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ALTERNATIVAS DE DEGRADAÇÃO DO COMPOSTO

RECALCITRANTE HEXACLOROBENZENO (HCB)

ALTERNATIVES OF DEGRADATION OF RECALCITRANT COMPOST


HEXACLOROBENZENE (HCB)

Francisco José Guedes Pimentel (1)


Engenheiro Sanitarista e Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Mestrando em Engenharia Ambiental Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de
Santa Catarina (PPGEA/UFSC).
María Pilar Serbent (2)
Bióloga e Professora de Biologia pela Universidad Nacional de Córdoba (UNC). Mestranda em
Engenharia Ambiental Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina
(PPGEA/UFSC).

Endereço(1)(2): Centro Tecnológico (CTC) Campus Universitário - Trindade Florianópolis - Santa Catarina. CEP:
88010-970. Brasil. Tel:+ 55 (48) 3721-9821 - + 55 Fax: (48) 3234-6459 – e-mail (1)francisco@ens.ufsc.br
(2)
mpilar_serbent@yahoo.com.ar

RESUMO: Este artigo trata sobre as diferentes alternativas de degradação do hexaclorobenzeno


(HCB) - composto amplamente utilizado no século passado como fungicida, até seu uso ser
proibido por órgãos internacionais devido à sua persistência no ambiente, a toxicidade e a grande
capacidade de bioacumulação e mobilidade em escala global. A partir da revisão bibliográfica
deste tema foi possível encontrar diversos métodos de degradação de HCB utilizando
microorganismos, reagentes químicos, processos térmicos, fotoquímicos, e até ultrasom.
Contudo as pesquisas recentes apontam para a alternância entre tratamentos químicos, físico-
químicos e biológicos em detrimento da aplicação de uma única técnica, objetivando-se o
aumento da eficiência e a redução de custos.

PALAVRAS-CHAVE: compostos recalcitrantes, hexaclorobenzeno, degradação de


organoclorados.

ABSTRACT: This article discusses the different possibilities of degradation of


hexaclorobenzene (HCB). This compound was used extensively as a fungicide in the last century
until its use be prohibited by international associations because of their toxicity. From the review
of this issue was possible to find several methods of degradation of HCB using microorganisms,
chemical reagents, thermal, photochemical, and even ultrasound. However recent research
pointed to the alternation of chemical treatments, physical - chemical and biological rather than
applying a single technique, aiming at increasing efficiency and reducing costs.

KEYWORDS: recalcitrant compost, hexaclorobenzene, degradation of hexachlorines.


Alternativas de Degradação do Composto Recalcitrante Hexaclorobenzeno (HCB)
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1 INTRODUÇÃO
O hexaclorobenzeno (HCB) foi sintetizado na década de 40 e empregado primeiramente como
fungicida para a proteção de sementes de cebola, trigo e sorgo. Baixo a sua denominação
comercial: perclorobenzol foi comercializado e utilizado extensivamente até o final da década de
70, quando o seu uso foi banido. Na indústria este composto também tem sido usado como
solvente e como aditivo na produção de borracha, PVC, foguetes, munições, e em preservantes
para a madeira e corantes. Mesmo na atualidade tanto a produção como comercialização e
aplicação sejam proibidas em muitos países, e inclusive na agropecuária o impedimento de uso
tenha se tornado extensivo a produtos que contenham seu princípio ativo na fórmula, o problema
é que o hexaclorobenzeno é um subproduto da manufatura de vários solventes clorados (como
percloroetileno e tricloroetileno), pesticidas e de outros processos que envolvem o cloro. Esta
problemática acentua-se pelo fato de o HCB ser também formado como um subproduto de
combustão incompleta na presença de cloro, em processos como a incineração de lixo urbano e a
queima de carvão para a produção de cimento. O HCB constitui um dos doze poluentes
orgânicos persistentes (POPs) considerados prioritários pela Convenção de Estocolmo, que
consiste numa iniciativa global com o objetivo de proteger a saúde humana e o ambiente destes
compostos tóxicos. Os POPs são considerados compostos orgânicos que resistem à degradação
química, fotolítica e biológica, de origem essencialmente antropogênica, nomeadamente
associada à fabricação e utilização de compostos químicos. Neste contexto o Programa das
Nações Unidas para o meio ambiente (PNUMA) enfatiza a alerta sobre os diversos riscos que
representam estes compostos.

1.1 Caracterização do hexaclorobenzeno (HCB)


Os clorobenzenos em geral são compostos com um anel aromático e um ou mais átomos de cloro
substituindo aos átomos de hidrogeno. Incluem assim monoclorobenzenos ou clorobenzenos
(CB), diclorobenzenos (DCB), triclorobenzenos (TCB), tetraclorobenzenos (TeCB),
pentaclorobenzenos (QCB), e hexaclorobenzenos (HCB). O hexaclorobenzeno (HCB) é um
composto químico sintético, aromático halogenado, (Figura 1) que apresenta o núcleo benzênico
completamente clorado (STAN, 1981). Esta característica confere estabilidade ao composto, já
que o cloro ligado organicamente inibe a sua biodegradação e, embora a ligação carbono-cloro
não seja totalmente estranha na natureza, a maioria dos organismos não dispõe de enzimas que a
quebrem (SCHEUNERT, 1992). Assim devido à alta estabilidade da sua estrutura química, o
HCB é extremamente persistente em todos os compartimentos do ambiente, sendo considerado
um composto recalcitrante devido a que é altamente resistente a diferentes mecanismos de
degradação. Na tabela a seguir podem se observar os principais dados físico-químicos do HCB:

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Figura 1: Estrutura química e molecular do hexaclorobenzeno.

Fórmula empírica C6Cl6


Massa molecular relativa 284,79 g
Densidade 2,04 g/cm3 a 20°C
Densidade relativa do gás 9,84
Ponto de ebulição 322-326°C
Ponto de fusão 229°C
Pressão de vapor 1,1 x 10-3 Pa
Aparência e aspecto sólido cristalino branco
Tabela 1: Propriedades físico-químicas do hexaclorobenzeno.

1.2 Importância Ambiental


O hexaclorobenzeno caracteriza-se pela sua alta toxicidade, permanecendo como um agente
causador de contaminação ambiental em muitas regiões do mundo, incluindo Austrália, Europa,
Japão, e o continente americano. Isto se deve tanto a sua ampla utilização como fungicida no
tratamento de sementes, como pela sua formação e emissão como subproduto pela indústria
química e por processos de combustão (MATHEUS et al. 2000). Conforme Bailey (2001) as
emissões de HCB (Kg/ano) nos Estados Unidos, durante a década de 90, provenientes de
pesticidas atingem 1270 Kg/ano. Dentre estes os mais representativos são DCPA (Dacthal) 677,8
Kg/ano, PCNB 313,7 Kg/ano; e Chlorothalonil 197,1 Kg/ano. Por sua parte a indústria de
manufatura de químicos nesse mesmo país contribui com quase 400 Kg/ano nas emissões destes
poluentes, e a fundição de alumínio com 129 Kg/ano. O processo de combustão é responsável
por emissões que alcançam o valor de 959 Kg/ano, sendo a combustão municipal a mais
representante em quanto ao valor numérico das emissões atingidas (851 Kg/ano).

A vasta distribuição do HCB é devido a este composto ser extremamente estável, e alem de
tornar-se persistente no meio ambiente possui também a capacidade de se movimentar através de
enormes distâncias devido à combinação da pressão de vapor, solubilidade na água, e
persistência no ambiente deste composto. Compostos poluentes persistentes são, por definição,
substâncias que tem meia-vida longa ou lenta taxa de desaparecimento no ambiente,
principalmente devido a sua estabilidade química, mas também devido a condições ambientais
desfavoráveis aos processos de mineralização ambiental ou biológica (NAKAGAWA, 2003). É o
caso de vários compostos feitos pelo homem que têm estruturas que não são encontradas nos
compostos naturais e podem ser, portanto, pouco degradáveis e persistir no ambiente, sendo
chamados também de recalcitrantes. Quando atinge a atmosfera por causa das emissões
industriais, por exemplo, pode ser parcialmente removido do ar tanto por deposição úmida como
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seca, mas também persiste na atmosfera e pode se movimentar ao longo de grandes distâncias
(Figura 2). Devido ao fato de serem ligeiramente voláteis, os hexaclorobenzenos são
transportados pelos ventos na forma gasosa até encontrarem temperaturas mais baixas, sendo
assim condensados diretamente na superfície do solo ou nas partículas presentes em aerossóis,
que serão depositadas, posteriormente, com a neve ou as chuvas. Mas, como a condensação e a
deposição são favorecidas pelas baixas temperaturas, o balanço final desse processo é o
transporte mais intenso dessas substâncias químicas na direção das regiões polares
(BIANCHINI, 2008).

Figura 2: Processo de migração dos POPs. Fonte Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica
Portuguesa, 2007 apud Bianchini, 2008)

Uma vez que um poluente não degradável é asimilado por um organismo, não pode ser
facilmente excretado, mantendo-se nesse organismo num estado imutável, e incluso sendo
continuamente adicionado enquanto a exposição ao composto se mantiver. Este fenômeno é
conhecido como bioacumulação. Como o HCB se adsorve fortemente às partículas em
suspensão nos corpos de água pode se acumular no sedimento, ocorrendo isto também no ar e no
solo, onde é absorvido pelas plantas entrando na cadeia alimentar. Devido Quando uma
substância não-biodegradável é introduzida num ecossistema ela irá se acumular com o passar
dos níveis tróficos atingindo maiores concentrações no final dessa cadeia (biomagnificação),
devido a sua baixa solubilidade em água e alta solubilidade em gordura (NAKAGAWUA, 2003).
Tem-se registrado a acumulação de hexaclorobenzeno em organismos desde liquens, até animais
superiores da ordem dos mamíferos. Os seres humanos também podem ser expostos ao HCB
através da inalação, ingestão de alimentos contaminados e contato da pele com o solo
contaminado (USEPA, 1999).

Num estudo realizado por pesquisadores brasileiros e espanhóis (COSTABEBER et al. 2003) se
analisou a relação entre a freqüência de consumo de carne e pescado e os níveis de diferentes
compostos orgânicos como HCB, examinando amostras de tecido adiposo de glândulas
mamárias femininas. Os autores avaliaram a existência de associações entre concentrações dos

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compostos versus a idade das doadoras mediante análises de correlação linear simples, sem
observar se diferença significativa entre as idades das doadoras pertencentes a diferentes grupos
de consumo de pescado. Estes resultados diferiram em parte do expressado pelos autores
Costabeber & Emanuelli, num trabalho de 2002, que tinham demonstrado a existência duma
correlação positiva entre a idade e os níveis de HCB, aldrin e DDE. Nesse trabalho anterior os
altos níveis de organoclorados encontrados no grupo com freqüência de consumo de carne de até
uma vez por semana, tinham sido relacionados à maior idade média deste grupo. Os resultados
das análises de pesticidas organoclorados em tecido adiposo humano encontraram HCB em 98%
das amostras analisadas; sendo a presencia deste composto, em tecido adiposo, também
manifestada por Stevens et al. (1993) e Waliszewski et al. (2000).

O hexaclorobenzeno tem sido sinalado por atuar como um disruptor endócrino (PENNA DE
FREITAS GUIMARÃES, 2005). Esta denominação se aplica a agentes e substâncias químicas
que promovem alterações no sistema endócrino humano e nos hormônios que, por mecanismos
fisiológicos, podem substituir os hormônios do nosso corpo, ou bloquear a sua ação natural, ou
ainda, aumentar ou diminuir a quantidade original de hormônios, alterando as funções
endócrinas. Muitas doenças podem se associar ao efeito do HCB como disruptor endócrino, entre
elas Hipotireoidismo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001); Supressão imunológica (PATNAIK,
2002); Esteatose, hepatomegalia (PATNAIK, 2002); Porfiria. Num trabalho realizado na
Universidade Federal Fluminense trabalhou se com um grupo de mulheres urbanas inférteis em
comparação com mulheres férteis, a partir da identificação e quantificação dos níveis de
compostos organoclorados, tentando detectar o efeito dos mesmos como disruptores endócrinos.
Para quantificar os níveis de concentrações séricas de diclorodifeniltricloroetano (DDT),
diclorodifeniltricloroetileno (DDE), hexaclorobenzeno (CCB) e os bifenilos policlorados (PCBs
138, 153 e 180) obtiveram-se amostras de sangue. Para medir os níveis séricos de progesterona.
Os resultados sugeriram uma correlação negativa entre a presença de organoclorados e os níveis
plasmáticos de progesterona.

1.2.1 Bioindicadores
Os bioindicadores são organismos que, por meio de reações comportamentais ou metabólicas
mensuráveis, indicam e refletem alguma mudança no ambiente onde eles vivem. Graças a estas
características podem ser utilizados como indicadores da qualidade do ambiente. No Brasil tem
se estudado diversos organismos como bioindicadores para a detecção de HCB; desde plantas
medicinais (Rodrigues et al. 2007), invertebrados como Oligoquetos (MITRE VAMPRÉ et al,
2010), Crustáceos (ANDREA et al, 2007a; ZECCHIN CIPRO, 2007), Moluscos (Andrea et al,
2007b), Equinodermos (MITRE VAMPRÉ, 2009) até animais da ordem de mamíferos: pingüins
(ZECCHIN CIPRO, 2007), focas, toninhas e golfinhos (YOGUI, 2002).

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1.2.2 Legislação brasileira:
A resoluçao CONAMA nº357 de 2005 estabelece limites nos padrões de qualidade das águas
com respeito ao HCB. Os valor máximo permitidos para a Classe I-Águas doces é de 0,0065
μg/L, no caso de estas águas serem usadas em atividades de pesca ou cultivo de organismos para
fins de consumo intensivo, o valor máximo permitido é de 0,00029 μg/L tanto para águas doces
como para águas salinas e salobras. O Art. nº27 do Capítulo IV determina que é vedado nos
efluentes, o lançamento dos Poluentes Orgânicos Persistentes-POPs, dentre os quais se enquadra
o HCB conforme mencionado anteriormente.

2 DEGRADAÇÃO DE HEXACLOROBENZENO (HCB)

Pelo fato de o hexaclorobenzeno ser um poluente orgânico persistente, tóxico e possuir grande
mobilidade em nível global, desde a década de 70 há diversas pesquisas que buscam desenvolver
métodos de degradação deste composto (ARRUDA,2005). O processo de degradação o HCB
ocorre basicamente por meio da desalogenação (ou decloração) deste composto, objetivando-se
deixá-lo com o mínimo possível de moléculas de cloro. Funciona desta maneira por que são
justamente as 6 moléculas de cloro do HCB o conferem grande estabilidade, já que a maioria dos
organismos não dispõe de enzimas que quebrem este halogênio (MATHEUS et al, 2000).

A nomeclatura dos benzenos clorados varia em função do número de cloros. O


pentaclorobenzeno, por exemplo, possui 5 cloros, os tetraclorobenzenos, 4 cloros e assim por
diante. Os isômeros são diferenciados conforme a distribuição de cloros no benzeno, como é
possível visualizar na figura a seguir:

Figura 3: Isômeros de diclorobenzeno (DCB).

Segundo Arruda (2005) há diversos tipos de métodos para declorar os hexaclorobenzenos; entre
eles, a degradação térmica ou incineração, as tecnologias que envolvem a degradação mediada
por microorganismos (bioremediação) e até através do uso de insumos químicos (oxidação
química, desalogenação). De maneira geral, as metodologias de degradação do HCB podem ser
divididas em: Processos biológicos; processos químicos; e processos físico-químicos.

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2.1 Degradação Biológica

A degradação biológica ou biorremediação é definida por Litchfield (2005) apud Salvi (2008)
como o uso de organismos vivos em tratamento de ambiente contaminado a fim de reduzir a
concentração dos poluentes a níveis não detectáveis, não tóxicos ou aceitáveis. Os benzenos
clorados podem ser degradados por bactérias anaeróbias, aeróbias e por fungos, conforme será
explanado a seguir.

2.1.1 Via anaeróbia


Segundo Adrian & Görish (2002) benzenos bastante clorados (de 4 a 6 cloros) possuem forte
hidrofobicidade e por isso tendem a se acumular em lodos e sedimentos - ambientes geralmente
com pouco ou sem oxigênio. Exatamente neste tipo de condição anaeróbia é possível
desalogenar benzenos clorados através e processos redutivos. Se este processo ocorre como uma
reação casual, sem benefício aparente para o microorganismo, é referido como um processo
cometabolico. Há, porém, bactérias especializadas que se beneficiam diretamente da troca de
elétrons para produzir energia. Culturas puras de Dehalococoides e Dehalobacter, por exemplo,
são capazes de reduzir clorobenzenos. Elas, porém, requerem vitamina B12, utilizam acetato
como fonte de hidrogênio; carbono como doador de elétrons e clorobenzenos como receptor de
elétrons.

Outros estudos corroboram que culturas de microorganismos anaeróbios, originadas de solos,


sedimentos de lagos/rios e lodo de esgoto são capazes de reduzir benzenos clorados – como
hexaclorobenzeno (HCB), pentaclorobenzeno (PCB) e tetraclorobenzeno (TeCB) – a tri e
diclorobenzeno (TCB e DCB).

Figura 4: Desalogenação redutiva do 1,2,3-TCB para 1,3-dichlorobenzene (DCB). Fonte: Adrian & Görish
(2002)

Ramanand et al. (1993) verificou que em ambientes anóxicos a degradação do HCB para TCB e
DCB não ocorreu pela via mais favorável termodinamicamente (setas negrito – figura abaixo).
Porém, a via metabólica mais favorável termodinamicamente para degradar o HCB para TCB e
DCB foi apresentada por Holliger (1992) apud Adrian & Görish (2002) em ambientes
anaeróbios (setas pontilhadas figura abaixo).

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Figura 5: Possíveis rotas de desalogenação de clorobenzenos e as respectivas energias livre de Gibbs (ΔG˚ -
KJ/mol). Fonte: Adrian & Görish (2002).

Fathepure et al (1988) demonstraram que o HCB foi desalogenado a tri e diclorobenzeno (TCB e
DCB) em lodo de esgoto sob condições anaeróbias. Neste estudo, o lodo de esgoto em si não
possuia níveis detectáveis de HCB e o experimento foi feito adicionando-se HCB em amostras
de lodo, sendo uma delas autoclavada para servir de controle. Conforme a figura abaixo, o autor
detectou duas vias de degradação do HCB: uma que termina em TCB e outra em DCB. Isso
ocorreu pelo fato de a estrutura meta conferir maior estabilidade ao 1,3,5 TCB.

Figura 6: Possíveis caminhos para degradação de HCB por cullturas anaeróbias de lodo de esgoto. Fonte:
Fathepure et al (1988).

Apesar de muitas vezes o processo anaeróbio de degradação de clorobenzenos parar em TCB e


DCB, já existem estudos que apontam possíveis rotas de desalogenação de DCB e MCB para
benzenos puros (FUNG et al, 2009).

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2.1.2 Via Aeróbia
Benzenos mais clorados, como tri, tetra, e principalmente penta e hexaclorobenzeno (TCB ,
TeCB, PCB e HCB) são normalmente mais resistentes à degradação por vias aeróbias. Contudo,
estudos mostram estes microorganismos podem desalogenar o diclorobenzeno (DCB) e o
monoclorobenzeno (MCB), utilizando-os tanto como substrato primário (fonte direta de carbono
e energia) quanto secundário (FATHEPURE et al, 1988).

Além disso, pesquisas recentes (Field e Sierra-Alvarez, 2007) também corroboram que bactérias
aeróbias (Burkholderia, Pseudomonas, etc.) possuem capacidade de degradar benzenos com 4
cloros ou menos, utilizando estes compostos como fonte única de carbono e energia.

A figura abaixo apresenta caminhos de degradação aeróbica de clorobenzenos por cepas que
utilizam compostos clorados como substrato para crescimento (FIELD & SIERRA-ALVAREZ,
2008). Conforme se pode observar, os compostos são metabolizados para intermediários do ciclo
de Krebs.

Figura 7: Caminhos de degradação aeróbia de clorobenzenos por cepas que utilizam compostos clorados
como substrato para crescimento. Fonte: Field e Sierra-Alvarez, 2008.

2.1.3 Fungos Basidiomicetos


Até final da década de 1990 confederava-se improvável a biodegradação de HCBs por fungos
basidiomicetos, pois a taxa de degradação deste composto era muito baixa. Contudo, estudos
utilizando determinados basidiomicetos (Trametes villosa, Psilocybe castanella e Lentinus
crinitus ), comprovaram o contrário e que o meio de cultura era fundamental (SALVI, 2008).

Através da adição de ácidos graxos e a variação da relação carbono/nitrogênio (C/N) foi possível
aumentar as taxas de mineralização de HCB de 1% para mais de 20% (MATHEUS et al, 2000).
Determinadas espécies de basidiomicetos, como a T. villosa (figura abaixo) apresenta tolerância
a altas concentrações de pentaclorofenol (PCF), e por ser capaz de reduzir cerca de 60% sua
concentração em solo (MATHEUS et al, 2000, apud SALVI, 2008).

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Figura 8: Trametes villosa CCB 176, crescido sobre tronco.


Fonte: <http://www.ccb.ufsc.br >. Acesso em setembro de 2010.

Essa capacidade dos fungos basidiomicetos em degradar o HCB, a lignina – macromolécula


encontrada na parede celular de células vegetais cuja função é fornecer rigidez,
impermeabilidade e resistência a ataques microbiológicos – e diversos outros compostos é em
função de um sistema enzimático ligninolítico inespecífico e extracelular.

2.2 Degradação Química


Os processos químicos de degradação de HCB promovem a conversão química deste composto
utilizando insumos como ozônio (O3), peróxido de hidrogênio (H2O2), permanganato de potássio
(KMnO2), ferro (Fe) de valência zero, entre outros (ARRUDA, 2005). A partir de reações de
redução ou oxidação o cloro (Cl) é removido pelo hidrogênio (H) ou radical de hidrogênio de
outro composto. Diversas metodologias de degradação química de HCB associadas ou não com
outros métodos, têm sido pesquisadas e desenvolvidas nos últimos anos. Os principais resultados
encontrados foram os seguintes:

 Ferro Elementar + Reagente de Fenton (H2O2 + Fe+2) (ARRUDA & JARDIM, 2007)
 Compostos óxidos de Ca-Fe (MA, X. et al., 2005)
 Óxidos de Ca a 300-400°C (GAO, 2009)
 Decloração redutiva por Bimetálicos Cu-Fe na presença de tensoativos (ZHENGA,2009).
 Processos Oxidativos Avançados e Fe elementar (ARRUDA, 2005)
 Polietilenoglicol/Hidróxido de Sódio e Trametes villosa (SALVI, 2008)
 Processos Eletroquímicos
 Ultrasom
 Outros

Os tratamentos químicos, segundo Eggen & Sveum (2001) apud Salvi (2005), podem também
ser usados em conjunto com outras tecnologias, tais como a dessorção térmica a baixa
temperatura, extração por solvente ou biodegradação. A integração de tratamento químico e
biológico é comumente utilizada para remediação de solos contaminados com poluentes
orgânicos.

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2.3 Fotodegradação por U.V.
A fotólise com raios ultravioleta (UV), conforme Arruda (2005), tem sido usada para eliminar
compostos aromáticos clorados e nitrogenados, fenóis, alifáticos, halogenados, produtos finais de
acabamentos de metais, óleos, resíduos de processamento de aço e outros resíduos perigosos
presentes na água. A radiação emitida no comprimento de onda que vai de 100 a 400 nm
compreende a radiação ultravioleta e esta energia é um dos componentes essenciais para
efetividade desta técnica.

A fotólise direta, em comparação com processos envolvendo geração de radicais hidroxila tem,
geralmente, uma eficiência baixa (YAMADA, S. et al., 2008). Porém, a degradação de
compostos aromáticos clorados através da emissão de raios U.V. em solventes adequados
aumenta a eficácia do processo. Yamada et al (2008) verificou que a principal via de
fotodegradação do HCB por raios U.V. em três diferentes solventes (Metanol, Hexano e 2-
propanol) era a seguinte(figura abaixo):

Figura 9: Principal via de fotodegradação do HCB por raios U.V. em três diferentes solventes: Metanol,
Hexano e 2-propanol (IPA)

Apesar de muitos produtos de degradação serem formados durante a fotodegradação de


clorobenzenos, este processo tende a levar a relativamente poucos produtos de degradação
principal e por isso normalmente é associado com outras técnicas (SUEGARA et al, 2005).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As técnicas mais comuns de remediação de locais contaminados por HCB são por métodos
chamados não-destrutivos, como a adsorção sobre carvão ativado, extração por vapor, air
stripping, entre outros, pois os custos iniciais de tratamento a partir destes processos são bastante
atrativos. Todavia, o fato de promoverem apenas a transferência de fase do contaminante, levou
ao desenvolvimento de tecnologias de tratamento capazes de degradar e mineralizar o HCB até
substâncias inócuas ou menos ofensivas.

Assim, a partir da revisão bibliográfica deste artigo foi possível encontrar diversos métodos de
degradação de HCB utilizando microorganismos, reagentes químicos, processos térmicos,
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fotoquímicos, fungos basidiomicetos e até ultrasom. Contudo as pesquisas recentes apontam uma
tendência para a alternância entre tratamentos químicos, físico-químicos e biológicos em
detrimento da aplicação de uma única técnica apenas, objetivando-se o aumento da eficiência e a
redução de custos.

Com relação à degradação do HCB por via microbiológica, os principais artigos consultados
identificaram que a alternância entre tratamento anaeróbio e aeróbio pode ser interessante: o
HCB é mais facilmente desalogenado para TCB e DCB em ambiente anaeróbio e estes
subprodutos são mais facilmente desalogenados para MCB e benzeno em ambientes aeróbios. É
necessário, portanto que estejam em contato com culturas apropriadas, comumente encontradas
em lodo de esgoto e sedimentos de alguns lagos.

A alternância entre tratamento químico e biológico também foi sugerida nos principais artigos
pesquisados, pois processos químicos de oxidação e redução de HCB empregados
preliminarmente a tratamentos biológicos geraram compostos mais facilmente biodegradáveis.

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