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• Vida e Obra
• Paraíso Perdido
• Personagens
Adão e Eva são mostrados em seu ambiente, como seres repletos de imaculada
inocência e ao mesmo tempo curiosos do saber, do descobrir o quanto mais possam das
glórias de Deus.
Eva é mulher doce, meiga e que auxilia ao amado nos seus afazeres;
unicamente perde-se talvez por sua curiosidade exacerbada e pelos desejos malignos de
volúpia, glória e poder, colocados em seu coração por Satã. Após ter provado do fruto,
seu caráter transmuda-se para uma mulher sensual e determinada.
Adão, aparentemente é apresentado mais submisso que a própria Eva, e até
mesmo com o coração mais repleto de bons sentimentos do que ela. Sua curiosidade não
desperta vontades maléficas, mas sim questionamentos, que os faz em inocência. Seu
amor demasiado por Eva é advertido pelo arcanjo Rafael, mas infelizmente, é este
sentimento a sua própria ruína. Ao ver Eva amaldiçoada, ele não sucumbe à tentação,
mas apela para seu livre-arbítrio e lhe estende a mão sobre o abismo. Posteriormente,
aos efeitos do fruto, parece mais decepcionado do que Eva, e para ser confortado, o
Filho de Deus, envia-lhe Miguel para acalmá-lo e prepará-lo para o patriarcado que
estabeleceria na nova terra além do Jardim.
Satã é, em Milton, o símbolo da queda moral, mas quando Milton nos
apresenta o Anjo Decaído como um objeto empurrado e precipitado do céu, ele apaga a
luz do símbolo. De nada serve, para excitar a nossa imaginação dinâmica, dizer-nos que
Satã, precipitado do céu, caiu durante nove dias. Essa queda de nove dias não nos faz
sentir o vento da queda, e a imensidade do percurso não aumenta o nosso pavor. Se nos
dissessem que o demônio caiu durante um século, não veríamos o abismo como mais
profundo. Quão mais ativas serão as impressões em que o poeta sabe comunicar-nos a
diferencial da queda viva, isto é, a própria mudança da substância que cai e que, caindo,
no instante mesmo de sua queda, se torna mais pesada, mais falível. Essa queda viva é
aquela de que trazemos em nós mesmos a causa, a responsabilidade, numa psicologia
complexa do ser decaído. Aumentaremos a sua tonalidade unindo causa e
responsabilidade. Assim tonalizada moralmente, a queda já não pertence à ordem do
acidente, mas à ordem da substância.
Satã, sabe que, na verdade, o Céu e o Inferno estão dentro da mente de cada
um; que a mente pode transformar o Céu num Inferno, e vice-versa. Portanto, já que a
sua mente não vai mudar, não importa onde ele esteja, é melhor reinar no Inferno que
servir no Céu. Eis os versos:
Mundo infernal! E tu, profundíssimo Inferno,
Recebe teu novo dono o que traz uma
Mente que não mudará com o espaço ou tempo.
A mente é seu próprio lugar e em si mesma
Pode fazer um Céu do Inferno, um Inferno do Céu.
Que importa onde, se serei sempre o mesmo
Aqui ao menos seremos livres...
Podemos reinar com segurança; e, ao meu ver,
Reinar é uma boa ambição, embora no Inferno:
Melhor reinar no Inferno que servir no Céu.
O poema abre no momento em que Satã volta a levantar a cabeça, depois da
rebelião e da inexorável derrota. O anjo rebelde ergue-se sobre a margem do lago
ardente, sinistramente grande, e convoca as suas legiões. As dispersas forças do Mal
emergem pouco a pouco em turbilhões à sua volta. Ajudado pelo segundo príncipe do
Inferno, Belzebu, seu lugar-tenente, reanima, reorganiza, dá instruções, até que os
batalhões reassumam a ordem e a disciplina para formar o exército infernal. Depois de
uma longa enumeração dos demônios, abrem-se as portas de Pandemônio, sua capital,
para acolher os representantes do exército, que se reúnem em concílio. O congresso
infernal assemelha-se bastante a uma assembléia de homens, a uma sessão no
parlamento, ou outras de gênero. Como sempre sucede com os demônios de Milton, as
paixões que se agitam em Pandemônio não são diversas das humanas, mas agigantadas,
exacerbadas. Satã anuncia o tema da discussão: continuando firme o propósito de
prolongar a luta contra Deus, trata-se de decidir como encará-la – se mover guerra
aberta ou recorrer ao engano e à fraude, meios mais seguros e menos perigosos. Os
demônios, que ainda não esqueceram o sabor da derrota, não parecem muito inclinados
para uma nova guerra; querem antes curar as feridas, acalmar um pouco, tomar fôlego.
Quando, escolhendo psicologicamente o melhor momento, Satã lhes anuncia a
existência de um mundo novo acabado de criar por Deus, mais fraco do que eles, e por
conseguinte, mais vulnerável, todos aprovam entusiasticamente a idéia de ferir Deus
através das suas criaturas. E Satã, que, como todo bom líder, levou habilmente a
assembléia a aprovar tudo quanto ele mesmo desejava, oferece-se para a empresa. Sai
do Inferno, voa através do espaço, passa os domínios do Caos, e surge enfim na luz do
mundo criado. Aqui, Adão e Eva levam uma esplêndida vida nos jardins do Éden, e
Satã espreita-os com raiva, inveja, mordido, abrasado pelas mais abjetas paixões que
fazem um inferno sua alma.
Satã, já antes, a partir do Éden, explorara as terras e os mares; alcançara o
Ponto Euxino e a lagoa Meótida, subindo para lá do rio Obi, descendo depois até ao
longínquo Pólo Antártico; e no sentido do Ocidente, viajara do rio Oronte até ao sítio
onde o istmo de Darién barra o oceano e, daí, ao país onde correm o Ganges e o Indo.
Vagueou assim por todo o Globo, observando profundamente cada criatura, sempre em
busca daquela que, de entre todas, seria a mais adequada aos seus astuciosos intentos. E,
nesse minucioso exame, acabou por descobrir que a serpente, de entre os animais que
nos campos habitavam, era o mais astuto de todos eles.
Depois de muito meditar, irresoluto e enredado nos seus próprios pensamentos,
Satã, decidindo-se finalmente, escolheu-a como instrumento das suas enganosas
maquinações, como o esconderijo apropriado onde ele poderia entrar e esconder do
mais arguto olhar as suas negras premeditações; e isso porque, estando ele dentro da
astuta serpente, ninguém, nem mesmo o mais desconfiado, suspeitaria de que os ardis
fossem provenientes do malévolo espírito que a habitava, antes os atribuindo à agilidade
mental e subtileza com que a Natureza dotara aquele réptil, ardis que, se observados
noutros animais, poderiam fazer surgir a desconfiança de, dentro deles, e em vez do
instinto que lhes era próprio, atuar um diabólico poder. Satã tomou, pois, esta decisão.
Mas, dilacerado no mais profundo do seu ser, e inflamado de paixão, deixou estes
lamentos:
Em hebraico, o fragmento relativo à serpente fala assim:
wëhannachash hayah ´arûm mikol chayyath hasadeh `äsher ´asâ YHWH
`ëlohîm wayyomer `el-ha`ishâ `af kî-`amar `ëlohîm lo` tho`klû mikol ´eç hagan:
(E) a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o SENHOR
Deus fizera; e disse à mulher: “É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de
alguma árvore do jardim?”.
E o episódio conclui da seguinte forma:
kî ´asîtha zzoth `arûr `atâ mikol-habbëhemâ ûmikol chayyath hassadeh:
“Por teres feito isto, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre os
animais selvagens”.
Embora, no início do poema, Satã manifeste alguns atributos de nobreza,
embora pervertidos pelo seu critério, o seu verdadeiro caráter revela-se no desenrolar do
poema. Cada elocução que pronuncia é uma exaltação do conceito em que se tem e do
seu amor-próprio. A.H. Robertson traz-nos o dizer de C.S. Lewis, de que Satã evolui de
herói para general, de general para político, de político para espião, depois assume o
aspecto de qualquer coisa que espreita pela janela do quarto de dormir ou do banheiro, a
seguir para um sapo, e, finalmente para uma serpente. Alguns críticos, pensam que, no
início do poema, Milton imprime a Satã um aspecto demasiadamente nobre, esforçando-
se depois em corrigir seu erro, degradando-o subseqüentemente. Apreciar-se-ia mais
exatamente a verdade, se dissesse que Milton atribui a Satã, no princípio da sua obra, as
qualidades do orgulho e do conceito próprio, que por si mesmas são as causas da sua
progressiva degradação e aviltamento.
O Satã de John Milton não é um personagem fácil, óbvio. É complexo e
ambíguo. No The Wordsworth Companion to Literature in English, ele é descrito como
um personagem dramático, com uma astúcia maliciosa e facilmente reconhecível em
seus caracteres. Ás vezes, até identifica-se com ele em suas dúvidas e ambigüidades.
Mas é possível que seja justamente isso que Milton queria mostrar: Céu e Inferno, são
de fato, o que o Homem carrega dentro de si.
Descreve-se mais detalhadamente a maneira como John Milton apresenta Satã
porque esse é o personagem mais notável da epopéia, e também o mais divergente. Os
outros são analisados mais rapidamente, por serem os receptores do drama da grande
tragédia bíblica e humana.
Quanto ao retrato que Milton traça do Padre Eterno, deve confessar-se que não
é realmente convincente. Mas, de acordo com A.H. Robertson, onde existe um mortal
capaz de descrever Deus de maneira adequada? Já a forma como é apresentado o
Messias se afigura muito mais feliz, embora se deva frisar que se trata da segunda
pessoa da Trindade, e não do Cristo dos evangelhos. Para muitos autores, justamente a
passagem central da história e que se precipitará no acontecimento catastrófico do final,
é justamente o ato da batalha em que o Filho de Deus organiza o exército celestial e
depõe as forças de Satã e de sua legião.
De ponto em branco empireamente armado
Co’o mais lustroso do arsenal divino,
O Unigênito sobe ao carro ingente:
À destra sua assenta-se a Vitória...
Não a vós, mas a mim, professam, juram
Todo desprezo e inveja, a raiva toda,
Porque meu Pai, que do alto Céu possui
A glória, o poderio, a majestade,
De honras me cumulou, cumpriu seu gosto.
Encarregou-me a mim de exterminá-los.
Milton ainda foi criticado por encobrir dentro do poema, certos acontecimentos
contemporâneos do pensamento científico e intelectual (as ambigüidades astronômicas
no Livro VIII, por exemplo), mas o realismo do poema é como o mito, e a credibilidade
depende das formas de convicção Cristã ao invés de qualquer detalhe histórico
específico. Como um poema longo é uma realização monumental, ambos o
intelectualismo como trabalha a imaginação literária, como as expansões poderosas do
seu verso que, com a força dos precedentes clássicos atrás disto, provou ser inimitável.
BIBLIOGRAFIA
SITES PESQUISADOS:
• http://paginas.terra.com.br/arte/dramatis/paraiso2.htm
• http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/043719.html
• http://www.igutenberg.org/jj27biblio.html
• http://www.frotaestelar.com.br/trekkercultura/tc15.html
• http://fgc.math.ist.utl.pt/religion/queda.htm