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Comunicação e Expressão
Aulas 1 a 20
Sumário
Aula 1 - A aventura de escrever 03
Aula 2 - Desejos de Leitura - O ato de ler 13
Aula 3 - Comunicação e Linguagem 26
Aula 4 - Variações Lingüísticas - 1a. parte 42
Aula 5 - Variações Lingüísticas - 2a. parte 50
Aula 6 - O texto e suas modalidades 54
Aula 7 - Narração - O ato de contar histórias 60
Aula 8 - Narração - O ato de contar histórias 71
Aula 9 - O ato de descrever 81
Aula 10 - O ato de dissertar 89
Aula 11 - O ato de argumentar 105
Aula 12 - Avalie suas habilidades
e seus conhecimentos 114
Aula 13 - Como fazer o resumo de um texto 121
Aula 14 - Leitura crítica 128
Aula 15 - Função referencial e
função poética da linguagem 142
Aula 16 - Como elaborar um currículo moderno 149
Aula 17 - Redação empresarial 157
Aula 18 - Entrevista 164
Aula 19 - Relatório 171
Aula 20 - Conclusão do curso 178
Aula 01 - A aventura de escrever
Olá, meu nome é Walter Armellei Júnior e sou um dos autores deste programa
de Comunicação e Expressão.
Elaborei este curso pensando em tornar cada aula, além de agradável, útil e
desafiadora, a mais próxima possível da realidade de quem estuda e trabalha, ou seja,
de quem lê no dia-a-dia, sem mesmo dar-se conta dessa grande tarefa!
A aventura de escrever
Durante esta aula, você será capaz de identificar algumas dificuldades
encontradas por você e por outras pessoas diante do ato de escrever.
Verifique.
Quando você é solicitado a elaborar um texto – seja no meio acadêmico, seja no
meio profissional – inicia-se a luta entre o papel, as palavras e o que você quer, pode
e consegue dizer.
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Depoimento 1
“Quiem supiera escribir!” A exclamação, de um verso de Campoamor, me vem
à lembrança às vezes – como neste momento em que eu tanto precisaria dizer tantas
coisas, e não sei dizê-las.
Depoimento 2
Esta é uma declaração de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil.
Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a
sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um pontapé contra os
que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza.
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Depoimento 3
“Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Então lutamos
Mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão forte
Como um javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse,
teria poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas de carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça (...)”
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Depoimento 4
Escrever é montar, jogar um ponto de vista, às vezes tão único, tão restrito
àquele momento, àquelas palavras... E no desejo de gotejar de tinta um papel, só
para tentar transmitir uma onda de sentimentos, pensamento, sensações, as palavras
escapam, brigam, traem-se. É uma guerra. Fico perplexa e desesperada, pedindo
trégua. Prometo a uma o primeiro lugar no próximo parágrafo: a outra, uma amiga
com a qual faria um belo par; tudo em vão.
Elas compreendem! A paz é feita numa harmonia silenciosa. E quem vir essas
briguentas por aí, poderá pensar que nunca houve nada entre nós.
(ex-aluno)
Depoimento 5
As pessoas estão esquecendo de escrever. Escrever mesmo.
Também pudera: é muito vídeo, muito digital, muita impessoalidade.
Por tudo isso é que vale a pena escrever. Agora. Imediatamente. Inadiavelmente.
(ex-aluno)
Atividade em aula
Depois de tomar conhecimento das dificuldades enfrentadas por escritores e
alunos, ao escrever, elabore agora o seu depoimento, um texto de,
aproximadamente, 30 linhas, que expresse seus encontros e desencontros com as
palavras, com o texto.
A sua luta pela expressão
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Registre em seu caderno ou digite em seu computador.
Faça os exercícios.
Registre tudo que considerar importante.
Uma redação nunca é um produto acabado, pronto para ser entregue ao mestre
e por este enquadrada no conceito devido (ou indevido). Antes, será “red-ação”:
ação de tecer a rede dos acontecimentos e dos relacionamentos, guardando o
acontecido na memória verbal das gerações, pescando o acontecível no extenso lago
das faltas e ausências testemunhadas pelas palavras daqueles que falam.
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A palavra é a consciência da ausência. A consciência do não-saber de que
Sócrates, a qual, exatamente, despe-nos da arrogância e aproxima-nos da verdade.
2o Texto
Sobre o ato de escrever
Continuando nossa conversa sobre o ato de escrever.
“Escrever é fazer um mau rascunho e em seguida corrigi-lo até desentranhar o
que realmente se pensa.”
3o. texto
Sobre o ato de escrever
“O escritor é um homem sozinho dentro de um quarto, diante do papel em
branco e às voltas com os seus demônios que ele conjura, que ele tenta exorcizar: o
demônio da solidão, o da busca, da procura de alguma coisa que não sabe qual seja,
como quem tenta recuperar uma experiência sonhada, ou vivida numa vida anterior.
Ele está começando do nada, vendo pela primeira vez, tentando abrir um
caminho, procurando no escuro... Escrever é um ato de amor.”
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Saiba mais - Fernando Sabino
Fernando Tavares Sabino nasceu a 12 de outubro de 1923, em Belo Horizonte. Em
1930, após aprender a ler com a mãe, ingressa no curso primário. Torna-se leitor
compulsivo, de tal forma que mais de uma vez chega em casa com um galo na testa, por
haver dado com a cabeça em um poste ao caminhar de livro aberto diante dos olhos.
4o Texto
Sobre o ato de escrever
“Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve.
E como é que se começa? E que é que se faz com o papel em branco nos
defrontando tranqüilo?
Sei que a resposta, por mais que intrigue, é a única: escrevendo. Sou a pessoa
que mais se surpreende ao escrever. E ainda não me habituei a que me chamem de
escritora. Porque fora das horas em que escrevo, não sei absolutamente escrever.
Será que escrever não é um ofício? Não há aprendizagem, então? O que é? Só me
considerarei escritora no dia em que eu disser: sei como se escreve.”
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Dicas sobre revisão gramatical
Dicas de hoje, para você guardar e utilizar!
Quando está criando um texto, você fica muito concentrado, procurando captar
seu pensamento. Não deve interromper com pormenores. Escreve as palavras como
elas surgem em sua cabeça, mesmo erradas ou inadequadas. Constrói frases e trechos,
às vezes, até sem sentido. Depois de alguma experiência em seu redigir, sabe que, após
esse registro do fluxo do pensamento, vai reler seu texto, vai vê-lo outra vez, vai fazer
uma revisão (de estilo, de conteúdo, gramatical, do texto em sua estrutura, etc.).
Você também não deve interromper a fluência do seu processo de criação para
lembrar se uma palavra tem acento gráfico, para ver a pontuação, para substituir
palavras ou frases. Primeiro registre seu pensamento. Depois faça uma revisão
gramatical, com calma. Mesmo assim, se você errar, aprenda com seus erros.
Veja só, levarmos esse conselho às últimas conseqüências, concluiremos que não
escrevendo nada, nunca erraremos.
É uma ilusão pensar que um texto nasce pronto. Ele percorre vários
procedimentos até chegar ao leitor. E é na leitura que sua criação se completa.
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Alguns segundos depois, achamos o texto péssimo e nos sentimos ridículos,
poucos inteligentes, incapazes de criar. Rasgamos folhas escritas, levantamos da
cadeira, tentamos fugir.
Mas é preciso persistir. Se o texto não ficou bom, é preciso refazê-lo em parte
ou totalmente. Até ficar pronto.
Outra coisa que deve levá-lo a reescrever o texto é a autocrítica raramente justa
no momento da elaboração. A autocrítica precisa ser exercida com certo
distanciamento. Se você acaba de escrever, dê um tempo para julgar se o texto está
bom ou ruim. Leia-o no dia seguinte, na semana seguinte. Será mais fácil apreciá-lo.
Há ainda a insatisfação dinâmica de quem cria.
Mal termina o texto, você fica imaginando o próximo. O melhor texto, para
quem o cria, é o próximo. Isso é bom, é dinâmico, porque nos move a continuar
criando e a melhorar o que fazemos.
Mas não pode ser uma insatisfação tão grande que gere desânimo.
Finalmente, um fato que você já deve ter observado. Há uma distância, uma
defasagem entre o que a gente imagina e o resultado final da redação já realizada.
Costumamos até dizer: “não era bem isso que eu queria escrever”.
Em textos longos e complexos, isso é comum. Parece que a mão que escreve
puxa e conduz a imaginação para além do que foi planejado. Se a distância entre o
que se planejou e o produto for muito grande e o resultado insatisfatório, reescreva
sua redação.
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Síntese da aula de hoje
Você deve ter percebido que escrever é um verdadeiro desafio carregado de
emoções e aventuras. As dificuldades existem para todos nós, até para os grandes
escritores já consagrados pela crítica e pelo público.
Não há qualquer modelo, receita ou técnica pronta que possam ensinar-lhe. Mas
você aprenderá a escrever, escrevendo, treinando, exercitando. À medida que for
escrevendo, descobrirá a sua própria técnica, seu estilo, que é pessoal.
Próxima aula
Na próxima aula, falaremos sobre a leitura, Desejos de Leitura - é o outro
componente da relação dialética “leitura – escrita”. É mais um processo carregado
de sedução.
Até a próxima.
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Aula 02 - Desejos de Leitura - O ato de ler
Olá, Meu nome é Dora Fontana Baseio e sou uma das autoras deste programa
de Comunicação e Expressão.
Durante esta aula, você será capaz de compreender o que é leitura, de refletir sobre
o ato de ler e também de se divertir, viajando em algumas passagens de nossa literatura.
É a forma que temos para perceber o mundo que se põe diante nós, é a nossa
leitura de mundo.
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Neste momento, você está não só lendo a palavra escrita, mas o seu entorno, o
tamanho das letras, o colorido da página, os ícones, as janelas, os objetos que estão
próximos a você, os sons, o cheiro do ambiente em que está.
Aceitei fazê-lo agora, da maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aqui
para falar um pouco de importância do ato de ler.
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guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de
minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão critica da
importância do ato de ler se veio em mim constituindo.
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Compreendemos que a leitura da palavra é algo que se acrescenta à leitura do
mundo. Refere-se ao processo de alfabetização, à aquisição do código lingüístico. Ser
alfabetizado é diferente de ser letrado.
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Leia: Aqui, registramos apenas um trecho do primeiro capítulo (Mudança) e um
trecho do último capítulo (Fuga), do livro Vidas Secas (visite o site: http://
www.geocities.com/gracilianoramos/bio.htm) só para você sentir um pouco da vida
do outro e, evidentemente, refletir sobre a sua. Aproveite!
Mudança
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os
infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do
rio seco, a viagem progredira bem três léguas.
Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu
longe, através dos galos pelados da catinga rala. Arrastaram-se para lê, devagar, sinhá
Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça,
Fabiano sombrio,cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao
cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra
Baleia atrás.”E agora, esta outra.
Fuga
“Pouco a pouco uma vida nova, ainda confusa, se foi esboçando. Acomodar-se-
iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato.
Cultivariam um pedaço de terra.
E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de
pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles
dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia.
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2a. Atividade em aula
Agora, compare o texto literário de Graciliano, que você acabou de ler com a
tela Os Retirantes, de Portinari. (1944).
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2a. Atividade em aula
Escreva:
O que acontece quando lemos um livro de literatura ou quando lemos um
quadro? Quantas são as impressões e sensações que nos despertam?
Ao lermos, tanto o livro Vidas Secas quanto o quadro Os Retirantes, nós nos
enveredamos para o sertão nordestino, e de repente compartilhamos da árdua
peregrinação daqueles que nada possuem. Nossa vida mistura-se com a vida de
Fabiano, de sinha Vitória, dos dois meninos, de Baleia, e, por vivenciarmos essa
realidade recriada no plano da imaginação, passamos, muitas vezes, a lutar, no plano
da realidade, pela dignidade da vida humana.
Enfim, o conhecimento que nos é oferecido pela arte literária e pela arte pictórica
apresenta-nos a realidade sob aspectos originais, revitaliza-nos a sensibilidade, pois
passamos a viver a experiência do outro, a ser quem não somos, ou até mesmo,
passamos a conhecer o obscuro de nós mesmos, o nosso lado miserável.
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O Meu Olhar (Alberto Caeiro)
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
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Saiba mais - Caetano Veloso
Nascido em Santo Amaro da Purificação, BA, em 07 de agosto de 1942, é um
célebre inventor da arte musical brasileira, retirando sons, gestos e palavras do mais
árido território, capaz de traduzir o concreto, a dor, um jeito, uma paisagem ou
pessoa na mais variada e sutil percepção da existência.
Revolucionário em sua poesia, o compositor nos presenteia com fraseados sonoros
que mobilizam nossa alma, mostrando-nos a importância não somente de estarmos
vivos como também de lutarmos. Caetano renova a linguagem artística, poetizando
sons de timbres desconexos, afirmando sua capacidade de mostrar as possibilidades
da música de provocar a fruição estética.
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3a. Atividade em aula
O que você imaginou quando leu/ouviu a letra/música?
Registre suas impressões, seus sentimentos, lembranças.
A música de Caetano que você ouviu e leu põe em diálogo muitas vozes: a do
próprio compositor, a dos antigos navegadores, a do poeta modernista português,
Fernando Pessoa, realizando o que conhecemos como intertextualidade.
1) critica-se a visão de obra literária como uma obra que seria absolutamente original,
encerrada nela mesma; e
2) portanto opõe-se também ao culto do poeta-gênio. Poeta é alguém que apresenta
uma versão mais criativa das potencialidades literárias da língua e da cultura.
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Outros exemplos de intertextualidade
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,
Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar –sozinho, à noite–
Não gorjeiam como lá. Mais prazer eu encontro lá;
Nosso céu tem mais estrelas, Minha terra tem palmeiras,
Nossas várzeas têm mais flores, Onde canta o Sabiá.
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Em cismar, sozinho, à noite, Sem que disfrute os primores
Mais prazer eu encontro lá; Que não encontro por cá;
Minha terra tem palmeiras, Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Ao ler a composição musical, você se lembrou de fatos, acionou conhecimentos
prévios, tais como idéias, hipóteses, visão de mundo e linguagem sobre o assunto, você,
evidentemente, dialogou com a voz de Caetano, com as outras vozes ali presentes - se
elas fazem parte de seu repertório cultural - e com suas próprias vozes internas, na
tentativa de concordar, discordar, criticar ou aprovar as idéias enunciadas no texto.
Saiba mais
Visite o site: www.iel.unicamp.br/memoria.
Procure Márcia Abreu em Diferentes formas de Ler.
Clique em estudos e depois ensaios.
Vale a pena a leitura.
Alguém já lhe falou que é necessário desenvolver o hábito da leitura? Essa idéia é
muito comum e um tanto perigosa. Sabe por quê?
Não se deve desenvolver hábito de leitura, pois hábito é algo que se faz
mecanicamente. Deve-se, sim, desenvolver, ou melhor, despertar o Desejo de Leitura.
Saiba mais
- www.virtualbooks.terra.com.br
- www.bibvir.futuro.usp.br/index.php
- www.ominis.if.ufrj.br/~coelho/livros.html
- http://cultvox.locaweb.com.br/
login.asp?Pagina=%2Fgratis%5Ffilosofia%5Fpolitica%2Easp
- http://www.ig.com.br/paginas/novoigler/download.html
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Síntese da aula de hoje
Você aprendeu, nesta aula, alguns conceitos, como o de leitura, leitura de
mundo, intertextualidade. Aprendeu, também, a diferença entre ser alfabetizado e
ser letrado bem como a importância da leitura de diferentes textos e linguagens para
ampliar sua visão de mundo.
Próxima aula
Enfim, chegamos no final desta travessia...
Na próxima aula, trataremos de comunicação e linguagem, linguagem verbal e
não verbal, diferenças entre língua oral e língua escrita.
Você acha fácil se comunicar?
Até a próxima.
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Aula 03 - Comunicação e Linguagem
Durante esta aula, você será capaz de compreender o conceito de comunicação
como necessidade humana e refletirá sobre seu uso na sociedade contemporânea.
Será muito divertida nossa trajetória, desta vez, pelos diferentes textos,
tramados pelas diversas linguagens: sonora, escrita, visual, ou seja, da música, do
livro, do cinema, entre outras.
Só para você despertar para o contexto, imagine que o dia está amanhecendo.
Leia atentamente o poema.
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã;
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
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Navegue e descubra mais coisas - link: www.virtualbooks.terra.com.br
- Pedra do sono. Recife: Edição do autor, 1942 (tiragem especial em papel Drexler).
- Os três mal-amados. Rio de Janeiro: Revista do Brasil, 1943.
- O engenheiro. Rio de Janeiro: Amigos da Poesia, 1945.
- Psicologia da composição com a fábula de Anfion e Antiode. Barcelona: O livro
inconsútil, 1947.
- O cão sem plumas. Barcelona: 0 livro inconsútil, 1950. 2a. ed. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira, 1984 (com Fotografias de Maureen Bisilliat).
- O rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife.
São Paulo: Edição da Comissão do IV Centenário de São Paulo, 1954.
- Dois parlamentos. Madri: Edição do autor, 1960.
- Quaderna. Lisboa: Guimarães Editores, 1960.
- A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.
- Museu de tudo. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1975.
- A escola das facas. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1980.
- Auto do frade. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1984; 2a. edição, Rio de
Janeiro: Editora Nova Fronteira 1984 (da 2a. edição foi feita uma tiragem de 100
exemplares em papel vergê).
- Agrestes. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985 (tiragem especial em papel
vergê).
- Crime na Calle Relator. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1987.
- Primeiros poemas. Rio de Janeiro: Edição da Faculdade de Letras da UFRJ, 1990.
- Sevilha andando. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990.
- Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Edição de Orfeu, 1954.
- Duas águas. Rio de Janeiro: Editora José Olympio. 1956 (tiragem especial em papel
Westerprin).
- Terceira feira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1961.
- Poesias completas. Rio de Janeiro: Editora Sabiá, 1968; 4a. edição, Rio de Janeiro:
Editora José Olympio, 1986.
- Poesia completa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1986.
- Museu de tudo e depois (Poesia Completa II). Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1988.Antologias
Antologias
- Poemas escolhidos. Seleção de Alexandre O’Neil. Lisboa: Portugália Editora, 1963.
- Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1965; 8a. edição, Rio de
Janeiro: Editora José Olympio, 1991.
- Morte e vida severina. São Paulo: Teatro da Universidade Católica, 1965.
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Sabemos, leitor, que o homem não vive sozinho. Ele é ser gregário, sempre
precisa do outro, para a aprender a ser gente, para se reconhecer como humano,
para transformar-se, para modificar o que não está coerente no mundo.
Você percebe, no poema de João Cabral de Melo Neto, que o galo constitui
uma metáfora do homem.
Assim, como um galo, com seu cantar, acorda o outro galo no despertar da
manhã,os homens necessitam uns dos outros para tecerem o amanhã.
Divirta-se
Veja o filme O carteiro e o Poeta.
A linguagem figurada é a linguagem conotativa, aquela que tem como causa a imaginação,
o intelecto e a paixão. As palavras assumem um sentido figurado quando a intenção é
expressar sentimentos e idéias em forma de imagens concretas, abstratas ou afetivas.
Pode ocorrer a linguagem figurada tanto na linguagem comum quanto na linguagem literária.
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1a. Atividade em aula
Agora, pense e escreva: o que o texto de João Cabral tem a ver com a idéia de
comunicação e linguagem?
A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de
oito anos de idade, viveu até 1929. não tinham nada de humano e seu
comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou
lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.
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A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos,
inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a
executar ordens simples.
O que é mais factível: a história real das crianças indianas ou a ficção de Tarzan?. A
linguagem somente pode ser adquirida sob condições sócio-culturais específicas ou
ela é inata a todos nós com “prova” Tarzan?
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A comunicação nasce para enredar os homens, para livrá-los da solidão
involuntária, para favorecer o processo de conhecimento de si, do outro e do mundo.
Entretanto, será que podemos chamar de progresso a esse processo que vem nos
assolando, sobretudo com o que tem sido feito das novas descobertas tecnológicas, dos
meios de comunicação atuais? Ouça a música dos Titãs e pense sobre isso.
Homem primata
Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz Homem primata
o que o macaco fazia Capitalismo Selvagem
eu não trabalhava, eu não sabia Ôô ô
que o homem criava e também destruía
Eu me perdi na selva de pedra
Homem primata Eu me perdi, eu me perdi
Capitalismo Selvagem
“I’m a cave man
Ôô ô a young man
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Formação atual:
• Paulo Miklos - Vocal, sax
• Branco Mello - Vocal
• Sérgio Britto - Vocal, teclados
• Marcelo Fromer - Guitarra
• Toni Belloto - Guitarra
• Nando Reis - Baixo, vocal
• Charles Gavin – Bateria
Discografia:
• Titãs (1984)
• Televisão (1985)
• Cabeça Dinossauro (1986)
• Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987)
• Go Back (1988)
• Õ Blésq Blom (1989)
• Tudo ao mesmo tempo agora (1992)
• Titanomaquia (1993)
• Titãs 84-94 (1994)
• Domingo (1995)
É fato que tanto a ciência quanto a tecnologia surgiram para servir o homem.
Há, no fundo de cada invenção humana, um desejo.
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Os papéis dominantes, legitimados pela ideologia e pela prática da
competitividade, são a mentira, com o nome de segredo da marca; o engodo, com o
nome de marketing; a dissimulação e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia. É
uma situação na qual se produz a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e a
glorificação da avareza, negando a generosidade. Desse modo, o caminho fica aberto
ao abandono das solidariedades e ao fim da ética, mas também, da política. Para o
triunfo das novas virtudes pragmáticas, o ideal de democracia plena é substituído pela
construção de uma democracia de mercado, na qual a distribuição do poder é tributária
da realização dos fins últimos do próprio sistema globalitário. Estas são as razões pela
quais a vida normal de todos os dias está sujeita a uma violência estrutural que, aliás, é
a mãe de todas as outras violências. (SANTOS, 2001: 61)
Veja este link www.espacoacademico.com.br.
Assim, a cultura, em sentido amplo, engloba a língua que falamos, crenças, costumes,
códigos, instituições, ferramentas, arte, religião, ciência, enfim, toda as esferas da
atividade humana.
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Todas as atividades básicas, como reprodução e alimentação, são realizadas de
acordo com regras, usos e costumes de cada cultura particular.
Para aprofundar sua reflexão, leia, agora, dois textos, um verbal e outro não
verbal - que mostram, de uma maneira bastante lúdica, essa terrível dificuldade
humana de se comunicar.
Cometa Halley
De: Diretor Presidente
Para: Gerente
Na próxima sexta-feira, aproximadamente às 17 horas, o Cometa Halley estará
nesta área. Trata-se de um evento que ocorre somente a cada 78 anos. Assim,por
favor, reúnam os funcionários no pátio da fábrica, todos usando capacete de
segurança, quando explicarei o fenômeno a eles. Se estiver chovendo não poderemos
ver o raro espetáculo a olho nu, sendo assim todos deverão se dirigir ao refeitório
onde será exibido um filme documentário sobre o Cometa Halley”.
De: Gerente
Para: Supervisor
Por ordem do Diretor Presidente, na sexta-feira às 17 horas, o Cometa Halley
vai aparecer sobre a fábrica, se chover,por favor, reúna os funcionários, todos de
capacete de segurança e os encaminhe ao refeitório,onde o raro fenômeno terá lugar,
o que acontece a cada 78 anos a olho nu”.
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De: Supervisor Para:
Chefe de Segurança
A convite de nosso querido Diretor, o cientista Halley, 78 anos, vai aparecer nu no
refeitório da fábrica, usando capacete, pois será apresentado um filme sobre o problema
da chuva na segurança. O Diretor levará a demonstração para o pátio da fábrica”.
De: Mestre
Para: Funcionário
Todo mundo nu, sem exceção, deve estar com segurança no pátio da fábrica na
próxima sexta-feira às 17 horas, pois o manda chuva (Diretor), e o Sr.Halley,
Guitarrista famoso, estarão lá para mostrar o raro filme “Dançando na Chuva”. Caso
comece a chover mesmo, é para ir para o refeitório de capacete na mesma hora. O
show será lá. O que ocorre a cada 78 anos”.
35
O homem dispõe dos mais variados sistemas de comunicação, por isso é
considerado um animal comunicativo por excelência. Entretanto, é necessário
reconhecer que os animais também possuem comunicação.
As abelhas, por exemplo, comunicam-se por meio da dança para apontar onde
está o alimento e a que distância. Os símios possuem 15 a 20 gritos diferentes de
alarme, comando e inquietação, enquanto os chimpanzés têm 32.
Aliás, segundo as novas pesquisas, nós dividimos o planeta com vários outros
animais pensantes.
36
A questão é que nem sempre o significado das expressões é universal. Por exemplo,
balançar a cabeça, na maior parte dos países do Ocidente, significa não, mas, na
Grécia, Bulgária, Turquia, Irã significa sim. O sinal de OK, nos EUA, significa que algo
está ótimo; no Brasil, Rússia e Turquia, é sinal obsceno; no Japão, significa dinheiro,
moeda; na Turquia, homossexualidade.
Mas não deixe de conhecer esse livro que poderá ajudá-lo tanto na vida pessoal
quanto na vida profissional.
Língua
Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódia
E um profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E quem há de negar que esta lhe é superior
37
E deixa os portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira
Fala!
Incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Se você tem uma idéia incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o recôncavo, e o recôncavo, e o recôncavo
38
Meu medo!
A língua é minha Pátria
E eu não tenho Pátria: tenho mátria
Eu quero frátria
Viaje no site:
http://www.mpbnet.com.br/musicos/caetano.veloso/
39
Para Saussure (1977), a língua é um sistema de signos, um conjunto de
potencialidades e de virtualidades dos atos da fala. A fala, ou discurso,constitui ato de
vontade e inteligência, no qual se distinguem as combinações pelas quais o falante
realiza o código da língua com o objetivo de exprimir seu pensamento pessoal.
Para o autor, “a língua fica sendo, como unidade, uma estrutura ideal, que
apresenta em si os traços básicos comuns a todas as suas variedades. É a invariante
abstrata e virtual, sobreposta a um mosaico de variantes concretas atuais”.
Saussure dedicou sua vida ao estudo e o ensino do sânscrito (antiga língua sagrada e
literária da Índia, pertencente ao grupo Indo-Europeu), gramática comparada e, nos
últimos anos de sua vida, lingüística geral.
Teve importante papel nos estudos de lingüística geral e da história dessa ciência.
Instaurou no Brasil o estruturalismo, doutrina que marcou as ciências humanas a partir da
década de 1960 e que se propunha a compreender uma totalidade (no caso, a língua)
como estrutura definida pela relação funcional entre seus elementos constituintes.
40
Publicou o primeiro compêndio de lingüística da língua portuguesa nos anos 1940.
Em uma época em que o português de Portugal orientava os estudos lingüísticos, ele
sistematizou a língua falada no Brasil.
Após a leitura atenta e a interpretação dos textos anteriores, você deve refletir e
escrever. Escrever é uma maneira de se posicionar no mundo, de assumir um compromisso
consigo mesmo acerca do que pensa, do que sente, do que acredita, do que faz.
Isso só foi possível por meio da leitura, dos diversos textos, das múltiplas
linguagens (verbais e não verbais), que se entrecruzaram em seu pensar e lhe
permitiram ressignificar seu conhecimento e agregar fios ao seu tecido cultural.
Próxima aula
No próximo encontro, que tal mergulharmos um pouco mais na nossa cultura
para percebermos as diferentes formas de nos comunicarmos?
Até a próxima.
41
Aula 04 - Variações Lingüísticas - 1a. parte
Na aula de hoje e na próxima, você deverá perceber que uma língua (idioma) se
constitui de um sistema de representação de sinais ou signos de um povo e sua
cultura. É uma convenção social, portanto, arbitrário.
Uma língua não funciona apenas como meio de comunicação, mas também
como elemento básico de coesão social, pois se constitui no elo comum de milhões
de indivíduos, dando-lhes consciência de que pertencem a uma comunidade.
Isso não significa, no entanto, que todos os falantes de uma língua utilizem-na de
maneira rigorosamente uniforme. Existe um grande número de fatores (como a
idade, o grupo social, o sexo, o grau de escolaridade etc.) que interferem na maneira
individual de que o falante tem de expressar-se.
Variação histórica
1o. Texto (original, 1536)
Resumidamente podemos considerar a existência de três tipos gerais de variações:
“A lingoagem e figura do entendimento (...) os bos falão virtudes e os maliciosos
maldades (...) sabe falar os q etede as cousas: porq das cousas naçe as palauras e não
das palauras as cousas.”
Fernão de Oliveira
42
2o. Texto (atualizado)
A linguagem é figura do entendimento (...) os bons falam virtudes e os maliciosos,
maldades (...) sabem falar os que entendem as coisas: porque das coisas nascem as
palavras e não das palavras as coisas.
Como se pode notar, ocorreram várias modificações. Essas variações se devem ao fato
de que as línguas se alteram com o passar do tempo. As alterações ocorrem tanto na grafia
quanto no sentido de muitas palavras. Além disso, surgem palavras novas (neologismos),
enquanto outras vão deixando de ser usadas (arcaísmos), até desaparecerem.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1971, p.3
43
Você observou que a crônica Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade
foi elaborada com uma linguagem também de antigamente, isto é, o autor utilizou,
em tom humorístico, palavras que já não são mais empregadas correntemente hoje.
a) fazer pé-de-alferes
b) arrastar a asa
c) ficar debaixo do balaio
d) levar tábua
e) tirar o cavalo da chuva
f) pregar em outra freguesia
g) embarcar em canoa furada
h) passar manta e azular
i) dar às de vila-diogo
j) fazer o quilo
k) meter-se em camisa de onze varas
Variação geográfica
1o. Texto
“- Te deita no divã, tchê – disse o analista de Bagé.
- Pra quê? – quis saber o paciente, desconfiado.
- Oigalê bicho bem xucro – disse o analista com uma risada agradável, enquanto
torcia o braço do outro e obrigava-o a se deitar.”
(Luís Fernando Veríssimo. O analista de Bagé. Porto Alegre: L&PM, 1982)
44
2o. Texto
“- Fale sobre sua vida aqui.
- Eu vivi questão de 34 anos prá trás mesmo, indês que eu nasci. Eu interei im
vida, indês que eu nasci, vivo bem graças a Deus, pessoas boa. Falá aqui, dinheiro não
é nada, mais a gente usa é dinheiro, né? Nunca sobro.”
(Mariza T. Costa Vilefort. Aspectos sintáticos do dialeto caipira da região de
Morrinhos. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 1985)
Dependendo de onde o falante vive durante um certo tempo, ele tem uma
pronúncia característica. A essa maneira particular que os falantes de uma região têm
de pronunciar as palavras e as frases dá-se, comumente, o nome de sotaque:
sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc.
Essas variações lingüísticas ocorrem num plano horizontal da língua, isto é entre
as comunidades lingüísticas, sendo responsáveis pelos chamados regionalismos,
provenientes de dialetos ou falares locais.
Suas manifestações são contidas na comunidade por uma língua padrão que,
sendo geralmente compreendida e aceita, nivela as diferenças regionais.
45
Noturno de Belo Horizonte
[...]
Que importa que uns falem mole descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?
Que tem si os quinhentos réis meridional
Vira cinco tostões do Rio pro norte?
Juntos formamos este assombro de misérias e grandezas,
Brasil, nome de vegetal!...
Mário de Andrade
Chico Mineiro
Fizemu a úrtima viagi
Foi lá pru sertão de Goiás
Fui eu I U Chicu Mineru
Tamém foi u capatais
Viagemu u di ‘interu
pra chega im Oru Finu
46
Aondi nóis passemu a noiti
numa festa du Divinu
A festa tava tão boa
Mais antis num tivesse idu
o Chicu foi baliadu
Variação sociocultural
Vício na fala
Você deve ter observado que o poema coloca em contraste palavras usadas por
falantes de diferentes graus de cultura ou níveis socioculturais. A comparação entre as
palavras permite-nos concluir, portanto, que as variações lingüísticas também podem
ser determinadas por fatores ligados diretamente ao falante ou à situação
(contexto), ou a ambos simultaneamente. As variações socioculturais ocorrem
num plano vertical, isto é, dentro da linguagem de uma comunidade específica
(urbana ou rural). São variações denominadas de dialetos sociais.
47
Saiba mais - José Oswald de Souza
José Oswald de Souza nasceu em São Paulo, a 11 de janeiro de 1890. Em 1912, viaja
para Europa, ocasião em que conhece o Futurismo. Em 1917, forma-se pela
Faculdade de Direito de São Paulo, trava amizade com Mário de Andrade e Di
Cavalcanti, e com eles faz planos de renovação literária. Instalada a Semana de Arte
Moderna, em 1922, torna-se o principal dinamizador do movimento, e até o fim
mantém a flama de revoltado e irreverente.
O pitoresco na Justiça
Num de seus depoimentos na Justiça, Zé da Ilha, “o saudoso”, prestou as
seguintes declarações:
“- Seu doutor, o patuá é o seguinte: depois de um gelo da coitadinha, resolvi
esquiar e caçar uma outra cabrocha que preparasse a marmita e amarrotasse o meu
linho no sabão. Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira e troquei por
centavos um embrulhador.
48
Entrei no china pau e pedi um boi à Moçoró com confete de casamento e uma
barriguda bem morta. Pedi ao caixa pra botar na pindura e ia me pira quando o sueco
apareceu pra me esculachar. Eu sou preto mas não sou gato Félix, me queimei e
puxei a soligem. Fiz uma avenida na epiderme do moço. Ele virou logo América.
Aproveitei a confusa pra me pira, mas um dedo-duro me apontou aos xipófagos e,
por isso, estou aqui.”
Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1959.
Próxima aula
Na próxima aula, vamos explorar as variações lingüísticas ligadas ao falante e à
situação ou contexto em que se comunica.
49
Aula 05 - Variações Lingüísticas - 2a. parte
Para ilustrar e resgatar o que vimos na aula passada sobre os fatores que
provocam variações lingüísticas, click no ícone indicado e observe o esquema
elaborado pelo professor Dino Preti, em sua obra Sociolingüística: os níveis da fala.
Você percebeu, ao analisar o quadro acima, que variações devidas ao falante são:
a) idade
As variações devidas às faixas etárias se limitam muito mais ao vocabulário e
nem sempre são fáceis de surpreender. Modernamente, fala-se muito de uma
“linguagem jovem”, entendendo-se como tal um vocabulário gírico, mais empregado
pelos indivíduos dessa faixa etária.
b) sexo
De acordo com a comunidade, a oposição linguagem do homem / linguagem
da mulher pode determinar diferenças sensíveis, em especial no campo do
vocabulário, devido a certos tabus morais (que geram tabus lingüísticos). Essa
oposição, no entanto, vem perdendo, gradativamente, sua significação, em especial
nas grandes cidades, onde os meios de comunicação de massa e a transformação dos
costumes e padrões morais (atividades exercidas pela mulher fora do lar, novas
profissões, condições culturais como, por exemplo, os movimentos feministas etc.)
têm exercido um papel nivelador importante.
50
c) raça (ou cultura)
São as variações ligadas a fatores etnológicos. São sensíveis essas influências nos
falantes que residem em zonas de maior imigração negra.
d) profissão
A profissão atua decididamente no campo dos registros técnicos ou profissionais
em que os falantes utilizam um vocabulário condizente com a sua atividade. São
exemplos o vocabulário dos vendedores ambulantes, dos médicos, dos advogados,
dos militares, dos políticos etc.
e) posição social
O status do falante também exige dele um cuidado especial com a linguagem,
freqüentemente com a finalidade de ser distinguido dentro do grupo em que atua.
Podemos dizer, feitas as devidas ressalvas, que cada posição social tem a sua
linguagem. Um político, um chefe de Estado, um dirigente industrial, um executivo,
assim como um bancário ou um operário não têm, via de regra, o mesmo nível de
linguagem, embora possam conviver diariamente na comunidade em que atuam.
f) grau de escolaridade
Compare estas duas maneiras de articular o pensamento utilizadas por falantes
em situações diferentes:
1. Se você ver o professor, diz pra ele que eu quero falar com ele.
2. Se você vir o professor, diga-lhe que quero falar-lhe.
51
Compreendem as influências determinadas pelas condições não-verbais que
cercam o ato da fala. Assim, a presença física do ambiente em que o diálogo ocorre
pode ocasionar um nível de linguagem técnica, formal, fora dos hábitos normais dos
falantes. Da mesma maneira o tema da conversa poderá explicar o emprego de
vocabulário e estruturas cultas ou vulgares, por exemplo.
Massa!
Pô Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num pedaço aqui
na Sampa, quem sabe tu te anima e acha aí um point pra bota o nome de Magdalena
Tagliaferro, Cláudio Santoro, Jaques Klein, Edoardo de Guarnieri, Guiomar Novaes, João
de Souza Lima, Armando Belardi e Radamés Gnattali. Esses caras não foi cruner de
banda a la “Trogloditas do Sucesso”, mas se a tua moçada não manjar que ele foi dá
um “look” aí na Enciclopédia Britância ou no “Groves International” e tu vai saca que o
astral do século 20 musical deve muitoa eles.
a) Que grupo social pode ser identificado por este estilo? Transcreva as marcas
lingüísticas (palavras ou expressões) presentes no texto, que revelam características
desse grupo.
b) O texto contém uma crítica implícita. Qual é, e a quem é dirigida?
52
2a. Atividade em aula
As variações geográficas conduzem a uma oposição fundamental: linguagem
urbana / linguagem rural. A primeira cada vez mais próxima da linguagem padrão
da comunidade, pela ação decisiva que recebe dos fatores culturais (escola, meios de
comunicação de massa, literatura). A segunda mais conservadora e isolada,
extinguindo-se gradualmente com a chegada da civilização.
Mário de Andrade
53
Aula 06 - O texto e suas modalidades
Na aula de hoje, você deverá diferenciar um texto dissertativo, de um narrativo
e de um descritivo; conhecer suas características e utilizá-los adequadamente.
Saber construir textos é uma maneira de ser autor tanto da história individual
quanto da coletiva.
1o. Texto
“Todas as noites, depois do jantar, a molecada do bairro se amontoava no
portão da minha casa: era a hora negra das histórias dos lobisomens, bruxas, almas-
penadas, tinha uma procissão de caveiras que passava à meia-noite, cantando, ô
Deus! Como eu tremia...”
(Lygia Fagundes Telles)
54
Na narração, é comum predominarem verbos, pois se caracteriza pela ação e pela
progressão temporal, por isso é compreendida como um texto dinâmico.
2o. Texto
O narrador é um artesão da palavra. Confiante em si, simples e sóbrio nos
gestos, equilibrado na expressão corporal, ele deve conduzir a história com
criatividade. Seus gestos devem ser mágicos, leves e calmos. O tom da voz deve ser
definido, modulado, de acordo com o que conta. A correção da linguagem e a boa
dicção são características importantes para o contador. Ao contar, deve evitar
repetições ou tiques. Mobilizado pela emoção, sua tarefa é entrar em sintonia com o
auditório para poder seduzi-lo.
(Lygia Fagundes Telles)
Permite fazer com que o leitor consiga imaginar, por exemplo, como é uma pessoa
sem que veja seu retrato, entendendo também seu modo de agir e pensar. O texto
descritivo é construído predominantemente por adjetivos que exprimem cor,
forma, volume, características, qualidades etc.
É uma modalidade textual considerada estática, uma vez que não é caracterizada pela
ação ou progressão temporal.
3o. Texto
Contar histórias é arte milenar, é necessidade humana. Nasce da tentativa de explicar
tudo o que o homem desconhece. Desde os primórdios, as histórias eram contadas à noite
e ao redor do fogo. Há muitos tipos de narrativas para se contar: mitos, fábulas, contos,
lendas. Entretanto, o mais importante é deixar que os ouvintes se encantem. Finalmente,
narrar é uma forma de criar diálogo com o outro e consigo mesmo.
55
Saiba mais - Dissertação
Dissertar é interpretar, explicar, expor, defender idéias por meio de
argumentos capazes de comprová-las ou justificá-las. Examinar um assunto, formar
um ponto de vista crítico sobre ele, organizar o raciocínio para expressar-se são
habilidades desenvolvidas na construção do texto dissertativo.
1o Texto
“Quando chegaram em São Paulo, ensacou um pouco do tesouro para comerem e
barganhando o resto na bolsa apurou perto de oitenta contos de réis. Maanape era
feiticeiro. Oitenta contos não valia muito mas o herói refletiu bem e falou pros manos:
- Paciência. A gente se arruma com isso mesmo, quem quer cavalo sem tacha
anda de a-pé...
Com esses cobres é que Macunaíma viveu.”
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. 15ª ed. São Paulo, Martins, 1968. p. 50.
2o Texto
“Que aconteceria, entretanto, se se conseguisse dar de repente a todos esses
párias uma moradia condigna, uma vida segundo padrões civilizados, à altura do que se
ostenta nas grandes avenidas do centro, com seu trânsito intenso, suas lojas de
Primeiro Mundo e seus yuppies esbaforidos na tarefa de ganhar dinheiro?
56
Aí está outro aspecto da tragédia. Explica-se: São Paulo é o maior foco de
migrações internas, sobretudo do Nordeste; no dia em que as chagas da miséria
desaparecessem e a dignidade da existência humana fosse restaurada em sua
plenitude, seriam atraídas novas ondas migratórias, com maior força imantadora.
Assim, surgiriam logo, num círculo vicioso, outros focos de miséria.”
CASTRO, Moacir Werneck de. Alarma em São Paulo. Jornal do Brasil, 9 mar. 1991.
Saiba mais
Yuppies: plural de yuppie, palavra de origem americana formada pelas iniciais de
young urban professional e o final da palavra hippie. A expressão surgiu nos anos
80 para caracterizar jovens profissionais de sucesso, com um estilo de vida
descompromissado e burguês, os quais, na maioria, participaram do movimento hippie.
3o Texto
“O subúrbio de S. Geraldo, no ano de 1924, já misturava ao cheiro de estrebaria
algum progresso. Quanto mais fábricas se abriam nos arredores, mais o subúrbio se
erguia em vida própria sem que os habitantes pudessem dizer que a transformação os
atingia. Os movimentos já se haviam congestionado e não se poderia atravessar uma
rua sem desviar-se de uma carroça que os cavalos vagarosos puxavam, enquanto um
automóvel impaciente buzinava lançando fumaça.
2a Atividade em aula
Sobre o tema POLUIÇÃO escreva:
57
Dicas sobre revisão gramatical
Emprego especial do verbo “Haver”
58
Saiba mais - Bibliografia de apoio
1. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional.
2. CUNHA, Celso Ferreira. Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Fename.
3. LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo.
4. MEDEIROS, João Bosco. Português instrumental. São Paulo: Atlas.
3a Atividade em aula
Com base nos conceitos estudados na página 58, corrija as frases incorretas:
Próxima aula
Na próxima aula, estudaremos com mais profundidade o conceito de narração,
o ato de contar histórias. Veremos, também, o emprego de outro importante verbo
impessoal.
59
Aula 07 - Narração - O ato de contar
histórias
Na aula de hoje, você aprenderá o que é narrar, os elementos e recursos que
envolvem essa modalidade textual. Assim, será capaz tanto de reconhecer quanto de
produzir um texto narrativo.
Você já ouviu falar da lendária Sherazade, que, ao longo de mais de mil noites,
conseguiu impedir que o xeique Shariar mandasse matá-la, como era seu cruel
costume noturno?
Sabe-se que é bastante antigo o fascínio que as narrativas exercem sobre as pessoas.
Ao receber como mulher Sherazade, o monarca sucumbiu ao encanto por mil e uma
noites – o que a poupou da morte.
Essa história está em As Mil e Uma Noites, uma coleção de contos árabes
compilados, provavelmente, entre os séculos XIII e XVI. São histórias em cadeia, em
que cada conto termina com um suspense que força o ouvinte curioso a retomá-la.
60
A arte de contar histórias remonta às origens da sociedade, pois foi uma das
primeiras manifestações culturais do homem, sendo, portanto, responsável pela
preservação das tradições de um povo.
Após saberem que a cidade onde vivem será inundada para a construção de uma
usina hidrelétrica, os moradores decidem preparar um documento que conte todos
os fatos históricos do local, como tentativa desesperada de salvar a cidade da
destruição.
Dirigido por Eliane Caffé (Kenoma) e com José Dumont, Matheus Nachtergaele,
Nélson Dantas, Gero Camilo e Nélson Xavier no elenco.
Narrar é contar uma história, que pode ser real ou imaginária. A narrativa é uma
forma de composição na qual se representam fatos, reais (livros científicos, livros de
História, notícia de jornal) ou fictícios (artísticos) por meio de signos verbais e não
verbais.
Mito - narrativa cujo tema é a origem do mundo, dos homens etc. e cujas
personagens são deuses ou seres sobrenaturais, que realizam ações exemplares.
61
Lenda - narrativa cujas personagens são seres humanos. Liga-se ao histórico e
ao povo que a cria para explicar fatos e fenômenos desconhecidos, formação de
cidades (Atlântida, Eldorado), origem dos povos, fenômenos da natureza, heróis
nacionais e outros.
Romance – narrativa mais longa que o conto e, na maioria das vezes, conta um
só drama. Tem maior número de personagens, o espaço onde se passa o drama é
detalhadamente descrito.
Saiba mais
Visite http://sitededicas.uol.com.br/ctrad.htm e pesquise sobre mito, lenda, fábula.
Leia mais:
Mitologia Chinesa. São Paulo, Princípio, s.d.; Fábulas Italianas. São Paulo, Cia das
Letras, 1999.; Abelardo e Heloisa. São Paulo, Martins Fontes, 1988; Romance da
Távola Redonda. São Paulo, Martins Fontes, 1998.
1a Atividade em aula
Compare (estabeleça semelhanças e diferenças entre) os textos narrativos e
anote suas observações:
Lixo
Luís Fernando Veríssimo
62
— A senhora é do 610.
— E o senhor do 612.
— É.
— Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
— Pois é...
— Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
— O meu quê?
— O seu lixo.
— Ah...
— Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
— Na verdade sou só eu.
— Mmmm. Notei também que o senhor usa muita comida em lata.
— É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
— Entendo.
— A senhora também...
— Me chame de você.
— Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de
comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
— É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro
sozinha, às vezes sobra...
— A senhora... Você não tem família?
— Tenho, mas não aqui.
— No Espírito Santo.
— Como é que você sabe?
— Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
— É. Mamãe escreve todas as semanas.
— Ela é professora?
— Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
— Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
— O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
— Pois é...
— No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
— É.
— Más notícias?
— Meu pai. Morreu.
— Sinto muito.
— Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
— Foi por isso que você recomeçou a fumar?
— Como é que você sabe?
— De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro
amassadas no seu lixo.
63
— É verdade. Mas consegui parar outra vez.
— Eu, graças a Deus, nunca fumei.
— Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
— Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
— Você brigou com o namorado, certo?
— Isso você também descobriu no lixo?
— Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito
lenço de papel.
— E, chorei bastante. Mas já passou.
— Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
— É que eu estou com um pouco de coriza.
— Ah.
— Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
— É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
— Namorada?
— Não.
— Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
— Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
— Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela
volte.
— Você já está analisando o meu lixo!
— Não posso negar que o seu lixo me interessou.
— Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la.
Acho que foi a poesia.
— Não! Você viu meus poemas?
— Vi e gostei muito.
— Mas são muito ruins!
— Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
— Se eu soubesse que você ia ler...
— Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei:
o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
— Acho que não. Lixo é domínio público.
— Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra
da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a
nossa parte mais social. Será isso?
— Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
— Ontem, no seu lixo..
— O quê?
— Me enganei, ou eram cascas de camarão?
— Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
— Eu adoro camarão.
64
— Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
— Jantar juntos?
— É.
— Não quero dar trabalho.
— Trabalho nenhum.
— Vai sujar a sua cozinha.
— Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
— No seu lixo ou no meu?
65
5. Foco narrativo ou ponto de vista - o autor cria um narrador, que pode
assumir duas posições:
a- narrador observador - narrador de terceira pessoa - relata os
acontecimentos como observador.
b- narrador personagem - narrador de primeira pessoa - um personagem
participante da história narra os fatos.
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
66
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
—Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.
67
2a Atividade em aula
Vamos fazer alguns exercícios? Transforme discursos diretos em discursos
indiretos:
Respostas
1. O motorista perguntou onde ficava a cidade mais próxima.
2. O guarda respondeu que havia uma cidade a dois quilômetros dali.
3. O rapaz disse que tinha pressa.
4. O jovem declarou que tinha presenciado / presenciara toda a cena.
5. O senhor ordenou ao vassalo que se calasse.
68
A narração também pode mesclar os níveis de linguagem.Normalmente,
utiliza-se o nível formal nas frases do narrador e o coloquial na fala de algumas
personagens. A voz da personagem deve ser representativa. Se a personagem é um
sertanejo, as características de seu linguajar devem estar presentes, se for um
adolescente, deverá aparecer gíria e assim por diante.
3a Atividade em aula
Corrente narrativa: jogo virtual
Convide as pessoas de seu mailing list para escreverem uma história junto com
você. Para facilitar as coisas, escreva você mesmo o trecho inicial e passe para o
próximo participante.
Mas, quando o jogo rodar e texto retornar a você, imponha-se, então, este
outro desafio: o de tentar reconduzir a história ao seu projeto original. Lembre-se:
quem escreve deve se exercitar constantemente (de preferência, todos os dias).
Por isso, a grande lição que você deve incorporar desta descontraída técnica
coletiva é a humildade de submeter seu texto a pessoas que você considere capazes
de lhe dar boas sugestões e uma ajuda efetiva.
69
Síntese da aula de hoje
Na aula de hoje, aprendemos a importância da narração para o homem de
qualquer lugar e tempo e constatamos como essa modalidade textual está presente
nos diferentes textos que nos são apresentados na vida corrente, tanto literários
(poemas, contos, crônicas etc.) quanto não-literários (jornalísticos, científicos etc.).
Próxima aula
Na próxima aula, continuaremos a aprender sobre narração, enfocando o verbo.
70
Aula 08 - Narração - O ato de contar
histórias
Na aula de hoje, você aprenderá outros recursos, principalmente relacionados
ao verbo, que lhe permitirão ler e escrever textos narrativos com mais competência.
Aprendemos que somos por natureza narrativos, pois precisamos, mesmo na Era da
Informação, contar nossas histórias, explicar para nós mesmos quem somos, o que fazemos,
como uma forma de nos salvar do esquecimento e de preservarmos nossa identidade.
Pare um pouco, agora, e pense na sua trajetória de vida. Conte uma passagem
significativa. Escreva seu texto com começo, meio e fim.
Saiba mais
Para quem quer refletir um pouco sobre essa idéia, vale ler Walter Benjamim, obra
Magia, técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
1a Atividade em aula
Retome seu texto e grife os verbos que precisou usar para contar essa passagem
da existência.
71
No princípio era o Verbo. O verbo ser. Conjugava-se apenas no infinito. Ser, e nada
mais. Intransitivo absoluto. Isto foi no princípio. Depois, transigiu e muito. Em vários
modos, tempos e pessoas.
Ah, nem queiras saber o que as são as pessoas: eu, tu, ele,nós,
vós,eles...Principalmente eles!
E, ante essa dispersão lamentável, essa verdadeira explosão do SER em seres,até hoje
os anjos ingenuamente se interrogam por que motivo as referidas pessoas chamam a
isso CRIAÇÃO...
(Mário Quintana)
Os modos verbais
Indicativo:expressa certeza ou apresenta um fato como real.
Exemplos:
Faz dias frios em São Paulo.
Faz 10 dias que não te vejo.
Observação: Note que o verbo fazer quando indica tempo decorrido, passado
ou fenômeno da natureza é sempre impessoal por não apresentar sujeito. Deve
permanecer na 3ª pessoa do singular. Em locuções verbais, o auxiliar também fica
da 3ª pessoa do singular, tornando-se impessoal.
72
Presente do indicativo Presente do subjuntivo
Eu venho Que eu venha
Tu vens Que tu venhas
Ele vem Que ele venha
Nós vimos Que nós venhamos
Vós vindes Que vós venhais
Eles vêm Que eles venham
Os tempos verbais
Ouça uma narração de um jogo de futebol (na aula on-line).
A narração que você ouviu foi feita em um tempo verbal conhecido como
presente histórico, em que se utiliza o tempo presente para narrar um
acontecimento histórico já passado, com o intuito de conferir mais emoção, mais
dramaticidade, mais atualidade ao narrado.
73
Obs.: Evitar o uso do gerundismo (eu vou estar transferindo sua ligação) para
ações que se realizarão no futuro.
• imperfeito:
Ex.:Amanhecia quando a escola de samba entrou na avenida. – indica processo
em desenvolvimento quando da ocorrência de outro fato.
Ex.:Se eu fosse você, voltava (no lugar de voltaria) para mim.- mostra
linguagem coloquial ou literária
Pretérito Imperfeito – indica condição. Ex.: Se vendesse a casa, teria mais dinheiro.
Não confunda vende-se (Vende-se casa) com vendesse (pretérito imperfeito
do subjuntivo).
Futuro – revela fatos possíveis. Ex.: Quando for a São Paulo, visitará a exposição.
74
Saiba mais - Divirta-se
O Verbo For
João Ubaldo Ribeiro
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se
recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto)
e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude
de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma
multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro
Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário,
dicionário), o mestre não perdoava.
Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a
platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.
— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir
tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de
alimária. Senhor meu Pai!
75
Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a
enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores
de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu
falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.
O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do
candidato e vinha vê-lo “dar um show”. Eu dei show de português e inglês. O de
português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e
tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de
Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de
português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje
considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças
pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de
nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era
bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque
alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial
ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não
perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no
texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do
verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio,
dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
— Verbo for.
— Verbo o quê?
— Verbo for.
76
— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e
hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe
econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu
tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente
diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza,
não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
——
Esta crônica foi publicada no jornal “O Globo” (e em outros jornais) na edição de
domingo, 13 de setembro de 1998 e integra o livro “O Conselheiro Come”, Ed.
Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 2000, pág. 20.
O número do verbo
O verbo apresenta terminações ou desinências que indicam número singular e plural.
É preciso fazer sempre a concordância. (Abordaremos esse assunto mais adiante)
As pessoas do verbo
A flexão de pessoa indica as pessoas do discurso. São elas:
77
As vozes do verbo
a) Voz ativa: o sujeito pratica ação verbal.
Ex.: Nós falamos de futebol.
Atente para a grafia do verbo querer: quis, quiseste, quiserem, quiseram, quiséssemos.
Exemplos:
Havia imprimido o documento. O documento foi impresso.
Ela havia chegado cedo. ( não existe havia chego)
Não confunda:
• estudaram (pretérito perfeito do indicativo) com estudarão (futuro presente)-
Ontem, eles estudaram. Amanhã, nós estudaremos. Amanhã, eles estudarão.
• perca (verbo) com perda (substantivo) –Espero que você não perca minha
aula. Bateu o carro e deu perda total.
• põe, impõe( singular) com põem, impõem(plural). Ele põe o documento
sobre a mesa e elas impõem respeito.
• vêm (vir) com vêem(ver), exemplo: Eles vêm cedo. Eles vêem uma saída.
• tem e têm - Ele tem – eles têm
• vem e vêm - Ele vem – eles vêm –(os derivados do verbo ter: ele mantém -
eles mantêm)
78
Saiba mais - Visite os sites:
- http://www.gramaticaonline.com.br
- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx
2a Atividade em aula
Teste seus conhecimentos
1. Se você não ..........(manter-se) bem atualizado, correrá o risco de não
encontrar um lugar no mercado de trabalho.
2. Se ele não.....(fazer) o trabalho, não terá promoção.
3. Eu.. (capto) tudo aquilo pelo que...(optar)
4. Parece inadmissível que os políticos....(agir) com ética neste país.
5. ........(Correr). Você não tem mais nada a fazer aqui.
6. Quando ele ......(ver) o lugar, saberá do que estou falando.
7. Quando ele......(vir), visitarei você.
8. Aí eu não ....(caber)
9. Espero que tudo isso ...(valer) a pena.
10. Não ..(cuspir) no chão, pois é feio.
11. Espero que ele ...(estar) bem e...(ser) feliz.
12. Agora ele ...(poder) fazer, mas até então nunca....(pode)
13. O Estado não .....(intervir –pret.perf.) na economia.
Respostas
1. Se você não se mantiver(manter-se) bem atualizado, correrá o risco de não
encontrar um lugar no mercado de trabalho.
2. Se ele não fizer (fazer) o trabalho, não terá promoção.
3- Eu capto (capto) tudo aquilo pelo que opto(optar)
4- Parece inadmissível que os políticos ajam(agir) com ética neste país.
5- Corra(Correr). Você não tem mais nada a fazer aqui.
6- Quando ele vir(ver) o lugar, saberá do que estou falando.
7- Quando ele vier(vir), visitarei você.
8- Aí eu não caibo(caber)
9- Espero que tudo isso valha(valer) a pena.
10- Não cuspa(cuspir) no chão, pois é feio.
11- Espero que ele esteja(estar) bem e seja(ser) feliz.
12- Agora ele pode(poder) fazer, mas até então nunca pôde(pode).
13- O Estado não interveio(intervir –pret.perf.) na economia.
79
Síntese da aula de hoje
Na aula de hoje, aprendemos vários conceitos e dicas relacionados ao verbo e
que lhes auxiliarão para uma leitura e escrita mais competente de textos narrativos.
Próxima aula
Como enunciamos na aula 7, a narração não ocorre como modalidade pura no
texto, ela vem, em geral, acompanhada pela descrição. Este será nosso assunto da
próxima aula. Para se preparar para essa nova viagem, nesta semana passe a observar
as pessoas com quem convive, os lugares por onde passa, o lugar em que trabalha, a
casa em que mora.
Até mais!
80
Aula 09 - O ato de descrever
Na aula de hoje, você aprenderá o que é descrever e conhecerá elementos e
recursos que envolvem essa modalidade textual. Assim, será capaz tanto de
reconhecer quanto de produzir texto descritivo.
Para que descrevemos? Quais os textos descritivos que fazem parte de nossa vida?
Saiba mais
Dica: Assista ao programa na hora do intervalo, no canal Multishow. São
apresentadas propagandas excelentes.
Descrevemos, em geral, para dar mais veracidade ao que queremos, para registrar
com clareza aspectos marcantes de alguém, de algum lugar, de algum objeto. Há muitos
textos descritivos que fazem parte de nossa vida cotidiana: bulas de remédio, manuais de
computador, de vídeo, de aparelhos em geral, relatórios, resenhas, currículos, mapas,
plantas de edifícios, retratos, naturezas-mortas,entre outros.
81
1a Atividade em aula
Teste seus conhecimentos
Ouça a música “Lua de São Jorge” de Caetano Veloso, verifique a presença da
descrição, identifique as características atribuídas à lua. Escreva-as.
Por volta de 1806, trabalha como pintor na corte de Napoleão (1769-1821). Após a
queda do imperador e com a morte de seu único filho, Debret decide integrar a
Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816. Instala-se no Rio de Janeiro.
Deixa o país em 1831 e retorna a Paris com o discípulo Porto Alegre. Visite o site
itaucultural.org.br
82
Saiba mais - Machado de Assis
Machado de Assis foi jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo,
nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1839, e faleceu em 1908.
Filho de operário, perdeu a mãe muito cedo, foi criado no morro do Livramento.
Sem condições financeiras, estudou como pôde e, em 1855, com 16 anos
incompletos, publicou o primeiro trabalho literário, o poema “Ela”, na Marmota
Fluminense, jornal de Francisco de Paula Brito, número datado de 12 de janeiro de
1855. No ano seguinte, entrou para a Imprensa Nacional, como aprendiz de
tipógrafo, e lá conheceu Manuel Antônio de Almeida, que se tornou seu protetor.
Machado de Assis se casou com Carolina Augusta Xavier de Novais. Foi companheira
perfeita durante 35 anos, tendo-lhe revelado os clássicos portugueses e vários
autores de língua inglesa.
A descrição pode despertar nossos órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato,
paladar, tato). Sinta o poema de Cecília Meireles.
83
Saiba mais
Visite o site: http://www.secrel.com.br/jpoesia/ceciliameireles1bio.html e descubra a
grande poetisa da literatura brasileira.
Quando a arte literária está em jogo, estamos diante do reino dos possíveis.
Pesquise um pouco sobre o 1964. Isso pode ajudá-lo a descobrir o que está por
trás dessa construção textual.
São pistas que podem ajudá-lo a descobrir o que está por trás dessa
construção textual.
84
Descrição subjetiva x Descrição objetiva
Há dois tipos de descrição:
objetiva - sem impressões do observador, tentando mais proximidade com o real.
Ex.: livro vermelho.
Saiba mais
Visite os sites:
- http://www.gramaticaonline.com.br
- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx
Uma pessoa muito amiga é amicíssima. Uma pessoa muito séria é...
Resposta: Seriíssima
85
Papel cor-de-rosa = Papéis cor-de-rosa ou papéis rosa
(expressão cor-de explícita ou implícita – invariável)
Exceção:
Blusa azul-marinho = Blusas azul-marinho.(invariável, assim como azul-celeste)
Rapaz surdo-mudo = Rapazes surdos-mudos (os dois adjetivos variam)
Analise as frases:
Ele é mais bom do que esperto.
Minha casa é mais grande do que bonita.
Observe:
Ele é melhor do que ela. (são duas pessoas comparadas)
Minha casa é maior do que a sua. (são duas casas comparadas)
Respostas
a. O alto funcionário quer participar da vida pública.(de posição elevada)
b. O funcionário alto quer participar da vida pública.(de estatura elevada)
c. Esse simples exercício serve para você entender que a posição do adjetivo
pode modificar seu significado.(mero)
d. Esse exercício simples nunca mais será esquecido.(fácil)
Saber usar o adjetivo pode nos ajudar a imprimir, ao texto, uma qualidade
importante: a concisão.
86
Complete as frases com o adjetivo adequado.
1. Um discurso que não tem fim é um discurso.....
2. Uma letra que não se pode ler é.....
3. Um texto que não se pode compreender é.....
4. Lembranças que não se podem apagar são....
Respostas
1.infindável
2.ilegível
3.ininteligível
4.indeléveis
Saiba mais
Visite os sites:
- http://www.gramaticaonline.com.br
- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica.aspx
Constatamos como essa modalidade textual está presente nos diferentes textos
que nos cercam, literários(poemas, romances, etc.), não-literários (manuais, bulas,
plantas de casa),visuais (quadros de naturezas-mortas, retratos etc.). Percebemos que
um texto será tanto mais rico e dinâmico quanto mais sua trama articular dois ou
mais dos processos de composição, por exemplo: a narração e a descrição.
87
Saiba mais - Você pode tentar uma definição de descrição?
Uma resposta possível: Descrição é o nome que se dá à enumeração ou
apresentação verbal das características essenciais ou contingentes dos seres e coisas –
sejam pessoas, objetos ou lugares.
Próxima aula
Na próxima aula, nosso discurso se volta para o texto dissertativo.
Até breve!
88
Aula 10 - O ato de dissertar
Na aula de hoje, você aprenderá o que é dissertar e conhecerá a estrutura do
texto dissertativo, terá dicas para redigir essa modalidade textual.
Assim, será capaz tanto de reconhecer quanto de produzir textos desse tipo.
Além disso, identificará alguns elementos que conferem coesão e coerência ao texto.
Você se lembra de alguma vez em que precisou convencer alguém sobre seu
ponto de vista? Registre sua experiência.
Dissertar é:
• Expor um assunto - nesse caso, a dissertação é expositiva.
• Defender um ponto de vista - nesse caso, a dissertação é argumentativa.
89
Se você é brasileiro, leia a dissertação subjetiva de Cristovão Buarque, ex-governador
do Distrito Federal, durante debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, em que
foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. Essa matéria foi
publicada no New York Times / Washington Post, Today e nos maiores jornais da Europa e
Japão. No Brasil, demorou a aparecer e não foi nos jornais.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.
Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser
queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave
quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores
globais. Não podemos deixar que as Reservas financeiras sirvam para queimar países
inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a
internacionalização de todos os grandes museus do mundo.
90
Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de
um grande mestre.
Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser
internacionalizada.
Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA tem defendido a
idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha
possibilidade de COMER e de ir a escola.
Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia
seja nossa. Só nossa!”
91
Para fazer uma boa dissertação, é necessário:
1. Conhecer o assunto, ter repertório. (ler, observar fatos, conversar com
pessoas etc.).
2. Refletir sobre o tema, analisar, interpretar.
3. Registrar o fluxo de idéias que aparecem na mente (fatos, informações,
opiniões).
4. Planejar, organizar o caos de idéias que aparecem na mente quando temos
que desenvolver um tema:
a. Propor uma tese ou um tópico frasal – uma frase que aponte a idéia central
que você pretende desenvolver, expor, provar.
b. Registrar idéias e argumentos importantes, não se esquecendo da lógica, do
princípio da não contradição e da continuidade.
5. Executar o plano de redação com clareza, coesão, coerência e correção,
mantendo sempre fidelidade ao tema.
1o. Texto
Tarsila do Amaral
Tarsila do Amaral (1886-1973) nasceu em uma fazenda no interior de São
Paulo. Iniciou-se nas artes em Barcelona, em 1902, onde copiava imagens religiosas.
Dois anos depois, já no Brasil, casou-se com André Teixeira Pinto e teve sua única
filha, Dulce.
Separada, mudou-se para São Paulo em 1913. Conheceu Anita Malfatti (1889-
1964), sua grande amiga. Em 1920, foi a Paris, onde teve o primeiro contato com a
arte moderna européia, com os trabalhos de Pablo Picasso (1881-1973) e a
produção de dadaístas e futuristas.
Nessa fase, a artista trabalhava com pinceladas mais ousadas. Em 1923, voltou a
Paris e retomou as aulas de artes agora não mais convencionais e acadêmicas. Para
conhecer mais telas da pintora visite o site www.tarsiladoamaral.com.br.
92
2o. Texto
Tempos Modernos de Charles Chaplin
3o. Texto
Operário em construção
(Vinícius de Moraes)
93
Notou que sua marmita E o operário ouviu a voz
Era o prato do patrão De todos os seus irmãos
Que sua cerveja preta Os seus irmãos que morreram
Era o uísque do patrão Por outros que viverão.
Que seu macacão de zuarte Uma esperança sincera
Era o terno do patrão Cresceu no seu coração
Que o casebre onde morava E dentro da tarde mansa
Era a mansão do patrão Agigantou-se a razão
Que seus dois pés andarilhos De um homem pobre e esquecido
Eram as rodas do patrão Razão porém que fizera
Que a dureza do seu dia Em operário construído
Era a noite do patrão O operário em construção.
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
[...]
94
Mas ele desconhecia Foi dentro da compreensão
Esse fato extraordinário: Desse instante solitário
Que o operário faz a coisa Que, tal sua construção
E a coisa faz o operário. Cresceu também o operário.
De forma que, certo dia Cresceu em alto e profundo
À mesa, ao cortar o pão Em largo e no coração
O operário foi tomado E como tudo que cresce
De uma súbita emoção Ele não cresceu em vão
Ao constatar assombrado Pois além do que sabia
Que tudo naquela mesa – Exercer a profissão –
– Garrafa, prato, facão – O operário adquiriu
Era ele quem os fazia Uma nova dimensão:
Ele, um humilde operário, A dimensão da poesia.
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela E um fato novo se viu
Banco, enxerga, caldeirão Que a todos admirava:
Vidro, parede, janela O que o operário dizia
Casa, cidade, nação! Outro operário escutava.
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia E foi assim que o operário
Ele, um humilde operário Do edifício em construção
Um operário que sabia Que sempre dizia sim
Exercer a profissão. Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
Ah, homens de pensamento A que não dava atenção:
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário Notou que sua marmita
Soube naquele momento! Era o prato do patrão
Naquela casa vazia Que sua cerveja preta
Que ele mesmo levantara Era o uísque do patrão
Um mundo novo nascia Que seu macacão de zuarte
De que sequer suspeitava. Era o terno do patrão
O operário emocionado Que o casebre onde morava
Olhou sua própria mão Era a mansão do patrão
Sua rude mão de operário Que seus dois pés andarilhos
De operário em construção Eram as rodas do patrão
E olhando bem para ela Que a dureza do seu dia
Teve um segundo a impressão Era a noite do patrão
De que não havia no mundo Que sua imensa fadiga
Coisa que fosse mais bela. Era amiga do patrão.
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E o operário disse: Não! Sentindo que a violência
E o operário fez-se forte Não dobraria o operário
Na sua resolução. Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
Como era de se esperar De sorte que o foi levando
As bocas da delação Ao alto da construção
Começaram a dizer coisas E num momento de tempo
Aos ouvidos do patrão. Mostrou-lhe toda a região
Mas o patrão não queria E apontando-a ao operário
Nenhuma preocupação Fez-lhe esta declaração:
– “Convençam-no” do contrário – – Dar-te-ei todo esse poder
Disse ele sobre o operário E a sua satisfação
E ao dizer isso sorria. Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dia seguinte, o operário Dou-te tempo de lazer
Ao sair da construção Dou-te tempo de mulher.
Viu-se súbito cercado Portanto, tudo o que vês
Dos homens da delação Será teu se me adorares
E sofreu, por destinado E, ainda mais, se abandonares
Sua primeira agressão. O que te faz dizer não.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado Disse, e fitou o operário
Mas quando foi perguntado Que olhava e que refletia
O operário disse: Não! Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
Em vão sofrera o operário O operário via as casas
Sua primeira agressão E dentro das estruturas
Muitas outras se seguiram Via coisas, objetos
Muitas outras seguirão. Produtos, manufaturas.
Porém, por imprescindível Via tudo o que fazia
Ao edifício em construção O lucro do seu patrão
Seu trabalho prosseguia E em cada coisa que via
E todo o seu sofrimento Misteriosamente havia
Misturava-se ao cimento A marca de sua mão.
Da construção que crescia. E o operário disse: Não!
96
– Loucura! – gritou o patrão Um silêncio de torturas
Não vês o que te dou eu? E gritos de maldição
– Mentira! – disse o operário Um silêncio de fraturas
Não podes dar-me o que é meu. A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
E um grande silêncio fez-se De todos os seus irmãos
Dentro do seu coração Os seus irmãos que morreram
Um silêncio de martírios Por outros que viverão.
Um silêncio de prisão. Uma esperança sincera
Um silêncio povoado Cresceu no seu coração
De pedidos de perdão E dentro da tarde mansa
Um silêncio apavorado Agigantou-se a razão
Com o medo em solidão. De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
Ao lado do compositor Antônio Carlos Jobim e o cantor João Gilberto, Vinícius teve
papel importante no movimento de renovação da música popular brasileira, a que se
deu o nome de Bossa Nova.
1o. Texto
Tarsila do Amaral - Operários
97
2o. Texto
Alugue e assista os dois filmes abaixo:
- Beleza Americana
- Um Mundo Perfeito
3o. Texto
José sua biblioteca,
E agora, José? sua lavra de ouro,
A festa acabou, seu terno de vidro,
a luz apagou, sua incoerência,
o povo sumiu, seu ódio – e agora?
a noite esfriou, Com a chave na mão
e agora, José? quer abrir a porta,
e agora, você? não existe porta;
você que é sem nome, quer morrer no mar,
que zomba dos outros, mas o mar secou;
você que faz versos, quer ir para Minas,
que ama, protesta? Minas não há mais.
e agora, José? José, e agora?
Está sem mulher, Se você gritasse,
está sem discurso, se você gemesse,
está sem carinho, se você tocasse
já não pode beber, a valsa vienense,
já não pode fumar, se você dormisse,
cuspir já não pode, se você cansasse,
a noite esfriou, se você morresse...
o dia não veio, Mas você não morre,
o bonde não veio, você é duro, José!
o riso não veio, Sozinho no escuro
não veio a utopia qual bicho-do-mato,
e tudo acabou sem teogonia,
e tudo fugiu sem parede nua
e tudo mofou, para se encostar,
e agora, José? sem cavalo preto
E agora, José? que fuja a galope,
Sua doce palavra, você marcha, José!
seu instante de febre, José, para onde?
sua gula e jejum, (Carlos Drummond de Andrade)
98
Pesquise sobre o tema, reflita, analise.
Registre o fluxo de suas idéias sem se preocupar com a ordem. Agora, organize-as.
1a Atividade em aula
Verifique se o texto que escreveu tem estas qualidades
- Clareza
- Concisão
- Objetividade
- Coerência
- Coesão
- Originalidade
- Correção gramatical
99
Saiba mais
Concisão: consiste em expressar o máximo de informação com o mínimo de palavras.
Originalidade: criatividade
Correção gramatical é o uso adequado da norma culta, sem desvios.
100
Divirta-se com alguns pleonasmos viciosos:
Elo de ligação (você já conheceu um elo de separação?)
Acabamento final (Há acabamento inicial?)
Juntamente com (se vou junto a você, vou com você, concorda?)
Encarar de frente (encarar vem de cara)
Multidão de pessoas ( se fossem peixes,seria cardume, certo?)
Amanhecer o dia (já viu amanhecer a noite?)
Criação nova (se fosse velha, não seria criação)
Retornar de novo (re já significa de novo)
Empréstimo temporário (tudo bem que os últimos, devido à crise, têm sido
definitivos)
Surpresa inesperada (se fosse esperada, não seria surpresa)
Em duas metades iguais (se não fossem iguais seriam metades?)
Há anos atrás (verbo haver já indica tempo decorrido)
Conviver junto(conviver é formado por com + viver)
Escolha opcional (toda escolha é opção)
Planejar antecipadamente (quem planejou depois faliu, certo?)
Possivelmente poderá ocorrer ( o que é possibilidade pode ocorrer)
repetir outra vez ( quem repete faz outra vez)
voltar atrás (já voltou para frente?)
Sorriso nos lábios (dá para sorrir em outro lugar?)
6. Só cite exemplos de domínio público.
7. Não abrevie palavras.
Divirta-se:
Em certa ocasião, uma família britânica foi passar as férias na Alemanha. No
decorrer de certo passeio, os membros da referida família repararam numa pequena
casa de campo e lhes pareceu boa para passarem as férias de verão. Conversaram
com o proprietário, um pastor protestante, e pediram que lhes mostrasse a casa. A
residência agradou muito aos visitantes ingleses, que combinaram ficar com ela para o
verão vindouro. Regressados a Inglaterra, discutiram muito sobre a planta da casa,
quando de repente, a senhora lembrou-se de não ter visto W. C. Confirmando o
senso prático dos ingleses, escreveram ao pastor para obter tal pormenor.
101
O pastor alemão, não compreendendo o sentido da abreviatura W. C. , e
julgando trata-se da Capela da seita inglesa White Chapel, assim respondeu:
- “Gentil senhora: - recebi sua carta e tenho o prazer de comunicar-lhe que o
local a que se refere fica a 12 quilômetros da casa. Isto é muito cômodo, sobretudo
se tem o hábito de ir lá freqüentemente. Nesse caso, é preferível levar comida para
ficar lá o dia todo. Alguns vão a pé, outros de bicicleta. Há lugar para quatrocentas
pessoas sentadas e cem em pé. O ar é condicionado para evitar inconvenientes
comuns nas aglomerações. Os assentos são de veludo ( recomenda-se chegar cedo
para arrumar lugar sentado). As crianças permanecem ao lado dos adultos e todos
cantam o coro.
À entrada é fornecida uma folha de papel a cada pessoa, mas se alguém chegar
depois da distribuição, pode usar a folha do vizinho. Tal folha deve ser substituída à
saída, para ser usada durante todo o mês. Tudo que se recolhe é para as crianças
pobres da região.
Fotógrafos especiais tiram flagrantes para os jornais da cidade de modo que
todos possam ver seus semelhantes no cumprimento de um dever tão humano...”
(Autor desconhecido)
Relação de tempo
Este - atual - Durante este mês, farei várias aulas.
Esse - próximo/ de preferência passado. Há dois meses, viajei para a Bahia.
Nesses dias, visitei lugares magníficos.
Aquele - tempo anterior mais afastado. A história versava sobre o começo do
século XX. Naqueles tempos, houve a Semana de Arte Moderna.
102
Relação aos termos da oração
Este- refere-se ao termo mais próximo
Aquele - refere-se ao termo mais afastado
De dois tipos de pessoas gosto muito: as crianças e os velhos. Estes, pela
sabedoria e aqueles, pela curiosidade.
2a Atividade em aula
Exercite:
Papai teve três filhos: João, Gerson e Luís. Este é medroso, esse é preguiçoso
e aquele é esforçado.
Pergunta-se:
Quem é medroso?
Quem é preguiçoso?
Quem é esforçado?
Resposta
Este(Luís) é medroso, esse (Gerson) é preguiçoso e aquele (João) é esforçado.
Saiba mais
Visite os sites:
- http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica/gramatica.aspx
- http://www.portugues.com.br
103
Síntese da aula de hoje
Na aula de hoje, aprendemos a importância da dissertação para nossa vida
pessoal e profissional. Compreendemos os tipos de dissertação, a estrutura e a
qualidade dessa modalidade textual, além de dicas para dissertar bem.
Próxima aula
Na próxima aula, continuaremos com o texto dissertativo do tipo
argumentativo. Prepare-se: o assunto será a sedução no discurso. Enquanto isso, vai
pensando que estratégias você costuma usar para seduzir uma pessoa.
Até breve!
104
Aula 11 - O ato de argumentar
Na aula de hoje, você aprenderá a importância de argumentar, saberá como
reconhecer e produzir texto dissertativo-argumentativo, identificará recursos para
seduzir no discurso.
Amor menino
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera!
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar
pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a
circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas.
Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino: porque não há amor
tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a
natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe
as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê que não via; e faz-lhes
crescer as asas com que voa e foge.
O mesmo amar é causa de não amar e ter amado muito, de amar a menos.
(Vieira, Pe. Antônio. Sermões. São Paulo, Ed. das Américas. v. 5, p. 197-70.)
105
Saiba mais - Padre Vieira
Padre Vieira nasceu em 1608 e morreu em 1697. Nasceu em Lisboa e, aos seis anos,
veio para o Brasil.
Foi escritor e pregador. A partir de 1638, pronunciou alguns dos mais notáveis sermões.
Eis algumas de suas principais obras: Sermão de Santo António aos peixes; Sermão da
Sexagésima; Esperanças de Portugal - V Império do mundo; História do Futuro, entre outros.
Atividade em aula
Vamos tentar um entendimento do texto?
106
Atividade em aula
05. Grife no texto qual a tese, a idéia que Padre Vieira defende.
06. Grife 3 argumentos utilizados para defender a tese.
07. Grife a conclusão do autor. Lembre-se de que ela é decorrência da
argumentação e não pode ser contraditória à tese.
Amor menino
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera!
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar
pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a
circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos
sabiamente pintaram o amor menino: porque não há amor tão robusto que chegue a
ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o
tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já
não fere; abre-lhe os olhos, com que vê que não via; e faz-lhes crescer as asas com
que voa e foge.
A razão natural de toda essa diferença é porque o tempo tira a novidade às
coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para
não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?
O mesmo amar é causa de não amar e ter amado muito, de amar a menos.
Observe que argumentar é arte muito antiga. Aristóteles, na Grécia, em seu texto
Organon, conhecido por todos como Lógica, mostra como a palavra tem em si
uma estrutura lógica, como a matemática e, a partir dela, podem-se construir
tanto raciocínios exemplares, como raciocínios falsos, sofismas, modelos
argumentativos aparentemente lógicos, porém com premissas falsas.
107
Veja o exemplo clássico:
Todos os homens são mortais.(premissa maior)
Sócrates é homem.(premissa menor)
Logo, Sócrates é mortal.(conclusão)
108
Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de
raciocínio e de provas. O raciocínio consistente é aquele que se apóia nos princípios
da lógica. As provas servem para reforçar os argumentos.
Tipos de argumento:
1. comparação: confronto entre elementos, seja no tempo, seja no espaço,
seja nas características.
2. alusão histórica: resgate de eventos do passado.
3. provas concretas: dados de pesquisa, estatísticos, tabelas, gráficos.
4. relação causa-efeito: estabelece motivos e conseqüências.
5. testemunho autorizado ou argumento de autoridade: apresenta
ponto de vista de pessoa reconhecida na área debatida, utilizando idéias,
pensamentos, frases célebres, citações.
6. fatos-exemplos: narração de fatos com o objetivo de exemplificar.
Argumentar é usar técnicas para conseguir adesão dos espíritos, por meio de
raciocínios persuasivos.
109
Dicas para compreender o discurso da sedução
1. Desperta o interesse e ganha simpatia.
2. Sugere o implícito pelo explícito.
3. Institui sentido figurado, com as figuras de linguagem.
4. Transporta, por meio do imaginário, o receptor para o universo que se pretende.
5. Direciona a comunicação para os sentidos e para os sentimentos, mais do que
para a razão.
6. Faz das palavras imagens, descreve com detalhes.
7. Provoca identificação do receptor com o transmitido.Para isso, é importante
conhecer o repertório pessoal do receptor.
8. Oferece o inusitado, o diferente (“opostos se atraem”).
9. A sedução não se faz apenas com palavras. Ela se faz também com gestos,
posturas, tons, ritmos, entonações, silêncio.
Saiba mais
Importante notar que o discurso sedutor não se sustenta pela lógica, portanto se põe
contra a nossa razão.
Ao primar pelo convencimento emocional, serve para vender, mas não serve, por
exemplo, na relação cotidiana de trabalho, já que este tipo de estratégia, no médio
prazo, quando termina seu encanto sedutor, faz com que o receptor, quando capaz
de operar com a razão, desmistifique tudo.
110
Agora que você aprendeu como fazer para argumentar com eficácia, escreva seu
texto argumentativo a partir da análise do gráfico.
Atividade em aula:
Exercícios de coesão
1. “O respeito pelo tempo dos outros aumenta a produtividade social, pois o
tempo de todos não é desperdiçado pelas esperas.”
( Revista Veja, 24/03/04).A relação estabelecida pelo conectivo pois é de:
( ) explicação
( ) conseqüência
( ) fim
( ) comparação
( ) condição
111
3. “ A tragédia interrompe a orquestração da vida como um maestro
ensandecido que resolvesse atirar nos músicos. Tal papel é desde sempre muito
cumprido pelas tragédias naturais como os terremotos, e pelos grandes acidentes,
como os naufrágios e quedas de aviões. Mas estamos no século XXI, e o terrorismo
arrogou exercê-lo.”
(Revista Veja, 13 de março de 2004.)
A palavra como é utilizada três vezes no texto. Releia-o atentamente, observe o
sentido da palavra e depois marque a alternativa verdadeira.
( ) A palavra como possui exatamente a mesma função nos três momentos:
introduz comparação.
( ) A palavra como apresenta funções diferentes: no primeiro caso, introduz
comparação; no segundo e no terceiro casos, serve para introduzir exemplificação.
( ) A palavra como apresenta funções diferentes: no primeiro caso, introduz
comparação; no segundo caso, serve para introduzir exemplificação; no terceiro caso,
introduz condição.
( ) Ela estabelece, nos três casos, a mesma relação de sentido da frase: “Como
não chegava cedo, perdeu a aula”.
( ) A palavra apresenta funções diferentes: no primeiro e no segundo casos,
serve para introduzir exemplificação; no terceiro caso, introduz comparação.
112
Síntese de aula de hoje
Na aula de hoje, você aprendeu a reconhecer e a produzir texto dissertativo-
argumentativo.
Próxima aula
Na próxima aula, você fará uma avaliação dos conhecimentos adquiridos até
este momento, em uma aula lúdica e diferente.
Boa sorte!
113
Aula 12 - Avalie suas habilidades e seus
conhecimentos
Olá! Hoje nossa aula será diferente. Faremos alguns exercícios em que você
poderá avaliar sua habilidade em ler, compreender, interpretar textos e aplicar seus
conhecimentos gramaticais.
Atividade em aula
Leia, atentamente, o fragmento:
“A crise de água que a Grande São Paulo vive hoje não é a primeira nem será a
última. Por causa de limites naturais na disponibilidade hídrica, da poluição de rios e
represas, da ocupação desordenada de mananciais, do descaso no uso e da falta de
políticas eficientes para reeducar o consumo e reduzir perdas, a região só tem água
garantida até 2010.”
( Folha de São Paulo, 12 de outubro de 2003)
114
3. Dependendo da nossa capacidade de sonhar e querer com competência, nós
podemos estender o campo do possível, podemos, portanto, alterar o que seria
previsível não fosse o nosso querer e a nossa vontade. Então aí a coisa complica. A
palavra coisa é usada, neste contexto, e se torna perfeitamente compreensível por
se tratar de um discurso oral. No que se refere ao texto escrito, que deve ser bem
elaborado, a palavra deve ser substituída objetivamente pelo sentido a que se refere.
1o. Texto
O texto a seguir refere-se às questões 4 a 12.
O Homem e a natureza
A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua, se
não fosse perigosamente pretensiosa.
Essa crença lançou profundas raízes no espírito humano, reforçada por doutrinas
que situam corretamente o homo-sapiens no ponto mais alto da evolução, mas
incidem no equívoco de fazer dele uma espécie de finalidade da criação.
Pode-se dizer com segurança que nada na natureza foi feito para alguma coisa,
mas pode-se crer em permuta e equilíbrio entre seres e coisas.
Isso não confere autoridade para pretender que todo o resto do universo
conhecido deva prestar-lhe vassalagem, como de fato ainda pretende a maioria das
pessoas com poder decisório no mundo.
(Luiz Carlos Lisboa, Jornal da Tarde, abril de 2001)
115
Atividade em aula
4. Todo texto dissertativo - oral ou escrito - compõe-se de três partes: uma
introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Na Introdução, normalmente
localiza-se a tese do autor, a idéia principal que ele busca defender ao longo do texto.
Grife a tese do texto.
116
9. A palavra Isso que inicia o terceiro parágrafo do texto refere-se à:
( ) linguagem
( ) raciocínio lógico
( ) memória
( ) noção de tempo
( ) o fato de ser bem dotado
10. Na frase “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas
ingênua, se não fosse perigosamente pretensiosa”, se trocássemos a conjunção se, o
sentido manter-se-ia em:
( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,
embora não fosse perigosamente pretensiosa.”,
( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,
caso não fosse perigosamente pretensiosa.”,
( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,
porque não é perigosamente pretensiosa.”,
( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,
porém não seria perigosamente pretensiosa.”,
( ) “A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas ingênua,
portanto, seria perigosamente pretensiosa.”,
11. A palavra dele, no fragmento “mas incidem no equívoco de fazer dele uma
espécie de finalidade da criação”, refere-se:
( ) espírito humano
( ) homo sapiens
( ) evolução
( ) ponto
( ) equívoco
117
13. É possível depreender do texto que:
( ) A leitura do mundo é mais abrangente do que a leitura da palavra.
( ) A leitura do mundo é menos abrangente do que a leitura da palavra.
( ) A leitura do mundo depende da leitura da palavra.
( ) A leitura do mundo, para ser ampliada, não depende da leitura da palavra.
( ) A leitura crítica independe das relações entre o texto e o contexto.
118
Atividade em aula
Associe as modalidades textuais:
119
Síntese da aula de hoje
Na aula de hoje, você exercitou sua leitura, seu vocabulário, identificou
elementos, textos, concluiu e resumiu idéias, ativou seus conhecimentos dos aspectos
gramaticais, trabalhou com coesão e coerência, enfim, foi um momento lúdico e
enriquecedor em que você pôde avaliar suas habilidades de leitura, compreensão,
interpretação de textos – que lhe preparação para a vida pessoal e profissional,
dando-lhe uma das competências fundamentais de nosso século: a comunicação.
Próxima aula
Na próxima aula, continuamos com nossa programação, abordando técnicas
para fazer resumo de um texto, atividade indispensável para quem pretende adquirir
facilidade na construção verbal organizada e completa.
Até lá!
120
Aula 13 - Como fazer o resumo de um texto
Na aula de hoje você deverá aprender como elaborar o resumo de um texto,
isto é, identificar as principais idéias e palavras-chave de um texto.
Você vai perceber que se trata de uma atividade indispensável para quem pretende
adquirir facilidade na construção verbal organizada e completa, seja oral ou escrita.
Não é apenas o estudante que precisa desenvolver essa habilidade, mas muitos
profissionais que têm, na leitura, as fontes principais de informação.
Consulte as obras:
• GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
• MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica. (5ª ed.), São Paulo: Atlas, 2003.
• Correspondência – técnicas de redação criativa. (16ª ed.) São Paulo: Atlas, 2002.
Consulte o site:
•www.portugues.com.br/semantica/polissemia.asp
121
Procedimentos gerais
1. Faça, primeiramente, uma leitura atenta, sem anotações, para tomar
conhecimento das idéias principais. No final dessa leitura, você deverá ser capaz de
responder à pergunta genérica: qual o assunto do texto?
4. Fique atento para as palavras de ligação que estabelecem a estrutura lógica dos
raciocínios (assim, além do mais, pois, porque, por conseguinte, em decorrência etc.).
Dicas práticas
1. Em uma dissertação, os parágrafos marcam as partes da estrutura geral que
consiste em: ponto de vista ou tópico frasal, argumentação e conclusão.
Por isso, você pode fazer o resumo de cada parágrafo. Aconselhamos dois
resumos: um do parágrafo e outro do próprio resumo, a fim de encontrar a maneira
mais concisa de expressão.
3. Você não deve apresentar juízo valorativo, opinar ou criticar, pois o objetivo é
apenas elaborar um resumo e não um comentário, uma interpretação ou uma
resenha. Evite introduções do tipo: “o autor diz que...”, “o autor continua afirmando
que...” etc. Anote exclusivamente o pensamento expresso pelo autor.
122
7. Respeite a ordem em que as idéias ou fatos são apresentados.
1a Atividade em aula
Exercite os seus conhecimentos
Analisando o texto
Qual é o assunto ou o tema do texto?
O texto diz o que representa a paz para o povo brasileiro.
123
O que significa a paz para qualquer brasileiro?
“O pão é o primeiro nome da paz”.
Resumo
Qualquer brasileiro espera a paz de um governo. O pão é o primeiro nome.
2a Atividade em aula
Faça agora você o resumo deste texto. Observe os procedimentos e as dicas
que foram sugeridas.
124
“Não faz muito tempo, o trabalho estava intimamente associado ao tipo de
pessoa que você era e ao que suas inclinações e talentos naturais o levariam a fazer
pela comunidade: ferreiro, parteira, costureira, agricultor, médico e assim por diante.
125
3a Atividade em aula
Assista a um dos três filmes sugeridos e faça o resumo dele.
1. O show de Truman, o show a vida.
2. Feitiço do Tempo.
3. Náufrago.
4a Atividade em aula
Faça o resumo de um livro que você leu ou de um artigo de jornal ou revista
que tenha sido relevante para sua análise da sociedade.
Esse pronome tem a função de substituir a palavra com a qual está relacionada.
Denomina-se, por esse motivo, pronome relativo.
Consulte os sites:
http://www.gramaticaonline.com.br
http://www.priberam.pt/dlpo/gramatica/gramatica.aspx
1. Comprei o livro.
2. Você se referiu ao livro.
126
Os pronomes relativos devem sujeitar-se à regência dos nomes e dos verbos a
que estão subordinados. Assim, antes do pronome relativo, deve ocorrer a
preposição que for exigida pelo termo ao qual estiver associado.
5a Atividade em aula
Encaixe as orações secundárias no lugar adequado, empregando o pronome relativo:
Próxima aula
Na próxima aula, o assunto é leitura crítica e produção de resenha.
Até lá!
127
Aula 14 - Leitura Crítica
Na aula de hoje, você deverá aprender como elaborar a resenha de um texto,
ou seja, desenvolverá a capacidade de síntese, de interpretação e de crítica.
Você vai perceber que se trata de uma atividade fundamental para a formação
de uma mentalidade científica.
Resenha
A resenha é um tipo de redação técnica que pode ser definida como um resumo
minucioso ou crítico. Há resenhas descritivas e resenhas críticas.
Resenha descritiva
Na resenha descritiva, é importante ressaltar a estrutura da obra (partes,
número de páginas, capítulos, assuntos, índices, nome do tradutor), o resumo do
texto, a perspectiva teórica, o gênero (crítica literária, livro de negócios, romance
teatro, ensaio), o método adotado.
Resenha crítica
Na resenha crítica, acrescentam-se comentários e julgamentos do resenhista,
comparações com outras obras, avaliação da relevância do texto.
128
A resenha crítica compreende uma abordagem objetiva (em que se descreve o
assunto, sem emitir juízo de valor) e uma abordagem subjetiva (apreciação crítica em
que se evidenciam os juízos de valor de quem a elabora).
A obra, que está na 21ª edição, aborda uma iniciação metodológica ao trabalho
intelectual a ser desencadeado desde o limiar da vida universitária. Segundo Severino,
que leciona Filosofia da Educação, o livro traz propostas práticas, instrumentos
operacionais, técnicos ou lógicos, para o estudo visando uma organização científica e
maior aprofundamento na ciência, nas artes ou na filosofia.
129
O terceiro capítulo merece destaque por ensinar como fazer uma leitura, uma
análise textual, temática e interpretativa, além de uma síntese pessoal. Segundo o
autor, a leitura analítica permite o aprofundamento do estudo científico. Por meio de
um modelo apresentado no livro, o estudante pode fazer um trabalho mais rigoroso
sobre o texto.
130
Os trabalhos de pós-graduação são tratados no sétimo capítulo. O autor faz
observações metodológicas, fala sobre qualidade e forma, comenta o processo de
orientação, do projeto de pesquisa e as exigências éticas do trabalho acadêmico.
Saiba mais
Visite o site:
http://www.educabrasil.com.br/eb/exe/texto.asp?id=45
131
A história é banal. Após o estupro seguido do assassinato da esposa, homem
perdeu a habilidade de memorizar qualquer acontecimento recente e iniciou uma
saga de vingança.
132
Contra toda obviedade, Amnésia desmonta os elos do raciocínio linear e impede
que se estabeleçam vínculos fáceis entre a contigüidade temporal e a explicação
causal. Na marcha ré do tempo, o filme é uma dramática perseguição às causas das
ações do seu protagonista.
O que ele não possuía mais era a capacidade de reunir os fragmentos das suas
ações emprestando-lhes algum sentido. Sabia quem era e aonde queria chegar, mas
não entendia se o que acabara de fazer era compatível com sua identidade e intenção.
Refém do esquecimento, Leonard perdeu a natural habilidade de compreender e
explicar o fluxo do tempo.
É por esta razão que Amnésia contém um desafio aos historiadores. Além de
ser um engenhoso quebra-cabeça, o filme tangencia as indagações sobre quais
critérios avaliam os atos humanos. A questão é clássica.
E nos tempos modernos foi Maquiavel quem primeiramente fixou seus termos
ao polarizar fortuna e virtude. Desde então, os estudiosos vêm se perguntando qual é
o foco do juízo racional sobre as ações, ou seja, sob qual aspecto se interpreta a
conduta dos homens? Considerando a intenção dos agentes ou os efeitos dos atos?
133
Nesse sentido, o filme interessa aos historiadores não apenas porque enfrenta o
dilema dos efeitos perversos envolvidos nas nossas escolhas — situações em que a
ação ou a omissão pode resultar em malefícios infinitamente piores que o previsto
pelas (boas) intenções —, mas principalmente porque sugere que a inteligibilidade
desse dilema supõe a construção em retrocesso de uma seqüência causal, ou
seja, implica em resgatar uma História que compatibilize fins e meios, conseqüências
com intenções. Em outras palavras, a força dramática de Amnésia não reside
somente no fato de o protagonista hesitar em agir. Mais que a imprevisibilidade
inscrita nas suas decisões (o que, de resto, é comum a todos os mortais), Leonard se
depara como a perda da faculdade de lembrar e reconhecer suas próprias ações.
Portanto, mesmo que estivesse orientado por todos os manuais de boa conduta
ou animado pela mais maquiavélica das astúcias, sem memória, tornara-se incapaz de
dar sentido àquilo que fizera. E tal como fazem os historiadores (os profissionais da
memória), se viu obrigado a escolher e fixar os fatos dignos de serem lembrados
para, a partir deles, forjar retrospectivamente uma série causal.
Sob esse aspecto, o filme é uma lição de teoria da História — digo, é uma aula
de como o historiador lida com sua matéria prima: o tempo. Igual à personagem do
filme, o historiador está preso ao presente e aborda o passado a partir dessa
circunstância. A História, disse Marc Bloch, é elaborada do presente. Inescapável, tal
pertencimento ao presente não é, contudo, um interdito à inteligibilidade do passado.
Justo o contrário. Pois se guarda os limites, também reúne as condições de
possibilidade (epistêmicas e ônticas) da inteligência historiadora. Diálogo entre
horizontes temporais díspares, a História consiste numa relação complexa,
mútua e reciprocamente constitutiva do presente, do passado, do futuro.
134
convincentes, considerando que pertencem a uma comunidade de intelectuais
atentos, competitivos e prontos a lançar dúvidas sobre as conclusões uns dos outros,
vale lembrar que o debate interpares consiste numa instância limite para aferição do
que é social e historicamente aceito como verdadeiro.) Portanto, dificilmente
concordariam com a hipótese de que são ficcionistas, artífices inventivos de um
mundo imaginário, fantasioso e irreal.
Trata-se de uma empresa cognitiva que critica e seleciona fatos, define seus
significados, estabelece as séries seqüenciais em que se encaixam e, por fim, conecta
todo esse material sob uma escrita literariamente arbitrária. Além disso, e a despeito
das suas inclinações teórico-metodológicas, os historiadores se entregam a tal tarefa
na contramão do fluxo temporal.
135
técnicas de investigação, devem ser considerados em si mesmos como um modo de
resgatar a própria historicidade dos elos que vinculam o presente ao passado. Dessa
forma, a historicidade da investigação — o pertencimento da razão histórica ao
tempo presente — se expressa nos procedimentos metódicos que foram sendo
adotados e o historiador precisa tornar essa dimensão do seu trabalho
intelectualmente produtiva (em Verdade e Método, Gadamer explora tal questão).
Justo o contrário — para usar os termos de Heidegger, se pode dizer que ela
encontra no tempo a sua morada. Todavia, assim como em Amnésia, a faculdade
mnemônica não existe a priori do próprio empreendimento que busca compreender
a ordem dos fatos.
Saiba mais
Visite o site:
http://www.espacoacademico.com.br/022/22ccortes.htm
1a Atividade em aula
Depois de ter lido as resenhas, você deve estar apto para escrever a sua.
136
Procedimentos para elaborar resenha científica:
1. Na introdução, deve-se apresentar o assunto de forma genérica até chegar
ao foco de interesse, ou ao ponto de vista que será focalizado. Uma vez apresentado
o foco de interesse, procura-se mostrar a importância dele, a fim de despertar o
interesse do leitor.
Cabe, nesse momento, expor:
a) Referência bibliográfica (autor, título da obra, local da edição, editora, data,
número de páginas, formato).
b) Credenciais do autor _ informações, nacionalidade, formação universitária,
títulos, livro ou artigos publicados.
b) Indicações do resenhista
A quem é dirigida a obra?
A obra é endereçada a qual área do conhecimento?
137
Dica importante
A apreciação crítica deve ser feita em termos de concordância ou discordância,
com base em uma leitura racional, não apenas emocional (gosto/ não gosto), levando
em consideração a validade ou a aplicabilidade do que foi exposto pelo autor. Para
fundamentar a apreciação crítica, deve-se levar em conta a opinião de autores da
comunidade científica, além da visão de mundo.
Pesquise:
Metodologia científica
Referências bibliográficas - ABNT
Consulte as obras:
• GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
• MEDEIROS, João Bosco. Redação científica – a prática de fichamentos,
resumos e resenhas. 3ed., São Paulo: Atlas,1997.
• MEDEIROS, João Bosco. Redação científica. São Paulo: Atlas, 2002.
• SEVERINO, Antonio J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2003.
138
5. Com a expressão mais de + numeral - verbo concorda com o numeral.
Mais de um candidato prometeu melhorar o país. Mais de duas pessoas
vieram à festa
10. O verbo ser é impessoal quando indica data hora e distância, concordando
com a expressão numérica ou a palavra a que se refere.
Eram seis horas. Hoje é dia dez.
139
15. Com sujeito composto ligado por nem - verbo no plural.
Nem o poder, nem a glória lhe trouxeram a felicidade.
16. Com a expressão um dos que - verbo no singular (um) ou plural (dos que)
Ele foi um dos que mais falou/falaram.
18. Se o sujeito for composto ligado por com - observar presença ou não de vírgulas.
o verbo no plural sem vírgulas. Eu com outros amigos limpamos o quintal.
o verbo no singular com vírgulas, idéia de companhia. O presidente, com os
ministros, desembarcou em Brasília.
20. Com sujeito paciente ao lado de um verbo na voz passiva sintética - verbo
concorda com o sujeito
Alugam-se casas.
2a Atividade em aula
Vamos exercitar?
140
Síntese da aula de hoje
Na aula de hoje, você aprendeu a fazer resenha descritiva e resenha crítica.
Exercitou a capacidade de ler analiticamente, exercitou sua capacidade de juízo
crítico e sua habilidade para produzir texto científico.
Próxima aula
Na próxima aula, o assunto é texto literário e texto não literário.
Até lá!
141
Aula 15 - Função referencial e função
poética da linguagem
Na aula de hoje, você deverá identificar a função referencial e a função poética
da linguagem, distinguir as duas e empregá-las adequadamente na elaboração do
texto.
Saiba mais
Noite = Espaço de tempo em que o Sol está abaixo do horizonte. Obscuridade que
reina durante esse tempo; escuridão, trevas.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: O dicionário da
língua portuguesa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 1412.
Leia agora este trecho do poema e traduza o sentido que o autor procurou
estabelecer à palavra “noite”:
142
Qual é o sentido da palavra “noite”?
Será o mesmo definido nos dicionários?
Com certeza, não. A palavra “noite”, nesse caso, assume significados
múltiplos e subjetivos.
1a Atividade em aula
Coloque nos parênteses a letra D, quando a palavra destacada em itálico estiver
empregada no valor denotativo; coloque a letra C, caso a palavra estiver empregada
no valor conotativo:
143
Por ser uma forma de comunicação direta, a função referencial da linguagem
está presente em quase todas as mensagens do nosso cotidiano, quando nos
referimos a situações que nos rodeiam e quando conversamos.
Aterradoras, mas verossímeis, estas são algumas das conclusões a que chegaram
23 cientistas da Europa Ocidental, Estados Unidos e Rússia, a quem a Organização
Mundial da Saúde (OMS), órgão das Nações Unidas, encomendou um estudo sobre
as conseqüências médicas de uma guerra nuclear.
144
Para chegar a tão sinistras previsões, os especialistas contratados pela OMS
valeram-se de conhecimentos científicos e do saldo da terrível experiência de
Hiroshima e Nagasaki – as cidades japonesas onde, em agosto de 1945, se utilizou
pela primeira vez uma bomba nuclear contra seres humanos. (...)”
A rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças Da rosa da rosa
Mudas telepáticas Da rosa de Hiroshima
Pensem nas meninas A rosa hereditária
Cegas inexatas A rosa radioativa
Pensem nas mulheres Estúpida e inválida
Rotas alteradas A rosa com cirrose a anti-rosa atômica
Pensem nas feridas Sem cor sem perfume
Como rosas cálidas Sem rosa sem nada.
Mas oh não se esqueçam (Vinícius de Moraes)
145
2a Atividade em aula
O texto a seguir é um texto literário, em que predomina a função poética da
linguagem. Empregando a função referencial da linguagem, isto é, a linguagem
denotativa, reescreva o texto de forma que simule uma notícia de jornal.
Lembre-se de que uma notícia de jornal é relato de um fato novo que desperta
o interesse da comunidade e deve, portanto, informar ao leitor: o que aconteceu?,
quem estava envolvido?, quando?, onde?, como ocorreu? E por quê?
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a
louca braçada ao ramalhete de rosas, que ela pensou ser o pára-quedas, e a prima-
dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa.
E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres
mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão
tranqüila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma
estrela cadente, vem com as pernas do vento.
3a Atividade em aula
Desta vez, proceda inversamente ao exercício anterior. Selecione, em revistas
ou jornais, uma notícia de jornal, um texto não-literário.
146
Lembre-se de que uma narrativa literária deve conter alguns elementos como:
personagens, ação, enredo, tempo-espaço e um narrador, que conta a história em
primeira ou terceira pessoa.
4a Atividade em aula
Leia este artigo publicado na Revista Isto É
147
Síntese da aula de hoje
Na aula de hoje, você aprendeu vários conceitos importantes como:
função referencial e função poética da linguagem, conotação e denotação e o
valor polissêmico das palavras.
Você perceberá que a linguagem oferece recursos ricos para que você expresse
suas idéias e suas emoções. Vale a pena!
Próxima aula
Na próxima aula, iremos trabalhar com a elaboração do seu currículo.
Até breve!
148
Aula 16 - Como elaborar um currículo
moderno
O objetivo da aula de hoje é oferecer instrumentos e informações para que você
elabore o seu currículo. Um currículo objetivo e atualizado.
Com o objetivo de criar sensibilização para essa tarefa, leia estes dois poemas
que expressam, de forma poética, o desafio de escrever sobre o Eu.
Autor desconhecido
Música de Milton Nascimento
149
Traduzir-se Uma parte de mim
Uma parte de mim é permanente:
é todo mundo: outra parte
outra parte é ninguém: se sabe de repente.
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
Uma parte de mim é só vertigem:
é multidão: outra parte,
outra parte estranheza linguagem.
e solidão.
Traduzir uma parte
Uma parte de mim na outra parte
pesa, pondera: - que é uma questão
outra parte de vida ou morte –
delira. será arte?
Atividade em aula
1º - Elabore, resumidamente, uma biografia em que sobressaiam aspectos
expressivos e pitorescos de sua vida. Procure traduzir, em palavras, a personagem
EU, desvendando-se em sentimentos e idéias.
2º - Narre um fato de sua infância que você considere significativo para sua
formação.
Objetivos de um currículo
Ao redigir o currículo, tente imaginar, com detalhes, o caminho que ele deve
percorrer dentro de uma empresa. As qualificações descritas serão julgadas para
definir se o candidato se adapta ou não à cultura do empregador.
O currículo, salvo raríssimas exceções, será apenas mais um entre os muitos que vão
ser selecionados pelos recrutadores. O método de trabalho desses profissionais, em geral,
varia entre as seguintes opções: alguns selecionam o candidato pelos pontos positivos
observados; outros, fazem por eliminação, sempre de olho nos aspectos negativos.
150
Os empregadores, em geral, buscam combinação entre as características do
candidato à vaga, as exigências do trabalho e, ainda, em relação à cultura da empresa.
Quanto maior o equilíbrio entre os fatores, maior a chance de ser bem sucedido
na seleção.
Pergunte-se:
1. Ao ler meu currículo, fico feliz com minha descrição?
2. Posso ser contatado em meu atual emprego ou isso pode causar
complicações?
3. A linguagem adotada é compreensível mesmo para quem não é da área?
4. Deixei de lado alguma informação pessoal que tenha importância específica
para meu currículo?
5. As informações pessoais e profissões que escolhi passam uma impressão
satisfatória e fiel à realidade?
• Seja objetivo (duas páginas são o suficiente), mas procure mostrar que você é
o profissional adequado à vaga oferecida, personalizando o documento de acordo
com a empresa.
• Não use papel de tamanho fora do comum, e tome cuidado para a margem não
ficar muito estreita. O ideal é papel branco liso, tipo A4, recomendado pela ABNT.
151
• Evite abreviar os nomes das empresas onde já trabalhou e das escolas onde
estudou. Números de documentos e filiação, por exemplo, são dados de pouca
importância no currículo, interessam quando você for admitido pela empresa.
3a Atividade em aula
Elabore, agora, o seu currículo, com base nas informações e orientações sugeridas.
152
Muros frios, praia rasa” (C. Meireles)
subst adjetivo subst adjetivo
153
4a Atividade em aula
Corrija as frases incorretas:
154
5a Atividade em aula
Complete as frases com a forma correta da palavra entre parênteses:
Meio / meia
Achou um meio de ganhar a vida.
art subst.
155
6a Atividade em aula
Complete com a palavra meio, promovendo a concordância adequada:
156
Aula 17 - Redação empresarial
Na aula de hoje, você aprenderá a redigir alguns documentos empresariais.
Além disso, reconhecerá alguns vícios de linguagem que não devem ocorrer em
sua produção escrita.
157
Saiba mais
Concisão consiste em expressar o máximo de informação com o mínimo de
palavras.
Objetividade consiste em expor apenas as idéias significativas.
Clareza é decorrente de nossa capacidade de organização das idéias na mente e a
adequada transposição ao material idiomático.
Coesão e Coerência são as qualidades resultantes da conexão harmônica entre
idéias de forma a produzir sentido.
Linguagem formal e simples refere-se ao nível e estilo de linguagem que segue a
norma gramatical vigente e deve ser compartilhado com o destinatário a fim de
garantir a comunicação e assegurar uma boa imagem da empresa.
Correção gramatical é o uso adequado da norma culta, sem desvios.
158
A resposta deve ser “em curto prazo, em longo prazo, em médio prazo”.
• Evite iniciar a carta com “venho por meio desta”, “venho através desta”,
“venho pela presente”, pois não agregam informação. Prefira: Informamos que...
Solicitamos...
• Evite terminar a carta com “sem mais”, pois, geralmente, você necessitará
falar novamente com a pessoa.
• Antes de lhe e lhes, a forma verbal não perde a terminação s, mas antes de
nos cai o s no final do verbo.
159
• Os pronomes de tratamento (Vossa Senhoria, Senhor, Vossa Excelência)
exigem verbos e pronomes na terceira pessoa. Vossa é usado em relação à pessoa
com quem se fala e Sua em relação à pessoa de quem se fala.
Prezados clientes,
Atenciosamente,
O adequado é meio-dia e meia: meia refere-se à hora (meio dia e meia hora).
Mais dicas
Homem diz OBRIGADO.
Mulher diz OBRIGADA.
160
ENQUANTO - significa ao passo que. Enquanto você canta, eu trabalho.
Não se usa enquanto que. Não é possível usar: Enquanto professor, acho que
deveria melhorar sua postura. (Correto: Como professor, acho que deveria melhorar
sua postura.)
MESMO(s) E MESMA(s) - não podem ser usados para substituir substantivos (com
função pronominal – nomes e pronomes).Ex.: Chegou o material que eu aguardava. O
mesmo trouxe idéias novas. Correto: Chegou o material que eu aguardava.
ASPIRAR
Aspirava a um cargo melhor.(desejar)- aspirar a algo
Aspirava o pó.(respirar) – aspirar algo
ASSISTIR
Assisti ao jogo (presenciar)- assistir a algo
O médico assistiu o doente. (socorreu, ajudou)- assistir alguém
Ela assiste aqui (morar)
OBEDECER/DESOBEDECER
Obedeceram aos pais. Obedecemos às leis.- obedecer a alguém ou a algo
VISAR
Visamos à realização profissional.(desejar)- visar a algo
Visei o cheque.(pôr visto) – visar algo
SEJA/ESTEJA
Não existe seje nem esteje.
161
JUNTO A - ao lado de
Então não é possível conseguir um empréstimo junto ao banco. Consegue-se
empréstimo no banco.
Cuide da pronúncia
• Advogado(d mudo)
• recorde – recordes
• rubrica
• gratuito – intuito - circuito
• impregna-designa-estagna-consigna-impugna-repugna- resigna ( g mudo)
• subsídio (som de s) como subsolo
Cuide da grafia
• Reivindicar
• asterisco
• beneficente
• privilégio
• sobrancelha
1a Atividade em aula
Complete as lacunas:
1. Estou _____________ convidá-lo para a festa. (a fim de/ afim de)
2. O professor havia _____________ o presente.(aceitado/aceito)
3. O convite foi _____________ (aceitado/aceito)
4. _____________ chovia, inundava tudo. (À medida que / Na medida em que)
5. _____________ não existiam provas, optou-se pela absolvição. (À medida
que / Na medida em que)
6. Estão _____________ as faturas. (anexo)
7. Está _____________ o documento. (anexo)
8. O dólar, _____________ cair, subiu. (ao invés de, em vez de)
9. Usei dólar _____________ real. (ao invés de, em vez de)
10. _____________, abordaremos a questão da identidade cultural. (a
princípio/ em princípio)
11. _____________, toda teoria deve ser comprovada na prática. (a princípio/
em princípio)
12. Nenhum presidente pode ir _____________ desejo da população. (de
encontro a/ao encontro de)
13. Saí _____________ minhas necessidades. (de encontro a/ao encontro de)
14. O caso passou _____________ (despercebida/desapercebida)
162
15. _____________ o uso da maconha. (Descriminou/ Discriminou)
16. _____________ os habitantes das favelas. (Descriminou/ Discriminou)
17. A minha _____________ na capital foi excelente.(estada/estadia)
18. Estava ________ de saúde, por isso ficava de __________humor. (mal/mau)
19. Visitei a _________ de esportes da loja; depois fui a uma _____________
de cinema.(seção/sessão)
20. __________ tiver dinheiro, não irei viajar. (se não/ senão)
21. Assuma uma nova postura, ________ teremos problemas. (se não/ senão)
22. Espero que você não _____________ tempo. (perca/perda)
23. Bateu o carro de deu _____________ total. (perca/perda)
24. Ele sempre _____________ boas notícias. (traz/trás)
25. Ficaram para _____________ todas as mágoas. (traz/trás)
26. Espero que vocês façam uma boa _____________ (viagem/viajem)
27. Espero que vocês _____________ bem. (viagem/viajem)
Próxima aula
Na próxima aula serão apresentadas outras dicas sobre situações profissionais,
como entrevista, elaboração de currículos, técnicas de comunicação oral, postura,
apresentação pessoal, a linguagem do corpo entre outras curiosidades.
Até breve!
163
Aula 18 - Entrevista
Na aula de hoje, serão apresentados vários aspectos importantes que compõem
uma entrevista: técnicas de comunicação oral, postura, apresentação pessoal, a
linguagem do corpo e outros detalhes.
Sobre a maneira correta e adequada de vestir-se para uma entrevista, a revista Você
S/A, da Editora Abril tem sugerido em várias edições recentes. Faça uma pesquisa.
O entrevistador não deve ser tratado com intimidade, porém, muito formalismo
ou timidez podem ser interpretados como arrogância ou dificuldade de socialização.
164
O entrevistador questiona o candidato com o objetivo de identificar habilidades
profissionais, técnicas e práticas. Geralmente são analisadas as habilidades
organizativa, analítica decisória, social e comunicativa e, para isso, o candidato é
colocado em situações hipotéticas.
As pessoas que vendem bem seus conceitos e idéias tendem a obter sucesso.
Visite os sites:
- www.etiquetaempresarial.com.br
- www.catho.com.br
A linguagem do corpo
Em uma entrevista, os entrevistadores estão treinados para ler os sinais do
corpo que podem ser tão reveladores quanto as palavras. Seu corpo fala o tempo
todo, mas nem sempre passa mensagem igual ao que você está dizendo.
165
Há uma obra clássica, O corpo fala, cuja leitura é indispensável para quem
deseja, efetivamente, aprender a ler o outro e a si mesmo.
A comunicação oral
É fato que as empresas modernas buscam pessoas criativas, multifuncionais e
capazes de se comunicar satisfatoriamente.
Sabe-se que a comunicação oral envolve tanto aspectos verbais quanto não-verbais.
Elementos da comunicação
Todo texto, seja ele oral ou escrito, envolve:
- Emissor
- Canal
- Receptor
- Código
- Referente
- Mensagem
Saiba Mais
Consulte o livro: VANOYE, Francis. Usos da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
166
Dicas para falar bem
O orador é aquele que diz o pensa e pensa no que diz. (Brian)
1. Prepare-se para falar (abasteça-se com conteúdo para expor bem mais
tempo que o combinado).
2. Seja você mesmo: use a naturalidade e drible o medo. Saiba o que vai dizer.
Use roteiro, se necessário.
3. Pronuncie bem as palavras: não omita a pronúncia do /r/ e /s/ finais e do /i/
intermediário. Evite as indesejáveis repetições “hum”, “ah”, “né”, “ta”, “certo”, entre outras.
4. Fale com boa intensidade (nem alto para não irritar, nem baixo para que
todos ouçam).
5. Fale com boa velocidade (não fale rápido demais, nem devagar demais).
8. Cuide da gramática.
9. Tenha postura adequada: não coloque mãos nos bolsos, nas costas; não cruze
os braços, deixe-os soltos naturalmente ao longo do corpo. Evite gesticulação excessiva.
Não se movimente de um lado para o outro. Não levante muito a cabeça e o tórax.
Deixe o semblante descontraído e seja sorridente. Ao falar, olhe para todas as pessoas.
Saiba mais
Consulte as obras:
POLITO, Reinaldo. Como falar corretamente e sem inibições. São Paulo: Saraiva,
2001.
____ Um jeito de falar bem. São Paulo: Saraiva, 2001.
Visite os sites:
- http://noticias.aol.com.br/negocios/colunistas/reinaldo_polito/2005/0018.adp
- http://www.aol.com.br/carreiras/fornecedores/aol/2005/12/01/0001.adp
167
Atividade em aula
Teste suas habilidades de falar em público.
3. Se você for convidado para falar sobre um assunto que não conhece com
profundidade:
a) você recusa;
b) você aceita, desde que tenha tempo suficiente para se preparar;
c) você aceita, mesmo sem ter tempo de se preparar.
168
8. Que tipo de vocabulário você usa:
a) o que conhece, próprio da sua profissão, atividade ou estudo;
b) simples e objetivo, de acordo com o público;
c) bem informal, até com gírias.
9. Ao falar, você:
a) não gesticula, sente-se amarrado;
b) gesticula com moderação, reforçando o que está dizendo;
c) gesticula demais.
169
Próxima aula
Pasquale Cipro Neto, o professor de português mais famoso do Brasil, diz que
os novos tempos exigem que se abra a boca.
Espero que a aula de hoje tenha contribuído para que você se saia melhor na
vida, como profissional, como pessoa.
Até a próxima!
170
Aula 19 - Relatório
No final desta aula, você deverá saber o que é um relatório, distingui-lo de um
relato, conhecer sua estrutura, seus diversos tipos e elaborar um de acordo com as
suas necessidades profissionais.
O que é um relatório?
Um relatório é uma descrição de fatos passados, analisados com o objetivo de
orientar o interessado para determinada ação. Isso significa que, se o relatório deve
possuir todos os predicados de um relato de atividades, é, no entanto, bem mais rico
e complexo do que ele: tem de juntar-lhe as vantagens de uma lúcida análise e da
consideração do objetivo a atingir.
171
MEDEIROS, João Bosco. Português instrumental. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
LEIGH, Andrews. Como fazer propostas e relatórios. São Paulo: Nobel, 2002
Seja qual for a área, o profissional prepara mensagens, escreve textos e entre
eles, um dos mais elaborados, é o relatório.
O primeiro passo para sua elaboração é a fixação dos objetivos, dos métodos
de trabalho e da definição do destinatário. Esses dados ajudam a escolher opções que
atingem mais eficazmente quem irá ler e avaliar.
172
Em seguida, é conveniente esquematizar, planificar. Essa estrutura varia
conforme o objetivo e o tipo de relatório, porém qualquer que seja o tipo, são
aconselháveis cabeçalhos breves, que facilitem a leitura e despertem interesse,
numeração progressiva, pois ordena as seções e permite visão mais clara do todo e
linguagem clara, concisa, simples, adequada ao destinatário.
Capa
Documentos com mais de 6 páginas devem apresentar uma capa e nela devem
conter: título do relatório, nome do relator ou do setor, cidade e ano.
173
Folha de rosto
• Título do relatório
• Para quem se destina
• Elaborado por
• Assunto
• Local
• Data da elaboração
• Tipo de relatório (parcial, total, inicial, final)
• Natureza (normal, confidencial, reservado, secreto)
Resumo
Se o relatório for longo, aconselha-se fazer um resumo, de poucas linhas,
destacado em um quadro, após a folha de rosto.
Sumário
Quando muito longo e com muitos itens, é recomendável o sumário, que
organiza o texto por temas, facilitando a leitura.
Desenvolvimento
• Objetivo (o que se pretende)
• Métodos (entrevista, questionário, testes etc.)
• Meios (instrumentos)
• Duração (tempo)
• Pessoal envolvido
• Fatos, constatações, problemas
• Causas e efeitos
• Recomendações (medidas a serem tomadas)
• Conclusões (resultados esperados)
Anexos
É composto pelo material acessório. Gráficos podem ser colocados entre os
anexos, porém deve-se estudar a conveniência de seu uso no corpo do texto.
Bibliografia
Local e data
Assinatura
Nome legível
Identificação funcional
174
2a Atividade em aula
Com base no roteiro apresentado, elabore um relatório, voltado à sua área de
trabalho, que contemple as três modalidades textuais: descrição, narração e dissertação.
175
3a Atividade em aula
Preencha as lacunas com a, às, as, os, ao, aos, ou às:
4a Atividade em aula
Preencha as lacunas com a, às, as, os, ao, aos, ou às:
2. Dei _____ ela uma flor, e ela ofereceu _____ mim um presente que
jamais esquecerei.
176
9. Graças _____ Deus, vivemos em liberdade.
Até lá!
Saiba mais
O editor de texto Word, possui uma série de recursos de escrita que podem ajudar,
desde a formatação, até a escolha da apresentação.
177
Aula 20 - Conclusão do curso
O objetivo dessa última aula é resgatar e avaliar os principais conceitos,
habilidades e competências desenvolvidos durante o curso.
Atividade em aula
1. No “Poema tirado de uma notícia de jornal” predomina que função da linguagem?
a. ( ) metalingüística, centrada no código, que define elementos da própria
linguagem.
b. ( ) referencial, centrada no referente, produzindo informações definidas,
claras, denotativas.
c. ( ) poética, centrada na mensagem, sendo o que importa não é apenas o
que se diz, mas o modo como se diz.
d. ( ) emotiva, centrada no emissor, exprimindo emoções.
e. ( ) conativa ou apelativa, centrada no receptor, tem o objetivo de
influenciar, convencer alguém.
f. ( ) fática, centrada no canal da comunicação, tem o objetivo de estabelecer
contato entre emissor e receptor.
178
3. Observe que o autor do texto utilizou intencional e predominantemente os
verbos no tempo:
a. ( ) pretérito perfeito do indicativo
b. ( ) presente do indicativo
c. ( ) pretérito imperfeito do indicativo
d. ( ) pretérito mais-que-perfeito do indicativo
e. ( ) pretérito imperfeito do subjuntivo
5. Compare esse texto com uma notícia de jornal qualquer. Lembre-se de que
comparar é identificar semelhanças e diferenças. Consulte os sites e selecione uma notícia.
www.uol.com.br
www.folha.com.br
www.estado.estadao.com.br
8. O que falta ao poema para ser tratado como uma autêntica notícia de jornal?
Acrescente os dados.
Espera que o aluno perceba que faltam mais informações concretas e precisas
como a data e as possíveis razões do aparente suicídio, menção às pessoas que
testemunharam o fato etc.
179
9.Transforme o texto de Bandeira, de natureza literária, em outro de natureza
não-literária, jornalística. (Transformar significa mudar a forma) Não se esqueça de
incluir os dados levantados anteriormente.
Espera-se que o aluno crie um texto, explorando a função referencial da linguagem.
11. Com base, na descrição elaborada por você, crie um diálogo entre João
Gostoso e uma outra personagem de seu meio social, evidenciando marcas
lingüísticas dos interlocutores a partir de seu contexto sócio-cultural.
Espera-se que o aluno utilize o discurso direto na elaboração do diálogo e nível
de linguagem coloquial, adequado ao perfil da personagem.
180
Viajou pela linguagem e conheceu os diversos fatores que provocam as
variações lingüísticas. Constatou que para cada situação e contexto, há uma forma
adequada para expressar o que se pensa e o que se sente.
Síntese do curso
Após percorrer esse caminho traçado na primeira aula, você chegou, enfim, ao
final de mais uma etapa de um processo em que se constrói o conhecimento, pois a
busca é permanente.
Com certeza, as aulas tornaram seu olhar sobre a realidade, sobre a vida, mais
crítico, e despertaram emoções e paixões que só a palavra, a literatura, a arte
conseguem fazê-lo.
Parabéns!
181