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E STA D O D E M I N A S ● T E R Ç A - F E I R A , 1 º D E F E V E R E I R O D E 2 0 1 1

OPINIÃO 11

Tabuleiro Ética e sustentabilidade


móvel
MARIA ELISA CASTELLANOS SOLÁ
Arqueóloga, doutora em ecologia pela UFMG, ex-diretora de
Proteção à Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas (MG)
Estudos científicos

A
DAN M. KRAFT
Advogado, mestre em direito comercial (UFMG)
cultura em que vivemos,
com seus valores e princí-
mostraram que
e internacional (Londres) pios éticos, está na raiz dos
problemas ambientais que
25% das espécies de
O mundo hoje está claramente
indo rumo à bipolaridade, não sob
atravessamos. Nossas
ações têm sido guiadas pe-
mamíferos e 22%
o conceito do cientista político Sa-
muel Huntington, que cunhou a
las crenças no dinheiro e
contínuo crescimento eco-
das plantas do
expressão de “choque de civiliza-
ções” e, sim, pelo rápido alinha-
nômico, com a natureza
supostamente sem valor deve ser transformada. mundo estão em
mento de potências emergentes li-
deradas pela China, na criação de
Acreditamos que sempre haverá novas tecnolo-
gias para resolver os problemas, sem ter que nos risco de extinção
uma nova ordem econômica, a ser preocupar com o futuro. Sempre seremos capazes
seguida também pela nova ordem de alargar a capacidade suporte do planeta para
militar. O pragmatismo de um po- abrigar um número crescente de habitantes. Ale-
vo, como o chinês, que dá passos gamos que devemos extrair o máximo de recur-
rumo a projetos milenares, acei- sos minerais hoje porque amanhã certamente ha-
tando sacrifícios de toda ordem verá substitutos. Abordamos a realidade de modo
(em especial o adiamento de con- fragmentado para que a possamos controlar, mas
quistas básicas em direitos huma- não vemos o todo.
nos), ainda é pouco conhecido por E é esta abordagem reducionista que permite
nós, do mundo ocidental. separar o homem da natureza estabelecendo uma
A China empurra o mundo pa- relação de domínio. Ao concordarmos com esses
ra o mesmo ajuste econômico re- princípios, vemos surgir o atual projeto de lei que
conhecido há séculos por David Ri- altera o Código Florestal, o licenciamento da Usi-
cardo, resultado da ideologia euro- na Hidrelétrica de Monte Belo, os projetos de di-
peia da acumulação de riquezas minuição das áreas de diversos parques nacionais,
pela via do comércio. Enquanto os bem como estudos de impacto ambiental que não
centros de decisão do Hemisfério são concebidos para buscar as interrelações em
Norte estão tateando no escuro, uma abordagem sistêmica. Porém, já é possível
buscando ajustes em suas realida- afirmar que esses princípios não garantem os re-
des internas e alianças externas, cursos necessários para a humanidade, hoje ou
depois da quebra dos seus quase nos próximos séculos e milênios. No fim do ano
500 anos de hegemonia global, eco- passado, por ocasião da 10ª Conferência das Partes
nômica e militar, a China marcha, sobre a Convenção da Diversidade Biológica (COP-
imperialmente, para se tornar o 10), foi divulgado que as metas de conservação até
novo centro deci- 2010 não foram atingidas. Estudos científicos mos-
sório (a despeito traram que 25% das espécies de mamíferos e 22%
de sua enorme das plantas do mundo estão em risco de extinção.
Urge a opacidade no que Portanto, é necessário ingressar em uma nova cul-
tange aos direitos tura, com mudanças fundamentais nos valores so-
formação de individuais). Esse ciais que garantam nossos recursos básicos.
diplomatas cenário inaugura- Embora já tenhamos os conhecimentos sobre
do no século 21 di- o rumo que a humanidade deva adotar na busca
pragmáticos tará a realidade da sustentabilidade, as respostas da sociedade pa-
e bem das novas gera- ra os problemas ambientais continuam sendo in-
ções, fundamen- suficientes e díspares. Organizações internacionais
preparados talmente diversa e nacionais, empresas e comunidades locais valo-
daquela de nossos rizam o ambiente de modo diverso, buscando ob-
antepassados nos jetivos que nem sempre coincidem com o mane-
outorgaram. jo do meio ambiente adequado ao desenvolvi-
A recente visita do presidente mento sustentável. Uma estratégia para reverter acreditávamos ter: o nosso planeta não é o cen- Todavia, a degradação do meio ambiente se
chinês ao seu homólogo norte- este quadro é deslocar o foco em direção das ciên- tro do sistema solar; a vida humana é fruto de processa em um ritmo muito mais intenso do
americano deixou claro que a in- cias comportamentais e sociais, já que elas podem um processo evolutivo como os demais seres vi- que somos capazes de evoluir eticamente. Além
terdependência das economias se- auxiliar a encontrar respostas sociais mais eficien- vos; o homem faz parte da natureza e deve ser disso, vivemos em um mundo cada vez mais in-
rá o fio tênue que manterá a paz no tes aos problemas ambientais. visto inserido na rede interdependente dos ecos- terconectado, com problemas econômicos e am-
mundo. Ao pontuar que o princí- Precisamos entender como a cultura produz sistemas. Nos últimos anos, tem havido uma bientais globalizados que exigem a construção
pio da não intervenção em assun- diferentes visões de mundo – com diversos valo- crescente preocupação ética para com os outros de uma ética global, sem contar no desafio que
tos internos será essencial para evi- res e comportamentos –, que levam a humanida- seres vivos. Um claro sinal disso foi noticiado no representam nossas obrigações com as gerações
tar uma Guerra Fria, o presidente de a pôr em risco os sistemas naturais que sus- The Sunday Times no início de janeiro. Com base futuras. Os lentos avanços nos acordos sobre
chinês Hu Jintao indica sua ambi- tentam a sua sobrevivência. Um aspecto funda- nas pesquisas sobre neuroanatomia e inteligên- mudanças climáticas mostram o quanto é ne-
ção de influência crescente não mental a ser compreendido se refere às motiva- cia, o zoólogo Lori Marino – da Emory University cessário que os países construam visões éticas
apenas na Ásia, mas no mundo to- ções de caráter ético e como elas evoluem com o of Atlanta, estado da Georgia (EUA) – declarou em comum. Assim, é necessário buscar mudan-
do, já que o resgate europeu está tempo. Ao longo dos séculos temos ampliado a que os golfinhos são os animais mais inteligen- ças éticas para um consenso nos valores funda-
sendo proporcionado por investi- consciência do lugar que ocupamos, sendo gra- tes do planeta depois do homem, devendo ser mentais de um mundo sustentável, seja na esca-
mentos chineses. O passo inicial es- dativamente destituídos do papel central que tratados como “pessoas não humanas”. la local ou global.
tá sendo a interligação entre China
e seus vizinhos por trens rápidos,
permitindo a circulação de merca-
dorias e pessoas de forma eficien-
te, reduzindo enormemente o po-

Um pouco mais de animação


der de influência norte-americana
e japonesa na região.
Esse novo tabuleiro de poder
mundial está em formatação. O
Brasil é levado a reboque, pois até
o momento não consegue ditar re- FLÁVIO CONSTANTINO tário que mostra com mais crueza a desigualdade personagens nacionais, pois não seriam vendidos.
gras; apenas surfa na prosperidade que ainda reina no país. Percebem-se aqui dois fatos: a contradição entre
Professor de economia da PUC Minas
causada pela compra de seus re- Contudo, o que o palestrante frisou foram as existir mercado para determinados produtos e
cursos naturais. O custo interno é a O tamanho do mercado determina a acumula- dificuldades em produzir-se mais filmes em Mi- outros não (ainda que o público seja o mesmo e
“desindustrialização”, denunciada ção de capital, o ritmo do progresso tecnológico e a nas Gerais e a expectativa com seus empreendi- temática também); e como estamos atrasados em
em bom tom pelo empresariado divisão do trabalho. Quanto maior a divisão do tra- mentos, pois os primeiros trabalhos permitiram termos de publicidade, distribuição e marketing
nacional. O momento é de con- balho, maior o grau de especialização e melhor pro- montar uma empresa, contratar mais funcioná- nessa área. Surge então o círculo vicioso: não pro-
quista de influência nesse novo dutividade do trabalhador – em ascensão, resulta rios, gerando mais renda e emprego. Foi nesse duzimos e não atingimos escala, sem escala não
mundo, e parece que o peso econô- em mais riqueza à disposição da sociedade, aumen- momento que ele salientou a divisão do trabalho vale a pena produzir. O resultado: o mercado pas-
mico, contrariamente à tradição, tando-se as trocas, o que significa dizer que o mer- e a especialização: em vez de mandar parte da sa a ser dominado por quem já tem a competên-
desembocará em maior poderio cado se amplia novamente, entrando em um ciclo produção para fora do estado, ele havia consegui- cia, experiência, monopolizando inclusive os ca-
militar, hoje detido pelos países da virtuoso. Essa passagem constitui apenas uma par- do montar uma equipe e cada funcionário se de- nais de distribuição.
Organização do Tratado do Atlân- te dos ensinamentos de Adam Smith, que investi- dicou apenas a uma parte do processo, com os Não estamos fazendo uma defesa da produção
tico Norte (Otan). Uma diplomacia gou as origens das riquezas das nações (1776). Cu- consequentes ganhos já apontados há mais de nacional e adotando uma postura xenófoba. E
de mediação razoável merece ser riosamente, foram as mesmas palavras que ouvi 200 anos por Smith. mais: não é o governo que vai resolver, sozinho,
gestada no Planalto e no Itamaraty, na apresentação de curtas de animação brasileiros Sabemos que a atividade cultural (e também essa questão. O capital privado também é neces-
o que seria extremamente saudá- na semana passada. turística) padece de vários problemas, apesar do sário e esse foi o último ponto discutido pelo pa-
vel ao país. Ao se substituir os sau- O início do ano é marcado não só pelas viagens potencial do país. Não estamos falando do aspec- lestrante: não teve que recorrer a um edital ou re-
dosistas adeptos de slogans antia- e pelas despesas com tributos e material escolar, to institucional (impostos e burocracia), mas de cursos públicos em seu negócio. Foi a injeção de
mericanos por diplomatas prag- mas também por festivais e promoções nos cine- casar nossas riquezas com o saber popular, regio- recursos privados que permitiu unir capital, tra-
máticos e bem preparados, o Brasil mas e teatros. Depois da exibição dos curtas de nal e natural. Esse foi outro apontamento feito: balho e entrar no mercado. Temos potencial? Te-
ganhará reconhecimento por seu animação, abriu-se o espaço para debates, eviden- nossas crianças se divertem e torturam os pais pa- mos público? O que desejamos produzir e assis-
peso econômico e responsabilida- ciando-se a qualidade dos trabalhos brasileiros. ra comprar produtos associados a filmes que as- tir? Não custa nada lembrar que o público de Tro-
de nas relações internacionais re- Em primeiro lugar, chamou a atenção o fato de o sistiram (pandas, leões e pinguins), mas não te- pa de Elite 2, no Brasil, foi maior do que o de Ava-
gionais e globais. filme sobre Lula não entrar para o Oscar, como se mos a fauna e flora nativas sendo expostas e ex- tar. Precisamos repetir essa experiência, desco-
fosse o único representante do Brasil. Só depois a ploradas positivamente. Alega-se que não há mer- brindo como avançar mais aqui e no exterior. Afi-
imprensa anunciou que havia um documentário cado. Não adiantaria fazer um filme e depois co- nal, mais produção, renda e emprego são sempre
com chances reais de vitória. Aliás, um documen- mercializar brinquedos, mochilas e cadernos com bem-vindos.

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