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I Enfermeiro no Hospital de
Resumo
S. Teotónio - Viseu. Tendo como base os programas de educação para a saúde e os hábitos alimentares dos adolescentes,
II Professor Doutor Paulo tentámos, com este estudo, identificar e relacionar os conhecimentos e comportamentos alimentares dos
Moreira adolescentes de uma Escola Promotora de Saúde do Concelho de Viseu. Pretendemos, ainda, aferir a
importância e responsabilidade atribuída pelos adolescentes aos hábitos alimentares e saber se existe
alguma relação destes hábitos com os hábitos familiares e condições socio-económicas.
E-mail:
Os resultados do nosso estudo foram baseados nas entrevistas que efectuámos a 14 adolescentes de 16
jorgepaulo@netvisao.pt
anos, à professora responsável pelo Programa de Promoção e Educação para a Saúde e à Directora do
Centro de Saúde ligado à escola.
Como instrumento de colheita de dados utilizámos a entrevista semi-estruturada e a consequente análise
de conteúdo. Desta análise realçam-se os seguintes resultados:
- os entrevistados têm práticas alimentares incorrectas;
- sabem o que é uma alimentação saudável mas não a praticam, mesmo sabendo os perigos que correm
em termos de saúde;
- não atribuem muita importância à imagem corporal;
- salientam o sabor como factor determinante na escolha dos alimentos independentemente de serem
pouco saudáveis;
- afirmam mudar, radicalmente, o tipo de alimentação, se existir, uma ameaça para a sua saúde ou a
conselho médico;
- atribuem alguma responsabilidade aos pais pelos seus hábitos alimentares;
- é necessário um maior empenho por parte dos órgãos de gestão da escola e do Centro de Saúde, no
sentido da promoção da saúde nas escolas.
Key Words:
Promoção da saúde, alimentação saudável, hábitos alimentares.
Abstract
Based on education programmes for health and in food habits in young people, we want to identify and
relate/compare the knowledge and food habits of students in a school from Viseu that promotes health.
It’s our intention too, to assess the importance and responsibility given by adolescents to food habits and
their family’s and these with social-economic conditions.
The results of this study were based on interviews made to fourteen students aged sixteen years old, to the
teacher responsible for the programme for health and to the head of a Health Centre in the area of the
school.
We used the semi-structured interview and then analysed the content. From this analysis we reached these
conclusions:
- they have bad food habits;
- they are aware of what healthy food habits are, but they don’t practice healthy food habits, even though
they understand how dangerous it can be;
- they don’t give much importance to their image/appearance;
- they point out taste as being a decisive factor in choosing food, despite its bad influence in their health;
Key Words:
Promotion health, healthy food, food habits.
INTRODUÇÃO
Aprender, desde cedo, a apreciar os bons alimentos e a distinguir os que fazem bem dos que fazem mal, é
sem dúvida uma maneira de formar adultos autónomos e capazes de conseguirem gerir a sua saúde, através
da adopção de comportamentos alimentares adequados. Neste âmbito, surgiu na década de 90 o programa
Escolas Promotoras de Saúde (EPS), que foi implementado pela Organização Mundial de Saúde.
A evolução da sociedade, a par do progresso, provocou alterações nos modos e estilos de vida das pessoas.
Tornaram-se notórios, uma menor parcela de esforço físico, um aumento do sedentarismo e hábitos alimen-
tares inadequados, sendo estes factores responsáveis pelo aumento das doenças ditas hipocinéticas, doenças
metabólicas (obesidade, osteoporose e diabetes), hipertensão arterial e doenças cardiovasculares1, 2.
Entretanto, outro dado muito importante surgiu. A maior causa de mortalidade está relacionada com o estilo
de vida. Os factores de risco para as doenças cardiovasculares incluem o hábito de fumar, a hipo actividade
física e uma dieta rica em gorduras saturadas2, 3.
As crianças e jovens em idade escolar vão assumindo comportamentos, sobretudo ao nível do estilo de vida
(actividade física e hábitos alimentares) que se prolongam ao longo da sua vida4. Grande parte dos factores
prejudiciais ligados ao estilo de vida são adquiridos em idades muito jovens, o que quer dizer que se conse-
guirmos alterar esta situação estaremos a contribuir para uma inversão das tendências5.
A alimentação das crianças depende, principalmente, dos adultos, embora esse processo decresça à medida
que estas vão desenvolvendo os seus próprios processos de autonomia6.
Ao longo da vida, vários tipos de influência vão determinando as preferências alimentares, tendo a cultura um
papel importante. A escola afirma-se como espaço privilegiado do desenvolvimento do processo educativo e
da Promoção da Saúde das crianças, adolescentes e jovens, pois é lá que consomem muitos alimentos, sendo
o segundo local mais usado para comer depois da habitação6.
Há evidência científica7, 8 de que o aconselhamento efectuado por pessoal especializado e treinado em nutri-
ção é eficaz. As intervenções de profissionais, ao nível da saúde e, concretamente, sobre a nutrição infantil,
terão implicações educacionais benéficas. Esta análise sugere que as intervenções apropriadas, a nível da
saúde e da nutrição nas escolas, são passíveis de se tornar um investimento com elevada percentagem de
sucesso9, 10.
A escola, junto das crianças e dos jovens, deve promover estilos de vida saudáveis. O objectivo, relativamente
à alimentação, é fornecer aos alunos a capacidade de tomarem decisões válidas na escolha dos alimentos que
permitam a aquisição de hábitos alimentares saudáveis.
Tendo como base o programa EPS e os hábitos alimentares dos adolescentes, tentámos com este estudo
identificar e relacionar os conhecimentos e comportamentos alimentares dos adolescentes de uma EPS do
Concelho de Viseu. Pretendemos, ainda, aferir a importância e responsabilidade atribuída pelos adolescentes
aos hábitos alimentares e saber se existe alguma relação destes com os hábitos familiares e condições socio-
económicas.
Os resultados do nosso estudo foram baseados nas entrevistas que efectuámos a 14 adolescentes de 16 anos,
da Escola do Ensino Básico do 2º e 3º ciclos do Viso, que integra alunos dos 10 aos 17 anos.
Como instrumento de colheita de dados utilizámos a entrevista semi-estruturada.
Problema de Investigação
É entre os jovens que, com maior facilidade, se conseguem identificar hábitos desviantes, sendo também a
melhor altura para se poderem corrigir. Esta é uma etapa da vida em que se encontram num processo de
configuração da sua personalidade, tornando-se o momento propício para se poderem trabalhar aspectos
pessoais e sociais facilitadores da adopção de um estilo de vida saudável5.
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
As práticas alimentares referidas pelos jovens não são as mais correctas. Na nossa opinião, é um dado ad-
quirido que estes adolescentes têm alguns conhecimentos do que é uma alimentação saudável e do que
é necessário fazer para a praticar, quer individualmente, quer em família. Sabem os perigos que correm ao
praticarem uma alimentação incorrecta e, no entanto, por não se sentirem ameaçados, nem atribuírem, nesta
faixa etária, muita importância à imagem corporal, continuam a praticá-la, dando mais importância ao paladar
dos alimentos pouco saudáveis que consomem.
A maioria dos nossos entrevistados tem a noção de que fazem uma alimentação pouco saudável e consideram
que os restantes jovens também fazem um tipo de alimentação semelhante. Apesar de terem conhecimentos
sobre o que deve ser uma alimentação saudável, a maioria afirmou, peremptoriamente, que apenas mudaria
o tipo de alimentação mediante a ameaça de um problema de saúde ou sob conselho médico, sem que tives-
sem manifestado quaisquer preocupações com as consequências nefastas que daí pudessem advir.
Estas concepções podem ser explicadas à luz da idade que têm, pois consideramos que, com a sua maturação
cronológica, haverá alteração das mesmas. Por outro lado, muitos dos jovens entrevistados, atribuem alguma
parte da responsabilidade da prática de uma alimentação incorrecta aos pais, o que nos leva a ponderar que
a família tem de assumir similarmente a sua responsabilidade neste âmbito.
Para a compreensão e adopção de hábitos alimentares saudáveis é necessário considerar não só os factores
individuais, como as atitudes, interesses, informação, educação, mas também factores do envolvimento no
grupo familiar dos jovens, grupo social, ambiente escolar e comunidade onde vivem. Isto é, factores de or-
dem social, cultural e os ligados ao nicho ecológico dos jovens. Tomámos em consideração estes factores,
dado que estão em permanente interacção e moldam os seus hábitos alimentares.
Assim sendo, é necessário que se criem redes de comunicação directa entre, por exemplo, o CS, a escola e as
famílias, a fim de se promoverem hábitos alimentares saudáveis, não só a nível individual, mas também, e pre-
ferencialmente, a nível sistémico. Esta será uma das medidas que se poderá tomar para contrariar a distância
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