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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL

O DIREITO INTERNACIONAL
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Embora não se repitam na ordem internacional as


mesmas condições de coerção existentes na ordem
interna dos diferentes estados, as relações entre
eles, ou entre eles e nacionais de outros estados, ou
ainda entre nacionais de estados diferentes, se
processam segundo princípios e normas mais ou
menos aceitos universalmente e, em geral,
obedecidos.

Denomina-se direito internacional o conjunto


desses princípios e normas. Será público, quando se
referir aos direitos e deveres dos próprios estados
em suas relações; e privado, quando tratar da
aplicação, a particulares sujeitos a um determinado
estado, de leis civis, comerciais ou penais emanadas
de outro estado.

Direito Internacional Público

Conceito e objeto. Deve-se conceituar o


direito internacional público como a disciplina
jurídica que estuda o complexo normativo das
relações de direito público externo. As relações
interestatais não constituem, contudo, o único
objeto do direito internacional público: além dos
estados, cuja personalidade jurídica internacional
resulta do reconhecimento pelos demais estados,
outras entidades são modernamente admitidas
como pessoas internacionais, ou seja, como capazes
de ter direitos e assumir obrigações na ordem
internacional.

Tais pessoas, ou são coletividades criadas


artificialmente pelos próprios estados - o que lhes
empresta um reconhecimento implícito - como as
Nações Unidas, a Organização dos Estados
Americanos (OEA) e entidades congêneres, ou são
de criação particular, como a Cruz Vermelha
Internacional, a Ordem de Malta e outras
associações reconhecidas, de âmbito internacional.

Alguns tratadistas reconhecem no próprio


indivíduo personalidade jurídica internacional, vale
dizer, capacidade para ser sujeito de direitos e
obrigações internacionais, em determinadas
situações. Entre estas cita Hildebrando Accioly a do
proprietário do navio ou da carga, perante o tribunal
de presas; as relações entre o pirata e o estado que
o persiga; as condições de imunidade do agente
diplomático; e a situação dos apátridas. Há ainda
casos especiais de personalidade internacional de
fato, como o das comunidades beligerantes,
reconhecidas como tais, cuja atuação incide no
âmbito do direito internacional público.

Fundamento. Dada a fluidez e a


peculiaridade das normas jurídicas que regem as
relações internacionais, são numerosas as teorias
voltadas para caracterizar o fundamento em que se
estriba esse ramo do direito público e ao qual se
deva atribuir sua existência. Procurou-se sua razão
de ser no próprio direito natural, seja de origem
divina, seja como concepção filosófica; ou então no
simples consentimento dos estados soberanos, na
imposição dos mais poderosos ou no interesse da
própria convivência dos povos.

Modernamente têm curso, no campo do


direito internacional público, teorias que, se no
fundo não diferem muito das do passado, lhe dão,
contudo, nova feição. Assim, para os partidários da
renovada doutrina do direito natural - que
procuram, já agora, construí-la sobre dados da
própria realidade social - o ordenamento jurídico
internacional, tal como o interno, repousaria no
dever moral de reparar as lesões injustificadas, e no
respeito ao compromisso livremente assumido.
Esses princípios, que não estariam sujeitos à
vontade arbitrária dos estados, se firmariam na
idéia de justiça inerente à razão humana. Outros,
apoiados na velha regra de que os tratados devem
ser cumpridos (pacta sunt servanda), limitam nessa
idéia o fundamento do direito internacional público.
Mas não só as obrigações internacionais tendem a
se estender além dos limites do simplesmente
ajustado entre estados soberanos, como atrás de tal
regra o que se impõe é um princípio ético de justiça
internacional, acima da vontade coletiva. Outros
ainda, como o jurista francês Léon Duguit, fundam a
validez da ordem internacional não na vontade dos
estados, mas no princípio da solidariedade, sem a
qual não sobreviveria a própria comunidade
humana.

Há, finalmente, os que, opondo-se à teoria


da autolimitação - pela qual, reconhecida a primazia
do direito público interno, cada estado pode não só
submeter-se ao convencionado com outros estados
como também anular unilateralmente o que haja
ajustado - firmam o princípio do primado da ordem
internacional sobre a nacional. Para os seguidores
dessa corrente, o sistema jurídico internacional
constitui uma ordem normativa superior a todas as
ordens estatais particulares, integrando-as numa
comunidade jurídica universal. Tem-se como fora de
dúvida que, se esse não é ainda o quadro atual,
para ele tende o mundo contemporâneo, tão
entrelaçados vão-se tornando seus interesses vitais,
e tão estreitas se fazem as condições da
convivência internacional.

Contra a existência de um ordenamento


jurídico internacional verdadeiro, costuma-se objetar
com a precariedade das sanções existentes.
Realmente, se é elemento característico do direito
sua coatividade potencial específica - que se
manifesta na eventual coação imposta ao
transgressor da regra por um poder que lhe é
superior - não é menos certo que no campo das
relações internacionais se vai firmando, cada vez
mais, um sistema coercitivo atuante e eficaz, além
das sanções de caráter puramente moral,
decorrentes da opinião pública do mundo civilizado.

Fontes. Do ponto de vista filosófico e


racional, constituem fontes do direito internacional
público os princípios gerais do direito. Nesse
sentido, a fonte se confunde com o próprio
fundamento do sistema jurídico que rege as
relações internacionais. Em sentido formal, porém, é
fonte positiva das regras que integram o aludido
sistema o acordo das vontades dos estados,
expresso nos tratados ou convenções
internacionais.

O tratado propriamente dito, que


representa na ordem internacional o que é o
contrato na ordem interna privada, é o ajuste bi ou
plurilateral que só vincula juridicamente as partes
contratadas, sejam estados ou entidades capazes
de se obrigarem na ordem internacional, e se
destina a conciliar vontades divergentes, fazendo-as
convergir numa solução jurídica comum. O tratado-
convenção, ou lei internacional, é o ajuste
multilateral, geralmente admitindo adesões, por
força do qual vários estados elaboram e promulgam
normas de conduta internacional para o futuro. São
essas convenções, que integram princípios e regras
já trabalhados pelos doutrinadores ou costumes
estabelecidos, a fonte direta e mais importante do
direito internacional público.

Quanto ao costume, mesmo o ainda não


consubstanciado em convenções é admitido como
fonte direta do ordenamento jurídico internacional,
se resulta de prática geral e uniforme, consagrada
por uso antigo e repetido, aceito pela consciência
universal. Indicam-se igualmente, como fonte formal
do direito público internacional, em certos casos, as
próprias decisões de órgãos internacionais
encarregados de dirimir controvérsias, como a Corte
Permanente de Justiça Internacional, órgão das
Nações Unidas, com sede em Haia. Tal
jurisprudência, contudo, não constitui propriamente
uma fonte de regras jurídicas, mas apenas um meio
idôneo de verificação de sua existência e validade.
Alguns autores de língua inglesa,
influenciados pelo próprio sistema doméstico, dão
grande ênfase aos precedentes, incluindo-os na
categoria de fonte do ordenamento jurídico
internacional. Isso revela, sem dúvida, uma
transposição do sistema do case law
(jurisprudência) para o âmbito do direito
internacional público. Dentro de certos limites e na
medida em que tal posição influi nas relações entre
os estados e entidades equiparadas, o precedente
se torna, senão fonte do sistema jurídico
internacional, pelo menos um poderoso argumento
para a aceitação de determinadas soluções.

Evolução histórica. Procuram alguns


autores ver no jus fetiale dos antigos romanos as
origens remotas de um sistema jurídico regulador
das relações entre os povos. Tal suposição, no
entanto, não parece certa, porque se tratava de um
conjunto de normas de caráter religioso,
unilateralmente estabelecidas, e porque se limitava
à fixação do ritual relativo à declaração de guerra,
ao reconhecimento de sua legitimidade e à
celebração da paz após a rendição ou a conquista.

Na Idade Média, embora desconhecido o


estado como hoje se concebe, mas por força das
necessidades de comércio,sobretudo o marítimo, os
povos cristãos estabeleceram regras, hoje
apontadas como as primeiras manifestações de um
ordenamento internacional. As leis de Rodes,
coligidas entre os anos 600 e 800, a Tabula
amalphitana, do século X, os Rôles d'Oléron, no
século XII, as Leges wisbuenses, de Gotland, e o
consulado do mar, nos séculos XIII ou XIV, e outras
pequenas codificações de menor importância,
constituíram um direito marítimo de caráter
internacional.

Só no Renascimento, contudo, com a


formação dos estados modernos e o
estabelecimento das relações diplomáticas, é que
realmente começa a existir o direito internacional
público. Sua evolução foi lenta, até que se iniciasse
o período orgânico, em meados do século XVI.
Alberico Gentili, com o De jure belli (1588), é o
precursor de Hugo Grotius, autor dos difundidos
tratados De jure belli ac pacis (1625) e Mare liberum
(1609), e de Samuel Pufendorf, com o De jure
naturae et gentium, os dois primeiros jusnaturalistas
e o último já representante das tendências
racionalistas da terceira fase do direito
internacional. Nessa última se destacam Richard
Zouche, professor em Oxford na primeira metade do
século XVII, e Cornelis van Bynkershoek, autor da
obra De dominio maris (1703). Seguiu-se uma fase
eclética, com Christian Wolf, Emmerich de Vattel e
Georg Friedrich von Martens. O final do século XVIII
coincidiu com a fase influenciada pelo utilitarismo
do jurista e filósofo inglês Jeremy Bentham, última
do período de integração do direito internacional.

A fase contemporânea do direito


internacional público corresponde a sua maior
sistematização e a uma imensa bibliografia. Os
critérios de suas linhas básicas de entendimento
são: (1) o critério jurídico da escola alemã, que se
extrema na escola austríaca, nas quais se
subestimam os aspectos filosóficos, políticos e
sociológicos do direito internacional público,
considerando-o mera disciplina normativa; (2) o
critério histórico-político, da chamada escola
continental européia, mais propriamente latina, e
que inclui a maioria dos autores ibero-americanos,
para a qual não são nítidas as distinções entre a
política e o direito; na mesma corrente pode ser
enquadrada a escola positivista italiana, cuja maior
criação foi, no século XIX, a teoria das
nacionalidades, sobre a qual se construiu a unidade
política da Itália; (3) o critério pragmático, da escola
anglo-americana, que, fiel ao sistema do case law,
dá grande relevância aos precedentes diplomáticos,
procurando mais as soluções práticas do que a
formulação de princípios._

Embora doutrinariamente se firme a tese


da universalidade do direito internacional público,
na prática existem vários sistemas jurídicos
internacionais particulares, dada a ocorrência de
diferentes agrupamentos e comunidades mundiais,
continentais e regionais, determinados por motivos
históricos, geográficos, econômicos ou políticos.

A imprecisão característica da maioria das


regras de direito internacional público deu causa,
em fins do século XVIII, a um movimento para sua
codificação, mediante a fixação por escrito de
disposições geralmente reconhecidas. Há poucos
documentos internacionais aos quais se atribui valor
de direito positivo. São, entre outros: o regulamento
de Viena, de 1815, sobre a hierarquia dos agentes
diplomáticos; a declaração de Paris (1856), sobre os
princípios jurídicos que regem a guerra no mar; e as
convenções de Haia, de 1899 e 1907. A título
individual ou a pedido de governos, eminentes
juristas, principalmente no século passado e no
começo do século XX, elaboraram planos de
codificação. Instituições jurídicas de grande
nomeada fizeram o mesmo, e organismos
internacionais também se têm ocupado ativamente
do assunto.

Direito Internacional Privado

A despeito de sua designação, o direito


internacional privado não tem nenhuma correlação
especial ou dependência em relação ao direito
internacional público. A maioria dos autores
reconhece mesmo a impropriedade da
denominação, só admitida porque consagrada pelo
uso, desde que foi proposta pelo jurista americano
Joseph Story em seu The Conflict of Laws (1834; O
conflito das leis).

Na verdade, não existe um sistema


supranacional para regular as relações de direito
privado entre indivíduos sujeitos a diferentes
ordenamentos nacionais. O que existe, como em
geral se admite, é um conjunto de princípios para a
determinação da lei aplicável a relações jurídicas
que possam incidir na regulação de dois ou mais
sistemas legais conflitantes, de estados soberanos
diversos ou de estados autônomos federados. Tais
conflitos de leis ocorrem com freqüência crescente,
dada a intensificação das relações entre pessoas de
todo o mundo, quer na atividade comercial, quer na
vida familiar, em conseqüência da solução de
problemas de validade de atos jurídicos praticados
sob o império de legislação diferente da do lugar
onde devem produzir efeito. Problemas semelhantes
podem surgir em relação às conseqüências penais
de atos ilícitos praticados sob jurisdição estatal
diferente.
Leis territoriais e extraterritoriais.
Normalmente, a legislação de um país disciplina as
relações jurídicas internas relativas a pessoas, bens,
obrigações e sucessões. No domínio do estado, as
leis locais são aplicadas pelo juiz e respeitadas por
todos que nele se encontram, com as exceções
aceitas pelo direito internacional público. São as
chamadas leis territoriais. A territorialidade das leis
é o princípio preponderante, como expressão da
soberania nacional. Se os estados vivessem em
absoluto isolamento, todas as leis teriam caráter
territorial. A existência de uma comunidade
internacional formada pelos estados leva, porém, a
relações extranacionais.

A partir principalmente do século XIII, a


territorialidade começou a perder seu caráter
absoluto. O comércio entre as cidades livres da
Itália se intensificou e surgiu o problema da
aplicação da lei a um comerciante de uma cidade,
que contratava com outro, de outra cidade. Nova
classificação de leis teve de ser adotada: territoriais
(ou locais) e extraterritoriais. As últimas constituem
o objeto principal do direito internacional privado, o
de aplicar leis estrangeiras e reconhecer atos
praticados no exterior.

O sistema jurídico de um estado


compreende, assim, normas internas propriamente
ditas, e normas internas que exigem aplicação de lei
estrangeira. Se, por exemplo, um brasileiro casa-se
no Brasil perante autoridade nacional, o casamento
(capacidade, impedimentos, celebração etc.) fica
submetido à legislação brasileira e somente a ela.
Quando contrai casamento com estrangeira
domiciliada no exterior, surge o problema da lei a
ser aplicada: a brasileira ou a alienígena. A questão
é de direito internacional privado.

Conflitos de leis. Havendo controvérsia


sobre a lei a ser aplicada, dois problemas podem
ocorrer na solução de um pleito: o primeiro é o de
se saber qual o juiz competente para decidir a
causa; o segundo é o da lei a ser aplicada. Por isso,
alguns autores falam em conflito de jurisdição e em
conflitos de leis, uns e outros a serem solucionados
pela autoridade judiciária nacional. Como o mesmo
problema poderá aparecer diante do judiciário de
mais de um estado, soluções diferentes ou opostas
poderão ser lavradas. A expressão "conflitos de leis"
tem, assim, dois aspectos: no primeiro, significa as
normas nacionais impropriamente ditas que
orientam o juiz na aplicação, quando for o caso, do
direito estrangeiro; no segundo, o conflito decorre
da divergência das leis sobre competência ou
jurisdição. Os conflitos de leis que surgem quando
dois ou mais estados dispõem de maneira diversa
sobre a lei a ser aplicada são insolúveis. Terá
eficácia, em cada um dos estados, a sentença
proferida.

Tome-se como exemplo o fato de o direito


brasileiro estabelecer que só à autoridade judiciária
brasileira compete conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil. Intentada uma ação no
exterior, sobre imóvel situado no Brasil, a sentença
não será exeqüível perante a justiça brasileira. A
controvérsia poderá girar simplesmente em torno do
preceito de competência, ou da natureza do bem,
considerado móvel no exterior e imóvel no Brasil, e
vice-versa.

Objeto. A rigor, o direito internacional


privado tem por objeto estabelecer as regras, em
cada país, de aplicação do direito estrangeiro e de
reconhecimento do ato praticado no exterior.
Entretanto, parte da doutrina é de parecer que ele
compreende ainda as regras do chamado direito
convencional (tratados e convenções que dispõem
sobre a solução dos conflitos de leis das partes
contratantes). A tendência moderna é a harmonia,
ou seja, a adoção, por tratados e convenções, das
mesmas regras. O sistema tem sido mais bem-
aceito nos países que para reger o direito da família
adotam a lei nacional, não a lei domiciliar das
pessoas.

Como o direito uniforme é aplicado pelos


juízes em cada estado contratante, e não por
tribunais supernacionais, pode ocorrer divergência
jurisprudencial, a ponto de modificar a essência das
próprias normas do tratado na sua aplicação.

Em sua essência, o direito internacional


privado tem em vista estabelecer os limites da
aplicação do direito estrangeiro. Entretanto, em
muitos países, como o Brasil, incluem-se no seu
objeto a nacionalidade e a condição jurídica do
estrangeiro. É verdade que, na aplicação de uma lei,
o juiz tem de apreciar às vezes a nacionalidade das
partes, ou as regras restritivas ou proibitivas da
condição do estrangeiro. Esses, no entanto, são
pressupostos do direito internacional privado, e não
elementos do seu objeto. Ramo do direito interno,
suas regras têm relevância internacional. E mesmo
o direito das convenções faz parte, de certa forma,
do direito interno.

Fontes. As principais fontes do direito


internacional privado são internas, submetendo-se
ao critério hierárquico do sistema nacional. A
constituição é a lei suprema, e as regras sobre
direito internacional privado, nacionalidade e
condição do estrangeiro que nela se contêm são
imodificáveis pela legislação ordinária.

No Brasil, as regras ordinárias do direito


internacional privado encontram-se sobretudo na
Lei de Introdução ao Código Civil (decreto-lei 4.457,
de 4 de setembro de 1942), que não é parte
integrante dele, mas diploma que, na numeração
autônoma de seus artigos, compreende matéria de
direito público, de hermenêutica e especialmente de
conflito de leis. Nos diferentes códigos (civil,
processual, penal, de processo civil, comercial)
encontram-se dispositivos sobre a matéria. Fonte
importante de natureza externa é o código de
direito internacional privado aprovado na
Convenção de Havana, de 1928, conhecido como
Código Bustamante em homenagem ao seu autor, o
jurista cubano Antonio Sánchez Bustamante. O texto
foi ratificado no Brasil por decreto legislativo, em
janeiro de 1929.

A aplicação do direito estrangeiro não se


faz por ato arbitrário do juiz, mas em decorrência de
mandamento legal da legislação interna. Reputa-se
a norma estrangeira com força coativa igual à
brasileira. As partes, em princípio, não podem
renunciar ao seu império. Sua obrigatoriedade é de
tal natureza que o julgador tem o dever de aplicá-la
mesmo quando não invocada pelas partes.

Prova. Embora se diga, em meio a


divergências doutrinárias, que o direito estrangeiro
competente se integra na ordem brasileira, não
decorre da afirmativa a conclusão de que se aplica o
princípio jura novit curia. O juiz pode dispensar a
prova do direito estrangeiro, se o conhecer, embora
daí possa decorrer o inconveniente de, no
julgamento coletivo, haver necessidade de se provar
sua existência. Os tratados e convenções
internacionais celebrados pelo Brasil se equiparam
ao direito federal, dispensada a parte do ônus da
prova do texto e da vigência. Aquele que alegar
direito estrangeiro deverá provar-lhe o teor e a
vigência, salvo se o juiz dispensar a prova.

O meio mais próprio de prova é o da


certidão passada pela autoridade consular
estrangeira, contendo o texto legal e sua vigência,
ou uma certidão de autoridade estrangeira
autenticada pelo cônsul. Para certos autores, no
caso de dificuldades decorrentes da ausência de
relações diplomáticas, é lícito recorrer a pareceres
de doutos e à doutrina. O ônus da prova do direito
estrangeiro cabe a quem o alega. Se nenhuma das
partes postular a aplicação de norma que possa
resultar em solução segundo o direito alienígena, ao
autor compete o ônus da prova.
ONU

Conheça a ONU

A Organização das Nações Unidas é uma instituição internacional formada por 191
Estados soberanos, fundada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança
no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, promover progresso social,
melhores padrões de vida e direitos humanos. Os membros são unidos em torno da
Carta da ONU, um tratado internacional que enuncia os direitos e deveres dos membros
da comunidade internacional.

As Nações Unidas são constituídas por seis órgãos principais: a Assembléia Geral, o
Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal
Internacional de Justiça e o Secretariado. Todos eles estão situados na sede da ONU, em
Nova York, com exceção do Tribunal, que fica em Haia, na Holanda.

Ligados à ONU há organismos especializados que trabalham em áreas tão diversas como
saúde, agricultura, aviação civil, meteorologia e trabalho – por exemplo: OMS
(Organização Mundial da Saúde), OIT (Organização Internacional do Trabalho), Banco
Mundial e FMI (Fundo Monetário Internacional). Estes organismos especializados,
juntamente com as Nações Unidas e outros programas e fundos (tais como o Fundo das
Nações Unidas para a Infância, UNICEF), compõem o Sistema das Nações Unidas.

História

A Organização das Nações Unidas (ONU) nasceu


oficialmente em 24 de outubro de 1945, data de
promulgação da Carta das Nações Unidas, que é
uma espécie de Constituição da entidade,
assinada na época por 51 países, entre eles o
Brasil. Criada logo após a 2ª Guerra Mundial, o foco da atuação da ONU é a manutenção
da paz e do desenvolvimento em todos os países do mundo.

Bem antes da fundação da ONU já haviam surgido outras organizações internacionais,


relacionadas a temas específicos. A União Internacional de Telecomunicações (UIT)
, na época chamada de União Internacional de Telégrafos, foi fundada em 1865; nove
anos mais tarde, em 1874, surgiu a União Postal Universal (UPU) . Hoje, ambas são
agências especializadas da ONU.

Em 1899, realizou-se na cidade de Haia, na


Holanda, a Conferência Internacional da Paz,
para elaborar instrumentos que pudessem
resolver crises pacificamente, evitar guerras e
desenvolver regras internacionais de convivência entre os países. Com objetivos
semelhantes, foi criada a Liga das Nações, estabelecida em 1919, no Tratado de
Versalhes, na França. Considerada a precursora da ONU, tinha como missão “promover a
cooperação internacional e alcançar a paz e a segurança”. A entidade encerrou as
atividades depois de falhar em evitar a Segunda Guerra Mundial.

A expressão “Nações Unidas”, cunhada pelo presidente norte-americano Franklin Delano


Roosevelt (1882-1945), foi utilizada pela primeira vez na “Declaração das Nações
Unidas”, em 1º de janeiro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, quando
representantes de 26 nações expressaram a intenção de continuar lutando contra os
países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália). Dois anos depois, líderes da China, da União
Soviética, do Reino Unido e dos Estados Unidos esboçaram uma proposta de estatuto
para uma organização internacional de países.

Antes mesmo de ser constituída oficialmente a


organização, realizou-se na cidade de Bretton
Conferência de Bretton Woods Woods, nos Estado de New Hampshire, nos EUA,
(EUA), em 01/07/1944 a Conferência Monetária e Financeira das Nações
Unidas, em 01/07/1944, tendo em vista as
questões econômicas relacionadas ao final da Segunda Guerra Mundial e ao pós-guerra.
Na mesma linha, realizou-se em Washington, em 21/08/1944, a Conferência para a
Organização da Paz no Mundo do Pós-Guerra.

Em 1945, representantes de 50 países reuniram-


se em San Francisco, nos Estados Unidos, na Conferência de San Francisco
Conferência das Nações Unidas para uma (EUA), em 26/06/1945
Organização Internacional. No encontro, foi
elaborado um rascunho da Carta das Nações Unidas. A Carta foi assinada em 26 de
junho de 1945, e ratificada por 51 países em 24 de outubro de 1945.

A missão da ONU parte do pressuposto de que diversos problemas mundiais – como


pobreza, desemprego, degradação ambiental, criminalidade, Aids, migração e tráfico de
drogas – podem ser mais facilmente combatidos
por meio de uma cooperação internacional. As
ações para a redução da desigualdade global
também podem ser otimizadas sob uma
coordenação independente e de âmbito mundial, como as Nações Unidas.

Atualmente, as Nações Unidas e suas agências investem, em forma de empréstimo ou


doações, cerca de US$ 25 bilhões por ano em países em desenvolvimento. Esses
recursos destinam-se a proteção de refugiados, fornecimento de auxílio alimentar,
superação de efeitos causados por catástrofes naturais, combate a doenças, aumento da
produção de alimentos e da longevidade, recuperação econômica e estabilização dos
mercados financeiros. Além disso, a ONU ajuda a reforçar o regime democrático em
várias regiões, e já apoiou mais de 70 eleições nacionais. As Nações Unidas foram
catalisadoras e promotoras de um grande movimento de descolonização, que levou à
independência de mais de 80 países.

Órgãos da ONU

O Sistema das Nações Unidas é formado pela Secretaria das Nações Unidas, pelos
programas e fundos das Nações Unidas e pelos organismos especializados. Essas
entidades têm seus próprios pressupostos e órgãos de direção e estabelecem suas
próprias normas e diretrizes. Prestam asistencia técnica e outros tipos de ajuda prática
em quase todas as esferas de atividade económica e social.

Seguem-se em ordem alfabética os nomes dos órgãos do Sistema das Nações Unidas.

ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

AG – Assembléia Geral das Nações Unidas

AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica

BIRD – Banco Mundial (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento)

CCI – Centro de Comércio Internacional

CCPCJ – Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal

CDH – Comissão de Direitos Humanos

CDS – Comissão de Desenvolvimento Sustentável


CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe

CIJ – Corte Internacional de Justiça

CND – Comissão de Narcóticos

Comissão de Estatísticas

CPD – Comissão de População e Desenvolvimento

CS – Conselho de Segurança

CsocD – Comissão para o Desenvolvimento Social

CSW – Comissão sobre a Situação da Mulher

CTBTO – Comissão Preparatória da Organização para Proibição Total de Testes Nucleares

DAD – Departamento para os Assuntos de Desarmamento

DAP – Departamento de Assuntos Políticos

DESA – Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais

DGACM – Departamento da Assembléia Geral e Gestão de Conferências

DPKO – Departamento das Operações de Manutenção da Paz

ECA – Comissão Econômica para a África

ECE – Comissão Econômica para a Europa

ECOSOC – Conselho Econômico e Social

ESCAP – Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico

Escritório de Assuntos Legais

ESCWA – Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental

FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

FIDA – Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola

FMI – Fundo Monetário Internacional

Forças de Paz das Nações Unidas

ICAO – Organização da Aviação Civil Internacional

ICSID – Centro Internacional para a Solução de Disputas sobre Investimentos

ICTR – Tribunal Criminal Internacional para Ruanda

ICTY – Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia

IFC – Corporação Financeira Internacional

ILANUD – Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e


Tratamento do Delinqüente

IMO – Organização Marítima Internacional

INSTRAW – Instituto de Pesquisa e Treinamento para Promoção da Mulher

MIGA – Agência de Garantia de Investimentos Multilaterais

OCHA – Agência para a Coordenação de Assuntos Humanitários

OHRLLS – Escritório dos Países Menos Desenvolvidos, Países em Desenvolvimento


Cercados de Terras e Pequenos Estados-Ilha em Desenvolvimento

OIOS – Escritório de Investigações de Assuntos Internos

OIP – Escritório do Programa Petróleo por Comida no Iraque

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMC – Organização Mundial do Comércio

OMM – Organização Meteorológica Mundial

OMPI – Organização Mundial de Propriedade Intelectual

OMS – Organização Mundial da Saúde

OMT – Organização Mundial do Turismo

OPAQ – Organização para Proibição de Armas Químicas

PMA – Programa Mundial de Alimentação

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Secretaria Geral das Nações Unidas

UIT – União Internacional de Telecomunicações

UNAIDS – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids

UNCC – Comissão de Compensação das Nações Unidas

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

UNFPA – Fundo de População das Nações Unidas

UN-Habitat – Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos

UNIC – Centro de Informação das Nações Unidas

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNICRI – Instituto Interregional de Criminologia das Nações Unidas

UNIDIR – Instituto para Pesquisa do Desarmamento das Nações Unidas

UNIDO – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial

UNIFEM - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher

UNITAR – Programa das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa

UNMOVIC – Comissão de Monitoramento, Verificação e Inspeção

UNODC – Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes

UNOG – Escritório das Nações Unidas em Genebra

UNOPS – Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos

UNOV – Escritório das Nações Unidas em Viena

UNRISD –Instituto de Pesquisa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social

UNRWA – Agência das Nações Unidas para Ajuda aos Refugiados Palestinos
UNTSO — Organização de Supervisão de Trégua das Nações Unidas

UNU – Universidade das Nações Unidas

UNV – Programa Voluntários das Nações Unidas

UPU – União Postal Universal

UNSSC – Escola Superior de Quadros das Nações Unidas


OIT

Fundada em 1919 com o objetivo de promover a justiça social, a Organização Internacional do Trabalho
(OIT) é a única das Agências do Sistema das Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual os
representantes dos empregadores e dos trabalhadores têm os mesmos direitos que os do governo.

No Brasil, a OIT tem mantido representação desde 1950, com programas e atividades que têm refletido
os objetivos da Organização ao longo de sua história.

HISTÓRIA

OIT foi criada pela Conferência de Paz após a Primeira Guerra Mundial. A sua Constituição converteu-se
na Parte XIII do Tratado de Versalhes.

Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão a da Segunda Guerra Mundial, a OIT adotou a
Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração antecipou e serviu de modelo
para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Em 1969, em seu 50º aniversário, a Organização foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. Em seu
discurso, o presidente do Comitê do Prêmio Nobel afirmou que a OIT era "uma das raras criações
institucionais das quais a raça humana podia orgulhar-se".

Em 1998, após o fim da Guerra Fria, foi adotada a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos
Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento. O documento é uma reafirmação universal da obrigação de
respeitar, promover e tornar realidade os princípios refletidos nas Convenções fundamentais da OIT,
ainda que não tenham sido ratificados pelos Estados Membros.

Desde 1999, a OIT trabalha pela manutenção de seus valores e objetivos em prol de uma agenda social
que viabilize a continuidade do processo de globalização através de um equilíbrio entre objetivos de
eficiência econômica e de equidade social.

FUNDAMENTOS

A OIT funda-se no princípio de que a paz universal e permanente só pode basear-se na justiça social.
Fonte de importantes conquistas sociais que caracterizam a sociedade industrial, a OIT é a estrutura
internacional que torna possível abordar estas questões e buscar soluções que permitam a melhoria das
condições de trabalho no mundo

"...se alguma nação não adotar condições humanas de trabalho, esta omissão constitui um
obstáculo aos esforços de outras nações que desejem melhorar as condições dos trabalhadores
em seus próprios países"

CONSTITUIÇÃO DA OIT

A OIT TEM ATUALMENTE COMO OBJETIVOS ESTRATÉGICOS:

• Promover os princípios fundamentais e direitos no trabalho através de um sistema de


supervisão e de aplicação de normas.

• Promover melhores oportunidades de emprego/renda para mulheres e homens em condições


de livre escolha, de não discriminação e de dignidade.
• Aumentar a abrangência e a eficácia da proteção social.
• Fortalecer o tripartismo e o diálogo social.

MANDATO

A OIT é a agência especializada das Nações Unidas que busca a promoção da justiça social e o
reconhecimento internacional dos direitos humanos e trabalhistas. A OIT:

• formula normas internacionais do trabalho,


• promove o desenvolvimento e a interação das organizações de empregadores e de
trabalhadores e

• presta cooperação técnica principalmente nas áreas de:


- formação e reabilitação profissional; políticas e programas de emprego e de empreendedorismo;
administração do trabalho; direito e relações do trabalho; condições de trabalho; desenvolvimento
empresarial; cooperativas; previdência social; estatísticas e segurança e saúde ocupacional.

ESTRUTURA

A OIT é a única agência do sistema das Nações Unidas com uma estrutura tripartite onde participam em
situação de igualdade representantes de governos, de empregadores e de trabalhadores nas atividades
dos diversos órgãos da Organização.

A OIT é dirigida pelo Conselho de Administração que se reúne três vezes ao ano em Genebra. Este
conselho executivo é responsável pela elaboração e controle de execução das políticas e programas da
OIT, pela eleição do Diretor Geral e pela elaboração de uma proposta de programa e orçamento bienal.

A Conferência Internacional do Trabalho é o fórum internacional que ocorre anualmente (em junho, em
Genebra) para:

• discutir temas diversos do trabalho;


• adotar e revisar normas internacionais do trabalho;
• aprovar as políticas gerais e o programa de trabalho e orçamento da OIT, financiado por seus
Estados-Membros.

O Secretariado (Escritório Central) da OIT em Genebra é o órgão permanente da Organização e sede de


operações onde se concentram a maioria das atividades de administração, de pesquisa, de produção de
estudos e de publicações, de reuniões tripartites setoriais e de reuniões de Comissões e Comitês.

A estrutura da OIT inclui uma rede de 5 escritórios regionais e 26 escritórios de área - entre eles o do
Brasil - além de 12 equipes técnicas multidisciplinares de apoio a esses escritórios e 11 correspondentes
nacionais que sustentam, de forma parcialmente descentralizada, a execução e administração dos
programas, projetos e atividades de cooperação técnica e de reuniões regionais, sub-regionais e
nacionais.
CARTA DAS NAÇOES UNIDAS

Preâmbulo
NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo
da guerra,que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a
reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na
igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a
estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de
outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores
condições de vida dentro de uma liberdade ampla.

E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir
as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de
princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum,
a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os
povos.

RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES OBJETIVOS. Em


vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes reunidos na cidade de São
Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma,
concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização
internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas.

CAPÍTULO I - PROPÓSITOS E PRINCÍPIOS

ARTIGO 1 - Os propósitos das Nações Unidas são:

1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente,


medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer
ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e
do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam
levar a uma perturbação da paz;

2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio


de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de


caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o
respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de
raça, sexo, língua ou religião; e

4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses
objetivos comuns.

ARTIGO 2 - A Organização e seus membros, para a realização dos propósitos mencionados no


Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:

1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus membros.

2. Todos os membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens


resultantes de sua qualidade de membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por
eles assumidas de acordo com a presente Carta.
3. Todos os membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios
pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça
internacionais.

4. Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso


da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou
qualquer outra ação incompatível com os propósitos das Nações Unidas.

5. Todos os membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas
recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado
contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.

6. A Organização fará com que os Estados que não são membros das Nações Unidas ajam de
acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da
segurança internacionais.

7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em


assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os
membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este
princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capitulo
VII.

CAPÍTULO II - DOS MEMBROS

ARTIGO 3 - Os membros originais das Nações Unidas serão os Estados que, tendo participado
da Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional, realizada em São
Francisco, ou, tendo assinado previamente a Declaração das Nações Unidas, de 1 de janeiro
de 1942, assinarem a presente Carta, e a ratificarem, de acordo com o Artigo 110.

ARTIGO 4 -
1. A admissão como Membro das Nações Unidas fica aberta a todos os Estados amantes
da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e que, a juízo da
Organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações.

2. A admissão de qualquer desses Estados como membros das Nações Unidas será
efetuada por decisão da Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de
Segurança.

ARTIGO 5 - O Membro das Nações Unidas, contra o qual for levada a efeito ação preventiva ou
coercitiva por parte do Conselho de Segurança, poderá ser suspenso do exercício dos direitos
e privilégios de Membro pela Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de
Segurança. O exercício desses direitos e privilégios poderá ser restabelecido pelo conselho de
Segurança.

ARTIGO 6 - O Membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os Princípios
contidos na presente Carta, poderá ser expulso da Organização pela Assembléia Geral
mediante recomendação do Conselho de Segurança.

CAPÍTULO III - ÓRGÃOS

ARTIGO 7
1. Ficam estabelecidos como órgãos principais das Nações Unidas: uma Assembléia Geral, um
Conselho de Segurança, um Conselho Econômico e Social, um conselho de Tutela, uma Corte
Internacional de Justiça e um Secretariado. 2. Serão estabelecidos, de acordo com a presente
Carta, os órgãos subsidiários considerados de necessidade.

ARTIGO 8 - As Nações Unidas não farão restrições quanto à elegibilidade de homens e


mulheres destinados a participar em qualquer caráter e em condições de igualdade em seus
órgãos principais e subsidiários.

CAPÍTULO IV - ASSEMBLÉIA GERAL - COMPOSIÇÃO


ARTIGO 9
1. A Assembléia Geral será constituída por todos os membros das Nações Unidas.

2. Cada Membro não deverá ter mais de cinco representantes na Assembléia Geral.

FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES

ARTIGO 10 - A Assembléia Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que


estiverem dentro das finalidades da presente Carta ou que se relacionarem com as atribuições
e funções de qualquer dos órgãos nela previstos e, com exceção do estipulado no Artigo 12,
poderá fazer recomendações aos membros das Nações Unidas ou ao Conselho de Segurança
ou a este e àqueles, conjuntamente, com referência a qualquer daquelas questões ou
assuntos.

ARTIGO 11
1. A Assembléia Geral poderá considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção
da paz e da segurança internacionais, inclusive os princípios que disponham sobre o
desarmamento e a regulamentação dos armamentos, e poderá fazer recomendações relativas
a tais princípios aos membros ou ao Conselho de Segurança, ou a este e àqueles
conjuntamente.

2. A Assembléia Geral poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da


segurança internacionais, que a ela forem submetidas por qualquer Membro das Nações
Unidas, ou pelo Conselho de Segurança, ou por um Estado que não seja Membro das Nações
unidas, de acordo com o Artigo 35, parágrafo 2, e, com exceção do que fica estipulado no
Artigo 12, poderá fazer recomendações relativas a quaisquer destas questões ao Estado ou
Estados interessados, ou ao Conselho de Segurança ou a ambos. Qualquer destas questões,
para cuja solução for necessária uma ação, será submetida ao Conselho de Segurança pela
Assembléia Geral, antes ou depois da discussão.

3. A Assembléia Geral poderá solicitar a atenção do Conselho de Segurança para


situações que possam constituir ameaça à paz e à segurança internacionais.

4. As atribuições da Assembléia Geral enumeradas neste Artigo não limitarão a finalidade geral
do Artigo 10.

ARTIGO 12
1. Enquanto o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia
ou situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembléia Geral não fará
nenhuma recomendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o Conselho
de Segurança a solicite.

2. O Secretário-Geral, com o consentimento do Conselho de Segurança, comunicará à


Assembléia Geral, em cada sessão, quaisquer assuntos relativos à manutenção da paz e da
segurança internacionais que estiverem sendo tratados pelo Conselho de Segurança, e da
mesma maneira dará conhecimento de tais assuntos à Assembléia Geral, ou aos membros das
Nações Unidas se a Assembléia Geral não estiver em sessão, logo que o Conselho de
Segurança terminar o exame dos referidos assuntos.

ARTIGO 13
1. A Assembléia Geral iniciará estudos e fará recomendações, destinados a:

a) promover cooperação internacional no terreno político e incentivar o desenvolvimento


progressivo do direito internacional e a sua codificação;

b) promover cooperação internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e


sanitário e favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por
parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

2. As demais responsabilidades, funções e atribuições da Assembléia Geral, em relação aos


assuntos mencionados no parágrafo 1(b) acima, estão enumeradas nos Capítulos IX e X.
ARTIGO 14 - A Assembléia Geral, sujeita aos dispositivos do Artigo 12, poderá recomendar
medidas para a solução pacífica de qualquer situação, qualquer que seja sua origem, que
lhe pareça prejudicial ao bem-estar geral ou às relações amistosas entre as nações, inclusive
em situações que resultem da violação dos dispositivos da presente Carta que estabelecem os
Propósitos e Princípios das Nações Unidas.

ARTIGO 15

1. A Assembléia Geral receberá e examinará os relatórios anuais e especiais do Conselho de


Segurança. Esses relatórios incluirão uma relação das medidas que o Conselho de Segurança
tenha adotado ou aplicado a fim de manter a paz e a segurança internacionais.

2. A Assembléia Geral receberá e examinará os relatórios dos outros órgãos das Nações
Unidas.

ARTIGO 16 - A Assembléia Geral desempenhará, com relação ao sistema internacional de


tutela, as funções a ela atribuídas nos Capítulos XII e XIII, inclusive a aprovação de acordos de
tutela referentes às zonas não designadas como estratégias.

ARTIGO 17

1. A Assembléia Geral considerará e aprovará o orçamento da organização.

2. As despesas da Organização serão custeadas pelos membros, segundo cotas fixadas pela
Assembléia Geral.

3. A Assembléia Geral considerará e aprovará quaisquer ajustes financeiros e orçamentários


com as entidades especializadas, a que se refere o Artigo 57 e examinará os orçamentos
administrativos de tais instituições especializadas com o fim de lhes fazer recomendações.

VOTAÇÃO

ARTIGO 18
1. Cada Membro da Assembléia Geral terá um voto.

2. As decisões da Assembléia Geral, em questões importantes, serão tomadas por


maioria de dois terços dos membros presentes e votantes. Essas questões
compreenderão: recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais;
à eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança; à eleição dos membros
do Conselho Econômico e Social; à eleição dos membros dos Conselho de Tutela, de acordo
como parágrafo 1 (c) do Artigo 86; à admissão de novos membros das Nações Unidas; à
suspensão dos direitos e privilégios de membros; à expulsão dos membros; questões
referentes o funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias.

3. As decisões sobre outras questões, inclusive a determinação de categoria adicionais de


assuntos a serem debatidos por uma maioria dos membros presentes e que votem.

ARTIGO 19 - O membro das Nações Unidas que estiver em atraso no pagamento de sua
contribuição financeira à Organização não terá voto na Assembléia Geral, se o total de
suas contribuições atrasadas igualar ou exceder a soma das contribuições correspondentes
aos dois anos anteriores completos. A Assembléia Geral poderá entretanto, permitir que o
referido Membro vote, se ficar provado que a falta de pagamento é devida a condições
independentes de sua vontade.

PROCESSO

ARTIGO 20 - A Assembléia Geral reunir-se-á em sessões anuais regulares e em sessões


especiais exigidas pelas circunstâncias. As sessões especiais serão convocadas pelo
Secretário-Geral, a pedido do Conselho de Segurança ou da maioria dos membros das Nações
Unidas.
ARTIGO 21 - A Assembléia Geral adotará suas regras de processo e elegerá seu presidente
para cada sessão.

ARTIGO 22 - A Assembléia Geral poderá estabelecer os órgãos subsidiários que julgar


necessários ao desempenho de suas funções.

CAPITULO V - CONSELHO DE SEGURANÇA - COMPOSIÇÃO

ARTIGO 23

1. O Conselho de Segurança será composto de quinze membros das Nações Unidas. A


República da China, a França, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o Reino
Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do norte e os Estados unidos da América serão
membros permanentes do Conselho de Segurança. A Assembléia Geral elegerá dez outros
membros das Nações Unidas para membros não permanentes do Conselho de Segurança,
tendo especialmente em vista, em primeiro lugar, a contribuição dos membros das Nações
Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para os outros
propósitos da Organização e também a distribuição geográfica eqüitativa.

2. Os membros não permanentes do Conselho de Segurança serão eleitos por um


período de dois anos. Na primeira eleição dos membros não permanentes do Conselho de
Segurança, que se celebre depois de haver-se aumentado de onze para quinze o número de
membros do Conselho de Segurança, dois dos quatro membros novos serão eleitos por um
período de um ano. Nenhum membro que termine seu mandato poderá ser reeleito para o
período imediato.

3. Cada Membro do Conselho de Segurança terá um representante.

FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES

ARTIGO 24

1. A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus membros
conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz
e da segurança internacionais e concordam em que no cumprimento dos deveres
impostos por essa responsabilidade o Conselho de Segurança aja em nome deles.

2. No cumprimento desses deveres, o Conselho de Segurança agirá de acordo com os


propósitos e princípios das Nações Unidas. As atribuições específicas do Conselho de
Segurança para o cumprimento desses deveres estão enumeradas nos Capítulos VI, VII, VIII e
XII.

3. O Conselho de Segurança submeterá relatórios anuais e, quando necessário, especiais à


Assembléia Geral para sua consideração.

ARTIGO 25 - Os membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as


decisões do Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta.

ARTIGO 26 - A fim de promover o estabelecimento e a manutenção da paz e da segurança


internacionais, desviando para armamentos o menos possível dos recursos humanos e
econômicos do mundo, o Conselho de Segurança terá o encargo de formular, com a
assistência da Comissão de Estado-Maior, a que se refere o Artigo 47, os planos a serem
submetidos aos membros das Nações Unidas, para o estabelecimento de um sistema de
regulamentação dos armamentos.

VOTAÇÃO

ARTIGO 27

1. Cada membro do Conselho de Segurança terá um voto.


2. As decisões do conselho de Segurança, em questões processuais, serão tomadas pelo voto
afirmativo de nove membros.

3. As decisões do Conselho de Segurança, em todos os outros assuntos, serão tomadas


pelo voto afirmativo de nove membros, inclusive os votos afirmativos de todos os
membros permanentes, ficando estabelecido que, nas decisões previstas no Capítulo VI e no
parágrafo 3 do Artigo 52, aquele que for parte em uma controvérsia se absterá de votar.

PROCESSO

ARTIGO 28

1. O Conselho de Segurança será organizado de maneira que possa funcionar


continuamente. Cada membro do Conselho de Segurança será, para tal fim, em todos os
momentos, representado na sede da Organização.

2. O Conselho de Segurança terá reuniões periódicas, nas quais cada um de seus membros
poderá, se assim o desejar, ser representado por um membro do governo ou por outro
representante especialmente designado.

3. O Conselho de Segurança poderá reunir-se em outros lugares, fora da sede da Organização,


e que, a seu juízo, possam facilitar o seu trabalho.

ARTIGO 29 - O Conselho de Segurança poderá estabelecer órgãos subsidiários que julgar


necessários para o desempenho de suas funções.

ARTIGO 30 - O Conselho de Segurança adotará seu próprio regulamento interno, que incluirá o
método de escolha de seu Presidente.

ARTIGO 31 - Qualquer membro das Nações Unidas, que não for membro do Conselho de
Segurança, ou qualquer Estado que não for Membro das Nações Unidas será convidado,
desde que seja parte em uma controvérsia submetida ao Conselho de Segurança a participar,
sem voto, na discussão dessa controvérsia. O Conselho de Segurança determinará as
condições que lhe parecerem justas para a participação de um Estado que não for Membro das
Nações Unidas.

ARTIGO 32 - Qualquer Membro das Nações Unidas que não for Membro do Conselho de
Segurança, ou qualquer Estado que não for Membro das Nações Unidas será convidado,
desde que seja parte em uma controvérsia submetida ao Conselho de Segurança,a participar,
sem voto, na discussão dessa controvérsia. O Conselho de Segurança determinará as
condições que lhe parecerem justas para a participação de um Estado que não for Membro das
Nações Unidas.

CAPÍTULO VI - SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS

ARTIGO 33

1. As partes em uma controvérsia que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à
segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por
negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a
entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha.

2. O Conselho de Segurança convidará, quando julgar necessário, as referidas partes a


resolver, por tais meios, suas controvérsias.

ARTIGO 34 - O Conselho de Segurança poderá investigar sobre qualquer controvérsia ou


situação suscetível de provocar atritos entre as Nações ou dar origem a uma controvérsia,
a fim de determinar se a continuação de tal controvérsia ou situação pode constituir ameaça à
manutenção da paz e da segurança internacionais.

ARTIGO 35
1. Qualquer Membro das Nações Unidas poderá solicitar a atenção do Conselho de
Segurança ou da Assembléia Geral para qualquer controvérsia, ou qualquer situação, da
natureza das que se acham previstas no Artigo 34.

2. Um Estado que não for Membro das Nações Unidas poderá solicitar a atenção do Conselho
de Segurança ou da Assembléia Geral para qualquer controvérsia em que seja parte, uma vez
que aceite, previamente, em relação a essa controvérsia, as obrigações de solução pacífica
previstas na presente Carta.

3. Os atos da Assembléia Geral, a respeito dos assuntos submetidos à sua atenção, de acordo
com este Artigo, serão sujeitos aos dispositivos dos Artigos 11 e 12.

ARTIGO 36

1. O Conselho de Segurança poderá, em qualquer fase de uma controvérsia da natureza


a que se refere o Artigo 33, ou de uma situação de natureza semelhante, recomendar
procedimentos ou métodos de solução apropriados.

2. O Conselho de Segurança deverá tomar em consideração quaisquer procedimentos para a


solução de uma controvérsia que já tenham sido adotados pelas partes.

3. Ao fazer recomendações, de acordo com este Artigo, o Conselho de Segurança deverá


tomar em consideração que as controvérsias de caráter jurídico devem, em regra geral, ser
submetidas pelas partes à Corte Internacional de Justiça, de acordo com os dispositivos do
Estatuto da Corte.

ARTIGO 37

1. No caso em que as partes em controvérsia da natureza a que se refere o Artigo 33 não


conseguirem resolvê-la pelos meios indicados no mesmo Artigo, deverão submetê-la ao
Conselho de Segurança.

2. O Conselho de Segurança, caso julgue que a continuação dessa controvérsia poderá


realmente constituir uma ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais, decidirá
sobre a conveniência de agir de acordo com o Artigo 36 ou recomendar as condições que lhe
parecerem apropriadas à sua solução.

ARTIGO 38 - Sem prejuízo dos dispositivos dos Artigos 33 a 37, o Conselho de Segurança
poderá, se todas as partes em uma controvérsia assim o solicitarem, fazer recomendações às
partes, tendo em vista uma solução pacífica da controvérsia.

CAPÍTULO VII - AÇÃO RELATIVA A AMEAÇAS À PAZ, RUPTURA DA PAZ E ATOS DE


AGRESSÃO

ARTIGO 39 - O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz,


ruptura da paz ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser
tomadas de acordo com os Artigos 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a
segurança internacionais.

ARTIGO 40 - A fim de evitar que a situação se agrave, o Conselho de Segurança poderá, antes
de fazer as recomendações ou decidir a respeito das medidas previstas no Artigo 39, convidar
as partes interessadas a que aceitem as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou
aconselháveis. Tais medidas provisórias não prejudicarão os direitos ou pretensões, nem a
situação das partes interessadas. O Conselho de Segurança tomará devida nota do não
cumprimento dessas medidas.

ARTIGO 41 - O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o


emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas decisões e poderá
convidar os membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a
interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação
ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer
espécie e o rompimento das relações diplomáticas.
ARTIGO 42 - No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no
Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de
forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou
restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender
demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou
terrestres dos membros das Nações Unidas.

ARTIGO 43

1. Todos os membros das Nações Unidas, a fim de contribuir para a manutenção da paz e da
segurança internacionais, se comprometem a proporcionar ao Conselho de Segurança, a
seu pedido e de conformidade com o acordo ou acordos especiais, forças armadas,
assistência e facilidades, inclusive direitos de passagem, necessários à manutenção da
paz e da segurança internacionais.

2. Tal acordo ou tais acordos determinarão o número e tipo das forças, seu grau de preparação
e sua localização geral, bem como a natureza das facilidades e da assistência a serem
proporcionadas.

3. O acordo ou acordos serão negociados o mais cedo possível, por iniciativa do Conselho de
Segurança. Serão concluídos entre o Conselho de Segurança e membros da Organização ou
entre o Conselho de Segurança e grupos de membros e submetidos à ratificação, pelos
Estados signatários, de conformidade com seus respectivos processos constitucionais.

ARTIGO 44 - Quando o Conselho de Segurança decidir o emprego de força, deverá, antes de


solicitar a um Membro nele não representado o fornecimento de forças armadas em
cumprimento das obrigações assumidas em virtude do Artigo 43, convidar o referido Membro,
se este assim o desejar, a participar das decisões do Conselho de Segurança relativas ao
emprego de contingentes das forças armadas do dito Membro.

ARTIGO 45 - A fim de habilitar as Nações Unidas a tomarem medidas militares urgentes, os


membros das Nações Unidas deverão manter, imediatamente utilizáveis, contingentes
das forças aéreas nacionais para a execução combinada de uma ação coercitiva
internacional. A potência e o grau de preparação desses contingentes, como os planos de
ação combinada, serão determinados pelo Conselho de Segurança com a assistência da
Comissão de Estado-Maior, dentro dos limites estabelecidos no acordo ou acordos especiais a
que se refere o Artigo 43.

ARTIGO 46 - O Conselho de Segurança, com a assistência da Comissão de Estado-Maior, fará


planos para a aplicação das forças armadas.

ARTIGO 47

1. Será estabelecia uma Comissão de Estado-Maior destinada a orientar e assistir o Conselho


de Segurança, em todas as questões relativas às exigências militares do mesmo Conselho,
para manutenção da paz e da segurança internacionais, utilização e comando das forças
colocadas à sua disposição, regulamentação de armamentos e possível desarmamento.

2. A Comissão de Estado-Maior será composta dos Chefes de Estado-Maior dos membros


Permanentes do Conselho de Segurança ou de seus representantes. Todo Membro das
Nações Unidas que não estiver permanentemente representado na Comissão será por esta
convidado a tomar parte nos seus trabalhos, sempre que a sua participação for necessária ao
eficiente cumprimento das responsabilidades da Comissão.

3. A Comissão de Estado-Maior será responsável, sob a autoridade do Conselho de


Segurança, pela direção estratégica de todas as forças armadas postas à disposição do dito
Conselho. As questões relativas ao comando dessas forças serão resolvidas ulteriormente.

4. A Comissão de Estado-Maior, com autorização do Conselho de Segurança e depois de


consultar os organismos regionais adequados, poderá estabelecer subcomissões regionais.

ARTIGO 48
1. A ação necessária ao cumprimento das decisões do Conselho de Segurança para
manutenção da paz e da segurança internacionais será levada a efeito por todos os
membros das Nações Unidas ou por alguns deles, conforme seja determinado pelo Conselho
de Segurança.

2. Essas decisões serão executas pelos membros das Nações Unidas diretamente e, por seu
intermédio, nos organismos internacionais apropriados de que façam parte.

ARTIGO 49 - Os membros das Nações Unidas prestar-se-ão assistência mútua para a


execução das medidas determinadas pelo Conselho de Segurança.

ARTIGO 50 - No caso de serem tomadas medidas preventivas ou coercitivas contra um Estado


pelo Conselho de Segurança, qualquer outro Estado, Membro ou não das Nações unidas, que
se sinta em presença de problemas especiais de natureza econômica, resultantes da execução
daquelas medidas, terá o direito de consultar o Conselho de Segurança a respeito da solução
de tais problemas.

ARTIGO 51 - Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa


individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das
Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias
para a manutenção da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos
membros no exercício desse direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao
Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a autoridade e a
responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer
tempo, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da
segurança internacionais.

CAPÍTULO VIII - ACORDOS REGIONAIS

ARTIGO 52

1. Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de entidades regionais,


destinadas a tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais
que forem suscetíveis de uma ação regional, desde que tais acordos ou entidades regionais e
suas atividades sejam compatíveis com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas.

2. Os membros das Nações Unidas, que forem parte em tais acordos ou que constituírem tais
entidades, empregarão todo os esforços para chegar a uma solução pacífica das controvérsias
locais por meio desses acordos e entidades regionais, antes de as submeter ao Conselho de
Segurança.

3. O Conselho de Segurança estimulará o desenvolvimento da solução pacífica de


controvérsias locais mediante os referidos acordos ou entidades regionais, por iniciativa dos
Estados interessados ou a instância do próprio conselho de Segurança.

4. Este Artigo não prejudica, de modo algum, a aplicação dos Artigos 34 e 35.

ARTIGO 53 - 1. O Conselho de Segurança utilizará, quando for o caso, tais acordos e


entidades regionais para uma ação coercitiva sob a sua própria autoridade. Nenhuma ação
coercitiva será, no entanto, levada a efeito de conformidade com acordos ou entidades
regionais sem autorização do Conselho de Segurança, com exceção das medidas contra
um Estado inimigo como está definido no parágrafo 2 deste Artigo, que forem determinadas em
conseqüência do Artigo 107 ou em acordos regionais destinados a impedir a renovação de uma
política agressiva por parte de qualquer desses Estados, até o momento em que a Organização
possa, a pedido dos Governos interessados, ser incumbida de impedir toda nova agressão por
parte de tal Estado.

2. O termo Estado inimigo, usado no parágrafo 1 deste Artigo, aplica-se a qualquer Estado que,
durante a Segunda Guerra Mundial, foi inimigo de qualquer signatário da presente Carta.
ARTIGO 54 - O Conselho de Segurança será sempre informado de toda ação empreendida ou
projetada de conformidade com os acordos ou entidades regionais para manutenção da paz e
da segurança internacionais.

CAPÍTULO IX - COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ECONÔMICA E SOCIAL

ARTIGO 55 - Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar, necessárias às


relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da
igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão:

a) níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento


econômico e social;
b) a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e conexos; a
cooperação internacional, de caráter cultural e educacional; e
c) o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para
todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

ARTIGO 56 - Para a realização dos propósitos enumerados no Artigo 55, todos os


membros da Organização se comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto
ou separadamente.

ARTIGO 57

1. As várias entidades especializadas, criadas por acordos intergovernamentais e com amplas


responsabilidades internacionais, definidas em seus instrumentos básicos, nos campos
econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, serão vinculadas às Nações
Unidas, de conformidade com as disposições do Artigo 63.

2. Tais entidades assim vinculadas às Nações Unidas serão designadas, daqui por diante,
como entidades especializadas.

ARTIGO 58 - A Organização fará recomendação para coordenação dos programas e atividades


das entidades especializadas.

ARTIGO 59 - A Organização, quando julgar conveniente, iniciará negociações entre os Estados


interessados para a criação de novas entidades especializadas que forem necessárias ao
cumprimento dos propósitos enumerados no Artigo 55.

ARTIGO 60 - A Assembléia Geral e, sob sua autoridade, o Conselho Econômico e Social, que
dispõe, para esse efeito, da competência que lhe é atribuída no Capítulo X, são incumbidos de
exercer as funções da Organização estipuladas no presente Capítulo.

CAPÍTULO X - CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL - COMPOSIÇÃO

ARTIGO 61

1. O Conselho Econômico e Social será composto de cinqüenta e quatro membros das Nações
Unidas eleitos pela Assembléia Geral.

2 De acordo com os dispositivos do parágrafo 3, dezoito membros do Conselho Econômico e


Social serão eleitos cada ano para um período de três anos, podendo, ao terminar esse prazo,
ser reeleitos para o período seguinte.

3. Na primeira eleição a realizar-se depois de elevado de vinte e sete para cinqüenta e quatro o
número de membros do Conselho Econômico e Social, além dos membros que forem eleitos
para substituir os nove membros, cujo mandato expira no fim desse ano, serão eleitos outros
vinte e sete membros. O mandato de nove destes vinte e sete membros suplementares assim
eleitos expirará no fim de um ano e o de nove outros no fim de dois anos, de acordo com o que
for determinado pela Assembléia Geral.

4. Cada Membro do Conselho Econômico e social terá nele um representante.


FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES

ARTIGO 62

1. O Conselho Econômico e Social fará ou iniciará estudos e relatórios a respeito de assuntos


internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos e poderá
fazer recomendações a respeito de tais assuntos à Assembléia Geral, aos membros das
Nações Unidas e às entidades especializadas interessadas.

2. Poderá, igualmente, fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância


dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos.

3. Poderá preparar projetos de convenções a serem submetidos à Assembléia Geral, sobre


assuntos de sua competência.

4. Poderá convocar, de acordo com as regras estipuladas pelas Nações Unidas, conferências
internacionais sobre assuntos de sua competência.

ARTIGO 63

1. O conselho Econômico e Social poderá estabelecer acordos com qualquer das entidades a
que se refere o Artigo 57, a fim de determinar as condições em que a entidade interessada será
vinculada às Nações Unidas. Tais acordos serão submetidos à aprovação da Assembléia
Geral.

2. Poderá coordenar as atividades das entidades especializadas, por meio de consultas e


recomendações às mesmas e de recomendações à Assembléia Geral e aos membros das
Nações Unidas.

ARTIGO 64

1. O Conselho Econômico e Social poderá tomar as medidas adequadas a fim de obter


relatórios regulares das entidades especializadas. Poderá entrar em entendimentos com os
membros das Nações Unidas e com as entidades especializadas, a fim de obter relatórios
sobre as medidas tomadas para cumprimento de suas próprias recomendações e das que
forem feitas pelas Assembléia Geral sobre assuntos da competência do Conselho.

2. Poderá comunicar à Assembléia Geral suas observações a respeito desses relatórios.

ARTIGO 65 - O Conselho Econômico e Social poderá fornecer informações ao Conselho de


Segurança e, a pedido deste, prestar-lhe assistência.

ARTIGO 66

1. O Conselho Econômico e Social desempenhará as funções que forem de sua competência


em relação ao cumprimento das recomendações da Assembléia Geral.

2. Poderá mediante aprovação da Assembléia Geral, prestar os serviços que lhe forem
solicitados pelos membros das Nações unidas e pelas entidades especializadas.

3. Desempenhará as demais funções específicas em outras partes da presente Carta ou as


que forem atribuídas pela Assembléia Geral.

VOTAÇÃO

ARTIGO 67

1. Cada Membro do Conselho Econômico e Social terá um voto.

2. As decisões do Conselho Econômico e Social serão tomadas por maioria dos membros
presentes e votantes.
PROCESSO

ARTIGO 68 - O Conselho Econômico e Social criará comissões para os assuntos econômicos


e sociais e a proteção dos direitos humanos assim como outras comissões que forem
necessárias para o desempenho de suas funções.

ARTIGO 69 - O Conselho Econômico e Social poderá convidar qualquer Membro das Nações
Unidas a tomar parte, sem voto, em suas deliberações sobre qualquer assunto que interesse
particularmente a esse Membro.

ARTIGO 70 - O Conselho Econômico e Social poderá entrar em entendimentos para que


representantes das entidades especializadas tomem parte, sem voto, em suas deliberações e
nas das comissões por ele criadas, e para que os seus próprios representantes tomem parte
nas deliberações das entidades especializadas.

ARTIGO 71 - O Conselho Econômico e Social poderá entrar nos entendimentos convenientes


para a consulta com organizações não governamentais, encarregadas de questões que
estiverem dentro da sua própria competência. Tais entendimentos poderão ser feitos com
organizações internacionais e, quando for o caso, com organizações nacionais, depois de
efetuadas consultas com o Membro das Nações Unidas no caso.

ARTIGO 72

1. O Conselho Econômico e Social adotará seu próprio regulamento, que incluirá o método de
escolha de seu Presidente.

2. O Conselho Econômico e Social reunir-se-á quando for necessário, de acordo com o seu
regulamento, o qual deverá incluir disposições referentes à convocação de reuniões a pedido
da maioria dos membros.

CAPÍTULO XI - DECLARAÇÃO RELATIVA A TERRITÓRIOS SEM GOVERNO PRÓPRIO

ARTIGO 73 - Os membros das Nações Unidas, que assumiram ou assumam


responsabilidades pela administração de territórios cujos povos não tenham atingido a
plena capacidade de se governarem a si mesmos, reconhecem o princípio de que os
interesses dos habitantes desses territórios são da mais alta importância, e aceitam,
como missão sagrada, a obrigação de promover no mais alto grau, dentro do sistema de paz e
segurança internacionais estabelecido na presente Carta, o bem-estar dos habitantes desses
territórios e, para tal fim, se obrigam a:

a) assegurar, com o devido respeito à cultura dos povos interessados, o seu progresso
político, econômico, social e educacional, o seu tratamento equitativo e a sua proteção contra
todo abuso;

b) desenvolver sua capacidade de governo próprio, tomar devida nota das aspirações
políticas dos povos e auxiliá-los no desenvolvimento progressivo de suas instituições políticas
livres, de acordo com as circunstâncias peculiares a cada território e seus habitantes e os
diferentes graus de seu adiantamento;

c) consolidar a paz e a segurança internacionais;

d) promover medidas construtivas de desenvolvimento, estimular pesquisas, cooperar uns


com os outros e, quando for o caso, com entidades internacionais especializadas, com vistas à
realização prática dos propósitos de ordem social, econômica ou científica enumerados neste
Artigo; e

e) transmitir regularmente ao Secretário-Geral, para fins de informação, sujeitas às reservas


impostas por considerações de segurança e de ordem constitucional, informações estatísticas
ou de outro caráter técnico, relativas às condições econômicas, sociais e educacionais dos
territórios pelos quais são respectivamente responsáveis e que não estejam compreendidos
entre aqueles a que se referem os Capítulos XII e XIII da Carta.
ARTIGO 74 - Os membros das Nações Unidas concordam também em que a sua política com
relação aos territórios a que se aplica o presente Capítulo deve ser baseada, do mesmo modo
que a política seguida nos respectivos territórios metropolitanos, no princípio geral de boa
vizinhança, tendo na devida conta os interesses e o bem-estar do resto do mundo no que se
refere às questões sociais, econômicas e comerciais.

CAPÍTULO XII - SISTEMA INTERNACIONAL DE TUTELA

ARTIGO 75 - As Nações Unidas estabelecerão sob sua autoridade um sistema internacional de


tutela para a administração e fiscalização dos territórios que possam ser colocados sob tal
sistema em conseqüência de futuros acordos individuais. Esses territórios serão, daqui em
diante, mencionados como territórios tutelados.

ARTIGO 76 - Os objetivos básicos do sistema de tutela, de acordo com os Propósitos das


Nações Unidas enumerados no Artigo 1 da presente Carta serão:

a) favorecer a paz e a segurança internacionais;

b) fomentar o progresso político, econômico, social e educacional dos habitantes dos territórios
tutelados e o seu desenvolvimento progressivo para alcançar governo próprio ou
independência, como mais convenha às circunstâncias particulares de cada território e de seus
habitantes e aos desejos livremente expressos dos povos interessados e como for previsto nos
termos de cada acordo de tutela;

c) estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem
distinção de raça, sexo língua ou religião e favorecer o reconhecimento da interdependência de
todos os povos; e

d) assegurar igualdade de tratamento nos domínios social, econômico e comercial para todos
os membros das nações Unidas e seus nacionais e, para estes últimos, igual tratamento na
administração da justiça, sem prejuízo dos objetivos acima expostos e sob reserva das
disposições do Artigo 80.

ARTIGO 77

1. O sistema de tutela será aplicado aos territórios das categorias seguintes, que venham a ser
colocados sob tal sistema por meio de acordos de tutela:

a) territórios atualmente sob mandato;

b) territórios que possam ser separados de Estados inimigos em conseqüência da Segunda


Guerra Mundial; e

c) territórios voluntariamente colocados sob tal sistema por Estados responsáveis pela sua
administração.

2. Será objeto de acordo ulterior a determinação dos territórios das categorias acima
mencionadas a serem colocados sob o sistema de tutela e das condições em que o serão.

ARTIGO 78 - O sistema de tutela não será aplicado a territórios que se tenham tornado
membros das Nações Unidas, cujas relações mútuas deverão basear-se no respeito ao
princípio da igualdade soberana.

ARTIGO 79 - As condições de tutela em que cada território será colocado sob este sistema,
bem como qualquer alteração ou emenda, serão determinadas por acordo entre os Estados
diretamente interessados, inclusive a potência mandatária no caso de território sob mandato de
um Membro das Nações Unidas e serão aprovadas de conformidade com as disposições dos
Artigos 83 e 85.

ARTIGO 80
1. Salvo o que for estabelecido em acordos individuais de tutela, feitos de conformidade com os
Artigos 77, 79 e 81, pelos quais se coloque cada território sob este sistema e até que tais
acordos tenham sido concluídos, nada neste Capítulo será interpretado como alteração de
qualquer espécie nos direitos de qualquer Estado ou povo ou dos termos dos atos
internacionais vigentes em que os membros das Nações Unidas forem partes.

2. O parágrafo 1 deste Artigo não será interpretado como motivo para demora ou adiamento da
negociação e conclusão de acordos destinados a colocar territórios dentro do sistema de tutela,
conforme as disposições do Artigo 77.

ARTIGO 81 - O acordo de tutela deverá, em cada caso, incluir as condições sob as quais o
território tutelado será administrado e designar a autoridade que exercerá essa administração.
Tal autoridade, daqui por diante chamada a autoridade administradora, poderá ser um ou mais
Estados ou a própria Organização.

ARTIGO 82 - Poderão designar-se, em qualquer acordo de tutela, uma ou várias zonas


estratégicas, que compreendam parte ou a totalidade do território tutelado a que o mesmo se
aplique, sem prejuízo de qualquer acordo ou acordos especiais feitos de conformidade com o
Artigo 43.

ARTIGO 83

1. Todas as funções atribuídas às Nações Unidas relativamente às zonas estratégicas,


inclusive a aprovação das condições dos acordos de tutela, assim como de sua alteração ou
emendas, serão exercidas pelo Conselho de Segurança.

2. Os objetivos básicos enumerados no Artigo 76 serão aplicáveis aos habitantes de cada zona
estratégica.

3. O Conselho de Segurança, ressalvadas as disposições dos acordos de tutela e sem prejuízo


das exigências de segurança, poderá valer-se da assistência do Conselho de Tutela para
desempenhar as funções que cabem às Nações Unidas pelo sistema de tutela, relativamente a
matérias políticas, econômicas, sociais ou educacionais dentro das zonas estratégicas.

ARTIGO 84 - A autoridade administradora terá o dever de assegurar que o território tutelado


preste sua colaboração à manutenção da paz e da segurança internacionais. para tal fim, a
autoridade administradora poderá fazer uso de forças voluntárias, de facilidades e da ajuda do
território tutelado para o desempenho das obrigações por ele assumidas a este respeito
perante o Conselho de Segurança, assim como para a defesa local e para a manutenção da lei
e da ordem dentro do território tutelado.

ARTIGO 85 - 1. As funções das Nações Unidas relativas a acordos de tutela para todas as
zonas não designadas como estratégias, inclusive a aprovação das condições dos acordos de
tutela e de sua alteração ou emenda , serão exercidas pela Assembléia Geral. 2. O Conselho
de Tutela, que funcionará sob a autoridade da Assembléia Geral, auxiliará esta no desempenho
dessas atribuições.

CAPÍTULO XIII - CONSELHO DE TUTELA - COMPOSIÇÃO

ARTIGO 86

1. O Conselho de Tutela será composto dos seguintes membros das Nações Unidas:

a) os membros que administrem territórios tutelados;

b) aqueles dentre os membros mencionados nominalmente no Artigo 23, que não estiverem
administrando territórios tutelados; e

c) quantos outros membros eleitos por um período de três anos, pela Assembléia Geral, sejam
necessários para assegurar que o número total de membros do Conselho de Tutela fique
igualmente dividido entre os membros das Nações Unidas que administrem territórios tutelados
e aqueles que o não fazem.
2. Cada Membro do Conselho de Tutela designará uma pessoa especialmente qualificada para
representá-lo perante o Conselho.

FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES

ARTIGO 87 - A Assembléia Geral e, sob a sua autoridade, o Conselho de Tutela, no


desempenho de suas funções, poderão:

a) examinar os relatórios que lhes tenham sido submetidos pela autoridade administradora;

b) Aceitar petições e examiná-las, em consulta com a autoridade administradora;

c) providenciar sobre visitas periódicas aos territórios tutelados em épocas ficadas de acordo
com a autoridade administradora; e

d) tomar estas e outras medidas de conformidade com os termos dos acordos de tutela.

ARTIGO 88 - O Conselho de Tutela formulará um questionário sobre o adiantamento político,


econômico, social e educacional dos habitantes de cada território tutelado e a autoridade
administradora de cada um destes territórios, dentro da competência da Assembléia Geral, fará
um relatório anual à Assembléia, baseado no referido questionário.

VOTAÇÃO

ARTIGO 89

1. Cada Membro do Conselho de Tutela terá um voto.

2. As decisões do Conselho de Tutela serão tomadas por uma maioria dos membros presentes
e votantes.

PROCESSO

ARTIGO 90 - 1. O Conselho de Tutela adotará seu próprio regulamento que incluirá o método
de escolha de seu Presidente. 2. O Conselho de Tutela reunir-se-á quando for necessário, de
acordo com o seu regulamento, que incluirá uma disposição referente à convocação de
reuniões a pedido da maioria dos seus membros.

ARTIGO 91 - O Conselho de Tutela valer-se-á, quando for necessário,da colaboração do


Conselho Econômico e Social e das entidades especializadas, a respeito das matérias em que
estas e aquele sejam respectivamente interessados.

CAPÍTULO XIV - CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

ARTIGO 92 - A Corte Internacional de Justiça será o principal órgão judiciário das


Nações Unidas. Funcionará de acordo com o Estatuto anexo, que é baseado no Estatuto da
Corte Permanente de Justiça Internacional e faz parte integrante da presente Carta.

ARTIGO 93

1. Todos os membros das Nações Unidas são ipso facto partes do Estatuto da Corte
Internacional de Justiça.

2. Um Estado que não for Membro das Nações Unidas poderá tornar-se parte no Estatuto da
Corte Internacional de Justiça, em condições que serão determinadas, em cada caso, pela
Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança.

ARTIGO 94

1. Cada Membro das Nações Unidas se compromete a conformar-se com a decisão da


Corte Internacional de Justiça em qualquer caso em que for parte.
2. Se uma das partes num caso deixar de cumprir as obrigações que lhe incumbem em
virtude de sentença proferida pela Corte, a outra terá direito de recorrer ao Conselho de
Segurança que poderá, se julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre medidas a
serem tomadas para o cumprimento da sentença.

ARTIGO 95 - Nada na presente Carta impedirá os membros das Nações Unidas de confiarem a
solução de suas divergências a outros tribunais, em virtude de acordos já vigentes ou que
possam ser concluídos no futuro.

ARTIGO 96

1. A Assembléia Geral ou o Conselho de Segurança poderá solicitar parecer consultivo da


Corte Internacional de Justiça, sobre qualquer questão de ordem jurídica.

2. Outros órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas, que forem em qualquer
época devidamente autorizados pela Assembléia Geral, poderão também solicitar pareceres
consultivos da Corte sobre questões jurídicas surgidas dentro da esfera de suas atividades.

CAPÍTULO XV - O SECRETARIADO

ARTIGO 97 - O Secretariado será composto de um Secretário-Geral e do pessoal exigido pela


Organização. O Secretário-Geral será indicado pela Assembléia Geral mediante a
recomendação do Conselho de Segurança. Será o principal funcionário administrativo da
Organização.

ARTIGO 98 - O Secretário-Geral atuará neste caráter em todas as reuniões da Assembléia


Geral, do Conselho de Segurança, do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela e
desempenhará outras funções que lhe forem atribuídas por estes órgãos. O Secretário-Geral
fará um relatório anual à Assembléia Geral sobre os trabalhos da Organização.

ARTIGO 99 - O Secretário-Geral poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança


para qualquer assunto que em sua opinião possa ameaçar a manutenção da paz e da
segurança internacionais.

ARTIGO 100

1. No desempenho de seus deveres, o Secretário-Geral e o pessoal do Secretariado não


solicitarão nem receberão instruções de qualquer governo ou de qualquer autoridade
estranha à organização. Abster-se-ão de qualquer ação que seja incompatível com a sua
posição de funcionários internacionais responsáveis somente perante a Organização.

2. Cada Membro das Nações Unidas se compromete a respeitar o caráter exclusivamente


internacional das atribuições do Secretário-Geral e do pessoal do Secretariado e não
procurará exercer qualquer influência sobre eles, no desempenho de suas funções.

ARTIGO 101

1. O pessoal do Secretariado será nomeado pelo Secretário Geral, de acordo com regras
estabelecidas pela Assembléia Geral.

2. Será também nomeado, em caráter permanente, o pessoal adequado para o Conselho


Econômico e Social, o conselho de Tutela e, quando for necessário, para outros órgãos das
Nações Unidas. Esses funcionários farão parte do Secretariado.

3. A consideração principal que prevalecerá na escolha do pessoal e na determinação das


condições de serviço será a da necessidade de assegurar o mais alto grau de eficiência,
competência e integridade. Deverá ser levada na devida conta a importância de ser a escolha
do pessoal feita dentro do mais amplo critério geográfico possível.

CAPÍTULO XVI - DISPOSIÇÕES DIVERSAS

ARTIGO 102
1. Todo tratado e todo acordo internacional concluídos por qualquer membro das
Nações Unidas depois da entrada em vigor da presente Carta, deverão, dentro do mais
breve prazo possível, ser registrados e publicados pelo Secretariado.

2. Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo internacional que não tenha sido registrado
de conformidade com as disposições do parágrafo 1 deste Artigo poderá invocar tal tratado ou
acordo perante qualquer órgão das Nações Unidas.

ARTIGO 103 - No caso de conflito entre as obrigações dos membros das Nações Unidas,
em virtude da presente Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo
internacional, prevalecerão as obrigações assumidas em virtude da presente Carta.

ARTIGO 104 - A Organização gozará, no território de cada um de seus membros, da


capacidade jurídica necessária ao exercício de suas funções e à realização de seus
propósitos.

ARTIGO 105

1. A Organização gozará, no território de cada um de seus membros, dos privilégios e


imunidades necessários à realização de seus propósitos.

2. Os representantes dos membros das Nações Unidas e os funcionários da Organização


gozarão, igualmente, dos privilégios e imunidades necessários ao exercício
independente de suas funções relacionadas com a Organização.

3. A Assembléia Geral poderá fazer recomendações com o fim de determinar os pormenores


da aplicação dos parágrafos 1 e 2 deste Artigo ou poderá propor aos membros das Nações
Unidas convenções nesse sentido.

CAPÍTULO XVII - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS SOBRE SEGURANÇA

ARTIGO 106 - Antes da entrada em vigor dos acordos especiais a que se refere o Artigo 43,
que, a juízo do Conselho de Segurança, o habilitem ao exercício de suas funções previstas no
Artigo 42, as partes na Declaração das Quatro Nações, assinada em Moscou, a 30 de outubro
de 1943, e a França, deverão, de acordo com as disposições do parágrafo 5 daquela
Declaração, consultar-se entre si e, sempre que a ocasião o exija, com outros membros das
Nações Unidas a fim de ser levada a efeito, em nome da Organização, qualquer ação conjunta
que se torne necessária à manutenção da paz e da segurança internacionais.

ARTIGO 107 - Nada na presente Carta invalidará ou impedirá qualquer ação que, em relação a
um Estado inimigo de qualquer dos signatários da presente Carta durante a Segunda Guerra
Mundial, for levada a efeito ou autorizada em conseqüência da dita guerra, pelos governos
responsáveis por tal ação.

CAPÍTULO XVIII - EMENDAS

ARTIGO 108 - As emendas à presente Carta entrarão em vigor para todos os membros das
Nações Unidas, quando forem adotadas pelos votos de dois terços dos membros da
Assembléia Geral e ratificada de acordo com os seus respectivos métodos constitucionais por
dois terços dos membros das Nações Unidas, inclusive todos os membros permanentes do
Conselho de Segurança.

ARTIGO 109

1. Uma Conferência Geral dos membros das Nações Unidas, destinada a rever a presente
Carta, poderá reunir-se em data e lugar a serem fixados pelo voto de dois terços dos membros
da Assembléia Geral e de nove membros quaisquer do Conselho de Segurança. Cada Membro
das Nações Unidas terá voto nessa Conferência.

2. Qualquer modificação à presente Carta, que for recomendada por dois terços dos
votos da Conferência, terá efeito depois de ratificada, de acordo com os respectivos
métodos constitucionais, por dois terços dos membros das Nações Unidas, inclusive
todos os membros permanentes do Conselho de Segurança.

3. Se essa Conferência não for celebrada antes da décima sessão anual da Assembléia Geral
que se seguir à entrada em vigor da presente Carta, a proposta de sua convocação deverá
figurar na agenda da referida sessão da Assembléia Geral, e a Conferência será realizada, se
assim for decidido por maioria de votos dos membros da Assembléia Geral, e pelo voto de sete
membros quaisquer do Conselho de Segurança.

CAPÍTULO XIX - RATIFICAÇÃO E ASSINATURA

ARTIGO 110

1. A presente Carta deverá ser ratificada pelos Estados signatários, de acordo com os
respectivos métodos constitucionais.

2. As ratificações serão depositadas junto ao Governo dos Estados Unidos da América, que
notificará de cada depósito todos os Estados signatários, assim como o Secretário-Geral da
Organização depois que este for escolhido.

3. A presente Carta entrará em vigor depois do depósito de ratificações pela República da


China, França, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Reino Unido da Grã Bretanha e
Irlanda do Norte e Estados Unidos da América e pela maioria dos outros Estados signatários. O
Governo dos Estados Unidos da América organizará, em seguida, um protocolo das
ratificações depositadas, o qual será comunicado, por meio de cópias, aos Estados signatários.

4. Os Estados signatários da presente Carta, que a ratificarem depois de sua entrada em vigor
tornar-se-ão membros fundadores das Nações Unidas, na data do depósito de suas
respectivas ratificações.

ARTIGO 111 - A presente Carta, cujos textos em chinês, francês, russo, inglês, e espanhol
fazem igualmente fé, ficará depositada nos arquivos do Governo dos Estados Unidos da
América. Cópias da mesma, devidamente autenticadas, serão transmitidas por este último
Governo aos dos outros Estados signatários.

EM FÉ DO QUE, os representantes dos Governos das Nações Unidas assinaram a presente


Carta.

FEITA na cidade de São Francisco, aos vinte e seis dias do mês de junho de mil novecentos e
quarenta e cinco.
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Direito Internacional PúblicDireito Público
Prof. Marcelo Bessa
Direito Internacional na CRFB - www.marcelobessa.com.br
Direito Internacional na
Constituição da República Federativa
do Brasil
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,
a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na
ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
.......
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural
dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade
latino-americana de nações.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
.......
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada
pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do de cujus;
.......
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião;
.......
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil
seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. (Inclusão: EC 45/04)
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação
tenha manifestado
adesão. (Inclusão: EC 45/04)
.......
Art. 12. São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,
desde que estes não
estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde
que qualquer deles esteja a
serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a
residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade
brasileira;
Info STF 401, de 21/09/2005 - RE N. 415.957-RS - RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE
EMENTA: Opção de nacionalidade brasileira (CF, art. 12, I, c): menor residente no País,
nascido no estrangeiro e
filho de mãe brasileira, que não estava a serviço do Brasil: viabilidade do registro
provisório (L. Reg. Públicos, art.
32, § 2º), não o da opção definitiva.
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1. A partir da maioridade, que a torna possível, a nacionalidade do filho brasileiro,
nascido no estrangeiro, mas
residente no País, fica sujeita à condição suspensiva da homologação judicial da opção.
2. Esse condicionamento suspensivo, só vigora a partir da maioridade; antes, desde que
residente no País, o
menor - mediante o registro provisório previsto no art. 32, § 2º, da Lei dos Registros
Públicos - se considera
brasileiro nato, para todos os efeitos.
3. Precedentes (RE 418.096, 2ª T., 23.2.05, Velloso; AC 70-QO, Plenário, 25.9.03,
Pertence, DJ 12.3.04).
Lei 6.015/73, art. 32, § 2º - O filho de brasileiro ou brasileira, nascido no estrangeiro, e cujos pais
não estejam ali a
serviço do Brasil, desde que registrado em consulado brasileiro ou não registrado, venha a residir no
território
nacional antes de atingir a maioridade, poderá requerer, no juízo de seu domicílio, se registre, no livro "E"
do 1º
Ofício do Registro Civil, o termo de nascimento.
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do
Brasil há mais de
quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira.
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver
reciprocidade em favor de
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
previstos nesta
Constituição.
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos
casos previstos nesta Constituição.
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade
nociva
ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em
estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de
direitos civis;
.......
CAPÍTULO IV - DOS DIREITOS POLÍTICOS
Art. 14, § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante
o período do serviço militar
obrigatório, os conscritos.
NOTA DO SITE: a vedação de alistamento eleitoral aos estrangeiros não é absoluta, uma vez que os
portugueses
que estiverem em gozo dos benefícios previstos no art. 12, § 1º da CR, serão equiparados aos brasileiros
naturalizados.
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
.......
CAPÍTULO II - DA UNIÃO
Art. 20. São bens da União:
.......
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele
provenham, bem como
os terrenos marginais e as praias fluviais;
.......
Art. 21. Compete à União:
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações
internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
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IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo
território nacional
ou nele permaneçam temporariamente;
.......
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
.......
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;
.......
CAPÍTULO VI - DA INTERVENÇÃO
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para:
.......
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
.......
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros
que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
.......
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais
que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
NOTA DO SITE: não é verdade que o Congresso resolve definitivamente sobre tratados, porque a
última palavra é
do Presidente da República (de acordo com o artigo 84, VII, quem representa a República no cenário
externo é o
Executivo, não o Legislativo): o Congresso autoriza a ratificação (que pode ocorrer – obrigando o país –
ou não). A
manifestação congressual só é realmente “definitiva” quando o Legislativo proíbe o Executivo de ratificar o
tratado,
posto que, assim agindo, o Presidente da República estaria incorrendo em crime de responsabilidade.
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que
forças estrangeiras
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos
previstos em lei
complementar;
.......
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição em sessão secreta, a escolha dos
chefes de
missão diplomática de caráter permanente;
V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União,
dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios;
.......
Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:
I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do
Distrito
Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática
temporária;
.......
Art. 84 – Compete privativamente ao Presidente da República:
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes
diplomáticos;
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a
referendo do Congresso Nacional;
.......
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo
Congresso Nacional ou
referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas
condições, decretar, total
ou parcialmente, a mobilização nacional;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem
pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente;
.......
Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e
dele participam:
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo
dois nomeados pelo
Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos
Deputados, todos com
mandato de três anos, vedada a recondução.
.......
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Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
.......
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito
Federal
ou o Território;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
.......
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a
decisão recorrida:
.......
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
.......
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas
rogatórias;
.......
II - julgar, em recurso ordinário:
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo
internacional, de um lado,
e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;
.......
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância,
pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a
decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
.......
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
.......
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e
Município ou pessoa domiciliada ou
residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado
estrangeiro ou organismo
internacional;
.......
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
.......
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar;
.......
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a
execução de carta rogatória, após
o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;
.......
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade
de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais
de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Inclusão: EC 45/04)
.......
TÍTULO V - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
CAPÍTULO I - DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO
Seção II - DO ESTADO DE SÍTIO
Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de
Defesa Nacional,
solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio
nos casos de:
.......
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
.......
Art. 138, § 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de
trinta dias, nem
prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado
por todo o tempo que perdurar
a guerra ou a agressão armada estrangeira.
.......
Art. 149, § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o
caput deste artigo:
.......
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I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação; (Inclusão: EC 33/01)
II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; (Red: EC 42/03)
.......
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
I - importação de produtos estrangeiros;
II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;
.......
TÍTULO VII - Da Ordem Econômica e Financeira
CAPÍTULO I - DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes
princípios:
I - soberania nacional;
.......
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País. (Red: EC 06/95)
.......
Art. 172 - A lei disciplinará, com base no interesse nacional, os
investimentos de capital estrangeiro,
incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de lucros.
.......
Art. 176, § 1º - A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a
que se refere o caput
deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no
interesse nacional, por
brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua
sede e administração no País, na
forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se
desenvolverem em faixa de
fronteira ou terras indígenas. (Red: EC 06/95)
.......
Art. 177. Constituem monopólio da União:
.......
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
.......
Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo,
quanto à ordenação do
transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da
reciprocidade.
Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a lei estabelecerá as condições
em que o
transporte de mercadorias na cabotagem e a navegação interior poderão
ser feitos por embarcações
estrangeiras.
.......
Art. 190 - A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por
pessoa física ou jurídica
estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional.
.......
Art. 207, § 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas
estrangeiros, na forma da lei.
.......
Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens
é privativa de
brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas
constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sede no País.
§ 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das
empresas
jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou
indiretamente, a brasileiros
natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a
gestão das atividades e
estabelecerão o conteúdo da programação.
§ 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação
veiculada são
privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em
qualquer meio de comunicação social.
.......
§ 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de
que trata o § 1º.
----- XXX ----
Resumo de Direito Internacional

Assunto:

CURSO DE
DIREITO INTERNACIONAL

TEORIA PURA DO DIREITO DE KELSEN


Ciência
Objeto do Direito

O ESTADO
Elementos Constitutivos do Estado

DIFERENÇA ENTRE ATO E FATO JURÍDICO


Conceito de Ato Jurídico
Tipos de Atos Jurídicos
Características dos Atos Jurídicos

DIREITO PRIVADO INTERNACIONAL

ELEMENTOS DE CONEXÃO
TRATADOS INTERNACIONAIS
Ratificação
Incorporação
Tratados com a Santa Sé

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL
Conceito
Criação (Formação)
Perda do status de membro
Classificação
Estrutura das Organizações Internacionais

ONU
Agências Internacionais Relacionadas com as Nações Unidas

OEA
Órgãos Principais da OEA

NACIONALIDADE
Sistemas Definidores
Brasileiros Natos
Brasileiros Naturalizados
Perda da Nacionalidade de Origem

EXPULSÃO/DEPORTAÇÃO/EXTRADIÇÃO
Expulsão
Deportação
Extradição

VISTOS
Visto de Trânsito

DIREITO COMUNITÁRIO
Direito Interno e Internacional
Teorias Monista e Dualista
Soberania Estatal
Defesa da Soberania no Direito Internacional
Direitos Humanos
Relações Globalizadas
Natureza Constitutiva do Vínculo Criado Entre os Estados no Direito
Comunitário
Características do Direito Comunitário

LEASING EM DIREITO INTERNACIONAL

DIREITO INTERNACIONAL E OS REFLEXOS NA BALANÇA COMERCIAL


DIREITO INTERNACIONAL NO MERCOSUL

REVISÃO DA “TEORIA GERAL DO ESTADO” E “TEORIA GERAL DO


DIREITO”

FUNÇÃO DO ESTADO
Criar e aplicar o direito

CATEGORIAS DEONTOLÓGICAS DO ESTADO


Ontologia = estudo do ser.
Elementos modais (que modelam a ciência do direito).
Princípio Ontológico do direito: artigo 5o, II CR/88.
Não há direito sem as categorias deontológicas.
Lei do 4o excluído: há apenas 3 categorias deontológicas, a saber:
a)Proibição: não é necessário estar expresso na norma. Ex. “matar alguém”.
b)Obrigação
c)Permissão

TEORIA PURA DO DIREITO DE KELSEN

CIÊNCIA
-b - Objeto
-b - Método
-b - Princípios

OBJETO DO DIREITO

Normas.
“Relação social’ é objeto de várias ciências, não sendo suficiente para ser
explicado como objeto do direito, portanto. O direito é peculiar em relação aos
outros campos.
Kirchmman acreditava que bastava uma nova lei para mudar toda uma
legislação jurídica e, dessa forma, o direito não poderia ser entendido como
“ciência”, pois seu objeto muda, diferentemente das ciências da natureza.
Diferentemente, hoje sabe-se que a ciência da natureza é “eterna”, mas
apenas até que se prove o contrário, sendo úris tantum. Também afirmava o
autor que o direito é uma ciência cultural, que muda a todo instante e seu
objeto é mutante. Apesar da afirmativa do autor, há algo no direito que não
muda nunca: a teoria pura do direito de kelsen, surgida numa época onde o
direito não conseguia se afirmar como ciência. Mas o autor foi extremamente
criticado, e ainda o é, especialmente na região latino-americana, que criticou
sua teoria por ser ensinada durante o período militar, e também sob o
argumento de que a teoria pura do direito admite qualquer conteúdo, inclusive
o ditatorial, o que não deixa de ser uma afirmativa absolutamente falsa.

Direito cria fato? Não, direito somente cria direito (os 3 elementos
deontológicos), direito este que pode ser inadimplido. Fato cria direito?
Contrariando a sociologia, não. E prova-se da seguinte forma: o nascimento
cria direito? Alguns sociólogos acreditam que sim, a personalidade civil.
Mas é a incidência de uma norma sobre o fato”nascimento” que gera a
personalidade civil. Se a norma estabelecesse a idade de 10 anos para a
personalidade civil, o fato “nascimento” não traria relevância para o direito.
Logo, não é o fato que traz a realização de uma norma, mas sim o que o
Estado deseja.

Dissolução da sociedade conjugal: até 1977 a norma deontológica era a


“proibição” (em ser dissolvida) e depois dessa data foi alterada para
“permissão”. Logo, até 1977, o casal é, reciprocamente, sujeito ativo e passivo,
cujo objeto era o contrato de matrimônio lícito. Duas pessoas do mesmo sexo
trata-se de “união estável” e não um “contrato de matrimônio”, portanto, já que
este é lícito. Depois de 1977, a relação jurídica é a mesma (reciprocidade de
sujeitos ativo e passivo), assim como o objeto lícito, mas o que diferencia é a
norma (conteúdo normativo), porque a categoria deontológica mudou. Somente
com a alteração da categoria deontológica, altera-se o conteúdo normativo. O
que muda é a norma, mas o conceito de sujeito ativo, sujeito passivo, relação
jurídica, etc. não mudam, pois são “estruturas lógicas de direito”.

As estruturas lógicas do direito são as mesmas em todo lugar do mundo,


alterando-se o conteúdo. Ex. propriedade privada (“permissão”). O conteúdo
normativo pode até mudar (ex. conceito de “mulher honesta” nas várias regiões
do Brasil) mas a norma não muda.

O ESTADO

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO

ELEMENTO FÍSICO
a)Base territorial do Estado.
b)Ponto imaginário do talvegue (meio) de rio ou lago.
c)Plataforma continental (cerca de 200 milhas da praia) no plano
horizontal.
d)Plano vertical: até onde o Estado possa alcançar.

Conceito: “Âmbito de validade espacial da ordem jurídica do Estado” (Kelsen).

A lua pode ser território do Brasil? Não, enquanto o Brasil não conquistou tal
espaço, dessa forma, a lua pode ser considerada território americano. Para
crime praticado dentro da nave aplica-se a lei do território do local da nave.
Para crime praticado na lua, aplica-se a lei no primeiro lugar em que a nave
pousar. A Antártica não é território de ninguém, aplicando-se entre as
nacionalidades de cada um (estrangeiro). Para navio brasileiro em alto mar,
aplica-se a lei brasileira, porque é âmbito de validade espacial da ordem
jurídica brasileira.

Embaixadas: acreditava-se que era território nacional, por causa da “Teoria da


Extraterritorialidade”, foi posta abaixo por considerar o espaço território.

“Teoria da Relevância das Funções”: não se aplica a lei do Estado onde está,
exerce funções relevantes que necessitam de imunidade. Apenas não se aplica
se não for relevante. Ex. se o embaixador inglês bate no carro do Brasil (justiça
do Brasil).
Apenas para atos de gestão e atos de soberania. Ex. C.E.F.: é empresa pública
de capital privado, regidas pela CLT, quando age com soberania do Estado (ex.
indeferimento do FGTS), cabendo mandado de segurança. Quando age
escolhendo o terceiro lugar do concurso para a C.E.F. é ato de gestão, não
cabendo a segurança (pode caber cautelar, processo ordinário, etc). Estado
acreditando: aquele que recebe missão estrangeira. Estado acreditante: aquele
que envia missão para o estrangeiro. Para um trabalhador americano que
trabalha na embaixada do Brasil a jurisdição é a brasileira (é ato de gestão, não
importa para as relações diplomáticas, não é relevante). Embaixada é
“território” do lugar onde está, mas aplica-se a jurisdição do Estado acreditado
para atos de império. O criminoso que se refugia na embaixada não pisa em
território nacional, mas a jurisdição estrangeira que não se aplica, apesar de
ser território estrangeiro.

ELEMENTO HUMANO
Âmbito de validade pessoal da ordem jurídica do Estado (acreditante, se o
indivíduo entra na embaixada brasileira nos EUA).

a)População: dado estatístico ou geográfico, quem habita o Estado, é mais


amplo que o conceito de “povo”, pois abrange crianças, menores de 16 anos,
as pessoas que votam facultativamente, e o povo. Independe da vontade do
Estado.

b)Povo: quem participa da vida política, quem vota e pode ser votado. Conceito
jurídico formal porque depende de país para país.
c)Nação: conceito cultural, mesma cultura, traços do passado, presente e
futuro. No Brasil há várias nações (indígena, das fronteiras, etc). A nação,
portanto, não distingue um país do outro. Porque o Rio Grande do Sul não se
separa? Alguns autores acreditam que existem fatores de unidade nacional:
língua, religião, futebol, etc.

PODER
Fenômeno Social, travado entre dois pólos, mando e obediência, no plano
vertical. O poder emana do povo, mas quem exerce o poder diretamente são
os agentes políticos e deve ser a investidura, para a legitimidade.

a)Legitimidade: da autoridade, investidura. Cabe mandado de segurança. Voto,


concurso público (ex: juízes de primeira instância), nomeação (ex. Ministros de
Estado, 2a instância do judiciário, etc)

b)Legalidade: exercício. Agente capaz, objeto lícito, forma prescrita em lei. A


legalidade não basta aos 3 aspectos formais. Há pressuposto lógico do ato
administrativo (motivação) e um posposto (finalidade). Antes de jurídico, o
poder é político. O direito é limitador do poder político. O poder do Estado não
admite outros poderes iguais a ele sendo, portanto, soberano. Soberania não é
um 4o elemento do Estado, como muitos doutrinadores pensam. Georg
Jellineck afirma que é uma “qualidade” e não um 4 o elemento, com muita
propriedade. No plano externo, não há poderes maiores que o Estado.
Soberania vazada. Admite-se apenas um poder igual a ele.

No plano econômico os Estados não são iguais, mas no ponto jurídico são
iguais. É uma qualidade do poder do Estado.

Kelsen afirmou que o Estado pode ser entendido pelo ordenamento jurídico (a
pirâmide): Constituição e Emendas Constitucionais / Lei Complementar / Lei
Ordinária – Medida Provisória – Decretos do Legislativo / Decreto / Portarias
normativas – Instrução Normativa – Circulares Normativas – Pareceres
Normativos – Avisos Ministeriais / Normas Particulares (ex: contrato de compra
e venda onde tem fundamento jurídico no CCB, que é lei ordinária), que
obedece à CR/88. Só não entra aquilo que não se permite em lei. Ex. compra e
venda de tóxicos. Também entram nas normas particulares, o negócio jurídico,
atos administrativos, sentenças. Formam tudo que preenche a pirâmide, um
sistema, que tem unidade. Devem estar em consonância para que não ponha
abaixo todo o sistema. A função sistematizadora é a constituição. Forma o
sistema jurídico / ordenamento jurídico do Estado: organiza, dá unidade
(distribui a competência entre União, Estados e Municípios) e sistemiza.

FUNDAMENTO DE VALIDADE DA CR/88


Um fato gerador gera o poder constituinte:
a)Golpe de Estado (que cria o Estado)
b)Revolução
c)Assembléia constituinte.
Tal afirmativa retiraria a validade da Teoria Pura do Direito de Kelsen, já que o
direito estaria baseado em um fato, não podendo ser encarado como ciência
que é. Primeiro poder constituinte: ocorrido em 1824, com a criação da primeira
constituição do Brasil. Antes, o país era vice-reino de Portugal e aplicara-se o
ordenamento jurídico português. A declaração de independência de 1822 que
gerou, estando o primeiro poder constituinte calcado em um fato. Segundo
poder constituinte: 1822, sob o fato da Proclamação da República. Sétimo
poder constituinte: 1988, havendo o fato da assembléia constituinte. Não é o
fato que determina o poder (se foi legítimo ou não, não importa) e sim a
efetividade do poder, que rompe com o modelo jurisdicional, para que a
comunidade jurídica internacional o reconheça como Estado.No seio de uma
comunidade que vive em território o poder é exercido de forma efetiva, TODO
ATO DESSE PODER PRODUZIRÁ DIREITO NOVO, em oposição à ordem
jurídica anterior.O conteúdo da norma hipotética, portanto, não foi o ato da
independência, mas o conteúdo do Princípio da Efetividade e sim a incidência
da norma internacional sobre o fato. Houve reconhecimento de Estado apenas
na primeira constituição.

A Palestina é um Estado? Tem elemento físico (com certas restrições) e tem


elemento humano constituído (sendo nação), mas não tem poder. Qual a
autoridade da Palestina? O chefe, que é reconhecido internacionalmente pela
ONU e OEA. O elemento físico é disputado, não conseguindo implantar direito
novo, rompendo com a ordem jurídica de Israel (o poder não é efetivo). Há
acordo entre a autoridade palestina e os outros países, mas não entre o Estado
Palestino.
Por que a Palestina não é Estado? Porque não tem poder efetivo. O poder
constituinte número 2 do Brasil já estava reconhecido. Então o que mudou? A
forma de governo e a forma de Estado. Saiu de Estado unitário para uma
Federação (forma de Estado). Saiu de monarquia (Império) para República
(forma de governo). Não foi o fato, mas a incidência de uma norma
internacional (Princípio da Efetividade). A norma não reconhecerá, portanto, o
Estado, mas sim o Governo (que mudou). Reconhece-se que houve uma
mudança de governo (o Brasil já era Estado).

A LEGITIMIDADE
O que interessa é que o poder seja efetivo. A legitimidade não é fator
determinante – o poder do tráfico colombiano concorre com o governo
colombiano. No caso, havendo um golpe, haveria um novo governo, que
deveria ser reconhecido pelo Brasil (artigo 4o, III, CR/88), apesar do artigo 5o,
XLIII CR/88, que reprime o terrorismo. No plano do direito internacional, o que
importa não é a legitimidade é sim a efetividade. A efetividade é a base da
soberania.

Em decorrência da efetividade do Governo, há o Princípio da Continuidade,


para assegurar a continuidade do Estado. O poder constituinte,
tradicionalmente, é um poder ilimitado, pois é a expressão do titular do poder
(povo, artigo 2o CR/88) mas este dogma está sendo posto abaixo. O poder é
constituinte e não poderá desconstituir o Estado para formar outros, por
exemplo: o primeiro poder constituinte, sua limitação. Na prática, quem
desconstituiu é o golpe e a revolução.

O Poder Constituinte pode tudo, exceto desconstituir o Estado. Mas então o


primeiro poder constituinte do Brasil foi ilimitado? Não, ele não podia avançar
nos direitos dos Estados internacionais. Uma norma legítima que dispusesse
que o Brasil não pagará sua dívida externa não faz sentido, porque trata-se de
um contrato internacional público (pacta sunt servanda) que não poderá ser
colocado na constituição brasileira. Porque o direito internacional limita?
Porque quando nasce o Estado, ele já nasce dentro de um complexo de
direitos e obrigações internacionais, a comunidade jurídica internacional.

Artigo 52, IX CR/88: a República Federativa do Brasil dá aval para os Estados


estarem com dívidas. Mas, se algum estado se separasse do Brasil, não
poderia se eximir da dívida, por ser um novo estado.

O ESTADO É A UNIÃO DA INCIDÊNCIA DE ORDENAMENTO JURÍDICO


EFETIVO SOBRE A VIDA DE UM POVO QUE VIVE EM DETERMINADO
TERRITÓRIO.

DIFERENÇA ENTRE ATO E FATO JURÍDICO

CONCEITO DE ATO JURÍDICO


Fato qualificado por uma manifestação de vontade. Ex. sentenças, tratados
internacionais.

TIPOS DE ATOS JURÍDICOS


a)Ato Inexistente = nulo de pleno direito.
b)Ato Anulável = ato que existe, mas está viciado.

CARACTERÍSTICAS DOS ATOS JURÍDICOS


1.Existência = para existir no plano material, o ato jurídico deve possuir
sujeito, objeto e forma.
2.Validade = saber se o sujeito é capaz, se o objeto é lícito, se a forma é
a prevista em lei.
3.Eficácia = aptidão para produzir efeitos jurídicos. Ex. “jogo do bicho”
possui existência e validade, mas não goza da efetividade.

Uma sentença proferida por quem não é juiz é uma sentença inexistente (pois
não passa pelo requisito da existência), ao contrário de uma sentença proferida
na justiça do trabalho de servidor público federal (que poderá ser anulável,
apenas).
O ATO JURÍDICO NO PLANO DO DIREITO INTERNACIONAL
-Existência:
• Sujeito = Estado + Organismos Internacionais
• Objeto = lícito
• Forma = análise de convenções. Ex. Convenção de Viena.
-Validade
-Eficácia = incorporação no direito internacional ratificando dos tratados.

DIREITO PRIVADO INTERNACIONAL

As regras de direito internacional privado indicam somente qual o direito a ser


aplicado ao caso concreto. Assim, as relações entre particulares ou entres
públicos de estados soberanos diferentes é regido pelo direito internacional
privado, é composto somente de regras indicativas sobre qual o direito será
aplicado, se nacional ou estrangeiro, à lide privada entre entes ou pessoas.

No Brasil, aplica-se a Lei de Introdução ao CC, que contém asa seguintes


regras:
• lei material aplicável aos contratos – lei do local do cumprimento da
obrigação;
• lei material aplicável ao matrimônio e ao regime de bens – lei do país de
domicílio dos nubentes, ou a lei do país do primeiro domicílio conjugal, caso
os nubentes tenham domicílios diversos;
• lei material aplicável ao começo e ao fim da personalidade, o nome, a
capacidade e os direitos de família – lei do país do domicílio da pessoa;
• lei material aplicável aos bens – lei do país em que estiverem situados;
• lei material aplicável às obrigações – lei do país em que constituírem;
• lei material aplicável às ações de imóveis situados no Brasil – compete
somente à autoridade judiciária brasileira;
• lei processual aplicável aos processos com trâmite no Brasil – lei processual
brasileira.

Assim, o juiz quando depara com lide envolvendo relações internacionais deve
consultar o direito privado internacional e se for o caso, pode aplicar o direito
estrangeiro, que está catalogado no consulado.

Objetivo – determinar qual será o direito aplicável a uma lide com conexão
internacional.

ELEMENTOS DE CONEXÃO

Elementos de conexão:
• domicílio é o elemento básico – domicílio fixo, centro das atividades, local
onde a pessoa for encontrada
• autonomia da vontade – em matéria contratual, as partes podem eleger o
direito aplicável, em caso de controvérsia. Assim, as partes podem definir
no contrato o foro competente para dirimir controvérsias.

Casos de não aplicação do direito público internacional:


• ordem pública – se ferir a ordem jurídica nacional, não será aplicado;
• fraude à lei – o direito internacional não pode fraudar a lei nacional;

TRATADOS EM DIREITO INTERNACIONAL

A RATIFICAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO


É o Crivo do órgão público, baseado no artigo 49, I, CR/88. Não é todo tratado
que passa pelo Congresso Nacional, apenas aqueles onde há encargo ou
compromissos financeiros. Exceção dos acordos executivos, que não precisam
passar pelo crivo do Congresso Nacional.

INCORPORAÇÃO
O congresso analisa o tratado e o publica no Diário Oficial, tornando-o, então,
com força de lei.

TRATADOS FIRMADOS COM A SANTA SÉ


Chamado de “concordata” e não se confunde com a concordata do
direito comercial, tratando-se de acordos com a Igreja.

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA


Casos de não aplicação do direito público internacional
• ordem pública – se ferir a ordem jurídica nacional, não será aplicado;
• fraude à lei – o direito internacional não pode fraudar a lei nacional;

Compete ao STF (art. 101, I, “h” CF)


Homologação – ato que põe fim ao processo, nunca decisão interlocutória.
Exequatur – ato cumprimento de carta rogatória de sentença estrangeira -

Homologação de sentença estrangeira


• Será sempre procedida pela corte superior – STF que :
• sentença transitada em julgado no estrangeiro, que tem que ser executada
no Brasil;
• parte solicita ao STF a homologação da sentença;
• tradução oficial com vista do cônsul brasileiro no País estrangeiro, que vai
verificar se o juiz é competente e se a tradução é fiel;
• STF não verifica o mérito, mas tão-somente se a sentença é contrária à
ordem pública e se houve fraude à lei;
• homologada a sentença, esta será executada junto à justiça federal.

Exceção à homologação – Protocolo de Las Lenas, de 12/11/1996 no âmbito


do Mercosul, que dispõe :
“as sentenças advindas dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai) podem ser executadas sem homologação pela justiça federal.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL

CONCEITO
Caráter voluntário.
Caráter partidário = igualdade jurídica (cooperação). Ex. A ONU tem poder de
veto.
Pluralidade de membros.
Independência jurídica.

CRIAÇÃO OU FORMAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS


O membro pode ser fundador ou mero participante das organizações. O Estado
deve conter os requisitos necessários à sua entrada nas organizações. Ex.
OEA é apenas para Estados americanos, excluindo, assim, por exemplo, a
Europa.

PERDA DO STATUS DE MEMBRO


É a retirada (mas deve assumir os compromissos prestados anteriormente, por
expulsão ou suspensão.

CLASSIFICAÇÃO
1)Quanto ao Sujeito
• Abertas – a outros membros, por cláusulas de adesão.
• Fechadas

2)Quanto a Finalidade
• Fins Amplos – para vários assuntos.
• Fins Específicos – ex. para fins militares, apenas.

3)Quanto ao Espaço
• Universais – gerais, exigem participação de todos.
• Regionais – ex. OTAN

4)Quanto à Natureza dos Poderes Executivos


• Intergovernamentais – para relações entre os Estados
• Supra-Nacionais – abrir mão de parte da soberania. Ex. questões
de fronteiras.
ESTRUTURA DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
1)Assembléia Geral
-Uma vez por ano, em média.
-Vontade política
-Esporádica

2)Conselho
-Pode ser constante ou permanente

3)Órgãos Burocráticos
- Ex. UNESCO

4)Auxiliares

5)Sede
-Estipulado em tratado
-Acordo de sede.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU


1)Histórico
Surgida a partir da segunda guerra mundial. Substitui a Liga das Nações. É
aberta em relação a novos membros. Sede: New York. 185 Estados Membros,
inclusive o Brasil (artigo 4o. da CR/88)

2)Principais Órgãos
-Assembléia Geral
-Conselho de Segurança
-Conselho Econômico Social
-Conselho de Tutela
-Corte Internacional de Justiça (competência pode ser em razão da
matéria e em razão da pessoa).
-Secretariado

AGÊNCIAS INTERNACIONAIS RELACIONADAS COM AS NAÇÕES


UNIDAS
-OIT (Organizações Internacionais do Trabalho)
-FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)
-AEIA (Agência Internacional de Energia Atômica)
-UNESCO (Organizações das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura)
-OMS (Organização Mundial de Saúde)
-BIRD (Banco Internacional por Reconstrução de Desenvolvimento)
-FMI (Fundo Monetário Internacional)
-OIAC (Organização Internacional da Aviação Civil)
-UIT (União Internacional de Telecomunicações)
-IMO (Organização Marítima Internacional)
-OMC (Organização Mundial de Comércio)

OEA
Órgãos Principais da OEA
-Assembléia Geral – órgão supremo
-Reunião de Consulta dos Ministros dos Estados Membros
-Conselho permanente:
• Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral
• Comissão Jurídica Interamericana de Jurisconsultos
• Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura
• Comissão Interamericana de Direitos Humanos
-Secretaria Geral
-Conferências Especializadas

NACIONALIDADE

SISTEMAS DEFINIDORES
a)jus sanguinis – Itália
b)jus solis –
O sistema brasileiro é misto, predominando o jus solis (são considerados
brasileiros os nascidos em território nacional).

BRASILEIROS NATOS
-Artigo 12, I, CR/88:

.Regra Geral = jus solis


.Exceções = jus sanguinis

Ex. pai brasileiro o mãe brasileira (que não exige prazo). Se um filho da
Procuradora da Fazenda Nacional que nasceu fora do Brasil, que foi a trabalho
do governo brasileiro para a discussão da dívida externa. Se for a serviço de
uma empresa privada, o filho deve morar no Brasil e optar pela nacionalidade.
Se não o fizer e o estrangeiro adote o jus sanguinis, não há nacionalidade, é
apátrido. O apátrido viaja com o registro de nascimento obtido no consulado,
sendo que o registro não confere a nacionalidade.

BRASILEIROS NATURALIZADOS
-Artigo 12, II, CR/88.
-Artigo 12, II, §1o – “Estatuto da Igualdade” – Requisitos:
a) Não condenação
b) Residir no Brasil
c) Expressar-se no idioma nacional
-Competência para ser naturalizado: juiz federal (artigo 109, X, CR/88).
-O procedimento de naturalização é administrativo, feito perante a justiça
federal, que o encaminha para o Ministério da Justiça. Segue então para a
justiça federal, onde o juiz federal marca uma audiência de naturalização e o
estrangeiro é transformado em nacional (a audiência é solene). Sempre feito na
1a vara da justiça federal, e o juiz apenas analisa:

♣ processo (se o estrangeiro não tem condenação)


♣ capacidade de expressar-se no idioma nacional (artigo 12, §2o CR/88).

Apenas a Constituição pode distinguir o brasileiro nato do naturalizado. A


Constituição precisou emendar para acolher o disposto na Lei Complementar
97 (Emenda 23/99).

Artigo 119 CR/88: Tribunal Superior Eleitoral (escolha dentre os Ministros do


STF, que devem ser brasileiros natos, não se permitindo brasileiros
naturalizados, portanto)

PERDA DA NACIONALIDADE DE ORIGEM


Via de regra, com a aquisição voluntária de determinada nacionalidade, perde-
se a origem

EXPULSÃO / DEPORTAÇÃO / EXTRADIÇÃO

EXPULSÃO
Retirada do território nacional do nocivo (aquele que ofende os bons costumes,
a soberania, por exemplo), sendo ato privativo do Presidente da República,
mediante decreto. Contra o decreto de expulsão não cabe recurso para o STF,
pois para recursos no STF não se admite prova pré-constituída (de plano) e no
caso da expulsão essa prova é necessária. Caberá, porém, ação ordinária na
justiça federal para discutir o decreto de expulsão.

DEPORTAÇÃO
Retirada do território nacional do irregular (por visto vencido, ou aquele que
entrou clandestinamente, por exemplo). Feito pela polícia federal e não
necessariamente a deportação deve ser feita para o país de origem,
especialmente se tratar-se de crime político.

EXTRADIÇÃO
Retirada do território nacional daquele que cometeu crime fora do território
nacional para que o mesmo responda por processo criminal, lembrando-se
que, para crimes políticos, não se autoriza a extradição. O pedido de extradição
deve ser feito perante o STF. O conceito de crime político é complexo e deve
ser analisado no caso concreto. Ex. matar Presidente da República pode não
ser crime de caráter político mas, simplesmente, passional. O brasileiro não
pode ser extraditado, de acordo com o artigo 5o, LI, CR/88, exceto:
a)o naturalizado, para crime praticado antes da naturalização;
b)aquele que se envolveu em tráfico de drogas.
Lembra-se que ocorrerá a extradição do brasileiro cujo país interessado
mantenha Promessa de Reciprocidade com o Brasil. Se mais de um país
requerer a extradição, será feita para o país que primeiro a requereu.

VISTOS

VISTO DE TRÂNSITO
Em aeronaves, não é necessário o visto de trânsito. O visto temporário pode se
transformar em permanente, de acordo com o artigo 13 e 37 da Lei do
Estrangeiro. Artigo 56 da Lei 6.830: para os casos de estrangeiro com
passaporte de país que mantém relações com o Brasil.

DIREITO COMUNITÁRIO

O DIREITO INTERNO E O DIREITO INTERNACIONAL


Direito Comunitário é o estudo recente dos blocos comunitários (ex. União
Européia e Mercosul), não se tratando de direito interno ou de direito
internacional, é um novo direito entre ambos.

D. Interno .................................. D. COMUNITÁRIO............................... D.


Internacional

DOUTRINAS MONISTA E DUALISTA


A eterna luta entre o direito interno e o direito internacional em relação à sua
aplicação fez surgir doutrinas divergentes, a saber:

a)Doutrina Dualista:
Existência de duas ordens jurídicas distintas, uma ordem jurídica do Estado (de
direito interno ou constitucional) e uma ordem jurídica de direito internacional
(tratados e costumes, basicamente). Sendo assim, cada doutrina irá
prevalecer, dependendo do momento em cada caso.

b)Doutrina Monista:
Há apenas uma ordem jurídica, conhecida com mundial, onde convivem o
direito internacional e o Estatal. Alguns autores acreditam que o direito interno
prevalece sobre o internacional e outros doutrinadores afirmam o contrário. Os
doutrinadores dualistas não se dividem em dois grupos, portanto.

SOBERANIA ESTATAL
Em relação à soberania dos Estados, cada corrente cria seus conceitos,
divergindo-se, a saber:
a)Os monistas acreditam que o direito internacional é soberano e somente
existe o Estado porque o direito internacional assim o deseja, pelo Princípio da
Efetividade dado ao Estado.

b)Diferentemente da primeira corrente, acredita-se que o direito estatal é


soberano porque os Estados é que desejam que haja um direito internacional.

DEFESA DA SOBERANIA FUNDADA NO DIREITO INTERNACIONAL


Não há isonomia jurídica dos Estados no plano internacional. A soberania deve
ser tratada de forma absoluta. Se o Estado recepcionar algum tratado
internacional (o que ocorre no Brasil, por exemplo) como norma constitucional
é um grande avanço (ex. artigo 5o, §2o CR/88) mas, no caso do Brasil,
infelizmente o STF não dá o devido tratamento constitucional, e sim como “lei”,
apenas.

DIREITOS HUMANOS
Trata-se de um cuidado entre países vizinhos para manter a própria segurança
e bem estar social, passando a ser uma preocupação de todos os Estados, e
não apenas em relação aos países mais favorecidos economicamente. Não há
como manter a soberania absoluta e cuidar de questões internacionais ao
mesmo tempo. Sendo assim, o que se busca então é a internacionalização dos
direitos constitucionais (criando-se novas constituições). O Brasil, por exemplo,
trouxe os princípios de direito internacional para a norma constitucional, em seu
artigo 5o, §2o e artigo 4o, II da CR/88. “Uma ameaça aos direitos humanos é
uma ameaça à justiça em qualquer parte” (Martin Luther King).

RELAÇÕES GLOBALIZADAS
Ultrapassando-se as barreiras nacionais, atinge-se a economia globalizada. No
passado, os Estados reuniam-se para firmar tratados, não criando algo novo,
em confederações de países. Essas reuniões ainda permitiam o “Direito de
Secessão”, como um direito de desligamento do acordo o tratado pelo Estado
interessado, já que tratava-se de contratos, onde predominava o pacta sunt
servanda. Assim, as reuniões de Estados eram precárias e temporárias,
portanto.

Atualmente, no direito comunitário, surge um novo vínculo entre os Estados,


não de natureza contratual mas de natureza constitutiva, pois está na CR/88
(Pacto Federativo), não havendo mais o Direito de Secessão. Sendo assim, se
um Estado desejar retirar-se da União, no Brasil, a União poderá realizar a
intervenção no mesmo, já que a CR/88 não permite a separação de Estados-
membros. Assim, no plano internacional, se o fator econômico (globalização) é
efetivo e permanente, não caberia mais as confederações de Estados mas sim
um vínculo de natureza constitutiva (para que não possa ser rompido) e, para
tal, a soberania deve ser relativizada.

O direito comunitário é o surgimento de um novo nível. No plano internacional,


não há efetividade em nome da soberania dos Estados, que a tratam de forma
absoluta. Os Estados não se sujeitam às decisões internacionais, porque as
sanções internacionais (como os encargos econômicos, por exemplo) são
falidas e não tem força coercitiva. Portanto, entre o direito interno e a ordem
internacional surge o direito comunitário (ordem comunitária supra-nacional),
organizando-se um novo nível de poder entre o direito interno e o direito
internacional. O direito comunitário possui a divisão de poderes em poder
executivo, legislativo e judiciário.

NATUREZA CONSTITUTIVA DO VÍNCULO CRIADO ENTRE OS ESTADOS


NO DIREITO COMUNITÁRIO
Porque a ordem jurídica que cria o direito comunitário é semelhante à uma
constituição? Porque trata-se de um poder dotado de soberania (ex. União
Européia). As uniões de Estados tratam de forma a abrir mão de parceria de
suas soberanias estatais em determinados aspectos.

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO COMUNITÁRIO


O juiz nacional analisa o caso concreto, já que as ações são propostas no juízo
de primeira instância. Se o juiz entender que a competência é do direito supra-
nacional, enviará para a corte de direito comunitário (Ex. Corte de
Luxemburgo).
A corte analisa a matéria e, confirmando que trata-se de matéria de direito
comunitário, reenvia para o julgador interno, para que este aplique o direito
comunitário. Assim sendo, o juiz nacional faz recurso de reenvio para o tribunal
analisar como se fosse questão preliminar.

É importante ressaltar que o tribunal supra-nacional não julga, apenas


determina ao juiz qual direito será aplicado ao caso concreto. Sendo matéria de
direito supra-nacional, será o magistrado internacional.

O recurso das decisões proferidas pelo magistrado supra-nacional será para o


tribunal comunitário (ex. Côrte de Luxemburgo), relativizando o poder judiciário.
No Brasil, infelizmente, o STF não permitiria, por questões políticas, “suprimir”
sua competência em função de uma côrte supra-nacional.

LEASING INTERNACIONAL

1 – Introdução

O Sistema Financeiro Nacional tem se desenvolvido a passos largos desde os


anos 50. Nas últimas décadas, transformou-se no mais dinâmico setor da
economia brasileira, embora o atual processo de estabilização monetária o
tenha colocado diante de novos desafios, obrigando-o a fusões e associações
para disputar com vantagem um mercado mais seletivo e competitivo
Esta situação é acentuada pelo processo geral de globalização ou
mundialização econômica, estimulada e acelerada em especial pela
movimentação internacional dos capitais e pela formação de blocos
econômicos regionais, especialmente o Mercosul.

Por outro lado, isso tudo tem ocorrido paralelamente à reestruturação nem
sempre equilibrada dos sistemas produtivos. Incapacitadas para evitar o
imposto inflacionário, utilizar-se das novas ferramentas de engenharia
financeira e entender os termos jurídicos dos contratos de crédito e
financiamento, muitas empresas tornaram-se inviáveis e descapitalizaram-se.

Infelizmente, também contribuíram para isso alguns dos procedimentos


utilizados pelo sistema financeiro nos contratos firmados com empresas e
pessoas físicas. Garantias, taxas de juros capitalizadas, indexadores,
comissões de permanência e cláusulas-mandato aparecem com certa
freqüência em contratos bancários, não se ajustando plenamente à
jurisprudência nacional e aos princípios do direito privado aceitos
internacionalmente.

Procedimentos desse tipo, mesmo não generalizados, podem desvirtuar a


destinação precípua do sistema financeiro, criado para o fomento das
atividades produtivas, e chocar-se com a Justiça e o Direito. Abrem espaço
para a multiplicação e a acumulação de dinheiro por meio de operações
contábeis sofisticadas, sem base na produção real de valores, e transformam
os agentes econômicos dedicados à produção não em parceiros, mas em
perdedores.

As conseqüências implícitas nesses procedimentos, tanto econômicas quanto


jurídicas, têm levado muitos pensadores, e os próprios bancos centrais dos
países desenvolvidos, a aventar a hipótese de se discutir mais demorada e
cuidadosamente a regulação dos sistemas financeiros.

Todos têm em vista manter o dinamismo desses sistemas em consonância


com os novos parâmetros de rentabilidade, mas sem abdicar de sua
destinação de fomento às atividades produtivas humanas

As questões de Direito que uma discussão desse tipo suscita são enormes e
variadas. Neste sentido, a experiência jurídica acumulada pelos diversos
países do mundo constitui um rico acervo, que pode contribuir decisivamente
para balizar o debate e proporcionar resultados positivos, tanto aos sistemas
financeiro e produtivo, quanto ao Direito.

No que concerne aos Contratos Internacionais, por exemplo, “...não só para o


leigo é difícil mas até mesmo para o especialista não é fácil definir o que seja
exatamente um contrato e quais seus mecanismos de estruturação”. (José
Maria Rossani Garcez, Contratos Internacionais Comerciais, Editora Saraiva,
1994, p.5).

“O conceito de contrato, que, razoavelmente, pode ser expresso como a


representação de um acordo de vontades entre partes capazes, que possa
criar, extinguir ou modificar direitos e produzir efeitos de natureza patrimonial,
acha-se contemplado e definido, de distintas formas, de acordo com os
diversos sistemas legais adotados pelos países”. (José Maria Rossani Garcez,
Contratos Internacionais Comerciais, Editora Saraiva, 1994, p.5).

“O que sejam contratos internacionais encerra outro tipo de dificuldade de


classificação, a partir de elementos que os distinguiriam dos contratos internos
ou ‘nacionais’, nos quais se inserem outras regras de identificação além da
mais comum delas, relativa ao domicílio das partes. Além disso, nos diversos
sistemas legais existem distinções de fundo e forma não só quanto à estrutura,
mas, em especial, em relação à interpretação e solução de conflitos oriundos
de tais contratos”. (José Maria Rossani Garcez, Contratos Internacionais
Comerciais, Editora Saraiva, 1994, p.5).

“Na caracterização dos contratos internacionais formaram-se na doutrina


francesa duas correntes: a econômica e a jurídica. Para a corrente econômica
seria internacional o contrato que simplesmente permitisse um duplo trânsito de
bens ou valores, do país para o exterior e vice-versa. No Brasil prevaleceram
os critérios caracterizadores da chamada corrente jurídica, mais abrangente
que a primeira, em que a internacionalidade do contrato se verifica quando
contenha ele algum ‘elemento de estraneidade’, que pode ser o domicílio das
partes, o local da execução de seu objeto ou outro equivalente”. (José Maria
Rossani Garcez, Contratos Internacionais Comerciais, Editora Saraiva, 1994,
p.7).

Na opinião do Prof. Irineu Strenger constituiria um chauvinismo pensar que a


distinção entre os determinados contratos internos e contratos internacionais
de penderia unicamente de fatores geográficos. Apresenta o autor a evidência
de que um contrato caracteriza-se como internacional não só quando coloca na
relação jurídica elementos estrangeiros, mas quando reflete, em sentido amplo,
a conseqüência do intercâmbio entre Estados e pessoas em diferentes
territórios. Diferenciam-se, assim, os mecanismos usualmente utilizados pelas
partes dentro de um único território e aqueles utilizados transterritorialmente.
(Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comérico, Revistas dos Tribunais,
1986, p. 4).

“Nesse contexto, os contratos internacionais ainda mais se particularizariam


por submeterem a diferenciados e especializados mecanismos de construção,
execução e solução de conflitos.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do
Comérico, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 4).

“Os contratos internacionais são o motor, no sentido estrito, do comércio


internacional, e, no sentido amplo, das relações internacionais, em todos os
seus matizes. A experiência, contudo, demonstra-nos que o contratualista não
satisfaz necessariamente os requisitos do contratualismo internacional.” (Irineu
Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986,
p. 28)
Uma definição do que constituiria um contrato internacional comercial, ou do
comércio, como se refere, encontramos ainda no magistério do Prof. Irineu
Strenger: “São contratos internacionais do comércio, todas as manifestações bi
ou plurilaterais das partes, objetivando relações patrimoniais ou de serviços,
cujos elementos sejam vinculantes de dois ou mais sistemas jurídicos
extraterritoriais, pela força do domicílio, nacionalidade, sede principal dos
negócios, lugar do contrato, lugar da execução, ou qualquer circunstância que
exprima um liame indicativo de Direito aplicável” (Contratos Internacionais do
Comérico, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 65).

Autonomia
“A autonomia técnica dos contratos internacionais adquirem progressivamente
viabilidade afirmativa, principalmente a partir da consolidação da teoria da lex
mercatoria, e, sobretudo, pela criatividade decorrente das operações do
comércio internacional, desenvolvidas a latere dos Direitos Nacionais, e
rapidamente aceita, sem discussão. Válida, igualmente, a idéia de que os
praticantes do comércio internacional constituem uma comunidade, que
procura elaborar as suas próprias regras.” (Irineu Strenger, Contratos
Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 45)

“Como conseqüência inevitável, esboça-se uma tipologia de operações, em


processo contínuo de enriquecimento, determinando o dinamismo do contrato
internacional, cuja evidência é difícil discutir.” (Irineu Strenger, Contratos
Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 45)

Eficácia
“No plano dos contratos internacionais, deve entender-se por eficácia a força
jurídica de execução deduzida da forma e da substância dos ajustes
convencionais. A eficácia corresponderia, nessas circunstâncias, ao poder de
titularidade, do qual se dotariam as partes contratantes, para fazer valer seus
direitos territorial ou extraterritorialmente.”(Irineu Strenger, Contratos
Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 49)

“Deve salientar-se que o contrato internacional adquire essa qualidade pelo


envolvimento de pelo menos dois sistemas estranhos entre si, e que poderão,
em conseqüência, gerar divergências de qualificação.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 49)

Elementos caracterizadores – notas distintivas


“Ao estudar esse assunto, verificamos que nos contratos internacionais ocorre
um processo inexoravelmente desenvolvimentista, que, continuamente, gera a
eclosão de novas cláusulas, sempre destinadas a satisfazer as exigências do
comércio internacional, sempre desempenhando papel de extrema
singularidade quanto às diferentes instituições que abrange.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 54)

“Fenômeno que deve ser especialmente realçado é o da força crescente do


princípio da autonomia da vontade, cuja extensão já avança inclusive para a
área dos países de economia planificada, e hoje parece incontestável que a
noção de contrato, estimulada por essa influência, sofreu notáveis evoluções.”
(Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais,
1986, p. 54)

Natureza Jurídica
“Na esfera do comércio internacional, a validez e a eficácia negociais têm seu
princípio na máxima negotium constitutum sola voluntate (a vontade é criadora
do negócio jurídico).” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio,
Revistas dos Tribunais, 1986, p. 68)
Tipificação

“A tipificação dos contratos em geral é matéria sempre em destaque nas


diferentes doutrinas e, de certo modo, fonte inesgotável de postulações
teóricas, por parte dos especialistas.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais
do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 85)

“O fenômeno da tipificação contratual opera-se, no plano internacional, por


duas vias: in ordine e extra ordinem. A formação dos tipos contratuais,
obviamente, não se exaure no âmbito das normas codificadas, mas tem
inclusive conseqüências e adaptações oriundas de leis especiais, e de outras
origens normativas, que inclusive se distanciam daquelas de natureza
tradicional. (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas
dos Tribunais, 1986, p. 87-88)

“Como introdução a um processo tipificador bem delineado, podemos citar os


incoterms. (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas
dos Tribunais, 1986, p. 89)

Formação dos contratos internacionais


“A formação dos contratos internacionais do comércio deve ser considerada a
etapa mais significativa do processo de ajuste de vontades, pelas
conseqüências jurídicas que gera e pela eficácia vinculativa dos
entendimentos. Esta etapa confunde-se com todos os procedimentos
preliminares, desde os primeiros contatos, sejam eles uni ou plurilaterais.
Alguns autores costumam coincidir a formação dos contratos coma fase das
negociações, atribuindo a cada momento de evolução dos ajustes, força
convencional capaz de criar conseqüências jurídicas.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 97)

“Chama-se formação do contrato internacional do comércio todas as fases, a


partir das tentativas iniciais, que têm por finalidade a colocação de
pressupostos do objeto consensual, com força vinculativa, e eficácia jurídica,
que prevalece para todos os efeitos posteriores, salvo revogação expressa das
partes.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos
Tribunais, 1986, p. 97)

As partes e a negociação
“A negociação é tipicamente procedimento de força vinculativa, à medida que a
discussão dos problemas possa concomitantemente gerar compromissos ou
atividades concernentes, que potencializem a possibilidade de danos em face
da ruptura negocial preliminar.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do
Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 103)

“Em termos práticos, deve-se concluir que todo negociador tem o dever de
evitar que os interesses de seu parceiro possam ser comprometidos,
esforçando-se por impedir que se crie, em torno das negociações, estado de
incerteza, especialmente quando essas negociações envolvem despesas
prévias, com a perspectiva não contradita da conclusão do acordo.” (Irineu
Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986,
p. 103-104)

Decisão
“A decisão talvez seja o momento mais significativo, como culminância da fase
das negociações, pois é o momento conclusivo do debate e do diálogo
abrangente, no qual, por pressuposto, todas as questões foram devidamente
colocadas.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas
dos Tribunais, 1986, p. 106)

“O contrato definitivo é a etapa estabilizadora dos entendimentos. É ato pelo


qual as partes se comprometem definitivamente a assumir certas obrigações
determinadas. O contrato tem força obrigatória e abre, a cada uma das partes,
o direito de demandar em juízo a execução forçada das prestações prometidas,
contra o inadimplente.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio,
Revistas dos Tribunais, 1986, p. 111)

Linguagem a ser adotada pelo contrato


“A língua a ser adotada oficialmente pelo contrato deve ser objeto de cuidados
especial das partes”. (José Maria Rossani Garcez, Contratos Internacionais
Comerciais, Editora Saraiva, 1994, p. 110).

“Uma fórmula talvez de difícil elaboração, mas de bons resultados que se adota
para colocar fim a diferenças lingüísticas na interpretação dos contratos
consiste em assiná-los, num mesmo instrumento, nas línguas de ambos os
contratantes, servindo as suas versões simultâneas como instrumentos válidos
e originais para interpretação dos contratos. Outra fórmula reside em escolher
uma determinada língua como única, que servirá para interpretação do
contrato, mesmo que ele tenha sido elaborado e até firmado também em outra
que não aquela”. (José Maria Rossani Garcez, Contratos Internacionais
Comerciais, Editora Saraiva, 1994, p. 111).
Lei aplicável
“Tratando-se de contratos internacionais do comércio, fica implícita e
necessariamente firmada a idéia de que a execução e o cumprimento das
obrigações reciprocamente assumidas se situam num plano multissistemático
de dependência jurídica. Normalmente os contratos internacionais do comércio,
pela sua natureza, não ficam subordinados a regimes unitários, a não ser os
casos raros de uniformidade do direito, nem se submetem de forma
espontânea e direta à normatividade de um único Estado.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 113)
“Há duas hipóteses a considerar, tratando-se de contratos internacionais: a
primeira, do contrato omisso quanto ao Direito aplicável, e a outra na qual as
partes exercitam essa faculdade, apoiadas no princípio da autonomia da
vontade.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos
Tribunais, 1986, p. 113)

“Embora, em nossos dias, se admita quase unanimemente que os parceiros de


um contrato internacional têm o direito de designar expressamente a lei que os
rege, muitos contratos não registram essa escolha e, portanto, se sujeitam às
regras que viabilizam a determinação do Direito alienígena ou local, segundo o
regime constante das normas de conflitos dos países perante os quais a
questão se coloca, seja na esfera judiciária ou arbitral.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 113)

“Contemporaneamente, é bastante raro que não se adote essa faculdade.


Sempre com a inevitável ressalva da ordem pública, dificilmente um tribunal
deixará de reconhecer validade a cláusulas dessa natureza.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 114)

“Ainda é possível abordar-se a hipótese em que as partes não tenham feito


escolha da lei aplicável, nem explícita nem implícita, deixando de fazer
qualquer indicação. Nesse caso, devem sempre prevalecer as regras de Direito
Internacional Privado.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio,
Revistas dos Tribunais, 1986, p. 115)

Limites da vontade
“O caráter expansivo do princípio da autonomia da vontade, em que pese sua
alta receptividade geral, por parte dos contratualistas do comércio
internacional, não é, contudo, ilimitado. Trata-se de possibilidade que sofre
resistências, no momento, insuplantáveis, do jus cogens. Acertadamente deve-
se admitir que a vontade das partes, nos contratos internacionais, é
amplamente admitida, mas não se identifica com absolutismo invocado e
sustentado por alguns autores. É preciso, porém, salientar que o comércio
internacional desempenha importante papel no entendimento dos pressupostos
que alicerçam a lex voluntatis.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do
Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 117)
“Entre os elementos limitadores da vontade, colocam-se as leis imperativas
internas do território no qual o contrato deve ser executado, , e as regras de
ordem pública.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio,
Revistas dos Tribunais, 1986, p. 118)

Condições de validade
“As condições de validade repousam no princípio do mútuo consentimento a
propósito de determinado objeto. Para que um contrato seja validamente
formado, deve conter estipulações lícitas, além das que precipuamente
correspondem ao objeto. É da essencialidade dos contratos internacionais do
comércio, bem assim dos contratos em geral, que de seu conteúdo constem:
a) as partes devidamente qualificadas;
b) o objeto, de maneira explícita e pormenorizada;
c) as diferentes estipulações avençadas; e
d) as sanções, expressamente previstas.” (Irineu Strenger, Contratos
Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 134)

“No que concerne ao consentimento, deve-se ressaltar que um contrato não


será válido sem que contenha o acordo dos contratantes. As condições
estabelecidas podem ter caráter referencial, isto é, anunciar, de modo
inequívoco, regulamentos uniformes ou condições gerais. A vontade das partes
deve, obviamente, ser real, efetiva, consciente e livre.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 134)

“A inexistência desses requisitos pode ensejar ações anulatórias. (Irineu


Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986,
p. 134)

Execução dos Contratos Internacionais do Comércio


“A execução do contrato deve ser entendida como a fase subseqüente da
formação contratual, isto é, o momento em que o contrato passa a reger os
compromissos assumidos pelas partes, no plano da aplicação concreta dos
objetivos traçados. É uma etapa conseqüencial, equipada de força legal e
jurídica, pela qual o contrato se dota de legitimidade.” (Irineu Strenger,
Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 142)

Força das relações negociais


“As relações negociais são criadas mediante a expressão clausulada das
vontades e armadas de eficácia legal. As obrigações assumidas tornam-se
imperativas para os contratantes, e, formalmente, nenhuma discussão ou
dúvida devem comportar.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do
Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 143)

Prestações a cumprir
“A expressão prestações a cumprir é de natureza abrangente e pode significar
atos que vão desde uma simples compra e venda até acordos de
empreendimentos os mais complexos, envolvendo extensa tipologia contratual
e cumulação de obrigações, dada a grande força criativa e inovadora do
comércio internacional.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do
Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 149)

“O que existe de peculiar, em matéria de prestações, é precisamente a


extraterritorialidade de seu exercício, levando os contratantes a enfrentar
problemas os mais diversificados, dependendo dos sistemas legislativos que
tutelam as relações do local da prestação”. (Irineu Strenger, Contratos
Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 149)

“Embora a prestação contratual esteja ligada à substância das avenças, no


plano internacional esse quadro se modifica, em função de algumas questões
que devem ser objeto da atenção dos contratantes, tendo em vista a afirmação,
já considerada, de que a execução do contrato internacional sempre
transcende os limites de um único direito.”(Irineu Strenger, Contratos
Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 149)

Prazos e suas conseqüências


“O prazo assume nos contratos internacionais do comércio, fundamental
importância, porque não está sujeito meramente à subjetividade das partes
contratantes, mas expressa conseqüência do objeto da contratual, a ponto de
se poder afirmar que o prazo está vinculado a regras técnicas de
temporalidade. O cumprimento ou descumprimento do prazo pode gerar,
conforme as circunstâncias, conseqüências jurídicas de enorme repercussão,
tanto como dado positivo ou negativo desse exercício contratual. De tal
maneira os prazos contratuais interferem na substância do negócio jurídico
que, muitas vezes, esse compromisso se confunde com cláusulas modais.”
(Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais,
1986, p. 152)

“As conseqüências jurídicas do inadimplemento do prazo resolvem-se,


geralmente, em perdas e danos, embora se possa abordar o tema da
responsabilidade, circunscrito às peculiaridades do contrato à possibilidade do
parcelamento na identificação dos prejuízos. (Irineu Strenger, Contratos
Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 154-155)

Garantias e sua amplitude


“A grande dificuldade de enfrentar juridicamente o comércio internacional está
na sua característica de lex mercatoria, e, portanto, na grande diversificação
dos sistemas, sejam consuetudinários ou legais. Contudo, há expressões
tecnicamente generalizantes, que podem exprimir o significado da garantia,
como o conjunto de elementos convencionalmente ajustados, que permitem a
boa execução do contrato. A expressão boa execução revela toda a amplitude
da pretensão dos contratantes.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do
Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986, p. 157)

“O vasto campo das garantias constitui, sem dúvida, o centro de gravidade de


toda a atividade mercantil e, pela sua própria natureza, revela as dificuldades
jurídicas de se dar vazão completa aos inúmeros incidentes que marcam essa
estrutura funcional.” (Irineu Strenger, Contratos Internacionais do Comércio,
Revistas dos Tribunais, 1986, p. 158)

“Embora as garantias contratuais possam resultar de entendimentos


convencionados segundo recíprocos interesses, o comércio internacional
revela certa ansiedade uniformizadora, e, nesse sentido, a contribuição da
câmara de Comércio Internacional de Paris foi relevante, com a edição das
Régles Uniformes pour les Garanties Contratuelles (Publicação CCI 325). O
objetivo dessas regras é o de realizar justo equilíbrio entre os interesses
legítimos das partes contratantes. A utilização e a aplicação das Regras são
facultativas, mas oferecendo às partes soluções preestabelecidas aos
problemas que freqüentemente surgem em relação às garantias contratuais,
permitindo impedir certas práticas que foram objeto de críticas e facilitar, assim,
acordo entre os contratantes sobre os termos de uma garantia.” (Irineu
Strenger, Contratos Internacionais do Comércio, Revistas dos Tribunais, 1986,
p. 159-160)

Isto posto, ao partirmos para o desenvolvimento do tema relativo aos


Contratos de Leasing Internacional devemos, inicialmente, destacar que a
matéria encontra muitos pontos de interseção entre o Direito Internacional, e
os direitos Comercial, Tributário, Civil e Constitucional.

Ademais, no Brasil, toda matéria jurídica que envolve os sistemas bancário e


financeiro é, por natureza, mais explosiva e polêmica que outras, razão das
inúmeras – e desastradas – intervenções perpetradas nos últimos anos em
contratos pelas ditas “autoridades monetárias” (Banco Central e Ministérios da
Área Econômica, como Fazenda e Planejamento). Relembremos a extensa
lista de demandas surgidas nos diversos Planos Econômicos (Cruzados I e II,
Bresser, Collor, etc.), muitas das quais ainda não resolvidas.

A origem histórica dos contratos de Leasing é atribuída por alguns


doutrinadores ao ato político do governo americano que em 1941, durante a
Segunda Guerra Mundial, propôs e o Congresso aprovou o "Lend and Lease
Act", Lei que autorizava as Forças Armadas Americanas a emprestarem aos
países aliados, material bélico, que ao final do conflito poderia ser devolvido ou
adquirido em condições vantajosas.

Outros autores acreditam, entretanto, que a origem desta figura contratual


ocorreu após a Segunda Guerra com o cidadão americano Boothe, que firmou
um contrato com o exército americano para o fornecimento de alimentos e
verificando que o pedido superava a capacidade operacional da empresa,
contratou com um banco a aquisição destes equipamentos necessários a
produção desejada.

No Brasil, a utilização do Leasing começou a desenvolver-se na década de 70.


Nessa época foi criada a ABEL (Associação Brasileira de Leasing) e foi
promulgada a Lei 6.099/74, (alterada pela Lei 7.132/83), primeira norma a
disciplinar a matéria, regulamentando-a sobre o aspecto tributário e que vem
sendo utilizada até hoje. Por envolver direta ou indiretamente uma operação de
financiamento o Leasing é regulamentado também pelo Banco Central do
Brasil-(Resolução 2.309 de 28.08.96, que alterou a Resolução 980 de 13.12.84
e demais subsequentes).

O Leasing - ou arrendamento mercantil - é um contrato pelo qual uma empresa


cede a outra, por determinado período, o direito de usar e obter rendimentos
com bens de sua propriedade. Como no aluguel, a propriedade do bem
arrendado continua a ser do proprietário inicial até o final do contrato. As
operações de leasing prevêem um fluxo de pagamento periódico de
contraprestações (amortização do valor do bem, os encargos e a remuneração
da arrendadora) e impostos.

Uma das principais características do leasing financeiro é que, no final do prazo


do contrato, a empresa arrendatária tem a opção de adquirir o bem arrendado.

O leasing se distingue do aluguel porque:

 O valor do bem arrendado vai sendo gradativamente amortizado durante o


pagamento das contraprestações;
 No final do contrato, a arrendatária tem a opção de adquirir definitivamente
o bem arrendado;
 É permitida uma aceleração da depreciação em 30% e esta é transferida à
arrendatária.

O leasing se distingue do financiamento porque:

 O cliente não recebe recursos para a aquisição e sim o bem


pretendido;
 Durante toda a vigência do contrato, o bem continua sendo propriedade da
empresa arrendadora (contrato este que segue regras e definições fiscais
bastantes claras e específicas ).

Mas, e o leasing internacional em relação ao doméstico ? Há


diferenças substanciais ? Em que casos se aplicam ? Quais as
consequências para as partes ? Como as questões do direito envolvem-
se com as questões de natureza econômica, tributária e comercial ? É
disso que trataremos.

2 – Desenvolvimento

Extremamente importante destacar as características intrínsecas ao leasing


internacional em relação ao leasing doméstico, na medida em que a matéria foi
uma das mais palpitantes do direito comercial e internacional no Brasil em
1999, após o famoso episódio da desvalorização cambial ocorrida em 15.01.99.

Os principais tipos de Leasing conhecidos no Direito Internacional são:


 Leasing Financeiro
 Lease Back
 Leasing Operacional
 Self-Lease.

O Leasing Financeiro, também conhecido como Leasing Puro ou Clássico, ou


ainda, Leasing Bancário, é o mais comum de todos os tipos de contratos de
Leasing. Nesta modalidade, três sujeitos do direito estão envolvidos: o
arrendador (quase sempre uma instituição financeira ou uma sociedade de
arrendamento mercantil), o arrendatário (cliente interessado na utilização do
bem) e a empresa fornecedora.

O Lease Back ou Leasing de Retorno - neste tipo não existe o terceiro


fornecedor. São apenas 02 sujeitos, a arrendante e a arrendatária (Lei 6.099/74
arts. 9o e 12o). Aqui o bem é da própria empresa arrendatária, que o retira do
ativo imobilizado para vende-lo a outra empresa, e esta o arrenda a vendedora.

No caso a empresa que arrenda o bem passa da condição de proprietária para


arrendatária, pagando as contraprestações pela utilização do bem.

O Leasing Operacional, ou Renting, é a espécie de Leasing onde uma


empresa proprietária dá em arrendamento um bem de sua propriedade,
comprometendo-se, no entanto, a prestar assistência durante todo o período
que durar o arrendamento.

Os artigos 5 e 6 do anexo a Resolução 2.309/96 do Banco Central, definem as


principais características do Leasing Financeiro e do Operacional, modalidades
existentes no direito pátrio.

Após a leitura dos dois artigos, fica nítida a diferença entre as duas
modalidades de Leasing. No Leasing Financeiro a empresa arrendante tem
como objetivo reaver o valor investido na aquisição do bem e a remuneração
financeira do investimento, enquanto no Leasing Operacional o intuito da
empresa arrendante é a locação do bem.

O Self Lease é o Leasing formado entre empresas do mesmo grupo


econômico é o caso de operações entre empresas coligadas e entre empresas
controladas e controladoras.

A matéria é disciplinada pelo art. 2o da Lei 6.099/74 e gera controvérsias entre


doutrinadores, uns achando que esta modalidade não é permitida no país e
outros entendendo que as operações podem ser contratadas, apenas não terão
os benefícios tributários concedidos as outras modalidades.

O artigo 28 do Capítulo IX do anexo a Resolução 2.309 de 28.08.96 do Banco


Central do Brasil é muito claro na sua redação e proíbe a contratação de
operações da espécie: “Às sociedades de arrendamento mercantil e as
instituições financeiras citadas no artigo 13 deste Regulamento é vedada a
contratação de operações de arrendamento mercantil com: I - pessoas físicas
e jurídicas coligadas ou interdependentes; (...):”.

No Leasing Financeiro Internacional, geralmente caracterizado como uma


versão europeizada do leasing, arrendador (estrangeiro) adquire um bem,
fabricado no Brasil ou no exterior, para arrendá-lo à empresa cliente
domiciliada no Brasil. No caso de bens importados, a importadora é a própria
empresa cliente. Esta responde pelo pagamento à vista de todas as taxas e
impostos que incidirem sobre a importação, incluindo frete e seguro, bem como
pelos demais custos de nacionalização do equipamento, no desembaraço da
mercadoria.

Importante passar pelas questões relativas à tributação. Há incidência de


Imposto de Renda à alíquota de 15% sobre as remessas de juros. Mas, para as
operações contratadas durante 1997, não haverá incidência do IR quando da
remessa. As remessas são isentas de IOF, que não incide também sobre a
entrada de recursos no País.

Vale lembrar, à luz de enriquecimento dentro de um trabalho de direito, que os


agentes usufruem de outras vantagens financeiras e econômicas: A
empresa cliente tem acesso a recursos a taxas internacionais, bem inferiores
às praticadas no mercado interno, e as agências especializadas em cobertura
de riscos podem cobrir o risco político e/ou comercial da operação.

Já no Leasing Operacional Internacional é uma modalidade de


arrendamento na qual não há a opção de compra do bem pelo arrendatário. O
processo de importação é feito em regime de admissão temporária aprovada
pela Receita Federal. O prazo máximo para este tipo de operação é de 59
meses. Quanto à tributação, o Imposto de Renda é de 15%, calculados sobre
as remessas das parcelas do leasing. Para as remessas contratadas durante
1997, não haverá a incidência de IR.

Temas Controversos do Leasing Internacional


O Contrato de Leasing, por sua natureza complexa contendo elementos do
contrato de locação, financiamento, promessa de compra e venda e às vezes,
mandato, tem gerado controvérsias entre doutrinadores e nos tribunais,
principalmente pela inexistência de uma legislação específica e mais
abrangente para este tipo de contrato, já que a Lei 6.099/74, alterada pela Lei
7.132/83, disciplinou o instituto apenas do ponto de vista tributário, deixando
lacunas que levam os juizes e tribunais a decidirem com base na legislação
aplicável aos outros contratos afins, resultando em decisões controversas que
muitas vezes desfiguram o objetivo dos contratos de Leasing.

Alguns destes pontos controvertidos são comuns tanto aos contratos de


leasing doméstico quanto aos de leasing internacional, razão pela qual
analisaremos alguns a seguir:
 Devolução do Bem - Pagamento das Prestações Restantes

O atraso no pagamento das prestações pelo arrendatário é, provavelmente, a


causa mais comum de rescisão dos contratos de Leasing , ocasionando a
retomada do bem pela empresa arrendante

O entendimento de renomados doutrinadores do Direito brasileiro, é de que o


arrendante tem o direito de cobrar todas as prestações ajustadas no contrato,
ainda que o bem objeto do Leasing seja devolvido, isto porque as prestações
são calculadas de forma a amortecer o valor do bem e no caso da devolução, o
arrendador teria prejuízo pelo desgaste natural e desvalorização comercial.

Maria Helena Diniz na sua obra (Curso de Direito Civil Brasileiro, 3o Volume,
página 528), assim entende: “Por outro lado, o arrendatário terá a obrigação
de: (...) pagar ao arrendador todas as prestações que completariam o
cumprimento integral da obrigação, se rescindir o contrato antes do seu
vencimento”. Idêntico entendimento expressa o reconhecido mestre Fran
Martins em seu livro (Contratos e Obrigações Contratuais, São Paulo
Forense,1996,14 a edição).

Alguns tribunais têm entendido, entretanto, que são devidas todas as


cominações previstas contratualmente, mas o pagamento de prestações
vincendas correspondentes a alugueres de um bem de cuja posse o arrendante
já se reintegrou, constitui cláusula leonina.

 Responsabilidade Civil

A questão da responsabilidade da empresa arrendadora no caso de acidente


envolvendo veículo automotivo merece uma atenção especial pelos aspectos
jurídicos que envolve.

Súmula 492 do STF: "a empresa locadora responde civil e solidariamente, com
o locatário pelos danos por este causado a terceiros", dava a impressão de ter
encerrado a controvérsia sobre o assunto.

Em virtude disto alguns julgados seguiram esta linha de raciocínio atribuindo


ao leasing um caráter predominantemente de locação o que é um
entendimento equivocado da natureza do contrato do leasing.

O acórdão prolatado na Ap. Cível 295.649, de 08.06.82, 3a Câmara Civil do


TACSP expressa bem esta linha de entendimento:

"são indisfarçaveis as semelhanças entre o leasing e a locação...Sendo assim,


o arrendante há de responder pelos danos causados pela coisa arrendada,
posto que, segundo jurisprudência consagrada na súmula 492 do STF, a
empresa locadora de veículos responde civil e solidariamente com o locatário,
por danos causados a terceiros no uso do carro locado..."
Entretanto, os tribunais do país vem decidindo com mais freqüência no sentido
que a arrendadora não é responsável pelos danos causados a terceiros, pelo
arrendatário.

 Purgação da Mora

Uma discussão interessante com relação aos contratos de Leasing é se o


arrendatário teria direito a purgação da mora, após a reintegração da posse
requerida pela arrendadora.

Apesar da legislação brasileira conferir o direito do devedor de quitar a mora na


maioria dos contratos, especialmente, nos contratos de vendas a crédito com
reservas de domínio (art. 1071, § 2o ,do CPC) e nas de alienação fiduciária em
garantia (Dec.-Lei 911/69, art. 3o , §1o e 3o ), institutos estes com elementos
semelhantes ao Leasing e onde é assegurado a purgação da mora ao
contratante que houver pago mais de 40% do preço do bem, existem
entendimentos doutrinários e jurisprudenciais em sentido contrário.

O Código Civil no seu artigo 959, inciso I, disciplina a matéria: "Purga-se a


mora: I – Por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a
importância dos prejuízos decorrentes até o dia da oferta..."

Entretanto, a Lei 6.099/74, que regulamentou o Leasing no país não tratou do


assunto, abrindo caminho para a discussão e entendimentos conflitantes por
parte dos doutrinadores e dos tribunais. A corrente jurisprudencial dominante,
no entanto, tem sido no sentido de que se aplica ao contrato de Leasing o
previsto no art. 959 do C.C, como mostram os acórdãos seguintes:

Arnaldo Rizzardo, em sua obra “Leasing-arrendamento mercantil no Direito


Brasileiro”, transcreve o seguinte acórdão do 1o TACSP: "Ação de reintegração
de posse de bem móvel, locado mediante arrendamento mercantil. Natureza
jurídica do contrato de Leasing. Possibilidade de se purgar a mora".

 Reintegração da Posse pelo Arrendante

A legislação que disciplina o instituto do Leasing no país é omissa com relação


aos meios judiciais cabíveis ao arrendante para reaver o bem objeto do
contrato. segundo Paulo Retiffe Neto: "A lei é omissa, mesmo para as
operações de bens móveis quanto as ações cabíveis ao locador para reaver o
objeto do contrato, qualquer que seja o fundamento do término da relação de
locação".

A doutrina e a jurisprudência vêm firmando-se no sentido de ser a reintegração


de posse o caminho judicial mais indicado para o arrendatário reaver o bem
objeto do contrato.
Como o bem pertence ao arrendante, ocorrendo o inadimplemento por parte do
arrendatário, considera-se rescindido o contrato.

Neste caso, a posse do bem pelo arrendatário tornou-se viciada, precária e não
mais assiste direito a este de continuar com a posse do bem, estando assim
presentes os requisitos para a impetração da ação possessória.

Alguns acórdãos neste sentido:

"Na omissão da lei, a doutrina e a jurisprudência por entenderem que a


retenção da posse sem justo título, após a rescisão extrajudicial do contrato
caracteriza o esbulho, vem admitindo ações possessórias. Esta solução, está
sendo adotada, também, para retomada do objeto do contrato nas operações
de Leasing imobiliário". (Apelação Cível -120.783- 29.03.82- 1a Câmara do 2o
Tribunal de Alçada Cível de São Paulo)"

"Arrendamento Mercantil. Ação de reintegração de posse. Admissibilidade. Não


descaracteriza o contrato de leasing se inserida cláusula de opção de compra.
Esta é o elemento essencial do negócio jurídico. Mas a avença continua sendo
o de arrendamento. Doutrina e jurisprudência. Sentença procedente. Recurso
improvido." (Apelação Cível 195112818 - 2a Câmara Cível do Tribunal de
Alçada do Rio Grande do Sul).

 Perdas e Danos - Cumulação com a Reintegração de Posse.

Enquanto a jurisprudência é mansa e pacífica com relação à utilização da ação


de reintegração de posse como caminho para o arrendante reaver a posse do
bem objeto do leasing, vem rejeitando simultaneamente a cumulação com
perdas e danos quando houver a recuperação do bem.

As perdas e danos na ação possessória estão disciplinadas nos artigos 1.056,


1.057, 1.059 a 1.061 e 1.092 do Código Civil, combinado com os artigos 921 I e
928 do Código de Processo Civil.

Artigo 921 do CPC: "é lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I -
condenação em perdas e danos... "

Art. 928 do CPC: "estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz


deferirá sem ouvir o réu, a expedição de mandado liminar de manutenção ou
reintegração; no caso contrário, determinará que o autor justifique previamente
o alegado, citando-se o réu para comparecer a audiência que for designada. "

É comum nos contratos de leasing a introdução de uma cláusula contratual


específica, onde as partes estipulam previamente, em caso de inadimplemento,
como serão calculadas as perdas e danos evitando-se a liquidação da
sentença.

Normalmente estas cláusulas definem um valor de Perdas Estipuladas, a ser


pago pela empresa arrendatária no caso de extinção do contrato por sua culpa,
que corresponde ao somatório das prestações vencidas, vincendas e não
pagas, valor residual, multa e encargos.

Enquanto a maior parte dos doutrinadores inclina-se pelo caminho da Lei, que
no art. 916 do Código Civil prevê: a cláusula penal pode ser estipulada
conjuntamente com a obrigação ou em ato posterior, os tribunais vêm
sistematicamente rechaçando os pedidos das arrendatárias de cumularem a
reintegração de posse com perdas e danos, como atestam o acórdão seguinte
do 1o Tribunal de Alçada Cível de São Paulo:

"ARRENDAMENTO MERCANTIL- rescisão do contrato por falta de pagamento


– Valor Residual – Rescindido o contrato de Leasing pela falta de pagamento
das parcelas do arrendamento, essas parcelas que não foram pagas até a
restituição do veículo correspondem ao efetivo prejuízo suportado pela autora.
As multas contratuais – cláusulas penais – e o valor residual só são devidos no
caso de opção de compra, que não foi exercida. Não representam prejuízos
que pudessem ser cobrados a título de perdas e danos em pedido cumulado
com a ação possessória e assim quaisquer outras pretensões pecuniárias. A
cobrança dessas verbas exige a propositura da ação adequada."( 1o TACv SP
- 2a Câmara Cível - 26.08.86 - Apelação 355.118)

As operações de leasing com correção em moeda estrangeira e leasing


internacional tiveram um crescimento expressivo após a relativa estabilização
da economia ocorrida após 1994, atingindo o seu pico em fins de 1998. Foi
quando veio o terremoto, representado pela desvalorização do real em mais
de 50 % em JAN/99.

Essa questão dos reajustes previstos pela variação cambial do dólar norte-
americano em contratos de leasing merece ser analisada sob dois aspectos
distintos:

 primeiro puramente em face do direito positivo


 segundo em face de princípios gerais de Direito que podem subsidiar o
intérprete no momento da aplicação do ordenamento jurídico ao caso
concreto.

No tocante ao direito posto, deve-se partir do artigo 6º da lei 8.880/94, ao


dispor que "...é nula de pleno direito a contratação de reajustes vinculados à
variação cambial, exceto quando expressamente autorizado por lei federal e
nos contratos de arrendamento mercantil celebrados entre pessoas físicas e
domiciliadas no país, com base em captação de recursos provenientes do
exterior".

De uma certa forma regulamentando esse artigo da lei 8.880/94 — que,


relembre-se, foi a que instituiu o agora finado Plano Real, a Resolução 2.308,
de 28 de agosto de 1996, do Banco Central, prevê que "os contratos de
arrendamento mercantil de bens cuja aquisição tenha sido efetuada com
recursos provenientes de empréstimos contratados, diretamente ou
indiretamente, no exterior, devem ser firmados com cláusula de variação
cambial" (artigo 9º). Tirando-se o fato da discutível legalidade de se impor às
partes a própria cláusula de reajuste, em primeiro lugar (ou seja, a cláusula
móvel passa a ser obrigatória e não facultativa, o que é no mínimo estranho
para quem se dizia comprometido com a estabilidade da moeda), e em
segundo lugar de se impor a forma do reajuste — compulsoriamente pela
variação cambial —, mesmo a Resolução do Banco Central em nada inova, e
nem poderia, no sentido de estabelecer que só quando a empresa de leasing
captar o dinheiro no exterior é que haverá o reajuste das parcelas pela variação
cambial.

Daí o inegável acerto do entendimento jurisprudencial que se encontra na


Revista dos Tribunais 601/191, em v. Acórdão relatado pelo então
desembargador do Tribunal de Justiça gaúcho Athos Gusmão Carneiro,
reconhecida autoridade na matéria, no Agravo de Instrumento n.º 585020563,
de 18/6/85: "Leasing. Arrendamento mercantil. Correção das prestações em
conformidade com a variação do valor de venda do dólar norte-americano. Tal
fórmula de reajustamento, em contratos firmados no Brasil para execução no
Brasil, somente é cabível se comprovado que os bens objeto do leasing foram
comprados, pela arrendadora, com recursos provenientes de empréstimo em
moeda estrangeira". No corpo do aresto, ensinava-se ainda que "...em
negócios dentro do país, pagos em moeda nacional, somente é cabível a
correção pelos índices das ORTN, ou índices outros admitidos pelas leis e pela
autoridade monetária brasileira, mas desvinculados da chamada cláusula ouro,
hoje cláusula dólar".

Após a vedação expressa da lei 8.880/94, reforça-se ainda mais esse


posicionamento, restringindo a validade da cláusula de reajuste cambial à única
hipótese de os recursos obtidos pela arrendadora terem sido captados através
de empréstimos junto a bancos estrangeiros.

A prova da captação do dinheiro repassado ao arrendatário cabe à


arrendadora, que é de fato financiadora (pois é disso que trata, modernamente,
o contrato de leasing, um virtual financiamento para aquisição de bens móveis
duráveis), até porque é a única em condições de produzi-la . Impossível ao
arrendatário imiscuir-se nos negócios internos da arrendadora para provar a
origem do dinheiro que lhe foi repassado e, como se trata de negócios entre
particulares, não caberá ao Judiciário investigar essa origem, cuja prova é
inteiramente cabente a quem captou o dinheiro, alegadamente, no exterior.

Só nesse caso, em face do direito positivo, será válida, em princípio, a cláusula


de reajuste pela variação cambial, ou seja, se e quando o dinheiro tenha sido
captado no exterior para ser repassado no mercado interno brasileiro. Em caso
contrário, a cláusula será nula de pleno direito, nos termos do art. 6º da lei
8.880/94, expressão que revela caráter cogente e peremptório, impossível de
ser modificado por convenções entre particulares, pois jus publicum privatorum
pactis derrogare non potest, ou, no dizer do artigo 6º do Código Civil francês,
"Não se pode derrogar, por convenções particulares, as leis que interessam à
ordem pública e aos bons costumes" e, no caso, o curso forçado da moeda
nacional, por mais fraca e ilusória que seja ela, interessam à ordem pública e à
própria soberania nacional. Como se trata de hipótese de nulidade, e não de
mera anulabilidade, o juiz pode decretá-la de ofício, independente de pedido
expresso do arrendatário, em qualquer tempo ou grau de jurisdição, pois o que
é nulo não convalesce, não sana, não ratifica.

Nem se diga que era previsível a explosão cambial, desculpa de última hora de
quem não teve competência para fazer a economia seguir os rumos
originariamente traçados. Às vésperas da explosão cambial, o então presidente
do Banco Central, Gustavo Franco, dizia que a "âncora cambial" era essencial
à manutenção do Plano Real e, portanto, não seria em nenhuma hipótese
substituída. Se havia essa garantia governamental, aliás endossada pelo
presidente da República, que se reelegeu com a promessa tantas vezes
repetida de manter o Plano Real a qualquer preço, é evidente que se encontra
sempre presente a imprevisibilidade da alteração da situação econômica, a
influir na própria comutatividade dos contratos celebrados, que de nenhuma
maneira possuem a natureza aleatória que se lhe querem emprestar no
episódio da desvalorização cambial de JAN/99.

E a ausência de má-fé das arrendadoras é absolutamente irrelevante. Assim


como no abuso de direito a preocupação deve ser a configuração do dano
injusto sofrido pela vítima, objetivamente considerado, a quebra das
perspectivas contratuais deve ser analisada à luz da caracterização objetiva do
dano sofrido pelo arrendatário, sem qualquer preocupação com a análise da
boa ou má-fé da arrendadora. Mesmo porque, em estando de boa-fé, não há
de querer enriquecimento sem causa, o que por si só já desfiguraria a alegada
“ausência de malícia”.

Em oportuno artigo intitulado "Quebra de confiança", publicado na Folha de S.


Paulo de 6 de fevereiro de 99, na seção Data Venia, o professor de Direito Civil
da Universidade Federal do Paraná, Luiz Edson Fachin, demonstra de forma
insofismável que: "Mais que noção ética, é princípio jurídico a proteção da
confiança, que conduz, dentro da relação jurídica, à igualação de cargas e,
externamente, à manutenção do equilíbrio econômico-financeiro coerente com
as condições existentes á época da contratação. Se o contrato faz lei entre as
partes, o equilíbrio do início da contratação deve ser mantido. É um postulado
da justiça comutativa que vincula os contratantes e o próprio Estado .A quebra
da confiança é juridicamente protegida. Confiava-se no futuro, que se
presentificou transformando em pesadelo o sonho da estabilidade. Por isso
mesmo, com acerto, aquelas ações ou omissões estão passando pelo crivo do
direito e do Judiciário. O contratante de boa-fé tem direito à proteção.

3 – Conclusões

Regulamentado no país há pouco mais de duas décadas, quando foi editada a


Lei 6.099/74, que normatizou o leasing no país, este tipo de contrato de
financiamento foi aos poucos ocupando espaço considerável na economia
brasileira e nos últimos anos o mercado de leasing foi um dos que
experimentou o maior crescimento real entre os vários setores da economia. O
Leasing proporciona às empresas a aquisição de um bem móvel ou imóvel,
sem a necessidade de desembolso de capital de giro. E, razão da popularidade
das operações de leasing doméstico com correção em moeda estrangeira e do
leasing internacional, também oferece acesso a recursos mais baratos e de
prazos mais longos. Todas as aeronaves adquiridas pelas companhias aéreas
o são através de operações de leasing internacional.

Com isto as empresas podem renovar seu parque industrial sem grande aporte
de capital, uma necessidade para que a empresa possa enfrentar de frente a
concorrência interna e externa e sobreviver no mercado cada vez mais
agressivo e globalizado.

A natureza complexa do instituto, contendo elementos da locação, da


promessa de compra e venda e de financiamento, faz com que os conflitos
surgidos durante a execução do contrato sejam de difícil solução para o
julgador, que tem de ir buscar suporte na legislação desses contratos, quando
o leasing na realidade é um instituto autônomo, com características peculiares,
o que tem gerado decisões conflitantes por parte dos tribunais, objeto de
análise nos temas precedentes deste estudo. Ressente-se ainda o instituto da
ausência de legislação específica e clara que venha a disciplinar de forma
abrangente esta figura contratual especial, já que a lei 6.099/74, alterado pela
Lei 7.132/83, regulamentou o leasing apenas no aspecto tributário.

Urge, desta forma, que os legisladores – aí incluso o Banco Central do Brasil,


que, por características especiais do direito brasileiro, é um “legislador” em
matérias econômicas com reflexos diretos sobre o direito internacional - editem
normas atuais, ágeis e específicas sobre a matéria, possibilitando ao judiciário
decidir com segurança e rapidez as questões a ele alçadas, de interesse da
sociedade.

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