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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental III - 016

COMPOSTAGEM AERÓBICA: TRATAMENTO DADO AO LIXO


GERADO NO CAMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
FEIRA DE SANTANA

Sandra Maria Furiam Dias (1)


Engenheira Civil, Mestre em Recursos Hídrico e Saneamento
(IPH/UFRGS). Professora Assistente do Departamento de Tecnologia da
Universidade Estadual de Feira de Santana. Coordenadora da Equipe de
Educação Ambiental da UEFS e do Programa de Coleta Seletiva e
Reaproveitamento do Lixo gerado no Campus/UEFS.
Luciano Mendes Souza Vaz
Biólogo, UEFS/1996.

Endereço(1): Rua Venezuela, 49 - Capuchinhos - Feira de Santana - BA - Brasil - CEP:


44035-500 - Tel: (075) 625-7019 - e-mail: smfuriam@uefs.br.

RESUMO

Na Universidade Estadual de Feira de Santana, do lixo produzido, cerca de 44% é de origem


orgânica. Para dar um tratamento adequado a esse lixo, a Equipe de Educação Ambiental
(EEA/UEFS) propôs, dentro do projeto “Coleta Seletiva e Reaproveitamento do Lixo Gerado
no Campus/UEFS”, que esse resíduo sofresse o processo de compostagem. Os resíduos
orgânicos coletados nas cantinas, creche e os restos de podas produzidos no campus, são
triturados para confecção da pilha de compostagem. Durante o processo de compostagem são
monitorados os seguintes parâmetros básicos: temperatura, pH, umidade, aeração, teste de
germinação e análises de macro e micronutrientes. O resultado do processo é um composto
orgânico rico em nutrientes e excelente recondicionador de solos. O processo tem também o
objetivo de ser um instrumento de Educação Ambiental.

PALAVRAS -CHAVE: Compostagem, Resíduo Sólido Urbano, Educação Ambiental,


Compostagem Artesanal, Reciclagem.

INTRODUÇÃO

Com o decorrer dos tempos o homem passou a utilizar os recursos naturais de forma
inconseqüente, gerando descontroladamente resíduos das mais diversas formas. O crescimento
populacional acarreta aumento na produção de resíduos sólidos urbanos, acentuando cada vez
mais a problemática da disposição final desses resíduos, tornando-se necessária a criação de
métodos seguros para a sua disposição. Segundo dados do CNUMAD (1991), a produção
média de lixo por pessoa no Brasil é de 600 gramas e, considerando que 60% seja de origem
orgânica, temos que a produção per capita desse tipo de resíduo é de 360 gramas/pessoa/dia,

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sendo esse lixo orgânico jogado na maioria das vezes em grandes lixões, virando depósito de
vetores biológicos e de patógenos, tornando-se um perigo à saúde coletiva.
Dentre as soluções encontradas pelo homem contemporâneo para o tratamento e destinação
dos resíduos orgânicos encontra-se o processo de compostagem. Uma definição para a
compostagem pode ser dada como um método monitorado de degradação para os resíduos
sólidos orgânicos, por estímulo de populações de decompositores, provenientes do próprio
material a ser compostado; esse método pode ser anaeróbico ou aeróbico, tendo este último
como característica a presença de duas fases (Fase Termofílica e Fase de Maturação). O
resultado final é um composto orgânico húmico rico em nutrientes e recondicionador de solos.

Na Universidade Estadual de Feira de Santana, do lixo produzido, cerca de 44% é de origem


orgânica. Para dar um tratamento adequado a esse lixo, a Equipe de Educação Ambiental
(EEA/UEFS) propôs, dentro do projeto “Coleta Seletiva e Reaproveitamento do Lixo Gerado
no Campus/UEFS”, que esse resíduo sofresse o processo de compostagem. Desde junho de
1993 esse trabalho vem sendo realizado com os seguintes objetivos:

1. Obter técnicas de compostagem adaptadas às características do semi-árido nordestino.


2. Obter um composto de boa qualidade.
3. Chamar atenção para o problema da disposição e aproveitamento de resíduos orgânicos.
4. Ser um instrumento de Educação Ambiental.

METODOLOGIA

Os resíduos utilizados são provenientes do preparo e manipulação de alimentos (verduras,


cereais, frutas e restos animais) e podas (galhos, folhas, aparas de gramas). Esses resíduos são
acondicionados na fonte geradora em recipientes adequados, na cor marrom, sendo
transportados para a Área de Compostagem, com exceção das podas. O lixo é triturado e
armazenado no pátio até a obtenção de 800 kg, sendo então formada a pilha de compostagem
e o conseqüente início do processo. Ver figura 1.

A montagem das pilhas é feita em camadas, alternando restos de cantinas e creche que são mais
úmidos com camadas de bagaço de cana e podas. As camadas são regadas com um caldo
formado de estrumes de ruminante e água. O formato inicial da pilha é cônico com o topo
achatado, com altura em torno de 1,20m e base de 0,90m de diâmetro. Para a realização da
compostagem faz-se o controle das condições mínimas favoráveis à proliferação e estímulo dos
microorganismos decompositores, através do monitoramento dos seguintes parâmetros básicos:
temperatura, pH, umidade, aeração, teste de germinação e análises de macro e micronutrientes.
Há também a observação quanto à cor, odor e granulometria. O controle da umidade é
realizado de forma manual, onde a presença de escorrimento de água ou esfarelamento da
amostra alerta quanto à necessidade de diminuir ou aumentar a quantidade de água na pilha.

O monitoramento da temperatura, permite precisar quando deve ser feita a aeração que é
realizada através do reviramento da pilha. O grau de umidade propicia um ambiente adequado
ao processo biológico e, o teor de sólidos voláteis permite verificar o grau de degradação da
matéria carbonada. Encerrando a fase ativa, a pilha sofre o processo de maturação. O

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composto pronto é peneirado e armazenado para o uso no próprio Campus como forma de
divulgação do Projeto.
Figura 1: Esquema de operação feita com o Resíduo Orgânico pela Compostagem.

LIXO ORGÂNICO GERADO NO CAMPUS DA UEFS


¦
LIXO ORGÂNICO
¦
CRECHE CANTINAS PODAS
¦ ¦ ¦
ÁREA DE COMPOSTAGEM

ETAPAS DO PROCESSO:

TRITURAÇÃO
¦
MONTAGEM DA PILHA
¦
MONITORAMENTO
¦
COMPOSTO PRONTO

RESULTADOS

TEMPERATURA

A Fase de Oxidação ou Termofílica, tem duração de 35 dias, e caracteriza-se pelo


desenvolvimento de altas temperaturas que variam entre 50º a 65º C, figura 2, pois o
monitoramento realizado não permite temperaturas que extrapolem este patamar, considerado
letal para o processo. Na Fase de maturação, caracterizada por uma estabilização e decréscimo
das temperaturas em relação à fase anterior, estas variam entre 30º a 45ºC, figura 3. Esta fase
tem duração de 62 dias.

Figura 2: Temperaturas obtidas no meio de uma pilha de compostagem durante


a Fase Termofílica da Compostagem Aeróbica.

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50

TEMPERATURA EM
40
30

ºC
20
10
0
5 6 7 8 13 15 16 19 22
DIAS

Figura 3: Temperaturas obtidas no meio de uma pilha de compostagem durante a Fase


de Maturação ou Fria da Compostagem Aeróbica.

100
Temperatura ( C )

50

0
3 7 10 16 18 22 24 26 29
novembro

UMIDADE

Como o processo de Compostagem é basicamente regido pela decomposição feita pelos


microorganismos decompositores (Fungos, Bactérias e Actinomicetos), uma avaria nas
condições vitais destes seres acarretará no estacionamento do processo. A umidade é um dos
parâmetros básicos para a manutenção da vida, daí o porquê do seu controle, pois os
organismos aeróbicos em ambientes saturados de umidade (>60%) tendem a morrer e
consequentemente dar lugar a organismos anaeróbicos.

pH

Durante o processo de compostagem, o pH da pilha de compostagem é modificado: à medida


que a massa vai sendo decomposta a fase de oxidação tem pH característico ácido e a fase de

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maturação possui um pH básico. O composto final apresenta uma variação do pH de 8,0 a


10,0.

ODOR E COR

Durante todo o processo de compostagem não é comum a presença de mau cheiro


desprendido, a não ser que de alguma forma a condição anaeróbica tenha se instalado, devido a
alguma deficiência quanto a oxigenação da pilha. O composto final tem o odor de “terra
molhada” e possui coloração marrom escura.

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AERAÇÃO OU REVIRAMENTO

O processo de compostagem proposto na UEFS é aeróbico, portanto os organismos que são


estimulados necessitam de oxigênio para degradar os resíduos orgânicos. Com o passar do
tempo a pilha de compostagem perde oxigênio em seu interior, seja pelas reações bioquímicas
que ocorrem provocando o aumento da temperatura no interior da pilha, seja pela compactação
da massa orgânica devido a degradação, reduzindo assim os espaços com o ar no interior do
resíduo. A introdução de oxigênio do ambiente para dentro da massa é realizado manualmente,
constando de reviramento das partes da pilha de compostagem . Simultaneamente ao
reviramento, ocorre um resfriamento, sendo este o nivelador das temperaturas muito altas ou
muito baixas, observadas durante o processo.

SÓLIDOS VOLÁTEIS

O teor de sólidos voláteis decresce com o passar das fases, indicando a mineralização da massa
orgânica até a sua transformação. Os sólidos voláteis no composto decresceram de 58% na
fase inicial para 22% no composto pronto, figura 4.

Figura 4: Gráfico representativo do decréscimo de Sólidos Voláteis em uma pilha de


compostagem.
60

50

40

30
Em %
20

10

0
28/Out 26/Nov 23/Nov 30/Nov 07/Dez 11/Dez
Dia

MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES

Os macronutrientes são assim denominados devido ao seu alto grau de absorção pelos vegetais.
Os macronutrientes analisados foram P, K, Ca+ Mg e Al, tabela.

Os micronutrientes são elementos químicos vitais para os vegetais, sendo que diferem dos
macronutrientes quanto à utilização, pois são absorvidos em quantidades mínimas. Os
micronutrientes quantificados em análises foram Cd, Cu, Zn e Pb e apresentaram os valores
conforme(tabela 2)

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Tabela 1: Níveis de Fósforo e Potássio, encontrados nas amostras de composto.


Elemento Químico Quantificação Interpretação( Lab. de Análise
Química- do Solo e Fertilizantes-
UFBA)
Fósforo 30 ppm alto
Potássio 225 ppm alto
Cálcio + Magnésio 10,7 meq/100g alto
Alumínio 0,0 meq/100g baixo

Tabela 2: Tabela explicativa sobre os níveis de Micronutrientes expressos em ug/ g,


encontrados nas amostras de composto e os teores encontrados no solo (KIEHL,1985).
Elemento Químico Quantificação em ug/ g Teores normais no solo (KIEHL- 1985)
Cádmio <5 ug/ g 1,0 ug/ g
Cobre <20 ug/ g 10- 80 ug/ g
Zinco <46 ug/ g 10-100 ug/ g
Chumbo <50 ug/ g 50 ug/ g

CONCLUSÃO

- Os resultados de pH, sólidos voláteis, micronutrientes e macronutrientes encontrados no


composto produzido na UEFS, são interpretados como aceitáveis e, portanto, configura-se
um composto de boa qualidade.
- O monitoramento na compostagem é muito importante. Caso haja negligência no controle
do processo, o composto obterá uma qualidade indesejável, podendo ser nocivo ao
ambiente, além de possuir mau odor e presença de vetores.
- A separação do lixo orgânico na fonte geradora permite obter um composto isento de
materiais estranhos, tais como cacos de vidro, plásticos e metais, que servem para
comprometer a qualidade do composto.
- O triturador tipo martelo utilizado não é adequado ao tipo de resíduo orgânico produzido na
UEFS, uma vez que o tamanho das partículas obtidas foi de 80mm, valor alto comparado
com a faixa de 20 a 50mm preconizado por PEREIRA NETO(1981).
- A compostagem tem sido um instrumento importante para Educação Ambiental, pois
permite mostrar, na prática, o ciclo do lixo orgânico na Universidade: geração descarte,
coleta, transformação (lixo - composto) e sua utilização como recondicionador do solo,
podendo relacioná-la com os princípios básicos de Ecologia: ciclo da matéria e energia.
- A compostagem no Campus tem despertado interesse dos alunos dos cursos de Biologia e
Engenharia, possibilitando um trabalho interdisciplinar.
- O processo de compostagem na UEFS permite mostrar, aos administradores públicos, ser
uma forma viável para tratamento da parcela orgânica do lixo urbano.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CONSELHO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE E


DESENVOLVIMENTO- CNUMAD. Subsídios técnicos para Elaboração do
Relatório Nacional do Brasil para CNUMAD. Brasília: Conselho Nacional do Meio
Ambiente, 1991.
2. FURIAM DIAS, Sandra Maria; VAZ, Luciano Mendes S. Métodos de
Monitoramento do Processo de Compostagem Aeróbico . SITIENTIBUS,
Novembro,/ 1996. Feira de Santana - BA
3. FURIAM DIAS, Sandra Maria; VAZ, Luciano Mendes S. Importância do
Controle da Temperatura no Processo de Compostagem Aeróbico - EEA/UEFS.
Anais do I Congresso Baiano do Meio Ambiente. Salvador - BA, 1996.
4. KIEHL, E. J.( 1985 ) Fertilizantes Orgânicos. Ed. Agonômica CERES Ltda.
São Paulo.
5. PEREIRA NETO , J. T.( 1989 ): “Conceitos Modernos de Compostagem”.
Trabalho publicado na Revista Eng. Sanitária e Ambiental da ABES.n.2, pp.104-109-
Abril\ Junho- Rio de Janeiro- Brasil
6. SOUZA, Lúcio D. N. ( 1989 ). Adubação Orgânica. Ed. TECNOPRINT S.A.
Rio de Janeiro.
7. BENVENUTO,Clovis.: “A concepção e a construção de aterros sanitários.”
III Simpósio sobre Barragens De Rejeitos e Disposição De Resíduos. Vol.II. REGEO’
95. Ouro Preto ( MG ). 1995.

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