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A BISSEXUALIDADE FEMININA:
DA DISCRIMINAÇÃO AO PROCESSO DE
ACEITAÇÃO SOCIAL
A BISSEXUALIDADE FEMININA:
DA DISCRIMINAÇÃO AO PROCESSO DE
ACEITAÇÃO SOCIAL
Monografia apresentada ao
curso de graduação em
Psicologia do Centro
Universitário Hermínio da
Silveira – Uni-IBMR, como
requisito para obtenção do
grau.
RIO DE JANEIRO - RJ
JULHO, 2008
A bissexualidade feminina: da discriminação ao processo de aceitação social -ii-
RIO DE JANEIRO – RJ
JULHO DE 2008
A bissexualidade feminina: da discriminação ao processo de aceitação social -iii-
Ficha
seus princípios e valores, essenciais a uma vida digna, por terem me apoiado no
perder a confiança.
gratificante. Muitas vezes pensei que não iria suportar, mas, graças ao apoio de
Agradecimentos
construtivas ao longo deste último ano. A Renata Viegas, que me auxiliou sempre
que eu necessitava, neste trabalho e nos demais aspectos. Uma amiga que me
incentivou e orientou sem a obrigação de assim o fazer e sem pedir nada em troca.
Seu carinho e sua atenção foram contínuos e muito importantes. Muito obrigada a
todos!!!
A bissexualidade feminina: da discriminação ao processo de aceitação social -vi-
RESUMO
Através desta monografia procurou-se apresentar a evolução histórica da
sexualidade para entender como a bissexualidade feminina se apresenta na
atualidade. Partindo do princípio de que a sexualidade é formada pelos aspectos
biológicos, pela identidade sexual, pelo papel sócio-sexual e pela orientação sexual,
além das formas de vida social e seus atuais costumes, foram pesquisados todos
esses pontos a fim de entender o momento histórico vigente. O contexto sócio-
histórico e cultural particular de cada época e a comparação entre elas fizeram parte
da elaboração teórica deste trabalho. Assim, foi possível compreender o
comportamento sexual feminino, verificando algumas semelhanças e explicando
determinadas divergências.
Sumário
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1
CAPÍTULO 1) A SEXUALIDADE E SUA DIMENSÃO HISTÓRICA ........................... 4
1.1) Da Pré-história à Idade Antiga ...................................................... 4
Introdução
O objetivo deste trabalho foi mostrar como a sexualidade feminina passou por
várias modificações durante gerações, sendo submetida a diversas situações
reforçadoras relacionadas a diferentes padrões de comportamentos e formas de
relacionamentos afetivos e sexuais, que interferiram e continuam a interferir na
subjetividade feminina e nos vínculos homem-mulher e mulher-mulher (Mayor, 2001).
No capítulo 2, foi feita uma abordagem de oito teóricos que dedicaram parte de
seus estudos à sexualidade, como o psiquiatra Magnus Hirschfeld e a fundação do
Instituto de Ciência Sexual, influenciando o movimento de reforma sexual, difundido por
todo o mundo.
Os trabalhos de Freud, Kinsey, Masters, Johnson, Kaplan, Hite e Foucault
também foram abordados. Na época, as obras de Freud causaram grande impacto. O
autor definiu sexualidade como toda atividade que proporcione prazer, e não somente
as atividades referentes ao sexo genital, sendo de extrema importância a diferenciação
entre sexo e sexualidade.
Uma abordagem sócio-histórica será fornecida por Foucault, que assinala o fato
da cultura ocidental ter submetido a sexualidade à uma ciência sexual, ao invés da arte
erótica dominante na Antigüidade Clássica.
O desejo por uma sexualidade sem rótulos, último tema proposto nesse
trabalho, visa uma reflexão sobre contatos corporais, tais como apertos de mão, beijos,
abraços, carícias e confidências, que independem da orientação sexual, pois são
componentes normais que fazem parte da sexualidade do ser humano. Os indivíduos
precisam superar as dificuldades a fim de viver plenamente seus desejos e
relacionamentos.
4
observa-se, por exemplo, que a subjugação feminina não é fato marcante em todas as
épocas e sociedades.
Segundo Harrison (em Highwater, 1992), que realizou estudos sobre a mitologia
pré-helênica, antecessora da mitologia grega, a deusa Gaia foi a genitora dos deuses
gregos, que a baniram do Olimpo. O conceito de uma divindade masculina é
considerado uma invenção de 2500 a.C., com a chegada de Zeus e, em 1800 a.C., com
Abraão. Assim, a Idade Antiga, ou Antigüidade Clássica, tem seu início no ano de 5000
a.C., durando até 476 d.C.
metade, onde cada metade sai em busca de sua outra metade, abraçando-se na
tentativa de recuperar a natureza anterior (Ranke-Heinemann, 1996).
Seguindo a mitologia grega, Eros, o deus do amor, era uma divindade que
inspirava a natureza e a humanidade. No entanto, a partir da civilização judaico-cristã
helênica, somente o amor não-sexual foi valorizado. O termo ‘erótico’, que surgiu após
o Cristianismo, só possui ligação com o deus Eros em sua semântica, e o deus passou
a ser conhecido como o cupido e assexuado.
Apesar do sexo ainda ser visto com naturalidade, sem a condição de pecado,
ele visava somente a procriação, que era a razão básica para o intercurso sexual
(Schiavo, 2004). Conforme Kosnik et al (em Araújo, 1997), algumas interpretações do
Antigo Testamento demonstram que a sexualidade era desejada por Deus, tendo o sexo
um aspecto amplo, constituinte da vida humana, não devendo ser um assunto nem
dominante, nem desprezado.
antinatural, pois o homem deve unir-se somente à mulher e esta ao homem (Ranke-
Heinemann, 1996).
Eisler (1996) afirma que o objetivo inicial da Igreja Católica era erradicar
vestígios de uma religião ocidental antiga, anterior ao Judaísmo, ao Cristianismo e ao
Islamismo. Tal religião glorificava e idolatrava uma divindade feminina. A Igreja Católica
afirmou que práticas sexuais imorais eram realizadas nesse tipo de seita, o que foi
usado nas perseguições violentas aos hereges:
Assim, a sexualidade foi maculada pelo pecado, o Deus Touro, ou Urano, filho e
consorte da Deusa, tornou-se o diabo, e o sexo se tornou fonte do pecado. Os males
sexuais e a dominação masculina já existiam antes da Igreja, o que ela fez foi associá-
los e condenar o prazer sexual, como os fez São Paulo e Santo Agostinho (Eisler,
1996).
A queda do Império Romano, em 476, dá início a Idade Média, que dura até a
queda de Constantinopla, em 1453. No período inicial, conhecido como Idade das
Trevas, os escribas monásticos controlavam o que era escrito e o que poderia ser lido,
elaborando e difundindo ensinamentos anti-sexuais rígidos. Eles desvalorizaram o sexo
e criaram regras até para as posições coitais (Araújo, 1999). Assim, a Igreja continuou
seu domínio religioso e social, com maior poder coercivo sobre a sociedade.
severamente (Eisler, 1996). Segundo o manual, toda a feitiçaria tem origem da luxúria
carnal feminina insaciável (Highwater, 1992). A Igreja desprezava as mulheres e os
poucos eclesiásticos simpáticos que as ignoravam, começaram também a acusá-las.
De acordo com Araújo (1997), no século XIV, Lutero, padre católico que
reconhecia o impulso sexual, era contra o celibato de freiras, a ilegitimidade dos filhos
dos padres e a indissolubilidade do casamento, e por ser contra, liderou a reforma
protestante. A Igreja Católica, em resposta a Lutero, promoveu o Concílio de Trento,
que ficou conhecido como a Contra-Reforma (Araújo, 1999). A queda de algumas
12
Sussman (em Araújo, 1997) afirma que entre os séculos XVII e XVIII as
contribuições científicas influenciaram a redefinição da sexualidade. Se na Antigüidade
Clássica a vida social era mais importante, com as casas e o psiquismo abertos à
sociedade, agora a modernização provocou uma intimização das emoções, com o sexo
passando para o domínio privado.
Segundo Tannahill (em Araújo, 1999), a mulher passa a reivindicar seu lugar na
sociedade como cidadã, e não somente como esposa, exigindo seus direitos ao prazer
sexual. A moda, anteriormente recatada, e escondendo maior parte do corpo, passa a
dar ênfase às saias curtas, cabelos curtos, filmes com ideais femininos, influenciando
grande parte dos costumes, e a liberdade sexual feminina passa a ser maior (Araújo,
1999).
“... questões que antes não eram consideradas políticas têm de se tornar
políticas para que as renegociações de poder possam ser bem-sucedidas.
Ainda é uma política por se fazer, apenas começando a se compor, com
recuos e avanços” (Eisler, 1996, pp. 446-447).
Eisler (1996) aponta que as pessoas solicitam que o ensino religioso faça parte
do currículo escolar, mas recriminam a inclusão da educação sexual. As publicações de
livros e artigos sobre como as mulheres podem obter mais satisfação sexual e
emocional em seus relacionamentos cresceram consideravelmente, assim como a
necessidade de estudar os tabus, os valores, o ser humano social e seus papéis
sociossexuais para caminhar em direção a uma sexualidade plena, na qual os
indivíduos respeitam as suas próprias opções e as dos demais (Araújo, 1999).
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tribadista1, sem perceber o mal psicológico que pode estar causar com este
comportamento (Gonçalves, 1999).
Assim sendo, a sexualidade humana sempre existiu. O que demorou a ter início
foi o estudo sobre ela. Segundo Baptista (1998), o interesse crescente nesta área faz
com que o número de novos e interessantes trabalhos aumente. As preocupações
sempre vão diferir com o passar dos tempos, com novas ideologias sexuais, novo clima
social e nova filosofia terapêutica e educacional. Contudo, alguns valores voltam a ser
questionados, suscitando uma modificação de atitude anti-sexual para pró-sexual, do
preconceito à aceitação, comportamentos que promovem a emancipação sexual em
algumas camadas sociais (Araújo, 1997).
1
forma de praticar o ato sexual lésbico, roçando ou esfregando a sua genitália na da parceira,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tribadismo.
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Essa etapa mostra a realidade cultural à criança, onde os pais não são sua
propriedade, além dos cuidados infantis, eles têm compromissos outros, como trabalho
e amigos. A menina percebe que a mãe pertence ao pai, o que causa ciúmes e
sentimentos hostis por essa mãe. Esses sentimentos são contraditórios, já que a
criança também a ama. Essa identificação da criança por um dos pais é que acarretará
a sua futura escolha sexual.
0) Exclusivamente heterossexual.
1) Reações e experiências quase totalmente heterossexuais, ainda que
circunstancialmente possa se relacionar com o mesmo sexo.
2) Preponderância de reação heterossexual, ainda que responda a estímulos
homossexuais e tenha experiências homossexuais, mais que ocasionais.
3) Bissexual em sua atitude.
4) Reage mais a estímulos homossexuais que a heterossexuais.
5) Quase totalmente homossexual em sua reação psicológica e, na prática, com
contatos heterossexuais muito ocasionais.
6) Exclusivamente homossexual ([Snd], nº 38, 1995).
“Kinsey ressaltou que a maioria das pessoas deseja dar vazão à sua
sexualidade de muitas maneiras, que virtualmente todas as pessoas têm
algum comportamento sexual que é de algum modo condenado pela
sociedade ou talvez até pela lei” (Goldenson e Anderson, 1990, p. 200).
Leiblum e Pervin (em Baptista, 1998) criticaram Kinsey pela sua tolerância e
rejeição à dicotomia normal-anormal no comportamento humano. Afirmaram que Kinsey
percebia todo comportamento sexual como parte de um mesmo contínuo, sem
considerar as diferenças existentes na natureza feminino-masculino.
Com esses estudos, Masters e Johnson propuseram uma terapia sexual focal e
formularam a descrição do ciclo de respostas sexuais humanas, que ficou conhecido
como Modelo Quadrifásico, dividido em Fase do Excitamento, Fase Plateau, Fase
Orgásmica e Fase de Resolução. Mesmo assim, os pesquisadores consideraram um
estudo limitado (Baptista, 1998). Os resultados serviram para entender os tipos de
resposta sexual, mas a variação individual na duração e na intensidade de cada
resposta fisiológica específica à estimulação sexual é inegável, além de questões éticas
envolvidas nesse tipo de pesquisa.
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A palavra sexo possui duas definições: uma que distingue o macho da fêmea,
nos animais; e a outra como sinônimo de relação sexual. A primeira definição será
utilizada no início deste capítulo, enquanto a ultima definição, que será utilizada no
capítulo 4, engloba uma das motivações humanas básicas, fisicamente sentidas com
maior intensidade e completude, mais do que quaisquer outras relações pessoais
(Schiavo, 2004).
certos atos e temas, tidos como impuros e que não podem ser violados, sob pena de
repressão e perseguição social. O próprio sexo é um tabu.
Assim, a cultura ocidental não consegue lidar com esse importante aspecto da
vida e cria modelos estanques onde os indivíduos devem ser encaixados e
classificados. A maioria desses modelos é baseada no preconceito e na falta de
informação, não permitindo que o ser humano seja exatamente aquilo que quer, deseja
e poderia ser (Eisler, 1996).
Acolher o desejo não significa ceder a um impulso, e sim dar tempo, analisar e
transformá-lo em uma auto-descoberta. O desejo pode ser bom ou mau, ou, bom e
mau, sem maniqueísmo, tudo irá depender da reflexão para o auto-conhecimento.
Dessa forma, é percebido que sexo e sexualidade não são sinônimos, apesar
de, muitas vezes, serem tidos como tal. A sexualidade engloba o sexo, assim como
todos os tipos de sexualidade, mas não se reduz a nenhuma destas definições
isoladamente.
outro (Pamplona-Costa, 1994). O ser mulher, bem como o ser homem, só inicia com o
reconhecimento de si mesmo ou a formação da identidade pessoal, passo inicial da
estruturação da personalidade (Baptista, 1998).
Segundo Silva (1999), a diferenciação genital ocorre com a ação dos hormônios
na organização cerebral, em um ritmo funcional do sistema hipotalâmico-hipofisário,
cíclico na mulher, e tônico no homem. O hipotálamo controla a hipófise, que estimula os
ovários ou os testículos na produção de hormônios sexuais respectivos de cada sexo.
O hipotálamo tem sua própria organização, ficando em repouso durante a infância e
sendo ativado na puberdade, quando ditará o ritmo ovariano ou testicular. Colombino
(em Costa, 2000) denomina esta etapa de sexo hipotalâmico, e afirma que o ritmo
funcional determinará a conduta sexual.
Canella e Nowak (em Costa, 2000) se referem ao sexo somático, definido pelos
genitais internos e externos e caracteres sexuais secundários. Colombino (em Costa,
2000) menciona ainda o sexo ósseo, estabelecido por radiografias, o sexo cromatínico,
determinado pelos corpúsculos de Barr das células femininas, o sexo hormonal,
definido pelos andrógenos no homem e pelos estrógenos na mulher, e o sexo gamético,
como sendo aquele que contribui para a produção de espermatozóides e óvulos.
Desde a infância, a mãe educa sua filha com brincadeiras de casinha para que
ela aprenda como deve portar-se no futuro: casar, ser esposa e ser mãe. Deste modo, a
sexualidade começa a ser introjetada na construção da identidade e do papel sexual,
com os fatores biológicos, sócio-culturais e psicológicos interatuando (Baptista, 1998).
que provêm do contato afetivo e emocional com seus pais, principalmente, após o
nascimento. Esse contato inicial pode auxiliar ou prejudicar a pessoa em seu processo
sócio-evolutivo. A auto-imagem construída nessa etapa contribuirá no desenvolvimento
da identidade pessoal e de gênero.
Assim, uma menina que goste de lutar e não de desenhar, mais agressiva do
que afetiva, não irá preferir, necessariamente, relações sexuais com mulheres. Um
meio social sem muitas críticas, uma família que demonstre amor e não verbalize estes
comportamentos como masculinos, fazem com que o desenvolvimento seja um pouco
diferente da maioria, mas não abalam a crença básica de que é mulher (Silva, 1999).
“Se essa atração ocorrer por alguém de sexo igual ao seu - será uma
atração homossexual, se a atração sexual for por alguém de sexo diferente
do seu - será uma atração heterossexual, ou ainda se a atração sexual
ocorrer tanto pelo sexo feminino como pelo masculino - será uma atração
bissexual” (http://www.topgyn.com.br/conso36a/conso36a29.htm).
O indivíduo pode ter uma orientação assexual, não sentindo nenhuma atração
sexual, heterossexual, homossexual, bissexual ou, até mesmo, pansexual2. O fato de
nascer homem ou mulher não define, isoladamente, a vida sexual. A mulher bissexual
ou homossexual não tem problema na relação corpo-identidade. Ela possui uma
identidade sexual formada e gosta de suas características anatômicas e não deseja
alterá-las (Gavranic, http://www1.uol.com.br/vyaestelar/bissexualidade.htm).
Para Mott (1999), as dúvidas entre o que se sente e o que a sociedade diz ser o
correto sentir são muitas nessa fase. O jovem costuma testar suas potencialidades e os
diversos caminhos que pode seguir. Segundo Schiavo (2004), as meninas se
aproximam de outras meninas, a companhia de uma amiga do mesmo sexo é mais
2
mistura de homossexualidade, transgênero e bissexualidade, dependendo das oportunidades existentes.
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Para cada discurso sobre o sexo, seja médico, político, religioso, pedagógico ou
popular, existe um valor que está acima dos demais, e é através dele que os
julgamentos são regulados. O casal heterossexual, monogâmico e procriativo, e o sexo
considerado saudável e natural estão no topo dessa hierarquia. No extremo oposto,
estão os considerados pervertidos, praticantes de um sexo considerado doentio,
anormal, antinatural e pecaminoso (Gonçalves, 1999).
O termo homossexual foi cunhado pela médica húngara Karoly Maria Benkerr,
em 1869. Ela uniu o termo grego ‘homos’, que significa ‘o mesmo’, com o termo ‘sexus’,
do latim, que significa ‘sexo’. Apesar da homossexualidade ter sido considerada como
normal na Grécia Antiga, esse termo não existia. Desta forma, homossexualidade
significa:
Eisler (1996) pontua que um dos fatores que podem interferir na orientação
homossexual são as experiências dolorosas vividas com o sexo oposto.
Diferentemente, Simone de Beauvoir (1982) discorda, pois isso seria admitir que as
mulheres aderiram ao mito masculino, no qual existem qualidades puramente
femininas. Para as mulheres, trata-se da exigência de seus direitos sexuais.
Uma mudança real será iniciada quando a homofobia for enfrentada e quando a
sexualidade humana for entendida na sua complexa variedade, sem os obstáculos
dogmáticos que afirmam existir uma lei natural que dirige a orientação sexual. O Brasil
e os EUA são países de maiores freqüências homossexual e, inversamente, os de
maiores índices homofóbicos (Vasconcelos, 1999; Goldenson e Anderson, 1989;
Chazaud, 1978).
Não há uma única definição utilizada pelas bissexuais para si próprias. Elas se
dizem anormais, e afirmam estar vivendo em uma fase de transição. Sentem-se
incomodadas por terem de encontrar um grupo para se encaixar, e há também as que
defendem a tese do amor por indivíduos, não por pênis ou vaginas (site topgyn).
A maioria das pessoas não consegue perceber que estas mulheres buscam um
sentimento existente no ser humano, elas não dão demasiada importância ao gênero
masculino ou feminino, e sim à pessoa como um todo. E por mais este preconceito
social, as mulheres bissexuais tendem a ser afetadas em sua personalidade, sofrendo
de angústia, desgosto e depressão quando não se aceitam ou não são aceitas em seu
ambiente social e familiar.
masculino, mas não de forma romântica. O amor bissexual é, muitas vezes, apontado
como blasfêmia. Somente a fantasia erótica masculina é liberta de preconceitos
(Rodrigues Jr., 2000).
Qualquer que seja o ponto de vista escolhido, para estudar e tentar entender a
bissexualidade é preciso rever mitos e preconceitos, alheios e particulares. O desejo
não possui leis, não tem orientação sexual, esses fatores são impostos pela sociedade,
que anula a versatilidade sexual ao impor as leis heterossexuais (Gavranic,
http://www1.uol.com.br/vyaestelar/bissexualidade.htm).
bissexuais irão acontecer na vida real, nas fantasias sexuais e/ou nos sonhos eróticos
(Gavranic, http://www1.uol.com.br/vyaestelar/bissexualidade.htm).
Uma relação heterossexual, de amor intenso e significativo, pode ser vivida por
muito tempo pela mulher. No entanto, uma crise, uma separação ou uma viuvez, em
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união com a aproximação de outra mulher, pode suscitar um desejo pelo mesmo sexo
que era desconhecido até que tal situação acontecesse de fato (Gavranic,
http://www1.uol.com.br/vyaestelar/bissexualidade.htm).
~
54
“Os direitos humanos das mulheres incluem seu direito a ter controle e
decidir livre e responsavelmente sobre questões relacionadas a
sexualidade, incluindo a saúde sexual (...), livre de coação, discriminação e
violência. Relacionamentos igualitários entre homens e mulheres nas
questões referentes às relações sexuais (...), inclusive o pleno respeito
pela integridade da pessoa” (Rodrigues Jr., 2007, p. 57).
“É necessário mudar o atual paradigma social dos sexos e dar passo para
uma nova geração de homens e mulheres que lutem juntos para criar uma
ordem mundial mais humana” (Rodrigues Jr., 2007, p. 63).
Desta maneira, a pessoa passa a exercer seu papel social, de gênero e afetivo-
sexual de forma salutar. A cidadania tem seus direitos e deveres garantidos por leis e,
assim, deve ter também o direito de exercer a sua sexualidade, independente da forma
como ela irá se exteriorizar.
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Outra luta que está em evidência é a maneira como essas pessoas querem ser
denominadas. Termos como bissexualismo e homossexualismo já são considerados
pejorativos, assim como homossexualidade está sendo trocados pelo termo
homoerótico (Kautz, 1997).
Rodrigues Jr., Costa e Sessa (1990) citam que a dificuldade de adaptação dos
bissexuais é maior, pois são desprezados pelos homossexuais por sentirem atração por
pessoas do sexo oposto, e desprezados pelos heterossexuais por sentirem atração por
pessoas do mesmo sexo. Contraditoriamente, Wolff (em Rodrigues Jr., Costa e Sessa,
1990) entrevistou bissexuais e coletou dados que se referem à bissexualidade como
vantajosa em dois aspectos. Estímulo à criatividade e eles passam mais
desapercebidos que os homossexuais, constituindo uma vantagem na adaptação
social.
Considerações finais
Nathaniel Branden (em Cavalcanti, 1998) cita que o prazer, para os seres
humanos, é uma profunda necessidade psicológica. Na cultura ocidental, as restrições
dificultam a evolução adequada da sexualidade, e atributos como amizade,
comunicação, paixão, atração, amor, dentre outros, saem prejudicados (Cavalcanti,
1998).
Vale ressaltar que o modo de interferir nas relações sexuais não é encontrado
somente nas religiões ocidentais. O medo e a força são idéias fixas encontradas em
sociedades rigidamente dominadas pelos homens, como em algumas nações islâmicas.
A mutilação clitoriana continua sendo feita e é exaltada como rito religioso moralmente
necessário para o controle da sexualidade feminina (Eisler, 1996). No entanto, os
relacionamentos femininos eram considerados normais na Índia, como mostra a citação
a seguir:
“Na antiga Índia, o contato físico entre mulheres era considerado normal e
saudável. As famílias ricas costumavam escolher uma ou mais
companheiras para suas filhas entre as jovens das classes mais humildes.
Estas garotas (sakhi) viviam com elas como se fossem “irmãs” e
costumavam dormir em sua cama. Quando uma jovem da nobreza se
casava, sua sakhi se convertia em co-esposa do marido e a assistia nos
rituais eróticos” ([Snd], nº 37, 1995, p. 444, 1995).
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CARY, James Leslie Mc. Mitos e crendices sexuais. São Paulo: Manole, 1978.
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Jorge Zahar, 1990.
RODRIGUES JR., Oswaldo. M.; COSTA, Moacyr; SESSA, Sidnei R. Di. A opinião do
ginecologista sobre a homossexualidade e a bissexualidade. In Sexus: Estudo
multidisciplinar da sexualidade humana. Vol. 2, nº 3. Rio de Janeiro: Nudes, 1990.
SCHIAVO, Márcio Ruiz. Manual de orientação sexual. São Paulo: O nome da rosa,
2004.
VIEIRA, Galdino N. Amor, sexo e erotismo. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira,
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Manifesto do Grupo de Ação Lésbico Feminista de São Paulo, São Paulo: 1991.
Sites Pesquisados:
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Acesso em 13 out. 2007.
66
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Filmes:
Kinsey – Vamos falar de sexo. EUA/Alemanha, 2004.
67
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