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CONVERSÃO DE ENERGIA__________________________________ 26

6 – ENSAIO À VAZIO DE UM
TRANSFORMADOR

A – INTRODUÇÃO

O transformador embora não seja propriamente um dispositivo de


conversão eletromecânica de energia, é um dispositivo importante na análise
global de um sistema de energia. Sendo um componente que transfere
energia de um circuito elétrico à outro o transformador toma parte nos
sistemas elétricos e eletromecânicos, seja simplesmente para isolar
eletricamente os circuitos entre si, seja para ajustar a tensão de saída de um
estágio do sistema à tensão de entrada do seguinte, seja para ajustar a
impedância do estágio seguinte à impedância do anterior (casamento de
impedância), ou para todas essas finalidades ao mesmo tempo.
O transformador opera segundo o princípio da indução mútua entre
duas (ou mais) bobinas ou circuitos indutivamente acoplados. Importante
salientar que os circuitos não são ligados fisicamente, ou seja, não há conexão
condutiva entre eles.
O circuito ligado à fonte de tensão é chamado primário e o circuito
no qual a carga é conectada, é denominado secundário.

Circuito Equivalente = Nomenclatura e Símbolos

Figura 6.1

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V1 = Tensão de suprimento aplicada ao primário (V)


r1 = Resistência do circuito primário (Ω)
x1 = Reatância do circuito primário (Ω)
I1 = Valor médio quadrático da corrente drenada da fonte pelo primário (A)
E1 = Tensão induzida no enrolamento primário por todo o fluxo que concatena
a bobina 1 (V)
N1 = Número de espiras do enrolamento primário
Io = Corrente de magnetização (A)
Zm = Impedância do ramo magnetizante (Ω)
V2 = Tensão que aparece nos terminais do secundário (Ω)
r2 = Resistência do circuito secundário (Ω)
x2 = Reatância do circuito secundário (Ω)
I2 = Valor médio quadrático da corrente entregue pelo circuito secundário à
carga ligada a seus terminais (A)
E2 = Tensão induzida no enrolamento secundário por todo o fluxo que
concatena a bobina 2 (V)
N2 = Número de espiras do enrolamento secundário
Zc = Impedância da carga conectada nos terminais do circuito secundário (Ω).

ENSAIO À VAZIO

B – OBJETIVO

O ensaio à vazio de transformadores tem como finalidade a


determinação de:

• Perdas no núcleo (PH + PF)


• Corrente à vazio (Io)
• Relação de transformação (KT)
• Impedância do ramo magnetizante (Zm)

PERDAS NO NÚCLEO (PO)

O fluxo principal estabelecido no circuito magnético é


acompanhado dos efeitos conhecidos por histerese e correntes parasitas de
Foucault.

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OBS.: O fluxo magnético na condição de carga ou à vazio é praticamente o


mesmo.

As perdas por histerese são dadas por:

PH = Ks . B1,6 . f
Em que:

PH = perdas por histerese em watts por quilograma de núcleo


Ks = coeficiente de Steimmetz (depende do material)
f = freqüência em Hz
B = indução (valor máximo) no núcleo.

Estando o núcleo sujeito a um fluxo alternado, nele serão induzidas


forças eletromotrizes com o conseqüente aparecimento das correntes de
Foucault. O produto da resistência do circuito correspondente pelo quadrado
da corrente significa um consumo de potência.
As perdas por correntes parasitas de Foucault são dadas por:

PF = 2,2 f2 B2 d2 10-3

Em que:

PF = perdas por correntes parasitas em watts por quilograma de


núcleo
f = freqüência em Hz
B = indução máxima em Wb/m2
d = espessura da chapa em mm

Somando as duas perdas analisadas, obtemos as perdas totais no


núcleo (Po)

Po = PF + PH

CORRENTE À VAZIO

É a corrente absorvida pelo primário para suprir as perdas e para


produzir o fluxo magnético. Sua ordem de grandeza é em torno de 5% da
corrente nominal de enrolamento.
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RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO (KT)

É a proporção que existe entre tensão do primário e do secundário.

E1 N1 V1
KT = = ≅
E 2 N 2 V2

IMPEDÂNCIA DO RAMO MAGNETIZANTE (Zm)

O ramo magnetizante é formado por uma resistência Rm


(relacionada com as perdas no núcleo) e por uma reatância Xm (relacionada
com a produção do fluxo principal).
Para o cálculo de Rm e Xm considera-se um dos circuitos a seguir:

Figura 6.2 Figura 6.3

Po E1
R ms = ; Z ms = ; X ms = Z 2ms − R 2ms
I o2 Io

 P 
θ o = cos −1  o  I op = I o cos θ o I oq = I o sen θ o
 Vo I o 

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V1 V
R mp = ; X mp =
I op I oq

NOTA: O módulo da impedância do ramo magnetizante é muito maior que o


módulo da impedância dos enrolamentos primário ou secundário.

Zm >> Z1 ; Zm >> Z2

C – EXECUÇÃO DO ENSAIO

I) Material Necessário:

• 1 transformador 1∅
• 1 varivolt 1∅
• 1 voltímetro
• 1 amperímetro
• 1 wattímetro
• cabos para conexões

II) Preparação

Registrar os dados de placa do transformador:

VN(BT) = ____________ (V) VN(AT) = ___________(V)


IN(BT) = ____________ (A) IN(AT) = ___________(A)
SN = ____________ (KVA) f = __________(Hz)

III) Montagem:

Ligar o transformador a uma fonte de tensão, alimentando-o pelo


lado de baixa e deixando o lado de alta tensão em aberto, conforme a figura a
seguir:

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Figura 6.4

Para a tensão e freqüência nominais anote:


V = ___________________(V)
Io = ___________________(A)
Po = ___________________(W)

D – ANÁLISE

I) Determinar a relação de transformação


a – com os valores de ensaio
b – com os dados de placa

II) Determinar a corrente à vazio em porcentagem da corrente nominal.

III) Determinar os parâmetros do ramo magnetizante utilizando as


representações série e paralela.

E – BIBLIOGRAFIA

FITZGERALD, A.E. – Máquinas Elétricas


KOSOW, Irving, L. – Máquinas Elétricas e Transformadores
FALCONE, A.G. – Eletromecânica
OLIVEIRA, J.C. – Transformadores Teoria em Ensaios

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F – QUESTIONÁRIO

1) Qual enrolamento (AT ou BT) é normalmente utilizado para a execução do


ensaio à vazio ? Justifique.

2) Porque as perdas no cobre podem ser despresadas no ensaio à vazio ?

3) Analisar o problema das perdas se um trafo com freqüência nominal de 50


Hz trabalha com 60 Hz.

4) Caso o ensaio fosse realizado com um transformador trifásico que


alterações seriam necessárias ?

5) Porque a laminação do núcleo dos transformadores reduz as perdas por


correntes parasitas (Foucaut) ?

6) Pesquise informações sobre a corrente transitória de magnetização


(INRUSH).

7) Desenhe o circuito equivalente do transformador quando este opera à vazio


e justifique o desprezo da impedância primária para o cálculo da
impedância do ramo magnetizante.

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7 – ENSAIO EM CURTO-CIRCUITO

A – INTRODUÇÃO

Seja o circuito equivalente de um trafo monofásico (referido


primário).

Figura 7.1

Caso apliquemos um curto-circuito no secundário serão nulos:


• A tensão terminal secundária (V2 = 0)
• A impedância de carga (Zcarga = 0)

Além disso, considerando que Vcc é baixo (da ordem de 10% de Vn),
a indução no núcleo reduz-se na mesma proporção, consequentemente as
perdas por histerese (PH α B1,6) e as perdas por corrente de Foucaut (PF α B2)
podem ser despresadas.
O circuito equivalente para o ensaio em curto então fica:

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Figura 7.2
onde: R = r1 + r’2 X = x1 + x’2

Vcc = Tensão aplicada ao primário, quando o secundário está em curto-


circuito, e que faz circular a corrente nominal do enrolamento
primário.

Para a realização do ensaio faz-se necessário circular a corrente


nominal do transformador, portanto é aconselhável executar o ensaio no
enrolamento de AT que possui uma menor corrente nominal. Assim, os
instrumentos de medição serão ligados no enrolamento de AT e curto
circuitaremos o enrolamento de BT.

B – OBJETIVO

O ensaio em curto-circuito permite a determinação de:


• Perdas no cobre
• Queda de tensão interna
• Impedância, resistência e reatância percentuais

B.1 – PERDAS NO COBRE (Pj)

A corrente que circula no transformador depende da carga


alimentada pelo mesmo. As perdas nos enrolamentos, que são por efeito
joule, podem ser expressas por:

Pj = r1I12 + r2 I 22 = R 1I12 = R 2 I 22

onde: R 1 = r1 + r2′ R 2 = r1′ + r2

Como as perdas nos enrolamentos são proporcionais ao quadrado da


corrente circulante, torna-se necessário estabelecer um ponto de operação a
fim de caracterizar as perdas no cobre. Esse ponto de operação corresponde à
corrente nominal.

B.2 – QUEDA DE TENSÃO INTERNA (∆V)

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A queda da tensão interna referida à AT, conforme o circuito


equivalente simplificado é dada por: ∆V = Z1 I1.
Pode-se afirmar que, ao fechar o secundário em curto-circuito, a tensão
aplicada ao primário será a própria queda de tensão procurada. Naturalmente,
sendo a queda de tensão função da corrente, isso força a especificação do
ponto de operação do transformador que, como anteriormente, corresponderá
ao nominal.

B.3 – IMPEDÂNCIA, RESISTÊNCIA E REATÂNCIA PERCENTUAIS


(Z%, R%, X%)

Um inconveniente do circuito equivalente do transformador reside


no fato de que as grandezas elétricas são numericamente diferentes caso o
circuito seja referido ao primário ou secundário. Tendo em vista o grande
número de transformadores presentes nas redes elétricas e objetivando
contornar as dificuldades de cálculo pode-se processar os estudos através de
uma alteração de unidades, que na verdade transforma todas as grandezas em
adimensionais conforme detalhado a seguir:

Pj
R=
I12cc

R1 I I
R% = .100 = R 1 . 1n .100 = R 2 . 2 n .100
Z base V1n V2 n

Se I1cc = I1n ⇒ R% = Pjm/sm . 100

V1cc
Z1 =
I1cc

Z1 I I
Z% = .100 = Z1 . 1n .100 = Z 2 . 2 n .100
Z base V1n V2 n

Se I1cc = I1n

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V1cc
Z% = n
.100
V1n

X1 = Z12 − R 12 X% = Z% 2 − R % 2

Caso o teste tenha sido feito com I1cc ≠ I1n podemos obter a seguinte
correção:

V1cc V1ccn I 1n
Z1 = = ⇒ V1ccn = V1cc .
I1cc I 1n I1cc

P1cc = R 1I12cc [1]


2
I 
⇒ Pjn ≅ P1ccn = P1cc  1n 
 I1cc 
P1ccn = R 1I12n [2]

C – CORREÇÃO DO VALOR DA RESISTÊNCIA

Durante o ensaio, os enrolamentos estão à temperatura ambiente (θ


A), e não há tempo suficiente para o aquecimento do transformador. Como se
sabe a resistência varia com a temperatura. Torna-se necessário, portanto, a
correção do valor calculado de R.
Corrige-se para 75oC no caso de trafos de classe de temperatura 105o
a 130oC.
Corrige-se para 115oC no caso de trafos de classe de temperatura
155o a 180oC.
A correção é feita através da seguinte fórmula:

R % θF = K.R% θA Z% θA = (R%θF) 2 + ( X%) 2

1 / α θF
K=
1/α θA

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onde:

θF = temperatura final (oC)


θA = temperatura ambiente (oC)
1/α = 225 para o alumínio
1/α = 234, 5 para o cobre

D – PREPARAÇÃO DO ENSAIO

D.1 – REGISTRAR OS DADOS DE PLACA DO TRAFO A SER


ENSAIADO

SN = _______________ KVA f = ______________ Hz


V1 = _______________ V V2 = ______________ V
I1 = _______________ A I2 = ______________ A

D.2 – MATERIAL NECESSÁRIO

• 1 transformador monofásico
• 1 transformador variador de tensão monofásico (Varivolt)
• 1 amperímetro
• 1 voltímetro
• 1 wattímetro
• cabos para conexões

E – EXCUÇÃO DO ENSAIO

Ligar o trafo à fonte de tensão, alimentando o lado de AT e curto-


circuitando o lado de BT conforme o esquema a seguir:

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Figura 7.3

Após conectar os equipamentos conforme o esquema acima,


fazemos circular corrente nominal no trafo. Para tal aumenta-se
cuidadosamente o nível de tensão até que Icc = I1n.
Caso não seja possível circular a corrente nominal do trafo, veja a
fórmula de correção apresentada no ítem B.3.
A potência medida pelo wattímetro (Pcc) corresponde
aproximadamente à potência dissipada nos enrolamentos.
A tensão medida pelo voltímetro (Vcc) corresponde
aproximadamente à queda de tensão interna.

F – ANÁLISE

1. Calcule R1, X1, Z1


2. Calcule R%, X%, Z%
3. Corrija a impedância para a temperatura de operação do transformador
ensaiado
4. Calcule Vcc%

G – BIBLIOGRAFIA

FITZGERALD, A.E. – Máquinas Elétricas


FALCONE, A.G. – Eletromecânica
KOSOW, Irving, L. – Máquinas Elétricas e Transformadores
OLIVEIRA, J.C. – Transformadores Teoria e Ensaios

H – QUESTIONÁRIO

1) Justifique porque normalmente se utiliza o enrolamento de AT para a


execução do ensaio em curto-circuito.

2) Qual a vantagem e desvantagem de um trafo que tenha grande Vcc em


sistemas elétricos ?

3) Durante o ensaio em curto-circuito, o que ocorre com a indução no núcleo


do transformador ? Justificar.
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4) Durante a realização do ensaio em curto-circuito ocorrem as chamadas


perdas adicionais. Pesquise e apresente comentários sobre esse tipo de
perdas.

5) Ao ensaiar transformadores trifásicos, que alterações são introduzidas no


procedimento de cálculo dos parâmetros de transformadores ?
(Parâmetros de excitação e dispersão).

6) Pesquise e apresente informações sobre a “Capabilidade” dos


transformadores.

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