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A CRÍTICA DE FEUERBACH E MARX À RELIGIÃO

Todos já ouviram falar de Karl Marx. Sem dúvida, conhecem também sua famosa afirmação
sobre a religião: “A RELIGIÃO É ÓPIO DO POVO”.

Trata-se de uma expressão demolidora.

No entanto, por outro lado, é também bem conhecido o fato de que, ao longo do último
século, muitos cristãos, especialmente na América Latina, colocaram-se ao lado das lutas
populares e dos movimentos sociais de inspiração marxista. A motivação dessas pessoas é o
sentido de justiça e de igualdade, transmitido pela fé cristã. Elas encontraram uma relação
entre a dimensão sociopolítica da fé e a dimensão histórico-prática da economia política,
desenvolvida por K. Marx e seu parceiro, F. Engels.

A seguir, será apresentado um resumo bastante introdutório do pensamento de Ludwig


Feuerbach e Marx sobre a religião. Não será difícil perceber:

1.- Por que Feuerbach e Marx, do ponto de vista filosófico, são dois dos corifeus do
humanismo absoluto, que, como visto anteriormente, é uma filosofia de vida que prescinde de
Deus e da religião.

2.- Por que o pensamento de Marx, do ponto de vista prático e histórico (não do ponto de vista
filosófico), pode ajudar o cristianismo a fazer uma autocrítica em seu compromisso contra toda
opressão, injustiça, escravidão e desrespeito à dignidade humana. Do ponto de vista teológico,
as estruturas injustas e escravizantes são formas de “pecado” e de “morte”, presentes na
realidade histórica. A crítica marxista da religião, afinal, contribuiu para uma visão mais crítica
do cristianismo e para redescoberta, por parte dos cristãos, da dimensão ético-histórica do
Evangelho, que não é para ser vivida na “outra vida”, e sim nesta histórica concreta.

Sobre Ludwig Feuerbach (1804-1872)

A obra principal de Feuerbach sobre a religião é A essência do cristianismo (1841).

A argumentação filosófica de Feurbach parte do princípio de que a religião é um produto


puramente humano. Em sua filosofia, Feuerbach desloca a divindade, de um Deus externo ao
homem, para o próprio homem. Assim, o ser absoluto, o Deus do homem, passa a ser
reconhecido como o próprio ser do homem. Deus seria, a consciência que o homem tem de si
mesmo, de seu ser.

Dessa forma, a perfeição divina nada mais é do que o desejo do homem de ser perfeito e a
consciência que tem de si, como um ser imperfeito. O amor, a crença, o desejo etc. atribuídos
a Deus, segundo Feuerbach, deveriam voltar-se para o próprio homem e para seu igual. A
religião, então, gera uma ilusão, pois acaba distanciando o ser humano de si mesm. O homem
projeta em Deus o que ele deseja ser – Deus é uma projeção do homem.

O homem supera essa alienação quando párea de pensar em um Deus transcendente e se


volta para si mesmo. Dessa maneira, morre a religião de Deus e nasce a religião do homem.

Feuerbach exerce forte influência em alguns pensadores, com destaque para K. Marx.
So

bre K. Marx (1818-1883)

O pensamento de Marx apresenta duas vertentes: a do “jovem Marx” e a do “Marx


maduro”. Na primeira fase é que o autor redige os escritos em que aborda
diretamente o tema da religião. O texto mais célebre é a sua Crítica da filosofia do
direito de Hegel (1843). Ao final deste tópico encontram-se seleções desse texto.

Na introdução da Crítica da filosofia do direito de Hegel, Marx afirma que “a religião


não faz o homem , mas ao contrário, o homem faz a religião”, retomando assim a tese
de Feuerbach. Mas avança, colocando o ser humano em relação com o seu mundo.

O homem é o mundo dos homens, o Estado, a sociedade. Este Estado, esta sociedade engendram a
religião, criam uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido.

Dessa forma, a religião seria produto de um mundo dividido que precisa se justificar e
ser moralmente sancionado. A proposta de Marx é mudar essa divisão no sociedade,
que precisa de ilusões com “auréola de santidade”, a religião.

Em seguida vem a sua famosa afirmação:

A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real, de outro, o protesto contra ela. A religião é
o soluço de um muno sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.

Note-se que Marx afirma que a religião é3 expressão da miséria real, uma situação de
alienação que precisa de ilusões, representada pelo ópio. Mas, ao mesmo tempo, ela é
um protesto contra essa situação.

Nos escritos de Marx da fase madura (Manuscristos econômico-filosoficos) 1844; O


capital, 1867), a religião não será mais abordada diretamente. Nessas obras, a crítica
da religião é filosófica e há a confissão do ateísmo como superação da religião. Em
continuidade com a Ideologia alemã(da fase do jovem Marx), a religião seguira sendo
configurado como uma ideologia, produto da atividade material dos homens. Ela não
teria, assim, uma substância própria, mas seria puro produto de condições materiais
marcadas pela dominação de classe e pelas relações de exploração –realidade que a
religião busca esconder. O destino da religião, bem como de toda ideologia, é
desaparecer, ao desaparecerem as relações sociais de dominação que a geram e ao
nascer uma nova vida social pelas mãos de homens livres.

Bibliografia

JORGE, J. Simo~es. Cultura religiosa: o homem e o fenômeno religioso. São Paulo:


Loyola, 1994. (Sobre Feuerbach e Marx: p: 109-118; sobre os limites da crítica de
ambos na perspectiva do cristianismo: p. 131-134)

LESBAUPIN, Ivo. Marxismo e religião. In: TEIXEIRA, Faustino (Coord). Sociologia da


religião: enfoques teóricos. Petrópolis. Petrópolis: Vozes, 2003. P: 13-35.
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. In: MARX, Karl; ENGELS, Firedrich.
Sobre a religião. Lisboa. Edições 70, 1975. P: 47-49. (texto escrito no fim de 1843 a
janeiro de 1844. Aparecido nos Anais franco-alemães. Paris,1844).

Webligrafia

Sobre Marx:

http://www.culturabrasil. pro.br/Marx.htm

HTTP://www.espacoacademico.com .br/017kmarx.htm

http://www.mundodosfilosofos.com.br/marx.htm

Sobre Feuerbach

http://www.pucsp.br/~filopuco/verbete/feuerba.htm

Reflexão pessoal

Ler trechos do clássico filosofia do direito de Hegel (1843), texto-chave para a


compreensão de religião do jovem Marx. Para ajudar na leitura, busque selecionar o
parágrafo que você considera mais elucidativo sobre a religião.

Reler os pontos 1 e 2, na introdução deste tópico 9, Foi possível compreender melhor a


contribuição do pensamento de Marx para vários grupos de cristãos, do ponto de vista
prático e histórico?

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