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O DIREITO AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO

VIVIANE COÊLHO DE SÉLLOS GONDIM, Doutora em Direito

das Relações Públicas pela PUC/SP, Mestra em Direito das

Relações Sociais pela PUC/SP, Especialista em Direito Processual

Civil pela PUCCAMP, Professora Universitária, Consultora

Jurídica e Advogada, Membro do Tribunal de Ética e Disciplina da

OAB/SP. vcsellos@aol.com

Introdução

Há aproximadamente cem milhões de anos há vida em nosso planeta,

sabemos. Vida humana não, esta aconteceu mais tarde, estima-se que por volta

de dez milhões de anos, embora os registros históricos sobre a humanidade se

iniciem apenas aos nove mil anos antes de Cristo (Atlas Histórico da Folha de

São Paulo, 1995, p. 12).

Realmente parece que o planeta precisou se preparar para receber o

homem. Era necessário que aqui se encontrassem condições de sobrevivência

humana, e assim o foi... A Bíblia Sagrada relembra que primeiro foram criados o

céu e a terra, o dia e a noite, a lua e as estrelas, os mares e os rios, os lagos e

as fontes, a relva e as ervas, os peixes e os pássaros, os animais de todas as


espécies, e só depois o homem(Livro do Gênesis, Bíblia Sagrada, Ed. Ave Maria,

cap. 1, 1-31).

Biblicamente, quando da criação do homem a terra é chamada de

Paraíso pelo Criador de toda a vida, que à sua imagem e semelhança dá origem

à humanidade a partir de Adão e Eva, os primeiros habitantes da Terra.( Livro do

Gênesis, Bíblia Sagrada, Ed. Ave Maria, cap. 2, 1-25).

Algumas normas de conduta são ditadas para que o Paraíso para os

homens criado assim permaneça por toda a eternidade. Recebemos no entanto

o livre arbítrio para decidir nossos próprios passos e começamos a agir

livremente. (Livro do Gênesis, Bíblia Sagrada, Ed. Ave Maria, cap. 2, 1-25).

No atual momento da história concluímos que nunca soubemos bem

usar da liberdade incondicional que nos foi dada pelo Criador de tudo, e não

soubemos cultivar o paraíso, pelo contrário, ao longo de nossa existência temos

transformado a Terra em um verdadeiro caos, e comumente ouvimos algum

semelhante dizer que o inferno é aqui. Se isto acontece a culpa é toda nossa, e

também nossa a obrigação de nos unirmos para exterminar o mal que nós

causamos ao nosso mundo e a nós mesmos. Não culpemos a Deus pelos

nossos atos. Depois de quase nos derrotarmos a nós mesmos, ao menos

assumamos nossa ganância pelo poder, egoísmo e culpa. Se alguém tem culpa

pela degradação do planeta e da humanidade, a culpa é toda nossa. Mas ainda

é tempo de nos arrependermos e defendermos a vida.

Nos foi dado um paraíso, nos foi dada a liberdade, e todas as

fantásticas capacidades físicas e mentais próprias do ser humano. Tudo parecia


perfeito se o ser humano, após receber tanto, não se enchesse de ganância

querendo cada vez mais poder.

Temos destruído a nossa Terra, e conseqüentemente à degradação

do planeta, estamos deteriorando nossa qualidade de vida de forma tão violenta,

que destruímos pouco a pouco, não só o Paraíso terrestre, já quase totalmente

extinto, mas, também, e principalmente, a própria vida humana.

Celso Antônio Pacheco FIORILLO e Marcelo ABELHA RODRIGUES, op. cit., p. 89,

anotam que, embora seja, em rápida análise, possível imaginar ser desconexo o binômio

meio ambiente - consumo, pensar dessa maneira é recair em erro, já que os temas são atados

umbilicalmente, como, em estudo mais detalhado, podemos observar.

Desta forma, recordamos a lição de Édis Milaré ( Édis MILARÉ,

Tutela jurisdicional do meio ambiente, “in” Revista do Advogado, vol. 37, AASP,

São Paulo, 1992, p.09), de que as necessidades humanas são ilimitadas, mas, os

bens da natureza, não. Estes são limitados, e é por isso que existe, na

sociedade, uma verdadeira guerra de interesses para a apropriação desses

bens.

Celso Antônio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues pregam

que o direito ao meio ambiente é na verdade “pressuposto de exercício lógico

dos demais direitos do homem, vez que, sendo o direito à vida “o objeto do

direito ambiental”, somente aqueles que possuírem vida, e mais ainda, vida com

qualidade e saúde, é que terão condições de exercitar os demais direitos

humanos, nestes compreendidos os direitos sociais, da personalidade e políticos


do ser humano.” (Celso Antônio Pacheco FIORILLO e Marcelo ABELHA

RODRIGUES, op. cit., p. 61).

Nesta guerra, a humanidade tem usado de indiscriminado poder sobre

os valores da natureza, e tem com isso, causado prejuízos a si própria, o que

tem acarretado em crescente degradação da nossa qualidade de vida.

Preocupados justamente em manter um padrão equilibrado de

qualidade para a sustentação da vida humana, a partir da década de 80 (oitenta)

o mundo, de maneira mais abrangente, começou a trabalhar com a formação de

uma legislação protetiva do meio ambiente.

As conquistas legislativas nesse sentido tiveram início por meio de

legislações localizadas, mas o marco inicial no desenvolvimento do direito

ambiental no mundo globalizado parece ter ganhado maior escopo a partir do

Protocolo de Quioto, observando-se que o direito ambiental tem seu fulcro na

sustentação da vida humana, por isto sua grande importância na atualidade,

para tentar resgatar a qualidade de vida na terra.

Édis MILARÉ, op. cit., p.11; e Celso Antônio Pacheco FIORILLO e Marcelo ABELHA

RODRIGUES, op. cit., pp. 93, 94 e 95, onde colocam que “a reação mundial par aeste

problema ( e aí se encontra toda a política ambiental), na verdade, tem o intuito de não só

salvar o meio ambiente degradado em todas as suas formas, mas, sim, salvar o próprio

capitalismo, pois, se não há um mínimo de qualidade de vida, saúde, distribuição mais

eqüitativa de renda, habitação, etc., há não só a debilitação da mão-de-obra trabalhadora

(base do capitalismo) de forma a incapacitá-la para o trabalho, como também uma

diminuição do poder de consumo, já que baixa a qualidade de vida e, portanto, em último


caso, esses fatores ambientais seriam peças determinantes para a falência do sistema

econômico.”

Justamente por se proclamar tanto o direito à vida e as novas

tendências jurídicas mundiais, nos propusemos a trabalhar em pesquisa sobre o

futuro da humanidade e o meio ambiente nesse novo momento de grandes

avanços tecnológicos contrastando com uma população de baixo poder

aquisitivo.

Nesse sentido vale observar a colocação da professora Teresa ARRUDA ALVIM, a qual

entende que “pode-se dizer que as sociedades contemporâneas têm como meta fazer com

que cada vez mais e mais pessoas possam usufruir dos bons frutos da civilização: conforto,

bons médicos, hospitais, vacinas, viagens, acesso à justiça. Penso que na verdade nunca

houve época em que tantos puderam usufruir dos bens da civilização, pois quando se

estuda, por exemplo, a história de Roma, deve-se ter em mente que se está falando de um

número diminuto de pessoas que, de fato, souberam o que foi a civilização romana, que

estavam cercados de uma grande massa de outras pessoas que viviam em meio à fome, à

miséria e à ignorância. Assim, em nossos dias tem-se dado a incorporação de novos e

sucessivos segmentos à sociedade institucionalizada.” Noções gerais sobre o processo no

Código do Consumidor, “in” Direito (PUC/SP), n° 1, Ed. Max Limonad, p. 199.

Se faz mister observarmos que o Meio Ambiente, porém, pode ser

visto de diversos aspectos, quais sejam: natural, artificial, cultural e do trabalho.

Vejamos cada um particularmente, de acordo com os ensinamentos de José

Afonso da Silva.

Celso FIORILLO e Marcelo ABELHA, em Direito Ambiental e Patrimônio Genético, pp.

55/6 , e n. 53, ( citando José Afonso da Silva, em Direito Constitucional Ambiental, p. 54),

salientam que “na CF/88 já estavam protegidos o Meio Ambiente Natural, do Trabalho,
Artificial e Cultural. Isto porque, ao usar a expressão sadia qualidade de vida, o legislador

constituinte optou por estabelecer dois objetos de tutela ambiental: ” um imediato, que é a

qualidade do meio ambiente, e outro mediato, que é a saúde, o bem-estar e a segurança da

população, que se vêm sintetizando na expressão qualidade de vida”.

Meio Ambiente Natural: É o solo, água, ar, flora, fauna, enfim, se

compreende pela interação dos seres vivos e seu meio.

Meio Ambiente Artificial: É o espaço urbano construído, somando o

conjunto de edificações (espaço urbano fechado) aos equipamentos públicos,

que constituem-se nos espaços livres em geral (espaço urbano aberto).

Meio Ambiente Cultural: Embora artificial, pode ser obra do homem,

pelo valor cultural de que se impregnou. Compreende todo o patrimônio histórico,

artístico, arqueológico, turístico e paisagístico.

Meio Ambiente do Trabalho: É um meio ambiente artificial, mas,

digno de tratamento distinto. Tanto que a CF/88 o menciona no art. 200, VIII. Isto

porque a qualidade de vida do trabalhador, está intimamente ligada à qualidade

do ambiente de trabalho, e a proteção e segurança do ambiente de trabalho

significa proteção à saúde das populações externas aos estabelecimentos onde

são desenvolvidos os produtos e serviços que se destinarão a servir ao mercado

de consumo. Assim, entendemos aqui pela inclusão do meio ambiente hospitalar,

aonde não apenas a saúdedos trabalhadores é objeto de tutela, como também a

saúde dos pacientes, familiares e visitantes em geral, ou sejam, consumidores e

by standards.
A respeito, veja-se Celso FIORILLO e Marcelo ABELHA, op. cit., p. 125, e ainda Celso

Antônio Pacheco FIORILLO, em Estado e preservação: a perspectiva ambiental no âmbito

da legislação em vigor, “in”Direito, (PUC/SP), n° 1, Ed. Max Limonad, pp. 10 e 12,

quando observa que “vinculado a uma realidade do Terceiro Mundo, constatamos que o

Estado, muitas vezes, é tido como um dos principais predadores, quando lidamos com o

chamado meio ambiente natural ( água, ar, flora e fauna). Por outro lado, pouca importância

deu o legislador ao chamado meio ambiente artificial, nele compreendido o meio ambiente

do trabalho.” E ainda que “tão ou mais importantes que as questões propaladas pelo

Primeiro Mundo em matéria ambiental, são as questões que envolvem o saneamento básico

e o chamado meio ambiente do trabalho.”

Degradação da qualidade ambiental: qualquer sintonia de desgaste

ou deterioramento das características próprias do meio ambiente. (art. 3º, II).

Poluição: É a degradação da qualidade ambiental resultante de

atividade agressora ao meio, causando prejuízos à saúde, segurança e bem-

estar da população, prejudicando suas atividades sociais e econômicas, afetando

as condições naturais (estéticas e sanitárias) do meio ou a biota (fauna e flora),

com o lançamento de matérias poluentes ou energia em desacordo com os

padrões ambientais estabelecidos. (art. 3º, II).

Poluidor: é o causador direto ou indireto da degradação ambiental,

pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. (art. 3º, VI). O usuário de

produto poluidor é poluidor solidário (art. 4º,VII).

Recursos Ambientais: atmosfera, águas interiores, superficiais e

subterrâneas, estuários, mar territorial, solo, subsolo, elementos da biosfera,


fauna e flora. Ou sejam, são os elementos formadores do meio ambiente natural.

(3º, VI).

Note-se ainda que, como nos diz Celso Fiorillo, “trinta séculos antes de

Cristo, os egípcios que dependiam basicamente das duas grandes dádivas do rio

Nilo - a água e o humus trazido anualmente pelas cheias que fertilizavam as terras

ribeirinhas - bem como os sumérios, quarenta séculos antes de Cristo, que viviam

da agricultura dominando os mistérios que determinavam os regimes dos rios,

conseguindo aproveitar as enchentes do rio Eufrates para canalizar a água com a

qual irrigavam as estepes, organizaram forças militares com a finalidade, dentre

outras, de assegurar seu domínio sobre um bem ambiental essencial: a água.”

Fazendo nossas as palavras de Celso Antônio Pacheco Fiorillo e

Marcelo Abelha Rodrigues, podemos dizer que “ o legislador buscou um plus

para impedir que o meio ambiente fosse apenas uma questão de sobrevivência.

Busca-se, portanto, algo mais, já que o parâmetro estabelecido do direito à vida

é ela com saúde e qualidade. Dessa maneira, não há como fugir da insofismável

conclusão de que a tutela do meio ambiente, nos moldes explicitados, faz parte

não só de uma garantia constitucional e, portanto, com regime de cláusula

pétrea, como também diz respeito aos próprios fundamentos e princípios da

República, estabelecidos nos artigos 1° e 3° da CF/88, pois o pressuposto da

dignidade é que exista a vida com sadia qualidade.”

E, ainda para os mesmos autores, conclui-se que a tutela do meio

ambiente é de certa forma, o suporte e fator essencial para a conservação da


humanidade no Planeta (Celso FIORILLO e Marcelo ABELHA, op. cit., pp. 58,

71 e 81).E você tem alguma dúvida sobre isso?

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