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PROJETO DE INSTALAÇÃO DAS LINHAS ELÉTRICAS EM BANDEJAS

Paulo Eduardo Mota Pellegrino - Nov/2005

Uma instalação de condutores ao ar livre é composto dos cabos e o sistema de suportação


dos mesmos. Ao projetar um sistema desse tipo é necessário primeiro definir os cabos para
em seguida projetar o sistema de suportação para acomodar todos os cabos. O projeto é
similar tanto para baixa quanto para média tensão.

Como estratégia de cabeamento deve-se selecionar os tipos de cabos a serem usados para os
circuitos de alimentação, ramais, comunicação, etc. Alguns cabos satisfazem todos os
requisitos para vários tipos de circuitos e, portanto, obtém-se ganhos econômicos ao se
minimizar o número de diferentes tipos de cabos de um projeto.

Geralmente os cabos de potência são de maior diâmetro e, portanto, são preponderantes na


determinação dos requisitos do sistema de bandejamento. A quantidade de cabos, seção, o
peso por metro e o volume do material combustível são as informações necessárias para se
projetar o sistema de bandejamento.

A tabela 33 da NBR 5410:2004 identifica os seguintes tipos de instalações ao ar livre dos


sistemas de bandejamento:

Eletrocalha : anteriormente chamada de calha, é um elemento de linha elétrica fechada,


aparente, cobertura desmontável, podendo ser liso ou perfurado. De acordo
com a norma, será considerado perfurada quando a área dos furos for maior
que 30% da área da bandeja. Se os furos ocuparem menos de 30% da área da
bandeja ela deverá ser considerada como não-perfurada.
Bandeja : é uma eletrocalha sem tampa e geralmente na forma de U, podendo também
ser liso ou perfurada.
Perfilado : eletrocalha ou bandeja de dimensões reduzidas como 38 X 38 mm e no
máximo 38 X 76 mm.
Leito : por ser parecido com uma escada esse era sua denominação anteriormente
utilizada pela norma.
Prateleira : possui uma base contínua, engastada ou fixada por um de seus lados. A outra
borda é livre.

A seguir são apresentadas algumas das recomendações da NBR ao se utilizar as bandejas,


leitos ou prateleiras:

• os materiais utilizados em sua fabricação devem ter propriedades que permitam


suportar sem danos as influências externas a que são submetidos. Portanto, se os
mesmos não forem metálicos devem evitar a propagação de incêndio. O item
5.2.2.2.3 da NBR 5410:2004 impõe restrições quanto a resistência ao fogo para os
cabos e condutos fechados em locais BD2, BD3 e BD4. Consulte a norma...
• nos percursos verticais deve-se assegurar que os esforços de tração exercido pelo
peso dos cabos não conduzam à deformações ou ruptura dos condutores nem
esforços de tração sobre as conexões.
• Os cabos devem ser dispostos preferencialmente numa única camada. Para mais
camadas deve-se limitar a quantidade de material combustível (isolação, capa,
cobertura) para evitar propagação de incêndio. Para tanto, o volume de material
combustível deve ser limitado a: a) 3,5 dm3 por metro linear, para cabos de
categoria BF da NBR 6812; b) 7 dm3 por metro linear, para cabos de categoria
AF/R da NBR 6812.
• Condutores isolados só podem ser instalados em canaletas ou perfilados de parede
maciça e com tampa que só podem ser removidas com auxílio de ferramentas. A
norma estabelece condições para o uso de cabos isolados em canaletas ou perfilados
sem tampa.
• Para as canaletas no solo ou piso, utilizar cabos unipolares e multipolares. Para
canaletas no piso, os cabos isolados deverão ser instalados em eletrodutos.
• As linhas elétricas de baixa tensão e as linhas de tensão superior a 1000 V não
devem ser colocadas nas mesmas canaletas ou poços, a menos que sejam tomadas
precauções adequadas para evitar que, em caso de falta, os circuitos de baixa tensão
sejam submetidos à sobretensões.
• Quando uma linha elétrica atravessar elementos da construção, tais como pisos,
paredes, coberturas, tetos, etc., as aberturas remanescentes à passagem da linha
devem ser obturadas de modo a preservar a característica de resistência ao fogo de
que o elemento for dotado.
• Embora não seja uma recomendação da NBR 5410, é aconselhável isolar
termicamente o trecho do conduto (bandeja, etc) situado sobre equipamentos que
apresentem risco de incêndio na operação ou manutenção. Exemplo: bombas de
combustível, compressores de gás, etc.

Aterramento
A NBR e o NEC apresentam algumas diferenças ao tratar a questão do aterramento de um
sistema de bandejamento. Embora ambas as normas consideram um cabo metálico ao longo
do sistema de bandejamento servindo como condutor de proteção, o NEC permite que, sob
certas condições, o próprio material metálico do bandejamento pode ser usado como
condutor de proteção. Essa permissão é válida para estabelecimentos comerciais e
industriais onde as condições de manutenção são feitas por pessoal qualificado para o
serviço. Outra condição é que o bandejamento (de aço ou alumínio) utilizado como
condutor de proteção seja identificado com esse propósito e a área de sua seção transversal
seja superior à indicada na tabela 1.

No caso acima, as seções do bandejamento e acessórios devem apresentar uma marcação


legível e durável indicando a área da seção transversal da bandeja ou a área da seção de
ambas as laterais para o caso de leitos. Além disso, se o bandejamento for utilizado também
como propósito de aterramento, esse requisito deve estar indicado no documento de
compra.
Bandejamento de aço não pode ser usado como condutor de proteção para circuitos com
proteção de terra acima de 600 A. O alumínio não pode ser usado quando a proteção de
terra for acima de 2000 A. Bandejamento de aço inox não pode ser usado como condutor de
proteção.

Entre as seções do bandejamento deverá haver uma ligação que garanta a continuidade
elétrica entre as partes. Nos pontos de contato devem ser removidos os materiais não
condutivos como a pintura ou outro tipo de cobertura. A área da seção reta dessa ligação
deve ser condizente com a área da seção transversal do bandejamento.

Outro cuidado que se deve ter ao utilizar o bandejamento como condutor de proteção é que
deve-se garantir a continuidade elétrica entre o bandejamento e os eletrodutos ou condutos
metálicos de saída para os equipamentos.

Para os sistemas eletrônicos (comunicação de dados e sinais) cuidado especial deve-se ter
no aterramento, pois as bandejas, eletrocalhas, eletrodutos e outros modos de suportação
dos cabos podem atuar como blindagem contra os surtos de tensão e corrente, sejam estes
devido a perturbações na instalação ou sejam induzidos por descargas atmosféricas. Não
iremos tratar o aterramento considerando esses efeitos, porem indicamos o artigo publicado
na revista Eletricidade Moderna No 280 de julho/1997 pg 138 “A blindagem proporcionada
por estruturas de sustentação de cabos” como uma fonte de referência para uma introdução
ao assunto.

TABELA1
Área do metal do conduto (bandeja, leito, etc) quando usado como condutor de proteção
Mínima área metálica da seção transversal
Mínimos valores em Amperes dos Fusíveis, do bandejamento, em mm2
trip dos disjuntores e reles de terra para Bandejamento de Bandejamento de
qualquer circuito do sistema de bandejamento aço alumínio

60 129.03 129.03
100 258.06 129.03
200 451.61 129.03
400 641.16 258.06
600 967.74 258.06
1000 ------- 387.10
1200 ------- 645.16
1600 ------- 967.74
2000 ------- 1290.32

Nota: a seguir são indicados alguns dos requisitos exigidos pelo NEC para se usar o sistema
de bandejamento como condutor de proteção. Consulte o NEC para mais informações:
• A marcação da área da seção transversal do bandejamento deve ser durável e
legível em todas as peças do sistema;
• a área da seção transversal do bandejamento deve se conforme a tabela 1.
Materiais de construção
O material de construção do sistema de sustentação dos cabos devem ser compatíveis com
o ambiente da instalação e são encontrados no mercado vários tipos de materiais e
acabamento.

Embora pouco utilizado, o alumínio por ser mais leve reduz o custo da instalação e devido
sua baixa resistência elétrica (comparado ao aço) é usado como condutor de proteção dos
equipamentos segundo o NEC. Para se aumentar a resistência recomenda-se a anodização.

Os materiais não metálicos como os de fibra de vidro reforçados com resinas podem ser
atacados por solventes e sua aplicação é restrita àqueles ambientes onde não se recomenda
o uso de materiais metálicos como é o caso da sala de baterias, ambientes com presença de
soda cáustica e locais sujeitos à ação da maresia. É importante listar os elementos químicos
presentes no ambiente para se especificar adequadamente qual o tipo de resina e tipo de
fibra de vidro a ser utilizado.

Para instalações sujeitas às atmosferas industriais corrosivas recomenda-se recorrer a um


metalurgista para definir qual metal e cobertura são compatíveis com o ambiente de modo
que seja feita a melhor escolha do ponto de vista técnico e econômico.

O aço carbono com tratamento galvanizado eletrolítico é adequado para ambientes pouco
corrosivos devido à reduzida espessura da proteção além desta não ser na dobras internas.

O aço carbono com tratamento de zincagem a fogo é adequado para ambientes de potencial
corrosivo médio ou instalações ao tempo. Dependendo do ambiente, quando o zinco não for
suficiente para proteger o aço base contra alguns tipos de ácidos, base, sais e gases
corrosivos, recomenda-se tratamento superficial através de pintura à base de resinas epóxi
ou poliéster. O aço galvanizado a fogo é amplamente utilizado em áreas externas e os de
aço ou alumínio com cobertura de epóxi ou PVC tem seus usos apropriados.

Bandejamentos em aço carbono fabricado com chapa pré-zincada à fogo apresentam boa
resistência à corrosão normalmente encontrados em ambientes industriais. Como a
zincagem da chapa é efetuada durante o processo de fabricação na usina siderúrgica,
apresentam boa uniformidade da camada de zinco, resiste bem aos dobramentos, furos e
cortes sem apresentar destaque de zinco das camadas adjacentes.

O aço inoxidável é largamente utilizado em indústrias alimentícias, de bebidas, químicas,


farmacêuticas, papel e celulose sendo as especificações de materiais mais utilizadas são o
AISI 304 e AISI 316 ou 316L.
Modelos disponíveis
A escolha do modelo liso, perfurado, ventilado, com ou sem tampa deve ser feita levando-
se em conta fatores de segurança durante a operação, fatores econômicos na aquisição,
montagem e manutenção como por exemplo:
• Necessidade de ventilação;
• Acúmulo de partículas em suspensão presentes no ambiente e que apresentam risco
de incêndio;
• Acúmulo de água em caso de instalação ao tempo ou sujeitas a freqüentes lavagens
tais como nas indústrias alimentícias;
• Presença de animais roedores ou pássaros;
• Presença de pessoas não habilitadas;

Diferentemente do NEC a NBR 5410 não define critérios para seleção das dimensões
(largura, altura) da bandeja bem como a taxa de ocupação a ser adotada. As únicas
recomendações são aquelas já citadas anteriormente onde apenas cabos unipolares e
multipolares devem ser utilizados e os cabos devem ser dispostos “preferencialmente”
numa única camada.

Comercialmente são encontrados leitos com diferentes espaçamentos entre os “degraus”


sendo que a escolha mais adequada de espaçamento irá depender da seção dos cabos de
forma a se evitar aquele incômodo visual das “barrigas” dos cabos entre os espaçamentos.
Assim, os menores espaçamentos dos degraus são adequados aos cabos de seções menores
e vice-versa para o caso dos espaçamentos maiores.

Ao se utilizar bandejamentos com cobertura deve-se considerar a ação dos ventos que
poderão arrancar as tampas se estas não estiverem apropriadamente fixadas, podendo
provocar acidentes pessoais, materiais ou operacionais.

Na montagem do sistema de bandejamento deve-se dar preferência à utilização dos


acessórios comprados ao invés de se fabricar no campo, pois a recomposição do material de
acabamento e a necessidade de novas furações não apresentam a mesma qualidade quando
feita na fábrica. Ao final da montagem e antes do lançamento dos cabos convém “travar”
todo o sistema de bandejamento através de fixação provisória nas paredes e piso para que o
sistema se mantenha rígido em sua posição. Após o lançamento deve-se retirar os apoios
provisórios.

Suportes e carga na bandeja


Uma vez definidas as dimensões Largura X Altura deve-se especificar o sistema de
sustentação e determinar a distância entre os apoios.
Normalmente os catálogos dos fabricantes dos cabos fornecem a informação do peso dos
cabos em Kgf/m. Se o sistema de bandejamento levar em conta espaço reserva para futura
expansão, esse espaço adicional deve ser considerado ocupado por cabos para efeito do
cálculo do espaçamento entre apoios. Para o caso de cargas concentradas (CC) em Kgf a
pior situação é quando a carga estiver aplicada no meio, entre os apoios. Nesse caso a carga
concentrada no meio pode ser convertida numa carga estática distribuída equivalente
(CDE) em Kgf/m usando-se a equação abaixo [1]:

2 x CC ( Kgf )
CDE =
distância entre apoios (m)

Tendo então definido o carregamento em Kgf/m deve-se recorrer ao catálogo dos


fabricantes de sistemas de bandejamento e consultar as tabelas de cargas de seus produtos
para obter a distância entre os apoios de modo que a flecha não ultrapasse 1/360 da
dist6ancia entre os apoios.

A prática recomenda que os extremos de cada peça reta das bandejas, leitos e perfilados
caiam sobre os apoios e que as juntas de expansão fiquem no máximo 0,5 metros de
distância dos apoios.

Expansão e contração
Os trechos retos e longos sujeitos a diferenciais de temperatura devem ser providos de
meios para compensar a expansão e contração do metal usando-se para isso juntas de
expansão de trechos em trechos.

As bandejas não devem ser fixadas firmemente em cada suporte para que se deformem
devido à dilatação. A ancoragem deve ser feita no meio ou em uma de suas extremidades.
Os demais pontos de apoio devem permitir o deslizamento de alguns milímetros (6< 25
mm). Como os coeficientes de dilatação linear dos metais da bandeja e do condutor são
diferentes, os cabos devem ser instalados com folga suficiente para que não sejam afetados
pela variação da temperatura.

O site www.webcalc.com.br , na seção engenharia/Materiais/dilatação térmica dos


Materiais, apresenta uma calculadora para cálculo online do comprimento de vários tipos
de materiais sob o efeito da variação da temperatura.

Referência:
[1] Roger L. Sandstedt, P.E. – “Engineering Cable Tray Systems – Part 1”
Revista ElectricalConstruction & Maintenance – pg 47 May, 1990
Part 2 – pg 49 June, 1990

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