X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.

RESPOSTA À TERAPIA COM SULFATO DE VINCRISTINA EM CADELA SRD PORTADORA DE

TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL.

Laila Carina Soares dos Santos1, Cristiane Maia da Silva2 e Edna Michelly da Sá Santos3, Maria Aparecida da Glória
Faustino4, Lêucio Câmara Alves5, Rebeca Marques Sobral Leitão6

Introdução drogas antiinflamatórias não esteroidais, no início do

O tumor venéreo transmissível canino
(TVT) é uma neoplasia contagiosa que acomete
principalmente a mucosa da genitália externa dos
cães, suas complicações frequentemente estão
relacionadas ao crescimento do tumor no tecido em
que este está implantado (3,4).
É descrito na maioria das vezes em animais
jovens sadios e sexualmente ativos, sendo que já foi
observada susceptibilidade maior em machos (3,7).
A transmissão mais comum se dá pelo coito,
através do transplante de células tumorais para a
mucosa do hospedeiro susceptível, mas outra forma
descrita é por meio da inoculação dessas células por
lambedura, mordedura ou ainda arranhadura (1,3,4).
As tumorações são friáveis na maioria dos
casos, e apresenta secreção sero-sanguinolenta, cor de
carne, aspecto de couve-flor ou nodular, com possível
presença de infecção bacteriana secundária (1,3,4,6).
Microscopicamente, apresentam-se células redondas
ou ovais, com inúmeras mitoses, sendo que a maioria
das células contém múltiplos vacúolos citoplasmáticos
claros que frequentemente parecem se arranjar em
cadeias. Células inflamatórias também são comuns
(2,6).
O diagnóstico clínico geralmente é
conclusivo quando o TVT apresenta localização
genital, mas a confirmação é realizada pelo estudo
citológico do material tumoral, que pode ser realizado
através de preparações feitas a partir do corrimento ou
por esfregaços de impressão da superfície do tumor
(1,6).
O tratamento preconizado é a quimioterapia,
sendo as drogas mais comumente utilizadas o Sulfato
de Vincristina e a Doxorrubicina (7,8). Porém também
pode ser eleita a radioterapia, a imunoterapia ou ainda
a extrusão cirúrgica (6,7,8). No referido caso, a
quimioterapia com Sulfato de Vincristina foi o
tratamento de eleição, já que possui eficácia
registrada em 90% dos casos, além de ter boa relação
custo-benefício (3). Sua vantagem em relação à
extrusão cirúrgica é que esta última é muito invasiva,
pois geralmente o tumor é grande e sua localização
impede uma excisão cirúrgica completa, além disso,
existem altos índices de recorrência (3,6). Além dos
fármacos quimioterápicos deve-se lançar mão do uso
de antibióticos, para reduzir os efeitos
imunodepressores causados pela quimioterapia, e de
tratamento, para diminuir a resposta inflamatória local
causada pela presença da massa tumoral.
De uma forma geral o prognóstico para o TVT é
favorável, exceto para os casos de metástase ou
resistência à quimioterapia (8).
Relato do Caso
Foi encontrada nas imediações do Hospital
Veterinário da UFRPE uma cadela sem raça definida,
aparentando ter em média três anos de idade, pesando 12
kg, com bom estado geral e alteração visível na genitália
externa. O animal foi então encaminhado ao canil da
referida universidade onde foram realizados os
procedimentos necessários.
Inicialmente foi realizado o exame clínico geral,
onde os achados não demonstraram nenhuma alteração
sistêmica. A partir daí foi realizado o exame clínico
específico, onde foram encontradas as seguintes
alterações: vulva edemaciada, com formações nodulares
firmes de localização dermoepidérmica e com coloração
avermelhada, que sangravam com facilidade e ainda,
presença de secreção purulenta de coloração amarelada e
odor fétido.
O exame complementar de eleição foi o
citológico. A coleta foi feita pelo método do imprint, que
se baseia no transplante de células tumorais para uma
lâmina estéril através do contato desta com o material
tumoral. O resultado visualizado fundamentou o
diagnóstico clínico, já que foram encontradas células
tumorais com inúmeras mitoses e presença de
vacuolização, o que caracteriza a neoplasia venérea
transmissível dos cães. A cada semana foi coletado
material tumoral para realizar o acompanhamento
citológico do caso.
O tratamento eleito foi a quimioterapia à base de
Sulfato de Vincristina, na dose de 0,025mg/kg,
administrada lentamente pela via endovenosa,
concomitantemente com solução fisiológica a 0,9%. Entre
as aplicações foram preconizados intervalos de sete dias,
sendo o tempo de duração do tratamento 35 dias, o que
totalizam cinco sessões quimioterápicas. Além disso, no
protocolo terapêutico foi utilizada a Cefalexina como
antibioticoterapia na dose de 30mg/kg a cada 12 horas
durante todo o tratamento o que totaliza 35 dias de uso do
fármaco. Nos primeiros cinco dias de tratamento foi
realizada terapia antiinflamatória com a utilização do
Cetoprofeno na dose de 1mg/kg a cada 24h.

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1. Primeiro Autor é discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco . Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n,
Dois Irmãos, Recife-PE; CEP: 52171-900. E-mail: lailacarinasoares@yahoo.com.br.
2. Segundo Autor é discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco . Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n,
Dois Irmãos, Recife-PE; CEP: 52171-900.
3. Terceiro Autor é Mestranda do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco . Av. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE; CEP: 52171-900.
4. Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n,
Dois Irmãos, Recife-PE. CEP: 52171-900
 X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.
Resultados
Foi observada diminuição significativa da
massa tumoral, com redução do edema vulvar e
melhora do processo inflamatório com retorno à
coloração rósea da mucosa da vulva logo após a
primeira semana de tratamento. Houve também queda
na produção de secreção purulenta o que ocorreu
devido ao uso do antibiótico. Nas semanas que se
seguiram a melhora foi aumentando gradativamente.
Citologicamente foi observada redução
gradativa no número de células tumorais, com
conseqüente retorno do epitélio fisiológico da mucosa
da vulva.
Como aspectos negativos observaram-se
diminuição do apetite bem como leve letargia,
condições estas vistas principalmente no dia seguinte
à administração do fármaco quimioterápico. Foi
observada também uma elevada queda de pêlo,
provavelmente relacionada ao uso do quimioterápico
já que essa situação não foi vista antes do início do
uso deste fármaco. Com o término do tratamento
quimioterápico, a alopecia foi se reduzindo
gradativamente.
Discussão
A utilização do Sulfato de Vincristina é
extremamente eficaz como protocolo terapêutico na
ocorrência de tumor venéreo transmissível canino,
apresentando ótima relação custo/benefício/tempo de
tratamento, com poucos efeitos colaterais ao paciente
(3). A ação da vincristina resume-se no bloqueio da
mitose e interrupção da metáfase (7,8).
Os efeitos colaterais mais observados,
decorrentes da terapia com sulfato de vincristina, são
inapetência, alopécia pouco significativa, vômito,
diarréia (7,8).
A necessidade da avaliação microscópica do
TVT torna-se imprescindível principalmente para a
definição da terapia. Sem a identificação exata do tipo
de neoplasia, corre-se o risco de instituir tratamentos
citostáticos para uma lesão granulomatosa não
neoplásica, e assim desnecessariamente expor o
paciente à toxicidade dos fármacos antitumorais (8).
O uso concomitante do antibiótico é
indicado para a diminuição da infecção que ocorre
devido à pré-disposição causada pelo ambiente inflamado,
cujas características propiciam a proliferação
bacteriana(3,4). Além disso, a antibioticoterapia é
indicada durante todo o tratamento devido à queda da
imunidade que se deve ao uso do Sulfato de Vincristina
(1,7).
Por fim, o antiinflamatório não esteroidal é
indicado no início do tratamento para deter o crescimento
contínuo do processo inflamatório reduzindo com isto
inclusive os riscos de sangramento tão comuns nesse tipo
de tumor (1,5,7).
Agradecimentos
Primeiramente à Deus por ter colocado em nosso
caminho a oportunidade de ajudar mais um animal
abandonado, à professora Maria Aparecida da Glória
Faustino que com sua bondade nos ajudou a concluir o
trabalho iniciado e à querida mestranda Edna Michelly de
Sá Santos que desde o início da nossa jornada na
Medicina Veterinária esteve presente e ela devo muito do
que sei até hoje, pela sua paciência e dom em ensinar.
Referências
[1] MOUTINHO F. Q.; SAMPAIO G. R.; TEIXEIRA C. R. 1995.
Tumor Venéreo Tranmissível com metastases cutâneas em um cão.
Ciência Rural, Santa Maria, v. 25, nº 3, p.469 – 471.
[2] DUARTE R.; NIERO R.; MANZAN R. M. 2006. Eritrocitose
associada a tumor venéreo transmissível em cão: relato de caso. Arq.
Bras. Med. Vet. Zootec., v.58, n.6, p.1018-1023.
[3] ROSENTHAL R. C. 2004. Segredos em Oncologia Veterinária
Artmed. Porto Alegre
[4] SCOTT D. W.; MILLER W. H.; GRIFFIN C. E. 1996. Dermatologia
de Pequenos Animais. 5ªed. Interlivros. Rio de Janeiro.
[5] FIGUERA R. A.; SOUSA T. M.; BARROS C. S. L. 2002.
Lifossarcoma em Cães.Ciência Rural, Santa Maria, v.32, n.5, p.895-
899.
[6] SANTOS F.G.A.; VASCONCELOS A.C; MORO L. 2001. Apoptose
no Tumor Veméreo transmissível canino: características
morfológicas e evidenciação bioquímica. Arq. Brás. Méd. Vet.
Zootec. Nº 5.
[7] SOUSA J.; SAITO V.; NARDI A. B. 2000. Características e
incidência do tumor venéreo transmissível (TVT) em cães e
eficiência da quimioterapia e outros tratamentos. Archives of
veterinary science., nº 5, p. 41- 48.
[8] SOUSA F.B. 2009. Auto-hemotarapia como terapia auxiliar no
tumor venéreo transmissível. Monografia apresentada junto ao curso
de especialização lato sensu em clínica médica e cirúrgica em
pequenos animais – UCB para obtenção do título de especialista.
Goiânia.