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Maharaj: Como pode haver algo estável em uma mente que em si mesma não é
estável?
M: Como poderia uma mente inconstante fazer-se estável? Certamente que não pode.
A natureza da mente é vagar. Tudo o que você pode fazer é pôr o foco da consciência
além da mente.
M: Sim, você pode. Simplesmente viva sua vida como vier, mas sempre alerta,
vigilante, permitindo que tudo ocorra da maneira que ocorrer, fazendo as coisas naturais
de modo também natural, sofrendo, gozando, como for a vida. Esta também é uma
maneira de viver.
M: Claro que sim. Você pode ser feliz ou não; aceite-a calmamente.
M: A verdadeira felicidade não se pode encontrar nas coisas que mudam e morrem. O
prazer e a dor se alternam inexoravelmente. A felicidade procede do ser e só pode ser
achada no ser. Encontre seu ser real (2 e tudo chegará com ele.
P: Se meu ser real fosse paz e amor por que seria tão inquieto?
M: O seu ser real não é inquieto, mas seu reflexo na mente assim o parece, já que a
própria mente é inquieta. É como o reflexo da lua na água movida pelo vento. O vento
do desejo move a mente, e o ³eu´, que não é senão um reflexo do Ser na mente, parece
mutável. Mas estas idéias de movimento, de inquietude, de prazer e dor, estão todas na
mente. O Ser está além da mente, consciente, mas desapegado.
P: Como alcançá-lo?
M: Você é o Ser, aqui e agora. Deixe a mente em paz, seja consciente e desapegado e
você compreenderá que permanecer alerta, mas destacado, observando como os fatos
vão e vêm, é um aspecto de sua verdadeira natureza.
M: Por que não inverter? Queira o que tem e não se preocupe com o que não tem.
P: Não, não tenho tido. O agradável não dura. A dor sempre volta.
M: Que dor?
M: Esteja alerta. Investigue, observe, pergunte, aprenda tudo quanto possa sobre a
confusão, como funciona, qual é seu efeito em você e nos demais. Vendo claramente a
confusão, você se libertará dela.
P: Quando olho a mim mesmo, vejo que meu mais forte desejo é criar um
monumento, construir algo que me sobreviva. Inclusive quando penso em um lar ±
esposa e filhos ± é porque ele é sólido, duradouro, um testemunho de mim mesmo.
M: Você mesmo pode ver que nada dura. Tudo se gasta, quebra e se dissolve. O
próprio alicerce sobre o qual se constrói cede um dia. O que você pode construir que
sobreviva a tudo?
M: Então tem que construir sobre algo duradouro. O que tem você que seja
duradouro? Nem seu corpo nem sua mente durarão. Tem que buscar em outra parte.
M: Pode dizer em verdade que você não era antes de nascer, e poderá dizer depois da
morte: agora já não existo? Você não pode dizer, pela própria experiência, que não
existe. Só pode dizer: ³eu sou´. Os demais tampouco podem dizer-lhe que ³você não é´.
M: A permanência é uma mera idéia, nascida da ação do tempo. Por sua vez, o tempo
depende da memória. Você chama permanência a uma memória contínua através do
tempo ilimitado. Você quer eternizar a mente, o que não é possível.
M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar algo transitório,
apenas o imutável é eterno.
P: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não anseio mais
conhecimento, tudo o que quero é paz.
P: É o que peço.
P: Como?
M: Separe-se de tudo o que inquiete sua mente. Renuncie a tudo o que altere sua paz.
Se quiser paz, mereça-a.