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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Para ler e entender um texto é preciso atingir dois níveis de leitura:

Informativa e de reconhecimento;

Interpretativa.

A primeira deve ser feita cuidadosamente por ser o primeiro contato com o texto,
extraindo-se informações e se preparando para a leitura interpretativa. Durante a
interpretação grife palavras-chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra à idéia-
central de cada parágrafo.

A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas e opções de respostas.


Marque palavras com NÃO, EXCETO, RESPECTIVAMENTE, etc, pois fazem diferença na
escolha adequada.

Retorne ao texto mesmo que pareça ser perda de tempo. Leia a frase anterior e
posterior para ter idéia do sentido global proposto pelo autor.

ORGANIZAÇÃO DO TEXTO E IDÉIA CENTRAL

Um texto para ser compreendido deve apresentar idéias seletas e organizadas,


através dos parágrafos que é composto pela idéia central, argumentação e/ou
desenvolvimento e a conclusão do texto.

Podemos desenvolver um parágrafo de várias formas:

Declaração inicial;

Definição;

Divisão;

Alusão histórica.

Serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em vista os diversos enfoques.
Convencionalmente, o parágrafo é indicado através da mudança de linha e um espaçamento
da margem esquerda.

Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico frasal, ou seja, a idéia central
extraída de maneira clara e resumida.

Atentando-se para a idéia principal de cada parágrafo, asseguramos um caminho


que nos levará à compreensão do texto.

OS TIPOS DE TEXTO

Basicamente existem três tipos de texto:

Texto narrativo;

Texto descritivo;

Texto dissertativo.

Cada um desses textos possui características próprias de construção.

DESCRIÇÃO

Descrever é explicar com palavras o que se viu e se observou. A descrição é


estática, sem movimento, desprovida de ação. Na descrição o ser, o objeto ou ambiente são
importantes, ocupando lugar de destaque na frase o substantivo e o adjetivo.
O emissor capta e transmite a realidade através de seus sentidos, fazendo uso de
recursos lingüísticos, tal que o receptor a identifique. A caracterização é indispensável, por
isso existe uma grande quantidade de adjetivos no texto.

Há duas descrições:

Descrição denotativa

Descrição conotativa.

DESCRIÇÃO DENOTATIVA

Quando a linguagem representativa do objeto é objetiva, direta sem metáforas ou


outras figuras literárias, chamamos de descrição denotativa. Na descrição denotativa as
palavras são utilizadas no seu sentido real, único de acordo com a definição do dicionário.

Exemplo:

Saímos do campus universitário às 14 horas com destino ao agreste pernambucano.


À esquerda fica a reitoria e alguns pontos comerciais. À direita o término da construção de
um novo centro tecnológico. Seguiremos pela BR-232 onde encontraremos várias formas de
relevo e vegetação.

No início da viagem observamos uma típica agricultura de subsistência bem à


margem da BR-232. Isso provavelmente facilitará o transporte desse cultivo a um grande
centro de distribuição de alimentos a CEAGEPE.

DESCRIÇÃO CONOTATIVA

Em tal descrição as palavras são tomadas em sentido figurado, ricas em polivalência.

Exemplo:

João estava tão gordo que as pernas da cadeira estavam bambas do peso que
carregava. Era notório o sofrimento daquele pobre objeto.

Hoje o sol amanheceu sorridente; brilhava incansável, no céu alegre, leve e repleto
de nuvens brancas. Os pássaros felizes cantarolavam pelo ar.

NARRAÇÃO

Narrar é falar sobre os fatos. É contar. Consiste na elaboração de um texto inserindo


episódios, acontecimentos.

A narração difere da descrição. A primeira é totalmente dinâmica, enquanto a


segunda é estática e sem movimento. Os verbos são predominantes num texto narrativo.

O indispensável da ficção é a narrativa, respondendo os seus elementos a uma série


de perguntas:

Quem participa nos acontecimentos? (personagens);

O que acontece? (enredo);

Onde e como acontece? (ambiente e situação dos fatos).

Fazemos um texto narrativo com base em alguns elementos:

O quê? - Fato narrado;

Quem? – personagem principal e o anti-herói;


Como? – o modo que os fatos aconteceram;

Quando? – o tempo dos acontecimentos;

Onde? – local onde se desenrolou o acontecimento;

Por quê? – a razão, motivo do fato;

Por isso: - a conseqüência dos fatos.

No texto narrativo, o fato é o ponto central da ação, sendo o verbo o elemento


principal. É importante só uma ação centralizadora para envolver as personagens.

Deve haver um centro de conflito, um núcleo do enredo.

A seguir um exemplo de texto narrativo:

Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o Capitão Rodrigo Camborá
entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o
chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida e
aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia
andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava num alazão, trazia bombachas claras, botas
com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola
vermelha e botões de metal.

(Um certo capitão Rodrigo – Érico Veríssimo)

A relação verbal emissor – receptor efetiva-se por intermédio do que chamamos


discurso. A narrativa se vale de tal recurso, efetivando o ponto de vista ou foco narrativo.

Quando o narrador participa dos acontecimentos diz-se que é narrador-personagem.


Isto constitui o foco narrativo da 1ª pessoa.

Exemplo:

Parei para conversar com o meu compadre que há muito não falava. Eu notei uma
tristeza no seu olhar e perguntei:

- Compadre por que tanta tristeza?

Ele me respondeu:

- Compadre minha senhora morreu há pouco tempo. Por isso, estou tão triste.

Há tanto tempo sem nos falarmos e justamente num momento tão triste nos
encontramos. Terá sido o destino?

Já o narrador-observador é aquele que serve de intermediário entre o fato e o leitor.


É o foco narrativo de 3ª pessoa.

Exemplo:

O jogo estava empatado e os torcedores pulavam e torciam sem parar. Os minutos


finais eram decisivos, ambos precisavam da vitória, quando de repente o juiz apitou uma
penalidade máxima.

O técnico chamou Neco para bater o pênalti, já que ele era considerado o melhor
batedor do time.

Neco dirigiu-se até a marca do pênalti e bateu com grande perfeição. O goleiro não
teve chance. O estádio quase veio abaixo de tanta alegria da torcida.
Aos quarenta e sete minutos do segundo tempo o juiz finalmente apontou para o
centro do campo e encerrou a partida.

FORMAS DE DISCURSO

Discurso direto;

Discurso indireto;

Discurso indireto livre.

DISCURSO DIRETO

É aquele que reproduz exatamente o que escutou ou leu de outra pessoa.

Podemos enumerar algumas características do discurso direto:

- Emprego de verbos do tipo: afirmar, negar, perguntar, responder, entre outros;

- Usam-se os seguintes sinais de pontuação: dois-pontos, travessão e vírgula.

Exemplo:

O juiz disse:

- O réu é inocente.

DISCURSO INDIRETO

É aquele reproduzido pelo narrador com suas próprias palavras, aquilo que escutou
ou leu de outra pessoa.

No discurso indireto eliminamos os sinais de pontuação e usamos conjunções: que,


se, como, etc.

Exemplo:

O juiz disse que o réu era inocente.

DISCURSO INDIRETO LIVRE

É aquele em que o narrador reconstitui o que ouviu ou leu por conta própria,
servindo-se de orações absolutas ou coordenadas sindéticas e assindéticas.

Exemplo:

Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano franziu a testa, achando a frase
extravagante. Aves matarem bois e cavalos, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado,
julgou que ela estivesse tresvariando”. (Graciliano Ramos).

1. TECNICAS DE INTERPRETAÇÃO I

2. Conseguir tirar do texto, a intensão de que o autor tinha, quando ele escreveu.

o O missão mais importante do

o Interprete é:

3.
o Um grande erro de nossos dias é:
o Colocar no texto a nossa ideia, sem se

o preocupar em ver, qual é a ideia do

o autor no texto

4. Você sabe o que é um ICT ?

5. I - Ideia C - Central do T - Texto

6.
o Ideia Central do Texto é:

o O resumo do significado da passagem. É o

o Resumo que engloba toda a mensagem da

o Passagem escrito numa só frase.

7. Pra você dizer, que você tem um bom entendimento de certa passagem, você
precisa conhecer o ICT da passagem. Pra saber isto, você pode fazer um teste em
você mesmo fazendo a seguinte Pergunta: Qual é o ICT desta passagem?

8. Como encontrar o ICT em um texto bíblico?

9. Pergunta (Questão) + Resposta (Afirmação) = ICT (Ideia Central do Texto)

10. Você sabe o que é um PPB?

11. P - Propósito da P - Passagem B - Bíblica

12.
o Propósito é:

o O alvo da mensagem.

o É propósito de que foi escrito a

o mensagem

13.
o Objetivo:

o Qual é o objetivo do

o ICT- Ideia Central do texto

o com o

o PPB- Propósito da passagem bíblica?

14. ICT (flexa) Propósito (alvo) A flexa (ICT) é a mensagem que ele usou para atingir este
alvo. O alvo é o propósito.

15.
o Propósito do Texto

o Uma vez que você tem o ICT,

o só vai te restar determinar o propósito.

o Este passo a respeito do propósito,


o vamos estar estudando na outra semana.

16. Pergunta (Questão) + Resposta (Afirmação) = ICT (Ideia Central do Texto) ICT

17.
o Pergunta (questão)

o Qual é o assunto ou tema principal

o de que o autor está a tratar

o através de escrever esta passagem?

o É a indentificação do assunto central

o da passagem escrita.

o Para se descobrir isto, itilizamos

o fazer Perguntas ao texto.

18.
o Usar as seguintes palavras em

o sua pergunta:

o Porque, Como, Que, Para que, Onde

o Quando, Quem, etc.

19.
o Exemplo

o Louvai ao Senhor todas as nações,

o louvai-o todos os povos.

o Porque a sua benignidade é

o grande para conosco, e a sua

o Fidelidade dura para sempre.

20.
o Exemplo

o Louvai ao Senhor todas as nações,

o louvai-o todos os povos.

o Porque a sua benignidade é

o grande para conosco, e a sua

o Fidelidade dura para sempre.

devem louva-lo?
21.
o Exemplo

o Louvai ao Senhor todas as nações,


o louvai-o todos os povos.

o Porque a sua benignidade é

o grande para conosco, e a sua

o Fidelidade dura para sempre.

devem louva-lo? Pergunta (questão)


22.
o Afirmação (resposta)

o É a resposta a pergunta.

o O que o texto fala a respeito da

o pergunta, ou como o próprio texto

o responde a pergunta?

o Quando se tem a pergunta, fica fácil

o a resposta

23. Pergunta (questão) Porque todos os povos devem louva-lo? Louvai ao Senhor todas
as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande para
conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre. devem louva-lo? Pergunta (questão)

24. Pergunta (questão) Porque todos os povos devem louva-lo? Louvai ao Senhor todas
as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande para
conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre. Afirmação (resposta)

25. Pergunta (Questão) Porque todos os povos devem louva-lo? + Resposta (Afirmação)
Porque a sua benignidade é grande para conosco, e a sua Fidelidade dura para
sempre. = ICT (Ideia Central do Texto) Mais qual é a Ideia Central do texto?

26.
o O ICT de Salmos 117.1-2 é:

A ideia Central do Texto é que todos devem louva-lo, Porque a sua benignidade é grande
para conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre.
27. TECNICAS DE INTERPRETAÇÃO II

28.
o Propósito do Texto

o Uma vez que você tem o ICT,

o só vai te restar determinar o propósito.

29.
o As três áreas afetadas pelo propósito são:

o * âmbito cognitivo (uso da men t e);

o Será que o tal escrito requer alguma coisa que

o está ligado com a mente?

o * âmbito afetivo; (emoções, valores)


o Será que tal escrito me influência

o emocionalmente?

o * âmbito físico-Motor ( ações – o que se faz)

o Será que tal escrito requer de mim uma ação?

30.
o Exemplo

o Você chega no seu trabalho e, encontra um

o bilhete do seu patrão, dizendo que você tem

o uma proposta. Mas, só se você ir enconta-lo.

31.
o Exemplo

o Você chega no seu trabalho e, encontra um

o bilhete do seu patrão, dizendo que você tem

o uma proposta. Mas, só se você ir enconta-lo.

Qual é o área afetada? Afetiva (emoções) Congnitivo (Mente) Físico-Motor (ação)


32.
o Exemplo

o Você chega no seu trabalho e, encontra um

o bilhete do seu patrão, dizendo que você tem

o uma proposta. Mas, só se você ir enconta-lo.

Qual é o área afetada? Físico-Motor (ação)


33.
o Exemplo

o Se você crer, você será salvo.

34.
o Exemplo

o Se você crer, você será salvo.

Qual é o área afetada? Afetiva (sentimentos) Congnitivo (Mente) Físico-Motor (ação)


35.
o Exemplo

o Se você crer, você será salvo.

Qual é o área afetada? Congnitivo (Mente)


36. Propósito (alvo) A flexa (ICT) é a mensagem que ele usou para atingir este alvo. O
alvo é o propósito.

37.
o Exemplo da última semana,
o Salmo 117

o Louvai ao Senhor todas as nações,

o louvai-o todos os povos.

o Porque a sua benignidade é

o grande para conosco, e a sua

o Fidelidade dura para sempre.

38. Louvai ao Senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade
é grande para conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre. devem louva-lo?
Pergunta (questão)

39.
o Exemplo

o Louvai ao Senhor todas as nações,

o louvai-o

Porque todos os povos devem louva-lo? Pergunta (questão) Afirmação (resposta) Porque a
sua benignidade é grande para conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre.
40.
o O ICT de Salmos 117.1-2 é:

A ideia Central do Texto é que todos devem louva-lo, Porque a sua benignidade é grande
para conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre.
41. Louvai ao Senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade
é grande para conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre.

o Qual é o propósito do Salmo 117.1,2

42. Louvai ao Senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade
é grande para conosco, e a sua Fidelidade dura para sempre.

o Qual é o propósito do Salmo 117.1,2

Ação-sentimento Sentimento (gratidão)


ELEMENTOS DE TEXTUALIDADE
NOÇÕES METODOLÓGICAS DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Referência: AMARAL, Emília; ANTÔNIO, Severino; PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Novo
Manual Nova Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1991, p. 303-319.
À pergunta por que ler vamos associar, a partir de agora, um novo elemento: trata-se do como
ler. Se ler a forma de viver, se leitura do mundo e leitura da palavra estão umbilicalmente
ligadas, uma complementando a outra, o como fazê-lo é uma forma de dar sentido à vida, ou
melhor, de procurar os sentidos, ao invés de aceitá-los prontos.
Para conseguirmos desenvolver a nossa potencialidade como leitores, precisamos perceber
uma distinção essencial entre duas "imagens" de leitura: a leitura como atividade mecânica,
pas siva, consumista e a leitura como atividade ativa, reflexiva, crítica. Na primeira, temos a im
pressão de que lemos quando na verdade o que fazemos é apenas acumular dados,
informações, que logo desaparecem de nossa mente. Na segunda, há não só uma apreensão
do lido como tam bém uma integração entre o lido e o vivido.
Apreender, isto é, assimilar o conteúdo de um texto implica, portanto, a sua incorporação ao
nosso mundo. Incorporar o texto significa digeri-lo, significa conviver com ele, aceitando-o ou
negando-o, aceitando-o e negando-o ao mesmo tempo, ou seja, estabelecendo um diálogo atra
vés do qual o leitor se constitui como sujeito do ato da leitura: um ato que pode assim ser
criador e não meramente reprodutor.
Quando lemos desta maneira estamos realmente construindo significados, ao passo que
quando lemos da primeira forma mencionada estamos realizando uma anti-Ieitura, estamos nos
alienando do ato de ler. Isto porque este ato pressupõe um exercício de seleção, de percepção
do que é essencial e do que é secundário no texto lido, de reconhecimento de suas idéias
centrais, dos modos pelos quais tais idéias são demonstradas pelo autor etc.
Por estas razões, não podemos obter um bom nível quantitativo de leitura sem conseguirmos,
primeiro, um bom nível qualitativo; não podemos ser bons leitores sem nos termos
transformados em leitores dinâmicos, apaixonados em nossa relação com o texto, ao invés de
dispersos, indife rentes.
Tudo isso indica que ler é um processo e que ter acesso à leitura é se dispor a vivenciar esse
processo, cuja condição primordial é a própria prática de ler. Lendo, relendo, voltando a ler,
escolhendo os textos fundamentais de nossas vidas e, principalmente, gostando de ler, vamos
nos construindo como leitor.
Os exercícios de interpretação podem ser propostos a partir de textos de qualquer tipo:
ensaístico, literário, jornalístico, filosófico, poético etc. Geralmente a opção se dá no sentido de
textos dissertativos escritos em prosa. Como você sabe, esses textos apresentam idéias,
desenvolvem um pensamento, organizam argumentos, expressam premissas (causas) e
conclusões (conseqüências). Essas mensagens precisam ser entendidas lucidamente. Ler com
clareza, compreendendo o que se está lendo, reconhecendo as idéias, descobrindo e
estabelecendo relações entre elas, esta é a finalidade dos exercícios de interpretação:
desenvolver nossa capacidade de leitura, não só dos textos, mas também da realidade.
1.1 LEITURA DE ENUNCIADOS
Como já foi dito, a leitura clara e correta dos enunciados das Questões é o primeiro passo para
respondê-las. Um passo inicial, mas, ao mesmo tempo, decisivo.
Compreender bem o que se pede significa conhecer, ter familiaridade com uma determinada
linguagem; a linguagem através da qual os textos nos são apresentados e propostos para
fazermos a nossa interpretação, a nossa análise.
Ao mesmo tempo, então, que interpretamos e analisamos os conteúdos das questões propria
mente ditas, dos problemas cuja solução devemos encontrar, precisamos conviver com os
enun ciados, as maneiras de colocar as questões, exatamente porque, a nosso ver, elas
iluminam e encaminham o raciocínio que deve levar às respostas, às conclusões.
Um exemplo disso é a prova de História da UNICAMP para o ano de 1988, uma prova que
pode nos servir como modelo da relação íntima entre leitura de enunciados e uma postura
corre ta para resolver as questões às quais os enunciados se referem.
Trata-se, também, conforme veremos, de uma prova mais dependente da leitura e compreen
são do texto do que de conhecimentos prévios de História, embora eles evidentemente sejam
necessários.
Vamos estudá-Ia, sabendo que poderemos utilizar o que aprendermos através dela em outros
tipos de prova, inclusive aquelas que se compõem de testes de múltipla escolha.
1.2 IDENTIFICAR / COMPARAR / EXPLICAR
a) Caminhando e cantando
e seguindo a canção,
somos todos iguais
braços dados ou não,
nas escolas. nas ruas, campo, construções
Os amores na mente
as flores no chão,
a certeza na frente
e a história na mão,
aprendendo e ensinando uma nova lição. (Geraldo Vandré, Pra não dizer que não falei de
Flores, 1968)
b) Eu aprendi, a vida é um jogo,
cada um por si e Deus contra todos.
Você vai morrer e não vai pro céu.
É bom aprender, a vida é cruel.
Homem primata
capitalismo selvagem.
Eu me perdi, na selva de pedra,
eu me perdi, eu me perdi.
(Titãs, Homem primata, 1986)
As canções acima, muito cantadas pela juventude de suas respectivas épocas, exprimem com
portamentos e atitudes de amplos setores jovens diante de dois momentos diferentes da vida
po lítica brasileira.
a) Identifique, a partir de elementos das canções e de seus próprios conhecimentos sobre o
assunto, as principais características das duas conjunturas às quais as canções estão
relacionadas.
b) Comparando as duas canções, identifique e explique os principais significados que elas
exprimem em relação a comportamentos e perspectivas da juventude em cada um destes
momentos.
De acordo com o enunciado, as canções apresentadas exprimem comportamentos e atitu des
de amplos setores jovens diante de dois momentos da vida política brasileira.
Primeiro, a questão pede uma identificação, um reconhecimento das principais características
das conjunturas às quais as canções se referem, baseado nas letras de ambas e nos conhe
cimentos que você tem sobre o assunto.
Identificar ou reconhecer significa apontar elementos. Na questão apresentada pede-se os
elementos característicos das décadas de 60 e 80, presentes nas letras, para posteriormente
explicá-los, isto é, analisá-los.
Vejamos alguns elementos da primeira canção (década de 60):
Postura revolucionária, idealista (Caminhando e cantando / e seguindo a canção / Somos todos
iguais.)
Repressão às liberdades civis, referência ao golpe militar de 1964 (braços dados ou não / nas
escolas, nas ruas, campo, construções / os amores na mente / as flores no chão).
Resistência à repressão e consciência de que o homem faz a sua história, sendo o sujeito das
transformações sociais (a certeza na frente / e a história na mão, / aprendendo e ensinando
uma nova lição).
Elementos característicos da década de 80, presentes na segunda canção.
Individualismo: Eu aprendi, a vida é um jogo,
Insegurança: cada um por si e Deus contra todos
Desânimo: Você vai morrer e não vai pro céu
Descrença: É bom aprender, a vida é cruel
Irracionalismo: Homem primata
Contradição: Capitalismo selvagem
Fragmentação: Eu me perdi, na selva de pedra,
Perda de identidade: Eu me perdi, eu me perdi.
Reconhecidos alguns elementos de ambas as décadas presentes nas letras, você deve passar
à segunda parte da questão onde se pede que compare, ou seja, que descubra relações de
semelhança e/ou diferenças entre épocas, identificando e explicando os seus significados em
relação a comportamentos e perspectivas da juventude em cada um desses momentos.
Na verdade, quando você identificou ou reconheceu e anotou alguns traços referentes às
décadas em questão, já encaminhou sua resposta. Agora, é preciso organizar estes dados e
utilizá-los para comparar a década de 60 e a de 80. Em outras palavras, cabe-lhe relacioná-las
do ponto de vista da juventude, ou seja, do ponto de vista expresso nas canções.
Falta então, a explicação, a análise: a fundamentação necessária para você construir reflexões
que mostrem não só uma organização dos elementos que identificou como também um
aproveitamento reflexivo, argumentativo, analítico desses elementos.
1.3 PARAFRASEAR / REESCREVER
Meu senhor, nós queremos a paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser a
nossa paz há de ser nesta conformidade, se quiser estar pelo que nós quisermos, a saber:
Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação.
Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isto
peçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandás ou outro qualquer pau sem darmos
parte para isso.
Poderemos brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos impeça e
nem seja preciso licença.
O texto acima é de autoria de um grupo de escravos que se revoltou e fugiu do Engenho de
Santana, em Ilhéus, por volta de 1789.
a) Para voltar ao Engenho, quais as exigências que os escravos fizeram?
b) Se aceitas as suas condições, como ficaria afetada a organização social escravista de Enge
nho de Santana?
Observe que o enunciado desta questão apresenta um texto e informa sobre sua autoria e
data. Com estes dados, e com o texto em si, você deve responder duas perguntas, sendo a pri
meira textual e a segunda extra-textual, isto é, dependente de conhecimento de história.
Para responder a primeira, torna-se necessário reescrever ou parafrasear (reproduzir com sua
palavras) o texto, enumerando as exigências dos escravos; demissão dos feitores do engenho
e eleição de novos com aprovação dos escravos, liberdade para plantio de arroz e para
extração de madeira, liberdade de expressões de prazer: "brincar" folgar , cantar , onde e
quando os escravos desejassem.
A segunda pergunta parte de uma suposição, uma hipótese se aceitas as condições dos
escravos - através da qual você deve imaginar as prováveis conseqüências, para a estrutura de
um engenho do século XVIII, daquilo que poderíamos chamar de sua "democratização". Aí,
entram os seus conhecimentos específicos de história do Brasil, mas entra também um
raciocínio de causalidade.
1.4 INTERPRETAR
O historiador Jacques Le Goff assim descreve um Atlas de 1574:
Em posição proeminente encontramos a Europa (.) Está retratada com vestes de soberana,
com co roa e cetro, e segura um globo imperial (.) À esquerda uma princesa oriental ornada de
jóias (.) personifica a Ásia das especiarias; em frente, do outro lado, a África tem o aspecto de
uma negra pobremente vestida (.) A América reconhece-se na mulher impudicamente nua (.)
com a cabeça de um homem sentado na mão (.) a indicar que se alimenta de carne humana (.)
na ignorância de qualquer forma de organização civil e política. Ao lado está uma cabeça
feminina que se ergue sobre um pedestal, a Oceania, justamente privada de corpo porque o
continente austral era então quase completamente terra incógnita .
Interprete, do ponto de vista da cultura européia, as imagens dos continentes que compõem o
Atlas.
Aqui, o enunciado pede uma interpretação, do ponto de vista da cultura européia, da des crição
que o historiador Jacques Le Golff faz de um Atlas de 1574.
Lendo tal descrição e relacionando-a com o momento histórico a que se refere o século XVI
podemos interpretar as "imagens" dos continentes como as "imagens" do mundo mer cantilista,
mas também do mundo renascentista de valorização , do homem perante o domínio da Igreja.
Repare que interpretar se parece com comentar: em ambos os casos, é necessário discutir o
que foi lido, a partir de um determinado contexto, dado pelo enunciado. Quando se comenta,
entretanto, opina-se a respeito do lido, faz-se considerações pessoais mesmo que
direcionadas, enquanto quando se interpreta, procura-se reproduzir o conteúdo do texto,
procura-se entendê-lo resumindo-o, parafraseando-o ou associando-o ao contexto dado pelo
enunciado.
1.5 RESUMO
Resumir é identificar as idéias centrais e secundárias de um texto. É apresentar a síntese do
texto que corresponde à compreensão do que foi lido.
Existem vários caminhos, vários métodos para fazer resumo:
Sugerimos que você faça uma primeira leitura, para entrar em contato com o conjunto do tex to.
Para conhecer genericamente o texto como um todo. Para sentir as primeiras impressões.
Em seguida, faça uma segunda leitura. Esta, já mais devagar, mais atenta, mais analítica. Você
vai lendo e vai procurando entender cada parte do texto. Vai procurando compreender as rela
ções entre as partes. Vai percebendo o raciocínio que está sendo desenvolvido.
Sublinhe os momentos que pareçam mais significativos, que expressem as idéias mais impor
tantes. Ou então anote à margem do texto o que você for considerando mais relevante.
Procure fazer, para você mesmo, um resumo do que foi lido. Veja se você consegue, com um
mínimo de clareza, reproduzir sucintamente, com as suas próprias palavras, as idéias cen trais
do texto.
Se houver necessidade, faça uma terceira leitura: havendo problema com algum trecho,
alguma expressão, procure compreendê-la a partir do conjunto, do contexto. Observe mais
atentamente o início e o fim de cada parágrafo e do texto como um todo: geralmente, as idéias
são apresentadas sinteticamente na introdução e na conclusão dos textos.
1.6 ERROS CLÁSSICOS DE ENTENDIMENTO DE TEXTO
Após a leitura do texto, leia as perguntas propostas. Você perceberá que algumas questões
incidem sobre o conjunto do texto: estas podem ser respondidas diretamente. Mas há outras
questões que incidem sobre trechos, sobre passagens específicas do texto: estas, para serem
respondidas, exigem uma volta ao texto.
Quando a prova é de questões discursivas, expositivas, temos mais liberdade para encaminhar
nossas respostas. Nesse caso, é preciso muita atenção quanto ao enunciado, para que você
responda realmente o que está sendo pedido e não incorra nos erros clássicos de
entendimento de texto, que são basicamente três: extrapolação, redução e contradição.
Reconhecer estes erros, conhecer o processo lógico que ocorre em cada um deles, é de
importância vital para superá- los, ou seja, para que nossas respostas sejam claras e
coerentes; adequadas aos textos.
1.6.1 Extrapolação
O erro de extrapolação, como o próprio nome indica, acontece quando saímos do contexto,
quando acrescentamos idéias que não estão presentes no texto. Ao extrapolar, vamos além
dos limites do texto, viajamos além de suas margens, fazemos outras associações, evocamos
outros elementos, criamos a partir do que foi lido, deflagramos nossa imaginação e nossa
memória, aban donando o texto que era nosso objeto de interpretação. A extrapolação é muitas
vezes um exer cício de criatividade inadequada porque nos leva a perder o contexto que está
em questão. Geralmente, o processo de extrapolação se realiza por associações evocativas,
por relações analógicas: uma idéia lembra outra semelhante e viajamos para fora do texto.
Outras vezes, a extra polação acontece pela preocupação de se descobrir pressupostos das
idéias do texto, pontos de partida bem anteriores ao pensamento expresso, ou, ainda, pela
preocupação de se tirar conclu sões decorrentes das idéias do texto, mas já pertencentes a
outros contextos, a outros campos de discussão.
Reconhecer os momentos de extrapolação sejam analógicos ou lógicos significa conquis tar
maior lucidez, maior capacidade de compreensão objetiva dos textos, do contexto que está em
questão. Essa clareza é necessária e é criadora: significa, inclusive, uma liberdade maior de
imaginação e de raciocínio, porque os vôos para fora dos textos tornam-se conscientes, por
opção, serão realizados por um projeto intencional, e não mais por incapacidade de reconhecer
os limites de um texto colocado em questão, nem por incapacidade de distinguir as próprias
idéias das idéias apresentadas por um texto lido.
1.6.2 Redução
Outro erro clássico em exercícios de entendimento de texto, erro oposto à extrapolação é o que
chamamos de redução ou particularização indevida. Neste caso, ao invés de sairmos do
contexto, ao invés de acrescentarmos outros elementos, fazemos o inverso: abordamos
apenas uma parte, um detalhe, um aspecto do texto, dissociando-o do contexto. A redução
consiste em privilegiarmos um elemento (ou uma relação) que é verdadeiro mas não é
suficiente diante do conjunto, ou então que se torna falso porque passa a ser
descontextualizado. Prendemo-nos, assim, a um aspecto menos relevante do conjunto,
perdendo de vista os elementos e as relações principais, ou, antes, quebramos este conjunto,
fracionando indevidamente esse aspecto, isolando-o do contexto. Reconhecer os processos de
redução representa também um salto de qualidade em nossa capacidade de ler e entender
textos, assim como em nossa capacidade de perceber e com preender conjuntos de qualquer
tipo, reconhecendo seus elementos e suas relações.
1.6.3 Contradição
O último erro clássico nas interpretações de texto, o mais grave de todos, é o da contradição.
Por algum motivo uma leitura desatenta, a não percepção e algumas relações, a
incompreensão de um raciocínio, o esquecimento de uma idéia, a perda de uma passagem no
desenvolvimen to do texto etc. chegamos a uma conclusão contrária ao texto. Como esse erro
tende a ser mais facilmente reconhecido por apresentar idéias opostas às idéias expressas
pelos textos os testes de interpretação muitas vezes são organizados com uma espécie de
armadilha: uma alter nativa apresenta muitas palavras do texto, apresenta até expressões
inteiras do texto, mas com um sentido contrário. Um leitor desatento ou/e ansioso
provavelmente escolherá essa alternati va, por ser a mais "parecida" com o texto. Por ser a que
apresenta mais literalmente, mais "ao pé da letra elementos presentes no texto.
1.6.4 Exercícios / exemplos
Vamos ver alguns exemplos de erro extrapolação, redução, contradição , a partir de tex tos em
prosa e em poesia. Muitos destes exemplos são colhidos em experiências de aula de inter
pretação. Ao aprender a reconhecer os erros, você vai desenvolvendo uma clareza maior para
sua prática de interpretar mais lucidamente os textos. Perceba, também, como o resumo e a pa
ráfrase são utilizados durante o processo interpretativo.
Leia atentamente o texto que se segue. Faça a primeira leitura, a de entrar em contato, e,
depois, faça a segunda leitura, captando as idéias centrais. Procure fazer um pequeno resumo
do texto. Em seguida, verifique se você cometeu algum erro de extrapolação, redução ou con
tradição.
Texto 1
O que podemos experimentar de mais belo é o mistério. Ele é a fonte de toda a arte e ciência
verdadeira. Aquele que for alheio a essa emoção, aquele que não se detém a admirar as
coisas, sentindo-se cheio de surpresa, esse já está, por assim dizer, morto e tem os olhos
extintos. O que fez nascer a religião foi essa vivência do misterioso embora mesclado de terror.
Saber que existe algo insondável, sentir a presença de algo profundamente racional e radiante
mente belo, algo que compreenderemos apenas em forma muito rudimentar é esta a
experiência que constitui a atitude genuinamente religiosa. Neste sen tido, e unicamente neste
sentido pertenço aos homens profundamente religiosos.
(Albert Einstein Como vejo o mundo)
Seguem-se alguns exemplos de erros no entendimento do texto.
EXTRAPOLAÇÃO:
O texto fala sobre a importância de Deus e da religião, e sobre o mistério da criação do
universo.
O texto afirma que todo cientista precisa ser artista e religioso, para poder compreender a
natureza.
REDUÇÃO:
O texto afirma que o terror fez nascer à religião.
O texto afirma que a nossa compreensão dos fenômenos é ainda multo elementar.
CONTRADIÇÃO:
O texto afirma que quem experimenta o mistério está com os olhos fechados e não consegue
compreender a natureza.
O texto afirma que a experiência do mistério é um elemento importante para a arte, não para a
ciência.
O texto apresenta, na verdade, várias idéias básicas:
A beleza da experiência do mistério;
A emoção do mistério como raiz da ciência e da arte;
O homem incapaz de sentir essa emoção está com os olhos mortos;
A caracterização dessa vivência: saber e sentir que existe algo belo e racional que
compreendemos apenas rudimentarmente;
O sentido em que o autor se considera uma pessoa religiosa (e unicamente neste sentido).
Texto 2
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade Sentimento do mundo)
Veja alguns erros que podem ocorrer na análise deste poema.
EXTRAPOLAÇÃO:
O texto afirma a desilusão do autor com os amores românticos, que não são correspondidos, e
que levam à autodestruição.
REDUÇÃO:
O texto afirma que o autor não pretende viver em uma ilha.
CONTRADIÇÃO:
O texto afirma que o autor sente-se preso à vida presente, a pas sada e à futura.
Observe como o poema de Drummond apresenta muitas idéias relevantes:
a negação de ser um poeta do passado (mundo caduco) e do futuro;
o estar preso à vida, com os companheiros, na realidade presente;
o chamado para se viver o presente, juntos;
a negação de várias atitudes que o tirariam de viver a realidade presente (as várias fugas: o
amor romântico, o sentimentalismo, as drogas, o suicídio, a solidão, a religião alienante);
a reafirmação, no fim do texto, do presente: o tempo, a vida presente.
EXERCÍCIOS
Agora que já estudamos os três principais tipos de erro, vamos fazer alguns exercícios que
exemplificam o que se tem pedido em provas de comunicação e expressão, na área de
interpreta ção de textos. Procure ler com atenção os textos e as questões propostas que
selecionamos.
I - Leia o texto a seguir:
A outra noite
Rubem Braga
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como
aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei
a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens
feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma
paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se
para mim:
O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir a sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em
cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra pura, perfeita
e linda.
Mas que coisa.
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou
guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
Ora, sim senhor.
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um boa noite e um muito obrigado ao senhor
tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
Que presente de rei teria sido oferecido ao motorista? Assinale a alternativa correta.
A ( ) um valor absurdo como pagamento pelo serviço.
B ( ) usado o táxi numa noite de muita chuva.
C ( ) mantido conversa amigável com ele.
D ( ) informado a existência do luar além das nuvens.
II - Os recifes de coral, as maiores formações criadas por organismos vivos em nosso planeta,
são os mais ricos dos sistemas naturais marinhos. Situados principalmente em águas tropicais,
os recifes de coral servem de refúgio e oferecem alimento para cerca de uma quarta parte de
todas as espécies marinhas.
Como as florestas tropicais, os recifes de coral figuram entre os hábitats mais variados e que
correm maior perigo. A atividade humana ameaça causar graves danos aos recifes antes que
se possa investigar a plenitude de seu valor científico. Os médicos descobriram que o coral de
águas quentes, por exemplo, convenientemente processado, é um excelente substituto dos
ossos humanos em cirurgias de reconstrução da perna e do maxilar. (Igor Moreira, Construindo
o espaço do homem.)
A partir das informações contidas no texto, podemos afirmar que:
A ( ) Os recifes de coral são parte das florestas tropicais.
B ( ) Os recifes de coral alimentam e abrigam toda espécie de vida marinha.
C ( ) O homem é o responsável pela formação desses sistemas naturais marinhos.
D ( ) O valor científico dos recifes de coral não é totalmente conhecido.
III - A história dos mapas é muito antiga. Antes de saber escrever, o homem já fazia desenhos
para representar o espaço em que vivia.
Os homens primitivos desenhavam mapas nas paredes das cavernas, indicavam roteiros,
criavam calendários representando o caminho do Sol, da Lua e das estrelas no céu, mostravam
o tempo das coletas e o ritmo da vida.
O mapa mais antigo que se conhece foi construído por volta do ano 2.500 antes de Cristo.
Tratava-se de uma placa de barro cozido, representando o vale de um rio, com montanhas de
um e de outro lado (.). A placa, que cabe na palma da mão, foi descoberta nas escavações das
ruínas da cidade de Ga-Sur, próxima à antiga Babilônia, em território que hoje pertence ao
Iraque. (Igor Moreira, Construindo o espaço do homem.)
O texto nos permite afirmar que:
A ( ) O mapa mais antigo que se conhece representa uma cidade iraquiana.
B ( ) O homem primitivo já representava o espaço em que vivia antes de saber escrever.
C ( ) Só os povos que conheciam a escrita eram capazes de confeccionar mapas.
D ( ) O mapa mais antigo que se conhece tem, aproximadamente, 2.500 anos de idade.
IV - Leia com atenção o texto a seguir e assinale com um X a alternativa incorreta:
Cientistas de diversos países decidiram abraçar, em 1990, um projeto ambicioso: identificar
todo o código genético contido nas células humanas (cerca de três bilhões de caracteres). O
objetivo principal de tal iniciativa é compreender melhor o funcionamento da vida, e,
conseqüentemente, a forma mais eficaz de curar as doenças que nos ameaçam. Como é esse
código que define como somos, desde a cor dos cabelos até o tamanho dos pés, o trabalho
com amostras genéticas colhidas em várias partes do mundo está ajudando também a
entender as diferenças entre etnias humanas. Chamado de Projeto Genoma Humano, desde
seu início ele não parou de produzir novidades científicas. A mais importante delas é a
confirmação de que o homem surgiu realmente na África e se espalhou pelo resto do planeta. A
pesquisa contribuiu também para derrubar velhas teorias sobre a superioridade racial e está
provando que o racismo não tem nenhuma base científica. É mais uma construção social e
cultural. O que percebemos como diferenças raciais são apenas adaptações biológicas às
condições geográficas. Originalmente o ser humano é um só. (ISTO É 25.01.97 Concurso
Público Técnico do Tesouro Nacional)
A ( ) O Projeto Genoma Humano tem como objetivo primordial reconhecer as diferenças entre
as várias raças do mundo.
B ( ) O ser humano tem uma estrutura única independente de etnia e as diferenças raciais
provêm da necessidade de adaptação às condições geográficas.
C ( ) O código genético determina as características de cada ser humano, e conhecer esse
código levará os cientistas a controlarem doenças.
D ( ) As amostras para a pesquisa do Projeto Genoma Humano estão sendo colhidas em
diversas partes do mundo.
E ( ) O racismo não tem fundamento científico: é um fenômeno que se forma apoiado em
estruturas sociais e culturais.
V - Leia com atenção o texto a seguir e assinale com um X a alternativa correta:
O caminho do sucesso é estreito
No céu de janeiro o Sol se relaciona de forma tensa com Saturno, e no signo de Capricórnio é
Lua Nova.
Enquanto isso, aqui na terra é estreito o caminho do sucesso, visível apenas aos humanos que
tenham purificado as suas mentes.
Purificar não é outra coisa que eliminar as limitações. Apegar-se demais a uma particular visão
de mundo é uma limitação. Criticar nos semelhantes os erros que o crítico pratica
constantemente é uma limitação. Insistir em se pensar desgraçado e o último dos humanos é
também uma limitação.
Todas as limitações não têm outra função a não ser a de obscurecer o princípio de vida, que
muito mais se aproxima do infinito do que das regras que, de forma ignorante, a humanidade
tenta estabelecer.
Nada de mau nas regras em si. O mal assoma na mente humana quando as regras se tornam
maiores do que a necessidade real de praticá-las.
O que outrora foi bem não significa que deva continuar a sê-lo. A estreiteza do caminho do
sucesso radica na dificuldade de se superarem as regras obsoletas.
(QUIROGA, Oscar. Folha de São Paulo, 17 de janeiro de 1999 Concurso Público TRF da 2ª
Região).
De acordo com o texto pode-se afirmar que:
A ( ) a conjunção astral faz com que o caminho do sucesso seja estreito;
B ( ) só os puros de coração conseguem ver o caminho do sucesso;
C ( ) ser puro é ter valores éticos bem determinados;
D ( ) o valor das regras é relativo;
E ( ) a estreiteza do sucesso está na desobediência às regras.
VI - O trabalho morreu, só nos falta a coragem para enterrá-lo. No mesmo túmulo, é preciso
acomodar seu sósia e seu irmão gêmeo, igualmente defuntos; o emprego e o desemprego. A
morte foi causada pelo distanciamento desastroso entre o território do trabalho e o da
economia.
No mundo atual das multinacionais, do liberalismo absoluto, da globalização, da mundialização,
da virtualidade o trabalho, concebido como o conjunto de emprego mais assalariados, é
conceito obsoleto, um parasita.
A mudança se dá na natureza mesmo no capital: que já não é aquele que expunha as
garantias do capitalismo de ordem imobiliária; que já não é aquele em que o conjunto dos
homens era indispensável para produzir lucro.
No atual modelo econômico que se instala no mundo sob o signo da cibernética, da
automação, das tecnologias revolucionárias o trabalhador é supérfluo e está condenado a
passar da exclusão social à eliminação total.
Com essa visão apocalíptica, a ensaísta francesa Viviane Forrester, 71, conclui, no livro O
Horror Econômico (lançado agora no Brasil), que o grau de pobreza que o planeta atinge não é
resultado de uma crise econômica. Não há crise, diz ela, o que há é uma mutação mas não
apenas a mutação horizontal de uma sociedade. Trata-se da mutação vertical, profunda, de
toda uma civilização antes fundada sob um conceito que já não existe: o do trabalho, nosso
mais sagrado tabu , comenta, deformado sob a forma perversa de emprego . (Folha de São
Paulo Mais.! 15.6.97)
1 Assinale o item que não está de acordo com o texto.
a) No primeiro parágrafo, as palavras morreu, túmulo, defuntos e morte estão sendo utilizadas
em sentido conotativo.
b) A palavra obsoleto (linha 7) significa, no texto, antigo, ultrapassado, arcaico .
c) A visão de Viviane Forrester é otimista em relação ao futuro do trabalho humano na
sociedade capitalista moderna.
d) o universo tecnológico substitui o trabalhador no modelo econômico mundial da atualidade.
e) O capital já não exige o trabalho dos homens para produzir lucro.
2 O texto apresenta a idéia de que:
a) trabalho e emprego são conceitos idênticos.
b) trabalho e emprego são apenas aparentemente semelhantes.
c) o trabalho é também o resultado da ação de máquinas.
d) a civilização está sofrendo uma mutação profunda, pois privilegia o trabalho e o emprego.
e) a crise econômica do mundo é uma fase histórica transitória.
VII - As questões de números 1 a 4 são sugeridas pelo texto abaixo transcrito.
Sete Quedas por nós passaram
E não soubemos amá-las
E todas sete foram mortas
E todas sete somem no ar,
Sete fantasmas, sete crimes
Dos vivos golpeando a vida
Que nunca mais renascerá.
(Carlos Drummond de Andrade)
1. Por fantasmas, no texto, há de entender-se:
a) entes sobrenaturais que aparecem aos vivos
b) imagens dos que já não existem
c) imagens da culpa que iremos carregar
d) imagens que assombram e causam medo
e) frutos da imaginação doentia do homem
2. A afirmação
Sete Quedas por nós passaram
E não soubemos amá-las
faz-nos entender que:
a) os brasileiros não costumam amar a natureza
b) Sete Quedas pertencem agora ao passado
c) enquanto era possível, nós não passávamos por Sete Quedas
d) todos antigamente podiam apreciar o espetáculo, agora não.
e) só agora nos damos conta do valor daquilo que perdemos
3. Quando o poeta diz
". sete crimes I Dos vivos golpeando a vida I Que nunca mais renascerá .
percebe-se que sua mágoa se dirige principalmente:
a) à insensata violação do princípio de continuidade natural da vida pelos representantes vivos
de uma espécie
b) ao fim das Sete Quedas, decisão impensada dos vivos
c) à impossibilidade de substituir, no futuro, o espetáculo de beleza da vida presente
d) à perda cada vez maior dos bens naturais pelos brasileiros
e) aos verdadeiros crimes que o homem comete em nome do progresso
4. Na passagem
E todas sete foram mortas,
E todas sete somem no ar",
o uso de todas sete se justifica:
a) como referência ao número das quedas existentes no rio Paraná
b) para representar todo o conjunto das quedas que desaparece
c) para destacar o valor individual de cada uma das quedas
d) para confirmar que a perda foi parcial
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