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regional
Um Estudo sobre a pastorícia mediterrânea.
PASTOMED foi um projecto que uniu técnicos e agricultores da bacia do Mediterrâneo. Países
como Espanha, Itália, França e Portugal empreenderam, entre 2005 e 2007, um trabalho de procura
e documentação da actividade pastorícia de cada país. Em Portugal, duas foram as regiões
envolvidas: Entre Douro e Minho e Alentejo. Dois anos de trabalho revelaram uma realidade
perturbante: o desprestígio da profissão não atrai os jovens e em cerca de 20 anos a actividade pode
terminar.
No final foi redigido um memorando, onde são descritos os passos dados do projecto PASTOMED.
Desde uma contextualização do trabalho, passando pelas potencialidades da pastorícia mediterrânea
para o desenvolvimento sustentável das regiões, concluindo com a necessidade de modernização
desta actividade milenar.
En portugais
Contexto
As regiões do Sul da Europa sofrem de importantes desequilíbrios económicos e demográfi cos. Por
um lado estão os núcleos urbanos em forte crescimento e as actividades agrárias intensivas e por
outro,as zonas desfavorecidas ou em vias de despovoamento. Nestas dominam as explorações de
produção animal que valorizam, através do pastoreio, grandes áreas de recursos marginais, sejam
eles bosques, zonas de matos ou baldios.
Desde há muito consideradas como tradicionais, estas explorações de produção animal têm
evoluído no sentido de desempenharem múltiplas funções a favor do desenvolvimento dos seus
territórios : sócio-económicas (estimulando o emprego, os serviços em zonas difíceis e a
valorização dos produtos tradicionais) ; culturais (através da imagem e das ligações sociais ao meio
rural) e ; por fi m as ambientais, desempenhadas pelos rebanhos e manadas na manutenção da
paisagem, na abertura de espaços ocupados por mato, no respeito da biodiversidade, na prevenção
de catástrofes naturais (incêndios), etc.
Mas esta evolução encontra difi culdades que se prendem com problemas económicos, a pressão
imobiliária e o distanciamento cada vez maior de uma sociedade que se urbaniza (modo de vida,
salários e condições de trabalho), o que diminui a atracção pelas profi ssões ligadas ao sector,
ameaçando o futuro das explorações.
Enquadramento e objectivos
Criar uma rede de parceiros onde estão implicados não somente os criadores responsáveis pelas
organizações de agricultores,mas também os cientistas.
Conhecer o contexto regional das actividades da pastorícia, a sua natureza e papel económico,
social, ambiental, cultural e patrimonial ; caracterizar as políticas públicas e territoriais de apoio à
pastorícia.
Analisar as evoluções actuais dos sistemas de criação animal sob o ponto de vista do seu papel no
desenvolvimento sustentável dos territórios, referenciar e descrever as inovações.
Metodo,comunicacao
Este trabalho técnico consistirá na elaboração de grelhas comuns de análise, para homogeneizar a
recolha de informações, a sua organização e o seu consequente tratamento. Será realizado nas
regiões pelo conjunto dos parceiros do PASTOMED 1, com trocas de informação regulares de
análise e de síntese colectiva.
Dois seminários intermédios darão início à discussão dos elementos comuns das várias
problemáticas. O seminário de encerramento terá como objectivo defi nir uma estratégia e linhas de
acção comum,nomeadamente no domínio das políticas públicas e territoriais.
Cet axe de Pastomed définira ce que recouvre le pastoralisme et identifiera les différentes formes
des activités pastorales et leurs rôles dans le développement des territoires, dans leur participation à
la vie locale aux plans économique, social, culturel, dans leur fonction de gestion des espaces
naturels.
1)construire une base de connaissances et d’informations selon une grille commune et harmonisée ;
L’étude sera conduite en 2 volets qui progresseront en parallèle selon une démarche de travail
commune :
Le contexte du pastoralisme à l’échelle du territoire : Quels sont les facteurs qui conditionnent
l’exercice des activités pastorales et leur rôle dans le développement des territoires ? Il s’agit ici de
décrire les contextes régionaux (indicateurs socioéconomiques, enjeux économiques, territoriaux,
environnementaux, aspects fonciers) ; les activités agricoles et d’élevage (emplois, cheptels et
surfaces utilisées) ; la nature des produits de l’élevage (standard, sous signes de qualité) et des
filières (longues ou courtes, privées ou coopératives), et leur place vis à vis des produits issus
d’autres modes de production ; la contribution du pastoralisme à la vie rurale, au patrimoine et à la
culture locale.
Des réunions de coordination régulières et des tournées de terrain réalisées par le coordinateur
scientifique permettront d’homogénéiser les informations collectées dans les régions. Un
croisement sera opéré avec la composante 3 à l’échelle des régions pour analyser les cohérences
entre les politiques d’accompagnement, le contexte des territoires et leurs enjeux, la nature de
l’élevage pastoral et les fonctions assurées par celui ci. Les points forts de la synthèse seront
construits entre scientifiques et responsables professionnels de l’élevage à l’occasion du séminaire
intermédiaire de travail.
les exploitations d’élevage doivent dégager un revenu dans des conditions de travail acceptables ;
les produits et filières doivent se différencier des productions de masse et valoriser leurs
spécificités ;
les acteurs du territoire doivent repenser les relations entre les diverses activités (élevage, forêt,
chasse, tourisme) ; les pratiques agricoles et les nouvelles préoccupations environnementales
doivent trouver leur équilibre ;
la reconnaissance et la valorisation même du métier doivent être repensées, alors que la place du
pastoralisme dans la vie locale, aux plans économique, social et culturel est en mutation.
Enfin, les institutions et les politiques elles mêmes doivent innover pour accompagner ces profonds
changements.
Sur ces différents plans, l’objectif de cette composante est de recenser les expériences les plus
significatives en cours dans les régions. Il s’agit de décrire et d’analyser des situations concrètes,
porteuses d’avenir, sous une forme attractive et diffusable auprès des divers acteurs intervenant sur
le thème du pastoralisme.
Les expériences seront décrites selon une grille éventuellement spécifique à chaque type de
problématique. L’objectif étant de faciliter la mutualisation des expériences et leur réutilisation,
l’analyse inclura obligatoirement les points suivants : genèse et historique de l’opération ; rôle des
acteurs publics ou privés ; contraintes et difficultés, et comment elles ont été levées ; mobilisation
ou création des connaissances nécessaires à la réussite de l’opération ; politiques publiques
d’accompagnement ; éventuellement, retombées sur le développement du territoire (aspects
économiques, sociaux, environnementaux, culturels) ; conditions dans lesquelles l’expérience
pourrait être reproduite.
La forme que prendront ces présentations sera précisée par les partenaires impliqués dans cette
composante.
Veuillez vous adresser à la sous-rubrique de cette page "expériences d’intérêt pastoral et territorial"
pour télécharger toutes les expériences proposées par les régions (64 en total)
Pastorícia - Em cerca de 20 anos a actividade
pode terminar
Tradição milenar, sustento de muitas gerações, a pastorícia carece de
reconhecimento e de incentivos. Entre 2005 e 2007 países da bacia do
Mediterrâneo, como Espanha e Itália, uniram técnicos e pastores em torno do
projecto PASTOMED para conhecer a realidade pastorícia nos seus territórios. As
regiões de Entre Douro e Minho e Alentejo foram as representantes portuguesas. O
projecto revelou uma realidade perturbante: o desprestígio da profissão não atrai
os jovens e em cerca de 20 anos a actividade pode terminar.
Na planície alentejana «a pecuária extensiva baseada no pastoreio tem grande importância», afirma
Carlos Carmona Belo da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP), organismo
responsável pelo projecto PASTOMED na região. O especialista explica mais: «Mas ela [a pecuária
extensiva] tem também enorme relevância em termos de país. Com efeito, a produção de bovinos
para carne no Alentejo ocupa actualmente 414 mil ha, o que equivale a cerca de 80% da superfície
agrícola utilizada (SAU) que no continente é dedicada a esta actividade. Também a concentração de
animais se destaca pois, as explorações representam 24% do total do continente». Além do evidente
consumo de carne de qualidade, a pastorícia dá ainda lugar a produtos que se distinguem por uma
tipicidade própria, relacionada frequentemente à imagem dos territórios, a qual é, em vários casos,
objecto de valorização através de certificações europeias de qualidade, como Denominação de
Origem Protegida (DOP), Indicação Geográfica Protegida (IGP) e agricultura biológica.
Contributo ambiental
Os animais a pastar calmamente e o pastor, ao
longe, encostado ao bordão que orienta o gado
entre uma e outra pastagem é uma imagem
arreigada à paisagem das regiões onde a
actividade se desenrola. É, como tal, parte
integrante da nossa cultura. A pastorícia
mediterrânea é a mais comum entre
as populações portuguesas e caracteriza-se pelo
respeito «às actividades de exploração ovina,
bovina, caprina, equina e suína, cuja
organização e funcionamento se baseiam no
recurso sistemático aos espaços naturais para
assegurar a alimentação dos rebanhos, que
simultaneamente se valorizam pelo pastoreio». Este processo permite, assim, um ordenamento de
território e contribui na prevenção de incêndios florestais, características apontadas pelo engenheiro
Côrte-real, responsável pelo PASTOMED na região de Entre Douro e Minho. A ideia é corroborada
pelo memorando do projecto europeu, onde se valoriza a presença humana e as suas actividades na
manutenção da paisagem. «Os espaços naturais mediterrâneos estão sujeitos ao elevado risco
crónico dos grandes incêndios florestais, devido à extensão, facilidade de combustão e estrutura
multiforme das áreas arborizadas. Por conseguinte, aqueles espaços não podem existir nem perdurar
sem actividades humanas permanentes dedicadas à sua gestão e protecção», lê-se no documento.
Futuro incerto
A desvalorização da profissão de pastor tem vindo a afastar os jovens desta actividade rural. No
recenseamento agrícola de 2005 quase 40% da população agrícola tinha 65 ou mais anos sendo que,
«os maiores decréscimos, face a 1999, se verificaram nos escalões etários mais jovens (-35% na
classe de 35 a 45 anos e -45% no escalão dos com menos de 35 anos)» divulga Carmona Belo. O
afastamento nos mais novos preocupa também Côrte-Real que, pesaroso, diz: «Daqui a 20 ou 30
anos não vejo ninguém a fazer pastorícia». O representante da AADP logo avança com uma
possibilidade para alterar este quadro: «A produção animal extensiva em pastoreio, perspectivada
no quadro de políticas ambientais, pode ter um contributo relevante na revalorização da imagem da
profissão de pastor e dos agricultores ligados à produção animal, promovendo o reconhecimento
social destes agentes económicos, criando oportunidades para a melhoria das suas condições de vida
e trabalho». O interveniente da região Sul continua a revelar o seu optimismo face à diminuição de
profissionais neste sector agrícola e adianta: «Parece já existir na sociedade portuguesa a convicção
de que o agricultor ligado à produção animal pode desempenhar um papel activo na conservação e
sustentabilidade do ambiente e, de que, a pastorícia, além de configurar um sistema respeitador do
bem-estar animal, origina produtos com garantia de segurança alimentar para as populações»,
comenta Carmona Belo. No futuro vários são os elementos a ponderar para evitar o abandono da
pastorícia mediterrânea. A formação dos agentes da fileira, a inovação tecnológica e o fomento de
empresas, de dimensão e natureza jurídica adequadas aos territórios, com capacidade de gestão dos
espaços de pastoreio, da transformação dos produtos e da sua colocação no mercado são alguns dos
aspectos a ter em conta.