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RAICH, Mario; DOLAN, Simon.

Adiante: As empresas e a sociedade em


transformação. São Paulo: Saraiva, 2010. Trad. Cristina Yamagami, Marcelo Melo.

Resenhado por: Alessandro M. Schwamborn e Marcos Roberto Rosa (Adm. – FMP).

1º) Temas como: inovações tecnológicas e seus aspectos sociais, desenvolvimento sustentável,
mudança social, degradação dos ecossistemas, realidade virtual, entre tantos outros assuntos
contemporâneos são as bases filosóficas de sustentação da obra. Poder-se-ia dizer que os autores
fincaram como marcos estruturais do livro o tripé: tecnologia, sociedade e sustentabilidade.
2º) Ante as questões-chave apresentadas na obra surgem alguns questionamentos: podemos ainda
nos dar ao luxo da negação, e continuar a viver como se tudo estivesse bem? Como irão todas
essas questões afetar os negócios e a sociedade? Se formos incapazes de parar o rápido
crescimento da população teremos alguma chance de sucesso? Estas questões centrais, e muitas
outras abordadas no decorrer do livro, todas interconectadas e reforçando umas às outras, são
analisadas e tratadas pelos autores de uma forma inovadora e com uma visão diferenciada de
nosso tempo.
3º) O livro é dividido em seis capítulos e estes trabalhados em subtítulos não esquematizados. Os
autores, na introdução, abordam temas relacionados às mudanças que vem acontecendo no
chamado “mundo novo”, onde apresentam um modelo mental direcionado ao sonhar “grande” e
“diferente”, desenvolvendo um modo de pensar e agir distintos, defendendo que o futuro nasce
na nossa imaginação. Criticam o “economismo”, traduzido como uma “ideologia substituta –
dirigida pela incessante obsessão por mais” (p.33), e defendem uma nova utopia onde sugerem a
possibilidade de feminizar nossa cultura. Censuram o capital, alegando que “hoje tem-se a
impressão de que a multiplicação do capital é o único propósito da economia” (p. 42).
4º) No segundo capítulo, Raich e Dolan apontam como maiores obstáculos ao futuro sustentável:
o acelerado crescimento demográfico no planeta, os avanços da ciência e tecnologia e o processo
de globalização. Atestam que as sociedades, dúbias entre um mundo unipolar ou multipolar, não
chegam a acordos sobre o melhor sistema de governo ou estilo de vida. Assinalam como grandes
ameaças ao futuro da civilização: guerras, agentes poluidores, escassez de alimentos,
dependência de combustíveis fósseis, concentração de renda, efeitos inesperados de novas
tecnologias e grandes catástrofes naturais. Segundo os autores tais “riscos tem sido
negligenciados ou ignorados o máximo possível por líderes políticos para evitar o pânico e a
paralisia” (p. 68). Concluem o capítulo sugerindo que “a educação global é a nossa única chance
de mudar as atitudes das pessoas na direção da nova economia e lhes dar uma chance de ter uma
vida digna” (p. 162).
5º) No terceiro capítulo os autores criticam as soluções já propostas, por se basearem em padrões
sociais e econômicos existentes, defendendo uma abordagem além dos modelos atuais e
pregando “a conscientização da situação e o reconhecimento de que estamos à beira do colapso”
(p. 167). Admitem o empreendedorismo com a força humana mais poderosa, porém criticam seu
direcionamento. Propõem novos modelos sociais e econômicos e apresentam como recurso a
criação da “Edu-World Foundation”, “financiada pelas contribuições de doadores corporativos e
pessoas abastadas” (p. 224), e por uma espécie de imposto de valor agregado denominado “Edu-
Tax”. Com conteúdo acessível gratuitamente a todos, virtualmente em qualquer lugar do mundo,
e programas presenciais chamados “Edu-Camps” e “Edu-Practice”, pagos pelos participantes
com base no custo de vida de seu país de origem, será desenvolvido, supervisionado e atualizado
pelo “Edu-Council”, composto por membros selecionados que contarão com a colaboração de
agentes virtuais provenientes de qualquer fonte do Metaverso.
6º) As abordagens do capítulo quatro tratam da transição da Era da Propriedade para a Era do
Conhecimento, destacada como um período “virtual” com destaque para o empreendedorismo
como mecanismo de implementação de mudanças, defendendo que “a criatividade é o link para o
infinito” (p. 244). Tratam da inovação como catalisadora de mudanças e criação de valor e
apresentam como seus maiores desafios “as questões que ameaçam nossa civilização e a
existência humana” (p. 265). Criticam, mais uma vez, o sistema das atuais escolas de negócios e
sugerem um sistema de ensino baseado em: novos formatos de trabalho, novas formas de
educação e novas formas de criação de valor. Pregam a criação de uma economia fundamentada
no holístico com uma gestão baseada em valores e propõe um modelo tridimensional da gestão
por valores, promovendo uma reengenharia da cultura organizacional e social.
7º) No quinto capítulo os autores apresentam um resumo das principais ideias do livro. A busca
por adeptos ao projeto apresentado na obra é o ponto central do sexto capítulo, onde os autores
incitam o leitor a participar do desenvolvimento da “Grande Transformação”.
8º) O assunto tratado na obra, de forma alarmista, não é nenhuma novidade. Thomas Robert
Malthus (1798 apud Dias, 2009, p. 6) já afirmava, dando destaque ao crescimento populacional,
que “o poder da população é infinitamente maior que o da Terra para produzir a subsistência do
homem”, demonstrando que há mais de 200 anos o homem se preocupa com o crescimento
demográfico e busca soluções para este problema. O recurso proposto pelos autores, de criar uma
rede mundial de educação que vise a socialização do conhecimento e dos meios para “salvar o
planeta”, se apresenta de maneira pouco elucidativa, culminando mais dúvidas que soluções. Ao
vincular o financiamento do projeto às empresas e pessoas físicas “mais abastadas”, os
signatários buscam no sistema econômico que criticam as bases para consolidação de seu
intento, algo, no mínimo, inusitado. A leitura da obra é cansativa, por vezes até repetitiva, sem
nexo temporal ou encadeamento de ideias entre os capítulos. O conteúdo apresentado como base
teórica é bastante rico, talvez o único motivo que justifique a leitura. Assim sendo, sua leitura é
recomendada com ressalvas, onde o leitor deve buscar conhecer antecipadamente o assunto
tratado. Caso o leitor tenha seu primeiro contato com o assunto através desta obra, ele poderá
incorrer no risco de deturpar sua visão acerca das organizações e dos avanços, tecnológicos e
humanos, obtidos ao longo dos últimos dois séculos, fixando sua percepção somente nos pontos
negativos advindos do processo de industrialização da civilização. Como forma de contraposição
ao pensamento fatalista e desfavorável dos autores, Dias (2009, p. 84), fazendo coro a outros
autores, defende que “das instituições existentes nas sociedades humanas, as empresas
constituem, hoje, um dos principais agentes responsáveis pela obtenção de um desenvolvimento
sustentável”.

REFERÊNCIAS

DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. 1. ed. - 5.


reimpr. São Paulo: Atlas, 2009.

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