You are on page 1of 13

10

Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

POLUIÇÃO DAS ÁGUAS - REVISÃO DA LITERATURA


1
Danieli Strujak
2
Carlos Magno de Sousa Vidal

Aprovado em 03 de outubro de 2006

RESUMO

A poluição das águas superficiais e subterrâneas tem se intensificado nas


últimas duas décadas, devido, principalmente, ao aumento populacional, o que
acarreta, por conseguinte, maior geração de resíduos. Aliado a esta, o uso e
ocupação desordenada de bacias hidrográficas, bem como baixos índices de
tratamento de águas residuais (esgoto doméstico e industrial). Pretende-se,
neste artigo proceder à análise crítica relacionada à poluição das águas, com
base em revisão de literatura, de modo a sistematizar um maior conhecimento
referente a esta temática. Concluiu-se, nesta revisão, que o fenômeno de
poluição das águas é algo complexo e apresenta múltiplos fatores que
interagem entre si e que precisam ser bem compreendidos, de modo a fornecer
subsídios para adoção de medidas corretas de minimizar impactos ambientais
associados a esse recurso.
Palavras_chave: Poluição ambiental, poluição das águas e qualidade de água.

ABSTRACT

The pollution of the superficial and underground waters has been intensifying in
the last two decades, mainly, to the increase of the population, which causes,
consequently a larger generation of residues. Biside this, the use and disordered
occupation of the basins’ hidrometer, as well as low indexes of treatment of the
waters’ residue (domestic and industrial drain). It is intended in this article to
proceed the critical analysis related to the pollution of the waters with a base in
revision of the way literature is used to systematize larger knowledge regarging
this thematic one. It was concluded in this revision that the phenomenon of
pollution of the waters is something complex, and it presents multiple factors that
interact with each other and that need to be well understood in a way to supply
subsidies for adoption of correct measures and to minimize the environmental
impact associated with this resource.
Key words: Pollution environment, pollution of the waters and quality of water.

1 INTRODUÇÃO

Toda e qualquer forma de exploração e uso dos recursos naturais e dos


produtos de sua transformação, por mais cuidadosos que sejam, provocam
poluição ambiental. Como a sobrevivência humana depende da exploração dos
recursos naturais, torna-se necessário conhecer os efeitos da exploração dos

1
Pós-Graduanda do Curso de Especialização (Pós-Graduação lato sensu) em Gestão Ambiental.
UNICENTRO. 2006.
2
Professor Orientador. Doutor em Hidrálica e Saneamento. Departamento de Engenharia
Ambiental. UNICENTRO.

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
11
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

recursos naturais no ambiente, não para impedir a poluição, o que é impossível,


mas para se tomar consciência das formas de exploração que conduzam à
minimização de impactos ambientais negativos. No presente texto, será dada
ênfase aos aspectos relacionados à poluição das águas.
Segundo Drew (1998), a água doce é o mais importante recurso da
humanidade. Ela é essencial à agricultura, para o povoamento de vastas regiões
e para o desenvolvimento de indústrias. Além disso, transporta diversos
compostos nutritivos no solo, movimenta turbinas para produção de energia
elétrica, refrigera máquinas e motores e ajuda a controlar a temperatura de
nossa atmosfera, fatos estes, que demonstram a importância da preservação
desse recurso natural (BONACELLA & MAGOSSI, 1990).
Por sua vez, Drew (1998) ainda afirma que o desenvolvimento das
cidades, sem adequado planejamento ambiental, resulta em acréscimo da
poluição e contaminação da água, criando condições ambientais inadequadas e
propiciando a disseminação de doenças de veiculação hídrica, em maior
intensidade nos grandes centros urbanos.
Segundo Rigolin & Almeida (2003), pode-se considerar o aumento da
população, o desperdício, a poluição e a crescente urbanização sem
planejamento como os principais responsáveis pelo problema que vem atingindo
o mundo em escala global: “a escassez de água”, sobretudo, de boa qualidade.
Segundo Dorst (1995), os fenômenos de poluição têm se tornado mais
intensos. O mesmo autor também relaciona a poluição das águas doces com o
aumento da população: “as razões da poluição das águas doces são evidentes e
pertencem a duas ordens de fatos diferentes. A primeira está relacionada com o
crescimento da população humana e com o elevado grau de urbanização,
corolário desse crescimento. As metrópoles onde se concentram inúmeros
habitantes, devolvem enorme volume de águas usadas, incompletamente
depuradas, que poluem os canais de fuga dos rios”.
Neste contexto, um dos grandes problemas da humanidade, no século
XXI, será a disponibilidade de água, sobretudo de boa qualidade. As atividades
humanas têm alterado definitivamente a qualidade e a quantidade de água,
especialmente da água superficial, que recebe todo tipo de poluente. Em menor
escala, a água subterrânea também tem se tornada poluída, principalmente por
produtos químicos provenientes de atividades agrícolas, industriais e da
mineração.
Dessa maneira, percebeu-se a importância de se fazer um estudo
bibliográfico sobre o assunto, a fim de se elaborar um diagnóstico que permita a
concepção de medidas preventivas e amenizadoras, possibilitando, também, a
conscientização da população responsável pelos efeitos negativos dessa
atividade antrópica no meio.

2 METODOLOGIA

Pretende-se, neste artigo, proceder à análise crítica relacionada à


poluição das águas, com base em revisão da literatura, de modo a propiciar
maior conhecimento referente ao tema. Serão utilizados referenciais teóricos de
alguns autores, como Bonacella e Magossi (1990), Drew (1998), Sperling
(1996), Onglei (2000), Rigolin e Almeida (2003), entre outros, com intuito de
auxiliar na escolha de adoção de medidas mitigadoras, visando à minimização
de impactos ambientais decorrentes da poluição nos recursos hídricos.

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
12
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

3 DESENVOLVIMENTO

Os mecanismos de poluição das águas são desenvolvidos a partir do


momento em que os resíduos industriais e domésticos (sólidos e, principalmente
líquidos) são lançados in natura nos corpos d’água, como forma de destino final.
Tal comportamento pode ocasionar uma série de perturbações físicas que
alteram as condições iniciais do meio. Em geral, as perturbações físicas e
químicas, resultantes desse processo, são verificadas na forma de aumento da
turbidez, na formação de bancos de lodo ou de sedimentos inertes, nas
variações do gradiente de temperatura, alterações no pH, aumento da DBO e
das concentrações de nutrientes no corpo d`água receptor desses resíduos
(BRAGA, et al, 2002).
Além do aspecto estético negativo, estas perturbações podem causar
impactos mais agressivos ao meio aquático, como a possível quebra do ciclo
vital das espécies, tornando a água imprópria para o desenvolvimento e a
manutenção de vida. O mau uso da água é a forma primária de poluição, uma
vez que a água é um recurso natural que demanda grande quantidade de
energia e infra-estrutura para sua captação, tratamento e distribuição. Além
disso, no caso do uso doméstico, proporciona aumento do volume de esgotos
gerados, efluentes de elevado potencial poluidor para o ambiente. O lançamento
de esgotos e resíduos da vida coletiva, outros dejetos líquidos, chorume de
silagem, inseticidas e herbicidas, têm sido identificados como as principais
fontes de poluição das águas.
Segundo Lora (2000), na mineração, a água é utilizada na separação,
processamento e transporte de minérios. Por ser a reciclagem de água pouco
executada, a demanda por água é muito grande, nessa atividade, sendo os
efluentes e parte dos rejeitos lançados em corpos receptores, com isso,
provocando poluição de grande magnitude.
Na indústria, a água tem sido utilizada na limpeza de produtos,
equipamentos e estruturas; em sistemas de arrefecimento de máquinas
térmicas; na produção de vapor em caldeiras; na composição de produtos, etc
(LORA,2000).
Reconhece-se ser a agricultura a grande consumidora dos recursos
hídricos naturais, com uso global médio em torno de 70% de todo o suprimento
de água superficial. Grande parte da água usada na agricultura é, entretanto,
reciclada e volta para as águas superficiais e/ou subterrâneas. Embora a
agricultura seja fonte da poluição da água, é também uma das maiores vítimas
dessa poluição (AYERS & WESTCOT, 1991). É fonte, devido à descarga direta
de poluentes e sedimentos nas águas superficiais e subterrâneas, em função
das práticas agrícolas inadequadas e pela salinização e alagamento de áreas
irrigadas. Os poluentes, uma vez presentes no solo, podem também atingir a
água. Se há erosão, os poluentes podem ser transportados junto com as
partículas do solo e contaminar as águas superficiais. Porém, quando aplicados
à superfície ou incorporados ao solo, estão também sujeitos à lixiviação através
do perfil, contribuindo para a contaminação das águas subterrâneas. É vítima,
pelo uso das águas residuárias e da águas superficiais e subterrâneas poluídas
que contaminam as culturas e transmitem doenças aos consumidores e aos
trabalhadores rurais.

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
13
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

A água quimicamente pura não existe sobre a superfície da Terra. Dessa


forma, a expressão “água pura” tem sido usada como sinônimo de água potável,
para exprimir que uma água tem qualidade satisfatória para uso doméstico. Por
outro lado, segundo Sperling (1996), a água está contaminada, quando ela
hospeda organismos potencialmente patogênicos ou contém substâncias tóxicas
que a torna perigosa, estando, portanto, imprópria para o consumo humano ou
uso doméstico. A água é considerada poluída, quando contém substâncias de
tal caráter e em tais quantidades, que a sua qualidade é alterada de modo a
prejudicar a sua utilização ou torná-la ofensiva aos sentidos da visão, paladar e
olfato.
Outro problema sério, envolvendo a água, é o aspecto quantitativo que
surge em decorrência da captação ou desvio para consumo urbano (humano e
industrial) e irrigação, diminuindo a vazão de cursos d’água em níveis acima dos
aceitáveis. Como forma de minimização destes problemas, estão sendo
desenvolvidos e implementados, atualmente, programas de gestão de recursos
hídricos, utilizando-se como principais ferramentas, a cobrança e outorga do uso
das águas, conforme preconizado pela Política Nacional dos Recursos Hídricos,
promulgada pela Lei 9433, em 09 de janeiro de 1997.
Nos parágrafos seguintes, serão apresentadas as principais formas de
poluição e, concomitantemente, serão discutidos os principais efeitos na
qualidade das águas. O presente trabalho teve como foco problemas
relacionados apenas à alteração da qualidade das águas e não em termos de
quantidade deste recurso.

3.1 Poluição Física das Águas

De acordo com Sperling (1996), as impurezas que proporcionam


alterações nas características físicas da água estão associadas, em sua maioria,
à presença de sólidos. Esses sólidos, minerais ou orgânicos, podem ser
maiores, estar suspensos, ou dissolvidos (sólidos de pequenas dimensões).
Embora impurezas de diversos tamanhos possam ser encontradas
flutuando em corpos hídricos, apenas frações texturais (partículas de tamanho
areia > 50 ?m; silte – entre 2 e 50 ?m e argila < 2 ?m), em razão de seus
tamanhos e, conseqüentemente, peso são passíveis de estar em solução
nessas águas. Geralmente, partículas sólidas minerais encontram-se, em maior
quantidade, em corpos d’água que drenam bacias hidrográficas sujeitas a
intensos processos erosivos ou onde exista atividade de mineração.
De acordo com Onglei (2000), a erosão, sendo fonte não pontual, é
responsável por 80% dos problemas de alteração da qualidade da água em
bacias hidrográficas, proporcionando a produção de grande quantidade de
poluentes em áreas em que houve corte de florestas, preparo de solo, abertura
e manutenção de estradas e carreadores ou onde há uso freqüente do fogo.
Evita-se perdas de solo, via escoamento superficial com a água, em
áreas cultivadas, procedendo-se a localização adequada de estradas e
carreadores, associada a práticas de conservação e ao preparo do solo, que
aumentam a infiltração. Desta forma, consegue-se diminuir a quantidade de
sólidos em solução nas águas superficiais drenantes na bacia hidrográfica.
A atividade mineradora, notadamente a do extrativismo arcaico, que
utiliza técnicas primitivas, tal como a de “desmonte hidráulico”, há muito tempo
condenadas por instituições fiscalizadoras do meio ambiente, além do

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
14
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

lançamento do efluente de unidades de lavagem e processamento do minério,


sem tratamento prévio, são fontes pontuais de poluição de grande impacto para
a qualidade das águas superficiais. Apenas, o uso de técnicas mais adequadas
e o tratamento dos efluentes da mineração poderão proporcionar diminuição da
poluição de águas superficiais, com material particulado gerado no processo de
lavagem e processamento do minério.
O material sólido em suspensão, constituído por componentes minerais e
orgânicos, pode atingir uma concentração tal que restrinja a utilização direta da
água em alguns sistemas de irrigação, sem que a mesma seja submetida,
preliminarmente, a algum tipo de tratamento físico ou químico adequado, o que
sempre aumenta o custo da irrigação.
Branco (1986) aponta que a urbanização e a exploração agrícola
intensiva alteram o ciclo hidrológico, tendo em vista que, geralmente,
proporcionam redução da infiltração de água precipitada no solo. A primeira
conseqüência é o aumento do deflúvio e a segunda é proporcionar o aumento
da erosão do solo, notadamente em áreas urbanas onde houve mobilização do
solo e áreas agrícolas, com o carregamento de resíduos para os cursos d’água,
aumentando o assoreamento de corpos hídricos e aumentando o risco de
enchentes.
Ainda, segundo Branco (1986), o tamanho e o tipo das partículas
determinarão o tempo que estas podem permanecer em suspensão na água.
Durante o transporte pela água em escoamento, ocorre uma separação por
tamanho dos materiais transportados. As partículas menores (argila, silte e
matéria orgânica), por serem mais leves, são transportadas a grandes distâncias e
vão se depositar nos lagos, açudes e reservatórios de água, enquanto as maiores
e mais pesadas, geralmente são depositadas, primeiro, nos vales ou nas
depressões do terreno. Quanto maior a estabilidade em suspensão maior o
efeito poluente da partícula. A interceptação da luz solar pelas partículas em
suspensão prejudica a vida aquática, principalmente daqueles organismos que
dependem da luz para realizar a fotossíntese, chegando a reduzir a
biodiversidade das águas superficiais.
Por fim, destacam-se também, como indutor da poluição física, os
detergentes utilizados pelas indústrias e pelas residências. O detergente forma
espuma sobre a superfície da água que, além de conter substâncias tóxicas e
liberar cheiro desagradável, pode dificultar a penetração da luz no meio
aquático.
Sperling (1996) recomenda para a caracterização da poluição física das
águas, a utilização dos seguintes parâmetros, considerados com primordiais:
cor, turbidez, temperatura, sabor e odor.

3.2 Poluição Química das Águas

As impurezas que alteram as características químicas das águas podem


ser de natureza orgânica (principalmente resíduos orgânicos em decomposição,
compostos orgânicos derivados de combustíveis fósseis e pesticidas orgânicos)
e inorgânica (elementos e substâncias solubilizadas em atividades como
mineração, agropecuária, atividades industriais e urbanas).
Vários contaminantes tóxicos e prejudiciais à saúde podem ser
artificialmente introduzidos na água, seja ela usada para abastecimento de

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
15
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

homens e animais, ou não, por certos despejos industriais e águas residuárias


urbanas e rurais (iodo, mercúrio, cobre, chumbo, etc.), atividades mineradoras
(cádmio, zinco, cobre, arsênio, etc.), garimpos (mercúrio, etc.) e pesticidas
(mercúrio, cobre, etc.).
Segundo Lora (2000), outros contaminantes podem ser introduzidos, na
água, por tubos metálicos (como, por exemplo, o chumbo, causador da doença
conhecida por saturnismo) ou práticas inadequadas no tratamento de água (o
tratamento químico da água para a coagulação, desinfecção e destruição de
algas, ou controle da corrosão pode ser uma fonte potencial de contaminação).
Traços de metais pesados, tais como níquel, manganês, chumbo, cromo,
cádmio, zinco, ferro e mercúrio, aparecem, constantemente, em alguns despejos
industriais. A presença de qualquer desses metais em quantidade excessiva
prejudica os usos benéficos da água. Esses contaminantes são tóxicos e em
apenas concentrações muito baixas podem ser tolerados pelo organismo
humano. Além disso, a eficiência de estações de tratamento de esgoto tem sido
prejudicada pela chegada desses íons, provocando a diminuição da atividade ou
mesmo a morte de microrganismos responsáveis pelo tratamento dos esgotos
(SPERLING, 1996).
Os contaminantes químicos inorgânicos, estando eles suspensos ou
dissolvidos na água, podem provocar decréscimo em sua qualidade para os
diversos usos a que se destina. Dentre os efeitos negativos na qualidade da
água, destacam-se as alterações que comprometem sua potabilidade e uso
para dessedentação de animais, irrigação, ocasionando a toxicidade para
homens e animais e a eutrofização.
Os sais encontram-se em quantidades relativamente pequenas, nas
águas, porém significativas, e têm sua origem natural na dissolução ou
intemperização das rochas e por lixiviação dos solos. O uso de fertilizantes
orgânicos e inorgânicos pode, no entanto, ser importante fonte de sais para
águas superficiais e subterrâneas. A quantidade de contaminantes que alcança
o corpo d’água é função de inter-relações hidrológicas, geoquímicas, agrícolas e
atividades humanas no solo. Os fatores que contribuem para o movimento de
poluentes da fonte de poluição não-pontual até águas superficiais incluem clima,
condições e intensidade de precipitação, uso do solo, características de solo,
cobertura de solo e transporte em tributários (SPERLING, 1996).
Sólidos em suspensão, quando nas frações silte e argila, são os
principais portadores de produtos químicos adsorvidos ao solo, em especial
fósforo, pesticidas clorados e metais pesados, que contaminam águas
superficiais e, dessa forma, os ecossistemas aquáticos.
O fósforo não é muito móvel por ser adsorvido fortemente ao complexo
argilo-húmico do solo e não representa um grave perigo para a contaminação
das águas subsuperficiais.
O nitrogênio, nas suas diferentes formas, tem sido considerado um dos
principais poluentes químicos das águas superficiais e subterrâneas. Sua fonte
para entrada no meio aquático pode ser a chuva, fertilizantes inorgânicos e
orgânicos, matéria orgânica do próprio solo, quando lançados diretamente ou,
quando carreados pelas águas de escoamento superficial ou por lixiviação
(poluição das águas subterrâneas).
- +
O nitrato (NO3 ) e o amônio (NH4 ) ocorrem, naturalmente, em solos e
água como produto da mineralização de material orgânico (plantas e animais) ou
são adicionados ao solo na forma de fertilizantes como, por exemplo, NH4NO3.

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
16
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

Elevadas temperaturas ambientes e aeração favorecem a decomposição do


material orgânico e oxidação do nitrogênio, proporcionando, também, a
-
liberação de nitrato no meio. Assim, em condições aeróbias do meio, o NO3
tende a prevalecer em relação ao amônio, enquanto que, em condições
anaeróbias, ocorre o contrário.
De acordo com Alloway & Ayres (1993), considerando-se que ânions
-
NO3 não são adsorvidos em solos eletronegativos, eles tendem a ser carreados
com águas de escoamento superficial ou lixiviados no perfil do solo. Dessa
forma, considerável proporção do nitrogênio aplicado nas culturas pode alcançar
águas superficiais e subsuperficiais. Com o crescente uso de fertilizantes
nitrogenados na agricultura, nos últimos 50 anos, tem-se percebido marcante
aumento da concentração de NO3- nas águas superficiais e subsuperficiais. Nos
rios que drenam áreas intensivamente exploradas com agricultura ou pecuária,
principalmente no inverno, em razão da menor diluição na água, a concentração
de nitrato pode, freqüentemente, exceder 100 mg. L-1.
Ainda, de acordo com Alloway & Ayres (1993), tanto a forma orgânica
como a inorgânica de Fósforo (P), em águas naturais, podem ser resultantes da
lixiviação do solo e de rochas fosfáticas, assim como de adubos incorporados ao
solo, por poluição industrial, esgoto doméstico e decomposição de resíduos
animais e vegetais. O fósforo inorgânico, por ser fortemente absorvido a
partículas de solo em suspensão ou sedimentos, fica pouco solúvel no meio, por
isso sua concentração na água é, geralmente, baixa.
O cálcio é o principal cátion, na maioria das águas naturais, sendo sua
concentração maior em águas que drenam regiões de rochas calcárias. Águas
superficiais de áreas de mineração do calcário são inexoravelmente ricas em
cálcio e magnésio. Em geral, a concentração de Mg é sempre menor do que a
do Ca em águas naturais. Antes da sua concentração exagerada se tornar
tóxica, a água adquire sabor desagradável e tem efeito catártico e diurético.
Os sais bicarbonatos, carbonatos, sulfatos, cloretos, os óxidos de ferro e
manganês, além de diferentes formas iônicas de chumbo, cobre, zinco, arsênio,
selênio, boro e flúor, podem ser contaminantes naturais de águas provenientes
do contato com formações minerais ricas nesses sais ou elementos.
O gás sulfídrico (H2S) pode ser encontrado naturalmente nas águas de
poços ou nas águas superficiais, como subproduto da decomposição do material
orgânico por via anaeróbia. Entretanto, pode, também, estar presente em águas
receptoras de despejos industriais que contenham H2S ou S2- como, por
exemplo, os despejos de fábricas de papel, de refinarias de óleos, de curtumes,
etc.
Segundo Braga et al (2002), a concentração de pesticidas nas águas é,
normalmente, baixa, e, ainda assim, tem causado sérios problemas ambientais.
Com o efeito da “magnificação” na cadeia biológica, é possível que
consumidores do topo da pirâmide alimentar possam ser contaminados com
grande quantidade de pesticidas. Porém, em certas situações, a poluição da
água pode ser alta, como é o caso da lavagem de frascos vazios de pesticidas e
pulverizadores, nas águas, ou o carregamento de pesticidas por escoamento
superficial, que são suficientes para causar grande mortalidade de peixes, por
grandes extensões do curso d’água. Para avaliação
da ocorrência ou não de poluição da água, é fundamental uma análise prévia
das concentrações normais na região, que variam com o material geológico e
características do solo e vegetação na bacia hidrográfica de contribuição das

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
17
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

águas superficiais e subterrâneas. A água, para ser considerada potável, isto é,


com qualidade adequada ao consumo humano, deve atender a padrões de
qualidade definidos por legislação própria de cada país (no Brasil, Portaria 518
do Ministério da Saúde). As exigências contemplam ausência completa de
contaminação por agentes patogênicos, de substâncias tóxicas ou venenosas e
limites para a presença de matéria orgânica e mineral em solução. Isso leva à
necessidade de tratamento prévio da água (em Estações de Tratamento de
Água – ETA’S), principalmente para os consumos doméstico e industrial, que
possuem requisitos de qualidade mais exigentes. A concentração de poluentes
na água potável é muito importante, considerando-se que adultos consomem,
-1
em média, 1,5 L d e por ser a água ingerida, a rota mais rápida dos poluentes
para o organismo.
Os principais contaminantes orgânicos das águas são os materiais
orgânicos (lixo, esgoto doméstico, águas residuárias de criatórios de animais,
etc.), em diferentes estágios de decomposição, alguns pesticidas orgânicos e
hidrocarbonetos (na maioria das vezes, derivados do petróleo).
O lançamento “in natura” de esgotos domésticos, águas residuárias de
criatórios de animais e de agroindústrias são as principais fontes de poluição de
lagos, canais, rios e mares. Materiais orgânicos em suspensão são
indispensáveis para a proliferação de microrganismos patogênicos ao homem.
Material orgânico não biodegradável, como algumas substâncias espumantes,
derivados de petróleo e muitos resíduos industriais, bem como o biodegradável,
podem proporcionar problemas de poluição de diferentes intensidades,
provocando a degradação da qualidade das águas ao redor das grandes
cidades e dos centros industriais. A poluição com pesticidas e derivados de
petróleo, por exemplo, constituem problema grave para ecossistemas aquáticos,
podendo vir a contaminar a cadeia alimentar, atingindo, por conseqüência, o ser
humano (AZEVEDO & CHASIN, 2004).
De forma geral, à exceção dos casos dos solventes e certos pesticidas, a
maior parte dos poluentes orgânicos que alcançam os cursos d’água, após
estarem em contato com solo, o fazem adsorvidos em partículas de solo
carreadas por mecanismos erosivos e não por lixiviação através do perfil do
solo.
A matéria poluidora que atinge um curso d’água sofre processo natural
de neutralização que inclui, principalmente, a diluição, a sedimentação e a
estabilização bioquímica, processo esse que recebe a denominação genérica de
autodepuração. Entretanto, para que ocorra estabilização bioquímica, ou seja,
para haver a decomposição do material orgânico presente, os microrganismos
aeróbios deverão utilizar o oxigênio dissolvido presente na água. A diminuição
da concentração de oxigênio, talvez o efeito mais danoso da poluição orgânica,
gera grande impacto do ambiente aquático (SPERLING, 1996).
O requerimento de oxigênio para a oxidação do material orgânico,
presente na água, é chamado demanda bioquímica de oxigênio, usualmente
abreviada como DBO. Se há um excesso de material orgânico oxidável no corpo
hídrico, decorrentes da descarga de efluentes, tais como: águas residuais da
suinocultura, as bactérias aeróbias passam a utilizar todo o oxigênio disponível
nas águas, baixando sua concentração no meio e podendo provocar a morte
dos peixes por asfixia.
Como conseqüência da poluição orgânica das águas, pode-se ter a
extinção de formas superiores de vida aquática (peixes e outros animais),

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
18
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

exalação de maus odores, exalação de gases agressivos, dificuldade para se


tratar à água para abastecimento, etc. Os peixes necessitam um mínimo 2,5 mg
-1 -1
L (espécies mais exigentes necessitam de no mínimo 4-5 mg L ) de oxigênio
dissolvido na água para sobreviverem.
Caso não ocorram novos lançamentos no curso d’água, a jusante do
ponto de lançamento da carga orgânica, as águas irão se tornando cada vez
mais claras e a tendência final será a de recuperação das condições iniciais, ou
seja, a volta das concentrações naturais de oxigênio no meio, completando o
processo geral de autodepuração natural do corpo da água receptor de
poluentes.
Os principais poluentes orgânicos tóxicos são sintéticos ou derivados do
petróleo, geralmente de difícil biodegradação. Justamente por essa
característica, seu principal impacto na água não é o consumo de oxigênio e sim
a sua toxicidade à biota. Os hidrocarbonetos (óleo, petróleo, gasolina, etc.),
espalhando-se na superfície da água, formam um filme superficial que impede a
difusão do oxigênio na água, diminuindo a capacidade de re-oxigenação das
águas.
Segundo Azevedo & Chasin (2004), despejos de rejeitos do
processamento industrial, ou o derrame em alto-mar dos resíduos da lavagem
dos tanques de navios petroleiros, têm sido apontados como responsáveis pelos
danos ao plâncton e algas marinhas que, por estarem na origem de diversas
cadeias alimentares, podem gerar desequilíbrios ecológicos que perduram por
décadas. Os vazamentos de navios petroleiros têm provocado danos
irreversíveis à fauna e à flora marinhas, tal como aconteceu em 1989, na
Antártida e no Alasca, ou em 1991, no Mar Mediterrâneo. Entre as regiões mais
afetadas por derrame de petróleo no mar estão o Canal da Mancha, o Mar do
Norte, o Mar Mediterrâneo e os mares que banham o Japão. No Brasil, têm
ocorrido vazamentos de petróleo, principalmente na região de São Sebastião
(SP) e na região de Angra dos Reis (RJ).
Segundo Azevedo & Chasin (2004), a produção de espumas pelos
detergentes proporciona seu acúmulo na superfície dos rios, especialmente
próximo às barragens, inibindo a ação de bactérias aeróbias, fundamentais na
decomposição de material orgânico em suspensão.
Os fenóis provocam cheiro e sabor desagradáveis na água potável em
-1
concentrações mínimas de 50-100 µg L . Se a água é clorada, então apenas 5
-1
µg L são suficientes para conferir gosto ruim à água. Cargas superiores a 200
mg L-1 podem matar as bactérias dos lodos ativados e dos filtros biológicos e,
por esse motivo, as quantidades que podem ser lançadas nas redes públicas de
esgotos são limitadas. As fontes de fenóis são indústrias (siderúrgicas e
metalúrgicas) e lixiviados de aterros sanitários.
A maior parte dos pesticidas alcança os cursos d’água após terem sido
carreados junto com as partículas de solo no qual se encontravam adsorvidos.
Dessa forma, a saúde humana pode ser colocada em risco, no caso de
consumo direto da água ou com o consumo de peixes e moluscos contaminados
com pesticidas, especialmente em áreas onde a pesca é a base da alimentação
da população. Entrando, na cadeia biológica, os pesticidas podem ser
transportados por longas distâncias, razão pela qual foram encontrados traços
no gelo do Ártico canadense.
A maioria dos pesticidas também não é biologicamente tratável, sendo
sua poluição muito tóxica e nociva para a biota. Existem evidências

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
19
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

incontestáveis de que o uso de pesticidas na agricultura tem sido responsável


por maior parte da perda de qualidade da água.

3.3 Poluição Biológica

As águas perdem sua qualidade também, quando, nelas, estão


presentes organismos patogênicos com destaque para bactérias, protozoários,
fungos, vírus e algas. As bactérias, os protozoários, os fungos e os vírus são os
causadores das principais enfermidades de veiculação hídrica para homens e
animais, enquanto as algas têm sido, geralmente, associadas mais a
transtornos, sob o ponto de vista físico e físico-químico do que propriamente a
problemas de toxicidade, embora eles sejam uma realidade.
Águas superficiais podem ser contaminadas com patógenos por
lançamentos diretos de esgoto doméstico, dejetos animais, sólidos ou líquidos, e
águas residuais da lavagem e processamento de algumas frutas e hortaliças, ou
por águas de escoamento superficial de áreas onde ocorre disposição de
esgoto, lodo doméstico ou dejetos animais sobre o solo. Águas freáticas podem
vir a ser contaminadas com patógenos pelos efluentes de fossas sanitárias,
principalmente as denominadas “fossas negras”, percolados de fossas sépticas,
além de esgoto doméstico, lodo de esgoto e dejetos animais dispostos sobre o
solo. O sistema sanitário rural é praticamente inexistente e, quando presente, é
inadequado e mal projetado, por isso, contribui para a contaminação de águas
subterrâneas com material fecal.
A água é forma importante de veiculação de doenças. Diversas
bactérias, tais como Escherichia coli, Salmonella, estreptococos fecais etc.,
protozoários, vírus e ovos de vermes podem ser lançados na água, juntamente
com as fezes humanas e animais. Segundo Di Bernardo (1993), o
desenvolvimento de algumas algas pode ser, também, causa de problemas para
o uso da água. O desenvolvimento de algas pode dificultar o processo de
floculação e decantação, obstruir filtros, produzir sabor e odor, além de liberação
de toxinas na água.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 4
milhões de crianças morrem a cada ano, como resultado da diarréia causada
por infecções por água contaminada, sendo a ocorrência desse problema maior
em países onde o saneamento urbano e rural, por falta de recursos para
investimento ou por falta de interesse político, tem sido relegado a um segundo
plano. Quanto maior o atraso do país ou região, maiores os riscos de
disseminação de doenças de veiculação hídrica.

3.4 Águas Subterrâneas

As águas subterrâneas desempenham papel importante na manutenção


do fluxo das águas superficiais, representadas pelos mananciais, sejam
córregos, riachos, ribeirões e rios. Na verdade, muitos desses mananciais
apresentam-se perenes em razão das restituições de águas subterrâneas e
armazenadas nas rochas-reservatório, denominadas “aqüíferos”.
Segundo Lora (2000), no Estado de Minas, cerca de 40% das cidades
são abastecidas por águas subterrâneas e, em países desenvolvidos, tal

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
20
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

percentual atinge valores superiores a 50% nas cidades, e de até 95%, em


zonas rurais dos EUA.
Todo processo antropogênico, capaz de poluir ou contaminar as águas
subterrâneas, tem origem na superfície do solo, logo as formas de uso e
ocupação do meio físico são fundamentais no controle da poluição de águas
subterrâneas. Torna-se importante ressaltar que, como as águas poluídas dos
aqüíferos serão restituídas aos rios, nas zonas de descarga do fluxo
subterrâneo, poderá haver, também, degradação da qualidade das águas
superficiais.
As principais fontes potenciais de contaminação das águas subterrâneas
são as fossas sépticas, poços de injeção, áreas de deposição de resíduos,
aterros sanitários, tanques de armazenamento superficial e subterrâneo de
combustíveis, ácidos e outros produtos químicos, sítios com depósitos
radioativos, pesticidas e fertilizantes, criatórios de animais em estábulos,
escoamento urbano e mineração. Dentre a grande variedade de materiais
identificados como contaminantes da água subterrânea, estão incluídos os
compostos inorgânicos, os compostos orgânicos sintéticos, os contaminantes
radioativos e os microorganismos patogênicos (Sperling, 1996).
Com o estabelecimento da agricultura e pecuária em alta escala, a
escolha de locais para disposição de resíduos deve ser motivo de preocupação,
considerando-se o risco de contaminação de águas subterrâneas. Até
recentemente, a principal razão para investigar os níveis de contaminação de
águas subterrâneas com nutrientes, era para avaliar a perda de fertilizantes e
compensar essas perdas com maior dose de adubação. Hoje, o aumento da
preocupação com a qualidade ambiental, a preocupação com a poluição das
águas subterrâneas tem sido muito grande, principalmente por se saber que são
as reservas de águas subterrâneas, fundamentais para satisfazer as
necessidades da humanidade.
Quando o fertilizante nitrogenado é aplicado em grandes quantidades no
solo, acima da capacidade de remoção pelas culturas, ou, quando águas
residuais ricas em nitrogênio são armazenadas em lagoas sem revestimento
impermeabilizante, durante vários anos, poderá ocorrer sobrecarga da
capacidade de filtração do solo e retenção dos nutrientes do esterco. Quando
isso acontece, alguns dos nutrientes podem atingir as águas subterrâneas ou
superficiais, acarretando problemas de contaminação.
Azevedo & Chasin (2004) apontam que a aplicação de fertilizantes
inorgânicos e dejetos de suínos, avícolas e, em menor escala, de bovinos, como
fertilizante para cultivos agrícolas, o elemento que exige maiores cuidados, por
estar mais sujeito à lixiviação no solo, é o nitrogênio. Enquanto o nitrogênio
estiver na forma de cátion amônio, conforme já discutido, a possibilidade de sua
perda por lixiviação é baixa. Entretanto, em condições normais de solo cultivado,
o amônio é oxidado a nitrato, íon de carga negativa, que se move mais
livremente com a água do solo. A lixiviação pode ocorrer se o nitrato estiver
presente em grandes quantidades no solo antes do plantio, quando a cultura
não estiver utilizando esse nutriente com rapidez, ou ainda, quando a irrigação
ou chuva exceder a capacidade de retenção do solo e o requerimento de
umidade da cultura.
No Brasil, sabe-se que as concentrações de nitrato encontradas em
águas subterrâneas da região de São José do Rio Preto, região tradicionalmente
explorada por agricultura tecnificada, atingiram níveis preocupantes. Das

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
21
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

amostras analisadas, cerca de 8% foram consideradas impróprias para o


-1
consumo humano, apresentando concentração de nitrato acima de 10 mg L
(AZEVEDO & CHASIN, 2004).
Além do nitrato, fósforo, potássio, outros macro e micronutrientes e
alguns metais pesados, os dejetos animais podem proporcionar contaminação
dos aqüíferos subterrâneos com bactérias, vírus e hormônios.
Di Bernardo (1993) aponta que o potencial de contaminação de águas
subterrâneas depende, dentre outras coisas, da profundidade das águas
subterrâneas em relação à superfície, de características do soluto contaminante
(solubilidade em água, carga elétrica, afinidade adsortiva na fração sólida, pH,
etc.), características físico-hídricas, do meio poroso e características hidráulicas
do aqüífero. Em solos arenosos, já foram reportados movimentos de nitrato à
razão de 1 a 5 mm/mm de chuva, em vista da sua elevada macroporosidade e
baixa capacidade de intercâmbio aniônico, indicando elevado risco de
contaminação de águas subterrâneas. Solos que possuem sítios de carga
positiva são capazes de prevenir rápida lixiviação de nitrato. Na zona rural do
Brasil, o uso da fossa seca simples (buraco de latrina) constitui um importante
foco de poluição das águas subterrâneas, principalmente em solos com pouca
profundidade e pedregosos, que representam a maioria dos solos encontrados
no Oeste Catarinense. Quando chove, as fossas secas se transformam em
fossas negras, infiltrando as excretas humanas pelos veios de água.
Quando a água subterrânea é poluída, ocorre a formação de uma pluma
de dispersão do poluente, cuja forma e tamanho são importantes para que se
possa predizer o movimento e os riscos ambientais da poluição. No caso de
dispersão do poluente nos aqüíferos, os parâmetros envolvidos são a velocidade
de deslocamento da água subterrânea, a permeabilidade do material do
aqüífero, as propriedades adsortivas do material do aqüífero e as propriedades
químicas do poluente.
Os resultados de inúmeros trabalhos têm revelado a presença de níveis
alarmantes de agroquímicos e seus produtos de degradação em solos e águas
superficiais e subterrâneas. Os relatos iniciaram-se nos anos 70 e, desde então,
o aprimoramento das técnicas analíticas com maior acuidade e sensibilidade,
mostraram, por exemplo, que, em 1988, mais da metade dos estados
americanos possuíam águas subterrâneas contaminadas.

4 CONCLUSÃO

O fenômeno de poluição das águas é algo complexo. Ocorre por uma


série de fatores que interagem entre si, estando diretamente associado aos usos
que se faz da bacia hidrográfica. Dessa forma, é necessária a compreensão
desses fenômenos, de modo a gerar subsídios para implementação de
programas de prevenção e minimização de impactos ambientais negativos
associados às diferentes formas de poluição das águas, adotando medidas que
abordem desde a conscientização da população quanto à minimização das
atividades resultantes na poluição das águas, até os responsáveis pelo
planejamento urbano, para que apóiem esses programas e ofereçam subsídios
financeiros para sua prática.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)
22
Revista Eletrônica Lato Sensu – Ano 2, nº1, agosto de 2007. ISSN 1980-6116
http://www.unicentro.br/propesp/posGraduacao/revista.asp

ACCIOLY, A. M. A. & SIQUEIRA, J. O. Contaminação química e


bioremediação do solo. In: Novais, R.F; Alvarez V., V.H. & Schaefer, C.E.G.R.
Tópicos em ciência do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.
2000. p. 299-352

ALLOWAY, B. J. & AYRES, D. C. Chemical principles of environmental


pollution. Glasgow: Blackie Academic & Professional. 1993. 291 p.

AYERS, R. S. & WESTCOT, D. W. A qualidade da água na agricultura;


tradução de H.R. Gheyi; J.F.Medeiros e F.A.V. Damasceno e L.T. de L. Brito
Campina Grande, UFPB, 1991. 218 p. (estudos FAO: Irrigação e Drenagem,
29).

AZEVEDO, F. A; CHASIN, A. M. As Bases Toxicológicas da Ecotoxicologia.


São Paulo: Editora Rima (interfox), 2004. 340p.

BONACELLA, P.; MAGOSSI, L. Poluição das Águas. 6 ed. São Paulo:


Moderna, 1990. 56 p. il.

BRAGA, B; HESPANHOL, I; CONEJO, J. G. L; BARROS, M. L; SPENCER, M;


Porto, M; NUCCI, N; JULIANO, N; EIGER, S. Introdução à Engenharia
Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. 305p.

BRANCO, S. M. Hidrobiologia aplicada á Engenharia Sanitária. CETESB,


1986.

DI BERNARDO, L. – Métodos e Técnicas de Tratamento de Água. Rio de


Janeiro: ABES, 1993.

DORST, J. Antes que a natureza morra. 5. ed. São Paulo: Edgard Blücher,
1995. 394 p.

DREW, D. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. 4 ed. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 224 p. ISBN 85.286.0426.8.

LORA, E. E. S. Prevenção e controle da poluição nos setores energético,


industrial e de transporte. Brasília, ANEEL, 2000. 503 p. 164p.

ONGLEY, E. D. Controle da poluição da água pelas atividades agrícolas;


tradução de H. R. GHEYI ; F. A. V. DAMASCENO e L. T. de L. BRITO. Campina
Grande: UFPB, 2000. 92 p. (Estudos FAO: Irrigação e Drenagem, 55)

RIGOLIN, T.; ALMEIDA, L. Geografia: Série Novo Ensino Médio. 1 ed. São
Paulo: Ática, 2003. p. 61-63

SPERLING, M. V; Princípios do tratamento biológico de águas residuárias.


Vol 1. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. DESA/
UFMG, Belo Horizonte, 1996. 243p

STRUJAK, D.; VIDAL, C. M. de S. - Poluição das Águas: Revisão de Literatura


(p. 10-23)

You might also like