CPC, se não encontrar
nenhum bem passível de penhora, não pode penhorar o salário.

Em qualquer ação coletiva se na fase de cumprimento de sentença se tiver dificuldade


de penhorar o bem do devedor pode fazer desconto em folha de pagamento. Vale para
qualquer ação coletiva que tenha como finalidade obrigação de pagar importância em
dinheiro.

Art. 14, §3º, LACP.


§ 3º Quando o réu condenado perceber dos cofres públicos, a execução far-se-á por desconto em
folha até o integral ressarcimento do dano causado, se assim mais convier ao interesse público.

6.3. Reconhecimento do microssistema pelo STJ (Ministro Luiz Fux)

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


RESSARCIMENTO DE DANOS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. PRAZO
PRESCRICIONAL DA AÇÃO POPULAR. ANALOGIA (UBI EADEM RATIO IBI
EADEM LEGIS DISPOSITIO). PRESCRIÇÃO RECONHECIDA. 1. A Ação Civil Pública
e a Ação Popular veiculam pretensões relevantes para a coletividade. 2. Destarte,
hodiernamente ambas as ações fazem parte de um microssistema de tutela dos
direitos difusos onde se encartam a moralidade administrativa sob seus vários
ângulos e facetas. Assim, à míngua de previsão do prazo prescricional para a
propositura da Ação Civil Pública, inafastável a incidência da analogia legis,
recomendando o prazo quinquenal para a prescrição das Ações Civis Públicas, tal
como ocorre com a prescritibilidade da Ação Popular, porquanto ubi eadem ratio ibi
eadem legis dispositio. Precedentes do STJ: REsp 890552/MG, Relator Ministro José
Delgado, DJ de 22.03.2007 e REsp 406.545/SP, Relator Ministro Luiz Fux, DJ 09.12.2002.
(...) (STJ, 1ª Turma, Resp. nº 727.131/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 11.3.2008, DJ
23.04.2008).

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MENOR SAÚDE. DIREITO


INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. ART. 227 DA CF/88. LEGITIMATIO AD CAUSAM DO
PARQUET. ART. 127 DA CF/88. ARTS. 7.º, 200, e 201 DO DA LEI N.º 8.069/90.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. (...) 1. O Ministério Público
está legitimado a defender os interesses transindividuais, quais sejam os difusos, os
coletivos e os individuais homogêneos. 2. É que a Carta de 1988, ao evidenciar a
importância da cidadania no controle dos atos da Administração, com a eleição dos
valores imateriais do art. 37, da CF/1988 como tuteláveis judicialmente, coadjuvados
por uma série de instrumentos processuais de defesa dos interesses transindividuais,
criou um microssistema de tutela de interesses difusos referentes à probidade da
administração pública, nele encartando-se a Ação Cautelar Inominada, Ação Popular,
a Ação Civil Pública e o Mandado de Segurança Coletivo, como instrumentos
concorrentes na defesa desses direitos eclipsados por cláusulas pétreas. 3. Deveras, é
mister concluir que a nova ordem constitucional erigiu um autêntico 'concurso de
ações' entre os instrumentos de tutela dos interesses transindividuais e, a fortiori,
legitimou o Ministério Público para o manejo dos mesmos. (...). (STJ, 1ª Turma, Resp.
nº 869.843/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18.09.2007, DJ 15.10.2007).
17

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AÇÃO


CIVIL PÚBLICA. [...] 8. A lei de improbidade administrativa, juntamente com a lei da
ação civil pública, da ação popular, do mandado de segurança coletivo, do Código de
Defesa do Consumidor e do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Idoso,
compõem um microssistema de tutela dos interesses transindividuais e sob esse
enfoque interdisciplinar, interpenetram-se e subsidiam-se. (...) (STJ, 1ª Turma, Resp.
nº 510.150/MA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17.02.2004, DJ 29.03.2004).

6.4. Codificação do Direito Processual Coletivo

• Anteprojeto de Antônio Gidi


• Anteprojeto do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual
• Anteprojeto da USP, encabeçado por Ada Pellegrini Grinover
• Anteprojeto da UERJ/UNESA, encabeçado por Aluisio Gonçalves de Castro
Mendes

Nenhum dos anteprojetos foi encaminhado ao Congresso Nacional. Solução que se


encontrou foi alterar a LACP e revogando todas as outras leis componentes do
microssistema.

A LACP acabou rejeitada pela câmara de deputados.

6.5. Aplicação meramente residual do CPC

Art. 19 da LACP. Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de
Processo Civil, aprovado pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que
não contrarie suas disposições.

Aplicação supletiva do CPC – exigências: 1) lacuna existente no microssistema; 2)


compatibilidade entre a norma do CPC e o sistema de direito processual coletivo, não
basta a omissão legislativa.

7. Condições da ação coletiva

O CPC foi inspirado na teoria eclética do Libman. O problema é que depois que o CPC
entrou em vigor Libman fez uma revisão e tirou a possibilidade jurídica do pedido
como condição da ação.

7.1. Legitimidade ad causam

a) Legitimação segundo o CPC – ordinária e extraordinária

Art. 6º CPC. Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando
autorizado por lei.

A legitimação parte de premissas do direito civil.


18

- Legitimação ordinária:
Legitimado ativo – titular do direito material lesado ou ameaçado de lesão.
Legitimado passivo – aquele que lesou o direito material da parte contrária ou está
ameaçando o direito material da parte contrária.

- Legitimação extraordinária: quando por expressa previsão legal tem a parte agindo
em nome próprio na defesa de um direito alheio. Ela é subdividida em 3:

1) exclusiva – só o legitimado extraordinário pode ajuizar a ação. O titular do direito


não pode. Ex.: proteção dos direitos do nascituro. A mãe que vai ajuizar a ação, é a
legitimada extraordinária exclusiva, que age em nome próprio na defesa dos interesses
do nascituro;

2) concorrente – tanto pode haver o ajuizamento da ação pelo titular do direito como
pode haver ajuizamento por legitimado extraordinário. Ex.: investigação de
paternidade, o menino que nasceu e não foi registrado pelo pai, representado pela mãe
e o MP também pode ajuizar ação de investigação de paternidade por expressa
autorização legal (8.560/92) – é encaminhada uma notificação em correspondência em
envelope lacrado para o suposto pai, ele vai ao fórum e reconhece a paternidade ou
não, se não reconhece a mãe é chamada para que ela leve ao elementos de fato e o
promotor ajuíze a ação de paternidade. O autor da ação vai ser o MP, e o réu vai ser o
suposto pai. Quando se tem uma legitimação extraordinária é como se o titular do
direito tivesse ali ajuizando a ação, o autor do direito sofre os efeitos da coisa julgada
material.

Ex.: MP ajuíza ação de investigação de paternidade em Viana. A mãe muda com o filho
para a Serra contrata um advogado e ajuíza uma ação de investigação de paternidade
em nome do filho representado pela mãe. Vai haver litispendência, pois as partes são
as mesmas, o MP agiu como se fosse o titular do direito, então é como se ele fosse o
menino. Onde tiver sido operada a citação válida é o juiz prevento o outro processo vai
ser extinto sem resolução de mérito. O juiz pode conceder os alimentos de ofício,
mesmo se pedido.

3) subsidiária – ex.: concurso público, com três vagas, o primeiro colocado é nomeado,
e depois o quarto colocado é nomeado. O segundo colocado impetra um mandado de
segurança. O terceiro cocado notifica o segundo colocado para impetrar um MS, se o
segundo colocado não tomar essa providência o terceiro colocado pode impetrar o MS.

Pesquisa: No processo coletivo a legitimação é ordinária ou extraordinária?

b) O problema da legitimação nas ações coletivas

• Art. 5º, inciso LXXIII, CF/88. Qualquer cidadão é parte legítima para propor
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
19

patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento


de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

• Art. 5º LACP. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
o Ministério Público, a Defensoria Pública a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade
de economia mista, bem como a associação que, concomitantemente, esteja
constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil e inclua, entre suas
finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.

• Art. 17, caput, LIA. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta
pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta
dias da efetivação da medida cautelar.

• Art. 5º, inciso LXX, CF/88. O mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, por
organização sindical ou por entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados.

c) Natureza jurídica da legitimação nas ações coletivas

• 1ª corrente => LEGITIMAÇÃO ORDINÁRIA (Kazuo Watanabe e Sérgio


Shimura)

• 2ª corrente => LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA (Barbosa Moreira, Ada


Pellegrini Grinover e Hermes Zaneti Jr.)

• 3ª corrente => LEGITIMAÇÃO AUTÔNOMA PARA CONDUÇÃO DO


PROCESSO (Nelson Nery Jr., Gregório Assagra de Almeida e Antonio Gidi)

d) Características da legitimação nas ações coletivas

• Exclusiva: porque apenas e tão somente os legitimados indicados


expressamente em lei estão aptos a ajuizar a ação coletiva. O titular do direito
mesmo não pode ajuizar uma ação coletiva.
• Autônoma: esses legitimados podem ajuizar a ação coletiva independentemente
da vontade dos titulares do direito lesado ou ameaçado de lesão.
• Concorrente: qualquer um dos legitimados indicados por lei pode ajuizar a
ação coletiva, inclusive podem eles se litisconsorciar.
• Disjuntiva: a iniciativa de um dos legitimados independe da concordância dos
demais. Ex.: MP pode instaurar um inquérito civil, arquivá-lo, mas outro
legitimado pode ajuizar ação coletiva.
20

• Mista: pode acontecer de uma ação coletiva ser ajuizada por um legitimado, no
curso do processo pode haver a substituição de um legitimado por outro, ou na
fase de cognição o legitimado ser um e na fase de execução o legitimado ser
outro. Permite que uma ação coletiva seja iniciada por um legitimado e
concluída por outro.

e) Legitimidade ad causam e pertinência temática

Os legitimados para as ações coletivas podem ajuizá-las em relação a quaisquer


direitos materiais coletivos lesados ou ameaçados de lesão?
A defensoria pública pode ajuizar uma ação civil pública objetivando assegurar o
direito da pessoa idosa? (legitimação para o processo)
A legitimação ad causam no processo coletivo é derivado de uma pertinência temática.

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMATIO


AD CAUSAM DO SINDICATO. PERTINÊNCIA TEMÁTICA. [...] 1. Os sindicatos
possuem legitimidade ativa para demandar em juízo a tutela de direitos subjetivos
individuais dos integrantes da categoria, desde que se versem direitos homogêneos e
mantenham relação com os fins institucionais do sindicato demandante, atuando como
substituto processual (Adequacy Representation). 2. A pertinência temática é
imprescindível para configurar a legitimatio ad causam do sindicato, consoante
cediço na jurisprudência do E. S.T.F na ADI 3472/DF, DJ de 24.06.2005 e ADI-QO
1282/SP, DJ de 29.11.2002 e do S.T.J: REsp 782961/RJ, DJ de 23.11.2006, REsp 487.202/RJ,
DJ 24/05/2004. 3. A representatividade adequada sob esse enfoque tem merecido
destaque na doutrina; senão vejamos: "(...) A pertinência temática significa que as
associações civis devem incluir entre seus fins institucionais a defesa dos interesses
objetivados na ação civil pública ou coletiva por elas propostas, dispensada, embora,
a autorização de assembléia. Em outras palavras: a pertinência temática é a
adequação entre o objeto da ação e a finalidade institucional. As associações civis
necessitam, portanto, ter finalidades institucionais compatíveis com a defesa do
interesse transindividual que pretendam tutelar em juízo. [...] Devemos perquirir se o
requisito de pertinência temática só se limita às associações civis, ou se também
alcançaria as fundações privadas, sindicatos, corporações, ou até mesmo as entidades e
os órgãos da administração pública direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica. Numa interpretação mais literal, a conclusão será negativa, dada a redação do
art. 5° da LACP e do art. 82, IV, do CDC. Entretanto, onde há a mesma razão, deve-se
aplicar a mesma disposição. Os sindicatos e corporações congêneres estão na mesma
situação que as associações civis, para o fim da defesa coletiva de grupos; as fundações
privadas e até mesmo as entidades da administração pública também têm seus fins
peculiares, que nem sempre se coadunam com a substituição processual de grupos,
classes ou categorias de pessoas lesadas, para defesa coletiva de seus interesses." in A
Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, Hugo Nigro Mazzilii, São Paulo, Saraiva, 2006,
p. 277/278 [...].
(STJ, 1ª T, AgRg no REsp 901936/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, j. em 16.10.2008, DJe
16.03.2009)
21

Se tem um sindicato dos trabalhadores da construção civil esse sindicato só pode


ajuizar ação coletiva que tenha relação com o interesse dos trabalhadores da construção
civil.
Não pode haver o ajuizamento da ação coletiva se não houver a relação entre a missão
institucional do legitimado e o objeto da ação. O estado do ES não pode ajuizar uma
ação coletiva que tenha por objetivo combater a destruição do meio ambiente no
Paraná. O cidadão pode, ele tem a legitimação ampla. O MP pode ajuíza a ação coletiva
para defender qualquer interesse.
No caso do MP não há em que se falar em pertinência temática, mas nas outras tem que
verificar.

Pode a defensoria pública ajuizar uma ação civil pública ambiental?

Regra de competência para ajuizamento da ação coletiva: prevenção.

§5º, art. 5º, LACP.


§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito
Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.

7.2. Possibilidade jurídica do pedido (da demanda)

a) Possibilidade jurídica segundo o CPC

O CPC foi inspirado na teoria eclética do Libman. Depois que o CPC entrou em vigor
Libman alterou a teoria, concluindo que a possibilidade jurídica do pedido na verdade
é mérito e tirou a possibilidade jurídica do pedido da condição da ação.

Essa possibilidade jurídica tem que se reportar ao pedido e a causa de pedir.


A possibilidade jurídica tem que ser tanto do pedido quanto da causa de pedir. A
possibilidade jurídica consiste na inexistência de vedação na formulação do pedido e
da causa de pedir no Ordenamento Jurídico.

b) Formulação do pedido nas ações coletivas

• Art. 83 CDC

Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas
as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.

Não existem limites para formulação do pedido numa ação coletiva.

• Art. 84, § 5º, CDC

§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz
determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas,
desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.
22

Em nome da defesa da tutela específica é possível que o juiz altere a medida indicada
na petição inicial.

c) Vedação contida no parágrafo único do art. 1º da LACP

Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos,
contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou
outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

O MP Federal ajuizou uma ação civil pública com o seguinte pedido: equivoco no
cálculo de correção de FGTS de todos os trabalhadores brasileiros por conta dos planos
econômicos e ganhou essa ação que transitou em julgado. Determinou a União que
fizesse a correção. Veio uma MP (governo do Fernando Henrique) redigida pelo AGU
Gilmar Mendes, acrescentando o parágrafo único no art. 1º da LACP. A EC/32
converteu em lei todas as MP que estavam em vigor. Isso é inconstitucional, pois viola
o acesso à justiça. Entraram com ADI contra esse dispositivo, mas perderam.

d) Possibilidade jurídica de formulação de pedido de condenação por dano moral


coletivo

A base da possibilidade jurídica da formulação desse pedido está no art. 1º da LACP.

Em determinadas situações ocorre até mesmo o dano imaterial.


Ex.: o bispo da igreja do reino de Deus chutou a imagem da padroeira do Brasil (Nossa
Senhora Aparecida) na televisão. Foi ajuizada uma ação coletiva de danos morais.

A jurisprudência varia em relação a quando que seria reconhecido o dano moral.

• Art. 5º, incisos V e X, CF/88

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano


material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

• Art. 1º, caput, LACP

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – à ordem urbanística;
IV – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
V - por infração da ordem econômica e da economia popular;
VI - à ordem urbanística.
23

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. DANO


MORAL COLETIVO. NECESSÁRIA VINCULAÇÃO DO DANO MORAL À NOÇÃO
DE DOR, DE SOFRIMENTO PSÍQUICO, DE CARÁTER INDIVIDUAL.
INCOMPATIBILIDADE COM A NOÇÃO DE TRANSINDIVIDUALIDADE
(INDETERMINABILIDADE DO SUJEITO PASSIVO E INDIVISIBILIDADE DA
OFENSA E DA REPARAÇÃO). RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.
(STJ, 1ª T, REsp 598.281/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI
ALBINO ZAVASCKI, j. em 02.05.2006, DJ 01.06.2006)

Quando se fala de direito difuso e coletivo latu senso não seria possível o
reconhecimento do dano moral.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO MORAL DIFUSO. Propaganda vista como ofensiva,
preconceituosa, discriminatória e apologista de crime. Legitimidade do Ministério
Público. Ilicitudes, no entanto, não ocorrentes. Mau-gosto e pobreza de idéia ferem o
intelecto, não a moral, a ética ou os bons costumes. Recurso desprovido.
(TJSP, 13ª Câmara de Direito Público, Apelação nº 5676435800, Rel. Des. Borelli
Thomaz, j. 28.7.2008)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. (...) DANO MORAL COLETIVO PELA


COMERCIALIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEL ADULTERADO. LAUDO PRODUZIDO
FORA DO PROCESSO. CIÊNCIA DA APELADA ACERCA DA COLETA DA
AMOSTRA EXAMINADA. FATOS SUFICIENTES PARA CARACTERIZAR PROVA
DA COMERCIALIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEL ADULTERADO. COMÉRCIO DE
COMBUSTÍVEL ADULTERADO GERA INDIGNAÇÃO E ABALO NA CONFIANÇA
QUE OS CONSUMIDORES DESTINAVAM AO ESTABELECIMENTO
FORNECEDOR. CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL COLETIVO.
(TJMG, Apelação 1.0702.03.103480-5, Rel. Des. Brandão Teixeira, j. 22.07.2008, DJ
05.08.2008).

02/09/2008 - Justiça condena metalúrgica ao pagamento de multa por danos morais


coletivos em decorrência de poluição sonora em Aparecida de Goiânia

O juiz Javahé de Lima Júnior condenou a Metalúrgica e Montagens Industriais Goiás


ao pagamento de multa de R$ 10 mil por danos morais coletivos aos residentes no
Setor Bela Vista, em Aparecida de Goiânia. Durante seis anos, os moradores
conviveram com poluição sonora e atmosférica provocada pelas atividades da
empresa. A decisão atende a pedido do Ministério Público Estadual (MP-GO),
formulado pela promotora de justiça Miryam Belle Moraes da Silva, que investigou a
responsabilidade da metalúrgica pelo alto índice de poluição sonora, acima dos
limites permitidos pela legislação ambiental de Goiás. A sentença condenatória por
danos morais coletivos em virtude de degradação ao meio ambiente ainda é rara no
País e demonstra a maior preocupação com as questões ambientais.

Durante a investigação, um laudo pericial do Instituto de Criminalística da Polícia


Civil revelou que o barulho decorrente dos impactos produzidos pelas máquinas
24

dentro da empresa era muito nocivo e exigia o uso de protetores de ouvido pelos
funcionários e visitantes.

Além disso, a própria ação do MP foi resultado de um abaixo-assinado dos


moradores do setor que estavam incomodados com a situação. Como atualmente a
empresa já não funciona mais, a Justiça fixou a multa como punição ao período em
que foi responsável pela poluição sonora na região.

O juiz Javahé de Lima Júnior também condenou Angelina de Almeida Carvalho,


proprietária de duas chácaras no bairro Hilda, em Aparecida de Goiânia, por danos
morais coletivos em decorrência de degradação ambiental. Em ação proposta pelo
MP, foi constatado que Angelina desmatou um buritizal dentro da área de
preservação permanente do córrego que passa atrás das propriedades. O curso
d'água, inclusive, é afluente do Córrego Tamanduá. A punição foi fixada por multa
de R$ 7,5 mil, que será revertida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente.

As conseqüências geradas pela poluição ambiental têm sido uma preocupação cada
vez maior do MP. Como as agressões ao meio ambiente, na maioria do casos, são
irreparáveis, a condenação por danos morais coletivos é vista como um importante
instrumento de combate a degradação ambiental.

Os promotores de justiça Vinícius Marçal Vieira e Jales Guedes Coelho Mendonça


apresentaram o trabalho "Danos Morais Coletivos em Matéria Ambiental" durante o
VI Congresso Estadual do Ministério Público de Goiás, realizado em Goiânia, em
setembro do ano passado pela Associação Goiana do Ministério Público. Na ocasião,
o trabalho foi aclamado por unanimidade e, posteriormente, publicado em revista,
demonstrando o entendimento coletivo do MP quanto à propositura de ações por
danos morais coletivos ao meio ambiente.

e) Possibilidade jurídica de formulação de pedido que importe em controle judicial de


políticas públicas

Ex.: um promotor em MG, na cidade de Congonhas do Campo, ajuizava ação coletiva


para obrigação a prefeitura a fazer saneamento básico, para obrigar o prefeito a asfaltar
a rua. Isso é possível? O MP e o Judiciário não podem substituir a discricionariedade
administrativa. Isso gera um desequilíbrio da tripartição do Poder.

O controle judicial de políticas públicas deve haver, mas deve ter uma conotação
concreta.

Fornecimento de medicamento, colocar crianças na escola – tem se admitido ajuizar


ações coletivas nesses sentidos.

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTROLE JUDICIAL DE


POLÍTICAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS. DIREITO À
SAÚDE. FORNECIMENTO DE EQUIPAMENTOS A HOSPITAL UNIVERSITÁRIO.
25

MANIFESTA NECESSIDADE. OBRIGAÇÃO DO ESTADO. AUSÊNCIA DE


VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. NÃO-
OPONIBILIDADE DA RESERVA DO POSSÍVEL AO MÍNIMO EXISTENCIAL. [...] 3.
A partir da consolidação constitucional dos direitos sociais, a função estatal foi
profundamente modificada, deixando de ser eminentemente legisladora em prol das
liberdades públicas, para se tornar mais ativa com a missão de transformar a realidade
social. Em decorrência, não só a administração pública recebeu a incumbência de
criar e implementar políticas públicas necessárias à satisfação dos fins
constitucionalmente delineados, como também, o Poder Judiciário teve sua margem
de atuação ampliada, como forma de fiscalizar e velar pelo fiel cumprimento dos
objetivos constitucionais. 4. Seria uma distorção pensar que o princípio da separação
dos poderes, originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos
fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como óbice à realização dos direitos
sociais, igualmente fundamentais. Com efeito, a correta interpretação do referido
princípio, em matéria de políticas públicas, deve ser a de utilizá-lo apenas para limitar
a atuação do judiciário quando a administração pública atua dentro dos limites
concedidos pela lei. Em casos excepcionais, quando a administração extrapola os
limites da competência que lhe fora atribuída e age sem razão, ou fugindo da
finalidade a qual estava vinculada, autorizado se encontra o Poder Judiciário a corrigir
tal distorção restaurando a ordem jurídica violada. 5. O indivíduo não pode exigir do
estado prestações supérfluas, pois isto escaparia do limite do razoável, não sendo
exigível que a sociedade arque com esse ônus. Eis a correta compreensão do princípio
da reserva do possível, tal como foi formulado pela jurisprudência germânica. Por
outro lado, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência minimamente
decente não pode ser encarado como sem motivos, pois garantir a dignidade humana
é um dos objetivos principais do Estado Democrático de Direito. Por este motivo, o
princípio da reserva do possível não pode ser oposto ao princípio do mínimo
existencial. 6. Assegurar um mínimo de dignidade humana por meio de serviços
públicos essenciais, dentre os quais a educação e a saúde, é escopo da República
Federativa do Brasil que não pode ser condicionado à conveniência política do
administrador público. A omissão injustificada da administração em efetivar as
políticas públicas constitucionalmente definidas e essenciais para a promoção da
dignidade humana não deve ser assistida passivamente pelo Poder Judiciário.
Recurso especial parcialmente conhecido e improvido.
(STJ, 2ª T, REsp 1.041.197/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, j. em 25.08.2009,
DJe 16.09.2009)

7.3. Interesse de agir

a) Interesse de agir segundo o CPC

Necessidade e utilidade.

- Necessidade: resistência do outro litigante quanto ao reconhecimento ou quanto a


satisfação do direito.
26

“Processo necessário” - as vezes o interesse de agir não surge pelo interesse da parte,
mas sim por uma imposição legal. Ex.: usucapião (ação típica de jurisdição
contenciosa).

- Utilidade: a utilização da via jurisdicional tem que trazer à parte uma vantagem, uma
utilidade do ponto de vista jurídico. A adequação está embutida na utilidade.

Falta de condição da ação é questão de ordem pública, mas apesar de em alguns casos
constatar falta de condição da ação é possível julgar procedente o pedido do autor, com
base na utilidade. Para julgar improcedente é indiscutível.

b) Interesse de agir nas ações coletivas

Até mesmo o réu deve ter interesse de agir.

A legitimação nas ações coletivas é autônoma para a condução do processo. Não


precisa de aferir a titularidade do direito, refletindo diretamente no interesse de agir,
onde o interesse se confunde com a própria legitimidade.

Tem uma fusão nas condições da ação quando se fala em interesse de agir
paralelamente a legitimidade. Quem tem interesse de agir nas ações coletivas é
exatamente quem tem legitimidade para essas ações.

8. Regras de competência no processo coletivo

8.1. Critérios de fixação da competência no processo individual

• Competência em razão do valor da causa e da matéria (CPC, art. 91)

Art. 91. Regem a competência em razão do valor e da matéria as normas de organização


judiciária, ressalvados os casos expressos neste Código.

Valor da causa: juizados especiais.


Matéria: necessidade de especialização dos juízos. Varas especializadas, que melhoram
a prestação jurisdicional.

• Competência funcional ou hierárquica (CPC, art. 93)

Art. 93. Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e de


organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada
neste Código.

É o que disciplina a atividade de mais de um juiz num mesmo processo.


Quando ocorre a mudança de instancia a regra de competência é chamada de
competência funcional hierárquica.
Competência absoluta.
27

• Competência territorial (CPC, arts. 94 a 101)

Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis
serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for
encontrado ou no foro do domicílio do autor.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do
domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer
foro.
§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de
qualquer deles, à escolha do autor.

Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da
coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio
sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e
nunciação de obra nova.

Art. 96. O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a
partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas as ações em
que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. É, porém, competente o foro:
I - da situação dos bens, se o autor da herança não possuía domicílio certo;
II - do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tinha domicílio certo e possuía
bens em lugares diferentes.

Art. 97. As ações em que o ausente for réu correm no foro de seu último domicílio, que é
também o competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de
disposições testamentárias.

Art. 98. A ação em que o incapaz for réu se processará no foro do domicílio de seu
representante.

Art. 99. O foro da Capital do Estado ou do Território é competente:


I - para as causas em que a União for autora, ré ou interveniente;
II - para as causas em que o Território for autor, réu ou interveniente.
Parágrafo único. Correndo o processo perante outro juiz, serão os autos remetidos ao juiz
competente da Capital do Estado ou Território, tanto que neles intervenha uma das entidades
mencionadas neste artigo.
Excetuam-se:
I - o processo de insolvência;
II - os casos previstos em lei.

Art. 100. É competente o foro:


I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em
divórcio, e para a anulação de casamento;
II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos;
III - do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos;
IV - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica;
b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela contraiu;
28

c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a sociedade, que carece de
personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se Ihe exigir o cumprimento;
V - do lugar do ato ou fato:
a) para a ação de reparação do dano;
b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios.
Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de
veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato.

A competência territorial é absoluta ou relativa? Depende. Em se tratando de ações


fundadas em direitos reais sobre imóveis ela é absoluta (art. 95, CPC).

Existe regra de natureza territorial que é de natureza absoluta em razão do interesse


público, da facilitação das provas.

Quando tem uma ação cujo objeto é um direito pessoal ou direito real sobre bem
móvel, a competência é fixada com base no domicílio do réu. O interesse colocado em
jogo é das partes.
Só pode haver o deslocamento da competência se for arguido a incompetência na
exceção de competência.

A regra de competência territorial de ações fundadas em direito real sobre bem imóveis
é de competência absoluta.

Parágrafo único: regra de competência especial. Acidentes envolvendo veículos as


ações podem ser ajuizadas no domicílio do autor ou do local do fato. Regra de
competência relativa.

• Competência em razão da complexidade da causa (Lei nº 9.099/95 e nº


10.259/2001)

Existem causas eleitas como de baixa complexidade independente do valor, que são
processadas nos juizados especiais. Natureza absoluta.

• Competência em razão da pessoa (art. 109 da CF/88)

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA


Interesse público Interesse privado
Nulidade absoluta Nulidade relativa
Reconhecível de ofício Depende de arguição da parte interessada
(independentemente de requerimento das
partes)
Arguição sem forma prescrita em lei Arguição por exceção de incompetência
(preliminar, petição simples, oralmente,
recurso...)

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


29

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de
acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento
provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça
Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver
domicílio a outra parte.
§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for
domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou
onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.
§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou
beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre
que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá
permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional
Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República,
com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal.

Sempre que houver o interesse da União a competência será da Justiça Federal. é de


natureza absoluta.

8.2. Regras de competência territorial do CPC

Art. 94, caput. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real
sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu (relativa).
30

Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da
situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição,
não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão
e demarcação de terras e nunciação de obra nova (absoluta).

Art. 100, inciso V, alínea “a”. É competente o foro do lugar do ato ou fato para a ação
de reparação do dano (relativa).

8.3. Regras de competência territorial do Microssistema de Processo Coletivo

Não vai se utilizar regra do CPC para tratar da competência no processo coletivo, tem
que usar as regras que estão inseridas no microssistema de direito coletivo.

Lei nº 7.347/85, art. 2º, caput: define a competência pelo local onde tiver ocorrido o
dano, considerando-a de natureza funcional (absoluta); essa regra deve ser aplicada em
conjunto com o art. 93 da Lei 8.078.

Lei nº 8.078/90, art. 93: define a competência pelo local onde ocorreu ou deva ocorrer o
dano, mas desde que ele seja de âmbito local; caso o dano seja de âmbito nacional ou
regional, a ação deverá ser proposta no foro da Capital do Estado ou no do Distrito
Federal; (não vale só para as ações coletivas que giram em torno do direito do
consumidor)

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou
regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência
concorrente.

Lei nº 4.717/65, art. 5º: define a competência em razão da pessoa, ou seja, a ação deverá
ser proposta no foro ou juízo correspondente ao ente político interessado,
considerando-se para tanto a origem do ato objeto da causa; regra em razão da pessoa
complementando a regra fixando a competência em razão do dano.

Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la
e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas
que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.

Lei nº 8.069/90, art. 209: fixa a competência no local onde ocorreu ou deva ocorrer a
ação ou omissão, tratando-a como de natureza absoluta;

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou
deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais
superiores.

Ex.: violação ao direito à saúde por inexistência de leitos de UTI neonatal.


31

Lei nº 8.429/92 (lei de improbidade): omissa.

8.4. Objetivos da regra originária da LACP

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o
dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Fórum: prédio.
Comarca: circunscrição judiciária que pode corresponder ao território de um município
ou mais. Ex.: comarca de Nova Venécia é composta pelos municípios de Nova Venécia
e Vila Pavão.
Foro: Normalmente uma comarca corresponde a um foro. Entretanto, em razão da
existência de megalópoles, por política judiciária, criam-se as comarcas da capital para
facilitar o trabalho do judiciário, com vários foros. Comarca da grande Vitória com
foros de Vitória, Viana, Cariacica, Vila Velha.
Corresponde a uma Comar podendo haver uma comarca composta por vários foros.
Juízo: local onde o magistrado exerce a prestação jurisdicional.

Art. 2º: se o dano aconteceu em Vitória não pode ajuizar a ação em Vila Velha. Essa
competência é territorial, mas é de competência absoluta, por isso foi chamada de regra
funcional, para que fosse tratada como regra de competência absoluta.

Esse art. 2º sozinho não resolve os problemas. Até porque os danos podem se estender
por várias comarcas, por vários estados.

8.5. A regra de competência do CDC

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a


justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito
nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de
competência concorrente.

Três tipos de danos: dano local, regional e nacional.

a) Dano local:

b) Dano regional:

c) Dano nacional:

8.6. Problemas doutrinários e jurisprudenciais decorrentes da regra de competência do


art. 93 do CDC

Quadro demonstrativo elaborado a partir da jurisprudência


32

Danos efetivos ou potenciais a direitosA ação coletiva poderá ser proposta na


transindividuais ou individuaiscapital do Distrito Federal ou na Capital
homogêneos que atinjam todo o País. de qualquer dos Estados da Federação, a
Dano nacional. critério do autor. Ex: Ação popular
ajuizada contra os deputados gazeteiros.
Danos efetivos ou potenciais a direitosA ação deverá ser proposta na Capital
transindividuais ou individuaisdesse Estado.
homogêneos que atinjam todo o Estado,Ex.: propaganda enganosa veiculada pela
mas que não ultrapassem seus limitesA Gazeta em todo o Estado. Dano de
territoriais âmbito regional.
Danos efetivos ou potenciais a direitosA competência será de uma das comarcas
transindividuais ou individuaisatingidas desse Estado, sendo firmada
homogêneos que atinjam mais de uma segundo as regras de prevenção.
comarca do mesmo Estado, mas sem que o Ex.: devastação ambiental que atingiu os
dano alcance todo o território estadual municípios de Alegre Guaçuí.
Danos efetivos ou potenciais a direitos
transindividuais ou individuaisA competência será da capital de um dos
homogêneos que atinjam mais de um Estados envolvidos, sendo firmada de
Estado da Federação, mas sem que o dano acordo com as regras de prevenção
tenha repercussão em todo o território
nacional

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA. ART 2º DA LEI Nº


7.347/85. ART. 93 DO CDC. 1. No caso de ação civil pública que envolva dano de
âmbito nacional, cabe ao autor optar entre o foro da Capital de um dos Estados ou do
Distrito Federal, à sua conveniência. Inteligência do artigo 2º da Lei nº 7.347/85 e 93, II,
do CDC. 2. Agravo regimental não provido.
STJ, 2ª T, AgRg na MC nº 13660/PR, rel. Min. Castro Meira, j. 04.03.2008, DJ 17.3.2008

8.7. Propostas de solução para o problema (I)

• Na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 358/2005

“Nas ações civis públicas e nas propostas por entidades associativas na defesa dos
direitos de seus associados, representados ou substituídos, quando a abrangência da
lesão ultrapassar a jurisdição de diferentes Tribunais Regionais Federais ou de
Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal ou Territórios, cabe ao Superior
Tribunal de Justiça, ressalvada a competência da Justiça do Trabalho e da Justiça
Eleitoral, definir a competência do foro e a extensão territorial da decisão” (novo § 2º
do artigo 105 da CF).

Teria que se submeter ao STJ para saber o foro competente, e onde se repercutiria os
efeitos dessa discussão.

8.7. Propostas de solução para o problema (II)


33

• No Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos (USP)

Art. 20. Competência territorial – É absolutamente competente para a causa o foro:


I – do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II – de qualquer das comarcas, quando o dano de âmbito regional compreender até 3
(três) delas, aplicando-se no caso as regras de prevenção;
III - da Capital do Estado, para os danos de âmbito regional, compreendendo 4 (quatro)
ou mais comarcas;
IV – de uma das Capitais do Estado, quando os danos de âmbito interestadual
compreenderem até 3 (três) Estados, aplicando-se no caso as regras de prevenção;
IV- do Distrito Federal, para os danos de âmbito interestadual que compreendam mais
de 3 (três) Estados, ou de âmbito nacional.

Essa proposta tem que ser revista.


8.7. Propostas de solução para o problema (III)

• No anteprojeto da nova Lei da Ação Civil Pública

Art. 4º É competente para a causa o foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano
ou o ilícito, aplicando-se as regras da prevenção e da competência absoluta.
§ 1º. Se a extensão do dano atingir a área da capital do Estado, será esta a competente;
se também atingir a área do Distrito Federal será este o competente, concorrentemente
com os foros das capitais atingidas.
§ 2º. A extensão do dano será aferida, em princípio, conforme indicado na petição
inicial.
§ 3º. Havendo, no foro competente, juízos especializados em razão da matéria e juízos
especializados em ações coletivas, aqueles prevalecerão sobre estes.

Isso vai ser aferido pelo juiz de acordo com as referencias da petição inicial, e diz se é
competente ou não.

8.8. Regra de competência territorial para as ações coletivas do ECRIAD

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde
ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para
processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência
originária dos tribunais superiores.

Foro do local onde ocorreu onde deva ocorrer a ação ou omissão.


Ex.: ajuizamento de uma ação coletiva objetivando criar um espaço reservado para as
detentas que dão à luz a crianças.

Regra de competência dentro do microssistema em razão da defesa dos direitos da


acriança e adolescente.

8.9. Competência territorial nas ações por ato de improbidade administrativa


34

LEI Nº 8.429/92 → OMISSA A RESPEITO DA QUESTÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA
TERRITORIAL. LOCAL DA PRÁTICA DO ATO. A ação de improbidade
administrativa deve ser proposta no foro do lugar em que praticado o ato ímprobo.
Hipótese em que o ato ímprobo teria sido praticado na sede da pessoa jurídica de
direito público, na capital do Estado. Recurso provido.
(TJRS, 22ª CCível, AI nº 70019895101, Relª. Desª. Maria Izabel de Azevedo Souza, j.
30.08.2007, DJ 06.09.2007).

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA.


VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL. Sendo a ação civil pública de
improbidade administrativa dirigida a servidor municipal, lotado no DER/MG, deve
ser processada em uma das Varas da Fazenda Pública do Estado existentes no local do
fato, a teor do que dispõe o artigo 5º e seu § 1º da Lei nº 4.717/65 combinado com o
artigo 59 da LC 59/01
(TJMG, AI nº 1.0079.05.183676-9/001, Comarca de Contagem, Des. Rel. Teresa Cristina
da Cunha Peixoto, j. 20.10.2005, DJ 16.12.2005).

O dispositivo do microssistema que mais traz um resultado positivo é o art. 209, do


ECA.
9. Intervenção do ministério público nas ações coletivas
(atuação como custos iuris)

Não é a atuação do MP como agente, é a atuação do MP como “fiscal da lei”. É como


interveniente.

9.1. Intervenção do Ministério Público no processo civil

Art. 82 do CPC. Compete ao Ministério Público intervir:


[...]
III – nas causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou
qualidade da parte.

Atuação motivada pelo interesse público primário, que diz respeito a toda
coletividade.

No processo civil individual a intervenção do MP se dá por dois motivos:


1) Natureza da lide:
2) Qualidade da parte: o MP demanda ao lado do incapaz. O MP não está autorizado a
praticar nenhum ato contrário ao interesse do menor.

9.2. Classificação

• Intervenção em razão de um interesse público derivado na natureza da lide


35

• Intervenção em razão de um interesse público derivado da qualidade da parte

9.3. Intervenção do Ministério Público no processo coletivo

O MP atua como interveniente em qualquer processo coletivo, porque os processos


coletivos sempre terão como pano de fundo uma questão de interesse público.

O MP se não for o autor vai atuar como custus iuris.

Se o MP for parte ele não será fiscal da lei. Não pode haver uma mudança de
orientação por conta da mudança de instância.

O MP em segundo grau é parte também.

Sempre que o processo for coletivo o MP atua obrigatoriamente como custus iuris.

Art. 6º, § 4º, da Lei nº 4.717/65. O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe
apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos
que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato
impugnado ou dos seus autores.

Art. 5º, § 1º, da Lei nº 7.347/85. O Ministério Público, se não intervier no processo como
parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.

Art. 92 da Lei nº 8.078/90. O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará sempre
como fiscal da lei.

Art. 17, § 4º, da Lei nº 8.429/92. O Ministério Público, se não intervir no processo como
parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.

9.4. Assunção da legitimação ativa no curso do processo

O MP quando atua como órgão interveniente nas ações coletivas ele funciona como um
fiscal da observância do princípio da preservação dos julgamentos de mérito, evitando-
se a sentença terminativa. Seja qual for a ação coletiva se o autor originário desistir da
ação ou abandoná-la injustificadamente o MP tem obrigatoriamente ser intimado
acerca dessa desistência ou abandono.

Se o autor desiste o réu tem que concordar para que o juiz esteja autorizado a julgar o
processo extinto sem resolução do mérito. Depois da concordância do réu, ainda assim
o juiz não está autorizado a julgar extinto o processo.

Art. 9º da Lei nº 4.717/65. Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da


instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II,
ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério
Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o
prosseguimento da ação.
36

O MP deixa de ser custut iuris e passa a ser autor.

Art. 5º, § 3º, da Lei nº 7.347/85. Em caso de desistência infundada ou abandono da ação
por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a
titularidade ativa.

Na ACP a mesma coisa acontece. Ex.:associação particular privada podem ajuizar


ações coletivas e podem desistir, se o réu concordar o juiz tem que intimar o MP
quanto a possibilidade de assumir a legitimidade ativa.

O MP deixa de ser interveniente e passa a ser agente.

Na improbidade não há nenhum dispositivo análogo a esse. Na improbidade tem-se


uma legitimação diferenciada. Só quem pode ajuizar ação de improbidade é o MP ou o
ente de direito público, não havendo desistência.

O juiz intima o MP para que ele se manifeste quanto a assunção da legitimação ativa,
mas o MP percebe que a ação é de puro interesse público, ou a inicial é mal elaborada
que vai ser indeferida pela inépcia. O MP pode recusar? Pode, se ele pode até recusar
propor a ação promovendo o arquivamento, com muito mais razão ele pode recusar a
assunção da legitimidade ativa, mas tem que ser de forma fundamentada. Ao juiz não
resta outra solução se não extinguir o processo sem resolução do mérito.

Se o juiz não concordar com a fundamentação do MP em relação a sua recusa da


titularidade ativa? Não existe nenhum dispositivo dentro do microssistema que resolva
essa questão, então tem que usar a interpretação analógica. Tem que usar a norma que
mais se aproxima à questão. Tem um dispositivo que fala do inquérito civil que se
aproxima a essa questão. Quando o membro do MP arquiva o inquérito civil ele
submete esse arquivamento ao Conselho Superior do MP (composto por sete
membros), então esse é o órgão que deve analisar a não assunção pelo MP da
legitimidade ativa. Nesse caso o juiz tem que submeter, caso ele não concorde, a
manifestação do MP ao Conselho Superior do MP (§1º do art. 9º da Lei 7.347/85).

§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob
pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério
Público.

Se o Conselho não concordar com o promotor o Conselho designa outro promotor para
dar prosseguimento.

10. Abrangência subjetiva da coisa julgada nas ações coletivas

10.1. Efeitos “inter partes” da coisa julgada no processo civil individual

Art. 472 CPC. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros.
37

É da essência do processo individual que a coisa julgada produza reflexo apenas entre
as partes da relação processual.

Só existem duas exceções a essa regra (terceiro pode se beneficiar da coisa julgada): 1)
terceiro com titular de direito material secundário ao do titular da ação (sublocatário);
2) substituição processual (legitimação extraordinária), o terceiro vai ser atingido se ele
for substituído. Ex.: MP substituindo o filho na investigação de paternidade, o filho vai
sofrer os efeitos da coisa julgada.

10.2. Coisa julgada “in utilibus” do processo coletivo

Art. 103, § 3°, da Lei nº 8.078/90. Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16,
combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as
ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou
na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e
seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts.
96 a 99.

No processo coletivo obrigatoriamente a coisa julgada deve atingir outras pessoas além
daquelas postadas na relação jurídica processual. Alias esse é um dos objetivos do
processo coletivo, que é evitar decisões contraditórias, de tal forma que a coisa julgada
atingirá várias pessoas.

Coisa julgada in utilibus – só existe no processo coletivo quando trata de ação coletiva
cujo objeto seja referente a direitos individuais homogêneos.

O processo coletivo deve incentivar o acesso à justiça. A coisa julgada no processo


coletivo atinge terceiros para beneficiá-los, in utilibus, ou seja, em utilidade.

Se o pedido formulado na ação coletiva for julgado improcedente, tem-se o direito de


ação preservado. Não é atingido pela coisa julgada, pois ela é desfavorável.

A coisa julgada do processo coletivo só pode vim para beneficiar terceiros.

Se quiser se beneficiar da ação coletiva e já tiver ajuizado ação coletiva, pode pedir a
suspensão da ação individual enquanto a coletiva é julgada, então se a ação coletiva é
julgada improcedente a ação individual continua a correr, se a ação coletiva é julgada
procedente a individual perde o interesse e é julgada extinta.

O resultado de procedência do processo coletivo não tem o poder de desconstituir o


julgamento de improcedência do processo individual.

10.3. Abrangência subjetiva da coisa julgada nos processo coletivos

a) ações coletivas que versem sobre direitos difusos


38

LAP:
Art. 18 da Lei nº 4.717/65. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível erga omnes,
exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova;
neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento,
valendo-se de nova prova.

Tem coisa julgada material, e dentro disso tem a coisa julgada secundum eventum
probationem, ou seja, a sentença de mérito pode ser revisitada em outro processo
quando surgirem novas provas.

Se depois do trânsito em julgado aparecer provas novas pode ser ajuizada nova AP
com as mesmas partes, causa de pedir e pedido.

Se na AP o pedido for julgado improcedente por outro motivo essa sentença vai
produzir coisa julgada material erga omnes.

LACP:
Art. 16 da Lei nº 7.347/85. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente
por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar
outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

O legislador restringiu o alcance da coisa julgada.


Um dano de âmbito nacional a ação pode ser proposta na capital de qualquer estado
ou no DF. Os efeitos do processo coletivo se a ação for ajuizada em Vitória, por
exemplo, os efeitos da coisa julgada só incidiram sobre esse território. Isso dificulta o
bom resultado do processo coletivo. Isso é inconstitucional, pois viola o acesso à
justiça.

CDC:
Art. 103 da Lei nº 8.078/90. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada: I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra
ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do
parágrafo único do art. 81;

Difusos Erga omnes


Coletivos stricto sensu Ultra partes
Individuais homogêneos Erga omnes

b) ações coletivas que versem sobre direitos coletivos stricto sensu

Art. 103 da Lei nº 8.078/90. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada: [...]
II – ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência
por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese
prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;
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c) ações coletivas que versem sobre direitos individuais homogêneos

Art. 103 da Lei nº 8.078/90. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará
coisa julgada:
[...]
III – erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

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