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OPINIÃO 11
A
DAN M. KRAFT
Advogado, mestre em direito comercial (UFMG)
cultura em que vivemos,
com seus valores e princí-
mostraram que
e internacional (Londres) pios éticos, está na raiz dos
problemas ambientais que
25% das espécies de
O mundo hoje está claramente
indo rumo à bipolaridade, não sob
atravessamos. Nossas
ações têm sido guiadas pe-
mamíferos e 22%
o conceito do cientista político Sa-
muel Huntington, que cunhou a
las crenças no dinheiro e
contínuo crescimento eco-
das plantas do
expressão de “choque de civiliza-
ções” e, sim, pelo rápido alinha-
nômico, com a natureza
supostamente sem valor deve ser transformada. mundo estão em
mento de potências emergentes li-
deradas pela China, na criação de
Acreditamos que sempre haverá novas tecnolo-
gias para resolver os problemas, sem ter que nos risco de extinção
uma nova ordem econômica, a ser preocupar com o futuro. Sempre seremos capazes
seguida também pela nova ordem de alargar a capacidade suporte do planeta para
militar. O pragmatismo de um po- abrigar um número crescente de habitantes. Ale-
vo, como o chinês, que dá passos gamos que devemos extrair o máximo de recur-
rumo a projetos milenares, acei- sos minerais hoje porque amanhã certamente ha-
tando sacrifícios de toda ordem verá substitutos. Abordamos a realidade de modo
(em especial o adiamento de con- fragmentado para que a possamos controlar, mas
quistas básicas em direitos huma- não vemos o todo.
nos), ainda é pouco conhecido por E é esta abordagem reducionista que permite
nós, do mundo ocidental. separar o homem da natureza estabelecendo uma
A China empurra o mundo pa- relação de domínio. Ao concordarmos com esses
ra o mesmo ajuste econômico re- princípios, vemos surgir o atual projeto de lei que
conhecido há séculos por David Ri- altera o Código Florestal, o licenciamento da Usi-
cardo, resultado da ideologia euro- na Hidrelétrica de Monte Belo, os projetos de di-
peia da acumulação de riquezas minuição das áreas de diversos parques nacionais,
pela via do comércio. Enquanto os bem como estudos de impacto ambiental que não
centros de decisão do Hemisfério são concebidos para buscar as interrelações em
Norte estão tateando no escuro, uma abordagem sistêmica. Porém, já é possível
buscando ajustes em suas realida- afirmar que esses princípios não garantem os re-
des internas e alianças externas, cursos necessários para a humanidade, hoje ou
depois da quebra dos seus quase nos próximos séculos e milênios. No fim do ano
500 anos de hegemonia global, eco- passado, por ocasião da 10ª Conferência das Partes
nômica e militar, a China marcha, sobre a Convenção da Diversidade Biológica (COP-
imperialmente, para se tornar o 10), foi divulgado que as metas de conservação até
novo centro deci- 2010 não foram atingidas. Estudos científicos mos-
sório (a despeito traram que 25% das espécies de mamíferos e 22%
de sua enorme das plantas do mundo estão em risco de extinção.
Urge a opacidade no que Portanto, é necessário ingressar em uma nova cul-
tange aos direitos tura, com mudanças fundamentais nos valores so-
formação de individuais). Esse ciais que garantam nossos recursos básicos.
diplomatas cenário inaugura- Embora já tenhamos os conhecimentos sobre
do no século 21 di- o rumo que a humanidade deva adotar na busca
pragmáticos tará a realidade da sustentabilidade, as respostas da sociedade pa-
e bem das novas gera- ra os problemas ambientais continuam sendo in-
ções, fundamen- suficientes e díspares. Organizações internacionais
preparados talmente diversa e nacionais, empresas e comunidades locais valo-
daquela de nossos rizam o ambiente de modo diverso, buscando ob-
antepassados nos jetivos que nem sempre coincidem com o mane-
outorgaram. jo do meio ambiente adequado ao desenvolvi-
A recente visita do presidente mento sustentável. Uma estratégia para reverter acreditávamos ter: o nosso planeta não é o cen- Todavia, a degradação do meio ambiente se
chinês ao seu homólogo norte- este quadro é deslocar o foco em direção das ciên- tro do sistema solar; a vida humana é fruto de processa em um ritmo muito mais intenso do
americano deixou claro que a in- cias comportamentais e sociais, já que elas podem um processo evolutivo como os demais seres vi- que somos capazes de evoluir eticamente. Além
terdependência das economias se- auxiliar a encontrar respostas sociais mais eficien- vos; o homem faz parte da natureza e deve ser disso, vivemos em um mundo cada vez mais in-
rá o fio tênue que manterá a paz no tes aos problemas ambientais. visto inserido na rede interdependente dos ecos- terconectado, com problemas econômicos e am-
mundo. Ao pontuar que o princí- Precisamos entender como a cultura produz sistemas. Nos últimos anos, tem havido uma bientais globalizados que exigem a construção
pio da não intervenção em assun- diferentes visões de mundo – com diversos valo- crescente preocupação ética para com os outros de uma ética global, sem contar no desafio que
tos internos será essencial para evi- res e comportamentos –, que levam a humanida- seres vivos. Um claro sinal disso foi noticiado no representam nossas obrigações com as gerações
tar uma Guerra Fria, o presidente de a pôr em risco os sistemas naturais que sus- The Sunday Times no início de janeiro. Com base futuras. Os lentos avanços nos acordos sobre
chinês Hu Jintao indica sua ambi- tentam a sua sobrevivência. Um aspecto funda- nas pesquisas sobre neuroanatomia e inteligên- mudanças climáticas mostram o quanto é ne-
ção de influência crescente não mental a ser compreendido se refere às motiva- cia, o zoólogo Lori Marino – da Emory University cessário que os países construam visões éticas
apenas na Ásia, mas no mundo to- ções de caráter ético e como elas evoluem com o of Atlanta, estado da Georgia (EUA) – declarou em comum. Assim, é necessário buscar mudan-
do, já que o resgate europeu está tempo. Ao longo dos séculos temos ampliado a que os golfinhos são os animais mais inteligen- ças éticas para um consenso nos valores funda-
sendo proporcionado por investi- consciência do lugar que ocupamos, sendo gra- tes do planeta depois do homem, devendo ser mentais de um mundo sustentável, seja na esca-
mentos chineses. O passo inicial es- dativamente destituídos do papel central que tratados como “pessoas não humanas”. la local ou global.
tá sendo a interligação entre China
e seus vizinhos por trens rápidos,
permitindo a circulação de merca-
dorias e pessoas de forma eficien-
te, reduzindo enormemente o po-
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