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1 – A ordem etnocida
Evidentemente, uma cultura não é nem uma minoria nem uma maioria, pois ela
não é uma quantidade, e sim uma qualidade. O volume de pessoas, de
espaços disponíveis, etc., do grupo ao qual é associada uma cultura, e esse
“volume” comparado a outros integram as informações relativas a essa cultura,
mas não a definem.
Sendo uma cultura um “todo”, pode ser suficiente agir sobre um dos seus elos
para modificá-la ou destruí-la em sua totalidade. Esse “todo” é uma estrutura e
uma dinâmica. Ele dispõe, portanto, de grandes possibilidades de “respostas”
e/ou invenções. Além disso, é preciso frequentemente contar os procedimentos
de modificações internas relacionadas aos seus modos de sobreviver e viver, e
de sua permanência.
“A afirmação” aqui não é senão suficiência, farsa, poder, mesmo quando ela
é a “caridade” de reconhecer, e ela só tem sentido em sua relação com o
outro. O direito de reconhecer e o direito de negar são evidentemente
complementares, exprimindo o mesmo conjunto.
Dizer desse “cosmos” que ele é um corpo coletivo que pode ser medido
pelo conjunto das relações cotidianas e de partilha que um indivíduo
mantém ou pode manter é evidentemente atribuir à noção de cultura
uma definição “multifuncional”, ou seja, “estrutural”. Insistir no caráter
“cotidiano” dessas funções remete às atividades de produção e de
consumo de alimentos, de partilha e de planejamento do espaço, para
qualquer fim, e em particular às atividades da ordem “residencial”, ao
jogo dos casamentos, bem como àquele que rege as relações entre os
sexos e as idades. Se a partir de um determinado indivíduo nós
tentarmos determinar a “rede” dessas relações, veremos que na maioria
dos casos, incluído aí o sistema “ocidental”, 80% de seu tempo
transcorre dentro de um grupo que compreende 20 a 200 pessoas.