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O espiritismo kardecista
Por que nos determos no espiritismo kardecista? Porque o espiritismo é, segundo os dados
do último senso do IBGE, a terceira força religiosa do Brasil, depois do catolicismo e do
protestantismo, com cerca de 2,2 milhões de adeptos, em sua maior parte provenientes da
classe média, brancos e letrados.
O espiritismo foi fundado por Allan Kardec (1804-1869), na França, como um conjunto de
filosofia, ciência e religião, ao mesmo tempo. As principais obras de Kardec são: O livro dos
espíritos, O livro dos médiuns, o Evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno, A gênese.
Neles está codificado o conjunto de princípios e leis revelado pelos espíritos superiores que
constituem o espiritismo.
Foi introduzido, no Brasil, na segunda metade do século XIX, como uma filosofia. No entanto,
é assumido por muitos de seus adeptos como religião. O espiritismo consiste em um sistema
filosófico-religioso articulado pela crença na reencarnação. Essa crença se sustenta sobre dois
pilares: a idéia hinduísta de carma e a possibilidade de comunicação com os mortos (princípio
da comunicabilidade dos espíritos). A comunicação com os mortos (espíritos desencarnados) se
dá mediante os médiuns, pessoas dotadas de atividade mediúnica.
A idéia da evolução dos espíritos regida pela lei do carma é de origem oriental, de maneira
especial hinduísta. Mas, no espiritismo, ela recebe também influência do evolucionismo
darwinista. A linguagem científica está presente no espiritismo.
Sobre essa base estrutural, o espiritismo acrescenta uma inspiração tirada dos Evangelhos: a
ética da caridade. Segundo Allan Kardec, “fora da caridade não há salvação”. Jesus Cristo é
visto como a maior entidade já encarnada. O mandamento do amor ao próximo, “amai-vos
uns aos outros como eu vos amei”, proferido por Jesus, consiste na virtude suprema. Dessa
forma, o espiritismo apresenta uma relação ética com a figura de Jesus Cristo. É a lei do amor a
que determina o processo de purificação e evolução, dos vivos e dos mortos.
No Brasil, a linguagem e referência ao “mundo dos espíritos” está bem presente. O tema é
tratado em novelas, em programas jornalísticos, em filmes. Sua indústria editorial produz
títulos muito populares. Além disso, muitos são aqueles que se interessam informalmente pelo
tema, por meio de leituras e freqüência eventual aos centros espíritas. A dimensão religioso-
ética do espiritismo é aqui ressaltada e se multiplicam as iniciativas de assistência aos
necessitados, pautadas pela caridade. No Brasil, nasceu Chico Xavier, médium que atingiu
notoriedade internacional.
*novas seitas cristãs; novos movimentos religiosos não cristãos, que adotam idéias de uma ou
várias das religões do mundo; antigas noções esotéricas; novos conhecimentos que unem a
ciência moderna com antigos conceitos religiosos.
Isso não é difícil de ser detectado. Nesse ambiente atual, é útil distinguir entre novas
tendências religiosas tendências esotéricas e movimentos alternativos.
As novas tendências religiosas são caracterizadas por uma justaposição de elementos vindos
de tradições diferentes. Por isso, fala-se de “sincretismo”. Os novos movimentos religiosos
são normalmente fundados por alguém com forte personalidade, uma pessoa carismática.
Costumam afirmar-se como universais, uma síntese das grandes religiões, em continuidade aos
grandes fundadores (Moisés, Jesus, Maomé, Krishna, Buda). Ressalta-se a experiência interior,
que traz harmonia e felicidade.
Os membros se devotam com fervor aos novos movimentos, muitas vezes rompendo com a
família, com o emprego, com os estudos etc. Hare Krishna, Igreja da Unificação do Reverendo
Moon, a fé Baha`ie (esta última reconhecida pela ONU) são exemplos da nova religiosidade.
Nesse ambiente das novas religiosidades, fala-se de uma Nova Era ( a Era de Aquário), em que
o ser humano se pautará por valores mais espirituais. O interesse por temas como a
reencarnação ou a interação entre Yin e yang(taoísmo) resurge totalmente independente da
formção religiosa das pessoas, igualmente o interesse pela ioga e pela meditação.
Várias pessoas se sentem inspiradas a buscar uma nova ciência, não pautada no
materialismo. Buscam-se alternativas para a medicina e para a saúde, aumenta o interesse
pelas técnicas naturais e orientais, bem como pelas curas espirituais. Renova-se o interesse
pela parapsicologia e fenomenologia extrassensoriais. Muitos movimentos afirma uma
mentalidade científica mais holística ( da palavra grega holos= total, inteiro).
Misturar psicanálise, religiões orientais, xamanismo, encontro com anjos e poder do tarô muitas vezes transforma a
espritulidade em produto de amplo consumo. É esquecer que, para ter acesso, por exemplo, ao budismo tibetano
da “Clara Luz”, é preciso ficar recluso por três anos, três meses e três dias (DELUMEAU, p. 375).
Por tudo isso, as novas religiosidades e religiões demandam estudo e discernimento por parte
de seus adeptos.
Bibliografia
HELLERN, Vítor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. P. 253-262.
MAGNANI, José Roberto Cantor. O circuito neo-esotérico. In: TEIXEIRA, Faustino; MENEZES,
Renata (Orgs.). As religiões no Brasil: continuidades e rupturas. Petrópolis: Vozes, 2006. P.
173-188.
PIERUCCI, Antonio Flávio. As religiões no Brasil. In: HELLERN, Vitor; NOTAKER, Henry; GAARDER
Jostein. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. P. 281-302.
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