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EDITORIAL BALANCETES
CAPA
CAPA
“
e financeira descentralizada. Na equânime, integral com controle
prática, a autarquia é uma entidade social, sendo um direito de todo
pública desvinculada da Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua cidadão e de dever do Estado de
administração direta da prefeitura, hora de amar e seu direito de pensar. É da proporcioná-la.
estado ou união, ela recebe um empresa privada o seu passo em frente, seu pão A desvinculação do complexo
orçamento próprio e decide de que hospitalar da universidade, permite
maneira deve gastá-lo. e seu salário. E agora não contente querem que sejam feitas parcerias com
A proposta de desvinculação da privatizar o conhecimento, a sabedoria, o entidades privadas para a venda de
área de saúde da Unicamp é pensamento, que só à humanidade pertence. campos de estágio dentro do hospital
”
amplamente defendida pelos (ferindo a autonomia universitária),
diretores da Faculdade de Ciências convênios com empresas para a
Médicas da universidade e pelo venda de consultas (a famosa “dupla-
superintendente do hospital das clínicas e sua Em 2008, o governo do estado de São Paulo porta”) e fim do controle social (capacidade de
argumentação baseia-se na questão do aprovou o Projeto de Lei 62/08, que prevê a gestão intervenção da população nas decisões
subfinanciamento da saúde e da contratação de dos centros de saúde e dos hospitais universitários relacionadas à saúde).
funcionários. com base nas Organizações Sociais (OS). As OSs Deve-se perceber, conseqüentemente, que o
O complexo de saúde da UNICAMP recebe seu são definidas como “pessoas jurídicas de direito problema de subfinanciamento da área de saúde
financiamento de duas fontes diferentes: a tabela privado, sem fins lucrativos, voltadas a atividades da UNICAMP não acontece de maneira isolada: ela
SUS (procedimentos pagos pelo SUS) advém da de relevante valor social, que independem de é conseqüência da intensa precarização que as
Secretaria de Saúde e é responsável por 1/3 do concessão ou permissão do Poder Público, criadas universidades públicas vêm sofrendo por parte do
capital recebido; os outros 2/3 advém da própria por iniciativa de particulares segundo modelo Estado.
universidade para pagamento de recursos previsto em lei, reconhecidas, fiscalizadas e Assim, devemos lutar por mais verbas sim para
humanos. Afirma-se que a questão do fomentadas pelo Estado”. Percebe-se, portanto, o hospital, mas essa luta não é desvinculada da
subfinanciamento é bastante preocupante, o que é que, mais uma vez, o Estado se desresponsabiliza luta por mais verbas para a educação. O
verdade. O hospital está totalmente precarizado e de sua função de administrar o bem público, financiamento do complexo hospitalar por meio da
não consegue desenvolver suas atividades de terceirizando esse serviço e privatizando-o. inserção da iniciativa privada não resolverá o
assistência de maneira, no mínimo, adequada. A autarquização não foge dessa política de processo de precarização que o ensino superior
Quanto aos funcionários, afirma-se que mais desresponsabilização do poder público e da lógica público vem sofrendo e, por isso, não resolverá os
de cem leitos do hospital estão paralisados por privatizante pela qual o Estado brasileiro opta: problemas que vêm surgindo cada dia mais nas
falta de contratação de trabalhadores, que está mesmo sendo uma administração pública, a nossas universidades.
paralisada devido a problemas do Ministério autarquia permite que seja criada uma Fundação Devemos nos posicionar contra medidas de
Público com a FUNCAMP (Fundação de Apoio da de Apoio para gerir a administração do complexo terceirizações ou privatizações do da Saúde,
UNICAMP). de saúde. inclusive dentro da UNICAMP, pois somos
Sabemos, entretanto, que a autarquização não A instalação de uma fundação na área de saúde favoráveis a um sistema de saúde 100% público,
é uma proposta aceitável para a resolução desses da UNICAMP (que seria diferente da FUNCAMP) universal e gratuito, com administração pública.
problemas por quais vem passando a área de representa a inserção da lógica privada no serviço
saúde; sabemos, também, que essa proposta não público e na universidade, já que esta não precisa Marcelo Gustavo Lopes
vem isolada, mas sim, em um contexto que se necessariamente prestar serviços somente ao bem Gestão IntegrAÇÃO - CAAL 2011
MARÇO/ABRIL 2011 5
ENTREVISTA
SAIU NA MÍDIA
SAIU NA MÍDIA
EVENTOS
Avaliação da Calourada
O CAAL distribuiu formulários para que a
49ª turma de medicina da Unicamp avaliasse
as atividades oficiais da semana de calourada,
atribuindo uma nota de 0 a 10 a cada atividade.
66 estudantes responderam anomimamente, e
os resultados podem ser encontrados no
gráfico que segue. Todas as atividades
passaram sem necessidade de exame, pois
tiraram 7 ou mais, entretanto, pelos dados que
seguem, podemos descobrir quais as atividades
favoritas dos calouros e quais as menos
apreciadas. Além disso, reservamos um espaço
em cada formulário para que os calouros
escrevessem livremente sobre o que gostaram e
o que não acharam muito legal nas atividades,
além de terem a chance de contribuirem com
sugestões para o próximo ano.
Na avaliação subjetiva o que se observou foi
expressão da pluralidade de opiniões acerca
dos melhores (e os piores, por que não¿)
momentos da Calourada, embora
agradecimentos ao Centro Acadêmico e à
Associação Atlética tenham sido entusiásticos e
muito freqüentes. De modo geral, houve
aqueles que desejaram mais festas, aqueles que
adoraram conhecer um pouco da história da
UNICAMP e tiveram suas expectativas
correspondidas pela Aula Magna do Dr.
Rogério e ainda aqueles que não puderam
usufruir a Semana completamente, pois não
foram aprovados nas primeiras chamadas.
Críticas construtivas também não faltaram,
como o pedido de melhor distribuição do
tempo das apresentações CAAL/AAAAL,
algumas decepções em relação ao Almoço com
o Sexto Ano, problemas com a metodologia
usada no Integra Saúde e também reclamações
em relação à postura de alguns veteranos.
Esperamos que através dessas opiniões e com a
ajuda de todos, a Semana de Calourada possa
se tornar cada vez mais acolhedora para
aqueles que, ano após ano, dão vida nova à
nossa faculdade!
“
como mudança, como ao que foi acatado pelos
VIVÊNCIA: A MAIOR DAS LIÇÕES módulos, e ao que não foi ouvido - e, tendo em
Contrariamente a uma suposta visão de que a
vitória no vestibular traria felicidades constantes,
Tô registro formal tudo isso, brigar por maior
reconhecimento da participação dos estudantes
“ ”
a experiência ofertada pela Vivência trouxe à tona no aperfeiçoamento de sua própria formação. Os
inúmeras questões acerca da dinâmica em Eu tô te explicando pra te confundir, membros da gestão IntegrAÇÃO envolvidos nesse
sociedade; uma sociedade de cujas características Eu tô te confundindo pra te esclarecer, grupo são: Letícia Sathler, Mateus T. (Brasília),
podemos extrair um novo rumo para as ações dos Tô iluminado pra poder cegar, Natalia O., Stephany (Piu-Piu), Thaïs Florence e
médicos de amanhã. Tô ficando cego pra poder guiar. Vanessa.
”
Sobre a realidade que nos cerca, o Caso Para maiores informações, envie um e-mail
Toninho é um exemplo bem ilustrativo. Ele impõe Tom Zé para a gestão (caal2011@gmail.com), e venha
ao médico inúmeras barreiras que traduzem a participar das reuniões ordinárias do CAAL, que
necessidade de lidar com o ser humano levando acontecem toda SEGUNDA-FEIRA, DAS 12h30 as
em consideração seu contexto social e sua http://www.vagalume.com.br/tom- 14h, NA LEGO DA FCM!
valorização no mundo. Nesse sentido, a adoção de ze/to.html#ixzz1JXEiQFpj
um tratamento eficiente extrapolava o potencial Gestão IntegrAÇÃO - CAAL 2011
10 MARÇO/ABRIL 2011
MOVIMENTO ESTUDANTIL
PATO CULTURAL
Verdadeiramente livre
“127 Horas” é a história verdadeira do Por instantes, ele acredita ser capaz de consuma os últimos restos de energia, que a sede
montanhista Aron Ralston e de sua incrível levantá-la. Sozinho. Percebendo a tarefa difícil, lhe seque cada fluido de vida, que a solidão
aventura para salvar-se depois que uma pedra que faz o homem? Junta todas suas forças e tenta deprima cada parte de seu espírito.
solta cai sobre seu braço e o deixa preso num erguê-la novamente. Sozinho. Segue inutilmente a Pois a pedra esteve lá sempre, ninguém
cânion estreito e isolado de Utah. Durante seu tentativa frívola; até que desiste. mandou o homem se prender tanto a ela. Pois
suplício, Ralston lembra-se de amigos, amores e Com instrumentos mais agressivos, tenta iguais aquelas, há tantas outras, e desde que o
da família. Nos cinco dias seguintes, Ralston luta impacientemente desgastar a pedra. Quando mundo é mundo há quem se prenda e sofra e
contra os elementos naturais e seus próprios percebe uma tarefa deveras longa, inicia quem consiga se safar de sequer vê-las tão de
demônios; até finalmente descobrir que possui a pacientemente a machucá-la. Sozinho. Ocupa seu perto. Pois existem coisas que são para ser e não
coragem e a fortaleza para encontrar alguma tempo, na esperança de que com cada minúsculo cabe a cada um de nós achar que somos capazes
forma de livrar-se dessa prisão. movimento de seu pequeno pedaço de metal, seja de transformá-las. Pois não há de se esquecer que
possível ser livre novamente. devemos nos esforçar para não sermos os
FONTE: http://www.cinepop.com.br De repente, uma enxurrada produz a força que próximos detidos à pedra.
outrora o homem não teve para De repente, o homem vê que não está
erguer a pedra. Liberta-se tão inteiramente colado ao seu falso destino. Não
facilmente quanto acorda de seu haverá forças alheias ao homem, exceto às do
sonho inverossímil: segue estático próprio homem, que o façam romper com tal
e preso à rocha. Sozinho. situação. Não há mais conversas possíveis, as
Horas consomem seus horas lhe tiraram a capacidade de argumentar
pensamentos: a fome lhe desola; a com sua pedra. Não há mais esperas possíveis, a
sede o esfomeia; a solidão o falta de horas que lhe restam tiraram-lhe a
desidrata. E sua amargura o capacidade de dar mais uma chance menos
alucina. A cada golpe de seu drástica à situação. Com bravura, o homem
sofrimento, imagina-se remove-se do que acreditava ser seu destino,
desfrutando das mais geladas arranca de si mesmo o que a pedra já se
bebidas, revivendo seus mais encarregara de tirar-lhe e corta radicalmente o
bonitos romances, reconhecendo- membro que o tornava preso.
se livre novamente. Bastavam-lhe as alucinações e os
Exala uma esperança na ressentimentos; só longe de sua solidão
atmosfera: a presciência de que a encarcerada por seu próprio corpo que poderia
Há coisas mais altas que chorar o amor de qualquer momento irromperá sobre os dois sentir-se livre novamente.
tardes perdidas: o rumor de um povo que corpos algo capaz de rompê-los. De que é possível Imagine o Homem preso milhões de horas
desperta, isso é mais belo que o orvalho. O metal coexistirem, não tão diretamente afetados, um subseqüentes por uma rocha. Chamam-lhe de
resplandecente de sua cólera, isso é mais belo que pelo outro. destino. Chamam-lhe de imutável.
a lua. Um homem verdadeiramente livre, isso é De repente, a solidão proporciona ao homem Sozinhos, continuaremos presos a ela. E
mais belo que o diamante. (Epístola aos poetas um despertar alucinado: será aquela pedra seu tentando inutilmente erguê-la. Ou diminuí-la. Ou
que virão – Manuel Scorza) destino? Terá aquela rocha escolhido o prender alucinar uma vida o mais distante possível dela.
daquela forma? Terá aquela rocha ter sido Mas sempre presos, por partes diferentes dela.
Imagine um homem preso inúmeras horas esculpida minuciosamente por forças externas ao Jamais livres, se sempre sozinhos.
subseqüentes por uma rocha. Ele sabe exatamente homem, para prendê-lo exatamente de maneira O homem livre deve ser nossa única opção.
o que o prende. Vê partes de seu corpo flageladas, tão sem perspectivas de solução imediata? Um homem verdadeiramente livre, isso é mais
asfixiadas e escoriadas. Quase siameses, pedra e Cada vez mais sozinho, resta ao homem belo que o diamante.
ele, estáticos, desentrosados, desajeitados. apenas uma solução: esperar que a fome lhe Henrique Sater (45)
O Limite do Altruísmo
Como já dizia Aristóteles, a virtude está no chamado Dogville e, em troca do
equilíbrio. Dessa forma, até os sentimentos mais acolhimento e proteção dos
puros e sem interesses, devem ser mensurados. moradores, começa a auxiliar a todos
Assim, os filmes “Dogville” e “A alma boa de em tarefas que, segundo eles, não
Setsuan”, a qual teve origem da peça homônima de precisariam ser feitas. Entretanto,
Bertold Brecht, provocam a reflexão sobre a quando a polícia volta a Dogville
exploração da bondade. perguntando pela fugitiva e
As duas histórias possuem em comum um oferecendo uma recompensa por ela,
simples cenário, indicando desde o princípio que as seus antigos amigos tornam-se
aparências não são essenciais para esse tema. Pelo dependentes de seus serviços,
contrário, quanto menor a superficialidade dos cobrando-a cada vez mais. A gota d’água ocorre Estaria o primo errado em dizer “não”?Seria
diálogos, maior a expressão da personalidade de quando seu próprio namorado percebe que ela saudável Grace continuar sendo explorada e
cada um e de sua verdadeira e real intenção. poderia atrapalhar sua carreira. Com um final violentada?
As máscaras utilizadas no cotidiano são, em surpreendente, “Dogville” mostra que tudo tem É admirável quando o gosto de ajudar os outros
ambos os contextos, retiradas com o intuito de limites. está na alma de uma pessoa. Essa vocação é
permitir que a realidade transpareça. Dessa De forma semelhante, em “A alma boa de praticamente natural de muitos médicos, sendo a
maneira, tanto os moradores de Dogville, quanto os Setsuan” Chen Tê procura fazer até o impossível felicidade e o bem-estar de seus pacientes sua maior
que precisam da ajuda de Chen Tê acabam para ajudar as pessoas que a procuram. Não recompensa. A doação do médico parece não ter
aproveitando-se da boa vontade das protagonistas e conseguindo dizer não aos inúmeros pedidos, ela se limites. Contudo, é importante que esse altruísmo
exigem mais tarefas do que as que as primeiras transforma em seu primo Chui Ta, o qual era muito seja equilibrado para que a relação médico-paciente
haviam se voluntariado a realizar. mais severo e inflexível, porém impedia as mantenha-se eficiente e respeitosa até o fim.
Em “Dogville”, a fugitiva Grace chega ao vilarejo explorações. Sílvia Veríssimo (48)
12 MARÇO/ABRIL 2011
SPASMO
Impromptus: De como
FOTOS quando se duvida...
Não existem mais Histórias para se contar
Não existem estórias que não foram contadas...
Tudo é só uma variação sobre o mesmo tema
Como diriam de maneira singular
cada um dentre 500 maestros espalhados por aí