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O filme deixa claro que as características humanas dependem do convívio social.

A criança
aprende a planejar, direcionar e avaliar a sua ação diante da sociedade em que vive,
buscando sempre consolo em seus semelhantes. É através do convívio com a sociedade que
surge a consciência, através do trabalho os homens se organizam para alcançar
determinados fins.
Nell foi criada por sua mãe, ela tinha uma irmã que faleceu quando era criança. Esse
contato, ainda que por pouco tempo, também influenciou em formar sua personalidade.
Nell constantemente relembrava os momentos em que conviveu com a sua irmã. Ela havia
desenvolvido uma relação muito próxima e sentimentos tais como: proibido brigar e ficar
de mal. Mesmo após a morte da sua irmã esse sentimento ficou gravado em sua formação.
Percebemos isso quando Nell ao presenciar os dois médicos brigarem, ela intervém e
obriga-os a fazer as pazes.
Nell vivia em uma casa simples, sem estrutura. Não tinha água encanada e não havia luz.
Tudo o que Nell aprendeu foi ensinado por sua mãe. Pelo que vimos sua mãe sofreu
violência sexual e ficou grávida de gêmeas, percebe-se que ela era uma pessoa diferente,
ela evitava o convívio com a sociedade, isolando-se. Foi dito no filme, que fazia cerca de
um ano que a mãe de Nell não ia à cidade. Esse comportamento foi transmitido para Nell,
foi lhe ensinado que durante o dia ela não deveria sair de casa, e isso foi acatado como
sendo regra sem ser questionado, pois foi ensinado por uma pessoa mais velha a qual
sempre queria o seu bem. Por isso Nell saia de casa apenas à noite; foi-lhe informado que
algo de ruim poderia acontecer, caso saísse de casa durante o dia. Isso é evidente em várias
partes do filme, em determinado momento observamos o Médico tentar introduzir um
pensamento diferente do que fora aprendido por Nell, oferece pipoca, mostrando que o ato
de sair de casa durante o dia não é prejudicial, como imaginava.
Nessa cena percebemos que as pessoas podem mudar, de acordo com as experiências que
passam.
A mãe de Nell tinha paralisia facial, esse talvez seja o motivo de Nell falar palavras erradas,
e de forma diferente da que estamos habituados. Ela aprendeu a falar com uma pessoa que
não pronunciava as palavras corretamente. A fala de Nell era diferente, porém, tinha a sua
própria linguagem. Por não entenderem a fala de Nell os médicos pressupõe erroneamente
que ela agia como uma “criança selvagem” e questionavam se a mesma possuía uma
linguagem pronta, questionavam quais era a sua linguagem sexual, se conseguiria
sobreviver sozinha entre outras questões. Por conta disso, querem retirar Nell do seu habitat
natural e levá-la para a cidade, porém a médica propõe deixar Nell em seu habitat natural e
observá-la por um período de 3 meses com o objetivo de entender melhor o que se passa
com a moça.
Quando Nell passa ser observada por dois médicos, percebemos nitidamente que a maneira
de perceber o real e a significação que se dá em um ou outro evento varia sensivelmente
dependendo do grupo étnico, religioso ou sócio-econômico do qual faz parte. A médica
observa Nell à distância e acaba pressupondo que ela dormia o tempo todo, quando na
verdade Nell vivia com as recordações e isso para ela era crucial.
O médico por sua vez adotou o método de aproximação e teve grandes descobertas. Uma
delas foi quando se expressou dançando e fazendo gestos. Nell se identifica, pois aqueles
gestos eram puramente expressões de sentimento, isso era algo que Nell havia desenvolvido
sensivelmente.
Outra marca de que os sentimentos de Nell eram aflorados, foi em duas situações, em que
uma pessoa em depressão se aproxima de Nell e ambas se entendem apenas com o olhar, o
sentimento em comum era o medo.
A medida, que Nell tinha contato com o médico, ela confiava cada vez mais. Ela percebeu
o diferente como algo não invasor, o medo ia se dissipando aos poucos.
Em certo momento tiram Nell do seu lar e, isso foi muito prejudicial, pois quem não a
conhecia pressupunha que ela tinha distúrbios no cérebro. O que na verdade acontecia era
que Nell, diante do desconhecido, se fechava, a ponto dos médicos acharem que ela era
altista, afinal, não conhecem o mundo de Nell. Essa postura é totalmente ignorante e
preconceituosa e, mostra mais uma vez que a maneira como o ser humano vê o mundo é
influenciado pelo mundo que o cerca.
É nesse momento que entra a psicologia, pois ela é a responsável por investigar as
modificações que ocorrem nos processos envolvidos na relação do indivíduo com o mundo.
No final, percebemos que características humanas não são biologicamente herdadas, mas
historicamente formadas. Nell não tinha “problemas mentais”, mas sim foi instruída de
forma diferente da maioria das pessoas que vivem em cidades. Sua interação com o mundo
era diferente porque assim fora lhe ensinado, construiu significados para suas ações através
das experiências em que viveu dando conceito a tudo que a cerca. Nell possuía sua
linguagem própria, tinha consciência.
No final o que julgaram algo inferior foi elevado. Na verdade, não mudaram a vida de Nell,
ela foi quem mudou e melhorou a vida de muitos.

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