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A Formação

do Sistema Solar

Arte: Maurício Galvão

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O céu: a grande morada dos “deuses”
Os povos da Antiguidade observaram que as estrelas se movimentavam de ma-
neira uniforme e conjunta, enquanto outros astros mudavam constantemente as
suas posições. Estes foram chamados planetas, que significa astro errante, em
grego. Outros povos antigos também constataram que o aparecimento e trânsito
planetários coincidiam com as estações do ano e mudanças climáticas, concluindo
assim que eram deuses anunciadores destes eventos.

Deus Ares (Marte) e paisagem marciana


Fotomontagem de Maurício Lara Galvão
sobre detalhe de Ares de Ludovisi

O
s primeiros a batizar planetas foram Assim, a Astrologia e a Astronomia nascem
os sumérios, povo que ocupava a re- juntas, como uma única forma de conheci-
gião da Mesopotâmia (atual Iraque) mento. A palavra desastre significa, primor-
há 5 mil anos. Eles já haviam identificado cinco dialmente, um fato que contraria os astros.
“estrelas” que se moviam no céu, enquanto as
demais permaneciam paradas. De acordo com Séculos depois, os romanos adaptaram os
as características de cada uma, elas ganha- nomes dos planetas de acordo com suas pró-
ram nomes relacionados com divindades. prias divindades. As cinco estrelas dos sumé-
rios ganharam novos nomes: Enki, a que se
Os babilônios buscavam entender as von- movia mais rápido, recebeu o nome de Mercú-
tades dos deuses observando os astros no rio, o veloz mensageiro dos deuses. Vênus, a
céu, as quais se refletiam de algum modo nos deusa da beleza, batizou a mais brilhante das
fatos terrestres. estrelas, Inanna. A vermelha Gugalanna, cor

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Deusa suméria Inanna Detalhe de “O nascimento de Vênus”, de Botticeli. Acima, o planeta.

do sangue, ganhou o nome de Marte, deus da


guerra. Enlil, a maior, foi chamada de Júpiter, Como sabemos, ao olhar para o céu, o
nome latino de Zeus, senhor do Olimpo. Ni- que é um planeta ou uma estrela?
nurta, a mais lenta de todas, cuja movimen-
tação só era percebida pelos mais pacientes,
ganhou o nome de Saturno, o deus do tempo. Um planeta não cintila como as es-
Já o nome da Terra vem do latim antigo. Na trelas. É claro que existem no céu es-
época, a palavra já tinha os mesmos signifi- trelas que parecem não cintilar, princi-
cados de hoje: solo, chão, território. Na mito- palmente aos olhos de quem não está
logia romana, a Terra era representada pela acostumado a observá-las. Quando
deusa Gaia, ligada à fertilidade. Os outros três você observar um objeto no céu e
planetas foram descobertos há relativamente suspeitar que é um planeta, mas sem
pouco tempo. Urano, descoberto em 1781, ter certeza, faça o seguinte: Fixe al-
ganhou o nome do deus greco-romano que gumas referências utilizando as estre-
representava o céu. Netuno, visto pela pri- las ao seu redor, de preferência faça
meira vez em 1846, foi batizado com o nome um desenho em escala assinalando
do deus romano dos oceanos. o objeto a ser observado, e observe
por uns vinte ou vinte e cinco dias.
O planeta mais distante de todos, Plutão, Se esse objeto mudar de posição em
descoberto em 1930, por pouco não se cha- relação às referências, certamente
mou Percival, sugestão da mulher do astrô- esse objeto será um planeta. Para pe-
nomo Percival Lowell, que havia previsto a quenos intervalos de tempo podemos
existência do planeta em 1915. Foi a estu- considerar as estrelas como fixas. Já
dante inglesa Venetia Burney, na época com os planetas, como a tradução da pa-
11 anos, quem sugeriu aos pesquisadores lavra diz, errante, movimentam-se em
que o astro recebesse o nome do deus ro- relação às estrelas.
mano dos mortos.

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Imagem comparativa entre o Sol e a Terra, onde
se vê a mesma envolta por “labareda” (ejeção de

O centro é o Sol
massa coronal), no canto superior direito.

O Sol é, entre os corpos celestes, aquele que mais influencia as nossas vidas. Sem ele, a vida
em nosso planeta desapareceria. Foi endeusado como Hélio pelos gregos, Mitras pelos persas e
Rá pelos egípcios, para citar algumas culturas. Cinco séculos antes da era Cristã, o grego Ana-
xágoras (aproximadamente 430 a.C.) sugeriu que o Sol fosse uma bola de fogo, o que guarda
alguma semelhança com a realidade.

O
Sol é o centro gravitacional e geomé- uma estrela e que não ocorre nos planetas.
trico do sistema solar. Em torno dele
orbitam os outros corpos, e é ele que A temperatura na superfície é de cerca de
mantém o sistema coeso. Mas, o que é o Sol? 5.500 centígrados. No núcleo solar, atinge 15
O Sol é uma estrela. Por ser uma estrela, é milhões de graus. Sua massa é 333 mil vezes
também uma fonte de energia. De toda energia maior que a da Terra, mas a sua densidade
existente na superfície da Terra, a maior par- média é de apenas 1,41 gramas por centíme-
te é proveniente do Sol, que fornece 99,98% tro cúbico, pouco maior que a da água que é
dela. O brilho dos corpos do sistema solar é de 1 grama por centímetro cúbico. Sua mas-
constituído, basicamente, pela reflexão da luz sa é composta por 73% de hidrogênio, o pri-
solar em sua superfície. meiro elemento químico da tabela periódica,
e também o mais abundante no Universo. O
O Sol é uma massa que se mantém coesa restante é constituído basicamente por hélio.
pela sua própria força de gravidade. O mesmo Apenas 0,1 % da massa do Sol é compos-
ocorre com os planetas. Por que a diferença, ta por elementos mais pesados. É no núcleo
então? A resposta é que o Sol possui uma mas- solar, com sua altíssima temperatura, que
sa muito grande. Grande o suficiente para que ocorrem as reações nucleares de produção
a contração provocada pela força da gravidade de energia.
torne tão altas as densidades e temperaturas
em seu centro que passam a ocorrer as rea- O Sol encontra-se a uma distância média
ções de fusão nuclear, com enorme produção de 150 milhões de quilômetros da Terra. Isso
de energia. É esse processo que caracteriza equivale a cerca de 8 minutos-luz, isto é, a

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luz do Sol demora esse tempo para chegar à
Terra. A segunda estrela mais próxima é Pró-
xima Centauri, que se encontra a uma distân-
cia 270 mil vezes maior, assim sua luz demo-
ra 4 anos e 4 meses para chegar até nós!

O Sol ocupa uma posição periférica na


nossa Galáxia,ou seja, ele está a 33.000
anos luz do centro galáctico, o que corres-
ponde a 2/3 do raio galáctico. Nós estamos
num dos braços espirais, o braço de Orion,
como mostra o esquema ao lado.

O Sol também está orbitando em relação demais corpos do Sistema Solar o acom-
ao centro gravitacional da nossa Galáxia. O panham nessa viagem. Sabe-se que o Sol
ano do Sol é de aproximadamente 230 mi- realizou cerca de 250 revoluções completas
lhões de anos terrestres e sua velocidade até hoje. A idade do Sol é de cerca de 4,5
orbital é de 250 km/s, sendo que todos os bilhões de anos.

Berçário estelar
A imagem mostra uma colecção
de proto-estrelas brilhantes,
até agora nunca observadas.
As estrelas bebés aparecem
como pontos rosa e vermelho,
no centro da imagem.

Crédito: NASA/JPL-
Caltech/P.S. Teixeira & C.J.
Lada (CfA), E.T. Young (U.
Arizona).

A
ntes de existir o Sol e os planetas, o centro da nuvem, ficou tão grande e pesado
que existia no lugar do sistema so- que sua força gravitacional tornou-se sufi-
lar era uma enorme nuvem de gases ciente para reter os gases com muita facilida-
e poeira. Os gases são os que conhecemos: de. Esse bloco aumentou tanto de tamanho e
oxigênio, nitrogênio e principalmente hidro- massa que acabou por se transformar numa
gênio e hélio; a poeira são todos os outros estrela: o Sol. Os blocos menores que se for-
elementos químicos; ferro, ouro, urânio, etc... maram ao redor do bloco central deram ori-
mas, a grande parte dessa nuvem era o hidro- gem aos planetas. Muitas pessoas pensam
gênio e o hélio. Por algum motivo que ainda que os planetas são pequenas bolhas expeli-
não é bem explicado, essa nuvem encontrou das pelo Sol. Isso porque os cientistas do sé-
condições para se aglomerar, se juntar em culo passado e começo deste século pensa-
pequenos blocos, esses blocos começaram vam assim. Hoje em dia sabe-se que isso não
a se juntar em blocos cada vez maiores. Um é verdade. A teoria da nuvem de gás e poeira
desses blocos, o que se formou primeiro, no é a mais aceita entre cientistas atuais.

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Ilustração: Bill Saxton - NRAO/AUI/NSF

De poeira à planeta
1 - O sistema solar teve origem há 4,5 bilhões de colidindo com a Terra, passavam a fazer parte dela.
anos, a partir de uma nuvem de gás e poeira.
5 - As partículas que compõem o vento solar emitidos
2 - Sob a ação do seu próprio peso, a nuvem de gás pela estrela (prótons, elétrons, partículas alfa e radiações
começa a se concentrar, ficando cada vez menor e mais de luz e calor), empurraram os átomos mais leves para
quente, transformando-se num enorme reator nuclear, as regiões mais externas do sistema. Assim, entendemos
ou seja, formando o proto-sol. porque os planetas mais próximos do Sol são mais den-
sos, (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte), pois foram incapa-
3 - Algumas pequenas porções de matéria estavam zes de reter gases mais leves (Hidrogênico e Hélio). Mais
próximas o suficiente para que a atração entre elas con- distantes do Sol, esses gases foram atraídos por outros
vergisse para outros centros. A maioria desses agrupa- protoplanetas, formando os “Gigantes Gasosos” (Júpiter,
mentos, denominados planetesimais, também se atraí- Saturno, Urano e Netuno).
ram, dando origem a grandes porções de matéria, que
passamos a chamar protoplanetas. 6 - A morte do Sol, já iniciada, será concluída quando ter-
minar o seu combustível, ou seja, quando houver a queima
4 - Conforme a Terra (ainda um protoplaneta) viajava total do hidrogênio que existe em seu núcleo. A explosão
dentro do Sistema Solar primitivo, ela varria toda as partí- acontecerá quando, já inchado, ele expulsar de seu núcleo
culas menores que encontrava. Essas pequenas rochas, toda a energia armazenada durante bilhões de anos.

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Oito deuses e três anões
O Sistema Solar tem como elemento principal uma estrela anã e amarela com cerca de cinco
bilhões de anos de idade - o Sol - ao redor dela nós encontramos planetas, planetas anões,
satélites, meteoróides, asteróides e cometas distribuídos numa extensa região de quase vinte
bilhões de quilômetros.

Ilustração: Martin Kornmesser / IAU

D
a nuvem estelar que deu origem a nos-
• Os planetas terrestres apresentam: massa peque-
sa estrela e demais corpos há mais de
na, grande densidade, pequena distância do Sol,
cinco bilhões de anos, 99,9% de sua poucos ou nenhum satélite e são compostos de ele-
massa formou o Sol e o restante 0,1% pertence mentos pesados.
aos demais corpos do Sistema Solar. • Os planetas jovianos ou exteriores apresentam:
grande massa, pequena densidade, grande distân-
cia do Sol, muitos satélites e são compostos de ele-
Os planetas são corpos celestes cuja mas- mentos leves, principalmente hidrogênio e hélio.
sa não é suficiente para gerar energia como
as estrelas, os quais estão em órbita ao redor
Além dos planetas, entre as órbitas de Mar-
de uma. Os planetas do Sistema Solar são
te e Júpiter, nós encontramos o Cinturão de
divididos habitualmente em dois grupos: Os
Asteróides com recentes descobertas de uma
quatro primeiros a partir do Sol são os plane-
série de corpos celestes pequenos além da
tas terrestres, ou telúricos, ou interiores (Mer-
órbita de Plutão. Hoje, essa região chama-se
cúrio, Vênus, Terra e Marte) e os quatro se-
Cinturão de Kuiper e é composta por asterói-
guintes são os planetas jovianos ou exteriores
des e fragmentos de gelo. Devido às polêmi-
(Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Devido à
cas caracteristicas dos objetos no Cinturão
grande distância e à natureza da vizinhança
de Kuiper, nós temos uma nova definição nas
ao redor de Plultão, hoje ele está classifica-
regras básicas que definem os corpos do Sis-
do como um planeta anão. Um outro grupo de
tema Solar:
classificação recente refere-se a inclusão dos
objetos transnetunianos em relação aos aste-
róides além da órbita de Netuno. Os parâme- I - Um “planeta” é um corpo celestial que:
(a) está em órbita ao redor do Sol,
tros de maior importância para essa divisão
são os seguintes:

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Muito além desse domínio, nós temos a Nu-
(b) tem massa suficiente para sua auto-gravidade vem de Oort, o repositório de cometas do nosso
dominar as forças de um corpo rígido e desse modo Sistema. Por fim, a Família Solar completa-se
ele assumir um equilíbrio hidrostático (aproximada-
mente arredondado) na forma, com um fenômeno atmosférico freqüente: as
(c) tem a sua vizinhança limpa ao longo de sua
“Estrelas Cadentes”. Formalmente, elas são os
órbita.
Meteoros - na nossa atmosfera; Meteoróides
- no espaço e Meteoritos - se encontrados na
superfície terrestre. O conjunto de Cometas, As-
Com essa definição acima somente oito
teróides e Meteoróídes são classificados como
corpos celestiais a satisfazem e são eles:
Corpos Pequenos do Sistema Solar.
Mercúrio (1°.), Vênus (2°.), Terra (3°.), Marte
(4°.), Júpiter (5°.), Saturno ( 6°.), Urano (7°.) e
finalmente Netuno (8°.). Quadro comparativo
entre planetas anões,
a Terra e a Lua.
II - Um “planeta anão” é um corpo celes-
tial que:

(a) está em órbita ao redor do Sol,


(b) tem massa suficiente para sua auto-gravidade
dominar as forças de um corpo rígido e desse modo
ele assume um equilíbrio hidrostático (aproximada-
mente arredondado) na forma,
(c) não tem a sua vizinhança limpa ao longo de sua
órbita,

III - Todos os outros objetos, exceto os


satélites orbitando o Sol, deverão ser
referidos pelo coletivo “Corpos Peque-
nos do Sistema Solar”

Desse modo o Sistema Solar fica:


O estudo do Sistema Solar, nos permitiu co-
nhecer muito bem o nosso Sol e a exploração
planetária trouxe à Humanidade uma nova vi-
são desse conjunto pelo Estudo Comparativo
entre planetas. Descobrimos que nossa nave
Terra ocupa uma situação muito especial por
ter permitido a manutenção de formas de vida
por períodos muito longos e após diversos ca-
taclismas, situação essa que nós não encon-
tramos nos demais planetas. Entender o Sis-
tema Solar cada vez mais significa valorizar a
vida na Terra, sua diversidade e capacidade
adaptativa.

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Fontes Consultadas
CDCC - Centro de Divulgação Científica e Cultural - Setor de Astrono-
mia - Universidade de São Paulo - USP - “A Formação da Terra” - autor:
Daniel C. L. de Andrade
- Ciências para Professores do Ensino Fundamental - Astronomia

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Introdução à Astro-


nomia e Astrofísica -
“O Sistema Solar” - autores: Cláudia Vilega Rodrigues e José Roberto
Cecatto

Istoé On Line - ASTRONOMIA - A morte do Sol - autora: Luciana


Sgarbi

Mundo Estranho - Ed. 36 - Ciência e Tecnologia - A Origem dos No-


mes dos Planetas

Para saber mais:


http://www.sab-astro.org.br/cesab/newhtml/SSolar.html

http://www.solarviews.com/portug/homepage.htm

http://noveplanetas.astronomia.web.st/

Edição: Maurício de Lara Galvão

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