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O Quebra Mitos

U m a new sletter da
N . 2 - Jan eiro 2010

Mito: “O uso intenso de telemóveis


provoca cancro cerebral”

A utilização de uma nova tecnologia no a de radiofrequência (RF) – esta é a dos


dia-a-dia – independentemente da sua TMs. Por exemplo, em estudos muito bem
natureza ou complexidade – traz sempre conduzidos provou-se que, em doentes
consigo, para além de apoiantes mais ou cancerosos que sofreram tratamentos
menos entusiásticos, detractores com irradiação ionizantes ao Sistema
igualmente veementes nas suas Nervoso Central (por metástases de
convicções e argumentos. outros tumores), a incidência de CC
(especialmente meningiomas e gliomas) é
Os telemóveis (TMs), com a sua presença superior ao das pessoas que não foram
universal e utilização intensiva, são um submetidas a estes tratamentos. No
alvo particularmente fácil para todo o tipo entanto, no caso da EMF nunca foi
de crenças acerca dos seus efeitos provado cientificamente um maior risco
(supostamente) nefastos sobre a saúde. de CC.
Um dos mitos mais frequentes é o de que
o seu uso intensivo poderá provocar E no caso da radiação de radiofrequência
cancro cerebral - CC (brain cancer). (RF)? O tipo de experiência que daria sem
dúvida a resposta incluiria estudar 2 tipos
Sob o ponto de vista exclusivamente de pessoas: um grupo com uso intensivo
teórico, esta afirmação tem alguma razão de TMs e outro sem utilização destes
de ser, já que se sabe existirem 3 tipos de aparelhos. Quer por questões científicas
radiação quer podem constituir potenciais (seria muitíssimo difícil garantir este tipo
factores de risco para CC: a radiação de doentes), quer éticas (não é aceitável
electromagnética (EMF), a ionizante (IR) e sujeitar uma pessoa a um risco

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experimental, mesmo que potencialmente durante 13 anos um grupo de 420.095
pequeno), não é possível realizar este pessoas (estudo publicado no Journal of
estudo (um ensaio clínico). the National Cancer Institute
2006;98(23):1707-13), não tendo
Deste modo, e para poder responder a detectado qualquer aumento de cancros
esta questão, seria necessário comparar o cerebrais em pessoas com uso intensivo
tipo e intensidade de utilização de TMs de TMs, tendo os investigadores concluído
dos doentes a quem foi diagnosticado um que não existe qualquer relação entre o
CC, com os que não têm CC. Foi o que uso de TMs e o CC, quer em doentes com
fizeram uns investigadores americanos utilizações intensivas quer ocasionais.
(estudo publicado no New England Journal
of Medicine 2001;344:79-86), que Estamos em crer que estes estudos
compararam 782 doentes internados em deverão arrumar de vez com esta
hospitais dos EUA com CC com 799 questão, “ilibando” os TMs como causa de
doentes também internados mas sem um cancro cerebral.
diagnóstico de CC, tendo concluído não
haver qualquer relação entre a utilização Poderão os TMs ter outros efeitos sobre a
de TMs durante um período superior a saúde? Só se for no aumento de acidentes
100 h, de pelo menos 60 mn por dia ou de automóvel provocados pelo seu uso,
regularmente durante pelo menos 5 anos esse sim, amplamente provado em
e um risco aumentado de CC. estudos de excelente qualidade (ainda que
não seja o facto do TM estar na mão do
Uma outra maneira de estudar este condutor que provoca os acidentes, mas
problema seria acompanhar por um sim o acto de falar ao telefone – mesmo
determinado período de tempo um com sistemas de mãos livres… - ainda
conjunto de pessoas utilizadoras de TMs e voltaremos a este facto no futuro).
detectar cuidadosamente os que vêm a
desenvolver CC, analisando se o padrão De qualquer maneira podem as
de uso de TMs é diferente dos que não pessoas ficar descansadas, já que não
têm CC. Isto mesmo foi feito num estudo existe qualquer relação entre o uso
dinamarquês, que seguiu em média de telemóveis e o cancro cerebral.

Prof. Doutor António Vaz Carneiro


Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência
Faculdade de Medicina de Lisboa
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Mito: “O uso intenso de telemóveis


provoca cancro cerebral”

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