Professional Documents
Culture Documents
Análise Funcional
1
Rodney Josué Biezuner
Departamento de Matemática
Instituto de Ciências Exatas (ICEx)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
6 de julho de 2009
1
E-mail: rodney@mat.ufmg.br; homepage: http://www.mat.ufmg.br/∼rodney.
Sumário
2 Aplicações Lineares 12
2.1 Aplicações Lineares Limitadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.3 O Teorema de Hahn-Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4 Formas Geométricas do Teorema de Hahn-Banach: Conjuntos Convexos . . . . . . . . . . . . 21
2.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4 Espaços Reflexivos 36
4.1 Espaços Reflexivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.2 Espaços Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.3 Exemplo 1: Espaços `p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.4 Espaços Uniformemente Convexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.5 Exemplo 2: Espaços Lp (Ω) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
1
Rodney Josué Biezuner 2
6 Espaços de Hilbert 70
6.1 Produto Interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6.2 Espaços de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.3 Teorema de Representação de Riesz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6.4 Bases de Schauder e Bases de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
7 Operadores Compactos 81
7.1 Operadores Completamente Contı́nuos e Operadores Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . 81
7.2 Teoria de Riesz-Fredholm para Operadores Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7.3 O Espectro de Operadores Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
7.4 Teoria Espectral para Operadores Autoadjuntos Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
7.5 Aplicação: Problemas de Sturm-Liouville e Operadores Integrais . . . . . . . . . . . . . . . . 93
7.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
1.1 Definição
1.1 Definição. Seja E um espaço vetorial real. Uma norma em E é uma função k·k : E −→ R que satisfaz
as seguintes propriedades:
kx + yk 6 kxk + kyk .
Um espaço vetorial E munido de uma norma k·k é chamado um espaço vetorial normado e denotado
(E, k·k).
1.2 Definição. Seja M um conjunto. Uma métrica em M é uma função d : M × M −→ R que satisfaz as
seguintes propriedades:
Um espaço vetorial normado torna-se naturalmente um espaço métrico com a métrica derivada da norma:
d (x, y) = kx − yk .
Desta forma, um espaço vetorial normado torna-se um espaço topológico com a topologia induzida pela
métrica.
1.3 Proposição. Seja (E, k·k) um espaço vetorial normado. Então as funções soma de vetores E × E −→
E, (x, y) 7→ x + y, multiplicação de vetores por escalares R × E −→ E, (α, x) 7→ αx, e norma k·k :
E −→ R, x 7→ kxk são contı́nuas.
3
Rodney Josué Biezuner 4
Lembramos que um espaço métrico completo é um espaço métrico em que todas as sequências de Cauchy
são convergentes, isto é, convergem para um elemento do próprio espaço.
se 1 6 p < ∞, e
kxk∞ = max |xi | . (1.2)
16i6n
Prova. As propriedades (i) e (ii) de uma norma na Definição 1.1 são claramente verificadas. Para provar a
desigualdade triangular (que neste caso especial também recebe o nome de desigualdade de Minkowski)
à n !1/p à n !1/p à n !1/p
X p
X p
X p
|xi + yi | 6 |xi | + |yi | , (1.3)
i=1 i=1 i=1
Logo,
à n !1− p−1
X p
p
aλ b1−λ 6 λa + (1 − λ) b (1.5)
sempre que a, b > 0 e 0 < λ < 1. Esta desigualdade pode ser provada da seguinte forma: se b = 0, ela é
óbvia; se b 6= 0, divida a desigualdade por b e tome t = a/b > 0, de modo que provar a desigualdade torna-se
Rodney Josué Biezuner 5
λ
equivalente a mostrar
¡ λ−1 que¢ a função f (t) = t − λt é menor que ou igual a 1 − λ para todo t > 0. E, de fato,
0
como f (t) = λ t − 1 , f é estritamente crescente para 0 6 t < 1 e estritamente decrescente para t > 1,
logo f atinge o seu máximo em t = 1, onde f vale exatamente 1 − λ. Tomando
¯ ¯ ¯ ¯ 0
¯ x ¯p ¯ y ¯p 1
¯ i ¯ ¯ i ¯
a=¯ ¯ ,b=¯ ¯ eλ= ,
¯ kxkp ¯ ¯ kykp0 ¯ p
Prova. Para ver que `p (n) é completo, basta observar que uma sequência em `p (n) é de Cauchy se e
somente se cada uma das sequências de coordenadas é de Cauchy e que, além disso, uma sequência em `p (n)
é convergente se e somente se cada uma das sequências de coordenadas é de Cauchy. Outra maneira de ver
que `p (n) é um espaço de Banach é lembrar que todas as normas em Rn são equivalentes e usar o fato bem
conhecido que Rn com a norma usual é completo. ¥
Observe que `2 (n) é o espaço Rn munido da norma euclidiana, a qual é derivada de um produto interno.
e o espaço `∞ como sendo o espaço das sequências reais limitadas, isto é,
½ ¾
∞
` = x : N −→ R : sup |xi | < ∞ ,
i∈N
dotado da norma
kxk∞ = sup |xi | . (1.7)
i∈N
Prova. Seja {xn }n∈N uma sequência de Cauchy em `p ({xn } é uma sequência de sequências reais). Denote os
termos de cada sequência xn por xn,m . Para cada m fixado, {xn,m }n∈N é também uma sequência de Cauchy,
logo converge para um certo número am ; em outras palavras, a sequência de sequências {xn } converge termo
a termo para a sequencia real a = {am }. Afirmamos que esta sequência está em `p e que xn → a em `p .
De fato, como {xn }n∈N é de Cauchy em `p , dado ε > 0, existe N ∈ N tal que
kxk − xl kp < ε
sempre que k > N,o que implica que xk − a ∈ `p sempre que k > N , e portanto a ∈ `p . Esta mesma
desigualdade também implica que xk → a em `p . ¥
`∞
c = {x ∈ `
∞
: x é uma sequência convergente} ,
∞ ∞
`0 = {x ∈ ` : lim xn = 0} .
e o espaço L∞ (Ω) como sendo o espaço das (classes de equivalência de) funções reais mensuráveis
limitadas, isto é, ½ ¾
L∞ (Ω) = f : Ω −→ R : sup |f | < ∞ ,
Ω
dotado da norma
kf k∞ = sup |f | . (1.9)
Ω
Rodney Josué Biezuner 7
Logo,
à n
!1− p−1
X p
p
kf + gkp = |f + g| 6 kf kp + kgkp .
i=1
A desigualdade de Hölder segue, como na demonstração da Proposição 1.7, da desigualdade mais geral
aλ b1−λ 6 λa + (1 − λ) b
sempre que a, b > 0 e 0 < λ < 1. Desta vez tomamos, para cada x ∈ Ω,
¯ ¯ ¯ ¯ 0
¯ f (x) ¯p ¯ g (x) ¯p 1
¯ ¯ ¯ ¯
a=¯ ¯ ,b=¯ ¯ eλ= ,
¯ kf kp ¯ ¯ kgkp0 ¯ p
segue que
p p0
|f (x) g (x)| 1 |f (x)| 1 |g (x)|
6 p + 0 0 .
kf kp kgkp0 p kf kp p kgkpp0
Daı́, integrando sobre Ω, obtemos
Z R p R p
1 1 Ω |f | 1 Ω |g| 1 1
|f g| 6 p + 0 p0
= + 0 = 1.
kf kp kgkp0 Ω p kf k p p kgkp0 p p
¥
Rodney Josué Biezuner 8
Prova. Consideraremos primeiro o caso L∞ (Ω). Seja {fn } ⊂ L∞ (Ω) uma sequência de Cauchy. Então,
dado k ∈ N, existe Nk ∈ N tal que
1
kfn − fm k∞ <
k
sempre que n, m > Nk . Em particular,
1
|fn (x) − fm (x)| <
k
q.t.p. em Ω, sempre que n, m > Nk . Isso implica que {fn (x)} é uma sequência de Cauchy para quase todo
ponto x ∈ Ω e podemos definir f (x) = lim fn (x) q.t.p. Resta mostrar que f ∈ L∞ (Ω) e que fn → f em
L∞ (Ω). Isso decorre da última desigualdade, fazendo m → ∞:
1
|fn (x) − f (x)| < .
k
Segue que fn → f na norma de L∞ (Ω); além disso, como para qualquer n, k fixados temos |f (x)| 6
|fn (x)| + 1/k, logo f ∈ L∞ (Ω).
Examinaremos agora o caso 1 6 p < ∞. Seja {fn } ⊂ Lp (Ω) uma sequência de Cauchy. Em particular,
podemos extrair uma subsequência {fnk } tal que
° ° 1
°fn − fnk °p < k .
k+1
2
Considere a sequência
n
X ¯ ¯
gn = ¯f n − fnk ¯ .
k+1
k=1
R p R p
Então existe g = lim gn . Pelo Teorema da Convergência Monótona, Ω |g| = lim Ω |gn | . Mas, usando a
desigualdade de Jensen,
Z Z ÃXn
!p n Z
X
¯ ¯ ¯ ¯p
p
|gn | 6 ¯ fnk+1 − fnk ¯ 6 ¯fn − fnk ¯
k+1
Ω Ω k=1 k=1 Ω
X µ ¶p
n
1
n µ
X 1
¶k X∞ µ
1
¶k
6 = 6
2k 2p 2p
k=1 k=1 k=1
1
2p 1
= 1 = < 1,
1− 2p
2p − 1
logo concluı́mos que kgkp 6 1 e, em particular, g assume valores reais em quase todo ponto.
Usaremos a sequência {gn } e seu limite g para verificar que a subsequência {fnk (x)} é de Cauchy em
quase todo ponto x. Com efeito, sejam k > l > 1 e escreva
¯ ¯ ¯ ¯
|fn (x) − fn (x)| 6 ¯fn (x) − fn
k l k
(x)¯ + . . . + ¯fn (x) − fn (x)¯ = gk−1 (x) − gl−1 (x) 6 g (x) − gl−1 (x) .
k−1 l+1 l
Como gl (x) → g (x) q.t.p., para quase todo x ∈ Ω fixado, existe N ∈ N tal que g (x) − gl−1 (x) < ε sempre
que l > N ; já que k > l, segue que |fnk (x) − fnl (x)| < ε sempre que k, l > N .
Portanto, podemos definir, em quase todo ponto,
f (x) = lim fnk (x) .
Falta provar que f ∈ Lp (Ω) e que fn → f em Lp (Ω). Fazendo k → ∞ na desigualdade |fnk (x) − fnl (x)| 6
g (x) − gl−1 (x), obtemos
|f (x) − fnl (x)| 6 g (x) − gl−1 (x) .
Rodney Josué Biezuner 9
Como g −gl−1 ∈ Lp (Ω), segue em particular que f −fnl ∈ Lp (Ω) e, portanto, f ∈ Lp (Ω) já que fnl ∈ Lp (Ω).
Além disso, integrando esta desigualdade sobre Ω, temos
Z Z
p p
|f − fnl | 6 |g − gl−1 | → 0
Ω Ω
quando l → ∞ pelo Teorema da Convergência Dominada (|g − gl−1 | é dominada por 2 |g|). Provamos, então,
que uma subsequência da sequência de Cauchy {fn } converge para f em Lp (Ω); portanto, toda a sequência
converge para f . ¥
¡ ¢
1.16 Exemplo. O espaço das funções contı́nuas C Ω com a norma L1 é um espaço vetorial normado mas
não é um espaço de Banach. Por exemplo, tome Ω = [0, 1] e considere a sequência de funções
1
0 se 0 6 t 6 ,
2
µ ¶
fn (t) = 1 1 1 1
n t− se 6 t 6 + ,
2 2 2 n
1 1 1
se + 6 t 6 1.
2 n
Assumindo n > m para fixar idéias, temos que
Z 1
kfn − fm k1 = |fn (t) − fm (t)| dt
0
1 1
é a área do triângulo de altura 1 e comprimento da base − , de modo que
m n
kfn − fm k1 < ε
sempre que n, m > ε, ou seja {fn }n∈N é uma sequência de Cauchy em C ([0, 1]) na norma L1 . Mas
ela não converge para nenhuma função contı́nua na norma L1 . De fato, convergência L1 implica em
1
convergência q.t.p., a menos de uma subsequência, e fn (t) → 0 se 0 6 t 6 , enquanto que fn (t) → 1
2
1
se 6 t 6 1. Para uma demonstração mais direta, suponha por absurdo que existe f ∈ C ([0, 1]) tal
2
que kfn − f k1 → 0. Como
Z 1 Z 12 Z 12 + n1 Z 1
kfn − f k1 = |fn (t) − f (t)| dt = |f (t)| dt + |fn (t) − f (t)| dt + |1 − f (t)| dt
1 1 1
0 0 2 2+n
e as três integrais são não-negativas, cada uma delas deve ser igual a 0 ou convergir para 0 quando
n → ∞. Concluı́mos que
0 1
se 0 6 t 6 ,
f (t) = 2
1
1 se 6 t 6 1,
2
e portanto f não é contı́nua. ¤
¡ ¢ ¡ ¢
1.5 Exemplo 4: Os espaços C k Ω e os espaços de Hölder C k,α Ω
Usaremos a notação de multi-ı́ndice para denotar a derivada parcial
∂ |γ| f
Dγ f (x) = (x)
∂xγ11. . . ∂xγnn
onde γ = (γ1 , . . . , γn ) e |γ| = γ1 + . . . + γn .
Rodney Josué Biezuner 10
1.17 Definição. Seja Ω ⊂ Rn um conjunto aberto. Definimos o espaço C k (Ω) como o espaço das funções
reais definidas em Ω cujas derivadas parciais até a ordem k (inclusive) são limitadas e uniformemente
contı́nuas (isso garante que elas possuem uma única extensão contı́nua para Ω), isto é,
© ª
C k (Ω) = f ∈ C k (Ω) : Dγ f é limitada e uniformemente contı́nua em Ω para todo |γ| 6 k .
dotado da norma
kf kC k (Ω) = max kDγ f kL∞ (Ω) . (1.12)
|γ|6k
0
Freqüentemente
T kdenotamos o espaço das funções contı́nuas C (Ω) simplesmente por C(Ω), e definimos
∞
C (Ω) = C (Ω).
k∈N
1.18 Definição. Seja Ω ⊂ Rn . Dizemos que uma função f : Ω → R é contı́nua de Hölder com expoente
α, se
|f (x) − f (y)|
sup α <∞
x,y∈Ω |x − y|
x6=y
para algum 0 < α 6 1. Neste caso, denotaremos f ∈ C α (Ω), se α < 1, e f ∈ C 0,1 (Ω) se α = 1. Além
disso, denotamos também
|f (x) − f (y)|
[f ]C α (Ω) = sup α . (1.13)
x,y∈Ω |x − y|
x6=y
Claramente, se uma função é contı́nua de Hölder em Ω, então ela é contı́nua em Ω; na verdade, ela é
uniformemente contı́nua em Ω, o que motiva o nome de função uniformemente contı́nua de Hölder em Ω, às
vezes usado na literatura. Uma função contı́nua de Hölder com expoente α = 1 é uma função contı́nua de
Lipschitz.
¡ ¢
1.19 Definição. Seja Ω ⊂ Rn um conjunto aberto. Os espaços de Hölder C k,α Ω são definidos como
¡ ¢
os subespaços de C k Ω consistindo das funções cujas derivadas parciais até a ordem k (inclusive) são
todas contı́nuas de Hölder com expoente α em Ω:
¡ ¢ © ¡ ¢ ª
C k,α Ω = f ∈ C k Ω : Dγ f ∈ C α (Ω) para todo |γ| 6 k
com norma
kf kC k,α (Ω) = kf kC k (Ω) + max [Dγ f ]C α (Ω) . (1.14)
|γ|6k
¡ ¢
Permitindo α = 0, podemos incluir os espaços C k Ω entre os espaços de Hölder:
¡ ¢ ¡ ¢
C k Ω = C k,0 Ω .
¡ ¢
1.20 Proposição. C k,α Ω é um espaço vetorial normado.
Prova. Provemos a validade da desigualdade triangular. Para isso, já que kf kC k (Ω) nada mais é que a soma
de normas do máximo, portanto claramente uma norma, basta provar que a desigualdade triangular vale
Rodney Josué Biezuner 11
para a seminorma [Dγ f ]C α (Ω) (uma seminorma é uma função que satisfaz todas as propriedades que uma
norma satisfaz, exceto a condição (i) da Definição 1.1). Isso significa provar que
e do fato que
sup (A + B) 6 sup A + sup B.
¥
¡ ¢
1.21 Proposição. C k,α Ω é um espaço de Banach.
Prova. Exercı́cio. ¥
1.6 Exercı́cios
1.1 Mostre que
kxk∞ = lim kxkp .
p→∞
1.3 Seja E um espaço vetorial normado em relação a duas normas, k·k1 e k·k2 . Dizemos que estas duas
normas são equivalentes se existirem constantes C, D > 0 tais que
kxk1 6 C kxk2 ,
kxk2 6 D kxk1 ,
para todo x ∈ E. Suponha que k·k1 e k·k2 são normas equivalentes. Prove que (E, k·k1 ) é de Banach
se e somente se (E, k·k2 ) é de Banach.
¡ ¢
1.4 Mostre que C k,α Ω com a norma
k
X X
kf kC k,α (Ω) = kf kC i (Ω) + [Dγ f ]C α (Ω)
i=0 |γ|6k
é um espaço vetorial normado. Mostre que esta norma é equivalente à norma definida no texto.
1.5 Demonstre a Proposição 1.21.
Capı́tulo 2
Aplicações Lineares
2.1 Definição. Sejam (E, k·kE ) e (F, k·kF ) espaços vetoriais normados. Dizemos que uma aplicação linear
T : E −→ F é limitada se existe uma constante M > 0 tal que
kT xkF 6 M kxkE
para todo x ∈ E.
Em geral, omitiremos os subscritos das normas quando for claro do contexto a quais espaços elas se referem.
2.2 Proposição. Sejam E, F espaços vetoriais normados e T : E −→ F uma aplicação linear. As seguintes
afirmações são equivalentes:
(i) T é contı́nua.
(ii) T é contı́nua na origem.
(iii) T é limitada.
Prova. (i)⇒(ii) Óbvio. (ii)⇒(iii) Tomando ε = 1 na definição (ε, δ) de continuidade em espaços métricos,
existe δ > 0 tal que kxk 6 δ implica kT xk 6 1. Portanto, se y ∈ E é um vetor não nulo qualquer, temos
° µ ¶°
° °
°T δy ° 6 1.
° kyk °
kT x − T yk = kT (x − y)k 6 M kx − yk
12
Rodney Josué Biezuner 13
2.3 Exemplo. Embora aplicações lineares em espaços vetoriais normados de dimensão finita sejam sempre
contı́nuas, o mesmo não vale para espaços vetoriais normados de dimensão infinita. De fato, se E é um
espaço vetorial normado de dimensão infinita e F é um espaço vetorial normado de dimensão maior ou
igual a 1, podemos sempre construir uma aplicação linear T : E −→ F que não é limitada. Para isso,
0
seja B uma base para E, B ⊂ B um subconjunto enumerável de vetores e y ∈ F um vetor não nulo
qualquer. Definimos uma aplicação linear T : E −→ F definindo T em B por
0
T xn = n kxn k y se xn ∈ B
e 0
Tx = 0 se x ∈ B\B .
T não é limitada, pois
kT xn k = n kyk kxn k ,
logo não existe uma constante M > 0 tal que
kT xn k 6 M kxn k .
Em particular, vemos que se E é um espaço vetorial normado de dimensão infinita, sempre existem
funcionais lineares que não são contı́nuos, pois podemos tomar F = R. ¤
2.4 Definição. Se E, F são espaços vetoriais normados, denotaremos o espaço vetorial das aplicações lin-
eares limitadas por L (E, F ). Definimos a norma de uma aplicação linear limitada por
2.5 Proposição. Sejam E, F espaços vetoriais normados e T : E −→ F uma aplicação linear limitada.
Então
kT xk
kT k = sup = sup kT xk = sup kT xk .
x∈E\{0} kxk x∈E x∈E
kxk61 kxk=1
Prova. Seja
kT xk
M = sup .
x∈E kxk
x6=0
Então kT xk 6 M kxk para todo x ∈ E, logo M > kT k. Reciprocamente, como por definição kT xk 6 kT k kxk
para todo x ∈ E, segue que
kT xk
6 kT k
kxk
para todo x ∈ E\ {0}, logo kT k 6 M . Isso prova a primeira identidade.
Para provar que
kT xk
sup = sup kT xk = sup kT xk ,
x∈E\{0} kxk x∈E x∈E
kxk=1 kxk61
2.6 Proposição. Se E, F são espaços vetoriais normados, então L (E, F ) é um espaço vetorial normado.
para todo x ∈ E, de modo que obtemos simultaneamente que T + S ∈ L (E, F ) e a validade da desigualdade
triangular para a norma de aplicações lineares. ¥
T x := lim Tn x.
Afirmamos que T = lim Tn em L (E, F ). De fato, em primeiro lugar, T é uma transformação linear, pois
T (αx + βy) = lim Tn (αx + βy) = lim (αTn x + βTn y) = α lim Tn x + β lim Tn y
= αT x + βT y.
Além disso, dado ε > 0, existe N ∈ N tal que kTn − Tm k < ε sempre que n, m > N . Então
kTn x − Tm xk 6 ε kxk
k(T − Tm ) xk = kT x − Tm xk 6 ε kxk
2.8 Definição. Se E é um espaço vetorial normado, denotaremos o espaço vetorial dos funcionais lineares
limitadas por E ∗ . Ele é chamado o espaço dual de E.
2.9 Corolário. Se E é um espaço vetorial normado, então E ∗ é um espaço de Banach.
2.10 Proposição. Sejam E, F, G espaços vetoriais normados. Se T ∈ L (E, F ) e S ∈ L (F, G), então
ST ∈ L (E, G) e
kST k 6 kSk kT k .
Prova. Temos
k(ST ) xk 6 kSk kT xk 6 kSk kT k kxk
para todo x ∈ E. ¥
Rodney Josué Biezuner 15
2.11 Definição. Sejam E, F espaços vetoriais normados. Dizemos que uma aplicação T : E −→ F é
limitada inferiormente se existe uma constante m > 0 tal que
kT xk > m kxk
para todo x ∈ E.
2.12 Proposição. Seja T ∈ L (E, F ). Então a inversa T −1 : Im T −→ E existe e é linear e limitada se e
somente se T é limitada inferiormente.
logo T é injetiva e portanto a inversa T −1 : Im T −→ E está bem definida. Como T (αx + βy) = αT x + βT y,
tomando T −1 em ambos os lados desta equação, segue também que
T −1 (αT x + βT y) = αx + βy = αT −1 (T x) + βT −1 (T y) ,
2.13 Definição. Sejam E, F espaços vetoriais normados. Dizemos que E e F são topologicamente iso-
morfos quando existe uma aplicação linear bijetiva T : E −→ F tal que T e T −1 são limitadas.
m kxk 6 kT xk 6 M kxk .
2.15 Proposição. Sejam E, F espaços vetoriais normados de dimensão finita com a mesma dimensão.
Então E e F são topologicamente isomorfos.
Prova. Como a relação de isomorfismo topológico entre espaços vetorias normados é uma relação de
equivalência, basta mostrar que se dim E = n então E é topologicamente isomorfo a `1 (n). Seja B =
{e1 , . . . , en } uma base para E. Considere o isomorfismo T : `1 (n) −→ E definido por
n
X
T (x1 , . . . , xn ) = x i ei .
i=1
Rodney Josué Biezuner 16
onde denotamos M = max kei kE . Como T é contı́nua, a função x 7→ kT xk também é e assume um valor
i=1,...,n
© ª
mı́nimo m na esfera unitária B = x ∈ `1 (n) : kxk = 1 . Necessariamente m > 0, pois {e1 , . . . , en } é um
conjunto linearmente independente. Portanto,
° °
° x °
°T °
° kxk ° > m
Prova. Vamos provar a última afirmação. Para isso, provaremos antes o seguinte resultado:
Seja E um espaço vetorial normado e F ⊂ E um subespaço vetorial fechado próprio de E. Então para
todo 0 < ε < 1 existe y ∈ E tal que kyk = 1 e
Seja z ∈ E\F e d = dist (z, F ). Como F é fechado, d 6= 0 e pela definição de distância existe x0 ∈ F tal que
d
d 6 kz − x0 k 6 .
ε
Tome
z − x0
y= ,
kz − x0 k
de modo que kyk = 1. Além disso, para todo x ∈ F temos
° °
° z − x0 °
ky − xk = °° − x°
kz − x0 k °
1
= kz − x0 − kz − x0 k xk
kz − x0 k
ε
> kz − x1 k ,
d
Rodney Josué Biezuner 17
onde x1 = x0 − kz − x0 k x ∈ F , logo
ε
ky − xk > d = ε.
d
Agora, suponha por absurdo que E é um espaço de dimensão infinita. Vamos construir uma sequência
{xn }n∈N ⊂ B que não possui subsequência convergente, mostrando que B não pode ser compacta. Tome
x1 ∈ B qualquer. Como hx1 i é um subespaço fechado de E e, por hipótese, E 6= hx1 i, existe x2 ∈ B tal que
O subespaço hx1 , x2 i também é um subespaço fechado próprio de E, logo existe x3 ∈ B tal que
para todos n, m ∈ N. Como nenhuma subsequência desta sequência pode ser de Cauchy, ela não possui
nenhuma subsequência convergente. ¥
2.2 Exercı́cios
2.1 Verifique nos casos abaixo que o funcional linear está bem definido e é limitado e calcule sua norma.
P∞ x
n
a) f : `2 −→ R; f (x) = .
n=1 n
P
∞ xn
b) f : `∞
0 −→ R; f (x) = n+1
.
n=1 2
R1
c) f : L1 (−1, 1) −→ R; f (x) = −1 tx (t) dt.
Mλ (x) = (λ1 x1 , λ2 x2 , . . .)
onde λ = (λn ) ∈ `∞ . Mλ é chamado multiplicação por λ. Verifique que Mλ é um operador linear bem
definido e limitado e calcule sua norma. Para que sequências λ existe o operador inverso Mλ−1 ? Para
que sequências λ o operador inverso Mλ−1 existe e é limitado?
2.3 Considere o operador shift S : `p −→ `p definido por
Sx = (0, x1 , x2 , . . .) .
T x = (x2 , x3 , . . .) .
T −1 existe e é limitado?
2.4 Seja T : C ([0, 1]) −→ C ([0, 1]) definida por
Z t
(T f ) (t) = f (t) + f (s) ds.
0
2.5 Seja E um espaço de Banach e T ∈ L (E) um operador tal que kT k < 1. Mostre que I − T é um
−1 P
∞
−1
operador bijetivo, (I − T ) = T n , (I − T ) é limitado e que
n=1
° ° 1
° −1 °
°(I − T ) ° 6 .
1 − kT k
2.6 Seja E um espaço de Banach e T ∈ L (E) um operador tal que kI − T k < 1. Mostre que T −1 existe e
está em L (E).
© ª
2.7 Seja E = f ∈ C 1 ([0, 1]) : f (0) = 0 . Dada g ∈ C ([0, 1]), considere a aplicação linear Tg : E −→
C ([0, 1]) definida por
(Tg f ) (t) = f 0 (t) + g (t) f (t) .
Mostre que T −1 existe e é limitada.
2.8 A aplicação linear D : C 1 ([0, 1]) −→ C ([0, 1]) definida por
Df = f 0
2.19 Definição. Seja E um espaço vetorial normado. Dizemos que um funcional p : E −→ R é semilinear
se ele for subaditivo, isto é,
e positivo-homogêneo, ou seja,
Um exemplo de funcional semilinear em um espaço vetorial normado é a própria norma deste espaço.
Para demonstrarmos o lema principal desta seção, que também é conhecido como o teorema de Hahn-
Banach para espaços vetoriais (embora nestas notas não nos referiremos a ele deste modo em geral, preferindo
reservar o nome teorema de Hahn-Banach para o teorema de Hahn-Banach para espaços vetoriais normados),
relembramos o lema de Zorn:
Rodney Josué Biezuner 19
2.20 Lema. (Lema de Zorn) Seja A 6= ∅ um conjunto parcialmente ordenado. Se todo subconjunto total-
mente ordenado de A possui um limitante superior, então A tem pelo menos um elemento maximal.
2.21 Lema. Sejam E um espaço vetorial e p : E −→ R um funcional semilinear. Seja F um subespaço
vetorial de E e f0 : F −→ R um funcional linear tal que f0 (x) 6 p (x) para todo x ∈ F . Então f0 se
estende a um funcional linear f : E −→ R satisfazendo f (x) 6 p (x) para todo x ∈ E.
Prova. Este resultado é uma consequência do Lema de Zorn. Seja A o conjunto de todas as extensões
lineares g : L (g) −→ R de f0 a um subespaço vetorial L (g) ⊃ F de E tais que g (x) 6 p (x) para todo
x ∈ L (g). Note que A 6= ∅ porque f0 ∈ A. Definimos uma ordem parcial em A declarando
g 6 h se L (g) ⊂ L (h) ,
isto é, g 6 h se h é uma extensão de g. Para ver que A satisfaz a hipótese do lema de Zorn, seja A ⊂ A um
subconjunto totalmente ordenado. Então um limitante superior para A é o funcional g : L (g) −→ R onde
[
L (g) = L (h)
h∈A
e g é definido por
g (x) = h (x) se x ∈ L (h) para qualquer h ∈ A.
Observe que g está bem definido porque A é totalmente ordenado. Pelo lema de Zorn, existe um elemento
maximal f ∈ A. Para provar o resultado, basta mostrar que L (f ) = E.
Suponha por absurdo que existe x0 ∈ E\L (f ). Considere o subespaço L = L (f ) + hx0 i. Defina uma
extensão linear g : L −→ R de f por
h (x + tx0 ) = f (x) + tα,
onde α ∈ R é uma constante a ser definida apropriadamente para que tenhamos h (y) 6 p (y) para todo
y ∈ L, e portanto g contradizerá a maximalidade de f . De fato, dados x1 , x2 ∈ L (f ), temos
f (x1 ) + f (x2 ) = f (x1 + x2 ) 6 p (x1 + x2 ) 6 p (x1 + x0 ) + p (x2 − x0 ) ,
donde
f (x2 ) − p (x2 − x0 ) 6 p (x1 + x0 ) − f (x1 ) .
Escolha α tal que
sup [f (x) − p (x − x0 )] 6 α 6 inf [p (x + x0 ) − f (x)] .
x∈L(f ) x∈L(f )
2.23 Corolário. Sejam E um espaço vetorial normado e F um subespaço vetorial de E. Suponha que
exista x0 ∈ E tal que
dist (x0 , F ) = inf kx − x0 k > 0.
x∈F
∗
Então existe f ∈ E tal que f (x0 ) = 1, kf kE ∗ = 1/ dist (x0 , F ) e f ≡ 0 sobre F .
Em particular, se F é um subespaço vetorial de E que não é denso em E, então existe f ∈ E ∗ não-nulo
que se anula em F .
f0 (x + tx0 ) = t.
Seja {yn } ⊂ F uma sequência tal que kx0 − yn k → dist (x0 , F ). Temos
Portanto,
1
kf0 kF ∗ = .
1 dist (x0 , F )
Usando o teorema de Hahn-Banach, estendemos f linearmente a todo o espaço E. ¥
Este resultado é frequentemente usado para verificar se um subespaço vetorial de um espaço vetorial normado
é denso.
2.24 Corolário. Seja E um espaço vetorial normado. Para todo vetor não-nulo x0 ∈ E existe f ∈ E ∗ tal
que
kf kE ∗ = 1 e f (x0 ) = kx0 k .
Rodney Josué Biezuner 21
2.25 Corolário. Seja E um espaço vetorial normado. Para todo vetor x ∈ E vale
|f (x)|
kxk = sup = sup |f (x)| = max∗ |f (x)| .
f ∈E ∗ \{0} kf k f ∈E ∗ f ∈E
kf k61 kf k61
Prova. Pelo corolário anterior existe g ∈ E ∗ tal que kgkE ∗ = 1 e g (x) = kx0 k. Logo,
|f (x)| |g (x)|
sup > = kxk .
f ∈E ∗ \{0} kf k kgk
2.26 Proposição. Sejam E, F espaços vetoriais normados. Se L (E, F ) é um espaço de Banach, então F
é um espaço de Banach.
Prova. Em primeiro lugar, observamos que se f é funcional linear sobre E e y ∈ F é um vetor qualquer,
então podemos definir uma aplicação linear T : E −→ F por
T x = f (x) y.
Além disso, se f for um funcional linear limitado, então T também é uma aplicação linear limitada. De fato,
kT xk |f (x)|
kT k = sup = kyk sup = kyk kf k .
kxk kxk
Seja {yn }n∈N uma sequência de Cauchy em F . Pelo Corolário 2.24, existe um funcional linear f ∈ E ∗
tal que kf k = 1. Para cada n ∈ N, defina uma aplicação linear Tn ∈ L (E, F ) por
Tn x = f (x) yn .
Então kTn k = kyn k e {Tn }n∈N é uma sequência de Cauchy em L (E, F ). Como L (E, F ) é um espaço de
Banach, Tn → T em L (E, F ). Em particular, Tn x → T x em F para todo x ∈ E. Escolhendo x ∈ E tal que
f (x) = 1, segue que Tn x = yn e portanto yn → T x. ¥
Assim, juntamente com a Proposição 2.7, este resultado implica que L (E, F ) é um espaço de Banach se e
somente se F é um espaço de Banach.
H = f −1 (α) = {x ∈ E : f (x) = α} ,
Prova. Suponha que H é fechado. Então E\H é aberto e não-vazio (porque f é não-nulo). Escolha
x0 ∈ E\H tal que f (x0 ) < α, para fixar idéias, e uma bola Br (x0 ) ⊂ E\H. Afirmamos que f (x) < α para
todo x ∈ Br (x0 ). Com efeito, se f (x1 ) > α para algum x1 ∈ Br (x0 ), considere o segmento
L = {(1 − t) x0 + tx1 : 0 6 t 6 1}
f (x1 ) − α
que está inteiramente contido em Br (x0 ). Tomando t = temos
f (x1 ) − f (x0 )
Prova de (ii): Seja x ∈ C. Como C é aberto, existe ε > 0 tal que (1 + ε) x ∈ C, logo por definição
1
p (x) 6 <1
1+ε
x x
Reciprocamente, se p (x) < 1, então existe 0 < α < 1 tal que ∈ C, donde x = α + (1 − α) 0 ∈ C, já que
α α
C é convexo e contém a origem.
Por fim, vamos verificar que p é semilinear. É fácil ver que p é positivo-homogêneo. Para verificar a
subaditividade de p, sejam x, y ∈ E e ε > 0. De (ii) e do fato de p ser positivo-homogêneo segue que
x y
, ∈ C.
p (x) + ε p (y) + ε
Daı́,
x y
t + (1 − t) ∈C para todo 0 6 t 6 1.
p (x) + ε p (y) + ε
p (x) + ε
Em particular, escolhendo t = , temos que
p (x) + p (y) + 2ε
x+y
∈ C.
p (x) + p (y) + 2ε
Pela positivo-homogeneidade de p e por (ii), concluı́mos que
p (x + y) < p (x) + p (y) + 2ε.
Como ε > 0 é arbitrário, segue a subaditividade de p. ¥
2.31 Lema. Seja E um espaço vetorial normado e C ( E um conjunto aberto convexo não-vazio. Seja
x0 ∈ E\C. Então existe f ∈ E ∗ tal que f (x) < f (x0 ) para todo x ∈ C.
Em particular, o hiperplano H = f −1 (f (x0 )) separa x0 e C no sentido amplo.
Prova. Fazendo uma translação, podemos assumir que 0 ∈ C e definir o funcional de Minkowski p de C.
Considere F = hx0 i e o funcional linear sobre F dado por f0 (tx0 ) = t. Como p (x0 ) > 1 (por (ii) do lema
anterior), temos p (tx0 ) = tp (x0 ) > t se t > 0; se t < 0, p (tx0 ) > t trivialmente, porque o funcional de
Minkowski p é não-negativo. Segue que f0 (x) 6 p (x) para todo x ∈ F . Podemos portanto usar o teorema de
Hahn-Banach (Lema 2.21) para concluir que f0 possui uma extensão linear f : E −→ R tal que f (x) 6 p (x)
para todo x ∈ E. De (i) do lema anterior, segue que f é limitada. Finalmente, como p (x) < 1 para todo
x ∈ C, segue que f (x) 6 p (x) < 1 = f (x0 ) para todo x ∈ C. ¥
2.32 Teorema. (Teorema de Hahn-Banach, primeira forma geométrica) Seja E um espaço vetorial nor-
mado. Sejam A, B ⊂ E conjuntos convexos não-vazios disjuntos, com A aberto. Então existe um
hiperplano fechado que separa A e B no sentido amplo.
Prova. Seja
C = A − B = {x − y : x ∈ A e y ∈ B} .
C é convexo, pois se x1 − y1 , x2 − y2 ∈ C então
t (x1 − y1 ) + (1 − t) (x2 − y2 ) = tx1 + (1 − t) x2 − [ty1 + (1 − t) y2 ] ∈ C,
e C é aberto porque C = ∪y∈B (A − y), união de abertos (translação é um homeomorfismo). Além disso,
0∈/ C porque A e B são disjuntos. Pelo lema anterior, tomando x0 = 0, existe f ∈ E ∗ tal que f (z) < 0 para
todo z ∈ C, ou seja, f (x) < f (y) para todos x ∈ A e y ∈ B. Escolhendo α tal que
sup f 6 α 6 inf f,
A B
2.33 Teorema. (Teorema de Hahn-Banach, segunda forma geométrica) Seja E um espaço vetorial nor-
mado. Sejam A, B ⊂ E conjuntos convexos não-vazios disjuntos, com A fechado e B compacto.
Então existe um hiperplano fechado que separa A e B no sentido estrito.
f (x) + ε kf k 6 α 6 f (y) + ε kf k .
2.5 Exercı́cios
2.12 Sejam E um espaço vetorial e f : E −→ R um funcional linear. Mostre que a codimensão do núcleo
de f é 1, ou seja, podemos escrever
E = ker f ⊕ hx0 i
onde x0 é qualquer vetor de E tal que f (x0 ) 6= 0.
2.13 Seja E um espaço vetorial normado. Se f : E −→ R é um funcional linear tal que para toda sequência
{xn }n∈N convergente para 0 a sequência {f (xn )}n∈N é limitada, mostre que f é limitado.
2.14 Seja E um espaço vetorial normado. Prove que um funcional linear f : E −→ R é limitado se e somente
se ker f é fechado.
2.15 Sejam E um espaço vetorial normado e L = hx1 , x2 , . . .i um subespaço vetorial gerado por um conjunto
enumerável de vetores. Mostre que x ∈ L se e somente se para todo f ∈ E ∗ tal que f (xn ) = 0 para
todo n tem-se f (x) = 0.
2.16 Sejam E um espaço vetorial normado e f : E −→ R um funcional linear limitado não-nulo. Considere
o hiperplano H = f −1 (1). Mostre que
1
kf k = .
inf kxk
x∈H
2.17 Sejam E um espaço vetorial normado e F um subespaço vetorial próprio de E. Mostre que se T0 : F −→
RN é uma aplicação linear limitada, então T se estende a uma aplicação linear limitada T : E −→ RN
com kT k = kT0 k.
Capı́tulo 3
3.2 Teorema. (Teorema da Limitação Uniforme) Sejam E, F espaços vetoriais normados, sendo E um
espaço de Banach. Seja {Tλ }λ∈Λ uma coleção de operadores lineares limitados de E em F puntual-
mente limitados, isto é, para todo x ∈ E existe Cx > 0 tal que
Então {Tλ }λ∈Λ é uniformemente limitada, ou seja, existe C > 0 tal que
n0 + kTλ x0 k
kTλ (z)k 6
r
25
Rodney Josué Biezuner 26
Prova. A limitação uniforme da sequência decorre do teorema anterior. O fato de T ser linear decorre das
propriedades de limites de somas e multiplicação por escalar de sequências e da linearidades dos operadores da
sequência, como na Proposição 2.7. Como, pelo teorema anterior, existe uma constante C > 0 independente
de x tal que
kTn xk 6 C kxk
para todo x ∈ X, tomando o limite quando n → ∞ obtemos que T é limitado. Finalmente, como
kTn xk 6 kTn k kxk ,
da definição de norma de um operador segue o último resultado. ¥
3.4 Corolário. Sejam E um espaço vetorial normado e B ⊂ E um subconjunto. Se para todo f ∈ E ∗ o
conjunto f (B) é limitado, então B é limitado.
Prova. Aplicamos o Teorema da Limitação Uniforme substituindo E = E ∗ (que é um espaço de Banach,
como vimos no Corolário 2.9), F = R e Λ = B. Para todo b ∈ B definimos um operador linear limitado
Tb : E ∗ −→ R por
Tb f = f (b) .
De fato,
kTb f k = kf (b)k 6 kf k kbk = kbk kf k
A coleção {Tb f }b∈B é limitada para cada f ∈ E ∗ por hipótese. Portanto, do Teorema 3.2 segue que existe
uma constante C > 0 independente de f tal que
|f (b)| 6 C kf k
para todo f ∈ E ∗ . Usando o Corolário 2.25 concluı́mos que
kbk 6 C
para todo b ∈ B. ¥
3.5 Corolário. Sejam
S E um espaço de Banach e B ∗ ⊂ E ∗ um subconjunto. Se para todo x ∈ E o conjunto
∗
hB , xi = f (x) é limitado, então B ∗ é limitado.
f ∈B ∗
Prova. Passo 1. Seja T : E −→ F uma aplicação linear sobrejetiva. Então existe r > 0 tal que
Seja
Fn = nT (B1 (0)).
S
Então Fn é fechado e F = Fn , logo pelo Teorema da Categoria de Baire (F é de Banach) existe n0 ∈ N
n∈N
tal que int Fn0 =
6 ∅. Em particular, int T (B1 (0)) 6= ∅. Sejam y ∈ F e r > 0 tais que B4r (y) ⊂ T (B1 (0)).
Em particular, y, −y ∈ T (B1 (0)). Obtemos
B4r (0) = −y + B4r (y) ⊂ T (B1 (0)) + T (B1 (0)) = 2T (B1 (0))
a última igualdade valendo porque T (B1 (0)) é convexo (pois aplicações lineares são aplicações convexas, isto
é, levam conjuntos convexos
¡ em conjuntos
¢ convexos, o fecho de um conjunto convexo é convexo e podemos
sempre escrever x + y = 2 21 x + 12 y ). Como B4r (y) ⊂ 2T (B1 (0)), segue o resultado.
Passo 2. Seja T : E −→ F uma aplicação linear limitada. Se existe r > 0 tal que
então
T (B1 (0)) ⊃ Br (0) .
Dado y ∈ Br (0) ⊂ F , queremos encontrar x ∈ B1 (0) ⊂ E tal que T x = y. Sabemos que, dado ε > 0, existe
0 0
z∈B °1/2 0(0) ⊂°E tal que T z ∈ Bε (y). De fato, como 2y ∈ B2r (0), existe z ∈ B1 (0) tal que kT z − 2yk < ε;
° z ° ε
daı́, ° ° 0
°T 2 − y ° < 2 e podemos tomar z = z /2. Escolhendo ε = r/2 obtemos z1 ∈ E tal que
1 r
kz1 k < e ky − T z1 k < .
2 2
Aplicando o mesmo argumento a y − T z1 e escolhendo ε = r/4, encontramos z2 ∈ E tal que
1 r
kz2 k < e k(y − T z1 ) − T z2 k < .
4 2
Procedendo desta forma, obtemos uma sequência {zn }n∈N tal que
1 r
kzn k < e ky − T (z1 + . . . + zn )k <
2n 2n
para todo n. Em particular, a sequência {xn }n∈N definida por
xn = z1 + . . . + zn
e
y = lim T xn = T (lim xn ) = T x.
Juntando os dois passos, o teorema fica provado. Para ver que T é aberta, seja U ⊂ E um aberto
e mostremos que T (U ) é aberto. Dado y ∈ T (U ), seja x ∈ E tal que y = T x. Seja ε > 0 tal que
Bε (x) ⊂ U , ou seja, x + Bε (0) ⊂ U . Então y + T (Bε (0)) ⊂ T (U ). Pelo teorema T (Bε (0)) ⊃ Bεr (0), logo
Bεr (y) ⊂ T (U ). ¥
3.7 Corolário. Sejam E, F espaços de Banach. Se T : E −→ F é uma aplicação linear limitada bijetiva,
então a aplicação linear T −1 : F −→ E é contı́nua.
3.8 Corolário. Seja E um espaço de Banach. Se k·k1 , k·k2 são duas normas tais que existe uma constante
C > 0 tal que
kxk1 6 C kxk2 para todo x ∈ E,
então elas são normas equivalentes.
3.9 Definição. Sejam E, F espaços vetoriais normados. Dizemos que uma aplicação linear T : E −→ F é
fechada se seu gráfico
G (T ) = {(x, T x) : x ∈ E}
é fechado em E × F .
Observe que o gráfico de uma aplicação linear é um subespaço vetorial de E × F . É claro que toda aplicação
linear contı́nua é fechada, entretanto existem muitos exemplos de operadores lineares importantes na prática
que não são contı́nuos mas pelo menos são fechados. Se E e F são espaços de Banach, os dois conceitos são
equivalentes:
3.10 Teorema. (Teorema do Gráfico Fechado) Sejam E, F espaços de Banach e T : E −→ F uma aplicação
linear fechada. Então T é limitada.
(A segunda norma é às vezes chamada norma do gráfico.) Como G (T ) é fechado, E sob a norma do gráfico
ainda é um espaço de Banach. De fato, se {xn } é uma sequência de Cauchy em (E, k·k2 ), então em particular
{xn } é uma sequência de Cauchy em (E, k·k1 ) pois kxk1 6 kxk2 e {T xn } é uma sequência de Cauchy em
(F, k·kF ) pois kT xkF 6 kxk2 . Se x = lim xn e y = lim T xn , segue que (xn , T xn ) → (x, y) em E × F . Como
G é fechado, temos que (x, y) ∈ G, logo y = T x. Podemos então usar o Corolário 3.8 para concluir que
existe uma constante C > 0 tal que
kxk2 6 C kxk1
para todo x ∈ E. Em particular, segue que
kT xkF 6 C kxk1 .
¥
A hipótese dos espaços E, F serem de Banach é necessária (veja os Exercı́cios 3.7 e 3.14).
Rodney Josué Biezuner 29
hf, xi = f (x)
se x ∈ E e f : E −→ R é um funcional linear.
para todos x ∈ E e g ∈ F ∗ .
3.12 Proposição. O operador adjunto está bem definido. Além disso,
kA∗ k = kAk .
kA∗ k 6 kAk .
Pelo teorema de Hahn-Banach (Corolário 2.24), se x0 ∈ E é tal que kx0 k = 1 e Ax0 6= 0, então existe g ∈ F ∗
tal que
kgk = 1 e g (Ax0 ) = kAx0 k .
Logo
kA∗ gk |hA∗ g, x0 i|
= kA∗ gk > = |hg, Ax0 i| = kAx0 k .
kgk kx0 k
Assim,
kA∗ k > kAx0 k
para todo x0 ∈ E tal que kx0 k = 1, donde
¥
Usaremos a seguinte noção padrão no que se segue.
Rodney Josué Biezuner 30
N (A) = {x ∈ E : Ax = 0}
Uma das razões de se considerar operadores adjuntos é dada a seguir. Muitos problemas em matemática
pura e aplicada podem ser formulados da seguinte forma: dados espaços vetoriais normados E, F e um
operador linear A : E −→ F , encontrar uma solução para a equação
Ax = y.
Se y ∈ R (A), esta equação possuir uma solução x. Então, para cada g ∈ F ∗ nós temos
g (Ax) = g (y)
e ¡ ⊥ ¢⊥
W ⊃W
pois f é contı́nuo. Em particular isso vale para f ∈ W , logo f (x) = 0 para todo f ∈ W , donde x ∈ W ⊥ .
¡ ¢⊥ ¡ ¢⊥ ¡ ¢⊥
Claramente V ⊂ V ⊥ e como V ⊥ é fechado, segue que V ⊂ V ⊥ . Reciprocamente, suponha por
¡ ⊥ ¢⊥
absurdo que existe x0 ∈ V tal que x0 ∈/ V . Pelo teorema de Hahn-Banach existe f ∈ E ∗ tal que f ≡ 0
¡ ¢⊥
em V e f (x0 ) 6= 0. Mas então f ∈ V e não podemos ter x0 ∈ V ⊥ . ¥
⊥
3.16 Teorema. Sejam E, F espaços vetoriais normados e A : E −→ F uma aplicação linear. Então vale:
⊥
(i) N (A) = R (A∗ ) .
⊥
(ii) N (A∗ ) = R (A) .
⊥
(iii) R (A) = N (A∗ ) .
⊥
(iv) R (A∗ ) ⊂ N (A) .
3.17 Corolário. Seja E um espaço vetorial normado de dimensão finita e A : E −→ E um operador linear.
Então
A é injetiva se e somente se A∗ é sobrejetiva
e
A é sobrejetiva se e somente se A∗ é injetiva.
No caso de espaços de Banach mais gerais, podemos concluir que se A é sobrejetiva então A∗ é injetiva:
3.18 Teorema. Sejam E, F espaços de Banach e A : E −→ F uma aplicação linear fechada. Então são
equivalentes
(i) R (A) = F.
Rodney Josué Biezuner 32
(ii)=⇒(iii)Vamos mostrar que A satisfaz o primeiro passo da demonstração do teorema da aplicação aberta:
existe r > 0 tal que
A (B1 (0)) ⊃ Br (0) .
Como A é limitada, seguirá do segundo passo da demonstração daquele teorema que A é aberta. Seja r > 0
tal que
kA∗ gk > r kgk
para todo g ∈ F ∗ . Equivalentemente, mostraremos que se y0 ∈ / A (B1 (0)), então ky0 k > r. Aplicando a
segunda forma geométrica do teorema de Hanh-Banach aos conjuntos convexos {y} e A (B1 (0)), obtemos
g ∈ F ∗ tal que
|g (y)| < 1 < |g (y0 )|
para todo y ∈ A (B1 (0)) (podemos tomar g = f /α para f, α do enunciado daquele teorema). Em particular,
isto implica que
kA∗ gk = sup |hA∗ g, xi| = sup |hg, Axi| 6 1
kxk61 kxk61
e
r < r |g (y0 )| 6 r kgk ky0 k 6 kA∗ gk ky0 k 6 ky0 k ,
conforme querı́amos.
(iii)⇒(i) Como A é aberta, R (A) é um subespaço vetorial aberto de F . Isso só é possı́vel se R (A) = F . ¥
Prova. (i)⇔(iii) segue diretamente do Teorema 3.16, logo é suficiente provar a cadeia de implicações
(i)⇒(iv)⇒(ii)⇒(i).
⊥ ⊥
(i)⇒(iv) Pelo Teorema 3.16, temos R (A∗ ) ⊂ N (A) , logo resta apenas mostrar que N (A) ⊂ R (A∗ ). Seja
⊥
f ∈ N (A) ; vamos obter g ∈ F ∗ tal que A∗ g = f . Defina um funcional linear g0 : R (A) −→ R por
g0 (Ax) = f (x)
para todo x ∈ E. g0 está bem definido, porque se Ax1 = Ax2 então x1 − x2 ∈ N (A), logo f (x1 − x2 ) = 0.
Para ver que g0 é limitada, considere a restrição de contradomı́nio A : E −→ R (A); como R (A) é um
subespaço vetorial fechado de um espaço de Banach, ele também é um espaço de Banach e podemos aplicar
o teorema da aplicação aberta para concluir que existe r > 0 tal que
onde Br (0)R(A) denota a bola aberta de centro na origem e raio r no espaço de Banach R (A). Isso implica
que existe C > 0 tal que para todo y ∈ R (A) existe x ∈ E satisfazendo Ax = y e kxk 6 C kyk. De fato, se
r
y ∈ R (A), então y ∈ Br (0)R(A) , logo existe z ∈ B1 (0) tal que
2 kyk
r
Az = y
2 kyk
e podemos tomar
2 kyk
x= z
r
r
de modo que Ax = y e kxk 6 kyk. Daı́,
2
|g0 (y)| = |g0 (Ax)| = |f (x)| 6 kf k kxk 6 C kf k kyk .
para todo x ∈ E, donde R (A∗ ) ⊂ R (S ∗ ). Por hipótese, temos então que R (S ∗ ) é fechado, portanto é um
espaço de Banach, já que é um subespaço vetorial fechado do espaço de Banach Z ∗ (lembre-se que o dual de
um espaço vetorial normado sempre é um espaço de Banach).
Obtemos então que a restrição de contradomı́nio S ∗ : Z ∗ −→ R (S ∗ ) é um operador linear contı́nuo
−1
bijetivo. Pelo Corolário 3.7, a inversa (S ∗ ) existe e é contı́nua. Em particular, S ∗ é limitada inferiormente
e existe m > 0 tal que
kS ∗ g0 k > m kg0 k
para todo g0 ∈ Z ∗ . O teorema anterior implica que R (S) = Z, logo R (A) = Z e portanto R (A) é fechado.
¥
Portanto, se R (A) é fechado (por exemplo, se A for limitado), uma condição necessária e suficiente para que
y ∈ R (A) é que g (y) = 0 para todo g ∈ N (A∗ ).
Rodney Josué Biezuner 34
3.4 Exercı́cios
3.1 Seja T : E −→ F um operador linear limitado inferiormente tal que Im T é um subespaço fechado de
F . Mostre que T −1 é um operador linear fechado.
3.2 Mostre que se a inversa de um operador linear fechado existir, então ela também é um operador linear
fechado.
3.3 Mostre que operador linear D : C 1 ([0, 1]) −→ C ([0, 1]) definido por
Df = f 0
é fechado.
3.4 Seja ½ ¾
f (t)
E= f ∈ C ([0, 1]) : existe lim+ .
t→0 t
Defina uma aplicação linear T : E −→ C ([0, 1]) por
f (t)
se t 6= 0,
T f (t) = t
f (t)
lim se t = 0.
t→0+ t
Mostre que T é fechado.
3.5 Sejam E, F espaços de Banach e {Tn }n∈N ⊂ L (E, F ) tal que {f (Tn x)}n∈N é uma sequência limitada
para todo x ∈ E e para todo f ∈ F ∗ . Mostre que {Tn }n∈N é uniformemente limitada.
∗
3.6 Se E, F são espaços vetoriais normados, mostre que (E × F ) = E ∗ × F ∗ .
3.7 Considere o seguinte subespaço de `1 :
( ∞
)
X
1
F = (xn )n∈N ∈ ` : n |xn | < ∞
n=1
3.8 Sejam E, F espaços de Banach e T : E −→ F um operador linear limitado. Suponha que existam um
espaço de Banach G e operadores lineares A : E −→ G e B : G −→ F tais que T = B ◦ A. Usando o
teorema do gráfico fechado, mostre que se B é limitado e injetivo, então A é limitado.
3.9 Sejam E um espaço de Banach e F um espaço vetorial normado. Seja {Tn }n∈N ⊂ L (E, F ) uma sequência
de operadores lineares limitados tal que sup kTn k = ∞. Mostre que existe um ponto x ∈ E tal que
n∈N
sup kTn xk = ∞.
n∈N
Rodney Josué Biezuner 35
3.10 Sejam E, F espaços de Banach. Se T : E −→ F é uma aplicação linear tal que f ◦ T ∈ E ∗ para todo
f ∈ F ∗ , mostre que T é limitada.
3.11 Sejam L, M subespaços vetoriais fechados de um espaço vetorial normado E. Mostre que se L 6= M ,
então L⊥ 6= M ⊥ .
3.13 Considere `∞ e suponha que k·k é outra norma em `∞ tal que¡ (`∞ , k·k) ¢ também é um espaço de
Banach. Se para cada i ∈ N a projeção na i-ésima coordenada πi (xn )n∈N = xi é contı́nua na norma
k·k, mostre que existe uma constante C > 0 tal que
kxk 6 C kxk`∞
para todo x ∈ `∞ (sugestão: use o teorema do gráfico fechado). Conclua que as normas k·k`∞ e k·k
são equivalentes.
¡ ¢ ¡ ¢
3.14 Mostre que a aplicação identidade I : C 0 [0, 1] , L1 −→ C 0 [0, 1] , L∞ tem gráfico fechado mas não
é limitada.
Capı́tulo 4
Espaços Reflexivos
portanto
kJxk = kxk (4.3)
para todo x ∈ E. Em particular, J é injetivo. Se J for também sobrejetivo, dizemos que E é reflexivo.
Isso implica que J é ao mesmo tempo um isomorfismo e uma isometria, em particular é um isomorfismo
∗
topológico. Como E ∗∗ = (E ∗ ) é um espaço de Banach, segue que uma condição necessária para que um
espaço vetorial normado seja reflexivo é que ele seja de Banach. Em vista disso, definimos
4.1 Definição. Dizemos que um espaço de Banach E é reflexivo se o operador J : E −→ E ∗∗ for um
isomorfismo isométrico.
É importante saber que E e E ∗∗ serem isometricamente isomorfos através de um isomorfimo isométrico
diferente do operador J não garante que E seja reflexivo, pois pode ocorrer que apesar disso o operador J
não seja sobrejetivo (veja [James1] e [James2]).
Todo espaço vetorial normado de dimensão finita é reflexivo (veja Exercı́cio 4.1). Existem importante
exemplos de espaços de Banach de dimensão infinita que não são reflexivos, como veremos mais tarde.
36
Rodney Josué Biezuner 37
4.2 Teorema. Seja E um espaço reflexivo. Se F ⊂ E é um subespaço vetorial fechado, então F é reflexivo.
Prova. Dado f ∗ ∈ F ∗ temos que mostrar que existe x ∈ F tal que f ∗ = Jx. Considere a submersão
contı́nua I : E ∗ ,→ F ∗ definida por
If = f |F .
Pelo teorema de Hahn-Banach a submersão é sobrejetiva, pois todo funcional linear limitado definido em F
se estende a um funcional linear limitado definido em E (obviamente ela não é injetiva se F é um subespaço
próprio de E). Esta submersão é contı́nua pois
logo
kIf kF ∗
kIf k = sup 6 1.
f ∈E ∗ \{0} kf kE ∗
g ∗ (f ) = (f ∗ ◦ I) (f ) = f ∗ (f |F ) .
f ∗ (f |F ) = (Jx) (f )
para todo f ∈ E. Afirmamos que x ∈ F . De fato, se x ∈ / F , como F é fechado podemos aplicar o teorema
de Hahn-Banach para concluir que existe um funcional linear f0 que se anula em F tal que f0 (x) = 1 o que
é uma contradição, pois
f ∗ (f0 |F ) = 0
enquanto que
(Jx) (f0 ) = f0 (x) = 1.
¥
Um subespaço vetorial de um espaço reflexivo que não é fechado obviamente não pode ser reflexivo, já que
todo espaço reflexivo é de Banach.
¡ ¢⊥ ¡ ¢⊥
Prova. Já vimos na Proposição 4.15 que W ⊥ ⊃ W . Suponha por absurdo que existe f0 ∈ W ⊥ tal que
/ W . Pelo teorema de Hahn-Banach, existe f ∗ ∈ E ∗∗ tal que f ∗ (f ) = 0 para todo f ∈ W e f ∗ (f0 ) 6= 0.
f0 ∈
Como E é reflexivo, existe x ∈ E tal que f ∗ (f ) = f (x) para todo f ∈ E ∗ . Em particular, f (x) = 0 para
¡ ¢⊥
todo f ∈ W , logo x ∈ W ⊥ . Mas então f0 (x) = 0, pois f0 ∈ W ⊥ , contradizendo f0 (x) = f ∗ (f0 ) 6= 0. ¥
4.4 Teorema. Seja E um espaço de Banach. Então E é um espaço reflexivo se e somente se E ∗ for.
Seja f ∗∗ ∈ E ∗∗∗ . Para provar que E ∗ é reflexivo, precisamos encontrar f ∈ E ∗ tal que f ∗∗ = J ∗ f . Considere
f := f ∗∗ ◦ J ∈ E ∗ :
J f ∗∗
E −→ E ∗∗ −→ R.
Logo,
f ∗∗ (Jx) = f (x) = (Jx) (f )
para todo x ∈ E. Como E é reflexivo, para todo f ∗ ∈ E ∗∗ existe x ∈ E tal que f ∗ = Jx. Substituindo na
última equação acima, segue que
f ∗∗ (f ∗ ) = f ∗ (f )
para todo f ∗ ∈ E ∗∗ , ou seja,
f ∗∗ = J ∗ f.
Reciprocamente, suponha que E ∗ é reflexivo. Para provar que E também é reflexivo, observamos em
primeiro lugar que porque E é um espaço de Banach, o subespaço vetorial R (J) é um subespaço fechado de
E ∗∗ . De fato, como J é uma isometria, se Jxn → f ∗ em E ∗∗ então em particular {xn } é uma sequência de
Cauchy em E. Como E é um espaço de Banach, existe x ∈ E tal que xn → x em E. Logo, Jxn → Jx e
portanto f ∗ = Jx ∈ R (J).
Suponha por absurdo que R (J) 6= E ∗∗ . Seja f ∗ ∈ E ∗∗ \R (J). Pelo teorema de Hahn-Banach, existe
f ∈ E ∗∗∗ tal que f ∗∗ = 0 em R (J) e f ∗∗ (f ∗ ) 6= 0. Como E ∗ é reflexivo, existe f ∈ E ∗ tal que f ∗∗ = J ∗ f
∗∗
f ∗ (f ) = (J ∗ f ) (f ∗ ) = f ∗∗ (f ∗ ) 6= 0,
contradição. ¥
4.5 Teorema. Seja E um espaço vetorial normado. Se E ∗ é separável, então E também é.
donde
1 = kf k 6 kfn − f k + kfn k 6 3 kfn − f k ,
ou seja,
1
kfn − f k > ,
3
contradizendo o fato que {fn } é denso em E ∗ . ¥
Vale a recı́proca quando E é um espaço reflexivo:
Prova. Pela Proposição 4.4 temos que E ∗ é reflexivo. Para mostrar que E ∗ é separável, pelo teorema
anterior basta provar que E ∗∗ é separável. Seja {xn }n∈N um subconjunto enumerável denso em E. Dado
f ∗ ∈ E ∗∗ , existe x ∈ E tal que Jx = f ∗ , e dado ε > 0 existe n ∈ N tal que kxn − xk < ε. Como J é uma
isometria, segue que kJxn − f ∗ k < ε. Vemos portanto que {Jxn }n∈N é um subconjunto enumerável denso
em E ∗∗ . ¥
Prova. Seja
en = (0, . . . , 0, 1, 0, . . .),
n
p
de modo que todo elemento x ∈ ` se escreve de maneira única na forma
∞
X
x= xn en .
n=1
[Como veremos mais tarde, {en }n∈N é uma base de Schauder para `p .] Então o conjunto de todas as
combinações lineares com coeficientes racionais dos en é um subconjunto enumerável denso em `p .¥
Prova. Observe que em `∞ , o fecho do subespaço gerado por {en }n∈N é apenas o subespaço `∞ 0 das
sequências convergentes para 0. Para ver que `∞ não é enumerável, considere o subconjunto não-enumerável
ω
{0, 1} ⊂ `∞ das sequências cujos elementos são apenas 0 ou 1 (uma tal sequência tem norma 1 em `∞ ).
ω
Se x, y ∈ {0, 1} e x 6= y, então kx − yk`∞ = 1, logo existe um número não-enumerável de bolas com centro
ω
nos pontos de {0, 1} e raio 1/2 que não se interceptam. ¥
∗
de modo que f ∈ (`p ) e
kf k(`p )∗ 6 kyk`p0 , (4.4)
logo Φ é contı́nua.
Agora exibiremos a inversa de Φ e mostraremos que ela também é contı́nua. Já vimos que todo elemento
x ∈ `p se escreve de maneira única na forma
∞
X
x= xn en .
n=1
∗
Então, dado f ∈ (`p ) , por continuidade temos
∞
X
f (x) = xn f (en ) .
n=1
de modo que
µ ¶ k
X ∞
X
f (x) = f lim zk = lim f (zk ) = lim xn f (en ) = xn f (en ) .
k→∞ k→∞ k→∞
n=1 n=1
Notando que f (en ) = (Φy) (en ) = yn , vemos agora que a inversa de Φ é dada por
∗ 0
Ψ : (`p ) −→ `p
f 7→ (f (en ))n∈N
Para mostrar que Ψ está de fato bem definida e é contı́nua, defina zk ∈ `p por
0
|f (ei )|p
(i)
zk = se i 6 k e f (ei ) 6= 0,
f (ei )
0 se i > k ou f (ei ) = 0,
de modo que
k
X p0
f (zk ) = |f (en )| .
n=1
Temos
à k
!1/p à k
!1/p
X X
|f (en )|(
p0 −1)p p0
|f (zk )| 6 kf k kzk k = kf k = kf k |f (en )| ,
n=1 n=1
Rodney Josué Biezuner 41
k
à k
!1/p
X p0
X p0
|f (en )| = f (zk ) = |f (zk )| 6 kf k(`p )∗ |f (en )| ,
n=1 n=1
donde
à k
!1/p0
X p 0
|f (en )| 6 kf k(`p )∗ .
n=1
isso por si só não prova a reflexividade de `p , pois, como já observamos antes, a existência de um isomorfismo
isométrico arbitrário não garante a sobrejetividade da aplicação canônica J. No entanto, como vimos na
∗ 0 ∗∗
demonstração
³ ´ da proposição anterior, como (`p ) = `p , a cada g ∈ (`p ) corresponde um funcional ge ∈
0 ∗
`p tal que g (f ) = ge (y), onde
∞
X
f (x) = xn yn
n=1
³ 0 ´∗ ³ 0 ´∗
para todo x ∈ `p . Analogamente, como `p = `p , a cada ge ∈ `p corresponde um elemento x ∈ `p tal
que
X∞
ge (y) = xn yn
n=1
p0
para todo y ∈ ` . Portanto,
∞
X
g (f ) = ge (y) = xn yn = f (x) = (Jx) (f ) .
n=1
4.11 Proposição. ¡ 1 ¢∗
` = `∞
no sentido que estes espaços são isometricamente isomorfos.
4.12 Proposição.
∗
(`∞ ) 6= `1 .
∗
Prova. Se tivéssemos (`∞ ) = `1 , como `1 é separável, `∞ também seria pelo Teorema 4.5, contradizendo
a Proposição 4.8. ¥
Prova. Como `1 é separável, enquanto que o seu dual é isometricamente isomorfo a `∞ , que não é separável,
segue do Corolário 4.6 que `1 não é reflexivo. Consequentemente, pelo Teorema 4.4, seu dual também não
pode ser reflexivo, ou seja, `∞ não é reflexivo. ¥
Veja também o Exercı́cio 4.5 para uma demonstração alternativa.
É importante ressaltar que a propriedade de ser uniformemente convexo é uma propriedade da norma: podem
existir duas normas equivalentes tais que em relação a uma delas o espaço é uniformemente convexo, mas
não em relação a outra. Mais especificamente, convexidade uniforme é uma propriedade da bola unitária:
em um espaço uniformemente convexo a bola unitária é “bem redonda”.
Note que o ε na definição de convexidade uniforme satisfaz
Rodney Josué Biezuner 43
4.15 Exemplo. `2 (n), ou seja, Rn com a norma euclideana, é uniformemente convexo, ao passo que `1 (n),
ou seja, Rn com a norma da soma, não é uniformemente convexo. Isso fica bastante claro quando se
olha para as bolas unitárias em cada um destes espaços (para n = 2).
De fato, para ver que `1 (n) não é uniformemente convexo, tome x = e1 e y = e2 , de modo que
kxk = kyk = 1, kx − yk = 2 enquanto que
° °
°x + y °
° °
° 2 ° = 1.
Prova. A demonstração deste resultado requer o conhecimentos da topologia fraca e fica adiada para o
próximo capı́tulo. ¥
Este resultado é surpreendente, já que uma propriedade geométrica (a de ser uniformemente convexo) implica
uma propriedade topológica (a de ser reflexivo). Ela pode ser usada para provar que certos espaços são
reflexivos. Por outro lado, existem espaços reflexivos que não possuem nenhuma norma em relação a qual
eles são uniformemente convexos [Day].
Prova. Primeiro Passo. O conjunto das funções em Lp (Ω) com suporte compacto é denso em Lp (Ω) .
Seja ½ ¾
¡ N
¢ 1
Ωn = x ∈ Ω : dist x, R \Ω > e |x| < n ,
n
Rodney Josué Biezuner 44
fn = f χΩn .
fn → f em Lp (Ω) ,
pois fn (x) → f (x) para todo x ∈ Ω (de fato, fn (x) = f (x) para todo n suficientemente grande) e
kfn − f kLp (Ω) 6 2p kf kLp (Ω) .
Segundo Passo.
Usando o passo anterior, dado ε > 0 e f ∈ Lp (Ω) existe g ∈ Lp (Ω) com suporte compacto em Ω tal que
ε
kf − gkLp (Ω) 6 .
2
Por definição de integral, existe uma função simples de suporte compacto (contido no suporte de g)
n
X
ϕ= ai χEi ∈ Lp (Ω)
i=1
tal que
ε
kg − ϕkLp (Ω) 6
.
4
Fixado i, existem um aberto Ui e um fechado Fi tal que Fi ⊂ Ei ⊂ Ui e
µ ¶p
ε
|Ui \Fi | < .
4kai
De¯ fato,
¡ isso vale
¢¯ para qualquer conjunto mensurável E: dado δ > 0, escolha um aberto W tal que RN \E ⊂ W
¯ N ¯ N
e W \ R \E < δ/2; tome F = R \W e um aberto U tal que E ⊂ U e |E\U | < δ/2. Como
¡ ¢
U \F = U \E ∪ W \ RN \E
Então hi é uma função contı́nua (pois seu denominador nunca se anula) que satisfaz 0 6 hi 6 1 e
½
0 se x ∈ RN \Ui ,
hi (x) =
1 se x ∈ Fi .
Temos
n
X n
X
kϕ − hkLp (Ω) 6 ai kχEi − hi kLp (Ω) 6 ai kχEi − hi kLp (Ui \Fi )
i=1 i=1
Xn n
X 1/p
6 ai k1kLp (Ui \Fi ) = ai |Ui \Fi |
i=1 i=1
ε
< ,
4
pois χEi − hi = 0 em Fi ou em RN \Ui e |χEi − hi | 6 1 em Ui \Fi . Portanto,
¥
De agora em diante, denotaremos os espaços Lp (Ω) simplesmente por Lp .
Prova. Seja {Ωn } como no lema anterior. Denote por P o conjunto enumerável das funções polinomiais em
RN com coeficientes racionais e considere
Pn = {pχΩn : p ∈ P} .
Dados f ∈ Lp e ε > 0, existe uma função contı́nua de suporte compacto g tal que kf − gkLp < ε/2. Seja n
tal que
1 ¡ ¢
< dist supp g, RN \Ω ,
n
o que garante supp g ⊂ Ωn . Pelo teorema de aproximação de Weierstrass, existe p ∈ Pn tal que
ε 1
kg − pkL∞ < .
2 |Ωn |1/p
Daı́
= ε.
Prova. Dado x ∈ Ω, existe εx > 0 tal que Bεx (x) ⊂ Ω. Denote ux = χBεx (x) e considere as bolas
° °p0 ° °p0
°f + g° ° °
° + ° f − g ° > 10 (kf kp p + kgkp p )p −1 .
0
° (4.9)
° 2 °Lp ° 2 °Lp 2p −1 L L
Se 1 < p 6 2, então
° °p0 ° °p0
°f + g° ° °
° + ° f − g ° 6 10 (kf kp p + kgkp p )p −1 ,
0
° (4.10)
° 2 ° p
° 2 ° p 2 p −1 L L
° °L
p ° °L
p
°f °
+ g° ° °
f − g° 1
° +°
p p
> (kf kLp + kgkLp ) . (4.11)
° 2 °Lp ° 2 °Lp 2
para todos a, b ∈ R e integrar esta desigualdade sobre Ω. Para isso, o ponto de partida é a desigualdade
¡ ¢p/2
αp + β p 6 α2 + β 2 (4.13)
a+b a−b
para todos α, β > 0, tomando α = eβ= . De fato,
2 2
¯ ¯ ¯ ¯ ï ¯2 ¯ ¯2 !p/2
¯ a + b ¯p ¯ a − b ¯p ¯ ¯ ¯ ¯
¯ ¯ +¯ ¯ 6 ¯a + b¯ + ¯a − b¯
¯ 2 ¯ ¯ 2 ¯ ¯ 2 ¯ ¯ 2 ¯
µ 2 ¶p/2
a b2
= +
2 2
p p
|a| |b|
6 + ,
2 2
onde a última desigualdade decorre da convexidade (concavidade para cima) da função t 7→ tq quando q > 1.
Para verificar a desigualdade (4.13), tomando t = α/β (o caso β = 0 é trivial) vemos que ela é equivalente a
¡ ¢p/2
mostrar que a função f (t) = t2 + 1 − tp − 1 é crescente para todo t > 0, já que f (0) = 0. Isso segue de
· ¸
¡ ¢ p−2 ¡ ¢ p−2 ¡ ¢ p−2
f 0 (t) = pt t2 + 1 2 − ptp−1 = pt t2 + 1 2 − t2 2 > 0
para todo t ∈ R.
Demonstração da Segunda Desigualdade de Clarkson (4.10).
Seja agora 1 < p 6 2. A demonstração de (4.10) é mais difı́cil. Primeiro verificamos a desigualdade
¯ ¯ 0 ¯ ¯p0
¯ a + b ¯p ¯ ¯
¯ + ¯ a − b ¯ 6 10 (|a|p + |b|p )p −1 .
0
¯ (4.14)
¯ 2 ¯ ¯ 2 ¯ 2p −1
Esta desigualdade é equivalente à desigualdade
¯ ¯ 0 ¯ ¯p 0
¯ 1 + t ¯p ¯ ¯
¯ + ¯ 1 − t ¯ 6 10 (1 + tp )p −1 .
0
¯ (4.15)
¯ 2 ¯ ¯ 2 ¯ 2 p −1
Rodney Josué Biezuner 47
para 0 6 t 6 1. Para uma demonstração desta última, veja ([Adams]), Lema 2.26.
Em seguida, verificamos a desigualdade de Minkowski reversa. Ela decorre da desigualdade de Hölder
reversa.
Desigualdade de Hölder reversa. Seja 0 < p < 1, de modo que p0 = p/ (p − 1) < 0. Se f ∈ Lp , isto
é, Z
p
|f | < ∞,
Ω
e Z
p0
0< |g| < ∞,
Ω
então µZ ¶1/p µZ ¶1/p0
Z
p p0
|f g| > |f | |g| . (4.16)
Ω Ω Ω
Prova da Desigualdade de Hölder reversa: Podemos assumir f g ∈ L1 (Ω), caso contrário o lado
−p p
esquerdo da desigualdade de Hölder reversa é infinito e a desigualdade é válida. Tome φ = |g| e ψ = |f g| ,
p q q0
de modo que φψ = |f | . Temos que ψ ∈ L para q = 1/p > 1, donde φ ∈ L , pois
1
q p p p p0
q0 = = 1 = =− =− .
q−1 p −1 p (1 − p) p (p − 1) p
Prova. Sejam f, g ∈ Lp satisfazendo kf kLp , kgkLp 6 1 e kf − gkLp > ε. Se p > 2, a primeira desigualdade
de Clarkson (4.8) produz
° ° ° °p
° f + g °p ° °
° ° 6 1 (kf kp p + kgkp p ) − ° f − g °
° 2 ° p 2 L L ° 2 °Lp
L
p
ε
6 1 − p,
2
logo ° °
°f + g°
° °
° 2 ° p <1−δ
L
µ ¶1/p
εp
para δ = 1 − 1 − p > 0. Se 1 < p 6 2, a segunda desigualdade de Clarkson (4.10) dá
2
° ° 0 ° °p0
° f + g °p ° °
° 6 10 (kf kp p + kgkp p )p −1 − ° f − g °
0
°
° 2 ° p 2p −1 L L ° 2 °Lp
L
0
εp
61− ,
2p0
logo ° °
°f + g°
° °
° 2 ° p <1−δ
L
à 0
!1/p0
εp
para δ = 1 − 1 − p0 > 0. ¥
2
Prova. Apesar deste teorema poder ser provado diretamente através do teorema de Radon-Nikodym da
teoria da medida, daremos uma demonstração usando Análise Funcional como em [Brezis] (uma demon-
stração mais elementar usando a convexidade uniforme de Lp e um argumento variacional pode ser vista em
[Adams]).
0 ∗
Defina o operador T : Lp −→ (Lp ) por
Z
hT g, f i = fg
Ω
∗
para todo f ∈ L . De fato, pela desigualdade de Hölder T g ∈ (Lp )
p
Portanto,
kT gk(Lp )∗ = kgkLp0
³ 0´
e para provar o teorema basta provar que T é sobrejetivo. Seja L = T Lp . Então L é um subespaço
³ 0´
∗ 0
fechado de (Lp ) porque Lp é um espaço de Banach. Suponha por absurdo que L $ T Lp . Pelo teorema
∗∗
de Hahn-Banach existe um funcional F ∗ ∈ (Lp ) tal que F ∗ se anula em L, mas F ∗ 6= 0. Por outro lado,
∗∗
usando o fato que Lp é reflexivo, de modo que (Lp ) = Lp , existe f ∈ Lp tal que
F ∗ (F ) = (Jf ) (F ) = F (f )
³ 0´
∗
para todo F ∈ (Lp ) . Em particular, se F ∈ L = T Lp vale o teorema de representação de Riesz, de
modo que nós temos Z
0 = F ∗ (F ) = fg
Ω
0
para todo g ∈ Lp . Tomando
½ p−2
|f (x)| f (x) se f (x) 6= 0,
g (x) =
0 se f (x) = 0,
segue que Z
p
|f (x)| = 0
Ω
e f = 0, ou seja, F ∗ é o funcional nulo, contradição. ¥
O teorema da representação de Riesz implica a reflexividade dos espaços Lp , semelhante à demonstração
da Proposição 4.10 (o que é relevante quando levamos em conta o fato que o teorema da representação de
Riesz pode ser demonstrado sem usar o fato que Lp é reflexivo):
Rodney Josué Biezuner 50
¥
¡ ¢∗
4.25 Proposição. (Teorema da Representação de Riesz) Dado F ∈ L1 existe um único g ∈ L∞ tal que
Z
F (f ) = fg
Ω
1
para todo f ∈ L . Além disso,
kF k(L1 )∗ = kgkL∞ .
Em particular, ¡ 1 ¢∗
L = L∞ .
no sentido que estes espaços são isometricamente isomorfos.
Daı́, µ ¶
1/p0
|F (f )| 6 kF k(L1 )∗ kf kL1 6 kF k(L1 )∗ |Ω| kf kLp ,
∗
o que implica que F ∈ (Lp ) para todo 1 < p < ∞ e
1/p0
kF k(Lp )∗ 6 kF k(L1 )∗ |Ω| .
0
Pelo teorema de representação de Riesz, existe gp ∈ Lp tal que
Z
F (f ) = f gp
Ω
Rodney Josué Biezuner 51
Em particular g ∈ L∞ e como Z
F (f ) = fg
Ω
1
para todo f ∈ L . Para terminar a demonstrar deste caso, resta apenas mostrar que
Pelo caso anterior, existe gn ∈ L1 (Ωn ) tal que kgn kL∞ 6 kF k[L1 (Ω)]∗ e
Z Z
Fn (fn ) = fn gn = fen g
Ωn Ω
pois pelo teorema da convergência dominada esta série converge em L1 (Ω). Daı́, como
à k ! k k k Z Z ÃX k
!
X X X X
F f χΩn = F (f χΩn ) = Fn (f χΩn ) = (f χΩn ) g = f χΩn g,
n=1 n=1 n=1 n=1 Ω Ω n=1
Como no caso anterior, a fórmula de representação juntamente com a desigualdade de Hölder pode ser usada
para provar que kF k(L1 )∗ = kgkL∞ . ¥
4.26 Proposição.
∗
(L∞ ) 6= L1 .
4.6 Exercı́cios
4.1 Mostre que todo espaço vetorial de dimensão finita é reflexivo.
4.2 Sejam E, F espaços topologicamente isomorfos. Mostre que E é reflexivo se e somente se F é reflexivo.
4.3 Sejam E, F espaços de Banach, com E reflexivo. Mostre que se existe um operador linear limitado
A : E −→ F tal que R (A) = F , então F também é reflexivo.
4.4 Prove que todo subespaço vetorial de um espaço vetorial normado separável é separável.
4.5 Seja E um espaço reflexivo. Mostre que se f ∈ E ∗ , então existe x 6= 0 tal que
f (x) = kf k kxk .
4.6 Utilizando o exercı́cio anterior e o funcional sugerido, mostre que os espaços a seguir não são reflexivos:
X∞ µ ¶
1
f (x) = 1− xn .
n=1
n
Rodney Josué Biezuner 53
c) `∞
0 = {x ∈ `
∞
: lim xn = 0} ;funcional sugerido: f : `∞
0 −→ R definido por
X∞
xn
f (x) = .
n=1
2n+1
a) Mostre que Lp ∩ Lr é um espaço de Banach com a norma kf k = kf kLp + kf kLr . Por que
Lp ∩ Lr 6= ∅?
b) Prove a seguinte desigualdade de interpolação:
λ 1−λ
kf kLq 6 kf kLp kf kLr ,
1 λ 1−λ
onde = + .
q p r
c) Conclua que vale a inclusão Lp ∩ Lr ,→ Lq e que ela é contı́nua.
Capı́tulo 5
5.1 Definição. Seja E um espaço vetorial normado. A topologia fraca sobre E é a topologia menos fina
tal que todos os funcionais lineares f ∈ E ∗ são contı́nuos.
Denotando a topologia fraca de E por TW e a topologia da métrica por T, segue imediatamente da definição
de topologia fraca que TW ⊂ T. A topologia fraca em geral tem menos abertos que a topologia da métrica,
logo tem a chance de ter mais compactos.
5.2 Proposição. Um espaço vetorial normado E sob a topologia fraca é um espaço de Hausdorff.
T
n
Prova. Se U é um aberto contendo x0 , então existe um elemento-base fi−1 (Vi ) ⊂ U contendo x0 , com
i=1
V1 , . . . , Vn abertos em R. Se fi (x0 ) = ai , temos que existe ε > 0 tal que (ai − ε, ai + ε) ⊂ Vi , logo tomando
n
\
V = fi−1 (ai − ε, ai + ε) ,
i=1
segue que V ⊂ U . ¥
5.4 Proposição. Seja E um espaço vetorial normado de dimensão finita. Então a topologia fraca de E
coincide com a topologia da métrica.
54
Rodney Josué Biezuner 55
Prova. Já sabemos que TW ⊂ T, qualquer que seja o espaço vetorial normado E. No caso de um espaço
vetorial normado de dimensão finita, vale a recı́proca. De fato, seja U ⊂ E um aberto na topologia da
métrica. Dado x0 ∈ U , vamos obter uma vizinhança aberta fraca V ⊂ U contendo x0 . Dada uma base
B = {e1 , . . . , eN } para E, escolha a norma da soma em relação a esta base (todas as normas são equivalentes
em um espaço vetorial normado de dimensão finita) e seja Bε (x0 ) ⊂ U . As projeções fi : E −→ R sobre a
i-ésima coordenada definidas por ÃN !
X
fi xi ei = xi
i=1
de modo que
V = {x ∈ E : |fi (x) − fi (x0 )| < ε, 1 6 i 6 N }
é uma vizinhança aberta fraca contendo x0 que satisfaz V ⊂ U . Portanto T ⊂ TW . ¥
Se E é um espaço vetorial normado de dimensão infinita, a topologia fraca é estritamente mais grosseira
(estritamente menos fina) que a topologia da métrica, como veremos daqui a pouco. Esta última é também
chamada topologia forte, quando comparada com a primeira.
Como a topologia forte T contém a topologia fraca TW , por definição, segue em particular que os conjuntos
que são fechados na topologia fraca também são fechados na topologia usual. A recı́proca é falsa para espaços
de dimensão infinita, como veremos a seguir. No entanto, para conjuntos convexos as duas noções coincidem
(este é o nosso primeiro exemplo de como a topologia fraca se comporta bem em conjuntos convexos):
5.5 Proposição. Seja E um espaço vetorial normado e C ⊂ E um conjunto convexo. Então C é fechado
na topologia fraca se e somente se C é fechado na topologia forte.
Prova. Suponha que C é fortemente fechado. Seja x0 ∈ / C. De acordo com o teorema de Hahn-Banach,
primeira forma geométrica, existem f ∈ E ∗ e α ∈ R tais que
para todo y ∈ C. Então V = f −1 (−∞, α) é uma vizinhança aberta fraca de x0 que não intercepta C.
Portanto E\C é fracamente aberto, logo C é fracamente fechado. ¥
5.6 Proposição. Se E é um espaço vetorial normado com dimensão infinita, então a esfera unitária não
é fechada na topologia fraca.
De fato, o fecho fraco da esfera unitária é a bola unitária fechada.
Seja x0 ∈ B1 (0) e U é qualquer aberto fraco contendo x0 . Pela Proposição 5.4, V contém uma vizinhança
aberta fraca de x0 da forma
caso contrário a aplicação linear T : E −→ Rn definida por T x = (f1 (x) , . . . , fn (x)) seria injetiva, o que
implicaria dim E 6 n. (outra maneira de ver isso é invocar o resultado do Exercı́cio 2.11: o núcleo de um
funcional linear tem codimensão 1, logo a interseção de um número finito de núcleos de funcionais lineares
em um espaço vetorial de dimensão infinita também tem dimensão infinita). Em particular, V contém a reta
t 7→ x0 + ty0 , pois
fi (x0 + t0 y0 ) − fi (x0 ) = fi (x0 + t0 y0 − x0 ) = t0 f (y0 ) = 0
para todo i. (Assim, em um espaço vetorial normado de dimensão infinita, toda vizinhança aberta fraca de
um ponto x0 contém uma reta passando por x0 ; na verdade, infinitas tais retas.) Considere agora a função
ϕ : R −→ R definida por
ϕ (t) = kx0 + ty0 k .
Esta função é contı́nua e satisfaz ϕ (0) < 1 e lim ϕ (t) = +∞, o que implica pelo teorema do valor
t→+∞
intermediário que existe t0 > 0 tal que g (t0 ) = 1, isto é, x0 + t0 y0 ∈ S ∩ V . Concluı́mos que toda vizinhança
W W
aberta fraca de x0 intercepta S, portanto x0 ∈ S . Este argumento prova que B1 (0) = B1 (0) ∪ S ⊂ S .
Como B1 (0) é fechado na topologia fraca pela Proposição 5.5, não existem pontos do fecho fraco de S ⊂ B1 (0)
W
fora de B1 (0). Portanto vale a igualdade S = B1 (0). ¥
5.7 Corolário. Se E é um espaço vetorial normado com dimensão infinita, então o interior fraco da bola
unitária é vazio.
Consequentemente, a bola unitária não é fracamente aberta e portanto a topologia fraca é estritamente
mais grossa que a topologia forte.
Prova. Vimos na demonstração da proposição anterior que todo aberto fraco contém uma reta. Como a
bola unitária não contém retas, obviamente, segue que ela não contém nenhum aberto fraco. ¥
5.8 Lema. Sejam E um espaço vetorial normado e Y um espaço topológico. Então uma aplicação Φ :
Y −→ E é contı́nua quando E é munido da topologia fraca se e somente se f ◦ Φ é contı́nua para todo
f ∈ E∗.
Prova. Se Φ é contı́nua e f ∈ E ∗ , como f é contı́nua na topologia fraca pela definição desta, segue que
f ◦ Φ é contı́nua, pois é a composta de funções contı́nuas. Reciprocamente, suponha que f ◦ Φ é contı́nua
para todo f ∈ E ∗ . Para provar que Φ é contı́nua, vamos mostrar que se V ⊂ E é aberto na topologia fraca,
então Φ−1 (V ) é aberto em Y . Pela Proposição 5.3 podemos escrever
[ \
V = −1
fx,i (Ix,i ) ,
x∈V 16i6nx
onde nx ∈ N, Ix,i são intervalos abertos da reta e fx,i ∈ E ∗ . Como a inversa de uma função preserva uniões
e interseções arbitrárias, segue que
[ \ £ ¤ [ \ −1
Φ−1 (V ) = −1
Φ−1 fx,i (Ix,i ) = (fx,i ◦ Φ) (Ix,i ) .
x∈V 16i6nx x∈V 16i6nx
−1
Por hipótese, (fx,i ◦ Φ) (Ix,i ) é aberto em Y para cada x, i, logo Φ−1 (V ) é aberto. ¥
5.9 Proposição. Sejam E, F espaços de Banach. Seja T : E −→ F uma aplicação linear. Então T é
contı́nua quando E, F são munidos com a topologia forte se e somente se T é contı́nua quando E, F
são munidos com a topologia fraca.
Rodney Josué Biezuner 57
Prova. Suponha que T é contı́nua nas topologias fortes de E e F . Pelo lema anterior, basta provar que
g ◦ T : E −→ R é contı́nua para todo g ∈ F ∗ quando E é munido da topologia fraca. Mas, como T é linear,
g ◦ T ∈ E ∗ , logo é contı́nua na topologia fraca de E pela definição desta.
Reciprocamente, suponha que T é contı́nua nas topologias fracas de E e F . Então o gráfico G (T ) é
fechado em E × F na topologia do produto das topologias fracas, que é a topologia fraca da topologia
produto de E × F . Portanto, como observado antes, G (T ) é fechado na topologia forte. Pelo teorema do
gráfico fechado, T é contı́nua nas topologias fortes de E e F . ¥
A hipótese que T é linear não pode ser removida neste resultado (veja [Brezis]).
xn * x.
5.11 Proposição. Sejam E um espaço vetorial normado e {xn }n∈N ⊂ E uma sequência. Então valem as
seguintes afirmações:
Prova. (i) Se xn * x então f (xn ) → f (x) para todo f ∈ E ∗ porque f é contı́nua na topologia fraca.
Reciprocamente, suponha que f (xn ) → f (x) para todo f ∈ E ∗ . Para provar que xn * x, mostraremos que
dada qualquer vizinhança aberta fraca U de x temos xn ∈ U para todo n suficientemente grande. De fato,
T
m
seja fi−1 (Vi ) ⊂ U um elemento-base da topologia fraca contendo x0 , com V1 , . . . , Vm abertos em R. Para
i=1
cada i, existe Ni ∈ N tal que fi (xn ) ∈ Vi para todo n > Ni . Tomando N = max {N1 , . . . , Nm }, segue que se
Tm
n > N então fi (xn ) ∈ Vi para todo i, logo xn ∈ fi−1 (Vi ) ⊂ U para todo n > N .
i=1
(ii) segue de (i), pois para todo f ∈ E ∗ temos |f (x) − f (xn )| 6 kf k kx − xn k.
(iii) segue de (i) e do Corolário 3.4 do teorema da limitação uniforme: como f (xn ) → f (x) para todo f ∈ E ∗ ,
em particular {f (xn )} é limitada para todo f ∈ E ∗ . Além disso, como |f (xn )| 6 kf k kxn k, tomando o limite
temos
|f (x)| 6 kf k lim inf kxn k
para todo f ∈ E ∗ . Segue do teorema da Hahn-Banach (Corolário 2.25) que
|f (x)|
kxk = sup 6 lim inf kxn k .
f ∈E ∗ \{0} kf k
¥
Embora uma sequência convergir fracamente é equivalente a uma sequência convergir fortemente em espaços
vetoriais normados de dimensão finita, existem exemplos de espaços de Banach de dimensão infinita em que
toda sequência fracamente convergente também é fortemente convergente, apesar de que, conforme vimos
no Corolário 5.7, a topologia fraca ser estritamente mais grossa que a topologia forte nestes casos. Um
exemplo é `1 (veja [Conway], Proposition V.5.2). Por outro lado, se E é reflexivo, sempre existem exemplos
de sequências fracamente convergentes que não convergem fortemente, conforme veremos.
É importante também ressaltar que a continuidade de uma função não é equivalente à continuidade
sequencial no caso da topologia fraca. Embora em espaços vetoriais normados estes conceitos sejam equiva-
lentes, pois a topologia forte é a topologia da métrica, a qual satisfaz o axioma da enumerabilidade, o mesmo
não vale para a topologia fraca que não satisfaz este axioma (veja o Exercı́cio 5.9 para um exemplo). Assim,
para provar que uma função f : E −→ Y de um espaço vetorial normado E dotado da topologia fraca em
um espaço topológico Y qualquer é contı́nua, não é suficiente provar que ela leva sequências fracamente
convergentes de E em sequências convergentes de Y .
Evidentemente, se E for um espaço reflexivo então a topologia fraca* coincide com a topologia fraca de E ∗ .
Caso contrário, em geral a topologia fraca* de E ∗ é mais grosseira que a topologia fraca de E ∗ , que por sua
vez é mais grosseira que a topologia forte de E ∗ .
5.13 Proposição. Seja E um espaço vetorial normado. Então E ∗ sob a topologia fraca* é um espaço de
Hausdorff.
Prova. Se f, g ∈ E ∗ com f 6= g, então existe x ∈ E tal que f (x) 6= g (x). Se α ∈ R é tal que f (x) < α <
−1 −1
g (x), então os abertos (Jx) (−∞, α) e (Jx) (α, ∞) separam f e g. ¥
T
n
−1
Prova. Se U é um aberto contendo f0 , então existe um elemento-base (Jxi ) (Vi ) ⊂ U contendo f0 ,
i=1
com V1 , . . . , Vn abertos em R e x1 , . . . , xn ∈ E. Em particular, (Jxi ) (f0 ) = f0 (xi ) ∈ Vi para todo i, logo
existe ε > 0 tal que (f0 (xi ) − ε, f0 (xi ) + ε) ⊂ Vi . Tomando
n
\ −1
V = (Jxi ) (f0 (xi ) − ε, f0 (xi ) + ε) ,
i=1
¥
Denotaremos a convergência fraca* de uma sequência {fn }n∈N ⊂ E ∗ para um elemento f ∈ E ∗ por
∗
fn * f.
Rodney Josué Biezuner 59
5.15 Proposição. Sejam E um espaço vetorial normado e {fn }n∈N ⊂ E ∗ uma sequência. Então valem as
seguintes afirmações:
∗
(i) fn * f se e somente se fn (x) → f (x) para todo x ∈ E.
∗
(ii) Se fn → f , então fn * f . Se fn * f , então fn * f .
∗
(iii) Se fn * f , então {fn } é limitada e além disso, se E for de Banach,
Prova. Exercı́cio. Observe que em (iii) e (iv) da Proposição 5.11 não precisamos da hipótese do espaço ser
de Banach porque E ∗ sempre é de Banach. ¥
No que se segue, denotaremos a bola unitária fechada de um espaço vetorial normado E por BE .
5.16 Lema. Sejam E um espaço vetorial normado e Y um espaço topológico. Então uma aplicação Φ :
Y −→ E ∗ é contı́nua quando E é munido da topologia fraca* se e somente se (Jx) ◦ Φ : Y → R é
contı́nua para todo x ∈ E.
Prova. Suponha Φ é contı́nua. Como para cada x ∈ E a função valor Jx : E ∗ −→ R é contı́nua na topologia
fraca*, por definição, a composta (Jx) ◦ Φ também é contı́nua.
Reciprocamente, suponha que (Jx) ◦ Φ é contı́nua para todo x ∈ E. Para provar que Φ é contı́nua, vamos
mostrar que se V ⊂ E ∗ é aberto na topologia fraca, então Φ−1 (V ) é aberto em Y . Pela Proposição 5.14
podemos escrever
[ \
V = {g ∈ E ∗ : |g (xf,i ) − f (xf,i )| < εf }
f ∈V 16i6nf
[ \ −1
= (Jxf,i ) (f (xf,i ) − ε, f (xf,i ) + ε) ,
f ∈V 16i6nf
onde nf ∈ N, εf > 0 e xf,i ∈ E. Como a inversa de uma função preserva uniões e interseções arbitrárias,
segue que
[ \ h i
−1
Φ−1 (V ) = Φ−1 (Jxf,i ) (f (xf,i ) − ε, f (xf,i ) + ε)
f ∈V 16i6nf
[ \ −1
= (Jxf,i ◦ Φ) (f (xf,i ) − ε, f (xf,i ) + ε) .
f ∈V 16i6nf
−1
Por hipótese, (Jxf,i ◦ Φ) (f (xf,i ) − ε, f (xf,i ) + ε) é aberto em Y para cada f, i, logo Φ−1 (V ) é aberto. ¥
5.17 Teorema. (Teorema de Alaoglu) Seja E um espaço vetorial normado. Então BE ∗ é compacta na
topologia fraca*.
Ix = [− kxk , kxk] .
Rodney Josué Biezuner 60
é compacto na topogia produto RE . Para provar que BE ∗ é compacta na topologia fraca* considere a
aplicação
Φ : E ∗ −→ RE
definida por
Φ (f ) = (f (x))x∈E .
Como para cada f ∈ BE ∗ temos |f (x)| 6 kxk, note que a imagem I 0 = Φ (BE ∗ ) está contida em I.
Vamos mostrar que Φ é um homeomorfismo sobre sua imagem, de modo que o teorema será demonstrado se
mostrarmos que a imagem I 0 é compacta. Claramente Φ é injetiva. Para ver que Φ : E ∗ −→ RE é contı́nua
quando E ∗ está munida da topologia fraca*, como RE tem a topologia produto, basta³ provar´ que πx ◦ Φ é
E
contı́nua para todo x ∈ E, onde πx : R −→ R é a projeção na coordenada x: πx (ty )y∈E = tx . E, de
fato, como ³ ´
(πx ◦ Φ) (f ) = πx (f (y))y∈E = f (x) = (Jx) (f ) ,
segue que πx ◦ Φ = Jx. Para provar que Φ−1 : Φ (E ∗ ) −→ E ∗ é contı́nua, pelo lema anterior basta mostrar
que (Jx) ◦ Φ−1 é contı́nua para todo x ∈ E; mas isso é óbvio, pois (Jx) ◦ Φ−1 = πx |Φ(E ∗ ) .
Como I 0 ⊂ I e I é compacta, para provar que I 0 é compacta basta mostrar que I 0 é fechada. Seja F ∈ I 0 .
Para mostrar que F = (f (x))x∈E para algum funcional f ∈ BE ∗ , basta mostrar que o funcional f : E −→ R
definido por
f (x) = Fx
(isto é, f (x) é a coordenada x de F ) está em BE ∗ . Primeiro verificaremos que f é linear. Sejam x1 , x2 ∈ E
e α, β ∈ R. Considere a seguinte vizinhança aberta de F na topologia do produto:
© ª
U = (tx )x∈E : |tx1 − Fx1 | < ε, |tx2 − Fx2 | < ε e |tαx1 +βx2 − Fαx1 +βx2 | < ε
e
g (αx1 + βx2 ) = αg (x1 ) + βg (x2 ) .
Consequentemente,
|f (αx1 + βx2 ) − [αf (x1 ) + βf (x2 )]| = |Fαx1 +βx2 − (αFx1 + βFx2 )|
6 |Fαx1 +βx2 − g (αx1 + βx2 )| + |αg (x1 ) − αFx1 | + |βg (x2 ) − βFx2 |
< (1 + |α| + |β|) ε.
Tx · β < c < α · β
para todo x ∈ B1 (0), onde · denota o produto interno canônico em Rn . Logo,
¯ ¯
¯Xn ¯ n
X
¯ ¯
¯ βi fi (x)¯ = T x · β < c < βi αi
¯ ¯
i=1 i=1
Rodney Josué Biezuner 62
contrariando (ii). ¥
5.19 Lema. Seja E um espaço de Banach. Então J (BE ) é denso em BE ∗∗ na topologia fraca*.
uma vizinhança aberta fraca* de F . Mostraremos que J (BE ) ∩ V 6= ∅. Isso significa encontrar x ∈ BE tal
que
|(Jx) (fi ) − F (fi )| = |fi (x) − F (fi )| < ε para todo i = 1, . . . , n.
Tomando αi = F (fi ), isso seguirá do lema anterior se provarmos que vale (ii) do mesmo. E, de fato, para
todos β1 , . . . , βn ∈ R vale
¯ ¯ ¯ Ã !¯ ° ° ° °
¯Xn ¯ ¯ n
X ¯ °Xn ° °X n °
¯ ¯ ¯ ¯ ° ° ° °
¯ βi αi ¯ = ¯F βi fi ¯ 6 kF k ° βi fi ° = ° βi fi ° .
¯ ¯ ¯ ¯ ° ° ° °
i=1 i=1 i=1 i=1
Prova. Seja F ∈ E ∗∗ com kF k = 1. Mostraremos que existe x ∈ BE ⊂ E tal que F = Jx. Como J (BE ) é
fechado em E ∗∗ (porque BE é fechado no espaço de Banach E e J é uma isometria), basta provar que para
todo ε > 0 existe x ∈ BE tal que
kF − Jxk < ε.
Dado ε > 0, seja δ > 0 aquele dado pela definição de convexidade uniforme. Escolha f ∈ E ∗ com kf k = 1
tal que
δ
F (f ) > 1 − , (5.1)
2
o que é possı́vel, já que kF k = sup |F (f )| = 1. Considere a vizinhança aberta fraca* de F definida por
kf k=1
½ ¾
∗∗ δ
V = G∈E : |F (f ) − G (f )| < .
2
Segue do Lema 5.19 que V ∩ J (BE ) 6= ∅, logo existe x ∈ BE tal que Jx ∈ V . Mostraremos que F ∈
Jx + εBE ∗∗ , o que terminará a demonstração.
Suponha por absurdo que F ∈ W = E ∗∗ \ (Jx + εBE ∗∗ ). Observe que W também é uma vizinhança
aberta fraca*, pois BE ∗∗ é fechada na topologia fraca* (mais que isso, ela é compacta). Aplicando novamente
o Lema 5.19, segue que (V ∩ W ) ∩ J (BE ) 6= ∅, logo existe x ∈ BE tal que Jx ∈ V ∩ W . Como Jx, Jx ∈ V ,
segue que
δ δ
|F (f ) − (Jx) (f )| < e |F (f ) − (Jx) (f )| < .
2 2
Daı́, somando as duas desigualdades,
2F (f ) 6 (Jx) (f ) + (Jx) (f ) + δ = J (x + x) (f ) + δ 6 kx + xk + δ,
Rodney Josué Biezuner 63
Por outro lado, como Jx ∈ W , temos kx − xk > ε e pela definição de convexidade uniforme segue que
° °
°x + x°
° °
° 2 ° < 1 − δ,
contradição. ¥
5.21 Teorema. Seja E é um espaço de Banach uniformemente convexo. Seja {xn }n∈N ⊂ E uma sequência
tal que xn * x e
kxk > lim sup kxn k .
Então xn → x.
temos que
kxk = lim kxn k .
Logo, se x = 0 o resultado é óbvio. Suponha então x 6= 0 e defina
donde ° °
° y + yn °
°
lim ° ° = 1.
2 °
Pela definição de convexidade uniforme, isso implica que
lim ky − yn k = 0,
gn = (fnn )n
(isto é, gn é o n-ésimo termo da subsequência fnn ; método da diagonal de Cantor). Então gn é uma
subsequência de fn tal que {gn (xk )}n∈N converge para todo k ∈ N.
Afirmamos que {gn (xk )}n∈N converge para todo x ∈ E. De fato, dados x ∈ E e ε > 0, existe k ∈ N tal
que
ε
kx − xk k < .
3M
Temos
kgn (x) − gm (x)k 6 kgn (x) − gn (xk )k + kgn (xk ) − gm (xk )k + kgm (xk ) − gm (x)k
6 kgn k kx − xk k + kgn (xk ) − gm (xk )k + kgm k kxk − xk
2
6 kgn (xk ) − gm (xk )k + ε,
3
Rodney Josué Biezuner 65
de modo que, como {gn (xk )}n∈N é uma sequência de Cauchy, {gn (xk )}n∈N também é.
Defina g : E −→ R por
g (x) = lim gn (x) .
Então g é linear e limitada pois
|g (x)| 6 lim |gn (x)| 6 M kxk .
∗
Pela Proposição 5.15 (i), segue que gn * g. ¥
O próximo resultado é extremamente útil nas aplicações:
5.25 Teorema. Se E é um espaço reflexivo, então toda sequência limitada em E possui uma subsequência
fracamente convergente.
Prova. Seja {xn }n∈N ⊂ E uma sequência limitada e L = hx1 , x2 , . . .i o fecho do subespaço vetorial gerado
pelos xn . Como já vimos antes no capı́tulo anterior, L é separável. Além disso, como L é um subespaço
fechado de um espaço reflexivo, L também é reflexivo. Pelo Corolário 3.6 L∗ é separável, logo podemos
aplicar o teorema anterior: como J é uma isometria, {Jxn }n∈N ⊂ E ∗∗ é uma sequência limitada, logo possui
∗
uma subsequência convergente na topologia fraca*. Logo, Jxn * Jx para algum x ∈ E, pois E é reflexivo.
Pela Proposição 5.15 (i), isso significa que (Jxn ) (f ) → (Jx) (f ) para todo f ∈ E ∗ , isto é, f (xn ) → f (x)
para todo f ∈ E ∗ , o que implica xn * x pela Proposição 5.11 (i). ¥
5.26 Corolário. Se E é um espaço reflexivo de dimensão infinita, então existem sequências fracamente
convergentes que não são fortemente convergentes.
Prova. Basta tomar uma subsequência fracamente convergente de uma sequência de pontos na bola unitária
de E que não possui nenhuma subsequência de Cauchy na topologia forte (veja o Corolário 2.18). ¥
A recı́proca do Teorema 5.24 é verdadeira e bem mais difı́cil de provar:
5.27 Teorema. (Teorema de Eberlein-Smulian) Seja E um espaço de Banach tal que toda sequência limi-
tada possui uma subsequência fracamente convergente. Então E é reflexivo.
Prova. Veja [Dunford-Schwartz], p. 430, ou, para uma demonstração mais elementar, [Whitley]. O teorema
de Eberlein-Smulian é usualmente formulado da seguinte maneira: se E é um espaço de Banach e A ⊂ E é
um subconjunto, então toda sequência de A possuir uma subsequência fracamente convergente é equivalente
ao fecho fraco de A ser fracamente compacto. Tomando A = BE , como a bola unitária fechada BE é fraca-
mente fechada porque é um conjunto convexo, segue que se toda sequência em BE possui uma subsequência
fracamente convergente, então BE é fracamente compacto. Pelo Teorema 5.22, concluı́mos então que E é
reflexivo. ¥
5.28 Teorema. Seja E um espaço de Banach. Então E ∗ é separável se e somente se BE na topologia fraca
é metrizável.
Prova. Suponha E ∗ separável. Seja {fn }n∈N um subconjunto enumerável denso de BE ∗ . Vamos definir
uma métrica em BE da seguinte forma:
X∞
1
d (x, y) = |fn (x) − fn (y)| .
n=1
2n
Rodney Josué Biezuner 66
|fn (x) − fn (y)| > |f (x) − f (y)| − |f (x) − fn (x)| − |f (y) − fn (y)|
> ε − kf − fn k kxk − kf − fn k kyk
ε ε ε
> ε − − = > 0.
4 4 2
Para mostrar que a métrica d induz sobre BE a topologia fraca restrita a BE , seja
um elemento base da topologia fraca restrita a BE contendo um ponto arbitrário x0 ∈ BE (observe que não
há perda de generalidade em tomar g1 , . . . , gk ∈ BE ∗ ) Vamos mostrar que existe r > 0 tal que
Se x ∈ V , então
Xk ∞
X
1 1
d (x, x0 ) = n
|f n (x) − f n (x 0 )| + n
|fn (x) − fn (x0 )|
n=1
2 2
n=k+1
k
X ∞
X
1 1
<ε n
+ kfn k kx − x0 k
n=1
2 2n
n=k+1
1
6ε+ < r.
2k−1
Para a recı́proca do teorema veja [Dunford-Schwartz]. ¥
Não é suficiente que o próprio E seja separável para que BE seja metrizável, como o exemplo de `1 mostra.
Com efeito, como sequências fracamente convergentes em `1 são equivalentes a sequências fortemente con-
vergentes, como já observamos antes, a metrizabilidade da bola unitária fechada na topologia fraca de `1
Rodney Josué Biezuner 67
implicaria então que as topologias fraca e forte de `1 coincidem (porque em um espaço métrico a topologia
pode ser toda formulada em termos de convergência de sequências, isto é, os fechados (e, consequentemente,
os abertos) podem ser caracterizados através de sequências convergentes), o que não é verdade porque `1
tem dimensão infinita.
5.29 Teorema. Seja E um espaço de Banach. Então E é separável se e somente se BE ∗ na topologia
fraca* é metrizável.
Prova. Suponha E separável. Seja {xn }n∈N um subconjunto enumerável denso de BE . Vamos definir uma
métrica em BE ∗ da seguinte forma:
X∞
1
d (f, g) = n
|f (xn ) − g (xn )| .
n=1
2
Xk ∞
X
1 1
<ε n
+ n
kf − f0 k kxn k
n=1
2 2
n=k+1
1
6ε+ < r.
2k−1
Rodney Josué Biezuner 68
Reciprocamente, suponha que BE ∗ munida da topologia fraca* é metrizável e denote por d uma métrica
que induz a topologia fraca* sobre BE ∗ . Para obter um subconjunto enumerável denso em E, considere as
bolas abertas Bn em torno do funcional nulo de raio 1/n, isto é,
½ ¾
1
Bn = f ∈ BE ∗ : d (f, 0) < .
n
Como esta bola é aberta na topologia fraca*, para cada n existe uma vizinhança fraca* Vn ⊂ Un contendo
a origem, digamos,
Vn = {f ∈ BE ∗ : |f (xi,n )| < εn , i = 1, . . . , in } .
Afirmamos que o subespaço vetorial gerado pelo conjunto enumerável D = (xi,n )i=1,...,in ,n∈N é denso em E.
De fato, como ∩Bn = {0}, segue que ∩Vn = {0} também. Em particular, se f (x) = 0 para todo x ∈ D, então
f ∈ ∩Vn e consequentemente f = 0. Pelo teorema de Hahn-Banach, isso só pode ser verdade se o subespaço
vetorial gerado por D é denso em E. Tomando apenas combinações lineares racionais dos elementos de D,
obtemos um subconjunto enumerável denso em E. ¥
5.7 Exercı́cios
5.1 Seja E um espaço reflexivo e {xn }n∈N ⊂ E uma sequência tal que {f (xn )}n∈N converge para todo
f ∈ E ∗ . Mostre que existe x ∈ E tal que xn * x.
5.2 (Teorema de Mazur) Seja E um espaço vetorial normado e {xn }n∈N ⊂ E uma sequência que converge
n
X
fracamente para x. Mostre que existe uma sequência {yn }n∈N ⊂ E tal que yn = λi xi com λi > 0
i=1
n
X
e λi = 1 (isto é, cada yn é uma combinação linear convexa de x1 , . . . , xn ) tal que {yn } converge
i=1
fortemente para x.
5.3 Sejam E, F espaços de Banach. Seja T : E −→ F um operador linear que leva sequências fortemente
convergentes para 0 em sequências fracamente convergentes para 0. Mostre que T é contı́nuo.
5.4 Se fn ∈ C [0, 1] e fn * f em C [0, 1], mostre que fn (t) → f (t) para todo t ∈ [0, 1].
5.5 Sejam E, F espaços vetoriais normados e T : E −→ F um operador linear limitado. Mostre que se
xn * x em E, então T xn * T x em F .
5.6 Seja E um espaço vetorial normado. Mostre que se xn * x e yn * y em E, então xn + yn * x + y e
αxn * αx em E, onde α ∈ R é um escalar qualquer.
5.7 Seja E um espaço vetorial normado. Mostre que todo conjunto fracamente compacto em E é limitado.
5.8 Se E é um espaço reflexivo, então um conjunto é fracamente compacto se e somente se ele é fracamente
fechado e limitado.
¡ ¢
5.9 Seja {xn }n∈N uma sequência em `p , 1 < p < ∞. Denote cada elemento xn = xin i∈N .
d) Mostre que 0 está no fecho fraco de F , mas não existe nenhuma sequência {yn }n∈N ⊂ F tal que
yn * 0. Isso mostra que os conjuntos fechados na topologia fraca não podem ser caracterizados
por meio de sequências, logo ela não satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade e que a
topologia fraca não é metrizável.
Espaços de Hilbert
6.2 Proposição. (Desigualdade de Cauchy-Schwarz) Seja E um espaço vetorial com produto interno h·, ·i.
Defina p
kxk = hx, xi.
Então
|hx, yi| 6 kxk kyk (6.1)
para todos x, y ∈ E.
Mas
2 2
hx + ty, x + tyi = kxk + 2 hx, yi t + kyk t2 ,
logo o discriminante deste polinômio do segundo grau não pode ser positivo:
2 2 2
4 hx, yi − 4 kxk kyk 6 0.
70
Rodney Josué Biezuner 71
Prova: A condição (i) da Definição 1.1 decorre imediatamente da condição (iii) da Definição 6.1. A condição
(ii) da Definição 1.1 decorre de
p p p
kαxk = hαx, αxi = α2 hx, xi = |α| hx, xi = |α| kxk .
¥
A norma definida na Proposição 6.3 é chamada a norma derivada do produto interno ou norma induzida
pelo produto interno. De agora em diante, se E é um espaço vetorial com produto interno, assumiremos que
E é um espaço vetorial normado com a norma derivada do produto interno.
Da desigualdade de Cauchy-Schwarz segue que
|hx, yi|
6 1.
kxk kyk
6.4 Definição. Seja E um espaço vetorial com produto interno. Dados dois vetores x, y ∈ V definimos o
seu ângulo ] (x, y) por
hx, yi
] (x, y) = arccos .
kxk kyk
Em particular, se hx, yi = 0, então] (x, y) = π/2. Dizemos que dois vetores x, y são ortogonais se hx, yi = 0.
6.5 Proposição. (Teorema de Pitágoras) Seja E um espaço vetorial com produto interno. Então x, y ∈ E
são vetores ortogonais se e somente se
2 2 2
kx + yk = kxk + kyk . (6.3)
Prova: Temos
2 2 2
kx + yk = hx + y, x + yi = kxk + 2 hx, yi + kyk ,
logo x, y satisfazem a identidade de Pitágoras se e somente se hx, yi = 0. ¥
6.6 Proposição. (Identidade Polar) Seja E um espaço vetorial com produto interno. Então
1 2 1 2
hx, yi = kx + yk − kx − yk . (6.4)
4 4
Prova:
1 2 1 2 1 1
kx + yk − kx − yk = (hx, xi + 2 hx, yi + hy, yi) − (hx, xi + 2 hx, yi + hy, yi) = hx, yi .
4 4 4 4
¥
6.7 Proposição. (Identidade do Paralelogramo) Seja E um espaço vetorial com produto interno. Então
³ ´
2 2 2 2
kx + yk + kx − yk = 2 kxk + kyk . (6.5)
Rodney Josué Biezuner 72
Prova: Temos
2 2
kx + yk + kx − yk = (hx, xi + hx, yi + hy, xi + hy, yi) + (hx, xi − hx, yi − hy, xi + hy, yi)
³ ´
2 2
= 2 kxk + kyk .
6.8 Teorema. Seja E um espaço vetorial normado, cuja norma k·k satisfaz a identidade do paralelogramo
³ ´
2 2 2 2
kx + yk + kx − yk = 2 kxk + kyk .
Prova: Vamos verificar que h·, ·isatisfaz todas as condições da Definição 6.1 para ser um produto interno
em E.
Linearidade com relação à primeira variável:
Temos
1 2 1 2 1 2 1 2
hx, zi + hy, zi = kx + zk − kx − zk + ky + zk − ky − zk
4 4 4 4
1³ 2 2
´ 1³
2 2
´
= kx + zk + ky + zk − kx − zk + ky − zk
4 4
1³ 2 2
´
= kx + z + y + zk + kx + z − (y + z)k
8
1³ 2 2
´
− kx − z + y − zk + kx − z − (y − z)k
8
1³ 2 2
´ 1³
2 2
´
= kx + z + y + zk + kx − yk − kx − z + y − zk + kx − yk
8 8
1³ 2
´ 1³
2
´
= kx + z + y + zk − kx − z + y − zk
8 8
1³ 2 2 2
´
= 2 kx + y + zk + 2 kzk − k(x + y + z) − zk
8
1³ 2 2 2
´
− 2 kx + y − zk + 2 kzk − k(x + y − z) + zk
8
1³ 2 2
´ 1³
2 2
´
= 2 kx + y + zk − kx + yk − 2 kx + y − zk − kx + yk
8 8
1 2 1 2
= kx + y + zk − kx + y − zk
4 4
= hx + y, zi ,
donde
hx, zi + hy, zi = hx + y, zi (6.6)
para todos x, y, z ∈ E.
Se α = n ∈ N, por iteração de (6.6) obtemos
hnx, yi = n hx, yi ;
Reunindo os dois resultados, concluı́mos que hαx, yi = α hx, yi para todo α ∈ Q. Para obter o resultado
geral para qualquer α ∈ R, basta observar que a função norma é contı́nua e, como o produto interno foi
definido a partir da norma, ele também é uma função contı́nua. Assim, dado qualquer α ∈ R, tomamos uma
seqüência (αn ) ⊂ Q tal que αn → α e obtemos
hαn x, yi = αn hx, yi
↓ ↓
hαx, yi α hx, yi
donde
hαx, yi = α hx, yi
para todos x, y ∈ E e para todo α ∈ R.
Simetria:
Temos
1 2 1 2 1 2 1 2
hx, yi = kx + yk − kx − yk = ky + xk − ky − xk = hy, xi .
4 4 4 4
Linearidade com relação à segunda variável:
Segue da simetria e da linearidade com relação à primeira variável.
Definida positiva:
Se x 6= 0, temos
1 2 1 2 1 2 2
hx, xi = kx + xk − kx − xk = k2xk = kxk > 0.
4 4 4
¥
6.9 Corolário. Seja E um espaço vetorial normado. Então a norma de E deriva de um produto interno
se e somente se ela satisfaz a identidade do paralelogramo.
Rodney Josué Biezuner 74
kx − y0 k = min kx − yk .
y∈C
Prova: Denote d = inf kx − yk e seja {yn }n∈N ⊂ C uma sequência minimizante para a distância, isto é,
y∈C
kx − yn k = dn → d.
Afirmamos que {yn }n∈N é uma sequência de Cauchy. De fato, pela identidade do paralelogramo temos
³ ´
2 2 2 2
kx − yn + (x − ym )k + kx − yn − (x − ym )k = 2 kx − ym k + kx − ym k .
yn + ym
Como ∈ C, porque C é convexo, segue que
2
° °2
¡ 2 ¢ ° yn + ym °
2 2 °
kyn − ym k = 2 dn + dm − 4 °x − °
2 °
¡ 2 ¢
6 2 dn + d2m − 4d2
→0
y0 = lim yn ∈ C.
Rodney Josué Biezuner 75
Se um espaço de Banach admite uma base de Hilbert, então ele é separável. No entanto, existem exemplos
de espaços de Banach separáveis que não possuem bases de Schauder, até mesmo espaços de Banach com
bases de Schauder que possuem subespaços sem base de Schauder (veja [Brezis]). Veremos nesta seção que
todo espaço de Hilbert separável possui uma base de Schauder ortonormal (existem espaços de Hilbert que
não são separáveis; veja [EMT]).
6.20 Definição. Seja H um espaço vetorial com produto interno. Dizemos que S = {eλ }λ∈Λ ⊂ H é um
sistema ortonormal se heα , eβ i = 0 para todos α 6= β e keλ k = 1 para todo λ. Dizemos que um
sistema ortonormal S é completo se não existir nenhum sistema ortonormal em H que contenha S
propriamente.
Rodney Josué Biezuner 77
Prova: Temos
° °2 * +
° n
X ° n
X n
X
° °
°x − ci eαi ° = x − ci eαi , x − ci eαi
° °
i=1 i=1 i=1
n
X n
X
2
= kxk − 2 ci xi + c2i
i=1 i=1
n
X n
X n
X n
X
2 2 2
= kxk − |xi | + |xi | − 2 ci xi + c2i
i=1 i=1 i=1 i=1
Xn Xn
2 2 2
= kxk − |xi | + (xi − ci ) ,
i=1 i=1
Rodney Josué Biezuner 78
6.24 Definição. Sejam H um espaço vetorial com produto interno e S = {eλ }λ∈Λ ⊂ H um sistema ortonor-
mal completo. Dado x ∈ H, os coeficientes de Fourier de x são os escalares xλ = hx, eλ i, λ ∈ Λ.
Lembramos que se Λ é um conjunto de ı́ndices e {cλ }λ∈Λ ⊂ R é um conjunto de números reais positivos
indexados por Λ, então definimos X X
cλ = sup cλ .
F ⊂Λ
λ∈Λ F finito λ∈F
6.25 Corolário. (Desigualdade de Bessel) Sejam H um espaço vetorial com produto interno e S = {eλ }λ∈Λ ⊂
H um sistema ortonormal. Então X 2 2
|xλ | 6 kxk
λ∈Λ
Prova: (i) ⇔ (ii) decorre da definição de sistema ortonormal completo. (ii) ⇒ (iii) Seja {xλi }i∈N o conjunto
enumerável dos coeficientes de Fourier não-nulos de x. Defina
n
X
yn = xλi eλi .
i=1
¥
6.27 Teorema. Seja H um espaço de Hilbert. Então H possui um sistema ortonormal completo enumerável
se e somente se H é separável.
Prova: Seja S = {en }n∈N um sistema ortonormal completo enumerável para H. Então H = he1 , e2 , . . .i e
portanto é separável.
Reciprocamente, suponha que X = {xn }n∈N ⊂ H é um subconjunto enumerável denso de H. Aplicando
o processo de ortonormalização de Gram-Schmidt a X, obtemos um sistema ortonormal enumerável S =
{en }n∈N para H. Mas então H = he1 , e2 , . . .i: para todo n ∈ N o processo de ortogonalização de Gram-
Schmidt garante que
he1 , . . . , en i = hx1 , . . . , xn i ,
Pn
logo xn = αi,n ei para alguns escalares α1,n , . . . , αn,n . Segue que S é um sistema ortonormal completo:
i=1
se x ⊥ ei para todo i, como podemos escrever
nk
X
x = lim αi,nk ei ,
k→∞
i=1
porque existe um subconjunto {xnk }k∈N ⊂ X convenientemente reindexado tal que lim xnk = x, temos
k→∞
* nk
+ nk
2
X X
kxk = x, lim αi,nk ei = lim αi,nk hx, ei i = 0.
k→∞ k→∞
i=1 i=1
¥
6.28 Corolário. Seja H um espaço de Hilbert separável. Se H tem dimensão infinita, então H é isomet-
ricamente isomorfo a `2 .
© ª
Prova: Se H1 , H2 são dois espaços de Hilbert com sistemas ortonormais completos S1 = e1λ λ∈Λ , S2 =
© 2ª
eλ λ∈Λ , respectivamente, então a aplicação linear T : H1 −→ H2 definida por
à !
X ® 1 X ®
1
T x, eλ eλ = x, e1λ e2λ
λ∈Λ λ∈Λ
é um isomorfismo isométrico. ¥
Rodney Josué Biezuner 80
6.5 Exercı́cios
6.1 Mostre que `p (n), `p e Lp (Ω) não é um espaço de Hilbert se p 6= 2.
¡ ¢
6.2 Mostre que os espaços de Hölder C k,α Ω não são espaços de Hilbert.
6.3 Sejam H um espaço de Hilbert e B = {en }n∈N ⊂ H uma sequência de vetores ortonormais. Mostre que
en * 0.
6.4 Seja H um espaço de Hilbert. Prove que xn → x em H se e somente se xn * x e kxn k → kxk.
6.5 Seja H um espaço de Hilbert e {xn }n∈N , {yn }n∈N ⊂ H sequências tais que kxn k , kyn k 6 1 para todo
n ∈ N e hxn , yn i → 1 quando n → ∞. Mostre que kxn − yn k → 0 quando n → ∞.
6.6 Seja H um espaço de Hilbert e {xn }n∈N ⊂ H uma sequência que converge fracamente para x ∈ H.
Mostre que ela possui uma subsequência {yk }k∈N tal que
y1 + . . . + yk
→ x.
k
(Compare com o Teorema de Mazur, Exercı́cio 5.2.)
6.7 Mostre que todo espaço de Banach possui uma base de Schauder é separável.
6.8 Mostre que em um espaço de Hilbert separável qualquer sistema ortonormal completo é no máximo
enumerável.
6.9 Prove o Teorema da Projeção: Seja H um espaço de Hilbert e L ⊂ H um subespaço vetorial fechado.
Então a projeção ortogonal P : H −→ L ⊂ H de H sobre L é um operador linear limitado e kP k 6 1.
6.10 Sejam H um espaço de Hilbert, {xn }n∈N um sistema ortonormal completo para H e {yn }n∈N uma
sequência de vetores ortonormais. Mostre que se
∞
X 2
kxn − yn k < 1,
n=1
Operadores Compactos
81
Rodney Josué Biezuner 82
Prova: Pois em espaços reflexivos toda sequência limitada possui uma subsequência fracamente convergente.
¥
Se E não for reflexivo, podemos ter T completamente contı́nuo sem ser compacto (veja Exercı́cio 7.2).
Sejam E, F espaços vetoriais normados. Denotaremos o subespaço vetorial dos operadores compactos em
L (E, F ) (veja Exercı́cio 7.1) por
Lembramos que em espaços métricos completos X, um conjunto K ⊂ X é compacto se e somente se ele for
fechado e totalmente limitado, isto é, se para todo ε > 0 existir uma cobertura finita de K por bolas de raio
ε.
7.6 Proposição. Seja F um espaço de Banach. Então K (E, F ) é um subespaço vetorial fechado de
L (E, F ).
Em particular, K (E, F ) é um espaço de Banach.
Prova: Seja {Tn } ⊂ K (E, F ) tal que Tn → T em L (E, F ). Para mostrar que T é compacto, provaremos que
para todo ε > 0 podemos cobrir T (BE ) por um número finito de bolas de raio ε; como F é um espaço métrico
completo, isso será suficiente para estabelecer que T (BE ) é compacto. Fixe n ∈ N tal que kT − Tn k < ε/2.
Como Tn (BE ) é compacto, temos
N
[
Tn (BE ) ⊂ Byi (ε/2)
i=1
7.7 Exemplo. Se E, F são espaços vetoriais normados, dizemos que um operador linear T : E −→ F tem
posto finito se a imagem R (T ) é um subespaço vetorial de dimensão finita. Claramente, operadores
lineares limitados de posto finito são operadores compactos. ¤
7.8 Corolário. Seja F um espaço de Banach. Se {Tn } é uma sequência de operadores limitados de posto
finito tal que Tn → T em L (E, F ), então T é um operador compacto.
Se F possuir uma base de Schauder vale a recı́proca: dado um operador compacto T ∈ K (E, F ), existe uma
sequência de operadores de posto finito {Tn } ⊂ L (E, F ) tal que Tn → T (veja o Exercı́cio 7.3 para o caso
de espaços de Hilbert). No caso geral, a recı́proca é falsa (veja [Brezis]).
7.9 Proposição. Sejam E, F, G espaços vetoriais normados. Sejam T ∈ L (E, F ) e S ∈ L (F, G). Se T é
compacto ou se S é compacto, então S ◦ T é compacto.
Prova: Exercı́cio. ¥
Rodney Josué Biezuner 83
Prova: Suponha que T é compacto. Para mostrar que o operador adjunto T ∗ é compacto, mostraremos
que toda sequência em T ∗ (BF ∗ ) possui uma subsequência convergente. Seja {gn } ⊂ BF ∗ . Temos
para todos y1 , y2 ∈ F , logo {gn } é uma famı́lia equicontı́nua limitada de funcionais lineares. Como T (BE )
é compacto, pelo teorema de Arzelá-Ascoli existe uma subsequencia {gnk } que converge uniformemente em
T (BE ). Logo,
kT ∗ gnk − T ∗ gnl kE ∗ = sup |hT ∗ gnk − T ∗ gnl , xi| = sup |hgnk − gnl , T xi| 6 sup |hgnk − gnl , yi| → 0
x∈BE x∈BE y∈T (BE )
quando k, l → ∞, isto é, {T ∗ gnk } é uma sequência de Cauchy no espaço de Banach E ∗ , portanto convergente.
Reciprocamente, suponha que T ∗ é compacto. Pela primeira parte da demonstração segue que a adjunta
∗∗
T é compacta. Note que o diagrama
T
E −→ F
JE
↓ ↓JF
∗∗
E −→
∗∗
F ∗∗
T
Tλ = λI − T , Tλ∗ = λI − T ∗ ,
Nλ = ker (Tλ ) , Nλ∗ = ker (Tλ∗ ) ,
Rλ = R (Tλ ) , Rλ∗ = R (Tλ∗ ) .
Prova: (i) Como T é limitado, Nλ é fechado. Mas BNλ ⊂ λ−1 T (BE ) pois se T x = λx então x = λ−1 T x.
Como λ−1 T (BE ) é compacto (a dilatação y 7→ λ−1 y é um homeomorfismo), segue que o conjunto fechado
BNλ também é compacto. Já que as bolas unitária fechadas em espaços vetoriais normados de dimensão
infinita nunca são compactas, necessariamente dim Nλ < ∞. Em virtude da proposição anterior, a afirmação
para Nλ∗ segue analogamente.
(ii) Pelo teorema da imagem fechada de Banach (Teorema 3.19), Rλ é fechado se e somente se Rλ∗ é
fechado. Vamos mostrar que Rλ é fechado.
Rodney Josué Biezuner 84
Seja {yn } ⊂ Rλ tal que yn → y. Provaremos que y ∈ Rλ . Temos yn = Tλ xn para algum xn ∈ E. Seja
dn = dist (xn , Nλ ) .
dist (xn , zn ) = dn .
T wn → w.
Em particular,
λwn = Tλ wn + T wn = yn + T wn → y + w.
Tome
x = λ−1 (y + w) .
Então
T x = λ−1 T [lim (λwn )] = λ−1 lim T (λwn ) = lim T wn = w,
donde
y = λx − w = λx − T x = Tλ x.
¥
7.12 Teorema. (Alternativa de Fredholm para Operadores Compactos) Sejam E um espaço de Banach,
T ∈ L (E) um operador compacto e λ ∈ R, λ 6= 0. Então vale:
⊥
(i) Rλ = (Nλ∗ ) .
⊥
(ii) Rλ∗ = (Nλ ) .
Prova: Segue do lema anterior e do teorema da imagem fechada de Banach (Teorema 3.19). ¥
No que se segue, denotaremos
Nλk = ker Tλk .
Observe que sempre temos Nλk+1 ⊃ Nλk .
Rodney Josué Biezuner 85
Prova: Como
k
X µ ¶
l k k−l l
Tλk = λk I − (−1) λ T ,
l
l=1
Pk l¡ ¢
segue que Tλk = Uµ , onde µ = λk e U = l=1 (−1) kl λk−l T l é um operador compacto, combinação linear
de operadores compactos. Portanto, segue do Lema 7.11 que Nλk tem dimensão finita.
Primeiro observe que se Nλk+1 = Nλk , então Nλk+2 = Nλk . De fato, seja x ∈ Nλk+2 . Então Tλk+1 (Tλ x) =
Tλ x = 0, de modo que Tλ x ∈ Nλk+1 = Nλk , ou seja, Tλk (Tλ x) = 0 e portanto x ∈ Nλk+1 = Nλk . Por indução,
k+2
Prova: Suponha Rλ = E. Se Nλ 6= 0, seja x0 ∈ Nλ um vetor não nulo. Usando o fato que Rλ = E podemos
construir uma sequência {xn } ⊂ E tal que
Tλ x1 = x0 ,
Tλ x2 = x1 ,
..
.
Tλ xn+1 = xn ,
..
.
Então Tλn xn = x0 6= 0 e Tλn+1 xn = Tλ x0 = 0, o que implica Nλn+1 6= Nλn para todo n, contrariando o lema
anterior.
Reciprocamente, suponha Nλ = 0. Pela alternativa de Fredholm, temos Rλ∗ = E ∗ . Como T ∗ é compacto,
podemos aplicar a primeira parte deste teorema para concluir que Nλ∗ = 0. Novamente pela alternativa de
Fredholm segue que Rλ = E. ¥
7.15 Lema. Sejam E um espaço vetorial normado e y1∗ , . . . , yn∗ ∈ E ∗ linearmente independentes. Então
existem y1 , . . . , ym ∈ E tais que
yi∗ (yj ) = δij
para todos 1 6 i, j 6 n.
Rodney Josué Biezuner 86
cj ∩ . . . ∩ Nn . Afirmamos que
Prova: Denote Ni = ker yi∗ . Seja Mj = N1 ∩ . . . ∩ N
Mj 6⊂ Nj .
É suficiente provar esta afirmação para j = 1. Suponha por absurdo que M1 ⊂ N1 . Então
g0 está bem definido porque se Ax = Ay, então y2∗ (x − y) = . . . = yn∗ (x − y) = 0, logo y1∗ (x − y) = 0.
Estenda g0 a um funcional linear g : Rn−1 −→ R. Mas então g se escreve na forma
n
X
g (x2 , . . . , xn ) = αi xi
i=2
contrariando a independência linear dos funcionais y1∗ , . . . , yn∗ . Escolhendo zj ∈ Mj \Nj , o resultado segue
para
zj
yj = ∗ .
yj (zj )
¥
para todos 1 6 i, j 6 m.
Suponha n < m. Defina
n
X
Sx = T x + x∗i (x) yi .
i=1
Como S é uma combinação linear de operadores compactos, S também é compacto. Afirmamos que
ker Sλ = 0.
Rodney Josué Biezuner 87
J ◦ Tλ = Tλ∗∗ ◦ J,
ou seja, J (Nλ ) ⊂ Nλ∗∗ e J é uma isometria. Segue que dim Nλ = dim Nλ∗ . ¥
Os Teoremas 7.12, 7.14 e 7.16 juntos constituem a teoria de Riez-Fredholm para operadores compactos.
ρ (T ) = {λ ∈ R : Tλ é bijetivo} .
O espectro de T é o conjunto
σ (T ) = R\ρ (T ) .
O espectro de T contém os autovalores de T , mas podem existir valores em σ (T ) que não são autovalores
de T . Pelo Teorema 7.14, se T é um operador compacto então o espectro de T coincide com o conjunto
de autovalores de T , com a possı́vel exceção de λ = 0. Além disso, pelo Lema 7.11 cada autoespaço tem
dimensão finita.
¡ ¢
7.18 Exemplo. Considere o operador T ∈ L `2 definido por
T x = (0, x1 , x2 , . . .)
Seja E um espaço métrico. Dada uma aplicação S : E −→ E, dizemos que S é uma contração se existe
uma constante C < 1 tal que
dist (Sx, Sy) 6 C dist (x, y)
para todos x, y ∈ E.
7.19 Lema. (Teorema do Ponto Fixo de Banach) Sejam E um espaço métrico completo e S : E → E uma
contração. Então existe um único x ∈ E tal que Sx = x.
7.20 Proposição. Sejam E um espaço de Banach e T ∈ L (E). Então σ (T ) é compacto e σ (T ) ⊂
[− kT k , kT k].
Sy x = λ−1 (T x + y) .
O operador Tλ ser bijetivo é equivalente a existir um único x ∈ E tal que Sy x = x para todo y ∈ E. Portanto,
basta verificar que S é uma contração:
−1 −1
kSy x1 − Sy x2 k = |λ| kT x1 − T x2 k 6 |λ| kT k kx1 − x2 k
−1
e |λ| kT k < 1 por hipótese. Portanto, σ (T ) ⊂ [− kT k , kT k].
Para mostrar que σ (T ) é compacto, basta verificar que ele é fechado, o que é equivalente a mostrar que
ρ (T ) é aberto. Se λ0 ∈ ρ (T ), dados λ ∈ R e y ∈ E, defina Sy : E −→ E por
Sy x = Tλ−1
0
[y − (λ − λ0 ) x] .
O operador Tλ ser bijetivo é equivalente a existir um único x ∈ E tal que Sy x = x para todo y ∈ E, pois
Sy x = x é equivalente a
Tλ0 x = y − (λ − λ0 ) x,
que equivale
λ0 x − T x = y − λx + λ0 x,
ou
λx − T x = y.
Mas Sy é uma contração para todo λ suficientemente próximo de λ0 , independentemente de y, pois
° ° ° °
kSy x1 − Sy x2 k = °Tλ−1
0
[(λ − λ0 ) (x1 − x2 )]° 6 |λ − λ0 | °Tλ−1
0
° kx1 − x2 k .
7.21 Teorema. (Espectro de Operadores Compactos) Sejam E um espaço de Banach e T ∈ L (E) um oper-
ador compacto. Então σ (T ) é finito ou é uma sequência que possui 0 como único ponto de acumulação.
Em particular, os autovalores não-nulos de T são enumeráveis e isolados.
Além disso, se E tem dimensão infinita, então 0 ∈ σ (T ).
Prova: Seja {λn } ⊂ σ (T ) uma sequência de números reais distintos com λn → λ. Mostraremos que
λ = 0. Sem perda de generalidade, podemos assumir λn 6= 0 para todo n (já que isso se cumpre para
todo n suficientemente grande). Como observado antes, é uma consequência do Teorema 7.14 que λn é um
autovalor de T , logo existe en ∈ BE tal que T en = λn en para todo n. Como os autovalores λn são distintos,
{e1 , . . . , en } é linearmente independente para todo n. Seja En = he1 , . . . , en i, de modo que En $ En+1 e
Rodney Josué Biezuner 89
(T − λn I) En ⊂ En−1 para todo n. Pelo Corolário 2.18, existe xn ∈ BEn tal que dist (xn , En−1 ) > 1/2 para
todo n. Daı́, se n − 1 > m,
° ° ° °
° xn xm ° ° °
°T − T ° = ° T xn − λn xn − T xm − λm xm + xn − xm °
° λn λm ° ° λn λm °
° µ ¶°
° (T − λn I) xn (T − λm I) xm °
=° x
° n − xm − + °
°
λn λm
> dist (xn , En−1 )
1
>
2
e portanto {T (xn /λn )} não pode possuir uma subsequência convergente, contrariando a compacidade de T .
Se dim E = ∞ e T é compacto, então T não pode ser sobrejetivo (veja Exercı́cio 7.11). ¥
para todos x, y ∈ H.
7.23 Definição. Seja H um espaço de Hilbert. Dizemos que uma forma bilinear B : H × H −→ H é
coerciva se existe uma constante α > 0 tal que
2
B (x, x) > α kxk
para todo x ∈ H.
f (x) = B (x, z)
para todo x ∈ H.
Prova: Fixado y, g (x) = B (x, y) define um funcional linear em H ∗ , logo pelo teorema da representação de
Riesz existe um único T y ∈ H tal que
B (x, y) = hx, T yi
para todo x ∈ H. Para provar o resultado, pelo teorema de representação de Riesz basta mostrar que
T : H → H é bijetiva. Temos T linear, pois
e como
2
kT yk = hT y, T yi = B (y, T y) 6 C kyk kT yk ,
segue que
kT yk 6 C kyk ,
Rodney Josué Biezuner 90
de modo que
kT yk > α kyk ,
isto é T é limitada inferiormente e portanto injetiva. Em particular, segue que T (H) é fechado: se T yn → z,
então
kT yn − T ym k > α kyn − ym k
de modo que yn → y ∈ H e z = T (lim yn ) = T y. Se T (H) 6= H, então pelo Corolário 6.15 existe
z ∈ H\T (H) tal que z ⊥ T (H). Em particular,
2
0 = hz, T zi = B (z, z) > α kzk ,
um absurdo.
Finalmente, se z1 , z2 ∈ H são tais que
B (z1 − z2 , z1 − z2 ) = 0
7.25 Corolário. Sejam H um espaço de Hilbert e B : H × H −→ R uma forma bilinear limitada e coerciva.
Se B é simétrica, então o vetor z ∈ H que representa o funcional linear f ∈ H ∗ dado pelo teorema de
Lax-Milgram é caracterizado por
q (z) = min q (x)
x∈H
hT x, xi
m = inf hT x, xi = inf 2 ,
x∈BH x∈H\{0} kxk
hT x, xi
M = sup hT x, xi = sup 2 .
x∈BH x∈H\{0} kxk
kT k = max (|m| , |M |) .
B (x, y) = hTλ x, yi .
Temos
2
B (x, x) = hTλ x, xi = λ hx, xi − hT x, xi > (λ − M ) kxk
Rodney Josué Biezuner 91
para todo x ∈ H e como λ − M > 0, segue que B é coerciva. Segue do teorema de Lax-Milgram que Tλ é
bijetiva, ou seja, λ ∈ ρ (T ).
Agora mostraremos que M ∈ σ (T ). A forma bilinear limitada
B (x, y) = hTM x, yi
B (x, x) > 0
para todo x ∈ H, o que significa que a desigualdade de Cauchy-Schwarz vale para a forma bilinear B (veja
a demonstração da Proposição 6.2):
1/2 1/2
|B (x, y)| 6 B (x, x) B (y, y) .
Segue que
1/2 1/2
|hTM x, yi| 6 hTM x, xi hTM y, yi
para todos x, y ∈ H. Pelo teorema de representação de Riesz e pela desigualdade de Cauchy-Schwarz,
|hTM x, yi|
kTM xk = khTM x, ·ikH ∗ = sup
y∈H\{0} kyk
1/2
1/2 hTM y, yi
6 hTM x, xi sup
y∈H\{0} kyk
1/2 1/2
6 kTM k hTM x, xi
Para mostrar que kT k 6 µ, se T = 0 isto é óbvio, logo vamos assumir T 6= 0. Seja z ∈ H tal que kzk = 1 e
T z 6= 0 e tome
1/2 −1/2
v = kT zk z e w = kT zk T z,
2 2
de modo que kvk = kwk = kT zk. Tome
y1 = v + w e y2 = v − w.
Rodney Josué Biezuner 92
onde λ ∈ R, q ∈ C 0 [a, b], f ∈ L2 (a, b) e α, β, γ, δ ∈ R são tais que α e β não são ambos nulos e γ e δ não
são ambos nulos. Para estudar este problema, definimos o espaço vetorial normado
A condição de x0 ser absolutamente contı́nua garante que x00 está definida em quase todo ponto, de modo
que faz sentido falar em x00 ∈ L2 (a, b). Defina o operador de Sturm-Liouville L : E −→ L2 (a, b) por
Lx = −x00 + qx.
7.29 Lema. Existem funções não nulas xa ∈ Ea e xb ∈ Eb tais que L (xa ) = 0 e L (xb ) = 0.
Como
0
Wx,y (t) = x (t) y 00 (t) − x00 (t) y (t) ,
segue que
Wx0 a ,xb (t) = xa (t) x00b (t) − x00a (t) xb (t) = xa (t) qxb (t) − qxa (t) xb (t) = 0,
ou seja,
Wxa ,xb (t) ≡ Wxa ,xb (a) .
7.30 Lema. Se xa ∈ Ea e xb ∈ Eb são funções não nulas que satisfazem L (xa ) = L (xb ) = 0 e L é injetivo,
então Wxa ,xb (a) 6= 0 consequentemente xa e xb são linearmente independentes.
Rodney Josué Biezuner 94
Prova: Se Wxa ,xb (a) = 0, então as colunas da matriz do Wronskiano são linearmente dependentes, logo
existe c ∈ R tal que xb (a) = cxa (a) e x0b (a) = cx0a (a). Consequentemente, ambos xa , xb ∈ E, de modo que
o operador L tem núcleo não trivial, contradizendo o enunciado. ¥
Definimos a função de Green G : [a, b] × [a, b] −→ R para o operador L por
½
1 xa (t) xb (s) se a 6 t 6 s 6 b,
G (t, s) = −
Wxa ,xb (a) xa (s) xb (t) se a 6 s 6 t 6 b.
Da definição de G vemos imediatamente que
7.31 Lema. A função de Green é contı́nua e simétrica, isto é,
G (t, s) = G (s, t) .
7.32 Lema. Seja Ω ⊂ RN aberto e F ∈ L2 (Ω × Ω). Então o operador integral T : L2 (Ω) −→ L2 (Ω)
definido por Z
(T f ) (x) = F (x, y) f (y) dy
Ω
é compacto e
kT k 6 kF kL2 (Ω×Ω) .
Além disso, se
F (x, y) = F (y, x) ,
então T é autoadjunto.
Prova: Em primeiro lugar, vamos verificar que T está bem definido e é um operador limitado. Se f ∈ L2 (Ω),
temos pela desigualdade de Hölder e pelo teorema de Fubini
Z ¯Z ¯2
¯ ¯
2
kT f kL2 (Ω) = ¯ ¯
¯ F (x, y) f (y) dy ¯ dx
Ω Ω
Z µZ ¶ µZ ¶
2 2
6 |F (x, y)| dy |f (y)| dy dx
Ω Ω
µZ ¶ Z µZ Ω ¶
2 2
= |f (y)| dy |F (x, y)| dy dx
Ω Ω Ω
Z
2
= kf kL2 (Ω) |F (x, y)| dydx
Ω×Ω
= kf kL2 (Ω) kF kL2 (Ω×Ω) .
Para verificar que T é compacto, antes de mais nada observamos que se {en }n∈N é um sistema ortonormal
completo para L2 (Ω), então {enm }n,m∈N definido por
enm (x, y) = en (x) em (y)
é um sistema ortonormal completo para L2 (Ω × Ω). De fato, pela desigualdade de Hölder enm ∈ L2 (Ω × Ω)
e pelo teorema de Fubini
Z
henm , ekl iL2 (Ω×Ω) = enm (x, y) ekl (x, y) dxdy
Ω×Ω
Z
= en (x) em (y) ek (x) el (y) dxdy
Ω×Ω
µZ ¶ µZ ¶
= en (x) ek (x) dx em (y) el (y) dy
Ω Ω
= hen , ek iL2 (Ω) hem , el iL2 (Ω) ,
Rodney Josué Biezuner 95
de modo que henm , ekl iL2 (Ω×Ω) = δnk δml e portanto {enm }n,m∈N é um sistema ortonormal para L2 (Ω × Ω).
Agora, seja h (x, y) ∈ L2 (Ω × Ω) satisfazendo hh, enm iL2 (Ω×Ω) = 0 para todos n, m ∈ N. Denotando
hy (x) = h (x, y) ,
Portanto,
hhy (x) , en (x)iL2 (Ω) = 0 para todo n e para todo y ∈ Ω,
donde hy (x) = 0 para todo y ∈ Ω. Isso mostra que {enm }n,m∈N é um sistema ortonormal completo para
L2 (Ω × Ω).
Assim, fixando um sistema ortonormal completo {en }n∈N para L2 (Ω), podemos escrever
∞
X
F (x, y) = αij eij (x, y) .
i,j=1
Para cada n ∈ N defina o operador limitado de posto finito Tn : L2 (Ω) −→ L2 (Ω) por
Z n
X
(Tn f ) (x) = αij eij (x, y) f (y) dy.
Ω i,j=1
segue que R (Tn ) ⊂ he1 , . . . , en i. Para provar que T é compacto, basta então mostrar que Tn → T . Mas,
como vimos na primeira parte da demonstração deste teorema,
° °
° n °
° X °
°
kT − Tn k 6 °F (x, y) − αij eij (x, y) °
→ 0.
°
° i,j=1 ° 2
L (Ω)
Finalmente, para ver que T é autoadjunto se F (x, y) = F (y, x), pelo teorema de Fubini temos
Z µZ ¶ Z
hT f, giL2 (Ω) = F (x, y) f (y) dy g (x) dx = F (x, y) g (x) f (y) dxdy
Ω Ω Ω×Ω
Z Z µZ ¶
= F (y, x) g (x) f (y) dydx = F (y, x) g (x) dy f (y) dx
Ω×Ω Ω Ω
= hf, T giL2 (Ω) .
¥
Rodney Josué Biezuner 96
7.33 Teorema. Assuma L injetivo. Defina o operador integral K : L2 (a, b) −→ L2 (a, b) por
Z b
(Kf ) (t) = G (t, s) f (s) ds.
a
Prova: Pelo lema anterior, K é um operador compacto autoadjunto. Seja f ∈ L2 (a, b). Mostraremos que
g = Kf ∈ E. Defina
Z t
1
ga (t) = − xa (s) f (s) ds,
Wxa ,xb (a) a
Z b
1
gb (t) = − xb (s) f (s) ds,
Wxa ,xb (a) t
de modo que
Z "Z Z #
b t b
1
g (t) = G (t, s) f (s) ds = − xa (s) xb (t) f (s) ds + xa (t) xb (s) f (s) ds
a Wxa ,xb (a) a t
" Z Z #
t b
1
=− xb (t) xa (s) f (s) ds + xa (t) xb (s) f (s) ds
Wxa ,xb (a) a t
isto é,
g = ga xb + gb xa .
Derivando esta expressão obtemos
em quase todo ponto (lembre-se que f ∈ L2 (a, b) não é contı́nua em geral), o que mostra que g 0 é absoluta-
mente contı́nua. Mas de fato g 0 = ga x0b + gb x0a em todo ponto, pois se
Z t
ϕ (t) = g (a) + (ga x0b + gb x0a ) (s) ds,
a
temos ϕ (a) = g (a) e ϕ0 (t) = g 0 (t) em quase todo ponto; logo g = ϕ em todo ponto e como ϕ ∈ C 1 [a, b]
segue que g ∈ C 1 [a, b] também. Resta provar que g 00 ∈ L2 [a, b]. Derivando g 0 = ga x0b + gb x0a obtemos
e cada um dos termos nesta última expressão é uma função em L2 [a, b].
Rodney Josué Biezuner 97
Para ver que g satisfaz as condições de fronteira do problema de Sturm-Liouville, note que ga (a) = 0 e
xa ∈ Ea , logo
Finalmente, para ver que K ◦ L = I : E −→ E, seja x ∈ E. Então Lx ∈ L2 (a, b) e pelo que acabamos de
provar segue que LK (Lx) = Lx, ou seja, KLx − x ∈ ker L = 0. Portanto, KLx = x. ¥
Prova: Suponha que x ∈ ker Kλ . Isso significa que Kx = λx, consequentemente Lx = λ−1 x. Então
supondo por absurdo que existem x1 , x2 ∈ ker Kλ linearmente independentes, segue que x1 , x2 são duas
soluções linearmente independentes da equação diferencial de segunda ordem linear
−x00 + qx = λ−1 x,
portanto toda solução desta equação é combinação linear de x1 , x2 . Por outro lado, x1 , x2 ∈ E, logo qualquer
combinação linear de x1 , x2 satisfaz as mesmas condições de fronteira que x1 , x2 satisfazem, em particular
em t = a. Mas uma solução para a equação diferencial pode ser encontrada para qualquer outra condição
inicial diferente em t = a, contradição. ¥
7.35 Teorema. Assuma L injetivo. Então existe uma sequencia {λn }n∈N ⊂ R e um sistema ortonormal
completo {en }n∈N para L2 (a, b) tais que
Prova: Segue do Teorema 7..3, da teoria de Riesz-Fredholm e da teoria espectral para operadores autoad-
juntos compactos desenvolvida neste capı́tulo, bem como do lema anterior. ¥
7.6 Exercı́cios
7.1 Prove que se E, F são espaços vetoriais normados, então K (E, F ) é um subespaço vetorial de L (E, F ).
7.2 Mostre que o operador inclusão C 0 ([0, 1]) ,→ L2 ([0, 1]), quando estes espaços são dotados de suas
normas usuais, é completamente contı́nuo mas não é compacto.
7.3 Seja H um espaço de Hilbert. Prove que para todo operador compacto T : H −→ H existe uma
sequência Tn ⊂ L (H) de operadores com posto finito tal que Tn → T . (Sugestão: use o teorema da
projeção.)
Rodney Josué Biezuner 98
¡ ¢
7.4 Mostre que a sequência de operadores limitados {Tn } ⊂ L `2 de posto finito definidos por
Tn x = (x1 , . . . , xn , 0, . . .)
a) T : `2 −→ `2 definido por ³ ´
x2 xn
T x = x1 , ..., ,... .
2 n
b) T : `2 −→ `2 definido por ³x ´
1x2 xn
Tx = 2
,..., n,... .
2 2 2
c) T : `p −→ `p , 1 6 p < ∞, definido por
³ x2 xn ´
T x = x1 , ..., ,... .
2 n
d) T : `∞ −→ `∞ definido por ³ ´
x2 xn
T x = x1 , ..., ,... .
2 n
7.6 Sejam H um espaço de Hilbert, {en }n∈N um sistema ortonormal completo para H e {λn }n∈N ⊂ R uma
sequência de números reais tal que λn → 0. Defina um operador T : H −→ H por
∞
X
Tx = λn hx, en i en .
n=1
7.7 Sejam H um espaço de Hilbert, {en }n∈N um sistema ortonormal completo para H, F um espaço de
P
∞
2
Banach e T : H −→ F um operador limitado. Mostre que se kT en k é uma série convergente,
n=1
então T é um operador compacto.
© ª
7.8 Seja E = f ∈ C 2 ([0, 1]) : f (0) = f 0 (0) = 0 e considere o operador T : E −→ C 0 ([0, 1]) definido por
T f = f 00 . Mostre que T −1 : C 2 ([0, 1]) −→ L2 ([0, 1]) é um operador compacto.
7.9 Sejam E um espaço reflexivo, F um espaço vetorial normado e T : E −→ F um operador linear compacto.
Mostre que T (BE ) é compacto.
7.10 Defina T : C 0 ([−1, 1]) −→ C 0 ([−1, 1]) por
Z x
(T f ) (x) = tf (t) dt.
−1
¡ ¢
Mostre que T é um operador compacto mas T BC 0 ([−1,1]) não é compacto.
7.11 Sejam E, F espaços de Banach e T : E −→ F um operador linear compacto. Mostre que se F tem
dimensão infinita, então T não pode ser sobrejetivo. Conclua que se R (T ) é fechado, então R (T ) tem
dimensão finita.
7.12 Sejam E, F espaços vetoriais normados com dim E = ∞ e T : E −→ F um operador linear compacto.
Mostre que existe uma sequência {xn }n∈N ⊂ E tal que kxn k = 1 para todo n e T xn → 0.
Rodney Josué Biezuner 99
7.13 Seja H um espaço de Hilbert e T : H −→ H um operador linear compacto. Mostre que existe x 6= 0
tal que
kT xk = kT k kxk .
7.14 Sejam E um espaço reflexivo e F um espaço de Banach com a propriedade que toda sequência que
satisfaz yn * 0 satisfaz yn −→ 0. Mostre que se T : E −→ F é um operador linear limitado, então T
é compacto.
7.15 Sejam E, F espaços vetoriais normados. Um operador linear T : E −→ F que leva sequências limitadas
em E em sequências que possuem sequências fracamente convergentes em F é chamado um operador
fracamente compacto.
7.16 Sejam E, F espaços vetoriais normados e T : E −→ F um operador linear compacto. Mostre que R (T )
é separável.
7.17 Mostre que toda forma bilinear limitada é contı́nua.
7.18 Sejam H um espaço de Hilbert separável, T ∈ L (H) um operador autoadjunto compacto, {λn }n∈N a
sequência de autovalores não nulos distintos de T e {en }n∈N a correspondente sequência de autovetores
ortonormais. Mostre que
X∞ ∞
X
Tx = hT x, en i en = λn hx, en i en .
n=1 n=1
7.19 Neste exercı́cio estudaremos o problema de Sturm-Liouville sem assumir que o operador L é injetivo.
Assumiremos a notação da seção deste capı́tulo que trata do problema de Sturm-Liouville.
a) Sejam x, y ∈ C 1 [a, b] tais que x0 , y 0 é absolutamente contı́nua e x00 , y 00 ∈ L2 (a, b). Então
Z b
(x00 y − xy 00 ) = [x0 (b) y (b) − x (b) y 0 (b)] − [x0 (a) y (a) − x (a) y 0 (a)] .
a
Em particular, γ é diferenciável e
Z Z Z
2
γ 0 (t) = ∇u · ∇ϕ + t |∇ϕ| + f ϕ.
Ω Ω Ω
100
Rodney Josué Biezuner 101
Integrando esta equação por partes, isto é, usando a primeira identidade de Green
Z Z Z
∂u
∇u · ∇ϕ = ϕ − ϕ∆u,
Ω ∂Ω ∂ν Ω
obtemos Z Z
∆u ϕ = fϕ para todo ϕ ∈ C0∞ (Ω) ,
Ω Ω
o que implica
∆u = f em Ω.
¥
O princı́pio de Dirichlet sugere então que para resolver o problema de Dirichlet para a equação de Poisson
basta encontrar a função que minimiza o funcional (às vezes chamado funcional ou integral de Dirichlet)
Z Z
1 2
I (u) = |∇u| + fu
2 Ω Ω
8.2.1 Definição
Seja Ω um aberto de Rn . Suponha que u ∈ C 1 (Ω) é uma função real continuamente diferenciável. Se
ϕ ∈ C0∞ (Ω) é uma função suave com suporte compacto em Ω, segue da fórmula de integração por partes
Z Z Z
∂u ∂v
v= uv ηi − u
Ω ∂x i ∂Ω Ω ∂x i
Rodney Josué Biezuner 102
que Z Z
u (∂i ϕ) = − (∂i u) ϕ (8.2)
Ω Ω
para i = 1, . . . , n (aqui denotamos por ∂i a derivada parcial de primeira ordem ∂/∂xi ) Não há termos de
fronteira exatamente porque ϕ tem suporte compacto em Ω.
8.2 Definição. Seja Ω ⊂ Rn um subconjunto aberto e u ∈ L1loc (Ω). Dizemos que uma função vi ∈ L1loc (Ω)
é a derivada parcial fraca de u em relação a xi , se
Z Z
u(∂i ϕ) = − vi ϕ, (8.3)
Ω Ω
¤
8.4 Exemplo. Por outro lado, se n = 1, Ω = (0, 2) e
½
x se 0 < x 6 1,
u(x) =
2 se 1 < x < 2,
então u não possui uma derivada fraca. Com efeito, suponha por absurdo que exista uma função
v ∈ L1loc ((0, 2)) satisfazendo
Z 2 Z 2
uϕ0 = − vϕ ,
0 0
para toda ϕ ∈ C0∞ ((0, 2)). Então
Z 2 Z 1 Z 2 Z 1
0 0
− vϕ = xϕ + 2 ϕ = ϕ(1) − 0 − ϕ + 0 − 2ϕ(1)
0 0 1 0
Z 1
= −ϕ(1) − ϕ,
0
Rodney Josué Biezuner 103
ou seja, Z Z
1 2
ϕ(1) = − ϕ+ vϕ.
0 0
para toda ϕ ∈ C0∞ ((0, 2)). Escolhendo uma seqüência de funções-teste (ϕm ) ⊂ C0∞ ((0, 2)) satisfazendo
ϕm (1) = 1, 0 6 ϕm 6 1 e ϕm (x) → 0 para todo x 6= 1, obtemos através do teorema da convergência
dominada de Lebesgue que
· Z 1 Z 2 ¸
1 = lim ϕm (1) = lim − ϕm + vϕm = 0,
m→∞ m→∞ 0 0
uma contradição. ¤
Estes exemplos não são acidentais. Conforme veremos daqui a pouco, uma função real em uma variável real
possui uma derivada fraca se e somente se ela for absolutamente contı́nua; lembre-se que neste caso ela é
diferenciável no sentido clássico em quase todo ponto. Uma caracterização completa das funções fracamente
diferenciáveis, especialmente suas propriedades no que se refere à diferenciabilidade clássica, será considerada
após um resultado de aproximação.
8.6 Definição. Considere u ∈ L1loc (Rn ). Dado ε > 0, a regularização uε de u é definida como sendo a
convolução Z µ ¶
1 x−y
uε (x) = n ϕ u(y) dy. (8.5)
ε Rn ε
µ ¶
x−y
Observe que supp ϕ = Bε (x). Se Ω ⊂ Rn é um aberto e u ∈ L1loc (Ω), estendemos u como valendo
ε
0 fora de Ω de forma a aplicar a definição acima, mas mesmo assim a função uε pode não estar definida
para todo x ∈ Ω, já que u é apenas localmente integrável em Ω (o que significa que u é integrável apenas
em vizinhanças compactas de Ω). Para uma tal função, a regularização uε está definida em x ∈ Ω apenas
para aqueles ε tais que ε < dist(x, ∂Ω); uε não está definida em todo o aberto Ω se u é apenas localmente
integrável em Ω.
Uma das propriedades principais da regularização uε de u é ser uma função suave onde estiver definida.
De fato, se u ∈ L1loc (Ω), dado Ω0 ⊂⊂ Ω e 0 < ε < dist(Ω0 , ∂Ω) temos para qualquer multi-ı́ndice γ
Z · µ ¶¸
1 x−y
Dγ uε (x) = n Dγ ϕ u(y) dy
ε Ω ε
para todo x ∈ Ω0 ; ou seja, uε ∈ C ∞ (Ω0 ). Assim, se u ∈ L1 (Ω), de modo que uε está definida em todo o
aberto Ω para qualquer ε > 0, segue que uε ∈ C ∞ (Ω) para qualquer ε > 0; se, além disso, Ω for limitado,
Rodney Josué Biezuner 104
então uε ∈ C0∞ (Rn ) para qualquer ε > 0. Finalmente, se supp u ⊂ Ω e ε < dist(supp u, ∂Ω), então uε ∈
C0∞ (Ω) também.
A propriedade essencial das regularizações de uma função u, o que justifica o seu uso, é serem aproximações
de u na topologia natural do espaço em que u se encontra, em particular para os espaços Lp . Apenas devemos
observar que os espaços Lploc (Ω) não são espaços vetoriais normados, mas possuem uma topologia definida
da seguinte maneira: dizemos que uma seqüência {um } ⊂ Lploc (Ω) converge para u na topologia de Lploc (Ω)
se um → u em Lp (Ω0 ) para todo aberto Ω0 ⊂⊂ Ω.
8.7 Lema. Se u ∈ Lploc (Ω) [resp. Lp (Ω), se Ω é um aberto limitado], então uε → u em Lploc (Ω) [resp.
Lp (Ω), se Ω é um aberto limitado] quando ε → 0.
Prova: Pela desigualdade de Hölder, para qualquer função w ∈ Lploc (Ω) nós temos
¯Z ¯ ÃZ ! p−1 ÃZ ! p1
¯ ¯ ¯ p−1 ¯ p−1
p p ¯ 1 ¯p
¯ ¯ ¯ p ¯ ¯ p ¯
|wε (x)| = ¯ ϕ(z)w(x − εz) dz ¯ 6 ¯ϕ (z)¯ dz ¯ϕ (z)w(x − εz)¯ dz
¯ B1 (0) ¯ B1 (0) B1 (0)
ÃZ ! p−1
p
ÃZ ! p1
p
= ϕ(z) dz ϕ(z) |w(x − εz)| dz
B1 (0) B1 (0)
ÃZ ! p1
p
= ϕ(z) |w(x − εz)| dz ;
B1 (0)
onde Bε (Ω0 ) = {x ∈ Rn : dist (x, ∂Ω0 ) < ε} é a vizinhança ε de Ω0 . Em outras palavras, nós provamos que
para qualquer função w ∈ Lploc (Ω) vale
kwε kLp (Ω0 ) 6 kwkLp (Bε (Ω0 )) .
Agora, aproxime u em Bε (Ω0 ). Mais precisamente, dado ε > 0, seja v ∈ C 0 (Bε (Ω0 )) tal que
ε
ku − vkLp (Bε (Ω0 )) < .
3
Pelo resultado que acabamos de obter, chamando w = u − v nós também temos (pois (u − v)ε = uε − vε ) que
ε
kuε − vε kLp (Ω0 ) 6 ku − vkLp (Bε (Ω0 )) < .
3
Como vε → v uniformemente em Bε (Ω0 ), se ε é suficientemente pequeno nós temos
ε
kv − vε kLp (Ω0 ) < .
3
Segue que
ku − uε kLp (Ω0 ) 6 ku − vkLp (Ω0 ) + kv − vε kLp (Ω0 ) + kuε − vε kLp (Ω0 ) < ε.
Para provar o resultado se u ∈ Lp (Ω), quando Ω é um aberto limitado, estendemos u como sendo 0 fora
de Ω e aplicamos o resultado acima para u ∈ Lploc (Rn ). ¥
Rodney Josué Biezuner 105
¥
Observe que, mesmo que tenhamos u ∈ L1 (Ω) e ∂i u ∈ L1 (Ω) (e, conseqüentemente, uε ∈ L1 (Ω) e (∂i u)ε ∈
L1 (Ω) pelo µLema 8.8)
¶ não podemos concluir que ∂i uε (x) = (∂i u)ε (x) para todo x ∈ Ω, já que para x ∈ Ω\Ωε
x−y
a função ϕ ∈/ C0∞ (Ω) e portanto não podemos usar a definição de derivada fraca.
ε
Agora estamos em condições de provar o seguinte teorema básico de aproximação para derivadas fracas.
8.9 Teorema. Sejam u, v ∈ L1loc (Ω). Então v = ∂i u se e somente se existe uma seqüência de funções
(um ) ⊂ C 1 (Ω) tal que um → u em L1loc (Ω) e ∂i um → v em L1loc (Ω).
Prova: Suponha que existe uma seqüência de funções (um ) ⊂ C k (Ω) satisfazendo um → u em L1loc (Ω) e
∂i um → v em L1loc (Ω). Então, para toda ϕ ∈ C0∞ (Ω), temos
Z Z Z Z
u(∂i ϕ) dx = lim um (∂i ϕ) dx = − lim (∂i um )ϕ dx = − vϕ dx,
Ω m→∞ Ω m→∞ Ω Ω
e portanto v = ∂i u.
Agora assuma v = ∂i u. Temos então uε → u em L1loc (Ω) e (∂i u)ε → ∂i u = v em L1loc (Ω), quando ε → 0.
Como (∂i u)ε = ∂i uε , segue a recı́proca. ¥
8.10 Teorema. Uma função u ∈ L1loc (Ω) é fracamente diferenciável se e somente se ela é igual, a menos
de um conjunto de medida nula, a uma função que
(i) é absolutamente contı́nua em quase todos os segmentos em Ω paralelos aos eixos coordenados e
(ii) as derivadas parciais (clássicas) de primeira ordem de u são localmente integráveis.
Prova: Assuma primeiro u ∈ W 1 (Ω). Obviamente, pela definição de função fracamente diferenciável,
temos ∂i u ∈ L1loc (Ω) para i = 1, ..., n. Tome um bloco retangular R = [a1 , b1 ] × ... × [an , bn ] ⊂ Ω e fixe
uma coordenada i. Escrevemos um ponto x ∈ R na forma x = (x0 , xi ), onde x0 ∈ Rn−1 e xi ∈ [ai , bi ];
Rodney Josué Biezuner 106
denotaremos também R0 = [a1 , b1 ] × ... × [a \ i , bi ] × ... × [an , bn ]. Temos que provar que para quase todo
0 0 0
x ∈ R a função u(x , ·) é absolutamente contı́nua em [ai , bi ]. Pelo Teorema 8.8, existe uma seqüência de
funções (um ) ⊂ C ∞ (Ω) satisfazendo um → u e ∂i um → ∂i u em L1loc (Ω) para todo i. Pelo Teorema de Fubini,
podemos então escrever para quase todo x0 ∈ R0
Z "Z bi # Z
0 0 0
|um (x , xi ) − u(x , xi )| dxi dx = |um (x) − u(x)| dx → 0 (8.7)
R0 ai R
Z "Z # Z
bi
|∂i um (x0 , xi ) − ∂i u(x0 , xi )| dxi dx0 = |∂i um (x) − ∂i u(x)| dx → 0 (8.8)
R0 ai R
Logo, a seqüência {um (x0 , ·)} é uniformemente limitada em [ai , bi ]. Além disso, a seqüência {um (x0 , ·)}
também é uniformemente absolutamente eqüicontı́nua, porque a convergência de uma seqüência em L1 ([ai , bi ])
implica que a seqüência é uniformemente integrável: dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo m ∈ N
Z
|∂i um (x0 , xi )| dxi < ε
E
para qualquer conjunto E ⊂ [ai , bi ] satisfazendo |E| < δ; assim, se |t − s| < δ, segue que
Z t
0 0
|um (x , t) − um (x , s)| 6 |∂i um (x0 , xi )| dxi < ε
s
para todo m ∈ N. Segue do Teorema de Arzelà-Ascoli que um (x0 , ·) converge uniformemente em [ai , bi ] para
uma função absolutamente contı́nua que coincide em quase todo ponto com u.
Suponha agora que u é absolutamente contı́nua em quase todos os segmentos de reta em Ω paralelos
aos eixos coordenados e que as primeiras derivadas parciais de u são localmente integráveis. Então isso vale
também para uϕ para toda ϕ ∈ C0∞ (Ω), logo temos
Z Z
u (∂i ϕ) dx = − (∂i u) ϕ dx
L L
Rodney Josué Biezuner 107
em quase todo segmento de reta L paralelo ao i-ésimo eixo coordenado cujos extremos estão em Ω\ supp ϕ.
Pelo Teorema de Fubini, segue que
Z Z
u (∂i ϕ) dx = − (∂i u) ϕ dx,
Ω Ω
e portanto u ∈ W 1 (Ω). ¥
Prova: Para todo ϕ ∈ C0∞ (Ω), usando a regra do produto para funções diferenciáveis no sentido clássico e
a definição de derivada fraca (pois ψϕ ∈ C0∞ (Ω)), temos
Z Z Z
(ψu)(∂i ϕ) dx = u[ψ(∂i ϕ)] dx = u[∂i (ψϕ) − ϕ(∂i ψ)] dx
Ω Ω
Z ZΩ
= − (∂i u)ψϕ dx − u(∂i ψ)ϕ dx
ZΩ Ω
¥
Sob hipóteses razoáveis, a regra da cadeia vale para funções fracamente diferenciáveis.
8.13 Proposição. Sejam f ∈ C 1 (R), f 0 ∈ L∞ (R) e u ∈ W 1 (Ω). Então a função composta f ◦ u ∈ W 1 (Ω)
e
∇(f ◦ u) = f 0 (u)∇u.
Prova: Pelo Teorema 8.10, para provar este resultado basta encontrar uma seqüência de funções continua-
mente diferenciáveis convergindo para f ◦ u em L1loc (Ω), tais que suas derivadas convergem para f 0 (u)∂i u em
L1loc (Ω). Em vista do mesmo teorema, como u ∈ W 1 (Ω), sabemos que existe uma seqüência (um ) ⊂ C 1 (Ω)
tal que um → u e ∂i um → ∂i u em L1loc (Ω) para todo i. Então, se Ω0 ⊂⊂ Ω, nós temos
Z Z
0
|f (um ) − f (u)| 6 sup |f | |um − u| → 0
Ω0 Ω0
quando m → ∞, ou seja, f ◦ um → f ◦ u em L1loc (Ω). Pela regra da cadeia para funções diferenciáveis
∂i (f ◦ um ) = f 0 (um )∂i um e nós temos
Z Z Z
|f 0 (um )∂i um − f 0 (u)∂i u| 6 sup |f 0 | |∂i um − ∂i u| + |f 0 (um ) − f 0 (u)| |∂i u| .
Ω0 Ω0 Ω0
A primeira integral do lado direito desta desigualdade converge para 0 porque ∂i um → ∂i u em L1loc (Ω).
Passando a uma subseqüência, se necessário, podemos assumir que um → u q.t.p. em Ω; como f 0 é contı́nua,
segue que f 0 (um ) → f 0 (u) q.t.p. em Ω. Como |f 0 (um ) − f 0 (u)| |∂i u| 6 2 sup |f 0 | |∂i u| ∈ L1 (Ω0 ), segue
do teorema da convergência dominada que a segunda integral também converge para 0 e portanto que
∂i (f ◦ um ) → f 0 (u)∂i u em L1loc (Ω). ¥
Rodney Josué Biezuner 108
As partes positiva e negativa de uma função são as funções definidas respectivamente por
Segue que
u = u+ + u− e |u| = u+ − u− .
Então
√ t se t > 0,
fε0 (t) = t2 + ε2
0 se t 6 0.
de modo que fε ∈ C 1 (R) e fε0 ∈ L∞ (R). Segue do lema anterior que para toda ϕ ∈ C0∞ (Ω) nós temos
Z Z
u
fε (u)∂i ϕ dx = − ϕ√ ∂i u dx.
Ω Ω u + ε2
2
Fazendo ε → 0, segue do teorema da convergência dominada (pois 0 6 fε (u) 6 u+ e 0 6 fε0 (u) 6 1) que
Z Z
+
u ∂i ϕ dx = − ϕ∂i u dx,
Ω Ω
8.15 Corolário. Seja u ∈ W 1 (Ω). Se u é constante q.t.p. em algum subconjunto de Ω, então ∇u = 0 neste
subconjunto.
Prova: Sem perda de generalidade, podemos assumir u ≡ 0 neste subconjunto. O resultado segue então
imediatamente de ∇u = ∇u+ + ∇u− . ¥
Definimos ainda
W01,p (Ω) = fecho de C0∞ (Ω) em W 1,p (Ω).
8.18 Teorema. W 1,p (Ω) é um espaço de Banach, separável se 1 6 p < ∞, e reflexivo e uniformemente
convexo se 1 < p < ∞.
W 1,2 (Ω) é um espaço de Hilbert com o produto interno
n
X
hu, viW 1,2 (Ω) = h∂i u, ∂i viL2 (Ω) .
i=0
u 7→ (∂i u)06i6n
e usar o fato de que produtos finitos e subespaços fechados de espaços de Banach separáveis [resp. reflexivos;
resp. uniformemente convexos] são também separáveis [resp. reflexivos; resp. uniformemente convexos]. ¥
8.19 Teorema. Seja Ω um aberto de classe C 1 . Então C ∞ (Ω) ∩ W 1,p (Ω) é denso em W 1,p (Ω).
Prova: Veja [Adams]. ¥
Rodney Josué Biezuner 110
Prova: Seja Ω0 um aberto de classe C 1 tal que supp u ⊂⊂ Ω0 ⊂⊂ Ω. Escolha uma função corte η ∈ C0∞ (Ω0 )
tal que η ≡ 1 em supp u; logo, ηu = u. Pelo Teorema 8.19, existe uma seqüência de funções (um ) ⊂ C0∞ (Rn )
tal que um |Ω → u em W 1,p (Ω). Logo ηum → ηu em W 1,p (Ω) e portanto ηu = u ∈ W01,p (Ω). ¥
8.21 Teorema. Seja Ω um aberto de classe C 1 . Se u ∈ W 1,p (Ω) ∩ C(Ω), então u ∈ W01,p (Ω) se e somente
se u = 0 em ∂Ω.
Prova: Suponha que u = 0 em ∂Ω. Para obter uma seqüência de funções em W01,p (Ω) que converge para
u em W 1,p (Ω), assuma inicialmente que supp u é limitado. Fixe uma função f ∈ C 1 (R) tal que |f (t)| 6 |t|
para todo t ∈ R e ½
0 se |t| 6 1,
f (t) =
t se |t| > 2,
e defina a seqüência de funções
1
uj = f (ju). (8.11)
j
Pela regra da cadeia uj ∈ W 1,p (Ω) e pelo teorema da convergência dominada temos que uj → u em W 1,p (Ω).
Com efeito, uj (x) → u(x) para todo x ∈ Ω, porque se u(x) = 0, então uj (x) = 0 para todo j, e se u(x) 6= 0,
1
então uj (x) = ju(x) = u(x) para todo j suficientemente grande; além disso,
j
1 1
|uj (x)| = |f (ju (x))| 6 |ju (x)| = |u (x)| ∈ Lp (Ω).
j j
Isso prova que uj → u em Lp (Ω). Analogamente, ∂i uj (x) → ∂i u(x) q.t.p. em Ω, pois ∂i uj (x) =
f 0 (ju(x))∂i u(x) e f 0 (ju(x)) = 1 se u(x) 6= 0, para todo j suficientemente grande, enquanto que f 0 (ju(x)) = 0
se u(x) = 0, mas o conjunto dos pontos x ∈ Ω tais que u(x) = 0 e ∂i u(x) 6= 0 tem medida nula (Corolário
8.15). Finalmente, |∂i uj (x)| 6 (supR |f |) |∂i u(x)| ∈ Lp (Ω), o que prova que ∂i uj → ∂i u em Lp (Ω) para todo
ı́ndice i. Como supp uj ⊂ {x ∈ Ω : |u(x)| > 1/j} ⊂ supp u ⊂⊂ Ω, segue do lema anterior que uj ∈ W01,p (Ω)
e, portanto, u ∈ W01,p (Ω). ³x´
Se supp u não é limitado, consideramos os truncamentos ηk u, onde ηk é definida por ηk (x) = η para
∞
k
uma função η ∈ C0 (R) que satisfaz 0 6 η 6 1 e
½
1 se |x| 6 1,
η(x) =
0 se |x| > 2.
Os truncamentos ηk u possuem suporte limitado, logo podemos aplicar o argumento anterior para concluir
que ηk u ∈ W01,p (Ω). Como ηk u → u em W 1,p (Ω), segue que u ∈ W01,p (Ω).
Reciprocamente, suponha u ∈ W01,p (Ω). Usando cartas locais, é suficiente considerar o semicilindro
superior
Q+ = {x = (x0 , xn ) : |x0 | < 1 e 0 < xn < 1},
e provar que toda u ∈ W 1,p (Q+ ) ∩ C(Q+ ) que é o limite em W 1,p (Q+ ) de uma seqüência (uj ) ⊂ C ∞ (Q+ )
tal que uj = 0 em Q0 = Q+ ∩ ∂Rn+ satisfaz u = 0 em Q0 .
Rodney Josué Biezuner 111
Sejam u ∈ W 1,p (Q+ ) ∩ C(Q+ ) e (uj ) ⊂ C ∞ (Q+ ) uma tal seqüência. Como uj = 0 em Q0 , para todo
0
(x , xn ) ∈ Q+ nós temos Z xn
|uj (x0 , xn )| 6 |∂n uj (x0 , t)| dt.
0
Integrando com respeito a xn , de 0 a ε > 0, obtemos
Z ε Z ε ·Z xn ¸
0 0
|uj (x , xn )| dxn 6 |∂n uj (x , t)| dt dxn
0
Z0 ε Z ε0
6 |∂n uj (x0 , t)| dt dxn
0 0
Z ε
=ε |∂n uj (x0 , t)| dt.
0
0
Integrando agora com respeito a x , temos
Z Z ε Z Z ε
1 0 0
|uj (x , xn )| dx dxn 6 |∂n uj (x0 , xn )| dx0 dxn .
ε |x0 |61 0 |x0 |61 0
Mantendo ε fixo e fazendo j → ∞, segue pelo teorema de Fubini e do fato de uj → u em W 1,p (Q+ ) que
Z Z ε Z Z ε
1
|u(x0 , xn )| dx0 dxn 6 |∂n uj | dx0 dxn .
ε |x0 |61 0 0
|x |61 0
Agora, fazendo ε → 0, como u ∈ C(Q+ ), obtemos pelo teorema do valor médio para integrais que
Z
|u(x0 , 0)| dx0 = 0,
|x0 |61
e portanto u = 0 em Q0 . ¥
por definição da norma dos espaços de Sobolev. Veremos nesta seção os outros valores de q para os quais a
imersão
W01,p (Ω) ,→ Lq (Ω)
é contı́nua.
Prova: Como por definição C0∞ (Ω) é denso em W01,p (Ω), basta provar o resultado acima para funções
u ∈ C01 (Ω). De fato, se o resultado é válido para tais funções, dada u ∈ W01,p (Ω), podemos tomar uma
seqüência {uk } ⊂ C0∞ (Ω) tal que uk → u em W01,p (Ω); aplicando o resultado a uk − ul , obtemos
kuk − ul kLp∗ (Ω) 6 C k∇uk − ∇ul kLp (Ω) 6 C kuk − ul kW 1,p (Ω) ,
0
Rodney Josué Biezuner 112
∗ ∗
o que prova que {uk } também é uma seqüência de Cauchy em Lp (Ω) e portanto uk → u em Lp (Ω). Daı́
segue que a desigualdade é válida para todo u ∈ W01,p (Ω).
Caso p = 1.
Como u tem suporte compacto, para cada i = 1, ..., n nós temos
Z xi
∂u
u(x) = (x1 , ..., xi−1 , yi , xi+1 , ..., xn ) dyi ,
−∞ ∂xi
logo Z ∞
|u(x)| 6 |∇u| dyi ,
−∞
de modo que
n µZ
Y ∞ ¶ n−1
1
n
|u(x)| n−1 6 |∇u| dyi .
i=1 −∞
Esta desigualdade é agora integrada sucessivamente em cada uma das variáveis x1 , ..., xn e a desigualdade
de Hölder generalizada ¯Z ¯
¯ ¯
¯ f1 . . . fm ¯ 6 kf1 k p1
¯ ¯ L (Ω) . . . kfm kLpm (Ω)
Ω
onde
1 1
+ ... + =1
p1 pm
é aplicada depois de cada integração para m = p1 = ... = pm = n − 1. Assim, integrando na primeira variável
x1 , nós obtemos
Z ∞ Z ∞ n µZ
Y ∞ ¶ n−1
1
n
|u(x)| n−1 dx1 6 |∇u| dyi dx1
−∞ −∞ i=1 −∞
µZ ∞ ¶ n−1
1 Z ∞ n µZ
Y ∞ ¶ n−1
1
6 |∇u| dx1 dx2 |∇u| dy1 dx2 |∇u| dx1 dx2 dyi .
−∞ −∞ −∞ −∞ i=3 −∞ −∞ −∞
donde
kukL n−1
n 6 k∇ukL1 ,
que é a desigualdade de Sobolev para p = 1.
Caso 1 < p < n.
O caso geral pode ser obtido usando a desigualdade acima para p = 1 substituindo u por uma potência
de |u| e usando a desigualdade de Hölder. Com efeito, se γ > 1, temos
µZ ¶ n−1 Z Z
n n ° °
|u|γ−1 |∇u| dx 6 γ °|u|γ−1 °
γ n−1
|u| dx 6 |∇(|u|γ )| dx = γ p k∇ukLp .
Rn Rn Rn L p−1
uλ (x) = u(λx).
Nós temos
µZ ¶1/q µ Z ¶1/q
q −n q
kuλ kLq (Rn ) = |u(λx)| dx = λ |u(y)| dy = λ−n/q kukLq (Rn ) ,
Rn Rn
µZ ¶1/p µ Z ¶1/p
p p
k∇uλ kLp (Rn ) = |λ∇u(λx)| dx = λp−n |∇u(y)| dy = λ1−n/p k∇ukLp (Rn ) .
Rn Rn
para todo 1 6 q 6 p∗ .
Rodney Josué Biezuner 114
∗
Prova: Como Ω é limitado, pela desigualdade de Hölder vale a imersão contı́nua Lp (Ω) ,→ Lq (Ω) para
qualquer 1 6 q 6 p∗ . Compondo esta imersão com a imersão contı́nua do corolário anterior, obtemos o
resultado desejado. ¥
8.25 Corolário. (Desigualdade de Poincaré) Seja Ω ⊂ Rn um aberto limitado. Então existe uma constante
C = C(n, Ω) tal que para todo u ∈ W01,2 (Ω) nós temos
Consequentemente, a norma
kuk0 := k∇ukL2 (Ω)
é uma norma equivalente em W01,2 (Ω) e este é um espaço de Hilbert sob o produto interno
Z
hu, vi0 := h∇u, ∇vi .
Ω
∗
Prova: Segue da desigualdade de Gagliardo-Nirenberg-Sobolev e da imersão contı́nua L2 (Ω) ,→ L2 (Ω). ¥
W01,p (Ω) ,→
→ Lq (Ω),
para todo 1 6 q 6 p∗ . É suficiente estabelecer o caso q = 1, pois o caso geral segue deste através de um
argumento de interpolação: se 1 < q < p∗ , podemos escrever
λ 1−λ
kukLq (Ω) 6 kukL1 (Ω) kukLp∗ (Ω) ,
1 1−λ
onde λ é definido por =λ+ , logo
q p∗
λ 1−λ
kukLq (Ω) 6 kukL1 (Ω) kukW 1,p (Ω) ;
0
assim, se (um ) é uma seqüência limitada em W01,p (Ω) que possui uma subseqüência de Cauchy em L1 (Ω),
segue desta desigualdade que a subseqüência é de Cauchy também em Lq (Ω).
Vamos provar o caso q = 1. Seja (um ) uma seqüência limitada em W01,p (Ω), e para cada ε > 0 considere
a seqüência (uεm ), onde uεm = [um ]ε é a regularização de um . Afirmamos que para cada ε > 0 a seqüência
(uεm ) é uniformemente limitada e eqüicontı́nua. De fato,
¯ Z µ ¶ ¯ Z µ ¶
¯1 x−y ¯ 1 C
ε ¯ ¯
|um (x)| = ¯ n ϕ u(y) dy ¯ 6 ϕ(z) |um (x − εz)| dz 6 n max ϕ kum kL1 (Ω) 6 n ,
¯ ε Bε (x) ε ¯ B1 (0) ε B1 (0) ε
Rodney Josué Biezuner 115
pois, como Ω é limitado, vale a imersão contı́nua Lp (Ω) ,→ L1 (Ω) e (um ) é portanto uma seqüência limitada
em L1 (Ω), também. Isso prova que (uεm ) é uniformemente limitada. Analogamente,
¯ µ ¶ ¯
¯ 1 1Z x−y ¯ 1Z
ε ¯ ¯
|∇um (x)| = ¯ n ∇ϕ u(y) dy ¯ 6 |∇ϕ(z)| |um (x − εz)| dz
¯ ε ε Bε (x) ε ¯ ε B1 (0)
µ ¶
1 C
6 n+1 max |∇ϕ| kum kL1 (Ω) 6 n+1 ,
ε B1 (0) ε
e segue do Teorema do Valor Médio que (uεm ) é eqüicontı́nua. Portanto, concluı́mos do Teorema de Arzelá-
Ascoli que uma subseqüência de uεm é uma seqüência de Cauchy em C 0 (Ω) e, portanto, em L1 (Ω).
Agora, pelo Lema 8.8, sabemos que uεm → um em L1 (Ω) quando ε → 0. Afirmamos que no nosso caso,
mais que isso, esta convergência é uniforme em m. Com efeito,
¯ Z µ ¶ ¯
¯1 x−y ¯
ε ¯ ¯
|um (x) − um (x)| = ¯ n ϕ [u(y) − u(x)] dy ¯
¯ ε Bε (x) ε ¯
Z
6 ϕ(z) |um (x − εz) − um (x)| dz
B1 (0)
Z Z 1 ¯ ¯
¯ dum ¯
6 ϕ(z) ¯ ¯
¯ dt (x − εzt)¯ dt dz
B1 (0) 0
Z Z 1
6ε ϕ(z) |∇um (x − εzt)| |z| dt dz,
B1 (0) 0
Logo, para cada δ > 0 existe εδ > 0 suficientemente pequeno tal que
δ
kuεmδ − um kL1 (Ω) < .
2
para todo m. Para este εδ existe uma subseqüência (uεmδj ) de Cauchy em L1 (Ω); pela desigualdade triangular
° ° ° ° ° °
kumk − uml kL1 (Ω) 6 °uεmδk − umk °L1 (Ω) + °uεmδk − uεmδl °L1 (Ω) + °uεmδl − uml °L1 (Ω)
segue que
lim sup kumk − uml kL1 (Ω) 6 δ.
k,l→∞
8.27 Corolário. (Teorema de Rellich–Kondrakhov) Seja Ω ⊂ Rn um aberto limitado. Para todo p > 1 vale
W01,p (Ω) ,→
→ Lp (Ω).
8.28 Exemplo. (Perda de Compacidade no Expoente Crı́tico) Seja Ω um aberto qualquer de Rn e tome
uma função não nula φ ∈ C0∞ (B1 (0)). Seja {am } uma seqüência de pontos distintos de Ω tais que
am → x0 ∈ Ω. Seja 0 < rm < 1 uma seqüência de números positivos tais que Brm (am ) ⊂ Ω e todas
as bolas Brm (am ) são mutualmente disjuntas; em particular, devemos ter rm → 0. Definimos então
funções um ∈ C0∞ (Brm (am )) por
µ ¶
− n−p x − am
um (x) = rm p φ .
rm
Note que um → 0 exceto em x0 , e que um (x0 ) → ∞. Esta é exatamente a mudança de escala sob a
qual as normas k·kLp∗ e k∇(·)kLp são invariantes, isto é,
e
· Z ¯ µ ¶¯p ¸1/p " Z #1/p
¯ −1 ¯
k∇um kLp (Ω) = −n+p
rm ¯rm ∇φ x − am ¯ dx −n
= rm
p n
|∇φ(y)| rm dy = k∇φkLp (Ω) ,
¯ rm ¯
Ω B1 (0)
Segue, em particular, que a seqüência (um ) é limitada em W01.p (Ω). Pelo Teorema de Rellich–
Kondrachov, nós temos que um → u em Lp (Ω). E, de fato, nós podemos calcular explicitamente
· Z ¯ µ ¶¯p ¸1/p " Z #1/p
¯ x − a m ¯
kum kLp (Ω) = −n+p
rm ¯φ ¯ dx = r −n+p p n
|φ(y)| rm dy = rm kφkLp (Ω) ,
¯ rm ¯ m
Ω B1 (0)
de modo que um → 0 em Lp (Ω). Por outro lado, como as funções um tem suportes disjuntos, para
todos inteiros k, l nós temos
³ ´1/p∗
p∗ p∗ ∗
kuk − ul kLp∗ (Ω) = kuk kLp∗ (Ω) + kuk kLp∗ (Ω) = 21/p kφkLp∗ (B1 (0)) ,
∗
portanto (um ) não possui nenhuma subseqüência de Cauchy em Lp (Ω). ¤
Rodney Josué Biezuner 117
para p 6 q < p∗ não são compactas, como o contraexemplo a seguir ilustra. Existem, no entanto, certos
domı́nios ilimitados de Rn para os quais a imersão
para nenhum q. De fato, tomando uma função não nula φ ∈ C0∞ (BR (x1 )), defina um como sendo a
translação de φ com suporte compacto em BR (xm ). Como
a seqüência (um ) é limitada em W0k,p (Ω), mas para qualquer q > 1 e para quaisquer inteiros k, l, nós
temos ³ ´1/q
q q
kuk − ul kLq (Ω) = kuk kLq (Ω) + kuk kLq (Ω) = 21/q kφkLq (Ω) .
8.30 Definição. Seja f ∈ L2 (Ω) e g ∈ W 1,2 (Ω). Dizemos que u ∈ W 1,2 (Ω) é uma solução fraca para o
problema de Dirichlet ½
−∆u = f em Ω,
(8.12)
u=g sobre ∂Ω,
se Z Z
∇u · ∇v = f v para todo v ∈ W01,2 (Ω)
Ω Ω
e
u − g ∈ W01,2 (Ω) .
Se os dados do problema de Dirichlet (8.12) são suficientemente regulares e a solução fraca também é
suficientemente regular, então ela é uma solução clássica:
8.31 Proposição.
¡ ¢ (Soluções Fracas Regulares são Soluções¡Clássicas)
¢ Sejam f ∈ C 0 (Ω) e g ∈ W01,2 (Ω) ∩
0 2 0
C Ω . Se existir uma solução fraca u ∈ C (Ω) ∩ C Ω para o problema
½
−∆u = f em Ω,
u=g sobre ∂Ω,
Prova: Pela Primeira Identidade de Green, para todo v ∈ C0∞ (Ω) temos
Z Z Z Z
∂u
∇u · ∇v = v− (∆u) v = − (∆u) v.
Ω ∂Ω ∂ν Ω Ω
8.32 Proposição. (Unicidade da Solução Fraca) Sejam f ∈ L2 (Ω) e g ∈ W 1,2 (Ω). Se existir uma solução
fraca para o problema ½
−∆u = f em Ω,
u=g sobre ∂Ω,
então ela é única.
Prova: O resultado segue imediatamente da estabilidade fraca da equação de Poisson, isto é, se u1 , u2 ∈
W 1,2 (Ω) satisfazem
−∆u1 = f1 , − ∆u2 = f2 em Ω
para f1 , f2 ∈ L2 (Ω), e
u1 − u2 ∈ W01,2 (Ω) ,
então existe uma constante C = C (n, Ω) tal que
De fato, temos Z Z
∇ (u1 − u2 ) · ∇v = (f1 − f2 ) v,
Ω Ω
para todo v ∈ W01,2 (Ω), em particular para v = u1 − u2 . Portanto segue da desigualdade de Poincaré que
Z
2 2
k∇u1 − ∇u2 kL2 (Ω) = |∇ (u1 − u2 )|
Ω
Z
= (f1 − f2 ) (u1 − u2 )
Ω
6 kf1 − f2 kL2 (Ω) ku1 − u2 kL2 (Ω)
6 C kf1 − f2 kL2 (Ω) k∇u1 − ∇u2 kL2 (Ω) ,
donde
k∇u1 − ∇u2 kL2 (Ω) 6 C kf1 − f2 kL2 (Ω) .
Novamente usando a desigualdade de Poincaré, isso é suficiente para estabelecer (8.13). ¥
A existência de uma única solução fraca para o problema de Dirichlet homogêneo é uma consequência
imediata do teorema de representação de Riesz:
Rodney Josué Biezuner 119
8.33 Teorema. (Problema de Dirichlet Homogêneo) Seja f ∈ L2 (Ω). Então existe uma única solução fraca
u ∈ W01,2 (Ω) para o problema ½
−∆u = f em Ω,
(8.14)
u=0 sobre ∂Ω.
Prova: De acordo com o Corolário 8.25, a existência de uma única solução fraca u ∈ W01,2 (Ω) para o
problema de Dirichlet homogêneo é equivalente à existência de um único vetor u ∈ W01,2 (Ω) tal que
|F (v)| 6 kf kL2 (Ω) kvkL2 (Ω) 6 kf kL2 (Ω) kvkW 1,2 (Ω) .
0
Portanto, o resultado segue imediatamente do teorema de representação de Riesz para espaços de Hilbert.
¥
Para o caso geral, usaremos o princı́pio de Dirichlet:
8.34 Teorema. (Existência da Solução Fraca) Sejam f ∈ L2 (Ω) e g ∈ W 1,2 (Ω). Então existe uma única
solução fraca u ∈ W 1,2 (Ω) para o problema
½
−∆u = f em Ω,
(8.15)
u=g sobre ∂Ω.
Prova: Vamos primeiro provar a existência de uma função u ∈ W 1,2 (Ω) que minimiza o funcional I : E → R
Z Z
1 2
I (v) = |∇v| dx − f v,
2 Ω Ω
n o
onde E = v ∈ W 1,2 (Ω) : v − g ∈ W01,2 (Ω) é o espaço de funções admissı́veis para (8.15), isto é, a existência
de u ∈ E tal que µ Z Z ¶
1 2
I (u) = min |∇v| dx − fv .
v∈E 2 Ω Ω
Pela desigualdade de Poincaré, o funcional I é limitado por baixo, pois
Z Z
1 2
I (v) = k∇vkL2 (Ω) − f (v − g) − fg
2 Ω Ω
Z
1 2
> k∇vkL2 (Ω) − kf kL2 (Ω) k(v − g)kL2 (Ω) − fg
2 Ω
Z
1 2
> k∇vkL2 (Ω) − C kf kL2 (Ω) k∇ (v − g)kL2 (Ω) − fg
2 Ω
Z
1 2
> k∇vkL2 (Ω) − C kf kL2 (Ω) k∇vkL2 (Ω) − C kf kL2 (Ω) k∇gkL2 (Ω) − f g,
2 Ω
t2
e a função real h (t) = − at + b é limitada por baixo para t ∈ R, quaisquer que sejam os valores de a, b ∈ R.
2
Podemos então definir
I0 = inf I (u) .
v∈E
Rodney Josué Biezuner 120
−∆u = λu em Ω
admite soluções não triviais, com alguma condição de fronteira imposta sobre u. Consideraremos o problema
de autovalor com condição de Dirichlet
½
−∆u = λu em Ω,
u=0 sobre ∂Ω.
Este problema pode ser formulado fracamente da seguinte forma: dizemos que λ é um autovalor do laplaciano
com condição de Dirichlet e u ∈ W01,2 (Ω) é uma autofunção correspondente se
Z Z
∇u · ∇v = λ uv para todo v ∈ W01,2 (Ω) .
Ω Ω
Em particular, Z Z
2
|∇u| = λ u2 ,
Ω Ω
de modo que todos os autovalores do laplaciano com condição de Dirichlet são positivos (se λ = 0, pela
Proposição 8.32, a única solução do problema é a solução nula).
0 < λ 1 6 λ2 6 . . . 6 λk 6 . . .
tais que
λk → ∞,
e autofunções {uk } que constituem um sistema ortonormal completo para L2 (Ω), isto é,
∞
X
v= αi ui
i=1
Prova: Pelo Teorema 8.33, o operador laplaciano (−∆) : W01,2 (Ω) −→ L2 (Ω) é um operador bijetivo, en-
−1
quanto que pela Proposição 8.32 a sua inversa é limitada. Considere o operador inverso (−∆) : L2 (Ω) −→
1,2 1,2 2
W0 (Ω). Usando a imersão compacta W0 (Ω) ,→ → L (Ω), podemos considerar o operador inverso como
−1 −1
um operador compacto (−∆) : L2 (Ω) −→ L2 (Ω). Além disso, (−∆) é um operador autoadjunto. Com
−1 −1
efeito, se u = (−∆) (f ) e v = (−∆) (g), ou seja, se −∆u = f e −∆v = g, em particular
Daı́,
D E D E
−1 −1
(−∆) (f ) , g = hu, giL2 (Ω) = h∇u, ∇viL2 (Ω) = hf, viL2 (Ω) = f, (−∆) (g) .
L2 (Ω) L2 (Ω)
123