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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES

METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE DIREITO

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO SISTEMA BRASILEIRO

VIVIANE SCRIVANI
R.A.: 4739201

Turma: 3209B

Tel: (11) 8396-1289


E-mail: viviane_scrivani@yahoo.com.br

São Paulo
2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES
METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE DIREITO

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO SISTEMA BRASILEIRO

VIVIANE SCRIVANI
R.A.: 4739201

Turma: 3209B

Tel: (11) 8396-1289


E-mail: viviane_scrivani@yahoo.com.br

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro


Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigência parcial
para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do
Professor Tadeu Aparecido Ragot.
BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________ ______________ ( )
Professor Orientador:

_______________________________________ ______________ ( )
Professor Argüidor:

_______________________________________ ______________ ( )
Professor Argüidor:
Dedico este trabalho aos meus pais,
por acreditarem nos meus sonhos e
me auxiliarem que eles se
tornassem realidade; pelo constante
incentivo, apoio e principalmente
amizade.

À minha amiga Cristiana, por me


ingressar no mundo jurídico e me
amparar nos primeiros passos da
minha carreira.
Agradeço ao meu estimado professor
orientador Tadeu Aparecido Ragot, que me
conduziu com sabedoria, paciência, e
amizade, para que eu realizasse este trabalho.
SINOPSE

O trabalho em questão propõe analisar o tema da Adoção Internacional, na forma regulada no Direito
Interno, bem como no plano internacional.

A obra inicia-se com um breve relato histórico, conceitos, finalidade, natureza jurídica e função social.

Posteriormente, analisaremos a legislação aplicada, em consonância com tratados e convenções


internacionais.

Abordaremos os aspectos processuais e operacionais para a realização da adoção internacional, seus


efeitos, e ainda, enfocaremos a questão da adoção por casais homossexuais.

O trabalho também aborda os crimes em matéria de adoção internacional, como o tráfico de crianças e a
“adoção à brasileira”, finalizando com exposição de algumas formas de melhorar as condições para a
realização da Adoção Internacional.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 9
CAPÍTULO I................................................................................................................... 11
1.1 A adoção e sua evolução histórica.......................................................................... 11
1.2 Conceito de adoção................................................................................................. 15
1.2.1O adotante................................................................................................ 16
1.2.2O adotado................................................................................................. 17
1.3 Natureza Jurídica..................................................................................................... 18
1.4 A Função Social da Adoção.................................................................................... 20
CAPÍTULO II.................................................................................................................. 23
2.1 A Adoção na Constituição Federal.......................................................................... 23
2.2 A Adoção no Código Civil........................................................................................ 24
2.3 A Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente............................................... 25
2.3.1 Requisitos relativos ao adotamento............................................................... 25
2.3.1.1 Idade do Adotando............................................................................. 25
2.3.1.2 Consentimento do Adotando.............................................................. 27
2.3.1.3 Consentimento dos Pais ou Representante Legal............................. 27
2.3.2 Requisitos relativos ao adotante................................................................... 30
2.3.2.1 Idade do Adotante.............................................................................. 30
2.3.2.2 Diferença de idade entre Adotante e Adotado................................... 31
2.3.2.3 Estágio de Convivência...................................................................... 32
2.4 Outras Regras para assegurar mais direitos às crianças e adolescentes.............. 33
2.4.1 Tratados........................................................................................................ .33
2.4.2 Convenções................................................................................................... 34
2.5 Convenção de Haia................................................................................................. 34
2.5.1 Objetivos e aplicações da Convenção.......................................................... 35
2.5.2 Requisitos para as Adoções Internacionais.................................................. 36
2.5.3 Autoridades Centrais e Organismos Credenciados...................................... 37
2.5.4 Requisitos processuais para Adoção Internacional....................................... 38
2.5.5 Reconhecimento e efeitos da adoção........................................................... 39
2.5.6 Disposições Gerais........................................................................................ 39
2.5.7 Cláusulas Finais ........................................................................................... 40
CAPÍTULO III................................................................................................................. 41
3.1 Aspectos Processuais para a Adoção Internacional............................................... 41
3.2 Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional.......................................... 43
3.3 Efeitos da Adoção................................................................................................... 47
3.3.1.Efeitos relativos ao estado familiar do adotado............................................. 47
3.3.1.1 Família Biológica................................................................................ 47
3.3.1.2 Família Adotiva.................................................................................. 48
3.3.2 Efeitos relativos ao estado pessoal do adotado............................................ 48
3.3.2.1 Nome.................................................................................................. 48
3.3.2.2 Nacionalidade.................................................................................... 49
3.3.3 Efeitos de ordem patrimonial......................................................................... 50
CAPÍTULO IV................................................................................................................ 51
4.1 Excepcionalidade da colocação em família estrangeira.......................................... 51
CAPÍTULO V................................................................................................................. 53
5.1 Demais questões relacionadas a adoção internacional.......................................... 53
5.1.2 Crimes em matéria de Adoção Internacional................................................ 53
5.1.2.1 Tráfico de crianças............................................................................. 53

10
5.1.2.2 Tráfico de órgãos............................................................................... 54
5.1.2.3 Adoção à Brasileira............................................................................ 55
5.1.3 Adoção por casais homossexuais................................................................. 56
62
CONCLUSÃO................................................................................................................
63
BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................
65
Anexo A........................................................................................................................
68
Anexo B........................................................................................................................
88
Anexo C........................................................................................................................

11
INTRODUÇÃO

Adoção Internacional é um ato solene pelo qual, observados os requisitos


legais, se estabelece um vínculo jurídico de filiação entre pessoas de diferentes
nacionalidades.

Tal tema é repleto de mitos e folclores, o que o torna bastante discutido


gerando inúmeras opiniões e reações, tendo como objetivo a acolhida da criança ou
do adolescente que, por diversas razões, viu-se desamparado.

Contudo, não se pode confundir adoção com assistencialismo, uma vez


que são institutos divergentes. A adoção é a entrega de amor e dedicação à uma
criança, visando suprir suas necessidades emocionais, morais, sociais, permite que
seja refeito os vínculos da relação filial. Enquanto o assistencialismo busca proteger
a criança considerando todos os seus aspectos de vida e desenvolvimento físico e
psíquico.

Não se deve pensar em adotar uma criança em razão da perda de um


filho, com intuito salvar um casamento, para suprir uma solidão ou resolver
problemas de esterilidade, deve-se, ao contrário, buscar uma nova forma de vida, de
querer aprender e ensinar, doar-se por completo à criança não esperando receber
nada em troca, em suma é uma dedicação incondicional.

A escolha deste tema visa impedir que nossas crianças sejam


abandonadas, esquecidas em instituições, mostrando a possibilidade delas
possuírem um ambiente familiar adequado para seu desenvolvimento, ficando
assim, afastadas da marginalidade e de seus efeitos marcantes.

Almeja-se demonstrar a necessidade da Adoção internacional, ante o


mundo globalizado em que vivemos, bem como uma maneira de torná-la mais
prática e possível.

12
O trabalho em questão foi elaborado através de levantamentos
bibliográficos, de livros editados nos últimos anos, além de publicações de
periódicos e artigos divulgados na internet.

Após um estudo mais aprofundado sobre o tema, pode-se levantar vários


aspectos polêmicos, como a excepcionalidade da Adoção Internacional, a
possibilidade da adoção por casais homossexuais, e ainda, o confronto entre o
nosso ordenamento e as legislações alienígenas.

O estudo envolve questões sociais como a pobreza, a educação, o


preconceito sexual e até mesmo questões de cunho político internacional.

Pretende-se, por fim, apresentar as características da Adoção


Internacional, seus aspectos polêmicos e sua evolução no decorrer dos anos, em
virtude da mudança na maneira de pensar da sociedade atual.

13
CAPÍTULO I

1.1– ADOÇÃO. Considerações Iniciais

A adoção é vista, de modo geral, ao longo da história, como um instituto


cujo motivo de existência foi a família, e teve início como forma de salvaguardar da
extinção as famílias sem descendentes, o que para as civilizações antigas era uma
necessidade. Em razão disso, a adoção foi criada para que a continuidade da família
fosse garantida, pois o testamento ainda não existia ou era proibido (em Atenas até
a época de Sólom, e, em Esparta, até a guerra do Peloponeso).

As adoções, como se pôde verificar na Antiguidade, eram contempladas


tanto pelas Leis de Manu como pelo Código de Hamurabi (1792-1750 a.C.), e
destinavam-se a atender às necessidades e anseios dos adotantes, ficando em
segundo plano os interesses do adotado.

Na Bíblia encontramos referências à adoção, Jacó adotando Efraim e


Manasses (Gênesis). O Livro Sagrado também apresenta o registro do que seria,
para alguns, a primeira referência documentada de uma Adoção Internacional:
Termulos, filha do faraó egípcio, adotando Moisés, a quem havia encontrado às
margens do rio Nilo. (Êxodo)

O instituto da adoção, numa fase da história romana (Direito Romano-


Helênico), perdeu o cunho religioso e político passando a ter como finalidade
marcante a forma de contemplar casais estéreis.

Na Idade Média, este instituto caiu em desuso e somente com o Código


Napoleônico, grande marco da Idade Moderna, ressurgiu, ingressando nas
legislações modernas. O referido código admitia apenas a adoção de maiores (art.
346). Porém a Lei Francesa, de 19.07.1923, modificou o instituto passando a aceitar
a adoção de menores, passando a aceitar a adoção de menores, dessa forma, eram
colocados, em primeiro plano, os interesses do adotado, permitindo-a somente se

14
houvesse justo motivo para ele, ficando, em segundo plano, as necessidades e
interesses dos adotantes.

Assim pode-se verificar que houve uma mudança em favor do adotado,


que podemos chamar de “protetiva”, uma vez que as vantagens e os interesses do
adotando passaram a ser os primeiros aspectos a serem considerados no processo
de adoção.

A adoção internacional teve uma maior expressão após a Segunda


Guerra Mundial, época na qual as nações começaram a se desenvolver. Houve,
então, uma preocupação por parte da comunidade internacional com a exclusão e o
abandono sociais que, de certa forma surgiram paralelamente ao desenvolvimento
industrial.

Desta maneira, no início do século XX começaram a ser registrados casos


de Adoção Internacional em países vítimas de guerras e catástrofes naturais.

No Brasil, de acordo com o doutrinador João Delcimar Gatelli 1 , a primeira


proposta de plano de adoção internacional de crianças carentes foi realizada pela
Ministra da Saúde e da Família da França, em 1976, ao encontra-se com o então
Ministro brasileiro da Previdência Social, Nascimento e Silva. Tal proposta não foi
bem-vinda por algumas autoridades brasileiras, contudo, o episódio serviu para que
o governo despertasse para a existência do problema, resultando na promulgação
de um novo Código de Menores, facilitando, inclusive, a adoção de crianças por
estrangeiros.

Com o advento da Lei 6.697/79 (Código de Menores), houve a fixação de


critérios objetivos, embora com uma visão lamentável e punitiva para pais carentes,
pois eram deferidas em favor de crianças privadas de alimentação, vestuário,
educação, saúde e lazer, mantendo sua realização por escritura pública após o

1
GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil. 2.ed. Curitiba: Juruá
Editora, 2003, p. 22.

15
trânsito em julgado da decisão. Muitas vezes, nesta época, o casal estrangeiro nem
se fazia presente, mas representado por procuração.

No processo de adoção, o juiz concedia uma guarda provisória, por um


ou dois anos, durante o qual era realizado o estágio de convivência até que para a
Lei do outro país fosse possível a consumação da adoção. Após o referido estágio,
eram remetidos, pelos adotantes, relatórios feitos por órgão governamental ou
credenciado, abrindo-se vista ao Ministério Público e, após posteriormente ao seu
parecer, o juiz prolatava uma sentença deferindo a adoção, a qual era materializada
por escritura pública; a partir disso seria possível o juiz estrangeiro decidir pela
adoção. Porém, foram constatados de inúmeros casos na Itália, Holanda, Bélgica e
em outros países em que a sentença estrangeira foi prolatada apenas com base na
guarda provisória, e os processos no Brasil jamais concluídos. O que poderiam, em
tese, gerar sérios problemas diplomáticos.

A criação do Estatuto da Criança de do Adolescente carreou diversas


mudanças, desaparecendo, assim, todas as diferenças entre filhos adotivos e
biológicos, priorizando as necessidades, os interesses e os direitos da criança e do
adolescente.

Encontramos uma complexidade quanto à questão da adoção por


estrangeiros não residentes, pois nos países em que ela é permitida, além das
exigências, que muitas vezes inviabilizam a adoção questiona-se a conveniência ou
não desse tipo de adoção.

Temos no Brasil duas correntes a esse respeito com o mesmo ponto em


comum: a proteção do adotando. Contudo, divergem quanto a conveniência.

A primeira reprova esse tipo de adoção defendendo, sinteticamente, que


as campanhas por adoção não deveriam ser estimuladas por agências
especializadas para incentivar estrangeiros não residentes a adotar, mas sim,
deveriam procurar investigar e afastar as causas determinantes da carência e do
abandono que resultam na “exportação” de crianças como simples objetos.

16
Já a segunda corrente, aprovadora, possui uma visão mais realista,
defendendo esse tipo de adoção, não como única forma de solução, mas como um
remédio para amenizar a situação de milhares de seres em completo abandono.

Os estrangeiros não residentes no país de origem do adotando encontram


diversas dificuldades no processo de adoção, que vão desde a língua até a
excepcionalidade da adoção. Mas, apesar de tantos obstáculos, há casos de adoção
internacional que se realizam, como também, oposição, ante as dificuldades
impostas.

A adoção internacional nem sempre segue os trâmites legais, certamente


não sendo favorável a nenhuma das partes, principalmente ao adotado, que
precariamente, é levado à outro país em companhia de pessoas que ao menos
passaram pelo crivo das autoridades competentes.

Reportagens abordando o tráfico de crianças e os maus tratos sofridos


quando crianças são adotadas ilegalmente por estrangeiros, são freqüentemente
vistas, nos diversos meios de comunicação, Tal realidade faz com que a adoção
internacional, da maneira como vêm ocorrendo, não seja bem vista pelos países
onde é permitida.

A adoção internacional é uma realidade, devendo ter uma melhor


avaliação pelos países de origem do adotando. É necessário que haja um processo
mais ágil e ao mesmo tempo seguro, possibilitando, aos que necessitam sujeitar-se
à esse instituto, a esperança de uma vida melhor, com dignidade, respeito e
principalmente amor.

Assim, considerando o novo século em que vivemos e a globalização


mundial, não deve haver espaço para preconceitos quanto à adoção internacional,
considerando-a como medida descabida ou como forma de países
subdesenvolvidos “se livrarem” de crianças carentes como simples “objetos.”

17
1.2. CONCEITO DE ADOÇÃO

Considera José Luiz Mônaco da Silva que “a adoção, seja nacional ou


internacional será sempre conceituada como instituto jurídico por meio do qual
alguém (adotante) estabelece com o outrem (adotado) laços recíprocos de
parentesco em linha reta, por força de uma ficção jurídica advinda da lei.” 2

A adoção, tecnicamente, indica um ato jurídico por meio do qual, uma


pessoa toma ou aceita, legalmente, como filho uma outra. Já sua origem, segundo
Wilson Donizeti Liberati deriva do latim adoptio, que significa dar seu próprio nome
a, pôr um nome em; tendo, em linguagem mais popular, o sentido de acolher
3
alguém (..)”

Orlando Gomes, entende: “ato jurídico pelo qual o vínculo de filiação é


4
criado artificialmente”.

Brilhantemente, ensina Eunice Ferreira Rodrigues Granato:

“A adoção, como hoje é entendida, não consiste em “ter pena” de uma


criança, ou resolver situação de casais em conflito, ou remédio para a esterilidade,
ou, ainda, conforto para solidão.
O que se pretende com a adoção é atender às reais necessidades da
criança, dando-lhe uma família, onde ela se sinta acolhida, protegida, segura e
amada.” 5

Por fim, para o saudoso Silvio Rodrigues: “ato do adotante pelo qual traz
ele para sua família e na condição de filho, pessoa que lhe é estranha.” 6

2
GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 27.
3
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.17.
4
GOMES, Orlando; Direito de Família, p.369.
5
GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática., p.26.
6
RODRIGUES, Silvio; Direito Civil. Direito de Família, p.332.

18
Assim, podemos entender a adoção como uma forma de suprir as
necessidades de uma criança, dando-lhe uma vida mais digna, com amor e
educação, como também, possibilitando aos casais a experiência de se dedicar à
uma nova vida, auxiliando no seu desenvolvimento.

1.2.1 – O adotante

Indivíduo através do qual se inicia o procedimento da adoção, é o agente


provocador do ato.

Seu interesse é fundamental para que o instituto sobreviva e cumpra sua


principal função: busca de uma família para aqueles que se encontrem no
abandono, a segurança do lar, uma base para a formação do caráter de uma
pessoa, através do cumprimento de diversos requisitos legais.

O candidato ao processo de adoção deveria receber, diante de sua


importância para a realização do ato, todo incentivo, proteção e informações do
Estado para conseguir realizar o sonho da criança de integrar uma família, sentindo-
se como membro e não como um ser que apenas recebe um “auxílio”, ou melhor
“caridade” de uma pessoa bondosa.

Infelizmente, o número de adotantes realmente interessados na adoção é


insignificante diante da quantidade de crianças abandonadas. Contudo, essa
situação poderia ser amenizada se houvesse, por parte da sociedade e do Estado,
um tratamento mais digno àqueles que demonstram interesse em adotar.

Os interessados, na sua maioria, são estrangeiros provenientes de países


ricos que buscam o que a natureza lhes negou, ultrapassando as fronteiras de seu
Estado.

Existe, desta forma, uma notória diferença sócio-econômica entre o


adotante e o adotado, levando muitas vezes a uma inversão da finalidade da
adoção. O que inicialmente seria um ato de amor acaba se transformando em

19
comércio diante das vantagens obtidas por aqueles que intermedeiam uma adoção
para estrangeiros, contribuindo, desta forma, para o surgimento do pseudo-adotante
que encontra mais facilidades em adotar ou traficar crianças para o exterior com
objetivos diversos do protegido pelo instituto da adoção.

Segundo João Delciomar Gatelli: “O pseudo-adotante vale-se do valor


econômico de sua moeda e da cobiça dos agentes para obter lucros com o ato de
adotar, desenvolvendo, paralelamente às adoções propriamente ditas e bem-
intencionadas, um cenário negro e assustador da adoção internacional (...)” 7

Devemos esclarecer a diferença entre o adotante e o pseudo-adotante,


ela encontra-se na manifestação viciada do pseudo-adotante e na manifestação
íntegra refletida do adotante.

O adotante deve passar por diversos requisitos a fim de confirmar sua


aptidão. Embora hajam tais exigências, há possibilidades de falhas. Assim, é
necessária uma cooperação maior entre os países envolvidos no processo de
adoção internacional, almejando assim, identificar e diferenciar o adotante dos
pseudo-adotantes, os quais deverão ser severamente punidos por macular um
instituto de tamanha importância.

1.2.2 – O adotado

Após a efetivação do ato, o adotando recebe a denominação de adotado,


indivíduo o qual diante de uma situação fática (idade, situação de abandono) teve a
capacidade de preencher os critérios da adoção.

Passemos agora a uma breve descrição acerca dos critérios do adotando:

7
GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p.28.

20
Idade: critério considerado para a realização das adoções plenas que se
realizam no Brasil e na Argentina, previsto no art. 40 do ECA (Lei 8.069/90), sendo a
idade de 18 anos incompletos um fator determinante.

Abandono: também é considerado, embora sua comprovação seja difícil


ante o grau de subjetividade. Pode ser revestido de diversas formas (material,
intelectual e jurídico), mas a afetiva é aquela que mais a determina; sua falta
acarreta uma falha irreparável, fazendo com que o ser em desenvolvimento
desenvolva uma personalidade marcada pela ausência de esperança e sentimentos
fraternos.

O sujeito da adoção é, portanto, aquele que, na condição de adotando,


encontra-se em desenvolvimento, abandonado e preenche o requisito da idade
previsto em lei.

1.3– NATUREZA JURÍDICA

No decorrer dos anos e com a alteração das legislações, verificou-se uma


mudança brusca na identificação da natureza jurídica do instituto da adoção.

Existem duas correntes que discutem a natureza jurídica deste instituto:


contratualista e publicista.

Segundo a corrente contratualista considera-se adoção um negócio


jurídico de natureza contratual, sendo bilateral, iniciando-se no consenso mútuo das
partes, produzindo, a partir daí, os efeitos pretendidos e estabelecidos entre as
partes.

Neste sentido Clóvis Beviláqua e Pontes de Miranda ensinam que a


adoção deve ser entendida como um ato solene; Tito Fulgêncio prefere considerar o
instituto como uma filiação legítima criada pela lei.

21
Já para a corrente publicista, a adoção passa à categoria de instituição,
tendo como natureza jurídica a constituição de um vínculo irrevogável de
paternidade e filiação, através de sentença judicial. Esta corrente prevaleceu à
anteriormente citada com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente ( Lei
8069/90).

Expõe Wilson Donizeti Liberati:

“É através da decisão judicial que o vínculo parental com a família de


origem desaparece, surgindo nova filiação (ou novo vínculo), agora de caráter
8
adotivo, acompanhada de todos os direitos pertinentes à filiação de sangue”

Acresce notar, o disposto no art. 227, §6º da Lei Maior, a qual garante aos
adotados os mesmos direitos e qualificações dos filhos havidos da relação de
casamento e ainda proíbe quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação.

Tecendo considerações sobre o instituto, explica o tratadista português


Pereira Coelho que “a adoção será composta por um ato de direito privado (a
declaração da vontade do adotante integrada, eventualmente, pelo consentimento
de outras pessoas, nos termos do art. 1981) e por um ato de direito público (a
sentença judicial), atos constitutivos os dois, mesmo o último – o que, no fundo,
exprime a idéia de que a adoção há de justificar-se, não só à luz dos interesses
particulares do adotante e do adotado mas ainda à luz do interesse geral. Se aquele
ato de direito privado não é verdadeiro negócio jurídico, mas apenas elemento de
um ato complexo, isso não impede porém que lhe sejam aplicadas, segundo a
diretiva do art. 295, as regras dos negócios jurídicos em geral, salvo onde a lei tenha
9
disposto de modo diverso.”

Neste contexto, tem-se que seja a adoção feita por nacionais ou por
estrangeiros, necessita da presença do Estado como chancelador do ato. Desta

8
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.11
9
COELHO Pereira, Curso de Direito de Família, p.41.

22
forma, não se pode discordar que devemos analisar a adoção como um instituto de
ordem pública, onde prevalecem a autoridade e importância do interesse
juridicamente tutelado sobre a vontade e manifestação dos interessados, uma vez
que o novo ordenamento legal impõe uma condição de validade para o ato: a
sentença judicial, na qual o Magistrado não apenas homologará o acordo havido
entre as partes, como também, atuará como Poder de Estado.

1.4– A FUNÇÃO SOCIAL DA ADOÇÃO

Não podemos associar os termos a adoção e assistência !

Brilhantemente esclarece Wilson Liberati:

“Quem pensa em adotar para fazer ato benemérito ou filantrópico, ou


que procura na adoção um meio de ‘preencher o vazio e a solidão do casal’, ou
porque um ou ambos os interessados são ‘estéreis’, ou ‘para fazer companhia a
outro filho’, ou porque ‘ficou com pena ou compaixão da criança abandonada’, ou
para dar ‘continuidade à descendência ou aos negócios da família’ ou por outros
motivos desse naipe, está completamente alienado e alijado do verdadeiro
10
sentido da adoção. (grifo e destaque nosso)”

As motivações supra citadas devem ser imediatamente detectadas de


modo a evitar adoções baseadas em ‘neuroses’.

No mesmo sentido, complementam os Procuradores da República de


Portugal, Rui Epifânio e Antônio Farinha que “a criança adotada não pode ser
encarada como a criança remédio destinada fundamentalmente a suprir uma falta, a
colmatar a específica incapacidade de procriação, e a combater a angústia daí
adveniente para o casal. Como se disse já, a adoção é a forma privilegiada de dar
uma família à criança desprovida de meio familiar normal e, por isso, o seu
decretamento está prioritariamente dependente da realização do interesse do

10
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.24.

23
menor. A averiguação correta das motivações da adoção pelo competente técnico é
de extraordinária importância na medida em que se permite não só excluir os
candidatos a adotante cuja pretensão não se enquadra em objetivos a prosseguir,
como também faculta a análise e a superação consciente de medos, fantasmas e
angústias indesejáveis ao processo de adoção do menor que eventualmente
perpassem nas legítimas motivações dos adotantes. Nessa linha, tem se referido a
necessidade de o casal adotante saber ultrapassar as dificuldades resultantes de
sua situação de esterilidade e de saber mover-se, livremente, face aos fantasmas
relativos à hereditariedade, “revelação” e “romance familiar”, necessariamente
imbricados em qualquer processo adotivo. Por outro lado, tem-se referido que em
vez da criança-remédio o adotado deverá representar para os adotantes a
sublimação das necessidades parentais na qual se fecha o círculo de identificação
do adulto com os seus próprios pais, e se concretiza o seu desejo de ultrapassagem
dos estreitos limites da existência, o mesmo é dizer, da própria angústia da morte.
Tal entendimento suporta assim, necessariamente, a consideração da criança como
centro de relações não interessadas, embora gratificantes, e o respeito pela sua
11
individualidade, origem e personalidade por parte da família adotante.”

A adoção não se faz por caridade, compaixão e nem medo da solidão.


Não deve ser utilizada como ‘tábua de salvação’ para um casamento arruinado, ou
ainda como um ‘objeto’ que deva ser substituído quando outro é quebrado. Ela
requer dos interessados, sejam eles nacionais ou estrangeiros, a disponibilidade de
se entregar ao amor pela criança. Amor esse incondicional, sem preconceitos de
raça, cor, sexo ou de uma deficiência (física ou mental).

É importante lembrarmos que a criança que está à espera de uma família


para ser adotada não quer receber compaixão, isto ela já teve demais na instituição
onde esteve. Agora ela necessita da entrega total em doação no amor daqueles que
se propõem a essa vocação.

11
EPIFÂNIO, Rui M. L. e FARINHA, Antônio H. L. Organização Tutelar de Menores – Contributo para uma
Visão Interdisciplinar do Direito de Menores e de Família, p.258.

24
O adotado não pode e nem deve crescer sentindo-se ‘ajudada’, ou ainda
como um membro que está na casa ‘de favor’. Deve sim, crescer cercada de amor,
proteção, onde tenham pais dispostos a fazer todo o possível para seu bem. Não
apenas dando casa, comida, atendimento à saúde, escola, etc., pois desta forma,
sem dúvida, o adotante estaria fazendo uma boa ação, mas não como uma decisão
oriunda de amor maternal.

25
CAPÍTULO II

2.1 – A ADOÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O Brasil incorporou, em sua legislação interna, os mecanismos


necessários à adoção internacional, de acordo com as exigências da Convenção
Relativa à Proteção e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída
em Haia, em 29 de maio de 1993.

A Lei Maior proporcionou avanços notáveis em matéria da adoção como:


a constitucionalização formal do Instituto da Adoção; a obrigatoriedade da
intervenção do Poder Público quando o adotando for criança ou adolescente; a
igualdade absoluta entre filhos adotivos e filhos biológicos; e a proibição de qualquer
designação discriminatória relativa à filiação.

Podemos ver que, o instituto da adoção foi referendado pelo legislador


constituinte brasileiro em diversas passagens do texto constitucional. Além de
normas constitucionais pertinentes ao tema, por se referirem aos direitos e garantias
fundamentais, aos direitos sociais, aos direitos políticos e à proteção à infância,
trouxe em seu bojo, um capítulo que trata especificamente, da criança e do
adolescente.

O capítulo VII da Constituição Federal – Da família, da criança, do


adolescente e do idoso – possibilitou uma maior igualdade entre os sujeitos que
compõem uma família, ampliando o próprio conceito de família. Importante lembrar
que é a família o primeiro laço afetivo que estabelece o indivíduo ao nascer,
portanto, deve ser ele mantido e protegido pelo Estado, uma vez que é no seio de
uma família que o cidadão começa a traçar seu comportamento futuro.

A adoção de crianças e adolescentes, no Brasil, pode ser concedida a


nacionais e a estrangeiros, sejam estes últimos residentes ou não, porém, devem
ser assistidos pelo Poder Público conformidade preceitua o art. 277, §5º da
Constituição Federal:

26
§5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que
estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.

Ensina João Delciomar Gatelli que “a adoção por estrangeiros, antes da


Constituição Federal de 1988, que prevê a possibilidade dessa adoção em seu art.
277, §5º era usualmente praticada no Brasil através de duas formas: a) a primeira,
por escritura pública sem qualquer intervenção da autoridade judiciária, quando se
tratava de adotando que estivesse sob o pátrio poder; b) a segunda, de menor em
situação irregular, sob a intervenção e dependente do beneplácito judiciário, uma
vez que se realizava de acordo com o já revogado Código de Menores da época, o
qual permitia, em seu art. 20, a adoção de menores em situação irregular, por
estrangeiros.” 12

Hoje a adoção por escritura pública é proibida no Brasil, contudo, foi


largamente utilizada, principalmente pela possibilidade de ser realizada sem a
participação direta dos adotantes que se faziam representar por procuradores com
poderes especiais.

Os efeitos da adoção realizada no Brasil com o advento da Constituição


Federal de 1988 são amplos, assim, um filho, independentemente da origem do
vínculo de parentesco, não pode ser discriminado. Essas discriminações que
anteriormente eram permitidas, foram definitivamente afastadas do nosso
ordenamento jurídico.

2.2. A ADOÇÃO NO NOVO CÓDIGO CIVIL

O atual Código Civil disciplinou o instituto da adoção nos artigos 1.618 a


1.629, trazendo algumas modificações a respeito da adoção de crianças e
adolescentes: a) a alteração da idade mínima para adotar, que passou dos 21 anos
(ECA, art. 42) para 18 anos (CC, art. 1.618); b) a revogabilidade do consentimento
dos pais ou representante legal até a publicação da sentença constitutiva de adoção

12
GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 71.

27
(CC, art. 1.621, §2º); c) ressurgimento da famigerada condição de infante exposto,
situação jurídica inexplicada pelo novo código (CC, art. 1.624); d) a obrigatoriedade
de processo judicial para a adoção de maiores de 18 anos (CC, art. 1.623, parágrafo
único).

De acordo com o doutrinador Wilson Donizeti Liberati, o atual Código Civil


reprisou vários artigos do Estatuto, provando que a lei estatutária já estava
adequada aos comandos internacionais sobre a adoção e que o Código Civil já
nascera obsoleto. E vai além, dizendo também que o legislador deixou de disciplinar
a adoção de maiores de 18 anos e não contemplou a adoção de nascituros e a
adoção por homossexuais. Ressalta-se porém, que o legislador determinou que a
adoção de maiores de 18 anos tenha natureza judicial, premiada com todos os
requisitos de garantia da adoção de crianças e adolescentes, descartando, de vez, a
proscrita adoção feita por escritura pública.

2.3 – A ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A adoção estatutária realizada por nacionais e estrangeiros (residentes ou


não residentes), é prevista como medida de proteção à criança e ao adolescente, e
se dá de acordo com os dispositivos constantes no capítulo III da Lei 8.069/1990.

Tais medidas de proteção à criança e ao adolescente surgem exatamente


quando forem ameaçados ou violados os direitos assegurados na Constituição e
reconhecidos no Estatuto.

Nos artigos do Estatuto que disciplinam a adoção, vamos encontrar os


requisitos que são impostos ao adotante e ao adotando, que passaremos a analisar.

2.3.1 – Requisitos relativos ao adotamento

2.3.1.1 – Idade do Adotando

28
Ao se requerer a adoção, o adotando deve estar com no máximo dezoito
anos de idade, conforme estabelece o art. 40 do Estatuto.

Dessa forma, caso o pedido seja feito no dia imediato após o adotando
completar dezoito anos, deverão ser seguidas as regras do Código Civil e não do
ECA.

Encontramos uma exceção na segunda parte do mencionado artigo,


quando possibilita a adoção de maiores de dezoito anos se já estiverem sob a
guarda ou tutela dos adotantes.

Embora não esteja estabelecido no dispositivo supra citado o limite de


idade para o pedido de adoção, uma vez já estando o adotado sob a guarda ou
tutela do adotante, é indiscutível que esse pedido deverá ser feito antes do adotante
completar vinte e um anos de idade, uma vez que após essa idade ninguém mais
poderia estar sob a guarda ou tutela de outrem.

Acresce notar que, com o advento do novo Código Civil a menoridade


cessa aos 18 anos, conforme a previsão do art. 5º, dessa forma, ficou derrogado o
artigo 40 do ECA e, por conseguinte, os comentários acima têm valor histórico.

Assim, aquele que possui dezoito anos completos ou mais, só poderá ser
adotado com base no Código Civil.

Importante lembrarmos que não há previsão expressa no Estatuto em


relação aos nascituros, bem como posição pacífica na doutrina, uma vez que, antes
do nascimento não há personalidade. Há, na verdade, uma ausência de capacidade
de direito, portanto, o mesmo não é titular de direitos subjetivos.

Ademais, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 39,


faz referência, apenas à adoção de criança e de adolescente e, por sua vez, o art.
4º, letra c, item 4) da Convenção Relativa Proteção das Crianças e à Cooperação

29
em Matéria de Adoção Internacional, menciona que: “o consentimento da mãe,
13
quando exigido, tenha sido manifestado após o nascimento da criança.”

Por fim, esclarece Sílvio de Salvo Venosa que “o fato de o nascituro ter
proteção legal não deve levar a imaginar que tenha ele personalidade. Esta só
advém do nascimento com vida. Trata-se de uma expectativa de direito ”. 14

2.3.1.2 – Consentimento do Adotando

Para que a adoção se concretize, de acordo com o art. 45, §2º do ECA,
se faz necessário o consentimento ao adotando caso ele seja maior de 12 anos.

Quando inferior a esta, deverá ser ouvido e ter sua opinião devidamente
considerada para o deferimento da adoção (arts. 16, II e 28, §1º).

O consentimento do adolescente é importante para integrá-lo a nova


família já que seria mais dificultosa a convivência se ele não estivesse satisfeito com
sua nova vida.

No entanto, este requisito não é absolutamente necessário, devendo ser


confrontado com as vantagens ou desvantagens para o menor na adoção. Assim
pode o menor concordar e a adoção ser indeferida e vice-versa.

2.3.1.3 – Consentimento dos Pais ou do Representante Legal

De acordo com o art. 45 do ECA, em virtude da adoção cortar quaisquer


laços do adotando com a família consangüínea, salvo os impedimentos
matrimoniais, os pais ou o representante legal do adotando deverão manifestar seu
consentimento.

Dessa forma é entendimento dos Tribunais:

13
GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 78.
14
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral: introdução ao direito romano, p.121.

30
Adoção – Menor – Ausência de consentimento da mãe biológica –
Falta de preenchimento dos requisitos legais – Pedido indeferido.
Ausente o consentimento da mãe do menor para a adoção, o pedido não
preenche os requisitos que a Lei prevê para espécie, não podendo assim
ser deferido, tendo em vista, ainda não haver prejuízo ao interesse do
menor. Sentença confirmada.

TJES, Ap. 052.930.002.077 – Vitória, rel. Des. José Eduardo Granai


Ribeiro (Revista Igualdade n.15, MP-PR).

Porém, essa anuência poderá ser dispensada em relação a pais


desconhecidos ou que tenham sido destituídos do pátrio poder.

O art. 21 do ECA estabelece que “o pátrio poder será exercido, em


igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma que dispuser a lei civil,
assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à
autoridade judiciária competente para a solução da divergência.”

Com a entrada em vigor do novo Código Civil houve a substituição da


expressão “pátrio poder” por “poder familiar”, conforme disposto no art. 1.631:
“Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais. Na falta
ou impedimento de um deles, o outro exercerá com exclusividade”.

Determina o art. 1.634 do Código Civil as atribuições dos pais:

Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

I – dirigir-lhes a criação e educação;


II – tê-los em suas companhia e guarda;
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro
dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

31
V – representá-los, até aos dezesseis anos da vida civil, e assisti-los,
após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios
de sua idade e condição.

Esclarecidas as atribuições dos pais, passamos para as hipóteses de


perda do poder familiar.

No art. 24 do ECA temos: “A perda e a suspensão do pátrio poder serão


decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na
legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres
e obrigações a que alude o art.22.”

A imposição legal de que somente se suspenderá ou perderá o pátrio


poder em procedimento contraditório, é de suma importância para que se dê
oportunidade de defesa, respeitando assim, o princípio constitucional.

Esclarece Eunice Ferreira Rodrigues Granato que: “Os motivos que


ensejam a medida punitiva pelo Estado, que se relacionam ao descumprimento dos
deveres e obrigações apontados no art. 22 do ECA, são: a) o dever de sustento; b) o
dever de guarda; c) o dever de dar educação; d) o dever de cumprir e fazer cumprir
as determinações judiciais referentes ao exercício do pátrio poder ”.

Assim temos que o consentimento que se exige dos pais ou


representante legal é necessário, porém, não é essencial, uma vez que sendo
descumpridos os deveres para com os menores, poderão ter o poder familiar
cassado, em procedimento contraditório, sendo então dispensado o seu
consentimento (art. 45, §1º do Estatuto).

Reafirmando pais que não cumprem o seu dever, perdem o seu


direito.

32
Nesse sentido:

Adoção cumulada com destituição do pátrio poder


I – Se a mãe, por falta de condições sócio-econômicas e pessoais entrega
os filhos menores a terceiros, a caracterizar a situação de abandono, e o
pai pratica atos atentórios à moral e aos bons costumes, denotando a
falta de condições para prover-lhes o sustento, guarda e educação,
justifica-se a destituição do pátrio poder (art. 395, II e III, do Código Civil, e
art . 24, do Estatuto da Criança e do Adolescente)
II – Fundada em motivos legítimos, é de ser concedida a adoção que
apresenta reais vantagens para os adotandos, cujos superiores interesses
devem se sobrepor a qualquer outro. Recurso desprovido.

TJPR, 2ª Câm. Crim. Ap. 88.776-5-Ibaiti, rel. Des. Telmo Cherem, ac. N.
12.396, j. 29.6.2000.

Havendo consentimento de um dos pais e negativa do outro, não estando


presentes as condições para a destituição do poder familiar, a divergência há de ser
previamente decidida judicialmente.

2.3.2 – Requisitos relativos ao Adotante

2.3.2.1 – Idade do Adotante

O art. 42, caput, do ECA prevê que poderão adotar os maiores de vinte e
um anos de idade, independentemente do estado civil., contudo, com a vigência do
novo Código Civil, tal artigo foi derrogado, passando-se para dezoito anos a idade
mínima para se adotar.

Importante destacarmos que, embora o novo Código Civil tenha diminuído


a idade mínima para se adotar, impôs aos candidatos que tenham estabilidade
familiar (art. 1618, parágrafo único). Assim embora seja possível contrair matrimônio,

33
viver em união estável e ter filhos naturais é impossível ter estabilidade familiar
nessa idade.

O limite etário mínimo de vinte e um anos era o marco diviso da


adolescência e da vida adulta com suas responsabilidades e independência.

Assim, mesmo preenchendo os requisitos pessoais exigidos em lei, não


poderá – em hipótese alguma – ser deferida a adoção àquelas pessoas que
revelarem incompatibilidade com a natureza do instituto ou não ofereçam ambiente
familiar adequado.

2.3.2.2 – Diferença da idade entre Adotante e Adotado

O art. 42, §3º do Estatuto dispõe que o adotante há de ser, pelo menos
dezesseis anos mais velho que o adotando.

O fundamento desta determinação pode ser encontrado no propósito de


tornar a adoção em tudo semelhante à paternidade natural.

Assim, se a nossa legislação autoriza que a mulher se case aos


dezesseis anos de idade e, conseqüentemente ser mãe, a mesma diferença pode
ser considerada adequada na adoção.

Necessário suscitarmos que a legislação brasileira, diferentemente da


italiana, não estabelece uma idade máxima para o adotante e nem uma diferença
máxima de idade entre o adotante e o adotado, na legislação italiana (Lei 184/83) a
diferença máxima entre as partes é de quarenta anos. 15

A omissão da legislação neste aspecto prejudica o propósito da adoção,


anteriormente mencionado, de torná-la semelhante à paternidade natural, uma vez

15
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência. 2.ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2003; p.357.

34
que naturalmente é impossível que um casal octogenário tenha um filho, contudo tal
impedimento não é encontrado na adoção.

Dessa forma, um casal de idade já avançada poderá, do ponto de vista


legal, ter um filho quando na verdade possuem idade para serem avós da criança.
Notamos assim, que a referida omissão também prejudica o cumprimento do
exercício do poder familiar previsto no art. 1634 do Código Civil, tendo em vista que
um casal octogenário, por exemplo, não conseguiria em via de regra, criar, educar,
ter em guarda, representar, dentre outras obrigações, uma criança até a idade em
que esta tenha atingido a maioridade.

2.3.2.3 – Estágio de Convivência

O Estatuto determina em seu art.46 e parágrafos a realização do estágio


de convivência do adotante com o adotando, deixando ao critério do Magistrado a
sua fixação ao observar as peculiaridades de cada caso.

Esse requisito é de grande importância, pois é o período experimental em


que o adotando convive com os adotantes, com intuito de avaliar a adaptação
daquele à família substituta, ou seja, das partes vislumbrarem à nova forma de vida.

A necessidade da prática do estágio recebe no §1º, duas exceções,


destinadas aos adotantes nacionais: (i) se a criança não tiver mais de um ano de
idade; (ii) se criança já estiver na companhia do adotante por tempo suficiente que
possa avaliar o liame afetivo constituído pela convivência.

Como se verifica a referência expressa ao adotante estrangeiro no §2º,


supomos que aquelas exceções sugeridas aproveitam-se apenas aos adotantes
nacionais. Assim os adotantes estrangeiros que desejam adotar crianças ou
adolescentes nacionais, deverão cumprir o estágio previsto no Estatuto, ou seja, de
no mínimo quinze dias para crianças de até dois anos; e de no mínimo trinta dias
para crianças acima de dois anos.

35
2.4 – OUTRAS REGRAS PARA ASSEGURAR MAIS DIREITOS ÀS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A disposição constitucional abriu um leque infindável de direitos e


garantias, bastando, para a sua efetivação, a participação do Brasil em acordos
internacionais.

A preocupação da comunidade internacional com o crescente número de


adoções por estrangeiros, fez que, nessa esfera, fosse viabilizada, através de
Declarações, Tratados e Convenções, uma forma de controla-las proporcionando às
partes envolvidas, em especial ao adotado, uma maior proteção. 16

2.4.1 – Tratados

Tratado é um acordo formal concluído entre os sujeitos de Direito


Internacional Público destinado a produzir efeitos jurídicos na órbita internacional. 17

Tratado é o nome que se consagra na literatura jurídica. Contudo,


também outras denominações, sem qualquer rigor científico: capitulação, carta,
pacto, modus vivendi, ato, estatuto, protocolo, acordo, ajuste, compromisso,
convênio, memorando, regulamento, concordata, etc.

Para Clóvis Beviláqua os tratados são definidos como “os acordos de


maior importância por seu objeto, que firmam definitivamente uma situação jurídica,
ou se destinam a durar longamente, como os tratados de paz, de limites, de
comércio e navegação.”

Acresce diferenciarmos tratados de convenção e de declaração, onde a


convenção é o acordo sem objetivo político e a declaração é o acordo que vem
afirmar um princípio.

16
GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 33.
17
HUSEK, Carlos Roberto, Curso de Direito Internacional Público, pg. 57.

36
Desse modo, quando o tratado exprime o ato jurídico de natureza
internacional, em que dois, ou mais Estados, concordam sobre a criação,
modificação ou extinção de algum direito, é tido em espécie de acordo, convenção
ou declaração. 18

2.4.2 – Convenção

Tratado e convenção internacional correspondem ao mesmo diploma


jurídico, é admitido também afirmar que tratado é gênero do qual a convenção é uma
espécie.

O vocábulo “convenção” deve ser utilizado para designar os tratados do


tipo normativo, que estabeleçam normas gerais em determinado campo.

Devemos ressaltar que, a guerra (entre outros episódios que contribuem


para a regressão social e econômica de um povo) foi um dos fatores que levaram a
comunidade internacional a estabelecer acordos com fins humanitários, como
exemplo podemos citar: a proteção especial à infância foi abordada em 1924, em
Genebra, na Liga das Nações, depois da 1º Grande Guerra; o surgimento da
Declaração dos Direitos do Homem, após a 2ª Guerra Mundial, em 1948 e em
seguida a Declaração dos Direitos da Criança de 1959.

2.5 – CONVENÇÃO DE HAIA

É a convenção relativa à Proteção das Crianças e a Cooperação em


Matéria de Adoção Internacional, concluída em Haia, em 29 de maio de 1993 e
promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 3087, de 21 de
julho de 1999.

Para João Delciomar Gatelli: “Os Estados Signatários dessa Convenção,


cientes da necessidade de uma criança conviver no meio familiar e da importância

18
DE PLÁCITO E SILVA, Vocabulário Jurídico. 15ª ed., p.831-832

37
da adoção internacional para aquelas que não encontram a família adequada em
seu país de origem, procuram com o objetivo de prevenir o seqüestro, a venda e
tráfico de crianças, estabelecer medidas comuns que resguardem o interesse
superior da criança e tomem em consideração os princípios já reconhecidos por
instrumentos internacionais.” 19

A referida convenção estabelece medidas e regras que devem ser


adotadas pelos Estados-Partes, sendo distribuídas em sete capítulos.

2.5.1 – Objetivos e aplicação da Convenção

No primeiro capítulo, os artigos 1º, 2º e 3º referem-se à aplicação da


Convenção.

O artigo 1º da Convenção define seus objetivos esclarecendo que o


propósito é o estabelecimento de um sistema de cooperação entre os países,
facilitando dessa forma, a aplicação efetiva de dispositivos referentes aos direitos da
criança, já recomendados pela ONU. Assim tem por objeto:

(i) o respeito aos direitos fundamentais reconhecidos no Direito


Internacional, estabelecendo garantias para que as adoções internacionais sejam
feitas levando em consideração o interesse superior da criança;

(ii) a cooperação entre os Estados contratantes a fim de assegurar o


respeitos às garantias já mencionadas, bem como prevenir o seqüestro, a venda e o
tráfico de crianças;

(iii) assegurar o reconhecimento, nos Estados contratantes, das


adoções realizadas segundo a convenção

Estabelece o art. 2º que a convenção se aplica quando:

19
GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 54.

38
(i) uma criança deva ser deslocada de um país de origem, para outro
(país de acolhida) com a finalidade da adoção;

(ii) abrangendo apenas as adoções que estabeleçam vínculo de


filiação;

(iii) concedidas antes que a criança atinja a idade de 18 anos

2.5.2 – Requisitos para as Adoções Internacionais

Os artigos 4º e 5º estabelecem os requisitos a serem observados pelo


Estado de origem do adotando no âmbito interno. Conforme a regra estatutária:

(i) o menor só poderá ser adotado se a autoridade competente do


Estado de origem (Juiz da Infância e Juventude) determinar e reconhecer que a
criança é adotável;

(ii) as autoridades deverão tomar as medidas necessárias para que a


adoção internacional seja efetivada somente quando há interesse, segurança e
proteção à criança;

(iii) o Estado de origem deve estar seguro de que as pessoas,


instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a adoção, tenham
sido devidamente instruídas das conseqüências do consentimento, bem como
orientados quanto à ruptura e manutenção dos vínculos jurídicos entre a criança e
sua família biológica, em virtude da adoção; 20

(iv) se faz necessária a verificação da existência de consentimento


materno, como também, a manifestação da vontade dos envolvidos em adotar

20
No Brasil a ruptura do vínculo jurídico com a família natural ocorre antes da criança chegar ao Estado de
acolhida.

39
perante a autoridade competente e, havendo a criança condição de se manifestar, é
preciso que seja expressada sua vontade sem nenhuma coação; 21

(v) e por fim, que os futuros pais adotivos estejam habilitados e aptos
a adotar.

2.5.3 – Autoridades Centrais e Organismos Credenciados

Para que haja a adoção internacional é necessária a existência de uma


Autoridade Central e Organismos Credenciados cooperando entre si, para
assegurarem e protegerem os interesses das crianças, possibilitando também a
troca de informações de caráter geral para que a convenção possa ser aplicada
corretamente.

Especificam os artigos 10 a 12 determinadas regras para que organismos


(sem fins lucrativos e credenciados pelos Estados Partes) possam atuar em matéria
de adoção internacional. Como exemplo, podemos citar o art. 12 que determina “um
organismo credenciado em um Estado Contratante poderá atuar em outro Estado
Contratante se tiver sido autorizado pelas autoridades competentes de ambos os
Estados.

Prevê-se, por fim, uma maneira de se saber quais os organismos


acreditados, determinando que, após a designação das Autoridades Centrais e
Organismos Credenciados deverão ser comunicados pelo Estado Contratante ao
Bureau Permanente da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado.

21
Adoção – Menor – Ausência de consentimento da mãe biológica – Falta de preenchimento dos requisitos
legais – Pedido indeferido.
Ausente o consentimento da mãe do menor para a adoção, o pedido não preenche os requisitos que a Lei prevê
para espécie, não podendo assim ser deferido, tendo em vista, ainda não haver prejuízo ao interesse do menor.
Sentença confirmada.

40
2.5.4 – Requisitos processuais para a Adoção Internacional

Os requisitos de procedimento para a adoção internacional estão


estabelecidos nos artigos 14 a 22, onde sinteticamente são mencionados:

(i) os solicitantes deverão se dirigir à autoridade central do Estado da


residência habitual do adotando.

(ii) preparação de um relatório com informações detalhadas sobre os


adotantes, pela Autoridade Central do Estado destes, à Autoridade Central do
Estado de origem da criança, caso os pretendentes estejam aptos e habilitados para
adotar;

(iii) após a análise dos documentos recebidos, caso a Autoridade


Central do Estado de origem, considere alguma criança adotável, transmitirá um
relatório da criança;

(iv) a decisão de confiar uma criança à adoção internacional somente


poder ser tomada no Estado de origem se os futuros pais manifestaram seu acordo,
se a Autoridade Central do Estado dos adotantes tenham aprovado a decisão, se as
Autoridades Centrais de ambos os Estados estão de acordo que se prossiga a
adoção, se os futuros pais são habilitados e aptos a adotar, e se a criança tenha
sido ou será autorizada a entrar e residir permanentemente no Estado de acolhida;

(v) por fim, as autorizações de saída e de entrada e permanência


serão providenciadas pelas Autoridades dos Estados envolvidos, como também as
trocas de informações necessárias.

É importante deixar registrado que, as decisões mencionadas são


meramente administrativas sendo indispensável à decisão judicial, a qual apreciará

TJES, Ap. 052.930.002.077 – Vitória,r el. Des. José Eduardo Granai Ribeiro (Revista Igualdade n. 15, MP-PR).

41
os elementos objetivos e subjetivos que são aferidos do conteúdo processual, do
estágio de convivência e dos pareceres da equipe interprofissional.

No Brasil, a Adoção Internacional está vinculada a um procedimento


bipartido, que tem início com a chamada fase administrativa, onde a Autoridade
Central do país de acolhida verificará as condições do casal ou da pessoa habilitada
para a adoção, expedindo-se o documento de habilitação. Finalizada esta fase,
inicia-se a judicial perante a Vara da Infância e da Juventude, desenvolvendo-se o
processo conforme as regras estatutárias, em consonância com o Código Civil e o
Código de Processo Civil, chegando finalmente a sentença.

2.5.5 – Reconhecimento e efeitos da adoção

Uma vez concedida a adoção pelas regras da Convenção, e certificada,


será reconhecida por todos os Estados contratantes.

A comprovação da adoção implica no reconhecimento do vínculo de


filiação entre a criança e seus pais adotivos, na responsabilidade paterna dos pais
adotivos a respeito da criança e na ruptura da filiação preexistente entre a criança e
seus pais biológicos. Não havendo a mencionada ruptura, pode haver a conversão
no Estado de acolhida, para a produção de efeitos, desde que a legislação do
Estado permita e que haja as necessárias autorizações.

2.5.6 – Disposições Gerais

O capítulo VI da Convenção estabelece as disposições gerais referentes


à:

(i) não afetação de nenhuma lei do Estado de origem que exija que o
processo de adoção ocorra em seu território e nem que proíba a saída da criança
antes da adoção;

42
(ii) que não deve haver nenhum tipo de contato entre os pais adotivos
e os biológicos até que seja estabelecido que a criança é adotável, ressalvando-se
os casos de adoção efetuada por membro de uma mesma família;

(iii) sigilo da origem da criança e de informações que possam


identificar os pais e sua história médica

(iv) a proibição de benefícios indevidos quando da intervenção.

Caso alguma das disposições da Convenção não seja respeitada a


Autoridade Competente deverá informar a Autoridade Central para que sejam
tomadas as medidas cabíveis.

Acrescer mencionar que, admite-se o pagamento de custas, despesas e


honorários profissionais das pessoas que tenham intervindo na adoção (como por
exemplo, o tradutor juramentado). No Brasil contudo é isenta do pagamento e custas
processuais.

É possível ainda, que os Estados envolvidos no processo de adoção


realizem acordos a fim de facilitar a aplicação das regras da Adoção Internacional.

2.5.7 – Cláusulas finais

Essas cláusulas, dispostas no Capítulo VII, estabelecem que qualquer


Estado pode aderir à convenção, bastando para tanto, depositar o instrumento de
adesão junto ao depositário.

Os efeitos da adesão dependerão de inexistência de objeções por parte


dos Contratantes, as quais poderão ser apresentadas nos seis meses seguintes da
notificação da adesão.

43
CAPÍTULO III

3.1 – ASPECTOS PROCESSUAIS PARA A ADOÇÃO INTERNACIONAL

Para que seja realizado o processo de adoção se faz necessário o


preenchimento de uma série de requisitos e procedimentos, que visam preservar o
interesse superior da criança em ter uma convivência familiar e comunitária.

Para o adotante estrangeiro, não domiciliado no Brasil, além das


exigências impostas a todo pretendente à adoção, já mencionados no capítulo
anterior, a lei prescreve outras medidas.

A capacidade para adotar, segundo a Convenção de Haia, será dada


sempre pela Lei do Estado em que os pleiteantes habitualmente residam, dessa
forma, para efeito de processamento do pedido de adoção de um brasileiro por um
estrangeiro, as duas leis – a do adotante e do adotando – deverão ser analisadas e
cumpridos os requisitos exigidos em ambas.

Segundo o tratadista Gustavo Ferraz de Campos Mônaco 22 , o legislador


brasileiro de Direito Internacional Privado, naquilo que concerne às adoções
internacionais, entendeu que a capacidade de direito e a capacidade de fato devem
ser reguladas pela lei sob cujo império residam os adotantes.

Quanto à condição civil do adotante, as legislações sobre a adoção não


são unânimes, algumas só admitem a adoção por pessoas casadas; outras
permitem também para solteiros e viúvos. O ideal é buscar sempre a proteção dos
superiores interesses da criança.

Em relação ao estágio de convivência observamos uma das barreiras


“impostas” ao estrangeiro não residente no país que pretende adotar uma criança, a
qual tece comentários Eunice Ferreira Rodrigues Granato:

22
MONACO, Gustavo Ferraz de Campos, Direitos da Criança e Adoção Internacional. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002, p.84.

44
“Não existe possibilidade de o estrangeiro, interessado em adotar, cumprir
o estágio de convivência, se não tiver uma autorização escrita pelo juiz, documento
esse que legitimará a presença da criança ou adolescente em sua companhia. Essa
autorização, na verdade, é uma “guarda provisória”.
Não teria sentido ficar o adotante no hotel e a criança na instituição, para
cumprir o estágio, porque não haveria convivência. 23 ”

No mesmo sentido comenta Wilson Donizete Liberati: “ Como se vê, o


legislador preferiu conferir aos estrangeiros condições diferenciadas das dos
nacionais quando o assunto é adoção. Nesse particular, a lei tratou desigualmente
pessoas com as mesmas intenções, ou seja, considerou o adotante nacional pessoa
mais confiável, vez que desincumbiu-o da tarefa de cumprir o estágio de
convivência, nas hipóteses acima referidas.” 24

O direito à adoção, no Brasil, é igual para todos não importando a


nacionalidade, diferindo entre nacionais e estrangeiros a quantidade de documentos
que o estrangeiro tem que apresentar ao juiz.

Levanta-se a seguinte questão em relação ao estágio: qual a importância


de se realizar um estágio com crianças menores de dois anos?

Tal estágio será frutífero apenas para o casal, que se adaptará com a
rotina de ter consigo um bebê. Já para a criança nada irá acrescer, uma vez que não
consegue diferenciar as pessoas da família, se comunicar. Enfim, não sendo
possível uma avaliação para descobrir se a criança está aceitando ou não aquele
casal, frise-se, seja ele nacional ou estrangeiro.

Então diante da questão acima levantada qual o motivo da diferença de


tratamento dado ao adotante nacional e ao estrangeiro?

23
GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática, p.118.
24
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.169.

45
Em relação ao §1º do art. 51 do ECA, é sábia medida a comprovação,
pelo candidato, de sua habilitação à adoção em seu domicílio, por meio de
documento expedido pela autoridade competente, bem como a apresentação de
estudo psicossocial, elaborado por agência credenciada do país de origem.

Indispensável se faz, também, que seja conhecido o texto pertinente à


legislação estrangeira em vigência, devidamente traduzido por tradutor juramentado,
evitando-se, assim, conflitos entre a legislação brasileira e a legislação do país de
acolhida.

A proibição imposta no parágrafo 4º do artigo em questão, constitui


medida protetiva, não permitindo que o adotando deixe o país de origem antes que
seja consumada a adoção.

No mesmo aspecto, o art. 85 exige prévia autorização judicial para que a


criança ou adolescente nacional possa sair do país, em companhia de estrangeiro
residente ou domiciliado no exterior.

Enfim, todas essas medidas visam proteger o menor, impedindo que haja
desvios na finalidade da adoção, bem como que seja coibido o tráfico de crianças e
adolescentes.

3.2 – COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO


INTERNACIONAL

Com o intuito de impedir que haja desvios na finalidade da adoção,


preocupou-se o legislador com a criação de um órgão auxiliar da justiça para o
estudo de pedidos formulados por estrangeiros não residentes no Brasil, que são as
comissões estaduais de adoção internacional, as quais funcionam em todos os
Estados brasileiros.

Assim prevê o artigo 52 do Estatuto:

46
“A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e
análise de uma Comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o
respectivo laudo de habilitação para instruir o processo competente.
Parágrafo único: Competirá à comissão manter registro centralizado de
interessados estrangeiros em adoção.”

A CEJAI (Comissão Estadual Judicial de Adoção Internacional) é um


órgão composto por desembargadores e juízes de Direito, procuradores e
promotores de justiça, psicólogos, sociólogos, pedagogos, assistentes sociais,
advogados, médicos e outros.

“Originariamente, a Comissão tinha como missão e finalidade colocar a


salvo as crianças disponíveis para a adoção internacional, como forma de evitar-lhes
a negligência, a discriminação, a exploração, a violência, a crueldade e opressão.
Além de perseguir os superiores interesses da criança, a Comissão
procura manter intercâmbio com outros órgãos e instituições internacionais de apoio
à adoção, estabelecendo com elas um sistema de controle e acompanhamento dos
casos apresentados e divulgando suas atividades. (...)” 25

No Estado de São Paulo, por exemplo, a comissão é constituída por sete


magistrados: três desembargadores, sendo um deles o Corregedor Geral da Justiça,
que irá presidir a Comissão, mais quatro juízes de Varas da Infância e Juventude,
desenvolvendo as seguintes atribuições:

I – organizar, no âmbito do Estado, cadastros centralizados de:

a) pretendentes estrangeiros, domiciliados no Brasil ou no exterior, à


adoção de crianças brasileiras;
b) crianças declaradas em situação de risco pessoal ou social, passíveis
de adoção, que não encontrem colocação em lar substituto em nosso País;

25
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.122.

47
II – manter intercâmbio com órgãos e instituições especializadas
internacionais, públicas ou privadas, de reconhecida idoneidade, a fim de ajustar
sistemas de controle e acompanhamento de estágio e convivência no exterior;

III – trabalhar em conjunto com entidades nacionais, de reconhecida


idoneidade e recomendadas pelo Juiz da Infância e Juventude da Comarca;

IV – divulgar trabalhos e projetos de adoção, onde sejam esclarecidas


suas finalidades, velando para que o instituto seja usado somente em função dos
interesses dos adotandos;

V – realizar trabalhos junto aos casais cadastrados, visando favorecer a


superação de preconceitos existentes em relação às crianças adotáveis;

VI – propor às autoridades competentes medidas adequadas, destinadas


a assegurar o perfeito desenvolvimento e devido processamento das adoções
internacionais no Estado, para que todos possam agir em colaboração, visando
prevenir abusos e distorções quanto ao uso da adoção internacional;

VII – expedir o Laudo ou Certificado de Habilitação, com validade em todo


o território estadual, aos pretendentes estrangeiros e nacionais à adoção, que
tenham sido acolhidos pela Comissão.

Passemos agora a declinar sobre a forma e as documentações exigidas


ao candidato à adoção internacional.

Para se inscrever na CEJAI deverá o candidato formular uma petição


contendo os seguintes dados: (i) endereçamento: o pedido deverá ser dirigido ao
presidente da Comissão; (ii) qualificação do requerente: nome, estado civil,
profissão, endereço; (iii) fundamentação legal artigo e lei correspondente da adoção;
(iv) pedido: o requerimento de inscrição e habilitação para adoção de crianças
nacionais; (v) data e assinatura.

48
Quanto à documentação, além da procuração para o advogado ou pessoa
que represente o adotante, deverão ser juntados os seguintes documentos: (i)
certidão de nascimento ou casamento; (ii) passaporte; (iii) atestado de sanidade
física e mental expedido pelo órgão de vigilância de saúde do país de origem; (iv)
comprovação de esterilidade ou infertilidade de um dos cônjuges, se for o caso; (v)
atestado de antecedentes criminais; (vi) estudo psicossocial elaborado por agência
especializada e credenciada no país de origem; (vii) comprovante de habilitação
para a adoção de criança estrangeira, expedida pela autoridade competente do seu
domicílio; (viii) fotografia do requerente e do lugar onde habita; (ix) declaração de
rendimentos; (x) declaração de que concorda com os termos da adoção e de que o
seu processamento é gratuito; (xi) legislação sobre a adoção do país de origem
acompanhada de declaração consular de sua vigência; (xii) declaração quanto à
expectativa do interessado em relação às características e faixa etária da criança.

Em seguida, a CEJAI determinará a realização de estudo social através


de um de seus técnicos, que apresentará parecer sobre a adoção pleiteada.

Após o referido estudo, a CEJAI expedirá um Laudo de Habilitação, se o


interessado estiver apto para adotar criança ou adolescente brasileiro. Caso seja
negada a solicitação ou houver inconformismo com a decisão, poderá ser interposto
recurso para a Câmara Especial do Tribunal de Justiça.

Possuindo o Laudo de Habilitação, o interessado estará qualificado para


requerer a adoção em qualquer cidade do Estado.

Devemos salientar que as Autoridades Centrais devem manter registro


das Organizações que se destinam a intermediar os processos de adoção,
credenciando-os como única forma para sua atuação no país ou unidade federativa.

É importante notar, finalmente, alguns dados significativos que são


relacionados às qualificações dos adotandos, comentados pela doutrinadora Eunice
Ferreira Rodrigues Granato:

49
“ Enquanto entre os brasileiros dispostos a adotar, poucos se encontram
que desejam fazê-lo em relação a pretos, pardos, deficientes físicos ou mentais e a
crianças de mais idade ou adolescentes, os estrangeiros adotaram duzentos e
quarenta e nove pretos e novecentos e setenta e dois pardos e também portadores
de deficiências físicas ou mentais. Em relação à idade, setecentas e setenta e sete
crianças tinham entre quatro e seis anos; quinhentas e trinta e oito, de sete a dez
26
anos e cento e quarenta e três de onze a dezesseis anos.”

Dessa forma, podemos observar que embora sejam impostas inúmeras


barreiras para que os estrangeiros adotem crianças e adolescentes brasileiros, que
vão desde o estágio de convivência até as incontáveis documentações e
procedimentos exigidos, são esses – tratados de maneira diferenciada pela
legislação, muitas vezes sendo prejudicados em relação aos adotantes nacionais –
os indivíduos que menos preconceito possuem ao adotar. Pois eles estão
interessados no real objetivo da adoção, que é atender as necessidades do
adotando, não estão procurando bebês loiros e de olhos azuis, buscam, na verdade,
uma criança ou adolescente que necessite de sua proteção, seu carinho e seu amor,
independentemente de cor, raça ou condição física.

3.3 – EFEITOS DA ADOÇÃO

3.3.1 – Efeitos relativos ao estado familiar do adotado

3.3.1.1 – Família biológica

De acordo com o disposto no art. 1626 do Código Civil “a adoção atribui a


situação de filho ao adotado, desligando-se de qualquer vínculo com os pais e
parentes consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento”.

Devemos entender por impedimento matrimonial que a adoção não


impede o casamento entre o adotante e descendentes do adotado, nem entre o

26
GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática. 1ª ed, 4ª tir. Curitiba:2006; p.124.

50
adotado e os ascendentes do adotante, o impedimento ocorre unicamente entre as
partes intervenientes na escritura da adoção.

3.3.1.2 – Família Adotiva

A legislação brasileira estabelece que o filho adquire o domicílio dos pais


ou responsáveis. Dessa forma, os efeitos que nascem dessa nova relação, serão
regulados pela lei do Estado de acolhida, pois lá será o local em que as partes
habitualmente residirão.

3.3.2 – Efeitos relativos ao estado pessoal do adotado

3.3.2.1 – Nome

A legislação possibilita a mudança do prenome do adotado, porém, antes


de fazê-lo seria prudente analisar, rigorosamente, cada caso concreto.

A mudança de prenome para uma criança de poucos meses não possui


qualquer restrição, uma vez que nessa idade elas ainda não atendem pelo nome
que são chamadas. Dessa forma, nada prejudicaria-a, bem como facilitaria sua
criação, pois aproxima da filiação biológica, quando os pais escolhem o nome.

Em relação as crianças que já atendem pelo nome com que são


chamados, para não ficar no dilema entre a impossibilidade absoluta da Lei dos
Registros Públicos e(6.015/73) e a troca autorizada pelo Estatuto, a qual pode ser
psicologicamente danosa ao adotando, a melhor sugestão parece ser o uso de
nomes compostos, assim, por exemplo, uma criança registrada como Maria e os
adotantes desejando chamá-la de Carolina, com a adoção passa a chamar-se Maria
Carolina, e posteriormente, no decorrer da relação intrafamiliar se dará ênfase a
utilização do nome desejado pelos adotantes.

Para Maria Josefina Becker, “não é recomendável tal alteração, a partir do


momento em que a criança se identifica com seu próprio nome, o que, em geral,

51
ocorre já nos primeiros meses de vida”. E acrescenta que de um modo geral, nesses
casos, manter o nome original é uma forma de respeitar a identidade da criança e de
27
manifestar a aceitação, sem reservas, de sua pessoa.”

Os conceitos acima mencionados também serão aplicáveis às Adoções


Internacionais, sendo recomendável que a grafia do prenome seja ajustada à língua
dos adotantes, com intuito de facilitar a sua adaptação no país de acolhida.

Processualmente, o novo registro de nascimento será determinado por


mandado judicial do qual não será fornecido certidão, garantindo, dessa foram, o
sigilo referente à origem da criança. O mandado será arquivado e cancelará o
registro original do adotado, produzindo-se um novo, do qual constarão os nomes
dos novos pais e de seus antecedentes, extraindo-se certidão de nascimento da
qual não constará nenhuma ressalva referente à origem do parentesco, em atenção
à norma constitucional, no sentido da igualização da condição de filho, seja qual for
a origem.

3.3.2.2 – Nacionalidade

Ensina Jacob Dolinger que “a nacionalidade é o vínculo jurídico que une,


liga, vincula, o indivíduo ao Estado (...)” e ainda que “a nacionalidade acentua o
aspecto internacional, ao distinguir entre nacionais e estrangeiros “ 28

Ao ser concedida a adoção, o adotado não passa a ser, automaticamente,


da mesma nacionalidade do adotante; tampouco adquire a cidadania estrangeira.
Essa “aquisição”, como veremos, acontece, plenamente ou não, a partir do momento
em que o adotante retorna para sua terra natal e providencia o requerimento
especial, para dar eficácia à sentença brasileira. 29

27
BECKER, Maria Josefina. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p.154.
28
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – Parte Geral, p.157.
29
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.209.

52
A nacionalidade somente será conquistada ou adquirida mediantes as
formas estabelecidas pela lei do país dos adotantes, em virtude de serem normas de
direito público, integrantes do poder discricionário dos países.

3.3.3 – Efeitos de ordem patrimonial

Com a decretação da adoção, o adotado integra a família do adotante


como filho, com todos os direitos e deveres, inclusive os sucessórios.

Vale lembrar que, antes da vigência da Constituição Federal de 1988, a


situação era bem diferente. Estabelecia os arts. 377 e 1.605, §2º do Código Civil de
1917 que se o adotivo fosse adotado sem que houvesse prole legítima, legitimada
ou reconhecida, e esta fora superveniente à adoção, herdaria metade do que
coubesse a qualquer herdeiro daquelas classes, mas se a adoção fosse efetivada
após a existência da prole, nada herdaria.

Atualmente, não resta dúvidas em relação ao direito do adotado em


susceder o adotante: (i) “os filhos , havidos ou não da relação do casamento, da
união estável ou por adoção, terão os mesmos direitos” (CF, art. 227,§6º e art. 20 do
Estatuto); (ii) “a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos
direitos e deveres, inclusive sucessórios (...)” (ECA, art. 41 e CC, arts. 1.621, §2º, e
1.623); (iii) “o vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial (...)” (ECA, art.
47); (iv) “a adoção é irrevogável” (ECA, art. 48); e (v) “a sucessão legítima defere-se
na ordem seguinte: I – aos descendentes (...) II – aos ascendentes (...)” (CC, art.
1.829, I e II).

53
CAPÍTULO IV

4.1 – EXCEPCIONALIDADE DA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA


ESTRANGEIRA

Dispõe o art. 31 do Estatuto da Criança e do Adolescente “A colocação


em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível
na modalidade da adoção.”

Nesse sentido, o XIII Congresso da Associação Internacional de


Magistrados de Menores e de Família, realizado em Turim, Itália, em 1990,
recomendou:

“Que seja confirmado o caráter subsidiário da adoção internacional, à qual


se poderá recorrer somente depois de esgotadas todas as possibilidades de
manutenção da criança na própria família ou em outra família no seu país de
origem.” (destaque nosso)

Todavia, ao analisarmos tal questão, não podemos nos prender a


nacionalidade, enquanto milhares de crianças e adolescentes não possuem
condições mínimas de dignidade, respeito e subsistência. Afinal de contas o que
deverá prevalecer: a nacionalidade dos adotantes ou o interesse dos adotados?

A Adoção Internacional foi inserida com o objetivo de atender os


interesses do adotando ante à globalização mundial e a aproximação dos povos,
sendo um instrumento eficaz de integração sócio-familiar para as crianças
abandonadas.

Como já vimos no capítulo anterior, são os estrangeiros que - apesar dos


inúmeros obstáculos para realizar uma adoção legal - menos preconceito possuem
em relação às crianças a serem adotadas, não se importando com a cor, raça ou
condição física.

54
Devemos enfatizar que, é extremamente vergonhoso verificarmos que
com toda a “preferência” que possuímos somos capazes de discriminar “nossas”
crianças, enquanto aqueles que lutam arduamente por essa possibilidade, nada
mais querem do que um ser para proteger, amar e se dedicar incondicionalmente.

Cumpre esclarecer que, as investigações realizadas em diversos países


já oferecem condições de avaliar se as crianças adotadas, por estrangeiros, têm tido
problemas de ordem sócio-cultural. As pesquisas revelam que a maioria das
adoções internacionais, feitas com rigorosa observância dos critérios legais, tem
alcançado notável sucesso na sua finalidade superior de promover a integração
plena da criança em seu novo meio familiar e social. Como bem ponderou Denise
Siri – Duvoisin, 30 a autora de uma importantíssima investigação com 300 adoções
internacionais, isto por si só bastaria para tranqüilizar os opositores da adoção
internacional, mesmo que uma baixa percentagem de casos haja conhecido
insucesso. O êxito dessas adoções comprova, mais uma vez, o que há muito a
sublime instituição vem demonstrando: que os vínculos familiares se nutrem muito
mais de afeto do que de sangue.

30
SPRING – DUVOISIN, Denise. L´Adoption Internacionale – Que sont – ils? Editions Advimark, Lausane,
Suíça, 1986. Fonte: site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Matéria: Adoção Internacional: aspectos
juídicos, políticos e sócio culturais. Tarcísio José Martins Costa – Juiz da Infância e Juventude de Belo
Horizonte. Presidente da Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e Juventude – ABRAMINJ. Autor
do livro Adoção Transnacional.

55
CAPÍTULO V

5.1 – DEMAIS QUESTÕES RELACIONADAS À ADOÇÃO


INTERNACIONAL

5.1.2 – Crimes em matéria de Adoção Internacional

O tema da adoção internacional, além de envolver questões de caráter


humanitário, igualmente se defronta com os crimes em matéria de adoção
internacional. Pois, nem todas as pessoas guardam o nobre desejo de ver sua
criança adotada sob a égide da lei; importam-se apenas com a obtenção da criança,
que, em seu poder, era levada para o país estrangeiro sem qualquer procedimento
legal.

No Brasil, houve uma melhora dessa situação após a ratificação da


Convenção de Haia. Também vemos que, a ação criminosa relacionada com a
adoção internacional, recebeu tratamento rigoroso no art. 239 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, o qual dispõe: “Promover ou auxiliar a efetivação de ato
destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com a inobservância
das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena – reclusão de quatro a
seis anos e multa.” Tal tratamento visa evitar que as crianças sejam enviadas ao
exterior em desacordo com as normas brasileiras.

5.1.2.1 – Tráfico de crianças

O tráfico de crianças, principalmente as de pouca idade, é uma


preocupação constante para as Nações. Contudo, não se identifica com a adoção,
posto que a última é atitude adequada aos princípios legais.

Atualmente, o tráfico de crianças está relacionado, principalmente com a


prostituição infanto-juvenil, onde organizações criminosas buscam nos países menos
desenvolvidos crianças e jovens para serem utilizados em trabalhos forçados, em
produções pornográficas e prostituição.

56
5.1.2.2 – Tráfico de órgãos

Não poderíamos deixar de citar as denúncias infundadas sobre o tráfico


de órgãos infantis, que prejudicava a adoção internacional.

O Eminente Juiz Antônio Augusto Guimarães de Souza, apresentou o


“Relatório submetido pela Agência de Divulgação dos Estados Unidos da América ao
Relator Especial das Nações Unidas sobre o comércio de crianças, a prostituição e a
pornografia infantis”, no XVI Congresso da Associação Brasileira de Magistrados da
Infância e Juventude, realizado em Brasília, em outubro de 1995, o qual passamos a
transcrever alguns trechos:

Desde janeiro de 1987 têm-se avolumado na imprensa mundial os


rumores de seqüestros de crianças, a serem usadas como doadores involuntários
em transplantes de órgãos. No entanto, nenhum governo, organismo internacional,
organização não-governamental ou jornalista investigativo chegou a oferecer
qualquer prova aceitável para corroborar tal alegação. Pelo contrário, há muitas
razões para se acreditar que o rumor sobre o tráfico de órgãos infantis é uma “lenda
urbana” moderna, uma falsidade aceita normalmente como verdadeira porque
traduz, em forma de ficção, ansiedades generalizadas a respeito da vida moderna.
Os especialistas em transplantes de órgãos concordam que seria
impossível ocultar com êxito qualquer esquema clandestino orientado para o “tráfico-
de-orgãos-alimentado-pelo-homicídio”. Devido ao número elevado de pessoas que
precisam participar de um transplante de órgãos; a sofisticada tecnologia médica
necessária para conduzir tais cirurgias, ao tempo extremamente curto em que os
órgãos permanecem adequados ao transplante e a natureza abominável de tais
atividades, tais operações não poderiam ser organizadas clandestinamente nem
mantidas em segredo.

Ainda lemos, no mesmo documento:

A Agência de Divulgação dos Estados Unidos investigou denúncias de


tráfico de órgãos infantis desde que apareceram pela primeira vez na imprensa

57
mundial, em janeiro de 1987. Além de suas próprias investigações, a Agência
procurou também conhecer os resultados de estudos feitos sobre o tema por
instituições governamentais como as Nações Unidas e o Parlamento Europeu, como
também por outros governos, organizações não-governamentais e jornalistas
investigativos. Apesar de quase oito anos de investigações exaustivas envolvendo
numerosas alegações, a Agência de Divulgação dos Estados Unidos não tem
conhecimento de qualquer prova aceitável resultante de qualquer investigação feita,
que indique que já tenha ocorrido o tráfico de órgãos infantis. Ao contrario, todos os
dados disponíveis levam à mesma conclusão: as alegações de tráfico de órgãos
infantis são um mito infundado.

5.1.2.3 – Adoção à Brasileira

A chamada “adoção à brasileira” consiste no registro de filho alheio como


próprio.

Os motivos que levam alguém a registrar filho alheio como próprio, por
esse método, são os mais variados, mas fácil é intuir que, dentre eles, estão a
esquiva a um processo judicial de adoção demorado e dispendioso, mormente
quando se tem que contratar advogado; o medo de não lhe ser concedida a adoção
pelos meios regulares e, pior ainda, de lhe ser tomada a criança, sob o pretexto de
se atender a outros pretendentes há mais tempo “na fila” ou melhor qualificados; ou
ainda, pela intenção de se ocultar à criança a sua verdadeira origem. 31

Essa conduta criminosa depõe contra o interessado estrangeiro em


adoção, pois revela que seu desejo de adotar ultrapassa os limites impostos pela
legalidade, transformando-o em delinqüente, colocando-o contra a lei.

Há ainda, aquelas pessoas que registram crianças como se fossem seus


filhos com o intuito de envia-las ilegalmente para outros países em troca de altos
valores.

31
GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática, p.131.

58
Nesse sentido, foi publicada no dia 09/02/2006, no Jornal Folha de São
Paulo, uma reportagem destacando a chamada “Operação Cegonha” da Polícia
Federal onde foram presas pessoas integrantes de uma quadrilha especializada em
enviar crianças ilegalmente para os Estados Unidos, cobrando em torno de US$ 13
mil por criança para providenciar os documentos e transportá-la. E ainda, em alguns
casos as crianças eram registradas como filhos dos integrantes do grupo, citando
como um dos suspeitos um sargento da PM que possui doze filhos registrados.

Não podemos esquecer que a adoção procedida sem obedecer os


critérios legais (por mais nobre que seja o motivo) pode, também, prejudicar a
maneira como os pais irão educar seus filhos, uma vez que eles sempre estarão
preocupados porque fizeram algo errado, dessa forma terão um relacionamento
familiar baseado em mentiras, prejudicando o seu alicerce: a confiança.

5.1.3 – Adoção por casais homossexuais

Ainda não há em nosso ordenamento jurídico, um posicionamento a


respeito da possibilidade de um homossexual pleitear e ter o deferimento da adoção
de uma criança.

Atualmente, podemos observar uma constante mudança de


comportamento da sociedade, como exemplo, podemos citar a não admissibilidade
do reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento, no Código Civil de 1916, o
que já passou a ser observado pela legislação atual.

O mesmo ocorre em relação à união entre homossexuais, houve um


grande avanço na legislação sobre casais gays desde 1989, conforme quadro
publicado no dia 02/12/2005 pelo Jornal Folha de São Paulo:

2 de dezembro de 2005 - A Câmara dos Deputados belga aprova lei que


permite gays adotarem crianças.A lei ainda precisa passar pelo Senado.

59
19 de julho de 2005 – O Senado do Canadá aprova o projeto de lei C-38,
que permite o casamento entre casais gays, legalizando a união entre homossexuais
em todo o país.

30 de junho de 2005 – A Câmara dos Deputados da Espanha aprova lei


que permite casamento gay e a adoção de crianças por esses casais.

28 de junho de 2005 – O Parlamento do Canadá aprova a legislação que


permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apesar da ferrenha oposição
de políticos conservadores e grupos religiosos. Para que a lei tenha abrangência
federal, é preciso que seja aprovada pelo Senado, o que deve acontecer até o final
de julho.

2 de junho de 2005 – Após três votações, uma assembléia na Califórnia


(Estados Unidos) rejeita um projeto de lei que permitiria o casamento homossexual
no Estado americano mais populoso.

21 de abril de 2005 – O Parlamento da Espanha dá a aprovação inicial


que legaliza o casamento gay. O Senado votou contra a proposta em junto, e o
projeto de lei retorna à Câmara dos Deputados.

20 de abril de 2005 – Uma corte de Connecticut permite a legalização de


uniões civis para casais gays, sem a necessidade de aprovação da Justiça.

5 de abril de 2005 – Eleitores do Kansas (EUA) aprovam um emenda à


Constituição do Estado que barra o casamento entre gays.

1º de fevereiro de 2005 – Canadenses divulgam a primeira versão da


legislação que permite o casamento gay, depois as cortes de sete das dez
províncias do país já tinham decidido a favor da união gay.

12 de agosto de 2004 – A Suprema Corte da Califórnia anula mais de


4.000 casamentos gays realizados em San Francisco.

60
27 de julho de 2004 – Uma corte francesa anula o primeiro casamento
gay do país, que aconteceu em 5 de junho de 2004.

10 de junho de 2004 – Uma corte do Estado de Nova York autoriza o


casamento entre homossexuais.
17 de maio de 2004 - os primeiros casais homossexuais se casam
legalmente em Massachusetts, que se torna, na época, o único Estado americano a
permitir o casamento gay.

Fevereiro de 2004 – O prefeito de San Francisco, Gavin Newson, desafia


a lei estadual e suspende uma lei que proibia casamentos gays. Em 2000, Vermont
foi o primeiro Estado americano a permitir uniões civis entre gays.

Julho de 2003 – Dois argentinos tornam-se o primeiro casal gay da


América Latina a usar uma nova lei que permite a união civil entre pessoas do
mesmo sexo.

Junho de 2003 – Uma corte de Ontário (Canadá) abre caminho para o


casamento gay na província ao declarar inconstitucional a definição de casamento
heterossexual.

O Reino Unido começa a estudar a possibilidade de permitir aos casais a


realização de uma união formal e legal, fazendo um registro de ‘união civil’.

Na Bélgica, a união civil entre homossexuais passa a ser permitida.

Julho de 2002 – A Alemanha permite que casais gays registrem suas


uniões junto a autoridades civis.

Dezembro de 2000 – A Holanda dá a aprovação final à lei que permite o


casamento e a adoção de crianças à casais do mesmo sexo. O governo holandês
reconhecia a união civil homossexual desde 1988.

61
Outubro de 1999 – A França garante a todos os casais o direito à união
civil, que inclui reformas na cobertura do seguro social e nas leis de transmissão da
herança.
Março de 1995 – A Corte Constitucional da Hungria derruba uma lei que
proíbe casamento entre gays.

Junho de 1994 – O Parlamento da Suécia aprova uma lei que permite a


união entre gays, que dá aos casais homossexuais os mesmos direitos garantidos
aos heterossexuais.

Agosto de 1993 – A Noruega se torna o segundo país do mundo a


permitir que gays e lésbicas registrem civilmente a união, fornecendo direitos quase
iguais aos que são oferecidos aos casais homossexuais.

Junho de 1989 – A Dinamarca aprova uma lei que permite o registro da


união civil a casais homossexuais, e abrigando-os na mesma lei heterossexual que
define direitos a parceiros em uniões heterossexuais.

Dessa forma, não podemos simplesmente fechar os olhos diante da


realidade – os casais homossexuais estão cada vez mais garantindo seus direitos e
sendo aceitos pela atual sociedade.

Nota-se que a família recebeu nova identificação a partir da leitura do §4º


do art. 226 da CF: “§4º Entende-se, também como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes.”

Segundo Wilson Donizeti Liberati 32 a dificuldade reside nos


posicionamentos morais e costumeiros de nossa sociedade, que recém saída de um
sistema patriarcal, vê-se cercada de constantes inovações nas relações afetivas,
como é o caso das relações homossexuais.

32
LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência. 2.ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2003; p.36.

62
A preocupação com a maneira de pensar da sociedade em relação aos
homossexuais foi demonstrada pelo magistrado pernambucano, Luiz Carlos de
Barros Figuerêdo com o caso transcrito na RT 463/329, em que o julgador lembra
que “não existe a menor dúvida de que o homossexual é um psicopata, ou seja,
indivíduo que, em virtude de mórbida condição mental, têm modificadas a
juridicidade de seus atos e de suas relações sociais.”

Para concordarmos com a possibilidade de adoção em conjunto por


homossexuais é necessário recorrermos ao princípio da igualdade previsto em
nossa Lei Maior.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não contém nenhum dispositivo


tratando da adoção por homossexuais, nem ao menos violando tal procedimento.
Neste sentido, caso fosse proibida a adoção por casais homossexuais haveria uma
violação clara ao princípio da igualdade.

Devemos entender que é perfeitamente aceitável que o homossexual


adote uma criança, contudo, o deferimento do pedido dependerá do comportamento
dele frente à sua comunidade, isto é, ficando a cargo do Juiz apurar sua conduta
social, da mesma forma como ocorre com o requerente heterossexual, no qual a
autoridade judiciária não poderá deferir de plano a adoção, sem antes detectar a
existência dos requisitos objetivos e subjetivos previstos no Estatuto.

Dessa forma, merece ser transcrito um trecho do projeto lei aprovado pelo
Parlamento espanhol que permite o casamento e a adoção de crianças por pessoas
do mesmo sexo:

“(...) Pero tampoco em forma alguna cabe al legislador ignorar lo evidente:


que la sociedad evoluciona en el mode de conformar y reconocer los diversos
modelos de convivencia, y que, por ello, el legislador puede, incluso debe, actuar en
consecuencia, y evitar toda quiebra entre el Derecho y los valores de la sociedad
cuyas relaciones ha de regular. En el sentido, no cabe duda de que la realidad social
española de nuestro tiempo deviene mucho entre más rica, plural y dinámica que la

63
sociedad en que surge el Código Civil de 1889. La convivencia como pareja entre
personas del mismo sexo baseada en la afectividad ha sido objeto de reconocimento
y aceptación social creciente, y ha superado arraigados prejuicios y
estigmatizaciones. Se admite hoy sin dificuldad que esta convivencia en pareja es un
medio a través del cual se desarrolla la personalidad de um amplio numero de
personas, convivencia mediante la cual se prestan entre sí apoyo emocional y
económico, sin más trascendencia que la que tiene lugar en una estricta relación
privada, dada su, hasta ahora, falta de reconocimiento formal por el Derecho.”

Ainda o mesmo projeto lei em relação à adoção estabelece que “En el


contexto señalado, la Ley permite que el matrimonio sea celebrado entre personas
del mismo o distinto sexo, con plenitud e igualdad de derechos y obligaciones
cualquiera que sea su composición. En consecuencia, los efeitos del matrimonio,
que se mantienen en su integridad respetando la configuración objetiva de la
institución, serán únicos en todos los ámbitos con independencia del sexo de los
contrayentes; entre otros, tanto los referidos a derecho y prestaciones sociales como
la possibilidad de ser parte en procedimiento de adopción.”

Em suma, o homossexual é tão capacitado quanto o heterossexual para


proceder à adoção, não devendo assim, sofrer discriminações por sua opção sexual.
Ocorrendo isto, seria o mesmo que não possibilitar sua admissão em uma empresa,
freqüentar um clube e até mesmo sua crença em virtude de ser gay.

Tal questão ainda está longe de ser solucionada, cabendo, contudo,


analisar até que ponto o preconceito deve ser mantido em detrimento do real
objetivo da adoção, que é a supremacia do interesse do adotando.

64
CONSIDERAÇÕES FINAIS

É na família que a criança encontra o ambiente adequado para se


desenvolver, estabelecer sua identidade e criar sua personalidade, possibilitando,
assim a formação de um adulto responsável, o qual assumirá seu papel na
sociedade e na família.

Não sendo possível encontrar com seus pais naturais para as condições
mínimas para a sua formação, será por meio da adoção que a criança conseguirá
uma família que a acolha, proteja, respeite e, sobretudo, ame.

Assim, a adoção internacional é um realidade que surge com o objetivo


de socorrer essas crianças, superando as barreiras da cultura e até mesmo idioma.
E para que esse objetivo seja atingido, é necessário que o Poder Público aplique os
dispositivos legais, aperfeiçoando o procedimento da adoção, sem descuidar das
providências da pesquisa das reais vantagens para o adotando.

Como forma aperfeiçoar o procedimento da adoção passamos a sugerir:

(i) não obrigatoriedade da realização do estágio de


convivência, pelos adotantes estrangeiros, com crianças
menores de dois anos;
(ii) possibilidade de se permitir à casais homossexuais adoção
de crianças ou adolescentes;
(iii) diminuição das barreira impostas aos estrangeiros não
residentes no país de origem do adotando e,
concomitantemente, uma maior fiscalização pelas CEJAI’s.

Diante de todo o exposto, devemos destacar que: na adoção, seja ela


nacional ou internacional, deve prevalecer o interesse da criança ou adolescente,
obedecendo os critérios legais prefixados para a realização do procedimento, para
que tal instituto não tenha sua finalidade desvirtuada.

65
BIBLIOGRAFIA

BECKER, Maria Josefina. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. São


Paulo: Malheiros, 1992.

COELHO Pereira, Curso de Direito de Família. Lisboa, 1977.

DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – Parte Geral. 7ª ed. Rio de


Janeiro: Renovar, 2003.

EPIFÂNIO, Rui M. L. e FARINHA, Antônio H. L. Organização Tutelar de Menores –


Contributo para uma Visão Interdisciplinar do Direito de Menores e de Família.
2ª ed., Coimbra, Livraria Almedina, 1992.

GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código


Civil. 2.ed. Curitiba: Juruá Editora, 2003.

GOMES, Orlando; Direito de Família. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.

GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática. 1ª ed, 4ª tir.


Curitiba:2006.

HUSEK, Carlos Roberto, Curso de Direito Internacional Público. 5ª ed. São Paulo:
Editora LTR, 2004.

LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência.


2.ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003.

MONACO, Gustavo Ferraz de Campos, Direitos da Criança e Adoção


Internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.84.
RODRIGUES, Silvio; Direito Civil. Direito de Família. 23.ed. São Paulo: Saraiva,
1998, Vol.6.; p.332.

66
SILVA, De Plácito e; Vocabulário Jurídico. Atualizações Slaibi Filho N., Alves G.M.
15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

67
ANEXO A:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


(Publicada no DOU em 05/10/1988)

TÍTULO VIII
DA ORDEM SOCIAL

CAPÍTULO VII
DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO

Art.226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação
judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação
de fato por mais de dois anos.
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Art.227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à

68
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
§ 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e
do adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e
obedecendo os seguintes preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência
materno-infantil;
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os
portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social
do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a
convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a
eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de
uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir
acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto
no art. 7º, XXXIII;
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,
igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado,
segundo dispuser a legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
adolescente órfão ou abandonado;
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao
adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.

69
§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança
e do adolescente.
§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá
casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
§ 7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á em
consideração o disposto no art. 204.

70
ANEXO B:

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Dando ênfase aos artigos pertinente à matéria abordada

LEI 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. – Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente, e dá providências.

LIVRO I
Parte Geral

TÍTULO I
Das Disposições Preliminares

Art. 1º Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este
estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes


à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder


Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

71
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais.

Art. 6º Na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se
dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e
a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento.

TÍTULO II
Dos Direitos Fundamentais

CAPÍTULO I
Do Direito à Vida e à Saúde

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a


efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento


pré e perinatal.
§ 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo
critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e
hierarquização do Sistema.
§ 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a
acompanhou na fase pré- natal.

72
§ 3º Incumbe ao Poder Público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que
dele necessitem.

Art. 9º O Poder Público, as instituições e os empregadores propiciarão condições


adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a
medida privativa de liberdade.

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes,


públicos e particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais,
pelo prazo de dezoito anos;
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital
e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
autoridade administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de normalidades no
metabolismo do recém- nascido, bem como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as
intercorrências do parto e do desenvolvimento de neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à
mãe.

Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por


intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento
especializado.
§ 2º Incumbe ao Poder Público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os
medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou
reabilitação.

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar


condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável,
nos casos de internação de criança ou adolescente.

73
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e


odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a
população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e
alunos.
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados
pelas autoridades sanitárias.

CAPÍTULO II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade


como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de
direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:


I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e
objetos pessoais.

74
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-
os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor.

CAPÍTULO III
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária

SEÇÃO I
Disposições Gerais

Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da
sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes.

Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.

Art. 21. O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para
a solução da divergência.

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais.

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente
para a perda ou a suspensão do pátrio poder.
Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da
medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual
deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.

75
Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em
procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na
hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o
art. 22.

SEÇÃO III
Da Família Substituta

SUBSEÇÃO I
Disposições Gerais

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou


adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos
termos desta lei.
§ 1º Sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previamente ouvido
e a sua opinião devidamente considerada.
§ 2º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação
de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as conseqüências
decorrentes da medida.

Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por
qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça
ambiente familiar adequado.

Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou


adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou não-governamentais,
sem autorização judicial.

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional,


somente admissível na modalidade de adoção.

Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de

76
bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.

SUBSEÇÃO IV
Da Adoção

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta


lei.
Parágrafo único. É vedada a adoção por procuração.

Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido,
salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e
deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e
parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os
vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os
respectivos parentes.
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o
adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a
ordem de vocação hereditária.

Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado


civil.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
§ 2º A adoção por ambos os cônjuges ou concubinos poderá ser formalizada, desde
que um deles tenha completado vinte e um anos de idade, comprovada a
estabilidade da família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o
adotando.
§ 4º Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente,
contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio
de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal.

77
§ 5º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação
de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando
e fundar-se em motivos legítimos.

Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não
pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o curatelado.

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do


adotando.
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos
pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do pátrio poder.
§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também
necessário o seu consentimento.

Art. 46. A adoção será procedida de estágio de convivência com a criança ou


adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as
peculiaridades do caso.
§ 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver mais
de um ano de idade ou se, qualquer que seja a sua idade, já estiver na companhia
do adotante durante tempo suficiente para se poder avaliar a conveniência da
constituição do vínculo.
§ 2º Em caso de adoção por estrangeiro residente ou domiciliado fora do País, o
estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de no mínimo quinze
dias para crianças de até dois anos de idade, e de no mínimo trinta dias quando se
tratar de adotando acima de dois anos de idade.

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no
registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de
seus ascendentes.
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do

78
adotado.
§ 3º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do
registro.
§ 4º A critério da autoridade judiciária, poderá ser fornecida certidão para a
salvaguarda de direitos.
§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poderá
determinar a modificação do prenome.
§ 6º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença,
exceto na hipótese prevista no art. 42, § 5º, caso em que terá força retroativa à data
do óbito.

Art. 48. A adoção é irrevogável.

Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o pátrio poder dos pais naturais.

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um


registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de
pessoas interessadas na adoção.
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos
do Juizado, ouvido o Ministério Público.
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer os requisitos
legais, ou verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 29.

Art. 51. Cuidando-se de pedido de adoção formulado por estrangeiro residente ou


domiciliado fora do País, observar-se-á o disposto no art. 31.
§ 1º O candidato deverá comprovar, mediante documento expedido pela autoridade
competente do respectivo domicílio, estar devidamente habilitado à adoção,
consoante as leis do seu país, bem como apresentar estudo psicossocial elaborado
por agência especializada e credenciada no país de origem.
§ 2º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
poderá determinar a apresentação do texto pertinente à legislação estrangeira,
acompanhado de prova da respectiva vigência.
§ 3º Os documentos em língua estrangeira serão juntados aos autos, devidamente

79
autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções
internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público
juramentado.
§ 4º Antes de consumada a adoção não será permitida a saída do adotando do
território nacional.

Art. 52. A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e análise de
uma comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o respectivo laudo de
habilitação para instruir o processo competente.
Parágrafo único. Competirá à comissão manter registro centralizado de interessados
estrangeiros em adoção.

CAPÍTULO IV
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares
superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo
pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram
acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

80
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um;
VI- oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente
trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de
material didático- escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.


§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público ou sua oferta
irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,
fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à
escola.

Art. 55. Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede regular de ensino.

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao


Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos
escolares;
III - elevados níveis de repetência.

Art. 57. O Poder Público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas


relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com
vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental
obrigatório.

Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e


históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a

81
estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura.

Art. 59. Os Municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão
a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de
lazer voltadas para a infância e a juventude.

CAPÍTULO V
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na
condição de aprendiz.

Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial,
sem prejuízo do disposto nesta lei.

Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada


segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.

Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:


I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular;
II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
III - horário especial para o exercício das atividades.

Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de


aprendizagem.

Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os


direitos trabalhistas e previdenciários.

Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno


de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é

82
vedado trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia
seguinte;
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico,
psíquico, moral e social;
IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob
responsabilidade de entidade governamental ou não-governamental sem fins
lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele participe condições de
capacitação para o exercício de atividade regular remunerada.
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências
pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
sobre o aspecto produtivo.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a
participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter
educativo.

Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho,


observados os seguintes aspectos, entre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

SEÇÃO II
Da Perda e da Suspensão do Pátrio Poder

Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do pátrio poder terá início
por provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.

Art. 156. A petição indicará:


I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido,

83
dispensada a qualificação em se tratando de pedido formulado por representante do
Ministério Público;
III - a exposição sumária do fato e o pedido;
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o rol de testemunhas
e documentos.

Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério
Público, decretar a suspensão do pátrio poder, liminar ou incidentalmente, até o
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa
idônea, mediante termo de responsabilidade.

Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta
escrita, indicando as provas a serem produzidas e oferecendo, desde logo, o rol de
testemunhas e documentos.
Parágrafo único. Deverão ser esgotados todos os meios para a citação pessoal.

Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir advogado, sem prejuízo
do próprio sustento e de sua família, poderá requerer, em cartório que lhe seja
nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o
prazo a partir da intimação do despacho de nomeação.

Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará de qualquer repartição


ou órgão público a apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou
a requerimento das partes do Ministério Público.

Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autoridade judiciária dará vista dos autos
ao Ministério Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo
em igual prazo.

§ 1° Havendo necessidade, a autoridade judiciária poderá determinar a realização


de estudo social ou perícia por equipe interprofissional, bem como a oitiva de
testemunhas.
§ 2° Se o pedido importar em modificação de guarda, será obrigatória, desde que

84
possível e razoável, a oitiva da criança ou adolescente.

Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao
Ministério Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando,
desde logo, audiência de instrução e julgamento.
§ 1° A requerimento de qualquer das partes, do Ministério Público, ou de ofício, a
autoridade judiciária poderá determinar a realização de estudo social ou, se
possível, de perícia por equipe interprofissional.
§ 2° Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, serão ouvidas as
testemunhas, colhendo-se oralmente, o parecer técnico, salvo quando apresentado
por escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e o
Ministério Público, pelo tempo de vinte minutos cada um, prorrogável por mais dez.
A decisão será proferida na audiência, podendo a autoridade judiciária,
excepcionalmente, designar data para sua leitura no prazo máximo de cinco dias.

Art. 163. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do pátrio poder será
averbada à margem do registro de nascimento da criança ou adolescente.

SEÇÃO III
Da Destituição da Tutela

Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimento para a remoção de


tutor previsto na lei processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.

SEÇÃO IV
Da Colocação em Família Substituta

Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de colocação em família


substituta:
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro,
com expressa anuência deste;
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou
companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou não parente

85
vivo;
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos;
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma
cópia da respectiva certidão;
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à
criança ou ao adolescente.
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão também os requisitos
específicos.

Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do pátrio
poder, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família
substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada
pelos próprios requerentes.
Parágrafo único. Na hipótese de concordância dos pais, eles serão ouvidos pela
autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por
termo as declarações.

Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do


Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia
por equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem
como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência.

Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre que
possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público,
pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.

Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do


pátrio poder constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em
família substituta, será observado o procedimento contraditório previsto nas Seções
II e III deste Capítulo.
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá ser decretada nos
mesmos autos do procedimento, observado o disposto no art. 35.

86
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o disposto no art. 32, e,
quanto à adoção, o contido no art. 47.

TÍTULO VII
Dos Crimes e das Infrações Administrativas

CAPÍTULO I
Dos Crimes

SEÇÃO I
Disposições Gerais

Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o
adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.

Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta lei as normas da Parte Geral do
Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal.

Art. 227. Os crimes definidos nesta lei são de ação pública incondicionada.

SEÇÃO II
Dos Crimes em Espécie

Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de


atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na
forma e prazo referidos no art. 10 desta lei, bem como de fornecer à parturiente ou a
seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde
constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à

87
saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião
do parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da
autoridade judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou


adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à
família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância
a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância
a tortura:
Pena - reclusão de um a cinco anos.
§ 1º Se resultar lesão corporal grave:
Pena - reclusão de dois a oito anos.
§ 2º Se resultar lesão corporal gravíssima:
Pena - reclusão de quatro a doze anos.
§ 3º Se resultar morte:
Pena - reclusão de quinze a trinta anos.
Revogado pela Lei 9.455,DE 07 DE ABRIL DE 1997.

88
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata
liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta lei em benefício de


adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do


Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função
prevista nesta lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda
em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga
ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferecer ou efetiva a paga ou
recompensa.

Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou


adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito
de obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.

Art. 240. Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva ou película


cinematográfica, utilizando-se de criança ou adolescente em cena de sexo explícito
ou pornográfica:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.

89
Parágrafo único. Inocorre na mesma pena quem, nas condições referidas neste
artigo, contracena com criança ou adolescente.

Art. 241. Fotografar ou publicar cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo


criança ou adolescente:
Pena - reclusão de um a quatro anos.

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de


qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por
utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui crime
mais grave.

Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso
de utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

90
ANEXO C:

CONVENÇÃO DE HAIA
RATIFICAÇÃO PELO GOVERNO BRASILEIRO

DECRETO Nº 3.087, DE 21 DE JUNHO DE 1999

Promulga a Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à


Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída na
Haia, em 29 de maio de 1993

O PRESIDENTE DA REPUBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,


inciso VIII, da Constituição,
CONSIDERANDO que Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à
Cooperação em Matéria de Adoção Internacional foi concluída na Haia, em 29 de
maio de 1993;
CONSIDERANDO que o Congresso Nacional aprovou o Ato multilateral em epígrafe
por meio do Decreto Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999;
CONSIDERANDO que a Convenção em tela entrou em vigor internacional de 1o de
maio de 1995;
CONSIDERANDO que o Governo brasileiro depositou o Instrumento de Ratificação
da referida Convenção em 10 de março de 1999, passará a mesma a vigorar para o
Brasil em 1o julho de 1999, nos termos do parágrafo 2 de seu Artigo 46;

DECRETA :

Art. 1º A Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria


de Adoção Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio de 1993, apensa por
cópia a este Decreto, deverá ser executada e cumprida tão inteiramente como nela
se contém.

Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.


Brasília, 21 de junho de 1999; 178o da Independência e 111o da República

91
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Luiz Felipe Lampreia

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 22.6.1999

Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de


Adoção Internacional

Os Estados signatários da presente Convenção,


Reconhecendo que, para o desenvolvimento harmonioso de sua personalidade, a
criança deve crescer em meio familiar, em clima de felicidade, de amor e de
compreensão;
Recordando que cada país deveria tomar, com caráter prioritário, medidas
adequadas para permitir a manutenção da criança em sua família de origem;
Reconhecendo que a adoção internacional pode apresentar a vantagem de dar uma
família permanente à criança para quem não se possa encontrar uma família
adequada em seu país de origem;
Convencidos da necessidade de prever medidas para garantir que as adoções
internacionais sejam feitas no interesse superior da criança e com respeito a seus
direitos fundamentais, assim como para prevenir o seqüestro, a venda ou o tráfico de
crianças; e
Desejando estabelecer para esse fim disposições comuns que levem em
consideração os princípios reconhecidos por instrumentos internacionais, em
particular a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 20 de
novembro de 1989, e pela Declaração das Nações Unidas sobre os Princípios
Sociais e Jurídicos Aplicáveis à Proteção e ao Bem-estar das Crianças, com
Especial Referência às Práticas em Matéria de Adoção e de Colocação Familiar nos
Planos Nacional e Internacional (Resolução da Assembléia Geral 41/85, de 3 de
dezembro de 1986),
Acordam nas seguintes disposições:

92
Capítulo I
Âmbito de Aplicação da Convenção

Artigo 1
A presente Convenção tem por objetivo:
a) estabelecer garantias para que as adoções internacionais sejam feitas segundo o
interesse superior da criança e com respeito aos direitos fundamentais que lhe
reconhece o direito internacional;
b) instaurar um sistema de cooperação entre os Estados Contratantes que assegure
o respeito às mencionadas garantias e, em conseqüência, previna o seqüestro, a
venda ou o tráfico de crianças;
c) assegurar o reconhecimento nos Estados Contratantes das adoções realizadas
segundo a Convenção.

Artigo 2
1. A Convenção será aplicada quando uma criança com residência habitual em um
Estado Contratante ("o Estado de origem") tiver sido, for, ou deva ser deslocada
para outro Estado Contratante ("o Estado de acolhida"), quer após sua adoção no
Estado de origem por cônjuges ou por uma pessoa residente habitualmente no
Estado de acolhida, quer para que essa adoção seja realizada, no Estado de
acolhida ou no Estado de origem.
2. A Convenção somente abrange as Adoções que estabeleçam um vínculo de
filiação.

Artigo 3
A Convenção deixará de ser aplicável se as aprovações previstas no artigo 17,
alínea "c", não forem concedidas antes que a criança atinja a idade de 18 (dezoito)
anos.

Capítulo II

Requisitos Para As Adoções Internacionais

93
Artigo 4
As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer quando as
autoridades competentes do Estado de origem:
a) tiverem determinado que a criança é adotável;
b) tiverem verificado, depois de haver examinado adequadamente as possibilidades
de colocação da criança em seu Estado de origem, que uma adoção internacional
atende ao interesse superior da criança;
c) tiverem-se assegurado de:
1) que as pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a
adoção hajam sido convenientemente orientadas e devidamente informadas das
conseqüências de seu consentimento, em particular em relação à manutenção ou à
ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a criança e sua família de
origem;
2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham manifestado seu
consentimento livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento se
tenha manifestado ou constatado por escrito;
3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante pagamento ou
compensação de qualquer espécie nem tenham sido revogados, e
4) que o consentimento da mãe, quando exigido, tenha sido manifestado após o
nascimento da criança; e
d) tiverem-se assegurado, observada a idade e o grau de maturidade da criança, de:
1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e devidamente informada
sobre as conseqüências de seu consentimento à adoção, quando este for exigido;
2) que tenham sido levadas em consideração a vontade e as opiniões da criança;
3) que o consentimento da criança à adoção, quando exigido, tenha sido dado
livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento tenha sido
manifestado ou constatado por escrito;
4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante pagamento ou
compensação de qualquer espécie.

Artigo 5
As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer quando as
autoridades competentes do Estado de acolhida:

94
a) tiverem verificado que os futuros pais adotivos encontram-se habilitados e aptos
para adotar;
b) tiverem-se assegurado de que os futuros pais adotivos foram convenientemente
orientados;
c) tiverem verificado que a criança foi ou será autorizada a entrar e a residir
permanentemente no Estado de acolhida.

Capítulo III

Autoridades Centrais e Organismos Credenciados

Artigo 6
1. Cada Estado Contratante designará uma Autoridade Central encarregada de dar
cumprimento às obrigações impostas pela presente Convenção.
2. Um Estado federal, um Estado no qual vigoram diversos sistemas jurídicos ou um
Estado com unidades territoriais autônomas poderá designar mais de uma
Autoridade Central e especificar o âmbito territorial ou pessoal de suas funções. O
Estado que fizer uso dessa faculdade designará a Autoridade Central à qual poderá
ser dirigida toda a comunicação para sua transmissão à Autoridade Central
competente dentro desse Estado.

Artigo 7
1. As Autoridades Centrais deverão cooperar entre si e promover a colaboração
entre as autoridades competentes de seus respectivos Estados a fim de assegurar a
proteção das crianças e alcançar os demais objetivos da Convenção.
2. As Autoridades Centrais tomarão, diretamente, todas as medidas adequadas
para:
a) fornecer informações sobre a legislação de seus Estados em matéria de adoção e
outras informações gerais, tais como estatísticas e formulários padronizados;
b) informar-se mutuamente sobre o funcionamento da Convenção e, na medida do
possível, remover os obstáculos para sua aplicação.

Artigo 8

95
As Autoridades Centrais tomarão, diretamente ou com a cooperação de autoridades
públicas, todas as medidas apropriadas para prevenir benefícios materiais induzidos
por ocasião de uma adoção e para impedir qualquer prática contrária aos objetivos
da Convenção.

Artigo 9
As Autoridades Centrais tomarão todas as medidas apropriadas, seja diretamente ou
com a cooperação de autoridades públicas ou outros organismos devidamente
credenciados em seu Estado, em especial para:
a) reunir, conservar e permutar informações relativas à situação da criança e dos
futuros pais adotivos, na medida necessária à realização da adoção;
b) facilitar, acompanhar e acelerar o procedimento de adoção;
c) promover o desenvolvimento de serviços de orientação em matéria de adoção e
de acompanhamento das adoções em seus respectivos Estados;
d) permutar relatórios gerais de avaliação sobre as experiências em matéria de
adoção internacional;
e) responder, nos limites da lei do seu Estado, às solicitações justificadas de
informações a respeito de uma situação particular de adoção formuladas por outras
Autoridades Centrais ou por autoridades públicas.

Artigo 10
Somente poderão obter e conservar o credenciamento os organismos que
demonstrarem sua aptidão para cumprir corretamente as tarefas que lhe possam ser
confiadas.

Artigo 11
Um organismo credenciado deverá:
a) perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites
fixados pelas autoridades competentes do Estado que o tiver credenciado;
b) ser dirigido e administrado por pessoas qualificadas por sua integridade moral e
por sua formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional;
c) estar submetido à supervisão das autoridades competentes do referido Estado, no
que tange à sua composição, funcionamento e situação financeira.

96
Artigo 12
Um organismo credenciado em um Estado Contratante somente poderá atuar em
outro Estado Contratante se tiver sido autorizado pelas autoridades competentes de
ambos os Estados.

Artigo 13
A designação das Autoridades Centrais e, quando for o caso, o âmbito de suas
funções, assim como os nomes e endereços dos organismos credenciados devem
ser comunicados por cada Estado Contratante ao Bureau Permanente da
Conferência da Haia de Direito Internacional Privado.

Capítulo IV

Requisitos Processuais para a Adoção Internacional

Artigo 14
As pessoas com residência habitual em um Estado Contratante, que desejem adotar
uma criança cuja residência habitual seja em outro Estado Contratante, deverão
dirigir-se à Autoridade Central do Estado de sua residência habitual.

Artigo 15
1. Se a Autoridade Central do Estado de acolhida considerar que os solicitantes
estão habilitados e aptos para adotar, a mesma preparará um relatório que contenha
informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes
para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos
que os animam, sua aptidão para assumir uma adoção internacional, assim como
sobre as crianças de que eles estariam em condições de tomar a seu cargo.
2. A Autoridade Central do Estado de acolhida transmitirá o relatório à Autoridade
Central do Estado de origem.

Artigo 16
1. Se a Autoridade Central do Estado de origem considerar que a criança é adotável,
deverá:

97
a) preparar um relatório que contenha informações sobre a identidade da criança,
sua adotabilidade, seu meio social, sua evolução pessoal e familiar, seu histórico
médico pessoal e familiar, assim como quaisquer necessidades particulares da
criança;
b) levar em conta as condições de educação da criança, assim como sua origem
étnica, religiosa e cultural;
c) assegurar-se de que os consentimentos tenham sido obtidos de acordo com o
artigo 4; e
d) verificar, baseando-se especialmente nos relatórios relativos à criança e aos
futuros pais adotivos, se a colocação prevista atende ao interesse superior da
criança.
2. A Autoridade Central do Estado de origem transmitirá à Autoridade Central do
Estado de acolhida seu relatório sobre a criança, a prova dos consentimentos
requeridos e as razões que justificam a colocação, cuidando para não revelar a
identidade da mãe e do pai, caso a divulgação dessas informações não seja
permitida no Estado de origem.

Artigo 17
Toda decisão de confiar uma criança aos futuros pais adotivos somente poderá ser
tomada no Estado de origem se:
a) a Autoridade Central do Estado de origem tiver-se assegurado de que os futuros
pais adotivos manifestaram sua concordância;
b) a Autoridade Central do Estado de acolhida tiver aprovado tal decisão, quando
esta aprovação for requerida pela lei do Estado de acolhida ou pela Autoridade
Central do Estado de origem;
c) as Autoridades Centrais de ambos os Estados estiverem de acordo em que se
prossiga com a adoção; e
d) tiver sido verificado, de conformidade com o artigo 5, que os futuros pais adotivos
estão habilitados e aptos a adotar e que a criança está ou será autorizada a entrar e
residir permanentemente no Estado de acolhida.

98
Artigo 18
As Autoridades Centrais de ambos os Estados tomarão todas as medidas
necessárias para que a criança receba a autorização de saída do Estado de origem,
assim como aquela de entrada e de residência permanente no Estado de acolhida.

Artigo 19
1. O deslocamento da criança para o Estado de acolhida só poderá ocorrer quando
tiverem sido satisfeitos os requisitos do artigo 17.
2. As Autoridades Centrais dos dois Estados deverão providenciar para que o
deslocamento se realize com toda a segurança, em condições adequadas e, quando
possível, em companhia dos pais adotivos ou futuros pais adotivos.
3. Se o deslocamento da criança não se efetivar, os relatórios a que se referem os
artigos 15 e 16 serão restituídos às autoridades que os tiverem expedido.

Artigo 20
As Autoridades Centrais manter-se-ão informadas sobre o procedimento de adoção,
sobre as medidas adotadas para levá-la a efeito, assim como sobre o
desenvolvimento do período probatório, se este for requerido.

Artigo 21
1. Quando a adoção deva ocorrer, após o deslocamento da criança, para o Estado
de acolhida e a Autoridade Central desse Estado considerar que a manutenção da
criança na família de acolhida já não responde ao seu interesse superior, essa
Autoridade Central tomará as medidas necessárias à proteção da criança,
especialmente de modo a:
a) retirá-la das pessoas que pretendem adotá-la e assegurar provisoriamente seu
cuidado;
b) em consulta com a Autoridade Central do Estado de origem, assegurar, sem
demora, uma nova colocação da criança com vistas à sua adoção ou, em sua falta,
uma colocação alternativa de caráter duradouro. Somente poderá ocorrer uma
adoção se a Autoridade Central do Estado de origem tiver sido devidamente
informada sobre os novos pais adotivos;

99
c) como último recurso, assegurar o retorno da criança ao Estado de origem, se
assim o exigir o interesse da mesma.
2. Tendo em vista especialmente a idade e o grau de maturidade da criança, esta
deverá ser consultada e, neste caso, deve-se obter seu consentimento em relação
às medidas a serem tomadas, em conformidade com o presente Artigo.

Artigo 22
1. As funções conferidas à Autoridade Central pelo presente capítulo poderão ser
exercidas por autoridades públicas ou por organismos credenciados de
conformidade com o capítulo III, e sempre na forma prevista pela lei de seu Estado.
2. Um Estado Contratante poderá declarar ante o depositário da Convenção que as
Funções conferidas à Autoridade Central pelos artigos 15 a 21 poderão também ser
exercidas nesse Estado, dentro dos limites permitidos pela lei e sob o controle das
autoridades competentes desse Estado, por organismos e pessoas que:
a) satisfizerem as condições de integridade moral, de competência profissional,
experiência e responsabilidade exigidas pelo mencionado Estado;
b) forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para
atuar na área de adoção internacional.
3. O Estado Contratante que efetuar a declaração prevista no parágrafo 2 informará
com regularidade ao Bureau Permanente da Conferência da Haia de Direito
Internacional Privado os nomes e endereços desses organismos e pessoas.
4. Um Estado Contratante poderá declarar ante o depositário da Convenção que as
adoções de crianças cuja residência habitual estiver situada em seu território
somente poderão ocorrer se as funções conferidas às Autoridades Centrais forem
exercidas de acordo com o parágrafo 1.
5. Não obstante qualquer declaração efetuada de conformidade com o parágrafo 2,
os relatórios previstos nos artigos 15 e 16 serão, em todos os casos, elaborados sob
a responsabilidade da Autoridade Central ou de outras autoridades ou organismos,
de conformidade com o parágrafo 1.

Capítulo V

Reconhecimento e Efeitos da Adoção

100
Artigo 23
1. Uma adoção certificada em conformidade com a Convenção, pela autoridade
competente do Estado onde ocorreu, será reconhecida de pleno direito pelos demais
Estados Contratantes. O certificado deverá especificar quando e quem outorgou os
assentimentos previstos no artigo 17, alínea "c".
2. Cada Estado Contratante, no momento da assinatura, ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão, notificará ao depositário da Convenção a identidade e as
Funções da autoridade ou das autoridades que, nesse Estado, são competentes
para expedir esse certificado, bem como lhe notificará, igualmente, qualquer
modificação na designação dessas autoridades.

Artigo 24
O reconhecimento de uma adoção só poderá ser recusado em um Estado
Contratante se a adoção for manifestamente contrária à sua ordem pública, levando
em consideração o interesse superior da criança.

Artigo 25
Qualquer Estado Contratante poderá declarar ao depositário da Convenção que não
se considera obrigado, em virtude desta, a reconhecer as adoções feitas de
conformidade com um acordo concluído com base no artigo 39, parágrafo 2.

Artigo 26
1. O reconhecimento da adoção implicará o reconhecimento:
a) do vínculo de filiação entre a criança e seus pais adotivos;
b) da responsabilidade paterna dos pais adotivos a respeito da criança;
c) da ruptura do vínculo de filiação preexistente entre a criança e sua mãe e seu pai,
se a adoção produzir este efeito no Estado Contratante em que ocorreu.
2. Se a adoção tiver por efeito a ruptura do vínculo preexistente de filiação, a criança
gozará, no Estado de acolhida e em qualquer outro Estado Contratante no qual se
reconheça a adoção, de direitos equivalentes aos que resultem de uma adoção que
produza tal efeito em cada um desses Estados.
3. Os parágrafos precedentes não impedirão a aplicação de quaisquer disposições
mais favoráveis à criança, em vigor no Estado Contratante que reconheça a adoção.

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Artigo 27
1. Se uma adoção realizada no Estado de origem não tiver como efeito a ruptura do
vínculo preexistente de filiação, o Estado de acolhida que reconhecer a adoção de
conformidade com a Convenção poderá convertê-la em uma adoção que produza tal
efeito, se:
a) a lei do Estado de acolhida o permitir; e
b) os consentimentos previstos no Artigo 4, alíneas "c" e "d", tiverem sido ou forem
outorgados para tal adoção.
2. O artigo 23 aplica-se à decisão sobre a conversão.

Capítulo VI
Disposições Gerais

Artigo 28
A Convenção não afetará nenhuma lei do Estado de origem que requeira que a
adoção de uma criança residente habitualmente nesse Estado ocorra nesse Estado,
ou que proíba a colocação da criança no Estado de acolhida ou seu deslocamento
ao Estado de acolhida antes da adoção.

Artigo 29
Não deverá haver nenhum contato entre os futuros pais adotivos e os pais da
criança ou qualquer outra pessoa que detenha a sua guarda até que se tenham
cumprido as disposições do artigo 4, alíneas "a" a "c" e do artigo 5, alínea "a", salvo
os casos em que a adoção for efetuada entre membros de uma mesma família ou
em que as condições fixadas pela autoridade competente do Estado de origem
forem cumpridas.

Artigo 30
1. As autoridades competentes de um Estado Contratante tomarão providências
para a conservação das informações de que dispuserem relativamente à origem da
criança e, em particular, a respeito da identidade de seus pais, assim como sobre o
histórico médico da criança e de sua família.

102
2. Essas autoridades assegurarão o acesso, com a devida orientação da criança ou
de seu representante legal, a estas informações, na medida em que o permita a lei
do referido Estado.

Artigo 31
Sem prejuízo do estabelecido no artigo 30, os dados pessoais que forem obtidos ou
transmitidos de conformidade com a Convenção, em particular aqueles a que se
referem os artigos 15 e 16, não poderão ser utilizados para fins distintos daqueles
para os quais foram colhidos ou transmitidos.

Artigo 32
1. Ninguém poderá obter vantagens materiais indevidas em razão de intervenção em
uma adoção internacional.
2. Só poderão ser cobrados e pagos os custos e as despesas, inclusive os
honorários profissionais razoáveis de pessoas que tenham intervindo na adoção.
3. Os dirigentes, administradores e empregados dos organismos intervenientes em
uma adoção não poderão receber remuneração desproporcional em relação aos
serviços prestados.

Artigo 33
Qualquer autoridade competente, ao verificar que uma disposição da Convenção foi
desrespeitada ou que existe risco manifesto de que venha a sê-lo, informará
imediatamente a Autoridade Central de seu Estado, a qual terá a responsabilidade
de assegurar que sejam tomadas as medidas adequadas.

Artigo 34
Se a autoridade competente do Estado destinatário de um documento requerer que
se faça deste uma tradução certificada, esta deverá ser fornecida. Salvo dispensa,
os custos de tal tradução estarão a cargo dos futuros pais adotivos.

Artigo 35
As autoridades competentes dos Estados Contratantes atuarão com celeridade nos
procedimentos de adoção.

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Artigo 36
Em relação a um Estado que possua, em matéria de adoção, dois ou mais sistemas
jurídicos aplicáveis em diferentes unidades territoriais:
a) qualquer referência à residência habitual nesse Estado será entendida como
relativa à residência habitual em uma unidade territorial do dito Estado;
b) qualquer referência à lei desse Estado será entendida como relativa à lei vigente
na correspondente unidade territorial;
c) qualquer referência às autoridades competentes ou às autoridades públicas desse
Estado será entendida como relativa às autoridades autorizadas para atuar na
correspondente unidade territorial;
d) qualquer referência aos organismos credenciados do dito Estado será entendida
como relativa aos organismos credenciados na correspondente unidade territorial.

Artigo 37
No tocante a um Estado que possua, em matéria de adoção, dois ou mais sistemas
jurídicos aplicáveis a categorias diferentes de pessoas, qualquer referência à lei
desse Estado será entendida como ao sistema jurídico indicado pela lei do dito
Estado.

Artigo 38
Um Estado em que distintas unidades territoriais possuam suas próprias regras de
direito em matéria de adoção não estará obrigado a aplicar a Convenção nos casos
em que um Estado de sistema jurídico único não estiver obrigado a fazê-lo.

Artigo 39
1. A Convenção não afeta os instrumentos internacionais em que os Estados
Contratantes sejam Partes e que contenham disposições sobre as matérias
reguladas pela presente Convenção, salvo declaração em contrário dos Estados
vinculados pelos referidos instrumentos internacionais.
2. Qualquer Estado Contratante poderá concluir com um ou mais Estados
Contratantes acordos para favorecer a aplicação da Convenção em suas relações
recíprocas. Esses acordos somente poderão derrogar as disposições contidas nos

104
artigos 14 a 16 e 18 a 21. Os Estados que concluírem tais acordos transmitirão uma
cópia dos mesmos ao depositário da presente Convenção.

Artigo 40
Nenhuma reserva à Convenção será admitida.

Artigo 41
A Convenção será aplicada às Solicitações formuladas em conformidade com o
artigo 14 e recebidas depois da entrada em vigor da Convenção no Estado de
acolhida e no Estado de origem.

Artigo 42
O Secretário-Geral da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado
convocará periodicamente uma Comissão Especial para examinar o funcionamento
prático da Convenção.

Capítulo VII
Cláusulas Finais

Artigo 43
1. A Convenção estará aberta à assinatura dos Estados que eram membros da
Conferência da Haia de Direito Internacional Privado quando da Décima-Sétima
Sessão, e aos demais Estados participantes da referida Sessão.
2. Ela será ratificada, aceita ou aprovada e os instrumentos de ratificação, aceitação
ou aprovação serão depositados no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino
dos Países Baixos, depositário da Convenção.

Artigo 44
1. Qualquer outro Estado poderá aderir à Convenção depois de sua entrada em
vigor, conforme o disposto no artigo 46, parágrafo 1.
2. O instrumento de adesão deverá ser depositado junto ao depositário da
Convenção.

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3. A adesão somente surtirá efeitos nas relações entre o Estado aderente e os
Estados Contratantes que não tiverem formulado objeção à sua adesão nos seis
meses seguintes ao recebimento da notificação a que se refere o artigo 48, alínea
"b". Tal objeção poderá igualmente ser formulada por qualquer Estado no momento
da ratificação, aceitação ou aprovação da Convenção, posterior à adesão. As
referidas objeções deverão ser notificadas ao depositário.

Artigo 45
1. Quando um Estado compreender duas ou mais unidades territoriais nas quais se
apliquem sistemas jurídicos diferentes em relação às questões reguladas pela
presente Convenção, poderá declarar, no momento da assinatura, da ratificação, da
aceitação, da aprovação ou da adesão, que a presente Convenção será aplicada a
todas as suas unidades territoriais ou somente a uma ou várias delas. Essa
declaração poderá ser modificada por meio de nova declaração a qualquer tempo.
2. Tais declarações serão notificadas ao depositário, indicando-se expressamente as
unidades territoriais às quais a Convenção será aplicável.
3. Caso um Estado não formule nenhuma declaração na forma do presente artigo, a
Convenção será aplicada à totalidade do território do referido Estado.

Artigo 46
1. A Convenção entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte à expiração de um
período de três meses contados da data do depósito do terceiro instrumento de
ratificação, de aceitação ou de aprovação previsto no artigo 43.
2. Posteriormente, a Convenção entrará em vigor:
a) para cada Estado que a ratificar, aceitar ou aprovar posteriormente, ou apresentar
adesão à mesma, no primeiro dia do mês seguinte à expiração de um período de
três meses depois do depósito de seu instrumento de ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão;
b) para as unidades territoriais às quais se tenha estendido a aplicação da
Convenção conforme o disposto no artigo 45, no primeiro dia do mês seguinte à
expiração de um período de três meses depois da notificação prevista no referido
artigo.

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Artigo 47
1. Qualquer Estado-Parte na presente Convenção poderá denunciá-la mediante
notificação por escrito, dirigida ao depositário.
2. A denúncia surtirá efeito no primeiro dia do mês subseqüente à expiração de um
período de doze meses da data de recebimento da notificação pelo depositário.
Caso a notificação fixe um período maior para que a denúncia surta efeito, esta
surtirá efeito ao término do referido período a contar da data do recebimento da
notificação.

Artigo 48
O depositário notificará aos Estados-Membros da Conferência da Haia de Direito
Internacional Privado, assim como aos demais Estados participantes da Décima-
Sétima Sessão e aos Estados que tiverem aderido à Convenção de conformidade
com o disposto no artigo 44:
a) as assinaturas, ratificações, aceitações e aprovações a que se refere o artigo 43;
b) as adesões e as objeções às adesões a que se refere o artigo 44;
c) a data em que a Convenção entrará em vigor de conformidade com as
disposições do artigo 46;
d) as declarações e designações a que se referem os artigos 22, 23, 25 e 45;
e) os Acordos a que se refere o artigo 39;
f) as denúncias a que se refere o artigo 47.
Em testemunho do que, os abaixo-assinados, devidamente autorizados, firmaram a
presente Convenção.

Feita na Haia, em 29 de maio de 1993, nos idiomas francês e inglês, sendo ambos
os textos igualmente autênticos, em um único exemplar, o qual será depositado nos
arquivos do Governo do Reino dos Países Baixos e do qual uma cópia certificada
será enviada, por via diplomática, a cada um dos Estados-Membros da Conferência
da Haia de Direito Internacional Privado por ocasião da Décima-Sétima Sessão,
assim como a cada um dos demais Estados que participaram desta Sessão.

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