You are on page 1of 10

PROJETO

VIVÊNCIA AQUÁTICA
NA APAE

PARAÍSO DO TOCANTINS

Autora:
Désirée Pedro Mathieu
VIVÊNCIA AQUÁTICA NA APAE

Este projeto busca a aproximação do aluno especial com o meio líquido. A


vivência aquática possibilita o desenvolvimento motor, afetivo e psicológico do ser
humano, tornando-o capaz de conhecer o seu corpo e as suas habilidades.
Através de aulas individuais e coletivas, tentarei desenvolver o aspecto
psicomotor do aluno. Nos dias atuais, a psicomotricidade, segundo a Sociedade
Brasileira de Psicomotricidade, é a ciência que tem como objeto de estudo o homem
através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está
relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições
cognitivas, afetivas e orgânicas.
Neste projeto irei focar numa prática pedagógica onde a vivência corporal, a
experimentação e a ludicidade são os norteadores principais do educador. Entretanto,
não é um dos meus objetivos descrever pormenorizadamente os conteúdos a serem
trabalhados nas aulas de natação, pois acredito que a partir de estudos e experiências
únicas, cada professor deverá suscitar seu próprio plano de aula, levando em
consideração as características singulares de cada indivíduo e, conseqüentemente, de
cada turma.
Infelizmente na APAE, somente alguns alunos são aptos a praticar os esportes
propriamente ditos. Porém independente da deficiência existente, todos têm o direito de
se divertir, de se movimentar, de criar e experimentar. O projeto de vivência aquática
possibilitaria à todos os alunos o seu desenvolvimento integral. Devido ao seu papel
formativo e totalizador, a natação permite a aquisição do sentimento de confiança
básico; estímulos sensoriomotores para obtenção de respostas adaptativas mais
adequadas para a aprendizagem; estímulos perceptivomotores no preciso momento
evolutivo; utilização da base reflexa antes de sua extinção; exercitação das destrezas
motoras respeitando as qualidades naturais do rendimento infantil; conhecimento e
domínio progressivo do corpo que facilitam a formação de sua imagem corporal;
formação das bases da inteligência; utilização dos elementos rítmicos; comunicação
entre o aluno e o professor; além de estimular a capacidade do aluno para enfrentar o
risco, tolerar o fracasso e conviver com o medo.

2
Meu trabalho terá como objetivo o desenvolvimento das funções psicomotoras
dos alunos. O desenvolvimento psicomotor abrange o desenvolvimento funcional de
todo o corpo e suas partes. Geralmente este desenvolvimento está dividido em vários
fatores psicomotores. Fonseca (1995) apresenta sete fatores, os quais são:
tonicidade/relaxamento, equilíbrio, lateralidade, noção corporal, estruturação espaço-
temporal e praxias fina e global. Sendo importante também, a adição de mais um fator
chamado ritmo.
Esquema corporal: o professor deve estimular o aluno a experimentar diferentes
situações de movimento, com todas as partes do corpo, em diferentes eixos e planos. De
acordo com a idade, as atividades tornam-se mais complexas. Para Damasceno (1992):
A natação, por dirigir-se ao estabelecimento do movimento, não
inibindo a criatividade, permite à criança a exploração e manejo do meio,
através de atividades motoras, que contribuem para a estruturação do seu
esquema corporal. Por sua vez, o esquema corporal, pela prática da natação,
como um dos elementos de ação que traduz a psicomotricidade, converte-se
desta maneira em um elemento indispensável na construção da
personalidade da criança. (p.31).
Coordenação: durante as aulas é importante dar liberdade para o aluno executar
movimentos variados com o seu próprio corpo, com a utilização ou não de materiais,
onde ela vai adquirir e desenvolver suas coordenações e equilíbrio explorando o meio
aquático, gerando momentos de prazer e conquistas. Nadar segurando algum objeto, se
deslocar movimentando braços e pernas, jogos de encaixe, entre outros, aprimoram a
coordenação tanto global como fina.
Percepção: muitas vezes o educador ensina a nadar sem dar sentido e significado
ao movimento, ensinando-lhe apenas a forma. O movimento tem fundamental
importância no desenvolvimento da percepção. É comum o aluno querer mostrar,
durante as aulas, a proposta dada pelo educador e perguntar se é da forma que ele está
executando. Cabe então a ele/a dar liberdade para que o aluno efetue esta ação, podendo
ajudar inclusive os outros alunos que estão participando da aula a realizar o movimento
por imitação, que é importante no processo de aprendizagem. Velasco (1994) coloca
que “nadar nada mais é do que uma ação psicomotora na água vinda de respostas
organizadas do cérebro aos estímulos sensoriais vindos do meio líquido.” (p. 125).
Lateralidade: a propensão de utilizar mais um lado do corpo do que o outro deve
ser respeitado, o aluno deve escolher o lado de sua preferência. Isso pode ser vivenciado
em atividades que demandem o uso dos lados do corpo, como exemplo a respiração
lateral.

3
Tônus muscular: é importante realizar atividades que estimulem o tônus
muscular do aluno, como deslizes variados, virar bolas e objetos, atividades de
relaxamento e sobre tapetes. Para Le Boulch (1982) “o tônus muscular é o alicerce das
atividades práticas.” (p.55).
Organização espaço-temporal: na natação é importante o aluno explorar todo o
espaço do meio aquático, o educador não deve limitar-se a trabalhar apenas utilizando o
ato de ir e vir, com prancha e sem prancha e sim levar propostas que oportunizam o
aluno de brincar e criar aproveitando todo o espaço da piscina.
Atualmente, a psicomotricidade atua em três campos diferentes: na reeducação,
na terapia e na educação. Iremos nos aprofundar mais na educação psicomotora, onde a
prática da natação influencia de forma considerável no desenvolvimento das suas
funções, porém não deixando de atuar nas outras áreas.
A reeducação é realizada com crianças, adolescentes ou adultos, individualmente
ou em pequenos grupos, que apresentam sintomas de ordem psicomotora, como por
exemplo: debilidade motora; atraso e instabilidade psicomotora; dispraxias; distúrbio no
tônus da postura, do equilíbrio e da coordenação; e deficiências perceptivo-motoras.
Tem por objetivo desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao
indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, economizar sua energia, pensar seus
gestos e aperfeiçoar seu equilíbrio (COHEN, 2004).
Segundo Le Boulch (1982):
Sabe-se que a situação afetiva das crianças portadoras de transtornos
psicomotores é peculiar: quase todas têm uma situação social medíocre,
uma imaturidade afetiva que às vezes é a causa principal dos transtornos
instrumentais, sendo estes apenas sintomas. (p.21).
A terapia psicomotora, segundo Le Boulch (1982), refere-se particularmente a
todos os casos problemas nos quais as dimensões afetiva ou relacional parecem
dominantes na instalação inicial do transtorno. Pode estar associada à educação
psicomotora ou continuar com ela. Nos casos graves, a última hipótese parece preferível
na medida em que o primeiro tempo de ação terapêutica deverá se fazer fora de toda
preocupação de desenvolvimento funcional metódico.
Já a Educação Psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda
criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade: assegurar
o desenvolvimento funcional tendo em conta possibilidades da criança e ajudar sua
afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente
humano (LE BOULCH, 1982).

4
O processo de aprendizagem no meio líquido influencia diretamente no
desenvolvimento dos aspectos psicomotores do infante através das atividades realizadas
e do uso dos materiais didáticos, que possibilitam uma vivência corporal por inteiro.
A variedade dos materiais aquáticos possibilita diferentes estímulos para
mesmos objetivos, auxiliando na flutuação, no deslocamento e na independência da
criança, além de ampliar a criatividade nas aulas. Baseado nesta importância, iremos
destacar alguns materiais freqüentes e seus respectivos objetivos.(ANEXO)
Diante de todas essas informações e de todo o conhecimento sobre as
deficiências, a natação e toda e qualquer atividade física se mostra de extrema
importância para o desenvolvimento motor, afetivo e social dos alunos da APAE.
Tanto a deficiência auditiva, quanto a visual, motora ou mental possuem
conseqüências que comprometem todos os âmbitos do desenvolvimento do individuo,
necessitando de uma estimulação adequada continua. Através de muitos estudos foi
comprovado que através da pratica os deficientes podem sim se tornar independentes,
superar seus medos, adquirir confiança e auto-estima suficientes para praticarem
atividades físicas.
Os benefícios decorridos da natação são diversos, como o conhecimento do seu
corpo, a busca do equilíbrio, o controle da respiração e sua resistência
cardiorespiratoria, a interação com outros colegas, a criatividade, a flexibilidade, a
força, a circulação, a coordenação, enfim, a atividade física torna-se um meio viável
para a busca da autonomia, e da auto-confiança do aluno especial.
A mudança do meio terrestre para o meio líquido modifica inúmeros referenciais
na criança e a obriga a se adaptar àquele ambiente. Neste novo meio, o aluno estará
passando da região aérea, posição bípede e pés no chão, para uma região aquática, com
pequena ação da gravidade e com vários fenômenos físicos atuantes, e às vezes sem
tocar os pés no chão. Segundo Fonseca (2004) “para que o bebê nadador se torne um ser
adaptado na água (water-confident), a sua imagem do corpo tem de estruturar-se a partir
de uma estabilidade emocional enriquecida, já que o meio aquático é líquido e o ar,
gasoso.” (p.95). Por isso, as aulas de natação devem estar rodeadas de afeto, prazer e
segurança. A natação não só influencia no desenvolvimento motor, mas também no
social e afetivo.
A aprendizagem da natação demanda uma adaptação das estruturas de base dos
comportamentos humanos, pelas diferenças fundamentais entre o meio terrestre e o
meio aquático, uma vez que todos os movimentos indispensáveis para a natação se

5
realizam dentro d`água. Durante a prática, são solicitados os canais exteroceptivos,
proprioceptivos e interoceptivos em diversos graus de importância. Estes canais
permitem a captação do indivíduo aos estímulos advindos do meio ambiente, definem a
posição do corpo no espaço, a posição dos segmentos em relação a ele, o grau de tensão
muscular, o equilíbrio e também informações sobre certas necessidades do corpo.
Ao praticar alguma atividade física ou esportiva, indivíduos com deficiência
podem, assim como as pessoas sem deficiência, aprimorar sua condição física e sua
saúde. Mais do que isso, podem também mudar sua perspectiva de vida, por perceberem
que são capazes de realizar habilidades que julgavam impossíveis. Ao realizar destrezas
motoras, pessoas com deficiência recuperam sua confiança e auto-estima perdida,
colaborando para a queda de diversos estigmas.
Mais restritiva do que a limitação imposta pela deficiência pode ser a atitude que
a sociedade assume diante de pessoas portadoras dessa condição. O pouco acesso de
pessoas com deficiência à pratica de exercícios, fruto da falta de informação e de
condições estruturais adequadas, certamente é um fator que prejudica a qualidade de
vida desses indivíduos e dificulta ainda mais sua reintegração social.

6
Referências:
- COHEN, Ruth H. P. Apostila de Psicomotricidade. Rio de Janeiro, 2004.
- DAMASCENO, Leonardo G. Natação, Psicomotricidade e Desenvolvimento.
Brasília (DF): Secretaria dos Desportos da Presidência da República, 1992.
- FONSECA, Vitor da. Manual de Observação Psicomotora. Porto Alegre: Artmed,
1995.
- LE BOULCH, Jean. O Desenvolvimento Psicomotor do Nascimento até 6 Anos.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

7
Anexo

- Tapete: o objetivo deste material é desenvolver o aspecto psicomotor e o


equilíbrio através de vários exercícios. A atividade de engatinhar sobre o tapete
proporciona à criança mais desenvolvimento da habilidade de locomoção e da aquisição
de equilíbrio ao ser colocada sobre uma superfície não-estável. Muitas crianças por não
conseguirem engatinhar sobre o tapete (talvez devido à insegurança) desenvolvem outro
objetivo pretendido por este material: o ato de se arrastar. Outra importante atividade a
ser desenvolvida é o ato de rolar que estimula a criança a trabalhar a lateralidade, ao
exigir a execução dos movimentos para direita e esquerda conseguindo, assim, maior
consciência corporal. Entre os maiores propósitos deste material está o estímulo ao
andar. Ao ser colocada sobre o tapete, a criança é segura pelas mãos e incentivada a
caminhar. Desenvolve-se assim, o equilíbrio permitindo maior firmeza na marcha fora
da piscina.
- Bóias de braço e bóias de cintura: a primeira bóia a ser utilizada é a bóia de
cintura. Neste material, o aluno é incentivado a exercer o movimento de pedalar, a
criança adquire a capacidade de sustentação sobre a água, permitindo a independência
para mais tarde ser capaz de se sustentar nas bóias de braço. Estando independente e
com maior controle de deslocamento, a criança está apta a usar a bóia de braço. Este
material permite um maior fortalecimento da coluna cervical auxiliando também na
conquista da marcha.
- Aquatub (também conhecido como espaguete): a finalidade deste instrumento é
desenvolver o equilíbrio, a sustentação e a capacidade de deslocamento da criança. Ao
segurar a criança em cima do aquatub, a mãe ou professora estimula o movimento de
pedalar (proporcionando o deslocamento). Em posição de decúbito ventral e dorsal, a
criança é estimulada a realizar os movimentos simultâneos ou alternados de batidas de
pernas.
- Mesa submersa (plataforma submersa): o objetivo deste material é o estímulo à
marcha, através do desenvolvimento psicomotor promovido pela exigência de caminhar
sobre uma superfície não-estável. Outro exercício importante é o ato de saltar,

8
estimulando a criança a desenvolver o tônus muscular dos membros inferiores e a noção
de equilíbrio.
- Cesto submerso: um dos materiais mais ricos em experiências para as crianças.
Funciona como primeiro contato para as crianças ao entrar na piscina. Na verdade, é
como se fosse uma “piscininha”. Dentro deste cesto, a criança começa a se adaptar à
piscina, primeiro passo para a socialização, uma vez que é um material utilizado por
várias crianças ao mesmo tempo; também no cesto pode-se colocar brinquedos
ajudando no processo de adaptação ao meio líquido. Dentre os aspectos psicomotores,
podemos citar o desenvolvimento do tônus muscular, a capacidade de sustentação sobre
os membros inferiores permitindo à criança se levantar e ficar em pé dentro do cesto.
Invertendo o cesto, pode-se conseguir uma plataforma bem próxima à água, capaz de
incentivar o mergulho, diminuindo o impacto sobre a superfície da piscina.
- Cordas: são colocadas entre um ponto fixo e outro. O objetivo deste material é
estimular a criança, por meio da preensão, desenvolver o tato e possibilitar o
deslocamento pelo movimento das mãos, que alternadamente, irão comandar o
movimento de se deslocar.
- Arcos: o trabalho realizado com os arcos visa adquirir maior capacidade de
sustentação, na medida em que é exigido da criança, o controle dos membros
superiores, desenvolver a noção de preensão proporcionando maior desenvolvimento da
lateralidade.
- Bacias de plástico: desenvolve o equilíbrio porque estimula a criança a se
manter em pé, dentro da bacia promovendo o estímulo psicomotor e mesmo sentado,
também favorece a manutenção do equilíbrio.
- Canudos e bolas de encher: estes dois recursos aparentemente simples
promovem o controle da respiração quando fazem com que a criança exercite o ato de
soprar, seja para fazer borbulhas dentro de um copo com água, seja para encher a bola
de ar, ou no caso de bebês soprar a superfície da água. Com estes materiais, a criança
começa a se preparar para o controle respiratório fundamental, para o aprendizado da
imersão.
- Regadores (chuveirinhos): outro importante material para estimular o controle
da respiração. O brinquedo infantil regador é utilizado enchendo-o de água. A mãe ou
professora brinca com a criança de jogar água do regador em sua cabeça. A reação
natural é o reflexo de apnéia (ausência momentânea de respiração) cujo objetivo é
preparar para o mergulho.

9
- Tubos fixos: os tubos fixos são tubos de alumínio que circundam toda a piscina.
O objetivo de utilizar este recurso é ajudar a criança a adquirir maior independência no
deslocamento, juntamente com a aquisição de aumento da capacidade de sustentação.
Com as mãos segurando o tubo e os pés apoiados na parede da piscina, a criança se
desloca dentro d'água. A conseqüência deste exercício é o fortalecimento dos membros
superiores.
- Pneus: estes materiais proporcionam a noção de equilíbrio ao exigir que a criança
coloque um pé de cada vez dentro dos pneus. Incentiva também a manutenção da
postura ereta com o conseqüente fortalecimento da coluna cervical. Outro movimento
importante é o ato de empurrar o pneu dentro d’água, com as mãos. Através deste
exercício, a criança adquire maior equilíbrio para a marcha.

10

You might also like