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PROJETO DA CADEIA DE
SUPRIMENTO: uma visão dinâmica
da decisão fazer versus comprar
Luiz Carlos Di Serio
Professor do Departamento de Administração da Produção e de
Operações Industriais da FGV/EAESP.
E-mail: ldiserio@fgvsp.br
Mauro Sampaio
Engenheiro de Produção de Materiais pela UFSCar, Mestre e Doutorando do
Departamento de Administração da Produção e de Operações Industriais da FGV/EAESP.
E-mail: msampaio@gvmail.br
RESUMO
Nos últimos anos, temos observado movimentos cíclicos na arquitetura da cadeia de suprimento de alguns setores produtivos. Ora
temos o setor integrado verticalmente, composto por grandes empresas dominantes, ora temos o mesmo setor desintegrado
horizontalmente, constituído por uma multidão de empresas atuando em nichos de mercado. Nesse ambiente altamente competitivo,
o domínio de competências essenciais, com maior valor agregado, é decisivo para a sobrevivência de qualquer organização. Este
artigo propõe facilitar a compreensão do assunto, analisando a evolução dos modelos tradicionais de decisão fazer versus comprar e
avaliando sua adequação em setores da economia com elevada velocidade evolutiva.
ABSTRACT
In recent years, we have observed a cyclical pattern in the architecture of the supply chains of individual sectors of the economy.
Sometimes we see a vertical integrated sector, composed of large dominating companies, other times we see the same sector
horizontally disintegrated, constituted of a great number of companies competing in marketing niches. In this highly competitive
environment, the command of core competencies with higher added value is essential to the survival of any organization. This article
intends to throw some light on this subject by analyzing the evolution of the classical make-buy models and evaluating their adequacy
to economic sectors of high-speed evolution.
PALAVRAS-CHAVE
Projeto da cadeia de suprimento, gerenciamento da cadeia de suprimento, decisão fazer versus comprar, estratégia de terceirização,
competência essencial.
KEY WORDS
Supply chain design, supply chain management, make-buy models, strategic outsourcing, core competence.
©
RAE
2001,
v.RAE
41 - Revista
n. 1 de
Jan./Mar.
Administração
2001 de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil. 55
Administração da Produção e Sistemas de Informação
classifica esses modelos e a oitava apresenta as con- O economista Coase (1937) desenvolveu uma fér-
siderações finais. A última seção relata as limitações til teoria sobre a integração vertical, a Teoria do Custo
do estudo e lacunas. de Transação, que leva em conta vários outros fatores
importantes. O custo de transação, aperfeiçoado mais
MODELOS DE DECISÃO tarde por Williamson (1991), estuda como os parcei-
FAZER VERSUS COMPRAR ros se protegem dos riscos em suas relações comerci-
ais. Esses riscos referem-se à possibilidade de que os
A modelagem da decisão fazer versus comprar é um elementos acordados entre as partes não ocorram. A
tema de grande relevância entre acadêmicos e executi- minimização dos riscos implica a redução dos custos
vos. Um volume representativo de trabalhos tem trata- de transação, representando um elemento de eficiên-
do do assunto em publicações como Harvard Business cia na concorrência entre empresas.
Review, Sloan Management Review, European Journal Nas décadas de 80 e 90, autores como Porter
of Purchasing & Supply Management, entre outras. (1985), Hamel e Prahalad (1990, 1994), Quinn e
Segundo Gutwald (1995), os modelos clássicos dis- Hilmer (1994, 1999) e Venkatesan (1992) propuse-
poníveis de decisão fazer versus comprar podem ser ram outros modelos, considerando os princípios da
classificados em: escola estratégica. Porter (1985) focaliza a seleção
a) análise econômica; de posições estratégicas no negócio visando à con-
b) análise do custo de transação; quista de vantagens competitivas sustentáveis. Já os
c) análise estratégica; autores Hamel e Prahalad acreditam que a vantagem
d) análise multidimensional. competitiva deriva de capacidades profundamente
enraizadas que estão por trás dos produtos de uma
A maneira mais simples e talvez a mais antiga de empresa (Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, 2000, p.
abordar essa questão é a análise econômica. A meto- 163). Essa abordagem consiste em focalizar os esfor-
dologia consiste em comparar o custo de fabricação ços e investimentos da organização em um pequeno
de um determinado componente com o custo de aqui- grupo de capacidades, denominadas competências
sição no mercado. Os livros didáticos sobre contabili- essenciais. Para identificá-las, sugere-se classificar
dade apresentam essa análise no contexto de custeio as capacidades da organização segundo dois critéri-
relevante. No entanto, a decisão final não pode ser tão os: a importância estratégica e a competência relati-
simples assim e deve incluir outras considerações além va no mercado, como mostra a Figura 2. Com relação
do custo do produto. à importância estratégica, é feita a análise das com-
4
IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA
3 Desenvolver
1 2 3 4
Terceirizar COMPETÊNCIA RELATIVA
Desativar
Crítica geral Visão estática do mercado: os modelos consideram que as empresas buscam eternas vantagens
competitivas sustentáveis (uma posição exclusiva e valiosa no mercado).
A Xerox brasileira, tradicional fabricante de má- foi responsável por alguns feitos da indústria petro-
quinas copiadoras, depois de quase duas décadas de química mundial. Em 1926 lançou o celofane imper-
acirrada concorrência japonesa está reorientando seu meável, em 1931 criou a borracha neoprene, em 1938,
negócio. Ela quer desvincular sua imagem das máqui- o teflon e, nos anos 60, a lycra. Porém, nos últimos
nas copiadoras e passar a ser reconhecida como uma anos deixou de lado a química e passou a investir pe-
provedora de soluções na área de serviços corporativos. sadamente na biologia e biotecnologia, buscando o
foco no atendimento às grandes carências mundiais,
tanto nutritivas quanto de saúde. A empresa decidiu
mudar quando estava no auge do sucesso, decidiu in-
ALGUMAS ORGANIZAÇÕES ACABAM vestir exclusivamente nas chamadas Ciências da
Vida (Nassif, 2000).
ADOTANDO ESTRUTURAS
Por que e como as cadeias
INTEGRADAS VERTICAIS QUANDO de fornecimento se modificam?
Em Clockspeed, Charles Fine (1998) fundamenta-
PODERIAM FORMAR REDES DE se em uma década de pesquisas na Sloan School
Management para introduzir o conceito de velocida-
SUPRIMENTO MODULARES MUITO de evolutiva, essencial para a compreensão da dinâ-
mica de uma cadeia de fornecimento. Segundo o au-
MAIS EFICIENTES, E OUTRAS BUSCAM tor, cada setor produtivo possui seu próprio ciclo de
vida evolutivo (clockspeed), medido pela velocidade
DESENVOLVER FORNECEDORES EM com que se introduzem novos produtos, processos e
estruturas organizacionais (Quadro 2). O setor de
COMPETÊNCIAS QUE NUNCA
microprocessadores de computadores tem uma velo-
DEVERIAM SER ABANDONADAS. cidade evolutiva alta quando comparado ao setor au-
tomobilístico ou aos fabricantes de aeronaves comer-
ciais. Um computador pessoal tem uma vida útil me-
nor que seis meses, enquanto um automóvel tem vida
O objetivo é transformar a Xerox numa empresa total- útil de quatro a seis anos.
mente digitalizada nos próximos anos. Não é uma A principal conseqüência da constatação desse fe-
mudança simples, significa demissões em massa e fe- nômeno é a marginalização do conceito da vantagem
chamento de filiais. Para entrar no mundo digital a competitiva sustentável, proposto por Michael Porter
Xerox tenta se reinventar (Costa,1999). (1996). Quanto mais rápida a velocidade evolutiva de
A Dupont, multinacional americana, nasceu em um setor, mais temporária é sua vantagem competiti-
1802 a partir de uma fábrica de pólvora no estado de va. Segundo Fine (1998), a empresa precisa aprender
Delaware, nos Estados Unidos. Ao longo do século a se concentrar diretamente em dois conjuntos de prio-
ridades: a) explorar as atuais capacidades e vantagens a) os avanços técnicos num subsistema, capazes de
competitivas e b) construir, de forma consciente e de- transformá-lo em mercadoria escassa da cadeia e
liberada, novas capacidades para o momento inevitá- que conferem poder de mercado ao seu detentor;
vel em que as antigas não mais se constituírem em fonte b) o poder de mercado num subsistema que encoraja
de vantagem competitiva. A organização precisa ter a o enfardamento1 com outros subsistemas de modo
habilidade de desenvolver uma série de competências a aumentar o controle e agregar mais valor;
temporárias. c) o poder de mercado num subsistema que estimula a
Mediante o exame da evolução histórica, mutação, integração da engenharia com outros subsistemas
sobrevivência e extinção de entidades em diferentes de modo a desenvolver soluções integradas paten-
mercados, Fine apresenta o modelo setorial da hélice teadas.
dupla, um ciclo duplo infinito que explica as mudan-
ças em cadeias de fornecimento. Esse modelo se cons- A Figura 4 ilustra o modelo da hélice dupla, uma
titui num movimento cíclico entre setores integrados importante ferramenta para o diagnóstico empresari-
verticalmente, compostos de empresas gigantescas, e al. Antes de projetar sua cadeia de suprimento, a em-
setores desintegrados horizontalmente, constituídos de presa deveria identificar a tendência futura do negó-
uma multidão de inovadores, cada um buscando um cio e procurar antecipar os movimentos abruptos do
nicho próprio no amplo espaço resultante da prévia mercado. O segredo do negócio consiste em escolher
extinção dos gigantes (Fine, 1998). a competência central certa, reiteradamente.
Segundo o autor, quando a estrutura do setor é ver-
tical e a arquitetura do produto é integral, como no Visão sistêmica da mudança
caso da IBM nos anos 80, as forças que atuam no sen- Os modelos apresentados, do equilíbrio pontuado
tido da configuração horizontal e modular são: de Tushman e Romanelli e da hélice dupla de Charles
a) a implacável entrada de competidores de nicho, que Fine, possuem perspectivas de análise diferentes. O
esperam conquistar segmentos setoriais distintos; primeiro aborda o processo de mudanças em organiza-
b) o desafio de manter-se à frente da concorrência nas ções isoladas, identificando longos períodos de con-
muitas dimensões da tecnologia e dos mercados; vergência pontuados por curtos períodos de reorienta-
c) as inflexibilidades burocráticas e organizacionais ção. O segundo modelo trata da dinâmica da rede de
que geralmente se instalam nas empresas grandes e fornecimento, que se movimenta entre setores integra-
acomodadas. dos verticalmente e setores desintegrados horizontal-
Por outro lado, quando o setor tem uma estrutura mente.
horizontal, como no caso do mercado de entretenimento Apesar dessas perspectivas diferentes, este artigo
no ano 2000, outro conjunto de forças o impele rumo à pressupõe que os dois modelos retratam o mesmo fe-
integração vertical e à arquitetura integrada do produ- nômeno: a dinâmica do processo de desenvolvimento
to. Essas forças incluem: de competências, conforme mostra a Figura 5. Os
Produto Produto
integrado, modular,
Competidores setor setor Avanços
de nicho vertical horizontal técnicos
Alta Poder de
complexidade mercado dos
dimensional fornecedores
Rentabilidade
Inflexibilidade
dos sistemas
organizacional
Pressões Pressões patenteados
para para
desintegrar integrar
períodos de convergência e reorientação são conse- decisão fazer versus comprar em mercados em evo-
qüências da própria dinâmica da cadeia de forneci- lução contínua.
mento. Os períodos de reorientação correspondem a) Modelo baseado nos conceitos de engenharia
aos momentos de inversão da curva da hélice dupla, O processo de terceirização pode ocorrer em dife-
que são: rentes fases do processo de desenvolvimento e ma-
a) momentos em que é preciso abandonar as compe- nufatura (Figura 6). Quando existem fornecedores
tências tradicionais, conhecidas e dominadas, e de- competentes, dilui-se a importância de projetar e/ou
senvolver novas habilidades (todo o setor está pro- produzir tais subsistemas internamente. Mesmo as-
vavelmente se desintegrando) ou; sim, Fine (1998) recomenda preservar a arquitetu-
b) momentos em que é preciso ampliar o número de ra do conhecimento, ou seja, a memória técnica da
competências mantendo as anteriores já desen- capacidade terceirizada, e controlar seu desempenho
volvidas (todo o setor está se integrando verti- permanentemente. A Toyota é uma referência nesse
calmente). processo de desenvolvimento e utilização de capa-
Os períodos de convergência correspondem ao de- ci dades: embora possua diversas capacidades
senvolvimento das competências já estabelecidas. terceirizadas, a empresa preserva a liderança tecno-
lógica de todas as capacidades que considera críticas
MERCADO EM EVOLUÇÃO CONTÍNUA na sua cadeia de fornecimento.
b) Matriz de análise decisória fazer versus comprar
Em mercados dinâmicos, a melhor estratégia Retrata a maneira como interagem a arquitetura do
para uma empresa não consiste necessariamente em produto e a estratégia de terceirização (Figura 7). Quan-
se esforçar por uma condição de estabilidade, con- do um produto tem uma arquitetura modular, ou seja,
forme a estratégia de posicionamento proposta por possui componentes intercambiáveis, quase sempre é
Porter (1996), mas em aprender a deslocar-se com possível desmembrá-lo em subsistemas e módulos
fluência e segurança em tempos de turbulência terceirizáveis. Entretanto, nem sempre essa é a melhor
mesmo tendo que delegar a um fornecedor externo alternativa estratégica. Veja o caso da IBM, que, no
uma competência considerada, até aquele momen- início da década de 80, terceirizou os principais com-
to, essencial. ponentes de seu computador pessoal o sistema ope-
Em vez de perseguir as capacidades essenciais racional para a Microsoft e o microprocessador para a
como algo imutável, é preciso encarar sua duração Intel , deflagrando uma drástica mudança de poder
como conseqüência da velocidade evolutiva do setor nesse segmento de mercado. Todo o setor se deslocou
ou da tecnologia relevante. Fine (1998) apresenta duas de uma estrutura vertical integrada para uma estrutura
importantes ferramentas para auxiliar na tomada de horizontal modular. Quando a arquitetura do produto
Produto Produto
Competidores Avanços
integrado, modular, setor
de nicho técnicos
setor vertical horizontal
Convergência
Convergência
Alta Poder de
complexidade mercado dos
dimensional fornecedores
Reorientação
Rentabilidade
Inflexibilidade
dos sistemas
organizacional
patenteados
Pressões para Pressões para
desintegrar integrar
é integrada, isto é, quando um mesmo componente As próprias alternativas sugeridas fazer, desen-
executa mais de uma função, o desafio da terceiriza- volver internamente ou comprar e desenvolver ex-
ção é maior, pois é necessário manter um intenso pro- ternamente não levam em conta a complexidade
cesso de comunicação e interação entre as várias equi- d o s relacionamentos observados na prática e
pes de desenvolvimento dos subsistemas. Essa matriz desconsideram a dinâmica natural das redes de forne-
possibilita classificar todos os componentes dos cimento.
subsistemas de um determinado produto segundo o grau O conceito de cadeias de fornecimento integradas
de importância estratégica e a possibilidade de tercei- versus modulares proposto por Fine (1998) parece pro-
rização, considerando a velocidade evolutiva dos seus porcionar um referencial muito mais fértil e proveitoso
respectivos componentes. para as questões referentes ao projeto da cadeia de forne-
cimento. Essa não é uma simples mudança semântica;
ANÁLISE CRÍTICA DOS MODELOS DE antigos paradigmas e antigas práticas administrativas
DECISÃO FAZER VERSUS COMPRAR podem não ser mais suficientes para lidar com essa nova
configuração: é impossível julgar idéias de um novo
Os modelos clássicos de decisão fazer versus com- paradigma analisando sob o prisma de um velho para-
prar são freqüentemente utilizados em diferentes mer- digma (Csillag citado por Corbett Neto, 1997, p. 3).
cados. Os líderes empresariais são estimulados a Este artigo sugere que os modelos clássicos são ina-
subcontratar tudo o que for possível, desde atividades dequados em mercados em elevada velocidade evolu-
de manufatura e engenharia até atividades administra- tiva por não considerarem a própria dinâmica das ca-
tivas, sob o pressuposto de que a burocracia é ruim e a deias de fornecimento. O problema, entretanto, pode
flexibilidade é boa (Chesbrough e Teece, 1996). No ser maior ainda: a) a velocidade evolutiva de muitos
entanto, essa prática arbitrária pode ser desastrosa, le- setores deve aumentar progressivamente nos próximos
vando a organização à perda de capacidades essenci- anos; b) em um futuro próximo, as estratégias de re-
ais para o seu futuro. des devem ficar exeqüíveis; c) a competição está cada
Figura 6 Framework para a decisão fazer versus comprar com base nos conceitos de engenharia
especificações de
Especifique Decida quem é
engenharia Decida
usando os qualificado
comprar
requisitos de
a manufatura
Converta as engenharia
Obtenha as
especificações de
ofertas
engenharia em Decida comprar os Especifique
especificações de equipamentos de usando os Melhore a
processo manufatura requisitos de capabilidade
Escolha a
ou sistemas processo dos
melhor oferta
Produza qualificada fornecedores
Obtenha itens:
Verifique a Modifique, projeto,
manufatura, Negocie
conformidade melhore
equipamento, a oferta
com as o item
especificações sistema
vez mais acirrada. Muitas políticas e práticas geren- volver as competências de maior valor agregado,
ciais atualmente vigentes perdem o sentido nesse novo independentemente dos investimentos necessários
ambiente hipercompetitivo. Esse questionamento tal- para tanto.
vez seja só a ponta de um verdadeiro iceberg. Segundo essa classificação de modelos de decisão
fazer versus comprar, somente o modelo de Fine (1998)
CLASSIFICAÇÃO DOS MODELOS seria recomendado para setores de alta velocidade evo-
DE DECISÃO FAZER VERSUS COMPRAR lutiva, como computadores pessoais, semicondutores,
brinquedos, calçados e cosméticos, porque considera
Van de Ven e Poole (1989) consideram que a inte- a dinâmica do mercado. Os modelos baseados nos con-
ração entre diferentes perspectivas leva a melhor en- ceitos econômicos e financeiros seriam indicados para
tendimento da vida organizacional e que qualquer pers- setores de baixa velocidade evolutiva, como alguns
pectiva individual invariavelmente acarretará uma vi- setores agrícolas e de extração mineral, que compe-
são parcial do fenômeno estudado. tem em custos. Os modelos estratégicos poderiam ser
Os modelos de decisão fazer versus comprar tam- utilizados em setores de baixa velocidade evolutiva e
bém podem seguir esse princípio, o de que o uso de competitivos em diferenciação. A combinação de di-
um único modelo pode levar à tomada de decisões ferentes perspectivas poderia ser utilizada em setores
errôneas e visionárias. Uma classificação proposta para de média velocidade evolutiva. Essa classificação dos
os modelos de decisão fazer versus comprar descritos modelos de decisão fazer versus comprar também traz
neste artigo pode ser feita considerando duas dimen- um alerta aos empresários: é perigoso pensar exclusi-
sões fundamentais (Figura 8): vamente em custos em setores de elevada velocidade
a) velocidade evolutiva do mercado: considera o ci- evolutiva.
clo evolutivo de um determinado setor, que pode
ser medido pela velocidade com que se introduzem CONSIDERAÇÕES FINAIS
novos produtos, processos e estruturas organizacio-
nais. A velocidade evolutiva afeta o processo deci- Este artigo buscou responder à seguinte pergunta
sório e a arquitetura da cadeia de fornecimento, de pesquisa: até que ponto os modelos clássicos de
variando desde baixa até alta velocidade. decisão o que fazer, o que comprar são adequados
b) critérios envolvidos: os modelos podem abordar em ambientes dinâmicos e complexos?
ou não aspectos estratégicos do negócio. Alguns Para responder a essa indagação, primeiramente,
modelos enfatizam a redução exclusiva de custos e analisamos os modelos clássicos de decisão fazer
outros consideram que a organização deve desen- versus comprar: análise econômica, análise do cus-
Figura 7 Matriz de análise decisória fazer versus comprar: interação entre arquitetura de produto e estratégia de terceirização
Depende de Depende
conhecimento e somente de
capacidade capacidade
Diferenciação
Multidimensional
Modelos dinâmicos
Competência central
Mercado baixa Mercado alta
velocidade evolutiva velocidade evolutiva
Economia organizacional
Análise econômica
Redução de custos
um estudo exploratório ou quantitativo sobre o fenô- a) Elaborar um modelo mais abrangente para projetos
meno estudado. da cadeia de fornecimento. Esse modelo poderia ser
Mesmo assim, muitos direcionadores de pesquisa composto de duas partes: determinar critérios con-
são abertos a partir deste artigo acadêmico, envolven- sistentes para a decisão fazer versus comprar e es-
do tanto aspectos teóricos como empíricos. Se o pro- tabelecer o tipo de relacionamento mais adequado
jeto da cadeia de suprimento for a competência mais entre os componentes de uma rede de suprimento.
importante de uma organização, como este artigo de- b) Preparar um modelo mais abrangente para especi-
fendeu, parece óbvio que uma investigação mais pro- ficar as competências centrais de uma organiza-
funda e abrangente do assunto torna-se necessária. ção, mesmo que temporárias, considerando fato-
Assim como cientistas genéticos estudam as mos- res tais como: dinâmica da rede de fornecimento,
cas das frutas para chegarem a novos insights sobre a modelo de competitividade, requisitos dos clien-
trilha evolutiva dos animais e seres humanos (Fine, tes, indutores da velocidade evolutiva dos produ-
1998), o estudo da dinâmica dos setores de alta velo- tos, processos e organização.
cidade, como setores da Internet, computadores pes- c) Realizar estudo empírico para averiguar, em dife-
soais e entretenimento, pode fornecer novas percep- rentes setores, como empresas brasileiras decidem
ções sobre como opções no projeto da cadeia de supri- quais competências são centrais e quais são peri-
mento afetam o desempenho da organização, poden- féricas, tanto as de produto como as de infra-
do, assim, fornecer verdadeiras lições para os outros estrutura.
setores, como o automobilístico, o de aviação comer- d) Efetuar estudo do ciclo de vida evolutivo (clockspeed)
cial, entre outros. de setores industriais, buscando validar o modelo
Dessa forma, as pesquisas futuras recomendadas de hélice dupla em um país em desenvolvimento
poderiam ser: como o Brasil. m
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NOTAS
Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 1. Bundling, no original. Segundo a definição de Michael Porter, pacote ou fardo (Fine, 1998, p. 59).
Congresso Sul-Americano de Administração BALAS 2000. enfardar é vender produtos ou serviços apenas como um