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O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB – SP. Pronuncia o


seguinte discurso. Sem revisão do orador) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,
venho à tribuna hoje, já nessa hora crepuscular da nossa sessão, para tratar de
tema árido, mas nem por isso desimportante, pois diz respeito ao funcionamento de
uma das mais importantes instituições do nosso País, fundada em 1952, que teve e
tem uma importância extraordinária na história do nosso desenvolvimento
econômico. A história do desenvolvimento econômico brasileiro não poderia ser
contada abstraindo-se dela a ação do BNDES.
Acontece, Sr. Presidente, que venho observando nos últimos tempos
distorções de finalidade no funcionamento dessa instituição que me levaram a
apresentar projeto de lei com o objetivo de, corrigir-las, para promover maior
transparência nas contas públicas, uma vez que as relações entre o Tesouro
Nacional e o BNDES vêm, nos últimos tempos, se travando num clima de
opacidade que considero nocivo para as instituições democráticas e para o próprio
funcionamento do sistema econômico nacional.
Essas distorções são o outro lado da moeda do mais recente mantra
governista, que é emitido nos mais diferentes tons: o de ufanismo a respeito dos
extraordinários lucros do BNDES.
Gostaria nesta tarde de chamar a atenção para o outro lado dessa
história. Como é que se explica esses lucros tão vultosos, que são comemorados
pela situação, com tantas fanfarras e com tanta festa?
De fato, o lucro líquido do BNDES, em 2010, atingiu patamar
importantíssimo, R$ 9,9 bilhões, com crescimento de 47% em relação ao observado
no ano de 2009, que havia sido de R$ 6,7 bilhões. Portanto, de um ano para outro
acrescido de 47%.
Há razões para comemorar? Não; porque o que está por trás desse
lucro extraordinário é o fato de que o Governo Federal, desde o final de 2008, vem
emprestando recursos ao BNDES por meio de novas emissões do Tesouro que
aumentam a dívida pública, que hoje alcança níveis extremamente preocupantes e
que é uma das causas da inflação que estamos vivendo.

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Os empréstimos do Tesouro Nacional para os bancos públicos, para


que o Senado tenha uma idéia do vulto que isso tomou, passaram de R$ 9,6
bilhões, em 2006, para R$315 bilhões, em 2011, representando um aumento, Sr.
Presidente, de 3.281%.
Nunca na história deste País - como se gosta de apregoar-, uma coisa
extraordinária, um aumento, em três anos, de 3.281% nos empréstimos do Tesouro
Nacional para os bancos públicos.
Se esses empréstimos fossem fornecidos de uma maneira
sustentável, com recursos provenientes, digamos, dos impostos, da arrecadação,
poder-se-ia ainda dizer: “Olha, é o BNDES funcionando diretamente como
instrumento de fomento”.
Acontece que o mecanismo utilizado pelas autoridades econômicas
não é meio sustentável, para usar a palavra da moda, porque esses empréstimos
têm fortíssimo impacto fiscal, decorrente da diferença de juros entre a Selic, 11,75%
ao ano – que é a remuneração dos títulos do Tesouro, mediante o qual ele capta
recursos do mercado –, e a TJLP, de 6% ao ano, que é, digamos, a taxa de juros
que remunera o Tesouro Nacional. É quanto o BNDES tem que pagar ao Tesouro
Nacional.
Ora, esse diferencial aumenta a Dívida Liquida do Setor Público. Com
essa diferença, Srs. Senadores, é muito fácil ter lucros astronômicos. Não é preciso
ser grande financista para se obter os resultados que o BNDES apresenta. Isso já é
conhecido.
Agora, o que não se sabia – pelo menos o que eu não sabia e acho
que o Senado talvez não soubesse – é algo que foi revelado com muita clareza no
último balanço do BNDES de 2010, publicado no dia 11 de março deste ano. O que
não se sabia é que os empréstimos do Tesouro Nacional ao BNDES têm propiciado
crescentes aplicações do banco, em títulos e valores mobiliários. Quer dizer, o
Tesouro Nacional, com aval da sociedade, por meio da aprovação do Congresso
Nacional, capitaliza o BNDES com recursos do Orçamento da União, para que o
banco cumpra a sua função de fomento à produção.

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O balanço a que me referi mostra que o que o BNDES, em vez de


aplicar todos seus recursos no fomento à produção, à inovação, à tecnologia, tem
feito em escala fantástica, é aplicar no mercado financeiro. Quer dizer, com
recursos do Tesouro, tomados da sociedade a taxa Selic, aplica no mercado
financeiro, em títulos públicos. O balanço do ano de 2010, mostra que o BNDES
aplicou R$5,9 bilhões em títulos públicos, um salto extraordinário em relação a
2008. Em 2008, a aplicação do BNDES em títulos públicos havia sido inferior a R$1
bilhão. Em 2010, aplicou R$5,9 bilhões.
É óbvio que não faz o menor sentido o Tesouro repassar recursos
para o BNDES e deixar que esse banco público venha usufruir de um rendimento
maior, a Selic, do que a correção de sua dívida pela TJLP antes que esses recursos
sejam devidamente emprestados no desenvolvimento do País. Quer dizer, o banco
é capitalizado, e uma parte dos recursos que ingressam no banco, em vez de se
destinarem ao fomento à produção, vão engrossar a ciranda financeira.
O lucro do BNDES, em 2007, foi de R$7,3 bilhões. Foi maior do que
em 2009, quando havia sido R$6,7 bilhões.
Entretanto, em 2007, o pagamento dos dividendos foi pouco menos de
R$1 bilhão. Já em 2009, o pagamento de dividendos alcançou R$14,5 bilhões,
enquanto em 2007, o lucro foi maior que 2009. Como justificar a isntituição ter lucro
menor e efetuar pagamento de dividendos exponencialmente maiores.
Acontece que quando o BNDES transfere esses dividendos para o
Tesouro o que ele faz? Está gerando uma receita primária para o Tesouro. Então, é
uma mágica que está sendo feita, é uma bolha que está sendo criada.
O correto seria que os recursos que o Tesouro aporta ao BNDES para
fomentar a produção fossem geridos pelos mesmos padrões com que são geridos
os recursos do Fundo Constitucional do Nordeste, por exemplo, que é gerido pelo
Banco do Nordeste e que, quando não são desembolsados, são remunerados a
uma taxa extramercado, definida pelo Banco Central, ou seja, mais ou menos 95%
da Selic.
O que acontece hoje é que o Tesouro demanda transferências
crescentes do BNDES. E precisa que o banco pague, devolva ao Tesouro esses

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dividendos para gerar receita primária, mesmo que, em seguida, sejam necessárias
novas emissões para continuar capitalizando-o.
Essa operação de criar receita primária por meio de dívida constitui-se
em um dos mecanismos mais, digamos, “criativos” de contabilidade no estilo
“jabuticaba”, uma jabuticaba brasileira, contabilidade criativa inventada aqui, pelo
governo do PT: o Tesouro aumenta a dívida, empresta recursos ao BNDES, que
não tem recursos suficientes e, por isso, precisa de novos aportes. E, mesmo
assim, o banco aumenta o recolhimento de dividendos por meio do diferencial das
taxas que recebe dos cofres públicos e da remuneração do mercado e o Tesouro,
com isso, aumenta receita primária,
Quer dizer, é receita primária que se assemelha àqueles pastéis de
vento, é bolha que uma hora vai estourar. É ciranda financeira, fenômeno novo na
história mais do que cinqüentenária do BNDES, que vem se transformando cada
vez mais em braço de atuação do Tesouro Nacional. Esse novo papel do BNDES
pode ser observado pela crescente importância do Tesouro no passivo total do
banco, que passou de uma média de 10%, de 2001 a 2007, para 51,4%, em 2010.
Essas evidências, Srs Senadores Sras. Senadoras, lançam dúvidas sobre o que
parecia ser um excepcional resultado do BNDES em 2010.
O BNDES é importante para o Brasil, para o fomento à produção, à
atividade produtiva. Espera-se que a maior parte do seu lucro decorra de sua
atividade fim, como tradicionalmento foi, e não da especulação financeira.
Não foi para realizar aplicações típicas de um fundo de investimento
privado que a sociedade brasileira autorizou repasses do Tesouro Nacional ao
BNDES nem, muito menos, é essa a finalidade que presidiu a criação desse
importante banco.
Assim, para evitar que o BNDES se aproprie do diferencial de juros
apresentei um projeto de lei para submetê-lo às mesmas regras de remuneração
dos saldos diários não aplicados dos bancos operadores dos fundos constitucionais
de financiamento, que serão remunerados com base na taxa extramercado
divulgada pelo Banco Central do Brasil, ou seja, 95% da taxa Selic. Mesmo porque

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grande parte dos recursos do banco tem a mesma origem: o Tesouro Nacional, ou
melhor, o bolso do contribuinte brasileiro.
Muito obrigado.

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