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2 MARÇO/ABRIL 2011

EDITORIAL BALANCETES

oucos são os que discordam de que saúde é

P direito de todos e deve ser acessível a


qualquer indivíduo. Entretanto, na
sociedade em que vivemos, muitos acreditam ser
possível fornecer saúde de qualidade e a todos,
mesmo tratando-a como mercadoria. É estranho
pensar em algo cujo objetivo é o lucro sendo
realmente de qualidade e alcançando a todos os
indivíduos, independentemente da classe social.
Nos últimos anos, e com intensificação mais
recente, o SUS vem sofrendo avanços
privatizantes. Um mesmo discurso que aponta as
dificuldades de gestão como causa das
deficiências do SUS é escutado repetidas vezes,
enquanto surgem diferentes mecanismos de
administração privada. Nos locais onde já foi
implantado algum desses modelos, não vemos
melhorias grandes no atendimento, mas sim
problemas sérios na assistência, no ensino e nas
condições de trabalho. Foi por não acreditarmos
nesse discurso vendido que responsabiliza a
burocracia Estatal por todo o mal da Saúde
Pública, e por acreditarmos que saúde de
qualidade e universal deve ser fornecida pelo
Estado, que elaboramos essa edição de “O
Patológico”. Queremos um Sistema de Saúde que
sirva à população, e não aos investidores e
empresários que possuem capital para
“comprar” o direito de lucrar com saúde.
Divulgamos nessa edição textos de críticas às
medidas de privatização do SUS, mas também
ouvimos a opinião do Governo Federal, na voz
do Ministro da Saúde Alexandre Padilha.
Percebemos que não é prioridade do governo
fortalecer o caráter público e Estatal do SUS.
Os estudantes sempre foram importantes
agentes políticos questionadores ao longo do
século XX no Brasil, e sempre foram duramente
combatidos. Hoje não é diferente. Os nossos
movimentos vêm sendo reprimidos, com a
justificativa de que seríamos “arruaceiros”. Foi
isso o que aconteceu esse ano na moradia
estudantil da Unicamp. A polícia foi chamada a
interromper uma manifestação legítima, contra
a falta de vagas e a expulsão de moradores, que
acontecia na administração da moradia. O que
não podemos fazer é cumprir com o interesse de
quem repudia as ações estudantis e ficarmos
ausentes dessa e outras lutas em que nosso apoio
é fundamental.
Além disso, nessa edição trazemos
atualizações da gestão IntegrAÇÃO: um texto
sobre o grupo de educação do CAAL, um repasse
do último Congresso Brasileiro dos Estudantes
de Medicina e a avaliação da Semana da
Calourada 2011. Bom proveito!

Gestão IntegrAÇÃO – CAAL 2011

CAPA: adaptado da arte de Rafael Balbueno,


militante do Coletivo Barricadas na UFSM
MARÇO/ABRIL 2011 3

CAPA

A privatização faz mal à saúde!


Eu tô sem segurança, sem transporte, sem parte da necessidade de saúde da população e sim da sem qualquer tipo de processo seletivo, ou seja, todos
trabalho, sem lazer necessidade de maior produtividade em detrimento os cabos eleitorais podem ter seu emprego garantido!
Eu num tenho educação, mas saúde eu quero ter da qualidade. Sendo assim, há diversas Não é mais necessário realizar licitação, ou seja, no
Já paguei minha promessa, não sei o que fazer! consequências em relação à implantação das limite podem-se contratar apenas as empresas que
Já paguei os meus impostos, não sei pra quê? Organizações Sociais de Saúde (OSS), que refletem apóiam as campanhas partidárias de quem está no
Eles sempre dão a mesma desculpa no nosso cotidiano: poder, ou mesmo diretamente as empresas nas quais
esfarrapada: 1 – Precarização das condições de trabalho dos esses políticos tem participação nos lucros ou de
"A saúde pública está sem verba" profissionais da saúde, levando a uma piora no alguns de seus familiares ou amigos.
E eu num tenho condições de correr pra privada atendimento. Tal precarização se caracteriza pela 5 – Sem perspectiva de progressão de carreira
Eu já tô na merda. redução de salários, aumento do tempo de trabalho e fica ainda mais difícil fixar profissionais de saúde nos
redução de direitos trabalhistas; locais de trabalho;
Sem saúde – Gabriel, o Pensador 2 – Aumento da abertura à dupla-porta, que já é O SUS deve assegurar aos trabalhadores da saúde
muito comum em hospitais estaduais; condições adequadas ao exercício de suas atividades.
Nesses últimos tempos vem Considerando que se trata de uma
ocorrendo um processo de política de Estado, é inadmissível a
privatização do SUS em Campinas e falta de estabilidade do quadro de
em todo Brasil, através do surgimento pessoal da saúde, o que compromete
de modelos de administração e gestão a continuidade dos programas de
de saúde, terceirizados e privatizantes saúde e, sobretudo, a criação de
como as OSS (Organizações Sociais vínculos duradouros entre as equipes
de Saúde), as Fundações de Apoio e de saúde e as comunidades às quais
Fundações Estatais de Direito devem servir.
Privado. 6 – São cada vez maiores os
O próprio processo de relatos de que, na busca pelo
Autarquização de diversos HU's cumprimento das metas estabelecidas
(hospitais universitários) assim como pelos governos e em respeito ao
o do HC (Hospital das Clínicas) da modelo gerencial de produtividade
UNICAMP e o estabelecimento de total, os hospitais gerenciados por
uma fundação de apoio para a sua OSS desrespeitam os usuários dando
gestão, são reflexos dessas medidas alta da hospitalização simplesmente
que visam a acabar com o controle para cumprir o tempo máximo de
estatal e implantar a gestão privada internação; e se negando a realizar
nos serviços essenciais. procedimentos muito custosos (como
E da mesma maneira que o processo de Com a aprovação do Projeto de Lei os curativos que pessoas com áreas de queimadura
aprovação da Autarquização do HC da UNICAMP se Complementar (PLC) 45/2010, os hospitais extensas necessitam), abandonando os pacientes nas
deu através de reuniões em férias e recessos para que administrados por OSS que ainda não haviam ruas (literalmente);
estudantes e funcionários não conseguissem se sucumbido a dupla porta provavelmente irão fazê-lo, A privatização especificamente no âmbito da
manifestar contrários, a Prefeitura de Campinas, podendo disponibilizar até 25% dos leitos para universidade:
desconsiderando a decisão de conselheiros da planos de saúde. Essa política do governo permite a O Hospital das Clínicas da Unicamp foi
Câmara Municipal e da população em geral, está apropriação da infra-estrutura construída pelo transformado em uma Autarquia. Soma-se a isso a
querendo aprovar o Projeto de Lei Ordinária Estado por empresas privadas e utilizam os leitos aprovação de uma Fundação de Apoio à Área da
29/2011. públicos por convênios particulares, privilegiando-os Saúde pela Congregação da Faculdade de Ciências
Tal projeto de lei estabelece que não só a área de e diminuindo ainda mais o acesso a saúde para quem Médicas (em 2004), sendo que um dos textos de
saúde como também as áreas de esporte, cultura e não tem dinheiro, fazendo com que o privado roube regimento da Autarquia já inclui que esta contará
lazer da prefeitura sejam administradas por para si cada vez mais os leitos e os atendimentos com a ajuda da tal Fundação. Alguém se lembra que
Organizações Sociais, ou seja, fundações (empresas) públicos, de maneira que o acesso à saúde pública a lei que acabou de ser aprovada permite que
privadas no município de Campinas. pela população fique cada vez mais restrito. E dando fundações se transformem em OSS e que os hospitais
O Centro Acadêmico Adolfo Lutz, da Medicina da origem ao que já é muito comum em alguns hospitais estaduais podem destinar 25% de seus leitos à
UNICAMP manifesta-se contrário a esse projeto já do estado, uma porta pública onde o atendimento é iniciativa privada?
que ele fere o direito constitucional e universal de de má qualidade e a fila é interminável e uma porta É importante lembrar que em 2008 foi aprovada
saúde e de direitos básicos de lazer, cultura e esporte, privada onde o atendimento é de qualidade e onde a pela Prefeitura de Campinas um acordo de gestão
intimamente relacionados à saúde. fila é rápida, ao custo da fila do SUS, já que são no com uma OSS (chamada SPDM – que administra o
O CAAL também considera importante, como mesmo hospital. Isso vem ocorrendo até mesmo em hospital são Paulo) para administrar o Hospital Ouro
futuros profissionais de saúde, a luta por um sistema hospitais universitários que são construídos, Verde, de Campinas. No ano de 2010 esse contrato
de saúde 100% público de qualidade que atinja toda a equipados e custeados com o dinheiro público, ou chegou ao fim e, não foi renovado pela Prefeitura.
população de maneira integral e por isso apóia o seja, é o dinheiro dos nossos impostos financiando Trabalhadores do hospital relatam que o serviço era
movimento contra a privatização do serviço público lucros dos planos de saúde. de péssima qualidade, as condições de trabalho eram
de Campinas. 3 – Cobrança de taxas administrativas; extremamente precárias e a administração também
O que são as Organizações Sociais (OSs)? E por As organizações sociais têm direito de reter 10% seguiu a mesma linha.
que somos contrários a elas? de todo o dinheiro que recebe para administrar o Mesmo com esse exemplo, continuam
As Organizações Sociais (OSs) são entidades de serviço a fim de gastá-lo com suas "despesas privatizando o sistema de saúde, o que faremos
direito privado, cujas atividades são dirigidas à administrativas" – Dessa maneira, imaginem 10% de quanto a isso?
saúde, ensino, à pesquisa científica, ao taxa sobre 2 bilhões de reais? "Negocião", hein?;
desenvolvimento tecnológico, à proteção e 4 – Legalização do clientelismo político Marcelo Gustavo Lopes (46)
preservação do meio ambiente e à cultura, e tem partidário; Thaïs Florence D. Nogueira (47)
finalidade não lucrativa. Com as terceirizações aquela questão toda tão Thaís Z. Tubero (46)
Entretanto, nenhuma organização privada criticada de cargos comissionados políticos torna-se Victor Vilela Dourado (46)
funciona como gestão pública já que a gestão não problema pequeno! Torna-se possível a contratação Gestão IntegrAÇÃO - CAAL 2011
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CAPA

A Autarquização do Complexo de Saúde da UNICAMP


No ano de 2009, foi proposta pelo governo do caracteriza por ser conseqüência das políticas público; pode prestar serviços a entidades
Estado de São Paulo à Universidade Estadual de privatizantes do Estado brasileiro. privadas, dar consultorias, atuar como
Campinas a autarquização da área de saúde O governo federal encaminhou ao Congresso intermediária na contratação de funcionários para
(Hospital das Clínicas, Centro de Atenção Integral em julho de 2007 o Projeto de Lei 92/2007, que o serviço público (em regime CLT, com
à Saúde da Mulher, Hemocentro e Gastrocentro) cria as Fundações Estatais de Direito Privado precarização do trabalho e maior exploração dos
da universidade. Tornar o complexo de saúde da (FEDP), caracterizadas como “novos” modelos de trabalhadores) e fazer compras destinadas ao
UNICAMP uma autarquia significa desvinculá-lo gestão para a melhoria do setor público; mas que serviço público sem licitação, dentre muitas outras
da universidade e vinculá-lo à Secretaria Estadual são, na verdade, uma “nova” roupagem para as atuações que a caracterizam como um modelo
de Saúde. terceirizações e privatizações do setor público, privatizante de administração.
Autarquia, segundo definição jurídica, é uma desresponsabilizando o Estado de mais uma de Além de permitir a instalação de uma fundação
entidade administrativa criada por lei, com receita suas funções. de apoio, a autarquia pode proporcionar muitas
e patrimônio próprios, sem fins alternativas que ferem o principio de
lucrativos, para executar atividades Privatizado saúde que o próprio Sistema Único
típicas da Administração Pública, de Saúde defende: uma saúde
que requeiram gestão administrativa Bertolt Brecht pública, universal, gratuita,


e financeira descentralizada. Na equânime, integral com controle
prática, a autarquia é uma entidade social, sendo um direito de todo
pública desvinculada da Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua cidadão e de dever do Estado de
administração direta da prefeitura, hora de amar e seu direito de pensar. É da proporcioná-la.
estado ou união, ela recebe um empresa privada o seu passo em frente, seu pão A desvinculação do complexo
orçamento próprio e decide de que hospitalar da universidade, permite
maneira deve gastá-lo. e seu salário. E agora não contente querem que sejam feitas parcerias com
A proposta de desvinculação da privatizar o conhecimento, a sabedoria, o entidades privadas para a venda de
área de saúde da Unicamp é pensamento, que só à humanidade pertence. campos de estágio dentro do hospital


amplamente defendida pelos (ferindo a autonomia universitária),
diretores da Faculdade de Ciências convênios com empresas para a
Médicas da universidade e pelo venda de consultas (a famosa “dupla-
superintendente do hospital das clínicas e sua Em 2008, o governo do estado de São Paulo porta”) e fim do controle social (capacidade de
argumentação baseia-se na questão do aprovou o Projeto de Lei 62/08, que prevê a gestão intervenção da população nas decisões
subfinanciamento da saúde e da contratação de dos centros de saúde e dos hospitais universitários relacionadas à saúde).
funcionários. com base nas Organizações Sociais (OS). As OSs Deve-se perceber, conseqüentemente, que o
O complexo de saúde da UNICAMP recebe seu são definidas como “pessoas jurídicas de direito problema de subfinanciamento da área de saúde
financiamento de duas fontes diferentes: a tabela privado, sem fins lucrativos, voltadas a atividades da UNICAMP não acontece de maneira isolada: ela
SUS (procedimentos pagos pelo SUS) advém da de relevante valor social, que independem de é conseqüência da intensa precarização que as
Secretaria de Saúde e é responsável por 1/3 do concessão ou permissão do Poder Público, criadas universidades públicas vêm sofrendo por parte do
capital recebido; os outros 2/3 advém da própria por iniciativa de particulares segundo modelo Estado.
universidade para pagamento de recursos previsto em lei, reconhecidas, fiscalizadas e Assim, devemos lutar por mais verbas sim para
humanos. Afirma-se que a questão do fomentadas pelo Estado”. Percebe-se, portanto, o hospital, mas essa luta não é desvinculada da
subfinanciamento é bastante preocupante, o que é que, mais uma vez, o Estado se desresponsabiliza luta por mais verbas para a educação. O
verdade. O hospital está totalmente precarizado e de sua função de administrar o bem público, financiamento do complexo hospitalar por meio da
não consegue desenvolver suas atividades de terceirizando esse serviço e privatizando-o. inserção da iniciativa privada não resolverá o
assistência de maneira, no mínimo, adequada. A autarquização não foge dessa política de processo de precarização que o ensino superior
Quanto aos funcionários, afirma-se que mais desresponsabilização do poder público e da lógica público vem sofrendo e, por isso, não resolverá os
de cem leitos do hospital estão paralisados por privatizante pela qual o Estado brasileiro opta: problemas que vêm surgindo cada dia mais nas
falta de contratação de trabalhadores, que está mesmo sendo uma administração pública, a nossas universidades.
paralisada devido a problemas do Ministério autarquia permite que seja criada uma Fundação Devemos nos posicionar contra medidas de
Público com a FUNCAMP (Fundação de Apoio da de Apoio para gerir a administração do complexo terceirizações ou privatizações do da Saúde,
UNICAMP). de saúde. inclusive dentro da UNICAMP, pois somos
Sabemos, entretanto, que a autarquização não A instalação de uma fundação na área de saúde favoráveis a um sistema de saúde 100% público,
é uma proposta aceitável para a resolução desses da UNICAMP (que seria diferente da FUNCAMP) universal e gratuito, com administração pública.
problemas por quais vem passando a área de representa a inserção da lógica privada no serviço
saúde; sabemos, também, que essa proposta não público e na universidade, já que esta não precisa Marcelo Gustavo Lopes
vem isolada, mas sim, em um contexto que se necessariamente prestar serviços somente ao bem Gestão IntegrAÇÃO - CAAL 2011
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ENTREVISTA

Ministro da Saúde Alexandre Padilha fala sobre Movimento


Estudantil, Privatizações na Saúde e Controle Social
Em visita à Unicamp, no dia primeiro de
Abril, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha,
concedeu uma rápida entrevista a O Patológico,
jornal para o qual contribuía enquanto aluno de
graduação em Medicina e participante do CAAL.
Formado pela Unicamp, especializou-se em
Infectologia pela USP. Foi membro do Diretório
Estadual do PT/SP entre 1991 e 93 e fez parte da
coordenação das campanhas de Lula para a
presidência em 1989 e 1994. Subchefe de
Assuntos Federativos na Secretaria de Relações
Institucionais em 2007, foi indicado por Lula a
vaga aberta no TCU (Tribunal de Contas da
União). Em 2009, foi convidado a assumir como
ministro das Relações Institucionais, quando se
tornou o mais jovem ministro do governo Lula.
Hoje, no governo Dilma, continua sendo o mais
jovem ministro, porém, sendo agora responsável
pelo Ministério da Saúde. Na entrevista que
segue, Padilha comenta sobre sua trajetória no
movimento estudantil e seus ideais políticos.
Também responde a questões sobre a conjuntura
atual da Saúde brasileira, no âmbito das
privatizações e do Controle Social do SUS.

O Patológico - Como você iniciou sua


trajetória política?
Alexandre Padilha - Eu comecei a minha
trajetória política no movimento estudantil de
medicina. Comecei no Centro Acadêmico mesmo, Acredito que os ideais sejam os mesmos. Eu Como você avalia o atual processo de
no CAAL, logo que eu entrei. Acontece que sempre lutei por justiça, inclusão social, saúde de privatização do Sistema Único de Saúde
naquele ano, no ano de 1989, não teve ECEM qualidade e acessível à população. E isso não por meio das organizações sociais em
(Encontro Científico dos Estudantes de Medicina). mudou. Eu acredito que trabalho hoje pelos todos os níveis de atenção, ou por
E aí, no ano seguinte, no meu primeiro ECEM, mesmos ideais que tinha quando entrei para o exemplo, das fundações e autarquias que
que foi no Rio de Janeiro, eu já me elegi movimento estudantil na faculdade. gerem os hospitais de ensino de São
presidente da DENEM (Direção Executiva Paulo?
Nacional dos Estudantes de Medicina). E aí a Como você avalia a atual situação do Eu não vou analisar caso a caso até porque
gente fez muita coisa. Foi no meu ano que a gente controle social do SUS tendo como eu não conheço a situação de cada hospital e de
criou o CENEPES (Centro de Estudos e Pesquisas presidente do Conselho Nacional de Saúde cada modelo administrativo. Existem coisas que
em Educação e Saúde). Foi na nossa gestão o Ministro da Saúde. Você acha um são bastante específicas. Esse debate da
também que se iniciou o projeto CINAEM controle social efetivo possível nessa privatização no SUS já foi decidido em 1988.
(Comissão Interinstitucional Nacional de circunstância? Quando o SUS foi criado, na oitava conferência
Avaliação das Escolas Médicas), aquele de Eu acho que sim. Quando fui eleito por Nacional, houve essa discussão, se seria apenas
avaliação das escolas médicas, que foi muito aclamação presidente do Conselho Nacional, não público ou se iria existir junto com os sistemas
protagonizado pela DENEM e pelo movimento havia nem uma outra candidatura. Eu acho que a privados. Então, não é o caso de retomar esse
estudantil junto com a ABEM (Associação presença do Ministro da Saúde como presidente debate. Devemos pensar no acesso da população
Brasileira de Educação Médica). A partir daí eu do Conselho até fortalece o Conselho Nacional de a uma saúde de qualidade.
me envolvi com o PT, tranquei meu curso por três Saúde, que vem sendo esquecido, e essa presença O principal debate não é o de modelos
anos para trabalhar pelas eleições do presidente fortalecendo o Conselho, fortalece também o administrativos, e sim de qualidade de
Lula. Todos achávamos que o Lula iria ganhar Controle Social. Eu quero lutar pelo controle atendimento e da gestão, para que não haja
naquele ano (1994). Havia um medo generalizado social, para que ele seja mais efetivo. Inclusive, dupla porta, desvio de verba, e para que o
de um operário assumir a presidência naquela esse é um ano muito importante, ano de controle social seja efetivo. Existem unidades de
época. As pessoas pensavam que o Lula poderia Conferência Nacional de Saúde, e a gente tem que saúde de gestão pública que o funcionam como
desestabilizar a imagem do país no exterior. Que o mobilizar toda a população para participar, não só privadas. Só consegue atendimento quem tem
Lula iria quebrar o país. Enfim, tudo que ele na Conferência Nacional, mas também em todas indicação. O médico chega a hora que quer, às
provou o contrário nos últimos anos de governo. as instâncias Estaduais e Municipais. Inclusive, vezes nem aparece. A gente tem que valorizar o
Depois das eleições, retornei ao curso para acho que os estudantes têm papel fundamental bom profissional. Tem que remunerar melhor o
concluí-lo. Me afastei um pouco da política e nesse processo. Mas não só eles, outras parcelas bom profissional, que é bem avaliado pelos
voltei de maneira mais intensa quando o Gastão da população devem também participar. Ou usuários. Temos que recompensar por mérito
me chamou para assumir o cargo de saúde então, fica aquele negócio de só as pessoas que já aquele profissional de saúde que atende bem e
indígena no Ministério da Saúde. estão escoladas em conferência de saúde que produz saúde para a população. E às vezes,
participam e conduzem o processo sem que haja para isso, é necessário abandonar algumas
Como você analisa a sua postura hoje no muita mudança. Temos que transformar o formas mais engessadas de gestão. Mas acho
Ministério da Saúde e em toda a sua controle social em algo mais democrático, para que o debate não é esse, e sim, de como
atuação no governo Lula à luz dos ideais que de fato haja participação da população, e eu proporcionar mais acesso à saúde e saúde de
que tinha quando estava na Universidade? pretendo incentivar isso. qualidade para a população brasileira.
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SAIU NA MÍDIA

MP-520: A lógica do lucro chega à saúde pública


Enquanto era carregado nos braços qualquer concurso e por tempo
do povo brasileiro em emocionante determinado com contratos
despedida, o presidente Lula deixava temporários. Esta era uma vontade
sobre a mesa de trabalho uma medida muito antiga do governo, pois, com isso,
provisória que terá conseqüências consegue superar qualquer movimento
dramáticas para a maioria da população grevista que venha a ser construído.
empobrecida do país. Nesta medida, Na medida provisória está bem
que tem força de lei com implantação claro que a nova empresa poderá
imediata, Lula golpeia de morte uma incorporar os trabalhadores que já
luta que foi travada ao longo de todo estão nos quadros dos hospitais assim
seu mandato contra a privatização dos como os bens móveis e imóveis
Hospitais Universitários, responsáveis necessários para o início das atividades.
hoje pela pesquisa de ponta na saúde e Também diz a MP que a nova estatal
pelo atendimento gratuito à população. estará autorizada a patrocinar entidade
A medida provisória autoriza a criação fechada de previdência privada, nos
de uma empresa pública, de direito termos da legislação vigente, o que
privado, chamada de Empresa significa a abertura para o atendimento
Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. aos planos de saúde, também um
- EBSERH, que, vinculada ao Ministério antigo desejo do agora ex-presidente.
da Educação, poderá prestar atendimento à saúde e trabalhadores dentro das instituições se Para os reitores e provavelmente para a
servir de apoio administrativo aos hospitais mobilizaram e empreenderam longa luta contra maioria dos trabalhadores que ainda estavam
universitários. esse projeto. vinculados às Fundações, esta medida vem como
Numa primeira mirada isso pode parecer Mas, agora, no apagar das luzes do seu uma luva para seus interesses. Os reitores poderão
ótimo e muitos perguntarão como alguém pode ser governo, em pleno final do ano, quando os seguir contratando trabalhadores sem concurso,
contra uma idéia como essa. Mas, observando as trabalhadores públicos, na sua maioria, estão em resolvendo a questão da terceirização. Além disso,
letras pequenas da lei, pode-se perceber o grau de férias, Lula cria uma empresa, de administração também poderão captar recursos privados de
perversidade que está contido nesta MP. Em privada, para administrar os hospitais forma mais tranqüila, sem precisar usar
primeiro lugar é bom contextualizar o problema. universitários. A estatal será uma sociedade subterfúgios ou ilegalidade. Também poderão
Desde há alguns anos que o Tribunal de Contas da anônima e terá seu capital oriundo do orçamento cobrar uma administração mais enxuta, aos
União vem observando algumas ilegalidades nos da União, portanto pertence à nação. Mas, como é moldes da privada, estabelecendo metas de
HUs. Uma delas é a contratação indiscriminada de de direito privado, toda a lógica administrativa se produtividade. Em suma, tratando a saúde da
trabalhadores através de Fundações. Mas, esta foi prestará a busca do lucro e da produtividade. Coisa população como mais uma mercadoria. Os
a forma encontrada pelas administrações para dar que sempre foi combatida pelos trabalhadores, trabalhadores terceirizados, que hoje estão sob a
atendimento nos HUs, uma vez que não havia pois, na saúde, não há como trabalhar com ameaça de perder o emprego, ficam mais
concurso público para novas contratações e muito produtividade. O que pode ser produtivo num tranqüilos e tudo segue dentro da "ordem". Com
menos vontade política dos reitores em enfrentar o hospital? A doença... isso não haverá mais a necessidade de lutar pelo
problema de frente. O movimento de No corpo da medida provisória que cria a concurso público.
trabalhadores sempre se colocou contra essa forma estatal de direito privado, o governo promete a Para quem faz a luta nas universidades este foi
de contrato porque acabava criando duas prestação de serviços gratuitos de assistência um duro golpe. A criação da nova empresa pública
categorias dentro dos hospitais: a dos servidores médico-hospitalar e laboratorial à comunidade, estilhaça uma luta de anos pela manutenção dos
públicos, com todos os direitos garantidos; e a dos assim como a prestação, às instituições federais de Hospitais Universitários 100% SUS. Com o artigo
contratados, sempre na berlinda por conta de ensino ou instituições congêneres, de serviços de que permite a contratação de previdência privada,
serem celetistas. Não bastasse essa discriminação apoio ao ensino e à pesquisa, ao ensino- os HUs poderão, enfim, criar as famosas duas
funcional, ainda havia intensa rotatividade aprendizagem e à formação de pessoas no campo portas de entrada: uma para os que dependem da
prejudicando o bom andamento dos trabalhos. da saúde pública. De novo, isso parece muito bom. saúde pública e outra para os que têm plano de
A solução imediatamente apontada pelo Mas, como é uma empresa de direito privado, sua saúde. Pode parecer que isso está bem, que não vai
governo Lula foi a regularização das fundações meta é o lucro e aí se inserem as armadilhas. mudar em nada a vida daqueles que hoje
privadas dentro das universidades, o que provocou Como seu papel será o de administrar unidades dependem do SUS e que sempre encontraram
um grande movimento contrário nas Instituições hospitalares, abre-se o caminho já apontado pelo guarida nos HUs, mas, quando um hospital passa a
Federais de Ensino Superior. Isso porque, ao longo governo de separação dos hospitais-escola do se mover dentro da lógica privada, tudo muda. É
destes anos, foram divulgados inúmeros Ministério da Educação, passando ao campo da certo que as pessoas vão sentir o peso desta
escândalos envolvendo as fundações em várias Saúde. Pode parecer lógico, mas não é. Os hospitais medida bem mais na frente, inclusive, esquecendo
IFES, mostrando o quão funesto era esse sistema universitários estão hoje visceralmente ligados à como isso aconteceu. Mas, para quem está na luta
de burlagem da lei, no qual as fundações captavam universidade. Têm como função servir de espaço de pela universidade e pela saúde pública é hora de
recursos privados para serem aplicados nas ensino para os estudantes das mais variadas áreas mostrar os funestos efeitos que virão.
universidades, em operações muitas vezes envoltas médicas. Todos os trabalhadores ali lotados estão É sempre difícil para os lutadores sociais serem
em irregularidades que beneficiavam pessoas em igualmente ligados à universidade. Com a nova os "arautos da desgraça", aqueles que estão sempre
vez das instituições. empresa e sua lógica administrativa privada, isso a ver problemas e apontando as críticas. Mas, é o
Batendo de frente com o movimento docente e muda. Os trabalhadores poderão ser contratados compromisso com a vida digna para todos que leva
técnico-administrativo, o governo do presidente pela CLT, sem acarretar qualquer vínculo com o a essa prática. Nosso papel é mostrar as graves
Luiz Inácio recuou e, mais tarde, lançou nova Estado e estarão submetidos a metas e conseqüências que advirão desta medida e
ofensiva com a proposta de uma Fundação Pública produtividade. Isso igualmente cria uma profunda preparar o terreno para as lutas que se farão
de Direito Privado que assumiria o papel de todas divisão na categoria, com a presença de dois tipos necessárias quando a privatização da saúde tomar
as fundações já existentes, com possibilidade, de trabalhadores, os públicos e os privados, conta de um dos últimos bastiões do atendimento
inclusive, de administrar as instituições de ocasionando conflitos e freando as lutas. Segundo a público: os hospitais universitários.
Educação, Saúde e Cultura. Isso, na prática, era medida, os trabalhadores especializados, ainda que
privatizar o sistema público de atendimento à CLT, passarão por concurso, mas o pessoal de nível Elaine Tavares, publicado em 15 de janeiro de
população. Mais uma vez os movimentos de técnico-administrativo poderá ser contratado sem 2011 no site http://www.correiocidadania.com.br
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SAIU NA MÍDIA

Deputados de São Paulo aprovam reserva


de 25% dos leitos do SUS para planos de saúde
O governo do estado de São Paulo conseguiu da população do estado) se utiliza existe legislação estadual e federal para isso",
aprovar, por 55 votos a favor e 18 contra, o rotineiramente do atendimento das unidades aponta o parlamentar.
Projeto de Lei Complementar (PLC) 45/2010. O estaduais especializadas (...). Não é adequado Para o presidente do Sindsaúde-SP, Benedito
texto destina 25% dos leitos de hospitais que as unidades não possam realizar a cobrança Augusto de Oliveira (Benão), a medida é inviável
públicos de alta complexidade, além de outros do plano que os pacientes têm", justificou o porque não há como regulamentar a separação
serviços hospitalares do Sistema Único de Saúde governador. de leitos do SUS, para pacientes do sistema
(SUS), a pacientes particulares e de convênios público e de empresas privadas.
médicos privados. O PLC foi à votação na noite CRÍTICAS "É impossível operacionalizar (essa
da terça-feira (21) e enfrentou a oposição dos Para os deputados de oposição e proposta)", aponta. "Leito não é uma coisa
deputados do PT e do PSOL. Das galerias, representantes da área médica, na prática a estática. Cada dia, cada semana há um número à
servidores da saúde também protestaram contra destinação de 25% dos leitos e serviços disposição", esclarece. "A pessoa está doente e
a medida. hospitares do SUS à empresas de medicina você vai dizer a ela que ficou nos 26% e são só
Apesar de ter sido aprovado no final de privada vai significar a redução do atendimento 25%. Isso é um crime. O contrário também em
2009, o projeto foi vetado pelo então governador nas unidades públicas e criar duas filas para relação aos 75%", elabora. Para o dirigente
José Serra (PSDB) após repercussão negativa atendimento. sindical, o governador de São Paulo promove
entre entidades médicas e a ameaça de "Evidentemente que criará uma triagem para uma "antipolítica".
intervenção do Ministério Público caso o plano que haja mais leitos para o sistema privado De acordo com o PLC aprovado, a definição
fosse aprovado. No final de novembro, o dentro do sistema que já é precário", antevê das unidades que poderão ofertar serviços a
governador Alberto Goldman (PSDB), que Fausto Figueira, presidente da Comissão de pacientes particulares ou usuários de planos de
substitui Serra desde abril, voltou a apresentar o Saúde e Higiene da Alesp. saúde privados e demais condições para
projeto em regime de urgência. Figueira também descarta a ideia de que o operacionalização da medida serão realizados
Em mensagem à Assembléia Legislativa de projeto vai possibilitar a cobrança dos planos de pela Secretaria Estadual da Saúde.
São Paulo, Goldman justificou que a medida vai saúde por serviços do SUS. "Essa desculpa de
permitir a cobrança de serviços especializados criar lei para conseguir cobrar dos planos o que é Publicado em 22/12/2010, 15:10
de saúde de planos privados. "Essa parcela (40% utilizado no serviço público é uma falácia. Já Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual

EVENTOS

Impressões sobre o COBREM 2011


O XXIII Congresso Brasileiro dos Estudantes
de Medicina (COBREM) teve como tema
“Educação para Além dos Muros: da Reflexão à
Prática”, e aconteu em Maceió entre os dias 23 a
31 de Janeiro de 2011, sendo realizado pelo
Centro Acadêmico Sebastião da Hora (CASH -
UFAL) e Diretório Acadêmico “2 de Maio” (DA2 -
UNCISAL).
O COBREM tem como objetivo planejar
estrategicamente o de atividades do Movimento
Estudantil de Medicina, eleger e empossar a Sede
Nacional da Executiva (Coordenação Geral,
Coordenação de Finanças e Coordenação de
Comunicação) e definir as Coordenações de Área
e Assessorias que não foram eleitas no último
ECEM.
Terminado o COBREM, você continua a
digeri-lo. E, então, você inicia uma auto-digestão.
Mas tudo isso no melhor sentido possível. Você
continua a digeri-lo, pois são muitas informações
e provocações. Após essa digestão, você irá pensar
maneiras de implicar-se em transformações, Ocorrem muitas disputas, embates se travam, Existe uma energia muito bacana no
tanto locais (na faculdade, por exemplo), como concebe-se um planejamento para a DENEM Congresso. Muita gente pensando, se articulando,
globais. Para aqueles que buscam essas mudanças (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de fazendo. É algo realmente contagioso e capaz de
no dia-a-dia, o Congresso serve como catalisador Medicina), rolam discussões, conhecemos muitas re-significar sua visão sobre Centro Acadêmico
de idéias e espaço para articulações. Para os que pessoas, surgem questionamentos, muitas idéias (CA), sobre Movimento Estudantil (ME), sobre
ainda somente pensam no assunto, serve como vêm à tona, ideais são despertados, ...Você se pensar e fazer uma transformação da sociedade.
um propulsor de engajamento. Em um segundo forma, se informa e se transforma! Acho que é um espaço no qual você aprende
momento, inicia-se a auto- digestão. Refiro-me O Congresso é constituído por diversos muito e, além disso, tem o poder de despertar
aqui à auto- análise e auto- crítica, tanto em espaços, oficiais e extra- oficiais, como: mesas, muita reflexão, auto- análise e auto- crítica.
relação à validade de suas ações, quanto em debates, plenárias, oficinas, grupos de discussão, Participar do COBREM é uma estratégia pessoal e
relação aos seus valores, crenças e escolhas. reuniões, confraternizações, entre outras tanto para iniciar o ano com muito mais gás para
Trata-se de um Congresso longo – são atividades. É muita informação, especialmente no lutar por um mundo melhor.
intensos sete dias – e muito diferente de todos os meu caso, já que foi o primeiro COBREM do qual
outros. Nessa semana, muita coisa acontece. participei. Leticia Marinho Del Corso (47)
8 MARÇO/ABRIL 2011

Avaliação da Calourada
O CAAL distribuiu formulários para que a
49ª turma de medicina da Unicamp avaliasse
as atividades oficiais da semana de calourada,
atribuindo uma nota de 0 a 10 a cada atividade.
66 estudantes responderam anomimamente, e
os resultados podem ser encontrados no
gráfico que segue. Todas as atividades
passaram sem necessidade de exame, pois
tiraram 7 ou mais, entretanto, pelos dados que
seguem, podemos descobrir quais as atividades
favoritas dos calouros e quais as menos
apreciadas. Além disso, reservamos um espaço
em cada formulário para que os calouros
escrevessem livremente sobre o que gostaram e
o que não acharam muito legal nas atividades,
além de terem a chance de contribuirem com
sugestões para o próximo ano.
Na avaliação subjetiva o que se observou foi
expressão da pluralidade de opiniões acerca
dos melhores (e os piores, por que não¿)
momentos da Calourada, embora
agradecimentos ao Centro Acadêmico e à
Associação Atlética tenham sido entusiásticos e
muito freqüentes. De modo geral, houve
aqueles que desejaram mais festas, aqueles que
adoraram conhecer um pouco da história da
UNICAMP e tiveram suas expectativas
correspondidas pela Aula Magna do Dr.
Rogério e ainda aqueles que não puderam
usufruir a Semana completamente, pois não
foram aprovados nas primeiras chamadas.
Críticas construtivas também não faltaram,
como o pedido de melhor distribuição do
tempo das apresentações CAAL/AAAAL,
algumas decepções em relação ao Almoço com
o Sexto Ano, problemas com a metodologia
usada no Integra Saúde e também reclamações
em relação à postura de alguns veteranos.
Esperamos que através dessas opiniões e com a
ajuda de todos, a Semana de Calourada possa
se tornar cada vez mais acolhedora para
aqueles que, ano após ano, dão vida nova à
nossa faculdade!

Gestão IntegrAÇÃO Calouros e veteranos no Happy Hour do CAAL 2011

Organizando uma Vivência


Participar da organização de Josué (45) e Henrique/Abrealas de como seria conduzida a projeto terapêutico depois de
eventos para a semana de (45). A ideia era de que os Vivência. À exceção da fábrica de voltarem de cada local, e a troca de
Calourada envolve certo desapego calouros fossem convidados a baterias, conversei com alguns impressões. Dieta, exercício,
pelas férias (haha) e bastante encontrar “soluções” para um caso trabalhadores e no bairro medicação, tentativas de sanar
vontade de realizar atividades que clínico apresentado e montar um escolhido, conversei com maus hábitos como o cigarro e a
pessoas desconhecidas gostem. Há projeto terapêutico adequado para moradores, basicamente uma pré- bebida foram pontos enfatizados,
também o desejo de retribuir a o paciente. Para isso, eles deveriam vivência. A constatação de mas havia ressalvas na maior parte
recepção que lhe foi dada a fim de conhecer alguns aspectos da vida problemas como jornada de do que foi colocado. Muitas
que os que acabaram de chegar dele e visitar os supostos locais trabalho excessiva, péssimas limitações financeiras e outras
sintam-se acolhidos. onde o ator, Toninho, trabalhou ou condições de trabalho, falta de impostas pela rotina de trabalho
Participei mais ativamente da trabalhava e residia. infraestrutura da Unidade Básica que o paciente precisava cumprir
organização da Vivência, momento O trabalho antigo do paciente de Saúde, ausência de espaços para para sobreviver.
em que o Centro Acadêmico se era de carregador no CEASA; o prática de atividades físicas, falta No fim do dia, os rostos de “o
apresenta e o estudante recém- trabalho atual era feito numa de medicamentos, violência, que eu faço agora?” deram indícios
chegado é convidado a refletir fábrica (recicladora) de baterias drogadição deveria fazer com que de que a atividade alcançou seu
sobre questões pertinentes à cujas condições eram precárias e a os calouros pensassem de que objetivo e pôde mudar de alguma
prática médica, mas quase nunca moradia do indivíduo ficava em forma essas condições afetavam a forma a percepção dos calouros
abordadas em sala de aula. A Hortolândia, no bairro São Jorge. saúde do Toninho. sobre a profissão que escolheram.
elaboração da atividade começou Em cada um desses locais, foram Foi bastante interessante ver o
com a proposta de dois alunos: feitas visitas prévias e simulações afinco dos calouros ao montar o Brunely (48)
MARÇO/ABRIL 2011 9

CALOURADA Como funciona o


Comentários dos protagonistas grupo de educação
IMPRESSÕES DE UM CALOURO
SOBRE A CALOURADA
técnico do médico ao requerer deste um poder de
resolução também sobre as disparidades do CAAL?
Depois de tantas horas de estudo e esforço socioeconômicas presentes no trágico cenário
entramos em medicina, chora pai, grita mãe. É só brasileiro em que vivemos. O grupo de ensino e educação médica da
felicidade. E o primeiro contato que os Podemos dizer que o grande mérito do Centro gestão IntegrAÇÃO refere-se a todos os grupos de
ingressantes possuem com a dinâmica da Acadêmico foi revelar ao estudante o quão penosa interesse relacionados a esses tópicos. A
faculdade que passarão (no mínimo) seis anos de pode vir a ser a profissão médica e, desta finalidade dele é, então, de organizar eventos,
sua vida é a semana dos calouros. E no primeiro maneira, provocá-lo construtivamente sobre estudos, discussões e projetos que auxiliem os
dia de aula lá vão os calouros, com cara de estratégias de contribuição para a humanidade, estudantes de Medicina da Unicamp a criarem
perdido, assustados, sem saber o que fazer e com de tal modo a colaborar para a formação de uma visão crítica de seu processo educacional
medo, afinal, é nessa hora que conhecemos as profissionais menos alienados e, portanto, universitário. Para isso, serão organizados
pessoas que farão grande parte de nossas vidas dotados de um senso crítico mais aguçado. eventos de discussão sobre a Lei dos Estágios,
durante os anos de faculdade. E isso nos faz Por fim, digo sentir-me lisonjeado por fazer qualidade de vida dos estudantes, a Reforma
presas fáceis, ovelhas inocentes, bobas e felizes parte desse time de futuros “doutores” da Curricular, CREMESP, ENADE, Ato Médico e
querendo se integrar à faculdade e ávidas por Unicamp, os quais praticarão uma medicina de História da Prática Médica (para mais
informação, suscetíveis ao ataque dos “leões” da verdade, isto é, uma medicina que se abstém do detalhamento desses eventos, consultar o
faculdade (leia-se veteranos). objetivo de tornar o diagnóstico um mero objeto Planejamento da Gestão IntegrAÇÃO, 2010/2011,
A calourada serve mais para os veteranos de compra e venda para assim reforçar o papel do no site www.caalunicamp.com.br).
bombardearem de informações os pobres medico, mas ao contrário, se torna agente Além disso, alguns grupos fixos de interesse
calourinhos do que a integração dos novos empenhado em buscar curar a mais importante foram criados, como o de Ligas Acadêmicas e o
estudantes, considerando que as relações pessoais das doenças no mundo denominada INJUSTIÇA Projeto de Acompanhamento Curricular, para se
só são estabelecidas ao longo do tempo, não em SOCIAL. manter uma constância nos assuntos presentes
uma semana. Participe das reuniões do CAAL, João Paulo (49) durante todo o ano na vida do estudante. Assim, o
pratique tal esporte, aquela pessoa é chata, aquela grupo de acompanhamento das Ligas Acadêmicas
matéria é fácil, estuda por tal livro, vá a tal festa. A SEMANA DA CALOURADA (LAs) tem o intuito de amparar as LAs em
Muita informação e pouco tempo para processar. A Semana da Calourada foi muito intensa, atividades propostas ao longo do ano e de discutir
O sentimento que se tem é que toda a sua vida começando por um inesquecível primeiro almoço o papel delas na faculdade, para que haja um
universitária será determinada nos primeiros no Bandeijão, na segunda-feira, e terminando enriquecimento das atividades propostas pelas
dias. Veteranos, dêem tempo para os seus com a observação da cidade de Campinas na mesmas, assim como discutir o apoio do CAAL e
calouros se acostumarem com a vida universitária Torre Castelo, no domingo. Conciliou atividades lutar pelo apoio da Diretoria às mesmas. Os
e curtirem esse momento tão bom que é não ter de entretenimento, como as festas e o tour, com membros da gestão IntegrAÇÃO envolvidos nesse
mais que prestar vestibular. as de reflexão mais séria, como a vivência e o grupo são: Amanda Zambon, Amanda Gontijo,
Das atividades mais voltadas ao social tivemos Integra-Saúde, tendo seus pontos altos (a Daniel (Fanta), Marcos, Guilherme, Ricardo,
o Integra Saúde e a Vivência, em que tivemos exemplo de tomar sorvete na Sergel) e baixos Thaïs F. e Vanessa.
maior contato com o que é a profissão de médico (como assistir ao jogo do Guarani), sendo o Já o Projeto de Acompanhamento Curricular
e, principalmente, qual o papel do médico na resultado uma semana para ficar na memória dos tem como objetivo facilitar e intensificar a
sociedade. E em relação às festas temos opiniões calouros que participaram. comunicação geral entre o CAAL e os alunos de
divergentes, o que é esperado de uma sala com Contudo, para além dos eventos em si, a graduação da Medicina da Unicamp e permitir
110 pessoas com gostos diferentes. Alguns Calourada cumpriu o seu papel ao promover o que todos colaborem ativamente com a melhora
gostaram e conheceram vários veteranos, outros contato entre os calouros e de nós calouros com o de nosso ensino. Para isso, um representante do
acharam desnecessário o desperdício de tanta veteranos. Nela, conhecemos parte dos colegas CAAL (Acompanhantes dos Representantes de
cerveja e outros não gostaram nem um pouco que vão nos acompanhar nos próximos anos e Módulos e Grupos de Internato - ARMI) fica
(assim como em outras atividades). Que o trote fizemos amigos, fomos apadrinhados, recebemos responsável por recolher o resumo feito pelos
existe é fato e estaremos sendo ignorantes ao apelidos e trabalhamos a habilidade de dormir representantes de módulo ou de grupo de
negar isso, porém, vai de cada pessoa considerá- pouco. O que eu gostaria de destacar, por fim, é internato sobre críticas, elogios e sugestões que
lo como forma de integração ou como forma de que pudemos obter uma compreensão geral – seus colegas sugerirem ao final de cada módulo,
constrangimento e autoritarismo. ainda que superficial e talvez enviesada – do assim como a devolutiva do gestor do módulo e
De qualquer forma, a calourada ficará funcionamento das relações sociais na faculdade, encaminhá-las à CEG. Acreditamos que,
marcada nas mentes dos calouros como a o que nos permite definir nossas preferências mantendo essas avaliações durante os anos
primeira impressão da faculdade. E como toda extracurriculares e pensar mais criticamente a seguintes e suas exposições para as turmas
primeira impressão, ela é substituída por aquela faculdade. posteriores de forma seqüenciada, poderemos
que se constrói conforme o tempo passa. João Conrado - Sisudo (49) contribuir com o aprimoramento de nosso ensino
Rafael Nishida - XLIX por termos mais acesso tanto ao que foi sugerido


como mudança, como ao que foi acatado pelos
VIVÊNCIA: A MAIOR DAS LIÇÕES módulos, e ao que não foi ouvido - e, tendo em
Contrariamente a uma suposta visão de que a
vitória no vestibular traria felicidades constantes,
Tô registro formal tudo isso, brigar por maior
reconhecimento da participação dos estudantes

“ ”
a experiência ofertada pela Vivência trouxe à tona no aperfeiçoamento de sua própria formação. Os
inúmeras questões acerca da dinâmica em Eu tô te explicando pra te confundir, membros da gestão IntegrAÇÃO envolvidos nesse
sociedade; uma sociedade de cujas características Eu tô te confundindo pra te esclarecer, grupo são: Letícia Sathler, Mateus T. (Brasília),
podemos extrair um novo rumo para as ações dos Tô iluminado pra poder cegar, Natalia O., Stephany (Piu-Piu), Thaïs Florence e
médicos de amanhã. Tô ficando cego pra poder guiar. Vanessa.


Sobre a realidade que nos cerca, o Caso Para maiores informações, envie um e-mail
Toninho é um exemplo bem ilustrativo. Ele impõe Tom Zé para a gestão (caal2011@gmail.com), e venha
ao médico inúmeras barreiras que traduzem a participar das reuniões ordinárias do CAAL, que
necessidade de lidar com o ser humano levando acontecem toda SEGUNDA-FEIRA, DAS 12h30 as
em consideração seu contexto social e sua http://www.vagalume.com.br/tom- 14h, NA LEGO DA FCM!
valorização no mundo. Nesse sentido, a adoção de ze/to.html#ixzz1JXEiQFpj
um tratamento eficiente extrapolava o potencial Gestão IntegrAÇÃO - CAAL 2011
10 MARÇO/ABRIL 2011

MOVIMENTO ESTUDANTIL

Reitoria da Unicamp pede reintegração


de posse e ameaça estudantes com a PM
O protesto dos estudantes da Unicamp contra reintegração de posse. Após a entrada e entrada da PM para expulsar o estudante.
a ditadura na moradia estudantil, a falta de vagas posicionamento da Tropa de Choque da Polícia A moradia da Unicamp foi criada para atender
e expulsão de estudantes está novamente Militar, os estudantes decidiram ocupar a 10% dos estudantes da universidade. Na época
ameaçado com a repressão policial através de um administração da moradia e reivindicar mais seriam 1,5 mil vagas, no entanto foram criadas
pedido de reintegração de posse vagas e fim da perseguição contra os moradores. apenas 900. Atualmente a universidade tem mais
A reitoria da Unicamp entrou na Justiça com o Na sexta-feira, 4 de março, a reitoria da de 30 mil alunos e o número de vagas continua o
pedido de reintegração de posse do prédio da Unicamp entrou com pedido na Justiça de mesmo. Os 10% foi acordado com a própria
administração da moradia estudantil. reintegração de posse do prédio. reitoria por ser a necessidade, no entanto, nunca
Os estudantes ocuparam o prédio após a Os oficiais de Justiça foram até o local por foi cumprido.
invasão policial para expulsar estudante que já foi volta das 17h30 na sexta-feira e notificaram os Agora querem tratar os estudantes que estão
morador oficial e agora estava como hóspede. Isso estudantes sobre a decisão. na moradia por não ter mais para onde ir e esta
porque o processo de seleção da moradia é Acertadamente, os estudantes afirmaram que ser a única forma de terminar o curso com a
arbitrário e sem sentido. Em um ano o estudante vão resistir e permanecer no local por suas selvagem Tropa de choque da Política Militar de
precisava de moradia e no outro deve levar todos reivindicações. São Paulo.
os documentos novamente para provar que Os estudantes reivindicam melhores condições É necessário que todo o movimento estudantil
continua com a mesma situação econômica e de moradia, ampliação do número de vagas e repudie a ameaça da repressão policial e apoie as
passar por nova seleção. Centenas de estudantes reivindicam o “fora Viotto”, indicado da reitoria reivindicações de uma moradia estudantil
foram para a casa do morador contra a para mandar na moradia e foi quem autorizou a administrada pelos estudantes.

Moradia retomada da USP publica moção de


apoio à ocupação dos estudantes na Unicamp
Origem: CRUSP — Moradia Retomada cultural e política das moradias, implementando administrativos disciplinares tentam minar
Data: 04/03/2011 um estado de letargia e aprisionamento, as nossa ação coletiva que há quase um ano
A histórica luta por permanência estudantil reitorias, através de interventores, aplicam organiza um novo espaço autônomo no CRUSP,
remonta ao início da formação das próprias práticas coercitivas, como expulsões arbitrárias a Moradia Retomada, antes usurpado por parte
universidades. Mas as moradias só consolidam- de estudantes, descaracterizações espaciais, da COSEAS (Coordenadoria de Assistência
se através da ação direta de estudantes. Após a eliminação dos espaços de vivência e inutilização Social), órgão responsável por essas práticas
reabertura do país, com o fim da ditadura dos espaços de moradia para uso do pesado policialescas e nefastas. No campus de São
militar, o direito ao acesso e permanência foi aparato burocrático. Além de diminuir o número Carlos, com o intuito de manter a autonomia
ascendido à constituição. Mas os resquícios nas já insuficiente de vagas, têm o intuito de minar a estudantil de mais de quarenta anos no Aloja São
estruturas de poder autoritárias das organização coletiva. Organização que é o cerne Carlos, repelindo a sanha invasora da COSEAS,
universidades continuam tentando nos privar da mais rica formação universitária, e só ocorre no ano passado os estudantes ocuparam a
até desse direito. Não à toa. As moradias dentro das moradias. Coordenadoria do Campus e foram vitoriosos,
estudantis, grandes exemplos de interação, Na USP, no campus Butantã, o ditatorial impondo um recuo aos burocratas.
vivência e experiência, verdadeiras Programa de Ação Comunitária e Segurança que Agora, na Unicamp, mais uma vez os
universidades livres dentro das universidades rege a perseguição política dos moradores do estudantes se mobilizam em defesa da moradia
aprisionadas, sempre foram e serão focos de CRUSP (Conjunto Residencial da Universidade estudantil. Nós da Moradia Retomada
resistência e luta. de São Paulo), um coordenador interventor declaramos todo o apoio aos estudantes da
Numa tentativa de conter a efervescência imposto por um reitor interventor e processos Moras!
MARÇO/ABRIL 2011 11

PATO CULTURAL

Verdadeiramente livre
“127 Horas” é a história verdadeira do Por instantes, ele acredita ser capaz de consuma os últimos restos de energia, que a sede
montanhista Aron Ralston e de sua incrível levantá-la. Sozinho. Percebendo a tarefa difícil, lhe seque cada fluido de vida, que a solidão
aventura para salvar-se depois que uma pedra que faz o homem? Junta todas suas forças e tenta deprima cada parte de seu espírito.
solta cai sobre seu braço e o deixa preso num erguê-la novamente. Sozinho. Segue inutilmente a Pois a pedra esteve lá sempre, ninguém
cânion estreito e isolado de Utah. Durante seu tentativa frívola; até que desiste. mandou o homem se prender tanto a ela. Pois
suplício, Ralston lembra-se de amigos, amores e Com instrumentos mais agressivos, tenta iguais aquelas, há tantas outras, e desde que o
da família. Nos cinco dias seguintes, Ralston luta impacientemente desgastar a pedra. Quando mundo é mundo há quem se prenda e sofra e
contra os elementos naturais e seus próprios percebe uma tarefa deveras longa, inicia quem consiga se safar de sequer vê-las tão de
demônios; até finalmente descobrir que possui a pacientemente a machucá-la. Sozinho. Ocupa seu perto. Pois existem coisas que são para ser e não
coragem e a fortaleza para encontrar alguma tempo, na esperança de que com cada minúsculo cabe a cada um de nós achar que somos capazes
forma de livrar-se dessa prisão. movimento de seu pequeno pedaço de metal, seja de transformá-las. Pois não há de se esquecer que
possível ser livre novamente. devemos nos esforçar para não sermos os
FONTE: http://www.cinepop.com.br De repente, uma enxurrada produz a força que próximos detidos à pedra.
outrora o homem não teve para De repente, o homem vê que não está
erguer a pedra. Liberta-se tão inteiramente colado ao seu falso destino. Não
facilmente quanto acorda de seu haverá forças alheias ao homem, exceto às do
sonho inverossímil: segue estático próprio homem, que o façam romper com tal
e preso à rocha. Sozinho. situação. Não há mais conversas possíveis, as
Horas consomem seus horas lhe tiraram a capacidade de argumentar
pensamentos: a fome lhe desola; a com sua pedra. Não há mais esperas possíveis, a
sede o esfomeia; a solidão o falta de horas que lhe restam tiraram-lhe a
desidrata. E sua amargura o capacidade de dar mais uma chance menos
alucina. A cada golpe de seu drástica à situação. Com bravura, o homem
sofrimento, imagina-se remove-se do que acreditava ser seu destino,
desfrutando das mais geladas arranca de si mesmo o que a pedra já se
bebidas, revivendo seus mais encarregara de tirar-lhe e corta radicalmente o
bonitos romances, reconhecendo- membro que o tornava preso.
se livre novamente. Bastavam-lhe as alucinações e os
Exala uma esperança na ressentimentos; só longe de sua solidão
atmosfera: a presciência de que a encarcerada por seu próprio corpo que poderia
Há coisas mais altas que chorar o amor de qualquer momento irromperá sobre os dois sentir-se livre novamente.
tardes perdidas: o rumor de um povo que corpos algo capaz de rompê-los. De que é possível Imagine o Homem preso milhões de horas
desperta, isso é mais belo que o orvalho. O metal coexistirem, não tão diretamente afetados, um subseqüentes por uma rocha. Chamam-lhe de
resplandecente de sua cólera, isso é mais belo que pelo outro. destino. Chamam-lhe de imutável.
a lua. Um homem verdadeiramente livre, isso é De repente, a solidão proporciona ao homem Sozinhos, continuaremos presos a ela. E
mais belo que o diamante. (Epístola aos poetas um despertar alucinado: será aquela pedra seu tentando inutilmente erguê-la. Ou diminuí-la. Ou
que virão – Manuel Scorza) destino? Terá aquela rocha escolhido o prender alucinar uma vida o mais distante possível dela.
daquela forma? Terá aquela rocha ter sido Mas sempre presos, por partes diferentes dela.
Imagine um homem preso inúmeras horas esculpida minuciosamente por forças externas ao Jamais livres, se sempre sozinhos.
subseqüentes por uma rocha. Ele sabe exatamente homem, para prendê-lo exatamente de maneira O homem livre deve ser nossa única opção.
o que o prende. Vê partes de seu corpo flageladas, tão sem perspectivas de solução imediata? Um homem verdadeiramente livre, isso é mais
asfixiadas e escoriadas. Quase siameses, pedra e Cada vez mais sozinho, resta ao homem belo que o diamante.
ele, estáticos, desentrosados, desajeitados. apenas uma solução: esperar que a fome lhe Henrique Sater (45)

O Limite do Altruísmo
Como já dizia Aristóteles, a virtude está no chamado Dogville e, em troca do
equilíbrio. Dessa forma, até os sentimentos mais acolhimento e proteção dos
puros e sem interesses, devem ser mensurados. moradores, começa a auxiliar a todos
Assim, os filmes “Dogville” e “A alma boa de em tarefas que, segundo eles, não
Setsuan”, a qual teve origem da peça homônima de precisariam ser feitas. Entretanto,
Bertold Brecht, provocam a reflexão sobre a quando a polícia volta a Dogville
exploração da bondade. perguntando pela fugitiva e
As duas histórias possuem em comum um oferecendo uma recompensa por ela,
simples cenário, indicando desde o princípio que as seus antigos amigos tornam-se
aparências não são essenciais para esse tema. Pelo dependentes de seus serviços,
contrário, quanto menor a superficialidade dos cobrando-a cada vez mais. A gota d’água ocorre Estaria o primo errado em dizer “não”?Seria
diálogos, maior a expressão da personalidade de quando seu próprio namorado percebe que ela saudável Grace continuar sendo explorada e
cada um e de sua verdadeira e real intenção. poderia atrapalhar sua carreira. Com um final violentada?
As máscaras utilizadas no cotidiano são, em surpreendente, “Dogville” mostra que tudo tem É admirável quando o gosto de ajudar os outros
ambos os contextos, retiradas com o intuito de limites. está na alma de uma pessoa. Essa vocação é
permitir que a realidade transpareça. Dessa De forma semelhante, em “A alma boa de praticamente natural de muitos médicos, sendo a
maneira, tanto os moradores de Dogville, quanto os Setsuan” Chen Tê procura fazer até o impossível felicidade e o bem-estar de seus pacientes sua maior
que precisam da ajuda de Chen Tê acabam para ajudar as pessoas que a procuram. Não recompensa. A doação do médico parece não ter
aproveitando-se da boa vontade das protagonistas e conseguindo dizer não aos inúmeros pedidos, ela se limites. Contudo, é importante que esse altruísmo
exigem mais tarefas do que as que as primeiras transforma em seu primo Chui Ta, o qual era muito seja equilibrado para que a relação médico-paciente
haviam se voluntariado a realizar. mais severo e inflexível, porém impedia as mantenha-se eficiente e respeitosa até o fim.
Em “Dogville”, a fugitiva Grace chega ao vilarejo explorações. Sílvia Veríssimo (48)
12 MARÇO/ABRIL 2011

O PATO LÓGICO CHARGE

SPASMO

Impromptus: De como
FOTOS quando se duvida...
Não existem mais Histórias para se contar
Não existem estórias que não foram contadas...
Tudo é só uma variação sobre o mesmo tema
Como diriam de maneira singular
cada um dentre 500 maestros espalhados por aí

A Dor de cada um doravante denominada "dor"


O Amor de cada um doravante denominado
"amor"
E outra estória já contada
das mentiras que,
graduadas em curso superior,
tornam-se, por fim, verdades legítimas.

Reunião ordinária no IB A mesma coisa, a mesma dor, o mesmo amor


A obcessão do universo nos universalizou
E a analíse combinatória quer matar a poesia
Será que alguém ainda acredita nas estórias?

Mas se você quer ir, vá em paz


Que por aqui a rotina me acalma os gritos
que até então pertenceriam só aos travesseiros
(mas prometo reservar um desses a você)

Eu vou cuidando de tudo por aqui... de tudo por


aqui...
Por aí deve ser diferente, não é mesmo?
Eu só posso cuidar de tudo por aqui, de tudo por
aqui...
Será que alguém ainda escreve estórias?

Happy Hour da Calourada Fernando Féres (44)

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