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MANUAL DA METODOLOGIA Pesa

Uma abordagem participativa

DENISE REGINA GARRAFIEL


FRANCISCO RILDO CARTAXO NOBRE
JONATHAN DAIN
MANUAL DA METODOLOGIA Pesa
Uma abordagem participativa

PESACRE – Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas


Agroflorestais do ACRE
Rua Iracema, 8 – Conj. Village – 69914-390 – Rio Branco/AC
Fone: (68) 223-3773
Fax: (68) 223-1724
Email: pesacre@ mdnet.com.br

Autores
Denise Regina Garrafiel
Francisco Rildo Cartaxo Nobre
Jonathan Dain

Colaboradores
Cleísa Brasil Cartaxo
Ronei Sant’Ana de Meneses
Peter Cronkleton

Ilustração
Brilhograf

Fotos
Acervo do PESACRE

Agradecimentos
Myriam Jacqueline Villarreal
Isandra Regina Dávila dos Santos
Reginaldo Silveira de Lima
Equipe do PESACRE

Agradecimentos Institucionais
Universidade da Flórida – Centro de Estudos Latinoamericano

Apoio Financeiro
USAID (Agência Norte Americana para o Desenvolvimento
Internacional)

Qualquer parte deste Manual pode ser reproduzida ou adaptada sem permissão dos
autores e do PESACRE, desde que citada a fonte.

Rio Branco/1999

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APRESENTAÇÃO

O Grupo PESACRE, desde o sua fundação tem desenvolvido


atividades com o enfoque comunitário e participativo, utilizando uma
adaptação da Metodologia PESA, de pesquisa e extensão em sistemas
agroflorestais.
O contínuo processo de aprendizado na aplicação desta
metodologia proporcionou uma reflexão e reconstrução de conceitos, por
conseqüência a reformulação da metodologia, adequando-a às diversas
situações e principalmente inserindo novos elementos.
Esta nova versão, a Pesa tornou-se uma metodologia mais dinâmica,
interativa e flexível, considerando também a multidiciplinaridade e a
interinstitucionalidade, além da inclusão de ferramentas que
possibilitaram um crescente envolvimento dos atores e/ou beneficiários
na procura do empoderamento dos diferentes grupos de pequenos
produtores rurais.
Este manual é fruto do trabalho prático e reflexões do Grupo
PESACRE, com a metodologia participativa denominada agora de Pesa.
Esta publicação pretende ser apenas um instrumento na ação e
está voltada para aquelas pessoas que buscam no seu trabalho de pesquisa
e extensão um procedimento metodológico que garanta uma paticipação
mais ativa dos envolvidos no processo de Conservação e Desenvolvimento.

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CAPÍTULO I

1. UMA BREVE HISTÓRIA DE METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS

Segundo Robert Chambers (1992), um especialista em


desenvolvimento rural, nos anos 50 e 60 os países industrializados
pensavam que desenvolvimento rural era fácil, que eles tinham todas as
soluções para os países não industrializados. Era só dispor de tecnologias
“modernas” desenvolvidas na Europa e nos Estados Unidos da América e
transferí-las para os produtores pobres que utilizassem técnicas
“primitivas”. Não funcionou Daí técn icos e pesquisadores começaram a
dar conta de que “desenvolvimento rural não é fácil de se fazer”.
Numa tentativa de modificar a situação verificada e alcançar os
resultados esperados, os técnicos começaram a fazer diagnósticos
(levantamentos tradicionais) para “identificar as soluções corretas”
para as áreas onde atuavam. Infelizmente a maioria destes diagnósticos
não deu certo porque estes eram: a) Superficiais- os pesquisadores
faziam observações pelas “janelas dos carros” sem realmente ver os
campos; b) Onerosos- demandavam muito tempo para coletar e analisar
as informações, aumentando, assim, os custos do trabalho; c) As
informações eram incompletas ou inúteis- muitas vezes não se falava
com os produtores, ou os mesmos não informavam à luz da verdade, ou
ainda as informações levavam tanto tempo para serem coletadas e
analisadas que, muitas vezes, não representavam mais a situação atual da
comunidade.
Além dos problemas com os diagnósticos, outros sérios problemas
começaram a ser reconhecidos por estes “trabalhadores de
desenvolvimento”. Por exemplo, apesar das novas tecnologias geradas
e/ou introduzidas serem baseadas nos diagnósticos, estas não estavam
sendo adotadas pelo público alvo. Avaliações mostraram que estas
tecnologias não eram adotadas por não serem apropriadas às condições
reais das populações de pequenos produtores. Geralmente, os
especialistas não consideravam os fatores sócio-econômicos como, por
exemplo, mão-de-obra, posse da terra, disponibilidade de recursos, meios
de comercialização e outros.
Para superar estes desafios, nos anos 70 e 80 especialistas na
África, Ásia e América Latina desenvolveram novas metodologias de
pesquisa e extensão com a preocupação de conhecer melhor os sistemas
agrícolas, numa abordagem sistêmica e mais integrada. Não podemos
deixar de mencionar que esta preocupação com pesquisas mais

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participativas voltadas para a ação teve influência de métodos utilizados
nas ciências sociais, principalmente o enfoque pedagógico pregado e
experimentado por Paulo Freire ainda na década de 60.
No final da década de 70, a partir da experiência no Instituto de
Ciências e Tecnologias Agrícolas (ICTA) da Guatemala, Hildebrand &
Ruano (1979) desenvolveram a metodologia de "Farming Systems
Research and Extension" –FSRE, que em português seria conhecida por
Pesquisa e Extensão em Sistemas Agrícolas. O Centro Internacional de
Investigação Agroflorestal (ICRAF) - partindo do presuposto que a FSRE
se concentrava demais nas culturas anuais em detrimento de uma visão
mais ampla de sistemas de uso da terra, respondeu com o
desenvolvimento de uma metodologia específica para o desenvolvimento
de sistemas agroflorestais, mas baseando-se na anterior. Esta
metodologia ficou conhecida como Diagnostic and Design - D&D
(Diagnóstico e Desenho).
Neste mesmo período várias outras experiências estavam
ocorrendo e na década de 80 surgem as primeiras publicações com novos
métodos de diagnósticos como DRR (Diagnóstico Rural Rápido) e DRP
(Diagnóstico Rural Participativo, uma derivação do DRR), AEA (Análise de
Sistemas Agroecológicos), entre outras.
Estas métodos incluíram como instrumento fundamental, técnicas
de diagnósticos que consideram o “conhecimento local” e que são rápidas,
integradas e relativamente baratas ( HILDEBRAND, 1986).
As vantagens destes diagnósticos permitem que a aprendizagem
progressiva seja flexiva, exploratória, interativa e inventiva, além de
permitir mudanças de rumo necessárias (aprender junto com as
populações rurais, descobrir e usar os seus critérios e categorias, e
encontrar, entender e apreciar conhecimento técnico local), averiguando
não mais do que o necessário , mas utilizando diferentes técnicas,
fontes e disciplinas, junto com o uso de uma variedade de informantes,
numa grande variedade de lugares, permitindo um controle cruzado de
informações para chegar mais perto da situação real (CHAMBERS, 1992).
Os DRRs, a FSRE e outros métodos nesta linha se mostraram muito
eficazes no que se refere à melhoria da qualidade das informações
adquiridas e a rapidez com que eram coletadas, analisadas e utilizadas.
Também tem contribuído para aumentar, até certo ponto, o sucesso da
geração e da introdução de novas tecnologias. Porém, nos anos 80,
enquanto estas metodologias estiveram se desdobrando, um “novo”
conceito começou a ter mais atenção. A idéia era simples e lógica: dever-
se-ia reconhecer que os pequenos produtores têm um conhecimento
profundo da situação que os rodeiam, do meio ambiente e de suas

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necessidades e, por isso, eles precisam ser incluídos em todos os
aspectos de qualquer programa destinado a ajudá-los. A justificativa se
baseia no fato de que:
- O ponto de vista dos produtores precisa ser incluído em qualquer
processo de decisão para assegurar que esta será uma decisão
apropriada para eles.
- Se eles participam de todos os aspectos do projeto, também se
sentirão mais comprometidos, mais dispostos a confiar nos técnicos, e
mais dispostos a esperar um retorno que pode levar anos para se
manifestar;
- Um dos objetivos de qualquer iniciativa deve ser a eventual auto-
gestão do projeto pela família ou comunidade. A auto-gestão se
torna possível somente quando as famílias sabem por que e como o
projeto foi desenvolvido;
- As famílias e/ou comunidade devem também aprender a partir dos
diagnósticos, não só os técnicos, extensionistas e pesquisadores. A
informação é muito importante para todos (CHAMBERS, 1992).
Com base nestas idéias, muitas instituições começaram a
incorporar as comunidades como parte das equipes nos diagnósticos e
como parceiras nas discussões e avaliações dos dados levan tados. Os
resultados deste novo modelo têm comprovado que, embora mais
complicados de organizar e realizar, os diagnósticos participativos
melhoram os projetos que os seguem ( ROCHELEAU, 1993).
A Metodologia PESA chega ao Brasil já incorporando a análise do
sistema agroflorestal e ficou conhecida como Pesquisa e Extensão em
Sistemas Agroflorestais, na qual foi adotada pelo PESACRE, instituição
não governamental do ACRE.
Em resumo, pode-se ver que as metodologias de diagnóstico e
desenho (Desenho, Implementação, Monitoramento & Avaliação, etc.) são
dinâmicas e acrescentam à sua praxis novas idéias e conceitos com
regularidade. Originalmente eram sumamente bio-técnicas, faltando uma
abordagem sócio-econômica. Estas metodologias foram sendo modificadas
pouco a pouco, incluindo a participação passiva (entrevistas com
produtores, a maioria homens ) e métodos informais e rápidos. Outros
aspectos incorporados durante os últimos 20 anos incluem considerações
sobre o meio ambiente e florestas, culturas perenes em geral, fauna,
saúde, comercialização e aspectos de gênero (tratando mulheres,
crianças e idosos também como atores importantes no processo de
desenvolvimento). A idéia da participação ativa do público -alvo foi mais
um melhoramento nas metodologias de diagnóstico e desenho e, com
certeza, o futuro se encarregará de incorporar outros.

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CAPÍTULO II

Da PESA à Pesa

A metodologia FSRE ao chegar no Brasil, já havia adotado os


elementos do D&D no que se refere a análise mais ampla dos sistemas de
produção, inclusive os sistemas agroflorestais, e ficou conhecida como
Pesquisa e Extensão em Sistema Agroflorestais – PESA.
Em 1988 e 1989, um grupo de técnicos de instituições
governamentais e não-governamentais fizeram dois cursos sobre a
metodologia PESA, culminando, um ano mais tarde, com a decisão de criar
o Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre -
PESACRE, adotando esta metodologia como a chave para superar
problemas das mais diferentes ordens, inclusive administrativos,
financeiros e técnicos.
A partir de 1990, o PESACRE desenvolveu trabalhos junto a
populações de seringueiros, colonos e indígenas tendo como base a
metodologia PESA ao tempo em que se ia promovendo uma série de
mudanças e adaptações no método, considerando a realidade da parte
mais ocidental da Amazônia, mais especificamente o Estado do Acre.
Esta experiência levou ao desenvolvimento de um enfoque
participativo que tem permitido um envolvimento cada vez maior da
população, garantindo a esta o papel de atores ativos, num processo
permanente de busca da auto-gestão dos seus recursos e favorecido um
aprendizado constante do corpo técnico. Um dos resultados mais
relevantes deste processo foi a reconstrução da metodologia per se, via a
inclusão de novos conceitos à PESA, transformando-a na metodologia
participativa Pesa. Esta metodologia permite que técnicos, pesquisadores
e extensionistas, tenham uma nova visão de seu trabalho e melhorem sua
atuação com maior eficiência e eficácia, aliado ao fato de que encontram
na comunidade os parceiros para compartilhar experiências.

1. Visão da Pesa

A Pesa tem como atributos principais:

- MICRO-ORIENTAÇÃO – Ela é centrada nas populações com as quais


se se propõe a trabalhar. A mais importante característica está
relacionada ao forte senso de comunidade desenvolvido pela equipe do
PESACRE e as famílias envolvidas nos programas e atividades
agroflorestais;

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- UMA ABORDAGEM INTEGRAL – A propriedade é vista como um
sistema integrado e interligado de elementos biofísicos e sócio -
econômicos, ou seja, não se pode analisar um elemento da propriedade,
humano ou ambiental, independente dos outros elementos. É também
reconhecido que o sistema contém subsistemas que são interligados
(culturas anuais, culturas perenes, pequenos animais, etc.);

- UMA PERSPECTIVA DINÂMICA, INTERATIVA E BUSCA


SOLUCIONAR PROBLEMAS – Depois de identificar as limitações das
famílias/sistemas, desenvolvem-se tecnologias para enfrentar estas
limitações, sejam técnicas, biológicas ou sócio -econômicas. As
tecnologias são avaliadas/testadas pelas famílias e ajustadas até o
limite de se integrarem ao sistema;

- MULTIDISCIPLINAR E INTERINSTITUCIONAL – Para realmente


buscar solucionar as limitações de um sistema muito complexo, é
preciso ter especialistas de várias disciplinas dentro da área biofísica
e sócio -econômica (agrônomos, florestais, entomólogos, antropólogos,
sociólogos, economistas, educadores, enfermeiras, etc.). Só o conjunto
dos conhecimentos destes e das famílias produtoras garantirá uma
ação apropriada às condições locais. A interinstitucionalidade é
também fundamental na Pesa para assegurar que um projeto não fique
susceptível a mudanças políticas ou limitado por problemas financeiros
de uma instituição, permitindo a continuidade dos trabalhos até que se
alcance a auto-gestão da comunidade;

- COMPLEMENTA AS PESQUISAS BÁSICAS, NÃO AS SUBSTITUI –


serve para guiar estas pesquisas e estabelecer prioridades. Também
serve para adaptar as tecnologias desenvolvidas às realidades
biofísicas e sócio-econômicas do pequeno produtor, assim,
complementando a pesquisa básica;

- RECONHECE A ESPECIFICIDADE DOS FATORES TÉCNICOS E


HUMANOS LOCAIS – Para possibilitar que os projetos de pesquisa e
extensão sejam eficientes e apropriados, as limitações são agrupadas
e priorizadas por ordem de importância, para que os problemas mais
graves sejam abordados de maneira mais urgente e os de soluções
mais fáceis não sejam ignorados;

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- AVALIA AS TECNOLOGIAS POR MEIOS DE ENSAIOS NAS
UNIDADES PRODUTIVAS – Realizar pesquisas ao nível da unidade
produtiva, permite que todos os membros das famílias participem
ativamente da gestão dos recursos e assegura que os fatores sócio -
econômicos sejam avaliados do seu ponto de vista. O (a) pesquisador(a)
pode levar uma equipe técnica para fazer a pesquisa no campo do
produtor, mas a própria família deverá participar do desenho, da
escolha da área, do teste e da avaliação das tecnologias. A pesquisa na
unidade produtiva facilita, assim, a extensão, a transferência e a
adoção de tecnologias;

- FORNECE UM CANAL DE “FEEDBACK” – A Pesa facilita a


comunicação constante e contínua entre pesquisador, extensionista e
famílias permitindo flexibilidade e mudanças nos objetivos, análise das
necessidades, estudos de prioridades e limitações e estabelecimento
de critérios de avaliação das famílias;

- NÃO SEPARA A PESQUISA DA EXTENSÃO – Pesquisadores,


extensionistas e produtores têm habilidades e conhecimentos
fundamentais para realização bem sucedida de um projeto
agroflorestal e de gestão dos recursos naturais. Ao mesmo tempo, é
importante que cada um reconheça o valor do trabalho que o outro
está desenvolvendo. Na Pesa, os pesquisadores e extensionistas
trabalham juntos no diagnóstico, planejamento, pesquisa, avaliação e
difusão, com parceria junto a pessoas da comunidade que estão
envolvidas na atividade que está sendo realizada. A família do pequeno
produtor e/ou a comunidade é que deve direcionar o projeto. Nem o
pesquisador e nem o extensionista "mandam" no projeto, é uma
responsabilidade compartilhada entre os diferentes grupos de
interesse;

- ENALTECE OS ASPECTOS SOCIAIS DAS INICIATIVAS - Integra


à pesquisa e à extensão os aspectos sociais que afetam o
desenvolvimento do trabalho, o que vai contribuir para o
fortalecimento do processo de auto-gestão da comunidade;

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2. Fases da Pesa

A Pesa consiste de um conjunto de ações participativas de


Conservação & Desenvolvimento montado sobre cinco fases distintas,
porém interligadas. Posto que se trata de um processo dinâmico, a Pesa
não termina ao chegar à quinta fase, mas retorna para a primeira,
segunda, terceira ou quarta dependendo da necessidade. As cinco fases
são apresentadas brevemente aqui, sem esquecer de considerar que, em
todas elas, as questões de gênero e os princípios de Conservação &
Desenvolvimento são interligados.

IDENTIFICAÇÃO DA
COMUNIDADE

DIAGNÓSTICO
- SONDEIO -

RECOMENDAÇÃO E/OU PLANEJAMENTO OU


DISSEMINAÇÃO FORMULAÇÃO DO PROJETO

IMPLEMENTAÇÃO/
MONITORAMENTO &
AVALIAÇÃO

- 1. IDENTIFICAÇÃO DA COMUNIDADE - Partindo do princípio que se


está tratando de uma comunidade desconhecida para as equipes
técnicas, é importante manter contatos preliminares com a mesma e
entidades representativas das populações que habitam aquele domínio,
além de recorrer ao levantamento de algumas informações
secundárias que permitam o reconhecimento do local e da comunidade
para subsidiar a construção de um futuro diagnóstico.

- 2. DIAGNÓSTICO – A fase do diagnóstico é possivelmente a fase


mais importante, posto que é a base para todas as demais atividades
preconizadas pela metodologia. Na metodologia Pesa, o diagnóstico é
conhecido como “SONDEIO” e permite uma análise participativa da

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realidade, limitações e necessidades dos pequenos produtores.

- 3. FORMULAÇÃO DO PROJETO OU PLANEJAMENTO – Nesta fase,


são identificadas possíveis soluções para os problemas e limitações
encontradas no SONDEIO junto com a comunidade. A idéia é que,
nesta fase, experiências e tecnologias bem-sucedidas possam ser
selecionadas de acordo com os problemas levantados, repeitando-se o
grau de dificuldade e o potencial de resposta das soluções apontadas.
Ao mesmo tempo, estudos e pesquisas podem ser elaborados visando
entender melhor as causas dos problemas, diante das situações
encontradas, e apontar os meios adequados para que a comunidade
possa sobrepassá-los. Aqui, é também importante a definição dos
mecanismos de Monitoramento & Avaliação.

- 4. IMPLEMENTAÇÃO & AVALIAÇÃO – Nesta fase, tecnologias ou


soluções para os problemas identificados são testadas e trabalhadas
nas unidades produtivas. Podem ser ensaios dirigidos pelos
pesquisadores, mas realizados pelas famílias produtoras, ou ensaios
das próprias famílias. É nesta fase que as equipes contribuem para o
entendimento das famílias e/ou comunidades do que consiste uma
pesquisa, para que serve e como é feita. O processo de
desenvolvimento de pesquisa nas unidades produtivas assegura que as
tecnologias agroflorestais e/ou de manejo sejam apropriadas aos
sistemas para os quais foram indicadas. Se a tecnologia que está
sendo testada não oferece a solução esperada, os participantes do
projeto voltam para fase três (formulação/planejamento).

- 5. RECOMENDAÇÃO E/OU DISSEMINAÇÃO - A última fase da Pesa


consta de levar uma tecnologia que deu certo para outras comunidades
ou famílias com problemas e circunstâncias semelhantes, considerando
o mesmo processo apresentado anteriormente. É nesta etapa que se
analisa o potencial de tal tecnologia para recomendá-la como uma
política pública.

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CAPÍTULO III

AS FASES DA Pesa NOS SEUS DETALHES

1. IDENTIFICAÇÃO DA COMUNIDADE

O PESACRE, através da Pesa, tem buscado integrar todos os


parâmetros anteriormente mencionados quando desenvolvendo suas
atividades. Quando não se tem um conhecimento prévio da comunidade, é
importante:

a) Manter contatos preliminares: inicialmente os contatos ficam a nível


de uma entidade representativa de comunidades (associações, sindicatos,
caixas agrícolas, cooperativas, grupos de trabalhadores[as]), inclusive no
caso das pesquisas. Esta etapa é realizada com objetivo de identificar a
área de trabalho. Com este objetivo, a Pesa é apresentada, além de
promover uma primeira demonstração dos objetivos e metas do PESACRE
e sua equipe.
Visando aumentar as possibilidades de respostas e efetivamente
implementar a Pesa, é necessário que a comunidade esteja organizada a
um certo nível. Três critérios básicos devem ser observados quando
definindo a seleção da comunidade: 1) acesso possível durante todo o ano;
2) existência de grupos organizados, de maneira formal ou informal; e 3)
padrões de envolvimento com outras instituições que ainda não tenham
transformado a comunidade em objetos de man ipulação, política ou
técnica, ou mesmo sob estas influências apresentem interesse em
mudanças.
Este último critério se constitui em um dos maiores desafios
enfrentados pela Pesa. Por um lado, existe a necessidade de encorajar as
populações a perceber a importância e essencialidade de trabalhos em
grupo ou mutirões e esforços comunitários ao invés da adoção de ações
paternalistas das tradicionais agências de desenvolvimento. Por outro
lado, a Pesa facilita o reconhecimento que as comunidades são
heterogêneas, com marcantes diferenças e conflitos internos, e a
promoção de trabalhos em grupo em todas as fases do projeto ou
programa não é sempre a melhor forma de intervenção (Nobre et al.,
1999).

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b) Manter contatos com a comunidade envolvida: Com o objetivo de
manter uma comunicação real entre as partes, é importante não somente
considerar a comunidade ou famílias como meros espectadores ou
informantes, mas, de fato, tê-los como participantes e, assim, deve-se
explicar as razões para o trabalho, apresentando os passos a serem
seguidos. Desta forma pretende-se demonstrar sua importância em todo
o processo, ao tempo em que se identifica o interesse da comunidade ou
das famílias pela intervenção na área.

c) Contatos institucionais: com vistas a um reconhecimento expedito da


área e/ou da comunidade, pode-se lançar mão de instrumentos (mapas,
gráficos, figuras, fotos, relatórios, vídeos) que foram anteriormente
coletados. Quando se quer dados referentes à agropecuária, recomenda-
se uma consulta junto ao centros regionais de pesquisa e de assistência
técnica (p.ex.: EMBRAPA, EMATER); quando o assunto é questão
fundiária, deve-se procurar entidades e órgãos que trabalham com
reforma agrária (p.ex.: CPT, INCRA); se a idéia básica está centrada no
atendimento do serviço público, vale a pena buscar referências nas
instituições do setor (p.ex.: saúde = Fundação Nacional de Saúde,
Secretarias e Conselhos Estaduais e Municipais; educação =
Universidades, Secretarias de Governo, ONGs; transporte =
Departamento de Estradas; etc.).

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2. DIAGNÓSTICO

2.1. POR QUE FAZER UM DIAGNÓSTICO?

O propósito de um diagnóstico é conhecer a realidade de um lugar


ou uma situação. Não adianta começar um projeto ou programa sem
entender muito bem as condições da área e da população com que se vai
trabalhar. Sem o conhecimento da realidade, certamente vai se ter
problemas desnecessários, perdendo dinheiro, tempo e, principalmente, a
confiança desta população, o que inexoravelmente acarreta em fracasso.

2.2. PARA QUE FAZER UM DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO?

Um diagnóstico tradicional consiste de um levantamento levado a


efeito por uma pessoa que o faz para atender suas particulares
necessidades ou interesses, ou seja, ela coleta dados para ela mesma. É
uma tentativa de levantar dados que respeita o seu ponto de vista. No
final do diagnóstico a pessoa que faz o levantamento tem aprendido
muitas coisas, mas e os entrevistados? E os membros da comunidade?
Geralmente eles foram participantes passivos no processo, só servindo
como fonte de informação. Eles mesmos não aproveitaram, não
aprenderem nada do processo. Se o projeto é para os pequenos
produtores, se o objetivo é melhorar a vida deles, se o projeto prevê o
seu envolvimento, e se o projeto realmente É DELES, os produtores
devem participar ativamente em todas as fases, INCLUINDO o
diagnóstico. Se os produtores participam do diagnóstico, a equipe técnica
também vai aprender coisas novas porque estas serão originadas a partir
do ponto de vista dos produtores. Além disso, eles se sentem parte do
projeto desde o início, facilitando o seu compromisso em contribuir para
o alcance das metas estabelecidas, pois estas também foram
estabelecidas pela comunidade. Embora represente maior grau de
dificuldade, a participação dos produtores no diagnóstico e no desenho do
projeto favorece a redução dos riscos de erros e a possibilidade do
sucesso só tende a aumentar.

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2.3. ESCOLHA DO MÉTODO

O método mais apropriado para um levantamento de informações


acerca de uma área, de uma comunidade ou de famílias, deve levar em
consideração os aspectos estruturais do diagnóstico e seus objetivos.
Normalmente, há mais de uma maneira de obter uma informação
específica. Deve-se perguntar: qual o método mais adequado diante das
necessidades e circunstâncias que o cercam? Três aspectos são
essenciais para uma tomada de decisão a este respeito:
a) Recursos disponíveis – não é sensato realizar uma sondagem
formal, longa e complexa, se não houver condições estruturais para tal,
como disponibilidade de instalações informáticas e/ou de pessoal
treinado para auxiliar na tabulação e análise de resultados;
b) Disponibilidade de tempo – não é de bom senso realizar um
levantamento formal, longo e complexo, quando se verifica a necessidade
de obter informações ou respostas num curto espaço de tempo;
c) Natureza da informação ou razão para coleta de informação
– a informação qualitativa, ou seja, a relativa a opiniões, atitudes e
valores sócio-culturais do público pesquisado, é normalmente melhor
explorada em diagnósticos informais. Já a informação quantitativa, ou
seja, aquela que é relativa a quantidades e características mensuráveis, é
freqüentemente melhor analisada por meio de diagnósticos formais.

Considerando a experiência do PESACRE, o SONDEIO demonstrou


ser um método de diagnóstico que acentua a participação das
comunidades ou famílias permitindo a obtenção de informações,
principalmente qualitativa, mais próxima da realidade e inicia um
processo de aprendizagem dos técnicos e comunidades.

2.4. SONDEIO

q Origem: O sondeio ( do espanhol “Sondeo”) é uma técnica de


diagnóstico rápido, desenvolvida pelo Instituto de Ciências e
Tecnologia Agrícola da Guatemala ( ITA ) como resposta a restrições
orçamentárias e de outras metodologias usadas, e à necessidade de
redução de tempo, para aumentar a informação numa região onde a
geração de tecnologia não foi iniciada.

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q Objetivos do sondeio: a função do sondeio é o levantamento e análise
da região de trabalho, a identificação dos problemas, limitações e
soluções da comunidade, e a familiarização dos técnicos com a área e a
comunidade em que irão desenvolver o trabalho. Como não é baseado
em levantamento e análise de dados quantitativos, o sondeio pode ser
conduzido rapidamente. Não são usados questionários por isso as
famílias de produtores são entrevistadas de maneira informal, o que
não as inibe. Ao mesmo tempo, a equipe multidisciplinar que conduz a
entrevista ajuda a processar informações de pontos de vista
diferentes e/ou antagônicos, simultaneamente. A contrib uição de cada
disciplina é crítica em todo o processo do sondeio, porque a equipe não
sabe “a priori” que tipos de problemas ou limitações serão detectados.
Quanto maior for a participação das famílias produtoras e o número
de disciplinas envolvidas, maior é a probabilidade de se encontrar os
fatores positivos e negativos realmente mais importantes para região.

q Limitações do sondeio: ao optar por este método temos que ter claro
algumas limitações como a perda de informações, o elevado grau de
dificuldade em comunidades muito dispersas e insuficiência de
informações quantitativas.

q Duração de um sondeio: dependendo do tamanho, complexidade e


situação de acesso da área e do número de equipes, o sondeio poderá
ser completado em até 10 dias com um custo mínimo.

2.5. ETAPAS DO SONDEIO

Partindo do pressuposto de que o método SONDEIO corresponde


às possibilidades da equipe de pesquisa e da comunidade, necessário se
faz adotar os seguintes passos para a efetivação dos trabalhos:

2.5.1. Conversas com a comunidade

Consiste de discussões prévias com lideranças ou com antigos


membros da comunidade que guardam a história oral de períodos
passados e conhecem as atuais tendências do meio e da população, seja no
tocante a produção agrícola, seja na organização social e política, ou ainda
acerca de outros aspectos. Desta maneira é possível se certificar do
atual estágio de desenvolvimento da área em tela, o que poderá tornar o
futuro levantamento mais eficaz na medida em que se elabora as

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questões-chaves, sem se correr o risco de comprometer o diagnóstico
com questões que deve ser evitadas, muitas vezes até por razões
culturais. Nestas conversas monta-se o planejamento do sondeio.

2.5.2. Escolha dos instrumentos de coleta de dados

Para facilitar uma maior participação da família, é importante o uso


de instrumentos que permitam um maior envolvimento da mesma durante
a entrevista. Poderão ser utilizados um ou mais instrumentos informais
adaptando-os às diversas situações (mapas da unidade produtiva com a
identificação de quem desenvolve as atividade; transectos da unidade
com identificação das características ambientais; flanelógrafos para
construção de relações ou sonhos da família. etc.)

2.5.3 Preparação da equipe

A constituição da equipe é determinada pela disponibilidade de


recursos e pelo contexto do diagnóstico. Faz-se necessário considerar
algumas situações, como se segue:
q Tamanho da equipe: este varia de acordo com o objetivo do projeto

e com a complexidade do ambiente e condições sócio-econômicas.


Um número adequado se situa em torno de 8 e 9, porque pode-se
dividi-los em 4 ou 3 equipes menores de 2 ou 3 membros cada;

q A equipe deve ter um caráter multidisciplinar. Dessa forma cada


disciplina contribui com uma perspectiva própria para a análise dos
problemas e das soluções propostas. Uma boa composição de
disciplina incluirá economistas rurais, cientistas sociais e
ambientais, agrônomos e outros. O ideal é reunir um cientista social
a um economista e a um cientista natural (agrônomo, biólogo) por
equipe menor. Cada uma deve contar com a presença de uma
entrevistadora, de forma a assegurar que as produtoras sejam
entrevistadas, especialmente em situações nas quais não é
permitido ao pesquisador masculino entrevistar as mulheres da
família;

q A equipe menor pode ser reforçada por um produtor local de


preferência que este produtor não seja um líder, já que a sua
presença pode levar à distorção de uma informação, mas pessoas
que possam contribuir na coleta de informações descomprometidas
sobre o meio e orientar os deslocamentos.

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Após a escolha da equipe é importante prepará-la para as
entrevistas, principalmente no uso dos instrumentos.

2.5.4. A entrevista

q Roteiro: é importante a equipe elaborar um roteiro para entrevista


antes de partir para o campo. Essa medida visa orientar a conversa
com a família entrevistada, evitando paralelismo de assuntos que
tornam a entrevista um caos de comunicação, e auxilia a aprofundar
a discussão sobre determinados aspectos julgados interessantes,
que poderiam ser esquecidos. Porém, para não correr o risco de
transformar o roteiro em um questionário, a equipe deve levar em
conta as seguintes considerações:
a) Utilizar fontes de informações secundárias : reunir os dados
coletados na fase de pré-diagnóstico, relatórios anteriores,
entrevistas com extensionistas e pesquisadores que já atuam na
área, sondeios anteriores;
b) A equipe começa a se integrar quando verifica que chegou a um
consenso em relação a todos os assuntos incluídos no roteiro . Este
processo é resultado da contribuição de cada membro com opiniões
de particular relevância para sua disciplina;
c) O roteiro deve ser testado antes da saída para o campo, visando
assegurar que cada assunto será tratado na entrevista e até como
forma de garantir uma abordagem correta, sem constrangimentos
para ambas as partes, sobre os temas mais sensíveis.

q Constrangimentos da entrevista: antes de sair para o campo a equipe


deve estar ciente de possíveis falhas humanas. Há que procurar
evitá-las para que a família do produtor fique à vontade. Neste

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sentido alguns procedimentos devem ser exercitados, tais como:
• Apresentar-se bem,explicar por que está-se fazendo a entrevista;
• Não usar linguagem técnica e complicada;
• Perguntar se a hora é oportuna para a entrevista;
• Programar para chegar em hora apropriada;
• Pedir licença para tirar fotos;
• Evitar chegar comendo ou bebendo água que foi levada;
• Não interromper o(a) entrevistado(a) e nem os outros
• entrevistadores;
• Não discordar/contestar as respostas dos entrevistados;
• Cuidados para não ignorar mulheres e crianças;
• Evitar perguntas que induzem as respostas;
• Não criticar aspectos da vida dos entrevistados;
• Evitar o uso de comportamento (linguagem de corpo) impróprio;
• Evitar mostrar enfado ou impaciência;
• Evitar conselhos às famílias, anotar para posterior providência;
• Não pedir frutas ou outras coisas para levar consigo;

q Seleção dos entrevistados: Após formadas as equipes, estas deverão


entrevistar várias famílias de produtores por toda a área de estudo. É
mais prático, freqüentemente, utilizar métodos aleatórios, informais,
para escolha da família. Tais como decidir visitar a quarta propriedade
à direita num caminho escolhido. As equipes poderão também querer
entrevistar, propositadamente, algumas famílias com características
particulares, como produtoras de determinadas culturas ou que
desenvolvem certas técnicas. Há casos em que as equipes poderão
entrevistar toda a comunidade. Independente da seleção das famílias,
é sempre aconselhável os membros das equipes entrevistarem pessoas
que interatuam com freqüência com estas (comerciantes, professores,
extensionistas, agentes de saúde, etc. ), com o fim de se ter ampliada
a visão da comunidade.

q Entrevistar a família: devem ser feitos todos os esforços para


entrevistar a família, e não somente o homem como geralmente se
faz. As mulheres são responsáveis por enorme parcela da mão -de-
obra produtiva da unidade familiar. Se possível, além do homem e da
mulher as equipes devem reunir-se inclusive na presença das crianças
e jovens e dos agregados (parentes ou não).

q Local da entrevista: as entrevistas devem ser conduzidas na área


pertencente à família. Preferencialmente nos locais sobre os quais

19
está-se fazendo perguntas (casa, roçados, açude, curral, pomar, etc.)
como meio de obter respostas e opiniões específicas do entrevistado.
Além disso, os entrevistadores inspirarão maior confiança às famílias
se percorrerem as suas propriedades.

q Número de entrevistas por dia: Como este tipo de diagnóstico não


recomenda-se o uso de questionário, a observação pessoal e outros
instrumentos informais pode ser um dos melhores meios de coleta de
dados. Isto posto, é preciso considerar que os membros deverão está
atentos para perceber dia a dia das famílias, que é muito rica em
detalhes. Além de bons observadores, os membros das equipes
devem estar descansados mental e fisicamente para observar, e não
esquecer o grande volume de informações que está sendo repassado
pelos entrevistados e para percorrer os locais de interesse de
levantamento. Em vista desta característica, recomenda-se o máximo
de duas entrevista diárias, e cerca de duas horas de conversa cada,
de preferência no período da manhã. Uma terceira entrevista pode
ser feita, desde que não se tenha a necessidade de riqueza de
detalhes ou de muita profundidade.

q Registro da entrevista: após ter completado a entrevista, a equipe


deve procurar um local adequado para registrar as informações
colhidas. Outra forma de registro é através dos instrumentos
informais que foram construídos durante as entrevistas.

q Elementos importantes nas entrevistas : Ao final do dia, a equipe


geral se reúne para processar as informações, em local apropriado.
Cada membro da equipe apresenta suas impressões iniciais
observadas durante a visita e todo o grupo de entrevistadores
discute, dando início ao processo de análise da situação da área.
Durante a discussão, cada membro da equipe observa como as
interpretações dos outros podem ser importantes na compreensão
de problemas ou da cultura das famílias da região. As dúvidas ou
hipóteses levantadas no decorrer da discussão irão servir como base
para as sessões de entrevistes seguintes. Depois desta troca de
idéias, as equipes são alteras, ou seja, forma-se equipes com
membro diferentes procedendo-se este rodízio todos os dias do
sondeio, para maximizar a interação disciplinar e minimizar os
preconceitos dos entrevistadores. Isto facilita ao intercâmbio de
idéias e ajuda a estabelecer uma melhor comunicação entre os
membro da equipe geral. Este processo continua pelos dias

20
seguintes, desta maneira, os tópicos de maior interesse podem ser
melhor explorados. Encerradas as entrevistas começa a análise.
Todos devem trabalhar no mesmo local, apenas separados por
assunto, para que possam circular e debater livremente uns com os
outros. A medida em que as equipes trabalham, invariavelmente irão
encontrar pontos para os quais ninguém tem resposta. A melhor
solução é destacar a dúvida e apresentá-lo na discussão com a
comunidade

2.6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Um outro passo importante a ser considerado quando coletamos


dados, é a fase de discussão dos resultados. Esta discussão com a
comunidade se reveste da maior importância para que as soluções
possíveis sejam dirigidas realmente a problemas prioritários das famílias.
A análise e interpretação dos entrevistados soa como uma validação de
todo o processo, uma vez que o sucesso do trabalho futuro, seja pesquisa
e/ou extensão, depende da participação efetiva do público beneficiado.
Neste momento não podemos esquecer de considerar alguns pontos
importantes já levantados anteriormente:
• O uso de instrumentos (privilegiando os visuais) que permitam prender
a atenção, facilitar um melhor entendimento dos pontos a serem
apresentados, dar maior segurança a comunidade;
• Utilização de linguagem simples, de fácil compreensão;
• Considerar a heterogeneidade do grupo trabalhado (associação/
comunidade...);
• Facilitar a participação dos diferentes grupos de interesse, inclusive
por gênero;
• Colocando-se na postura de facilitador do processo.

A discussão permite uma análise por parte dos envolvidos no


processo, contribui para a reflexão dos problemas e a definição dos
principais problemas que o grupo deseja trabalhar. Necessário se faz
observar que a análise das recomendações/conclusões das equipes pode
não ser a mais correta para aquele momento e/ou situação, daí a
necessidade de uma reflexão por parte do grupo envolvido, inclusive
acrescentando novos elementos e/ou modificando outros.
As modificações que ocorrerem devem fazer parte do relatório final
que servirá de base para a montagem do planejamento.

21
2.5.1. Elaboração do relatório

O relatório é um produto do Sondeio que não determina o final dos


trabalhos. Recomenda-se o uso de linguagem acessível ao grupo que irá se
utilizar dos resultados, inclusão dos instrumentos trabalhados e um
formato adequado a cada situação.
Um relatório mais simples pode ter uma introdução, a descrição dos
procedimentos metodológicos, os resultados obtidos, a discussão e
análise destes resultados e a conclusão, sendo que ao final deve-se
acrescentar os anexos que se fizerem necessários.

3. FORMULAÇÃO DO PROJETO OU PLANEJAMENTO

No mesmo dia da discussão do relatório ou em outro momento dar-


se-á início ao planejamento das ações.
As atividades do programa não podem ser definidas isoladamente
por técnicos, como se fosse uma receita médica para os males da
comunidade, sob o risco de perder a oportunidade de efetivação da mais
importante parceria: comunidade-técnicos. Mesmo que a primeira não
tenha experiência em planejar, certamente tem a capacidade de julgar
quais as ações iniciais têm a possibilidade de garantir o sucesso do plano
por inteiro. Segundo Bunch (1985 ), são numerosas as razões a favor da
participação da comunidade no planejamento de um programa. Primeiro, o
entusiasmo, a força impulsora do desenvolvimento, será muito maior e as
pessoas sentem que o programa lhes pertence, que elas têm participado
em seu planejamento e formação. Segundo, a medida que as famílias
contribuem para a decisão do programa, se sentirão comprometidas em
lutar para que este tenha êxito. Terceiro, a participação da comunidade
combaterá toda classe de suspeitas sobre programa e ajudará a que as
pessoas valorizem a complexidade do trabalho de um bom programa
agrícola. Quarto, planejar um programa com orçamento de $ 20,000
anuais, por exemplo, pode trazer um sentido de confiança e auto-estima a
quem nunca havia manejado mais do que uns poucos dólares. Em quinto
lugar, as pessoas da comunidade têm que participar do planejamento
porque elas, mais que qualquer outra, conhecem as condições de suas
áreas e os sentimentos dos que vivem ali. Tem-se que desmistificar que
os profissionais têm a resposta para todas as perguntas e solução de
todos os problemas. Qualquer programa que não está aproveitando os
conhecimentos da comunidade, desde o planejamento, está, até certo
ponto, dando passos de cego, completa Bunch.

22
Assim sendo, no tópico de discussão dos resultados referente a
problemas e recomendações, a discussão deve ser mais apurada, pois é a
partir da definição das soluções que se inicia o planejamento do
trabalhos futuros. Neste momento todos devem contribuir para priorizar
as ações que fundamentarão as linhas de trabalho, sejam de pesquisa ou
extensão. Antes, porém, de ordenar os problemas prioritários, cabe uma
análise profunda sobre cada recomendação, considerando a importância
das atividades para as famílias e a factibilidade, que por sua vez inclui
uma avaliação dos fatores internos ( mão-de-obra, baixo nível
tecnológico, falta de recursos financeiros e de insumos, etc.) e externos
( situação orçamentária de órgãos de públicos, situação fundiária, vias de
transporte, políticas de preço, crédito, et.) que podem influenciar a
concretização de futuras ações.
Obviamente que nem todas as limitações serão eliminadas ou
mesmo minimizadas pela ação conjunta das equipes e comunidade.
Principalmente aquelas que se relacionam, com políticas externas à
comunidade, ou que dependam da atuação de uma instituição especializada
em determinado serviço ( saúde, estrada, educação, etc.) ou de setor
público. Mesmo assim, a equipe técnica, quando pode, deve funcionar como
um elo de ligação necessária entre a comunidade e círculos políticos.

QUADRO 1: Exemplo de análise e priorização de recomendações

Incremento da Cursos e Implant. de um


Gênero e Saúde
produção Treinamentos Prog. de educ.
ambiental

Estimular a instalação Curso de produção de Orientar o uso de fontes Realizar atividades


de hortas caseiras mudas de água que envolvam as

Vacinar os Curso sobre Estimular o uso de Reparo do posto de


animais administração produtos florestais saúde

Orientar quanto a
armazenagem de Curso sobre Orientar o uso de
sementes e grãos comercialização. agrotóxicos

Observação: após organizar as recomendações no mural, todo grupo


discutirá cada uma, aplicando um número ou símbolo que identifique
aquela de prioridade 1, 2, 3,...,n.

23
De uma forma geral, é recomendável usar de flexibilidade no
planejamento, visando assegurar participação crescente das pessoas da
comunidade, e adotar os seguintes procedimentos:
q Identificar oportunidades de trabalho, definindo os objetivos; as
metas; as fontes de recursos; estimativas das necessidades, de custo
de tempo; e a coordenação e o pessoal de execução;
q Identificar e classificar parcerias, segundo os critérios de Positiva-

Neutra-Negativa;
q Definir estratégia de ação, determinando as táticas para alcançá-las;

q Elaborar cronograma de atividades;

q Definir um programa de monitoramento e avaliação.

3.1. FORMULANDO OBJETIVOS

Na formulação dos objetivos considerar alguns aspectos chaves:


frases simples e curtas; o tempo do verbo- descrever condições futuras;
clareza (sem ambigüidades); formular um de cada vez; e ações completas.

n Exemplos de verbos: Classificado, comparado, construído, enumerado,


feito, identificado, listado, nomeado, reproduzido, selecionado.

3.2. TÁTICAS
Como propósito de determinar as táticas estratégicas, pode se
aplicar os seguintes critérios
q Deve ser uma ação prática, realista e possível de completar/realizar

nos próximos meses;


q Depende de dois fatores importantes: disponibilidade de pessoal e

custo;
q Deve ser uma ação que realmente você queira fazer.

QUADRO 2: Exemplo de Cronograma de Atividade


ATIVIDADE Quem Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Reunião de ¥ ---
Planejamento
Organizar materiais Ð -----
Práticas de viveiro ¥ ----------------------------------
Plantio de mudas Ð £ -----------------------
Monitoramento ¥ ---- ---- ----- ------

¥= todos Ð= homens £= mulheres

24
3.3. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Monitoramento: um processo de revisão sistemática e crítica de


uma operação com o objetivo de verificar a operação e adaptá-la às
circunstâncias. Isto implica que o monitoramento seja uma forma mais
freqüente de reflexão, principalmente ao nível operacional.
Avaliação: envolve uma análise compreensiva sobre a operação
com o objetivo de adaptar a estratégia e o planejamento às
circunstâncias. Isto implica que a avaliação seja uma forma menos
freqüente de reflexão, é mais profunda e conduz a decisões mais
fundamentais.
Tanto para o monitoramento quanto para a avaliação o
estabelecimento prévio de indicadores é importante e deve ocorrer na
fase do planejamento. A base de dados do monitoramento e avaliação
será a do diagnóstico.

3.3.1. INDICADORES

Indicadores são medidas de progresso e impacto que podem ser


comparado a uma placa que indica se estamos na estrada certa. Eles
mostram o andamento do plano, programa e/ou projeto. Expressam:
quantidade (quanto); qualidade (quão bem); tempo (quando); relações de
gênero (quem).
Devem ser práticos e de custo adequado, fornecendo a base para o
gerenciamento do plano e para os relatórios.
Para definir indicadores podemos utilizar perguntas como:
- Quais são as principais informações que podem nos dizer melhor se
chegamos onde queremos?
- Como podemos medir se houve êxito no programa, projeto.....

QUADRO 3. Exemplo de um Projeto de Pequenas Produtoras Rurais


Objetivo Geral Indicadores
Melhoria das condições de vida das famílias Família produtoras rurais tendo acesso a novos
produtoras da comunidade Sâo José/AC bens
Objetivo Específico
Aumentar a renda da família de produtores rurais 20 familias de aumentando sua renda em 30%
Resultados
- Aumentar a produção de artesanato Aumento de 30 a 40% da produção de artesanato
- Organizar uma associação de artesãs Uma organização de artesãs funcionando
Atividades
- Cadastrar artesãs, organizar a documentação Fichário das artesãs organizados
- Registrar a associação Documentação das artesãs e da associação
- Capacitar artesãs na qualidade dos produtos organizados
- Organização da produção de artesanato e 3 treinamentos para as 20 artesãs
comercialização Plano de negócios das artesãs

25
4. IMPLEMENTAÇÃO e M & A

O programa de trabalho deve ser iniciado com ações mais fáceis,


de baixo custo e catalisadoras de outras ações. Visando implementar o
plano de execução, aconselha-se observar os seguintes critérios:
q Não promover e desestimular qualquer ação paternalista;

q Evitar ostentar dinheiro;

q Não esquecer Gênero;

q Reconhecer e respeitar o valor do conhecimento do(a) produto(a);

q Desenvolver uma compreensão de liderança, não de um líder;

q Lembrar que você não é o chefe e nem pretende ser herói;

q Contribuir com as famílias para fazerem seus próprios ensaios;

q Discutir, a qualquer momento, com a comunidade, o andamento dos

trabalhos, promovendo assim o processo de retroalimentação.

A avaliação de novas práticas introduzidas ou adaptadas tem que


abranger uma gama de fatores que poderão influenciar os resultados
esperados. A avaliação deve explorar e obedecer alguns critérios, tais
como:

q Estabelecer o pressuposto básico: equipe multidisciplinar e ação


participativa;
q Destacar a participação de homens, mulheres e crianças; verificar o
nível desta participação; registrar a avaliação da comunidade; as
famílias da área de trabalho deve estabelecer a importância para elas
(o objetivo é o esperado, necessita a ampliação do projeto e o impacto
na região?);
q Observar se o trabalho está promovendo alguma interação
institucional além da prevista;
q Verificar quais os impactos, e o nível, que o trabalho está promovendo,
do ponto de vista social, econômico, ambiental e cultural; considerando
o envolvimento de mulheres e crianças, a diversificação da base
produtiva, interações resultantes das mudanças nas relações sociais,
econômicas e culturais, a rentabilidade dos sistemas introduzidos;
q Listar as contribuições na geração ou adaptação e difusão de
tecnologias e conhecimentos;
q Verificar se as tecnologias são adequadas e como estão sendo
adotadas;
q Observar se os objetivos do programa estão sendo atendidos.

26
De posse deste rol de recomendações, deve-se seguir os passos
seguintes com vistas à efetivação do plano de monitoramento e avaliação:
q que se quer fazer?

q Por que fazer ( razões para fazer )?

q Para que fazer (objetivos)?

q Quem vai participar?

q Quando fazer ?

É importante, pois, que os grupos incorporem a avaliação em seu


trabalho permanentemente e não somente use-a como ferramenta de
final de trabalho, ou quando se tem dificuldades. Isto é, o monitoramento
e a avaliação permanente, significa uma forma de se manter todas as
etapas do trabalho em pleno funcionamento.

5. RECOMENDAÇÃO E/OU DISSEMINAÇÃO

Nesta fase, após testadas as tecnologias, é o momento de repassa-


las para comunidades semelhantes (o repasse na maioria das vezes é feito
pelos próprios(as) produtores (as)) ou se for o caso propor como política
pública.

27
CAPÍTULO IV

CONSIDERANDO GÊNERO NA Pesa

1. GÊNERO E DESENVOLVIMENTO

Os esforços para o desenvolvimento inclui segurança alimentar e


nutrição, energia, emprego, renda, saúde, educação, agricultura
sustentável e recursos naturais. Existe reconhecimento cada vez maior
de que, em qualquer estratégia sustentável, as necessidades ambientais e
sócio -econômicas dos diferentes grupos sociais, assim como das mulheres
e homens, devem ser prioritárias na resolução de problemas.
As políticas de desenvolvimento afastam-se cada vez mais de
enfoque unilateral sobre o setor da produção, para caminhar em direção a
uma forma de desenvolvimento que trabalhe a conservação, priorizando
as ligações entre população e recursos. Os esforços atuais são no sentido
da resolução da pobreza urbana e rural, promovendo a população local com
seus agentes e beneficiários das atividades de desenvolvimento além da
preocupação com a sustentabilidade ambiental.
Planejar para o desenvolvimento “centrado na população” com uma
“abordagem de conservação ”, requer informação mais precisa sobre as
características dessa população, que não forma um grupo homogêneo, mas
atores com diferentes níveis de poder, interesses distintos e constantes
negociações.

2. ANÁLISE DE INTERESSADOS

Análise de grupos de interesse é um instrumento que ajuda a


entender melhor o ambiente em torno da ação que será desenvolvida, os
grupos afetados e os que poderão afetar a tomada de decisões e os
resultados.
Para desenvolver esta análise é importante a identificação dos
diferentes grupos ( instituições formais ou informais, governamentais ou
não governamentais, grupos organizados ou não, comunidades, indivíduos),
principalmente os que tem menos poder, pois muitas vezes são os que são
mais afetados pelos projetos, programas e/ou políticas.
Outros elementos a serem considerados nesta análise são: quais
são os interesses de cada grupo; todos os grupos estão envolvidos no
projeto; quais os conflitos existentes entre eles; e quais as possíveis
estratégias de negociação e/ou de oportunidade?

28
Uma sugestão para esta análise é a utilização de um quadro que
permita a visualização dos atores envolvidos e a dimensão de seu
envolvimento/poder, utilizando círculos de tamanhos e cores diferentes,
e uma discussão das possíveis estratégias de negociação e/ou
oportunidade.

Associação Extração de Governo


açaí federal

Fábrica de
açaí em pó
Não associados,
extratores de
Prefeitura açaí

IBAMA

Pode-se inserir o resultado da análise numa tabela (p.ex.):

GRUPO Interesse na Afeta Afetado Estratégias


Questão
IBAMA Conservação X Autorização sobre o
plano de manejo
Prefeitura Impostos/produção X X Legalização da fábrica
..........

3. GÊNERO

Gênero afeta e molda oportunidades para capacitação a nível local,


através de fatores culturais, políticos e econômicos. A experiência
mostra que a informação sobre gênero é vital para as atividades efetivas
e sustentáveis. Na realidade, todas as pessoas interessadas no
desenvolvimento sustentável e na capacitação, a longo prazo, das
comunidades locais, devem considerar a questão gênero (Oxford
University Press, 1993).

29
GÊNERO (IICA,93)

Feminino Masculino

Reprodutivo/Produtivo Produtivo/Reprodutivo

Se aprende
(não se nasce com ele)

É construído socialmente

Pode trocar, ser revisto Comentário: Adaptado do


"Seminario-taller para técnicos y
promotores sobre relaciones de
género y desarrollo rural:
Em todo lugar e em qualquer grupo sócio-econômico, as vidas das instrumentos de trabajo". IICA,
mulheres e homens são estruturadas de forma fundamentalmente
1993

diferente. Uma divisão de trabalho baseada em gênero é universal: mas


ela difere segundo cultura, local, grupo étnico e classe social. Sem esta
informação desagregada por gênero que revela o que mulheres e homens
sabem, fazem e precisam, o planejamento para o desenvolvimento pode
correr risco de fracasso ou de impactos negativos.
Enfim, gênero refere-se às diferenças e relações construídas
socialmente entre mulheres e homens, que variam de acordo com a
cultura, situação e contexto. A análise de gênero requer que se vá além
das declarações sobre "mulheres" e "homens" para entender como
fatores históricos, demográficos, institucionais, sócio -econômicos e
ecológicos afetam as relações entre mulheres e homens de diferentes
grupos. A análise de gênero enfoca, além da interação homem-mulher,
outras variáveis socialmente importantes, tais como: idade, estado civil,
papel econômico, etnia, status ....(SCHMINK, 1999)

30
3.1. ANÁLISE DE GÊNERO

Empregando a análise de gênero, os planejadores obtêm um


desenvolvimento mais sustentável, eqüitativo e efetivo.
Os métodos tradicionais de coletas de dados freqüentemente
omitiram os múltiplos papéis e as contribuições da mulheres para o
desenvolvimento. Alguns programas de desenvolvimento focalizam a casa
ou a família como unidade de análise. Esses enfoques declara que cada
membro da família partilhava, igualmente, dos benefícios que advêm da
família como um todo. Tal postura provou ser incorreto.
A informação desagregada por gênero é diferente daquelas
coletadas por estes métodos, ela utiliza como unidade de análise a pessoa
como indivíduo. Assim a palavra chave na análise de gênero é QUEM.

3.2. INCORPORAÇÃO DE GÊNERO NOS TRABALHOS

A incorporação de Gênero deve ocorrer nas diferentes fase


de um programa, desde o seu diagnóstico, até o planejamento, na
implementação e no monitoramento e avaliação.
Identificando Quem faz o quê, Quem tem acesso e controle sobre
os recursos, Quem recebe os benefícios, Quem é responsável pelas
atividades e/ou pelos gastos, Quem esta disponível nos diferentes
trabalhos, Quem toma decisão na família e na comunidade....., poderemos
trabalhar melhor as formas de participação (que grupos ou quem podemos
estar motivando mais), assim como delinear o trabalho de extensão para
ter mais êxito e buscando a maior equidade.

3.3. INSTRUMENTOS PARA ANÁLISE DE GÊNERO

Esses instrumentos são pilares de projetos e programas que visam


a mudança da “equação do poder”. Eles revelam como as diferenças de
gênero definem os direitos, responsabilidades e oportunidades das
pessoas em sociedade. O reconhecimento de como as formas de
desenvolvimento afetam, diferente, homens e mulheres, permitem aos
planejadores incorporar este fator na implementação bem sucedida, no
monitoramento e avaliação da democracia na gerência de programas e
projetos de desenvolvimento.
Tais instrumentos oferecem maneiras de reunir dados e analisar
gênero como uma variável na organização para o desenvolvimento da
família e da comunidade. Os métodos, para tanto, proporcionam novas

31
percepções sobre o contexto regional e permite um entendimento mais
amplo da situação da comunidade, facilitando a criação de um programa
de desenvolvimento mais amplo e efetivo.

3.4. INDICADORES DE GÊNERO

Os indicadores de gênero podem ser baseado nas seguintes


questões:

q Divisão do trabalho - Quem faz o que ?


q Fontes de renda - Quem recebe salários/renda ?
q Padrões de gastos - Quem é responsável por quais gastos ?
q Disponibilidade de tempo - Quem está disponível para trabalhar
durante as diferentes estações ?
q Tomada de decisão - Quem toma quais decisões dentro da
família e dentro da comunidade ?
q Acesso e recurso - Quem controla os recursos ?

32
BIBLIOGRAFIA

Bunch, Roland (1985) Dos Mazorcas de Maíz. World Neighbors, Inc.


Oklahoma City.

Chambers, Robert, (1992) “Diagnóstico Rurales Participativos: Passado,


presente y Futuro”.

Bosques, Arboles, y Comunidades Rurales Edición Latinoamericano.


Octubre: 15/16 . FAO, Rome y IRDC/SUAS, Uppsala.

Ferrari, Eugênio A. (1991) “Aplicação do DRPA na Zona da Mata”.


Alternativas: Cadernos de Agroecologia. Junho. Assessoria e Serviços a
Projetos em Agricultura Alternativa, Rio de Janeiro.

IICA - "Seminario-taller para técnicos y promotores sobre relaciones de


género y desarrollo rural: Instrumentos de trabajo", 1993 (adaptado)

Hildebrand, Peter, Susan Poats and Lisette Walecka, (1987). Introdução


à Pesquisa e Extensão de Sistemas Agropecuárias, University of Florida,
Gainesville. Traduzido por Miguel Proença.

Oxford University Press, Human Development Report, 1993.

PESACRE (1993) Curso Síntese Sobre Metodologia de Pesquisa em


Extensão em Sistema Agroflorestais: Relatório do SONDEIO. Rio
Branco, Acre.

Raintree, J. B., (1990) “Theory and Practice of Agroflorestry Diagnosis


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Raintree, J.B. (1987) D&D User's Manual: Na Introduction to


Agroflorestry Diagnosis and Design. International Council for Research
in Agroflorestry (ICRAF), Nairobi.

Rivera, María, Teresa (1993) “Como Elaborar um Diseño de Evaluación?”.


La Evaluación Participativa, Cartilla 2 da Colección Aportes para la
Capacitación Popular, Serie 2. ALAI- Abya-Yala, Quito.

SCHMINK, Marianne - Marco Conceitual sobre Gênero e Conservação com


base Comunitária, 1999.

33

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