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CAPÍTULO VI - Do Empréstimo - Seção I - Do Comodato

Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se


com a tradição do objeto.
COMODATÁRIO COMODANTE
Posse direta da coisa não fungível. Mantém o domínio (ou outro direito
correlato) ou posse indireta.
As partes propõem-se a entregar e receber um empréstimo e o tomador deve
devolver o que foi recebido.

CARACTERÍSTICAS

unilateral, Somente o comodatário contrai


obrigações: zelar pela coisa e restituí-la
ao final do contrato (deve restituir a
gratuito;
mesma coisa que lhe foi emprestada).
Apesar de gratuito, o comodatário pode
responsabilizar-se pelo pagamento de
impostos, taxa e despesas de
condomínio, prestações do bem.
não solene

não exige forma (pode ser formalizado


por instrumento público ou particular,
importante quando for bem imóvel para
fins probatórios)
entrega de bem não fungível; É negócio temporário.
Bem não fungíveis móveis e imóveis e
fungíveis para fins de pompa e
ostentação, bem como bens incorpóreos
(linha telefônica, direito autoral, marca e
nome comercial), universalidades e parte
de determinado bem. Bem público
depende de autorização.
contrato real (tradição). Nossa doutrina Baseia-se em confiança, é
não reconhece a promessa de comodato. personalíssimo; é vedado o
subcomodato.

CAPACIDADE DAS PARTES


Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens
alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens
confiados à sua guarda.

Proprietário, o que detém a posse por ato jurídico (enfiteuta, usufrutuário, usuário, locatário).
O locatário necessita de autorização expressa do locador. Os tutores, curadores e
administradores necessitam de autorização especial para ceder em comodato. A restituição
de bem de menor de idade deverá ser feita na pessoa do pai ou tutor.
PRAZO

Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o


necessário para o uso concedido; não podendo o comodante, salvo
necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e
gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se
determine pelo uso outorgado.

A coisa deverá ser usada por prazo determinado, até que se cumpra a finalidade do
empréstimo e prazo presumido (não havendo prazo estipulado presume-se que seja aquele
necessário para o uso concedido).
O comodante não deve pedir a devolução antes do prazo exceto em caso de necessidade
imprevista e urgente (reconhecimento judicial).
No comodato por prazo presumido, o comodante deve notificar o comodatário para que faça
a restituição em prazo razoável. Caso a parte comodatária queira resolver o contrato antes
do prazo, se não houver disposição contratual proibitiva, deverá ser feita com aviso prévio.

DIREITOS E OBRIGAÇÕES

Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a


coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a
natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário
constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o
aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.
COMODATÁRIO COMODANTE
A essência do contrato é o uso e o gozo Não tolher o uso e gozo durante o prazo
da coisa emprestada, resta delimitar esse convencionado (obrigação de não fazer).
direito de utilização e distinguir uso de
abuso: o comodatário deve ajustar-se aos
termos do contrato ou, na falta deste,
usar a coisa segundo sua natureza e
destinação.
O comodatário só poderá tomar posse Findo o prazo do comodato, não é
dos frutos da coisa se autorizado. A apenas direito, mas também obrigação
autorização poderá ser tácita e decorrer do comodante receber a coisa em
dos usos e costumes, mas deve estar restituição. Senão, será restituído em
presente. mora, cabendo ação de consignação em
pagamento. A responsabilização pela
deterioração e perecimento se inverte,
salvo se danos ocorrentes por dolo ou
culpa.

Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do
comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do
comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso
fortuito, ou força maior.
Dever de guarda. Responde por danos,
se salvar as suas coisas em primeiro
lugar em detrimento daquelas do
comodante, mesmo em caso fortuito ou
força maior.
Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas
feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.
Em relação a vícios ocultos, o comodante
deverá responder se os conhecia e
deixou de avisar.
Responderá por dolo ou culpa grave na
hipótese de a coisa ter ocasionado
prejuízos, por ser contrato gratuito.
Não caberá a teoria dos vícios
redibitórios, por ser gratuito.
O comodatário é responsável pelas Responsabilizar-se-á por despesas
despesas com a manutenção da coisa, extraordinárias e urgentes, excedentes à
portanto não poderá cobrar pelos gastos conservação normal, gastos ordinários
ordinários, mas, apenas, pelos (necessários ao uso e gozo).
extraordinários.
O comodatário, portanto, responde se
utilizar a coisa fora de sua destinação e
finalidade, mesmo que por força maior, e
se estava em mora.
Caso consiga provar que, de qualquer
maneira, o dano ocorreria mesmo que a
coisa estive novamente com o
comodante, poderá eximir-se da culpa.

Art. 585. Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma


coisa, ficarão solidariamente responsáveis para com o comodante.
O contrato deverá ser claro quanto à vontade das partes em indicar quem será(ao) o(s)
comodatário(s) responsável(eis) diante do comodante. Se nada houver, aplica-se o artigo
em foco.

Comodato modal: o comodato admite encargo, que é uma restrição que se apõe ao
beneficiário de um negócio jurídico, ora estabelecendo um fim específico para a coisa objeto
do ato, ora impondo uma obrigação em favor do próprio instituidor, de terceiro ou de
coletividade indeterminada. Ex. fabricante empresta em comodato modal prateleiras,
refrigeradores para que comerciante venda os seus produtos. A Obrigação Modal , nos
dizeres de Maria Helena Diniz , “é a que se encontra onerada com um modo ou encargo ,
isto é , por cláusula acessória , que impõe um ônus à pessoa natural ou jurídica
contemplada pela relação creditória” . Tal encargo deve ser lícito e possível , caso contrário
poderá viciar o ato libertando a obrigação de qualquer restrição , exceto se , como leciona
Caio Mário Pereira “se apurar ter sido ele a causa determinante do negócio , caso em que
se terá a anulação do ato”.

Três são as características principais do comodato: a gratuidade do contrato, a


infungibilidade do objeto e o aperfeiçoamento com a tradição deste . Nos dizeres de Carlos
Roberto Gonçalves “a gratuidade decorre de sua própria natureza , pois confundir-se-ia com
a locação se fosse oneroso , embora já se tenha decidido que não o desnatura o fato de o
comodatário de um apartamento responsabilizar-se pelo pagamento das despesas
condominiais e dos impostos ( RT , 260:504 )” . Mesma opinião tem Washington de Barros
que diz estar a diferença entre o comodato e na locação “precisamente no caráter gracioso
do primeiro , em contraste com o pagamento de aluguel , imprescindível à caracterização do
segundo” .

Suponhamos , então o seguinte caso : A (industrial) entrega, por contrato de


comodato a B, um de seus prédios , gratuitamente , pelo prazo de 10 anos , para que este o
utilize como colégio , com o encargo de educar gratuitamente , os filhos dos empregados de
sua indústria . Pergunta-se: Havendo o encargo de educar gratuitamente , os filhos dos
empregados de A , este contrato recebe a denominação correta de Comodato ?

A característica do contrato de comodato é a sua gratuidade , pelo uso de coisa


imóvel . Se houver encargos ao comodatário , o contrato deixa de ser gratuito e passa a ser
oneroso . Sendo assim ,. no caso supracitado , havendo encargo de educar os filhos dos
empregados da indústria de A , gratuitamente , surge um ônus para o comodatário . Logo
este contrato , para a sua precisão , deve constar como inominado , que nos dizeres de
Maria Helena Diniz são aqueles “que afastam-se dos modelos legais , pois não são
disciplinados ou regulados expressamente pelo Código Civil ou por lei extravagante , mas
que são permitidos juridicamente , desde que não contrariem a lei e os bons costumes ,
ante o princípio da autonomia da vontade e a doutrina do número apertus , em que se
desenvolvem as relações contratuais” ) .

Daí questionamos , há possibilidade da existência do Comodato Modal ?

Nos dizeres de Pontes de Miranda “pode ser modal o comodato , tal como a doação”
.
Comodato modal é , pois , o empréstimo gratuito e temporário de bem infungível ,
com a obrigação do comodatário de cumprir determinados encargos . Tais encargos não
são defluentes do comodato puro , como os de uso conforme a natureza e o contrato ,
restituição no prazo etc. , mas sim encargos transcendentes à normalidade , podendo atingir
pesos elevados , sem contudo perderem o caráter da gratuidade .

O “modus” não modifica , nem vulnera a tipificação contratual , apenas lhe


acrescentando o encargo . Assim , quando empresto a alguém meu sítio para nele passar
uma temporada , com a obrigação de o beneficiado cuidar dos meus cavalos que já se
encontram , e que integram o imóvel , não se configura o “modus” . Já se o comodato foi da
floresta e se exigiu que o transporte de madeira somente se fizesse com a empresa do
comodante, ou se foi convencionado que a madeira somente fosse vendida à construtores ,
há “modus” . Da mesma maneira se faço o empréstimo de uma área de terras de cultura ,
com a obrigação do comodatário nela construir uma estrebaria , ou uma casa para o caseiro
, dentro de certo prazo , também temos um comodato com encargo .

Assim , no comodato modal a intenção do outorgante assume grande importância ,


de maneira que não visa lucro , renda , compensação ou valor correspectivo, mas ,
simplesmente , restringir o favorecimento , sem destruir o fator gratuidade .
Conseqüentemente , uma vez aceito o encargo pelo beneficiado , a este cumpre respeitá-lo
em todos os termos , sob pena do ato ser revogado .

Ação de reintegração de posse ( leitura facultativa)

O comodatário, vencido o prazo, notificado se de prazo indeterminado a permissão


em manter-se na posse de um bem, torna-se usurpador ou esbulhador a partir do ato que o
intimou para a restituição.

Demonstrados os requisitos básicos da ação, a posse injustificada do réu, ora


embargada, como demonstrado nos autos, e contrariando a vontade do autor, indica
esbulho, usurpo, cuja ocorrência retroage ao momento da indevida posse, com mudança de
título para pretenso dono.

A obrigação de restituir, do art. 397, CC: “O inadimplemento da obrigação, positiva


e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.”
Na falta de tempus, a intimação, notificação, torna-se necessária, pois trata-se de
denúncia vazia.

Os Tribunais assim decidem, também, assegurando-se ao comodatário um prazo de


30 dias para a desocupação ( analogia à lei do Inquilinato). Por tempo indeterminado, com
certeza a citação tem o efeito de constituir em mora, de interpelar, mas a concordância com
o pedido acarreta o reconhecimento do direito do comodante, extinguindo-se a ação e
arcando o comodatário com os encargos sucumbenciais, pois não se pode presumir a
intenção daquele em cessar o contrato.

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