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Coleção Os
Pensadores. São Paulo: Abril, 1976.
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- Até o fim do século XIX, a maioria dos antropólogos era “de gabinete”. Sem
contato direto com os povos estudados. Trabalhos baseavam-se em materiais
históricos e arqueológicos sobre a civilizações clássicas e orientais e em
relatos de viajantes, missionários e funcionários dos governos coloniais (p. IX)
[Porque??]
- O funcionalismo.
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- O funcionalismo, na Antropologia, desenvolveu-se em 3 linhas: a dos
discípulos de Boas, nos EUA; a de Malinowsli e a de Radcliffe-Brown, na
Inglaterra.
- A observação participante.
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- Interessante: chega à Austrália no início da Primeira Guerra Mundial. Era
tecnicamente súdito austríaco – “cidadão inimigo”. Só volta à Inglaterra depois
de cessado o conflito. Em parte foi por isso seu longo trabalho de campo.
- Volta à Austrália, onde ordena por um ano e meio o material coletado. Publica
artigos – entre eles Baloma – e volta ao campo entre outubro de 1917 e
outubro de 1918.
- Esse intervalo entre duas estadias de campo acabou tornando-se uma das
premissas da pesquisa etnográfica tal como por ele prescrevida. Mas nem
sempre ele é possível.
- A instituição.
- Argonautas.
- Em seu ensaio Uma Teoria Científica da Cultura, publicado anos mais tarde, a
instituição é sempre uma unidade multidimensional, que compreende uma
constituição ou código, que consiste no sistema de valores em vista dos quais
os seres humanos se associam; isto é, corresponde à idéia de instituição tal
como é percebida pelos membros da própria sociedade. Compreende também
um grupo humano organizado, cujas atividades realizam a instituição. Essas
atividades se processam de acordo com normas e regras, que constituem mais
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um elemento dessa totalidade. Finalmente, compreende um equipamento
material que o grupo manipula no desempenho de suas atividades. Esses
diferentes elementos definem o que ele chama de “estrutura da instituição”.
[Estrutura]
- Instituição não é soma dos aspectos de sua estrutura, mas sua síntese. A
integração das diferentes dimensões da cultura é a referência constante de
toda a investigação. Não se deve confundir a síntese construída pelo
antropólogo com a idéia que dela fazem seus portadores. Insiste na diferença
entre o código e as normas da instituição e as atividades efetivamente
desempenhadas pelos membros do grupo. É através da análise das atividades
e de seus resultados que o investigador encontra instrumentos para superar a
consciência restrita e deformada que os membros de uma sociedade possuem
de sua própria cultura (p. XVI).
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[Essa era a pretensão dele ao analisar o Kula. A crítica pós-moderna e pós-
colonial, dentre outros aspectos, vai questionar essa noção de todo e a
ausência de conflito].
- Sexo e cultura.
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- A terceira grande monografia sobre Trobriand foi Coral Gardens, de 1935.
Formulações teóricas melhor expostas. Retoma a questão da economia
primitiva, voltando-se para a questão da pripriedade da terra e para o estudo do
trabalho agrícola nas ilhas. Busca resolver os problemas relativos à integração
da cultura. Também passa a se preocupar com a questão da estrutura social. E
aparece uma análise do sistema de parentesco.
- Publicações póstumas.
- Em 1938, vai para Tucson, EUA (questões de saúde). Com o início da Guerra
na Europa, prolonga a estadia. Passa a lecionar em Yale em 1939, até 1942.
Inicia novo trabalho de campo entre os Zapotec, no México. Em 1942, é
nomeado professor permanente, mas falece em maio, antes de tomar posse do
cargo.
- Depois de morto, sua esposa, auxiliada por discípulos e amigos, publica seus
manuscritos em Uma Teoria Científica da Cultura e outros ensaios, em 1944.
Em 1945, As dinâmicas da mudança cultural. Nesse trabalho, a análise da
transformação cultural assume a forma rígida de relações entre 3 culturas
distintas: a do colonizador, a tribal e a nova cultura que emerge da interação
entre as duas.
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- Obras póstumas guardam, apesar de sua ampla divulgação e aceitação, um
caráter de improvisação e estão cheias de generalizações apressadas e
contradições Muitas das críticas dirigidas a ele e à fragilidade de sua teoria da
cultura estão justamente baseadas neles, que prestam-se a críticas fáceis.
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- “Um nativo entre os nativos” (p. 5). Análise do Kula – “extraordinário sistema
de trocas (econômico ou comercial apenas em parte) utilizado pelos ilhéus
entre si e com os habitantes das ilhas circunvizinhas” (p. 5).
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- Importância que a magia adquire nesta instituição. A realização de rituais de
magia e o uso de fórmulas mágicas são indispensáveis ao bom êxito no Kula
em todas as suas fases – desde a derrubada das árvores cujos troncos serão
utilizados na construção de canoas até o momento em que elas e as preciosa
carga iniciam a viagem de volta ao ponto inicial.
.......................
Prólogo de Malinowski.
[É interessante que isso já estava presente em Tylor, que não era antropólogo
de gabinete, fez pesquisas de campo entre os iroqueses, apesar de ser
evolucionista]
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comunidade; pois esses aspectos são de tal forma interdependentes que um
não pode ser estudado e entendido a não ser levando-se em consideração
todos os demais” (PP. 11-12).
- Na verdade, a pesquisa durou seis anos – teve intervalos – ver o que Eunice
Durham fala na vida e obra [relação com a Guerra]. Totalizou dois anos de
campo em si, mas durou seis anos.
.......
- I.
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[Sentimentos...]
- II.
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pelo pesquisador através de suas próprias observações, das asserções dos
nativos, do caleidoscópio da vida tribal” (p. 19).
- III.
- “De fato, em minha primeira pesquisa etnográfica no litoral sul, foi somente
quando me vi só no distrito que pude começar a realizar algum progresso nos
meus estudos e, de qualquer forma, descobri onde estava o segredo da
pesquisa de campo eficaz. Qual é, então, essa magia do etnógrafo, com a qual
ele consegue evocar o verdadeiro espírito dos nativos, numa visão autêntica da
vida tribal?”. Resposta: “bom-senso” e “princípios científicos bem conhecidos”.
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- III.
- Primeiro de tudo – busca contato o mais íntimo possível com os nativos. Isso
só é possível acampando nas aldeias, mantendo uma base de residência com
um “homem branco” – suprimentos, em caso de doença [e as condições de
saúde ele explicam essa preocupação] ou no caso de estafa da vida nativa
[questão dos diários]. Mas não pode ser local de estadia permanente. Os
nativos não são os companheiros naturais do homem branco (p. 21).
[Questão do ser finalmente aceito, sem nunca ser um igual – Geertz; lembrei
de Avatar, o filme, que brinca com essa convenção antropológica; é possível
relativizar – trata-se apenas de contextos tribais?]
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- Entrar em contato com os nativos “constitui, sem dúvida alguma, um dos
requisitos preliminares essenciais à realização e ao bom êxito da pesquisa de
campo” (p. 22).
- V.
- Não é suficiente colocar as redes no lugar certo e esperar que a caça caia
nelas. Pesquisador tem de ser um “caçador ativo”. Isso exige o emprego de
métodos mais eficazes na procura de fatos etnográficos. [atentar para a palavra
fato; fato social – durhheim] É aqui que vai falar do princípio I – necessidade de
inspirar-se nos resultados científicos mais recentes. O que ele pensa disso:
- A etnologia trouxe leis e ordem àquilo que parecia caótico e anômalo. Mostra
que as sociedades nativas têm uma organização bem definida, são governadas
por leis, autoridade e ordem em suas relações públicas e particulares, e que
estão, além de tudo, sob o controle de laços extremamente complexos de raça
e parentesco. De fato, podemos constatar nas sociedades nativas a existência
de um entrelaçado de deveres, funções e privilégios intimamente associados a
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uma organização tribal, comunitária e familiar bastante complexa. As suas
crenças e costumes são coerentes, seu conhecimento do mundo exterior
suficiente para suas atividades e empreendimentos, sua arte carregada de
sentido e beleza (p. 23).
[Idéia: mostrar coerência, unidade era importante porque era dessa forma que
as sociedades modernas ocidentais eram pensadas; esforço em mostrar isso.
Quando hoje se questiona essa unidade e coerência, se o faz em relação a
quaisquer sociedades]
[Ex.: sem fé; sem rei; sem lei – mesmo aqui na América do sul]
[Pode-se dizer que ele não abandona, portanto, um olhar externo à sociedade
trobriandesa – busca organização e coerência. Mas é diferente de buscar
selvageria e liberdade irrefreada, ou mesmo caos, anomalias e cultos
demoníacos]
- VI.
- Leis e regularidades que regem a vida tribal, tudo que é permanente e fixo, a
anatomia da cultura, a constituição social que deve ser descrita – elementos
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que, embora cristalizados e permanentes, não se encontram formulados em
lugar nenhum.
- Recenseamento genealógico.
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- “Resumindo aqui a primeira e principal questão metodológica, posso dizer que
cada fenômeno deve ser estudado a partir do maior número possível de suas
manifestações concretas; cada um deve ser estudado através de um
levantamento exaustivo de exemplos detalhados. Quando possível, os
resultados obtidos através dessa análise devem ser dispostos na forma de um
quadro sinótico, o qual então será utilizado como instrumento de estudos e
apresentado como documento etnológico. Por meio de documentos como esse
e através do estudo de fatos concretos, é possível apresentar um esboço claro
e minucioso da estrutura da cultura nativa, em seu sentido mais lato, e da sua
constituição social. Esse método pode chamar-se método de documentação
estatística por evidência concreta” (p. 27).
VII.
- VIII.
- Resumo.
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“1. A organização da tribo e a anatomia de sua cultura devem ser delineadas
de modo claro e preciso. O método de documentação concreta e estatística
fornece os meios com que podemos obtê-las”.
2. Este quadro precisa ser completado pelos fatos imponderáveis da vida real,
bem como pelos tipos de comportamento, coletados através de observações
detalhadas e minuciosas que só são possíveis através do contato íntimo com a
vida nativa e que devem ser registradas nalgum tipo de diário etnográfico.
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