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TEORIAS DAS PAIXÕES

Desde a Antigüidade, consideram-se os humores como sendo as


disposições afetivas básicas que passam por vários estágios, desde a
sensação agradável (pólo de prazer) até sensações desagradáveis (pólo
de dor). Para as teorias humorais mais antigas, fundadas por Galeno na
Idade Média, há correlação entre as disposições anímicas e os humores
mórbidos, que são os geradores das mais diversas doenças. Os quatro
humores mórbidos (chamados também de maléficos) são o sangue, a
bile amarela, a bile negra e a linfa. Esses humores ‘físicos’
correspondem aos humores de estados anímicos, os quais são: cólera,
melancolia, alegria e apatia. Diversas teorias de expressão da música
recorreram à teoria humoral como ponto de partida para a
representação dos estados de alma. Desta forma, os quatro humores
básicos, ao serem misturados, gerariam todas as paixões e suas
gradações experimentadas pelos seres humanos.

A Retórica das Paixões, por Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)

O estudo das paixões por Aristóteles, no segundo livro de sua


Retórica, tem o intuito de instruir seus discípulos na arte da eloqüência
para que possam debater e superar os grandes oradores da época, os
sofistas. No primeiro livro, o pensador demonstra com que argumentos
se deve persuadir e dissuadir, louvar e censurar, acusar e defender-se,
quais são as opiniões que podem servir de base para a demonstração
dos fatos e quais seriam prejudiciais e fáceis de serem refutadas.
Porém, “visto que a retórica tem como fim um julgamento (...), é
necessário não só atentar para o discurso, a fim de que ele seja
demonstrativo e digno de fé, mas também se pôr a si próprio e ao juiz
em certas disposições” (ARISTÓTELES, 2000, p. 3). Assim, o filósofo
realiza o estudo das grandes paixões humanas, para demonstrar aos
seus discípulos como provocá-las, nos momentos adequados, em seus
ouvintes e interlocutores, a fim de convencê-los de seus argumentos. É
nesse sentido que Aristóteles redige o segundo volume da Retórica.
O orador deve ser considerado credível. “Três são, portanto, as
causas de que os oradores sejam tomados por si dignos de crédito, pois
são de igual número as que dão origem à nossa confiança” (ibid., p. 5).
Assim, o orador, para conquistar a confiança dos ouvintes, precisa
demonstrar prudência, virtude e benevolência. Para Aristóteles, “as
paixões são todos aqueles sentimentos que, causando mudança nas
pessoas, fazem variar seus julgamentos, e são seguidos de tristeza e
prazer, como a cólera, a piedade, o temor e todas as outras paixões
análogas, assim como seus contrários” (ibid). O pensador considera que
se devem distinguir três pontos de vista na análise de cada paixão: qual
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a disposição, com relação a quem e por quais motivos as pessoas


exprimem cada uma de suas paixões. “De fato, se conhecêssemos
apenas um ou dois desses pontos de vista, mas não todos, seria
impossível inspirar a cólera; o mesmo acontece com as outras paixões”
(ibid.).
As paixões para Aristóteles são em número de quatorze: cólera,
calma, amor, ódio, confiança, temor, vergonha, impudência (impudor,
falta de pudor), favor (algo que se faz para outrem sem esperar
recompensa), compaixão, indignação, inveja, emulação (sentimento de
competição, rivalidade) e desprezo. As quatorze paixões elencadas por
Aristóteles são as seguintes:
Cólera: a cólera é “o desejo, acompanhado de tristeza, de vingar-
se ostensivamente de um manifesto desprezo por algo que diz respeito
a determinada pessoa ou a algum dos seus, quando esse desprezo não
é merecido” (Retórica das Paixões, p. 7). Com relação aos três aspectos
analisados por Aristóteles (disposição, relação e motivo), a pessoa
encolerizada apresenta-se com a disposição de vingar-se, “é agradável,
com efeito, pensar que se obterá o que se deseja; ora ninguém deseja
para si o que lhe parece impossível; assim, então, o encolerizado deseja
o que lhe é possível (...), pois certo prazer acompanha [a ira]” (p. 7); o
encolerizado se volta contra um indivíduo em particular, nunca contra a
humanidade em geral; os motivos que o levam à cólera podem ser: a
experimentação de desgosto, a oposição com relação aos seus próprios
desejos, a percepção da indiferença dos outros para com seus
problemas – “por exemplo, o doente irrita-se com aqueles que
desprezam sua doença” (p. 11); “e sentimos ainda cólera quando
acontece o contrário do que esperávamos, porquanto causa maior pesar
o que é de todo inesperado, assim como provoca deleite o que é de todo
imprevisto” (p. 11).
Calma: “como estar calmo é o contrário de estar encolerizado, e a
cólera se contrapõe à calma, deve-se examinar em que estado de ânimo
as pessoas são calmas, com quem se comportam tranqüilamente e por
que meios se acalmam” (p. 17):
Amor:
Ódio:
Confiança:
Temor:
Vergonha:
Impudência (impudor, falta de pudor):
Favor (algo que se faz para outrem sem esperar recompensa):
Compaixão:
Indignação:
Inveja:
Emulação (sentimento de competição, rivalidade):
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Desprezo: para Aristóteles, três são as espécies de desprezo – o


desdém, a difamação e o ultraje.

As Paixões da Alma, por Réné Descartes (1596-1650)


Segundo Descartes, em sua última obra, intitulada As Paixões da
Alma (1649), existiriam seis paixões primitivas, isto é, as paixões a
partir das quais seriam derivadas as demais. Cada uma das paixões
primitivas serviria de base para a formação de um grupo de paixões que
formam a totalidade das paixões humanas. Cada uma das paixões
particulares seria o resultado da combinação de outras paixões. em
diferentes graus e intensidades: “as seis paixões primitivas, (...) são
como que os gêneros dos quais todas as outras são as espécies” (As
Paixões da Alma, p. 139).
As paixões, conforme Descartes, são divididas em seis grupos,
cada um tendo como sua origem a paixão primitiva que produz as
paixões particulares:
1. Grupo da Admiração: magnanimidade, estima,
desprezo, generosidade, humildade, orgulho, veneração, desdém
2. Grupo do Amor: afeição, amizade, devoção, atração
3. Grupo do Ódio: horror
4. Grupo do Desejo: esperança, temor, segurança,
desespero, inveja, indecisão, coragem, audácia, emulação,
covardia, medo
5. Grupo da Alegria: escárnio, satisfação interior, favor,
reconhecimento, glória, contentamento
6. Grupo da Tristeza: piedade, remorso, indignação,
cólera, vergonha, desgosto, arrependimento

As considerações cartesianas sobre cada uma das paixões:


Primeiro grupo:
Admiração: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 53), “a
admiração é uma súbita surpresa da alma, que faz com que ela se
ponha a considerar com atenção os objetos que lhe parecem raros e
extraordinários” (p. 84). Na época do pensador, ‘admiração’ era
sinônimo de ‘espanto’ (e ‘espanto’ significava ‘admiração exagerada’, ou
seja, ‘estupefação’). Desta forma, a admiração é a paixão gerada por
algo que nos surpreende. Como nada pode nos tocar sem que antes seja
percebido, “a admiração é a primeira de todas as paixões (...) e se o
objeto que se nos apresenta não tem nada em si que nos surpreenda,
não somos de forma alguma comovidos e o consideramos sem paixão”
(p. 78).
Magnanimidade: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 54) a
magnanimidade é uma das paixões que advêm da admiração reunida à
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estima ou ao desprezo, “e nós podemos, assim, estimar ou desprezar a


nós mesmos, daí vêm as paixões e, em seguida, os hábitos de
magnanimidade ou de orgulho, de humildade ou de baixeza” (p. 78). A
magnanimidade consiste, assim, na ação desinteressada em servir a
alguém ou a algum ideal a despeito de todos os riscos e perigos
possíveis.
Estima: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 149), “a
estima, no sentido em que se trata de uma paixão, é uma inclinação em
que a alma se representa o valor da coisa estimada, essa inclinação é
causada por um movimento particular dos espíritos conduzidos de tal
forma no cérebro que reforçam as impressões que servem a esse
assunto (...)” (p. 139-140).
Desprezo: ao contrário da estima, “a paixão do desprezo é uma
inclinação que tem a alma de considerar a baixeza ou a pequenez
daquilo que é desprezado por ela, causada pelo movimento dos espíritos
que reforçam a idéia dessa pequenez” (As Paixões da Alma, art.: 149, p.
140).
Generosidade: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 153), “a
verdadeira generosidade, que faz com que um homem se estime ao
mais alto ponto com que pode legitimamente estimar-se, consiste,
somente em parte, naquilo que ele conhece que não há nada que
verdadeiramente lhe pertença a não ser a livre disposição de suas
vontades, não porque deve ser louvado ou censurado, mas para que a
utilize bem ou mal, e, em parte, porque sente em si mesmo uma
resolução firme e constante de bem utilizar [seu arbítrio], isto é, de
jamais faltar vontade para buscar e executar todas as coisas que julga
serem as melhores. O que significa seguir perfeitamente a virtude” (p.
141). Para Descartes, o generoso, que “não estima nada além de fazer o
bem aos outros e desprezar seus próprios interesses” (p. 143), é
totalmente mestre de suas paixões.
Humildade: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 155) “a
humildade consiste somente na reflexão que fazemos sobre a
imperfeição de nossa natureza e sobre as falhas que podemos ter
cometido no passado ou somos capazes de cometer, as quais não são
menores do que aquelas que poderiam ser cometidas por outros; é essa
a razão pela qual não nos preferimos a ninguém e não pensamos que os
outros, ao terem o seu livre arbítrio tão bem quanto nós, podem utilizá-
lo na mesma medida” (p. 142-143).
Orgulho: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 157), “todos
aqueles que têm boa opinião de si mesmos por qualquer outra causa
[que não seja a generosidade], qualquer que possa ser, não têm uma
generosidade verdadeira, mas somente um orgulho, que é
extremamente vicioso, e mesmo quando está na exata medida da causa
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pela qual alguém se estima, torna-se ainda mais injusto. Ainda: mais
injusta de todas [as causas] ocorre quando se é orgulhoso sem nenhum
motivo” (p. 143-144).
Veneração (ou respeito): para Descartes (As Paixões da Alma,
art.: 162) “a veneração ou o respeito é uma inclinação da alma não
somente no sentido de estimar o objeto que venera, mas também de
submeter-se com temor a esse objeto, no sentido de esforçar-se para
torna-lo favorável [aos seus interesses]. Assim, somente temos
veneração pelas causas livres que julgamos capazes de nos fazer bem
ou mal, sem que saibamos qual de ambos nos será produzido” (p. 149).
Desdém: Descartes (As Paixões da Alma, art.: 163) afirma: “isso a
que nomeio desdém é a inclinação que tem a alma de desprezar uma
causa livre, julgando que, bem que por sua natureza essa causa possa
fazer bem ou mal, ela não é suficientemente forte a ponto de não poder
nos causar nem um nem outro. O movimento dos espíritos que excita o
desprezo é composto daqueles que excitam a admiração e a segurança
ou a audácia” (p. 149).

Segundo Grupo:
Amor: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 79), “o amor é
uma emoção da alma causada pelo movimento dos espíritos
[animados], que o incitam a unir-se voluntariamente aos objetos que
lhe parecem convenientes” (p. 89-90).
Afeição: no artigo 83 de As Paixões da Alma, Descartes compara
três tipos de amor: “pode-se, me parece, com melhor razão, distinguir o
amor pela estima que se tem por quem se ama em comparação a
estima por si mesmo. Pois, quando se estima o objeto de amor menos
do que a si mesmo, tem-se por ele somente uma simples afeição; (...)”
( p. 92).
Amizade: “quando se estima em igualdade consigo mesmo,
denomina-se amizade (...)” (p. 92).
Devoção: “e quando se estima acima [de si mesmo], a paixão que
se tem pode ser denominada devoção” (p. 92).
Atração: “chamamos normalmente de bem ou mal àquilo que
nossos sentidos interiores ou nossa razão nos fazem julgar conveniente
ou contrário à nossa natureza; porém chamamos de bom ou feio àquilo
que nos é representado por nossos sentidos exteriores, principalmente
pelo sentido da visão, o qual em si mesmo é mais considerado do que
todos os outros. Daí nascem duas espécies de amor, a saber, aquela
que se tem pelas coisas belas, à qual pode-se dar o nome de atração,
afim de não confundi-la com a outra, nem tampouco com o desejo ao
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qual se atribui geralmente o nome de amor” (As Paixões da Alma, art.:


85, p. 94).

Terceiro Grupo:
Ódio: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 157), “o ódio é
uma emoção da alma causada pelos espíritos [animados], que incitam a
alma a querer se separar dos objetos que se apresentam a ela como
perigosos” (p. 90).
Horror: Ao tecer considerações sobre as paixões despertadas pelas
coisas boas/mas (produzidas por nossos sentidos interiores) e pelas
coisas belas/feias (produzidas por nossos sentidos exteriores),
Descartes (As Paixões da Alma, art.: 85), considera que “daí nascem, da
mesma forma, duas espécies de ódio, uma das quais se reporta às
coisas más, a outra às coisas que são feias e essa última pode ser
chamada de horror ou aversão, afim de distingui-la. Contudo, o que é
notável é que as paixões de atração e horror têm o hábito de ser mais
violentas do que as outras espécies de amor ou de ódio, devido ao fato
de que aquilo que vem à alma através dos sentidos a toca mais
poderosamente do que aquilo que lhe é representado pela razão; e,
entretanto, elas têm ordinariamente menor grau de verdade: de forma
que, de todas as paixões, essas são as que mais nos iludem, e, assim,
deve-se tomar maior cuidado com elas” (p. 94)

Quarto Grupo:
Desejo: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 86), “a paixão
do desejo é uma agitação da alma causada pelos espíritos [animados],
que a dispõem a querer para o futuro as coisas que se lhe representam
ser convenientes. Assim, não se deseja somente a presença do bem
ausente, mas também a conservação do [bem] presente e, mais ainda,
a ausência do mal, tanto daquele que já sofremos, quanto daquele que
cremos poder nos afligir no futuro” (p. 95).
Esperança: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 165), “a
esperança é uma disposição da alma a se persuadir que aquilo que ela
deseja acontecerá, que é causada por um movimento particular dos
espíritos, a saber, aquele movimento gerado pela alegria e pelo desejo
misturados em conjunto (...)” (p. 150).
Temor: “e o temor é outra disposição da alma que a persuade que
não ocorrerá [aquilo que se deseja]. E é necessário notar que, mesmo
que essas duas paixões [esperança e temor] sejam contrárias, pode
acontecer de ocorrerem em conjunto, a saber, quando alguém se
representa, ao mesmo tempo, diversas razões, em que algumas fazem
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julgar que a realização do desejo é fácil e as outras a fazem parecer


difícil” (As Paixões da Alma, art.: 165, p. 150-151).
Segurança (ou autoconfiança): para Descartes (As Paixões da
Alma, art.: 166), “quando a esperança é tão forte que domina
inteiramente o temor, sua natureza se transforma e passa a se
denominar segurança ou autoconfiança e quando se está seguro que
aquilo que se deseja ocorrerá, cessa-se de estar agitado pela paixão do
desejo que fazia com que se procurasse sua realização com inquietação
(...)” (p. 151).
Desespero: “da mesma forma, quando o temor é tão extremo que
elimina qualquer possibilidade de esperança, converte-se em desespero:
e esse desespero, que representa a coisa como sendo impossível,
extingue inteiramente o desejo, o qual se dirige apenas às coisas
possíveis” (As Paixões da Alma, art.: 166, p. 151).
Inveja: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 167), “a inveja
é uma espécie de temor que se relaciona ao desejo que se tem [por
alguma coisa] de se converter na possessão de algum bem; e não vem
tanto da força das razões que fazem julgar que se pode perdê-lo quanto
da grande estima que se tem [por aquilo que se julga poder perder]” (p.
151).
Indecisão: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 170), “a
indecisão também é uma espécie de temor que, retendo a alma na
oposição entre diversas ações que ela poderia realizar, é a causa para
que ela não execute nenhuma [das ações possíveis], de tal forma que
ela tem tempo para escolher antes de se determinar. Nisso há, na
verdade, algum uso positivo” (p. 153).
Coragem: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 171), “a
coragem, no sentido em que é uma paixão e não um hábito ou
inclinação natural, é um certo calor ou agitação que dispõe a alma a se
colocar poderosamente na execução das coisas que quer fazer, sendo
elas de qualquer natureza (...)” (p. 154).
Audácia: “e a audácia é uma espécie de coragem que dispõe a
alma à execução das coisas mais perigosas” (p. 154).
Emulação: “A emulação é, também, uma espécie de coragem, pois
se pode considerar a coragem como um gênero que se divide em um
certo número de espécies que têm diferentes objetos, e em outro
número que tem diferentes causas: no primeiro caso [de objetos
diferentes], a ousadia é uma espécie [de coragem], no segundo caso
[de causas diferentes], a emulação [é uma espécie de coragem]. E essa
última não é outra coisa do que um calor que dispõe a alma a realizar as
coisas que ela espera efetivar com sucesso porque vê que outros o
fazem; por isso é uma espécie de coragem da qual a causa externa é o
exemplo” (As Paixões da Alma, art.: 172, p. 154).
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Covardia: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 174), “a


covardia é diretamente oposta à coragem, e consiste em um langor ou
um esfriamento [uma fleuma, ou apatia] que impede a alma de se pôr
na realização das coisas que ela faria se estivesse isenta dessa paixão
(...)” (p. 155).
Medo (ou pavor): “e o medo ou o pavor, que é o contrário da
ousadia, não é somente um esfriamento, como também uma
perturbação e uma dormência da alma que lhe elimina o poder de
resistir aos males que ela pensa estarem próximos” (As Paixões da
Alma, art.: 174, p. 155-156).

Quinto Grupo:
Alegria: “A alegria é uma agradável emoção da alma, que consiste
no prazer que ela tem do bem que as impressões do cérebro lhe
representam como boas. Digo que é nessa emoção que consiste o gozo
do bem” (As Paixões da Alma, art.: 91, p. 98).
Escárnio: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 178), “” (p.
157).
Satisfação interior: no artigo 66 d’As Paixões da Alma, Descartes
considera que “podemos também considerar a causa do bem e do mal,
tanto presente quanto passado. E o bem que foi realizado por nós
mesmos nos dá ma satisfação interior, que é a mais doce de todas as
paixões” (p. 82). “A satisfação que têm sempre aqueles que seguem
constantemente a virtude é um hábito em sua alma que se denomina
tranqüilidade e repouso de consciência. Porém aquela que ocorre
novamente quando se realizou recentemente alguma ação que se pensa
ser boa é uma paixão, a saber, uma espécie de alegria, que creio ser a
mais doce de todas, visto que sua causa depende de nós mesmos” (As
Paixões da Alma, art.: 190, p. 163).
Favor [ou benevolência]: para Descartes (As Paixões da Alma,
art.: 192), “o favor [ou benevolência] é propriamente um desejo de ver
chegar o bem a alguém por quem se tem boa vontade; mas não me
sirvo, aqui, dessa palavra para significar esta vontade no sentido em
que ela é excitada em nós por alguma boa ação daquele por quem nós
temos simpatia. Pois somos naturalmente levados a amar aqueles que
fazem coisas que estimamos, ainda que não nos advenha nenhum bem.
O favor, nesse sentido, é uma espécie de amor, não de desejo, ainda
que exista o desejo de ver o bem sempre acompanhar aquele por quem
temos consideração. O favor está normalmente ligado à piedade, devido
às desgraças que vemos chegarem aos infelizes e que nos fazem refletir
ainda mais sobre seus méritos” (p. 165).
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Reconhecimento: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 193),


“o reconhecimento também é uma espécie de amor excitado em nós
por alguma ação de alguém por quem temos gratidão, e pela qual
cremos que nos fez bem ou, pelo menos, teve a intenção de faze-lo.
Assim, o reconhecimento tem as mesmas características do favor e,
mais do que este, está fundamentado sobre uma ação que nos toca e
que desejamos retribuir. É por isso que o reconhecimento tem muito
mais força, principalmente nas almas pouco nobres ou pouco generosas”
(p. 165).
Glória: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 204), “o que
chamo aqui de glória é uma espécie de alegria fundamentada no amor
que se tem por si mesmo e que vem da opinião ou da esperança de que
se será louvado pelos outros. Desta forma, é diferente da satisfação
interior que vem da opinião que se tem de ter realizado alguma boa
ação” (p. 172).
Contentamento: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 210),
“enfim, aquilo a que denomino contentamento é uma espécie de alegria
que tem isso de particular: sua doçura é aumentada pela lembrança dos
males que alguém sofreu e dos quais se sente aliviado, como alguém
que se sente desoprimido de um fardo pesado que carregou durante
longo tempo sobre os ombros” (p. 175).

Sexto Grupo:
Tristeza: “A tristeza é um langor desagradável que consiste no
incômodo que a alma recebe do mal, ou da falta daquilo que as
impressões do cérebro representam como sendo necessárias. Há
também a tristeza intelectual que não é a paixão, mas que não deixa de
estar acompanhada” (p. 99).
Piedade: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 185), “a
piedade é uma espécie de tristeza misturada com o amor ou com a boa
vontade em relação àqueles que vemos sofrer algum mal do qual
consideramos indignos. Assim, é contrária à inveja em razão de seu
objeto e ao escárnio em razão da maneira como considera [os fatos]”
(p. 161).
Remorso: o mal que excita o remorso é considerado por Descartes
como a mais amarga de todas as paixões (As Paixões da Alma, art.: 63,
p. 82); essa paixão seria produzida a partir do mal causado por nós a
nós mesmos ou aos outros, tanto no presente quanto no passado. “O
remorso é diretamente contrário à satisfação de si mesmo e consiste em
uma espécie de tristeza que aparece quando se crê ter feito alguma má
ação, e é uma paixão muito amarga porque sua causa vem apenas de
nós mesmos” (As Paixões da Alma, art.: 191, p. 164).
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Indignação: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 195), “a


indignação é uma espécie de ira ou aversão que se tem naturalmente
contra aqueles que fazem algum mal de qualquer natureza. Essa paixão
está freqüentemente misturada à inveja ou à piedade, porém tem um
objeto completamente diferente, pois somente se tem indignação contra
aqueles que fazem o bem ou o mal às pessoas que não são
merecedoras, enquanto que tem inveja daqueles que gozam de algum
bem e se tem piedade daqueles que sofrem algum mal” (p. 166).
Cólera: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 199), “a cólera
também é uma espécie de ira ou de aversão que temos contra aqueles
que fizeram algum mal, ou que se esforçam por prejudicar, não
indiferentemente quem quer que seja, mas particularmente a nós.
Assim, a cólera contém as mesmas características da indignação e, mais
do que esta, é fundada sobre uma ação que nos diz respeito e contra a
qual temos o desejo de nos vingar. Pois esse desejo a acompanha
sempre e a cólera é diretamente oposta ao reconhecimento, da mesma
forma que a indignação [se opõe] ao favor. A cólera é, porém,
incomparavelmente mais violenta do que estas outras três paixões
porque o desejo de afastar as coisas que nocivas e de vingança é o mais
imperativo de todos” (p. 168).
Vergonha: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 205), “a
vergonha, ao contrário [da glória], é uma espécie de tristeza fundada
também sobre o amor de si mesmo, e que vem da opinião ou do temor
que se tem de ser reprovado. Ela é, além disso, uma espécie de
modéstia ou de humildade [confundida com] a desestima de si mesmo.
Visto que, quando alguém se estima vigorosamente não pode imaginar
a si mesmo como sendo desprezado por ninguém e, por essa razão,
não pode sentir vergonha” (p. 173).
Desgosto: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 208), “o
desgosto é uma espécie de tristeza que vem da mesma causa que a
alegria que havia anteriormente. Pois somos compostos de tal forma,
que a maior parte das coisas que gozamos são boas ao nosso
entendimento apenas por algum tempo e, posteriormente, se tornam
incômodas. Assim parecem, principalmente, o beber e o comer, que são
úteis somente quando se tem sede ou fome e se tornam prejudiciais
quando não se tem mais apetite; e, como deixam de ser agradáveis ao
gosto, essa paixão é denominada desgosto” (p. 174-175).
Arrependimento: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 209),
“o arrependimento é também uma espécie de tristeza, a qual tem um
amargor particular devido ao fato de que está sempre vinculado a algum
desespero e à memória do prazer que nos deu o gozo passado. Pois
sempre nos arrependemos dos bens que desfrutamos no passado e que
estão perdidos de tal forma que não temos mais nenhuma esperança de
11

reencontrá-los no momento e na forma com que deles nos


arrependemos” (p. 175).

Diferentemente de Aristóteles, Descartes considera que “no


momento em que conhecemos todas [as paixões], estamos muito
menos sujeitos a temê-las do que anteriormente, pois vimos que são
todas boas em sua natureza e que não temos nada a evitar a não ser
seu uso maléfico e seus excessos” (As Paixões da Alma, art.: 211,
p.176). Aristóteles considera que algumas das paixões, como a
indignação, são nocivas e devem ser evitadas.

TEORIA DOS AFETOS


Tem suas origens na musica reservata1 das cameratas italianas da
segunda metade do século XVI, em especial, a Camerata Fiorentina. A
Teoria dos Afetos do período Barroco é uma ampliação da representação
individualizada das palavras da musica reservata, aplicada
especialmente nos madrigais italianos (Lassus, Marenzio, Gesualdo). A
Teoria dos Afetos origina-se na busca de representação musical de
paixões específicas (cf. teoria das paixões de Aristóteles e Descartes)
através de recursos especificamente musicais, seja pela continuidade
discursiva, seja pelo emprego de contrastes abruptos. Os afetos eram
representados em sentido genérico, é o afeto específico que se
representa e não as mudanças de estados de alma2. Para isso, foram
elaborados sistemas de representação musical extremamente
sofisticados, ao longo do século XVII e primeira metade do século XVIII,
especialmente na Alemanha, com base nas teorias da retórica e da
poética clássicas (Aristóteles, Horácio, Cícero, Plínio).
Para a construção de um bom processo de representação através
da música, seriam necessários três etapas: inventio (invenção), que

1
O termo musica reservata, segundo Bukofzer, “deriva provavelmente da fiel
observância da letra” (BUKOFZER,1986, p. 20). Uma diferença essencial entre a
representação musical dos afetos na Renascença e no Barroco está em que, naquela
eram representadas palavras isoladas e os músicos preferiam as paixões mais
brandas, enquanto que neste, eram preferidas as paixões extremas (desde a dor
dilacerante até o júbilo eufórico), também no Barroco era representado o afeto geral
do texto e não termos ou versos isolados.
2
Neste sentido, a Teoria dos Afetos é distinta da expressão patética do romantismo,
em que se busca expressar as transformações de estados de alma do artista; assim, a
teoria dos afetos busca ‘representar’ as paixões, enquanto que o romântico busca
expressá-las, isto é, substituí-las pelos meios musicais. Patético – do grego:
pathétikós,ê,ón ‘acessível às impressões exteriores; capaz de sentir, sensível; que
sente as impressões de modo passivo; passivo (gram.); comovente, próprio para
comover’, pelo lat. pathetìcus,a,um ‘tocante, impressivo’; f.hist. 1720 pathêtico, 1789
pathetico, 1813 pathético.
12

consiste na procura do objeto a ser representado, isto é, o afeto


específico, e relacioná-lo a alguma figura musical característica;
dispositio, que consiste no planejamento geral de uma obra, isto é, em
quais os momentos em que determinados meios musicais serão
empregados para a representação dos afetos; elaboratio, que consiste
no processo de elaboração do material, através das técnicas de
composição (tais como contraponto, harmonia, fraseologia, etc.).
Segundo Bukofzer, o meio mais importante de representação
musical pela teoria dos afetos seria o expressio verborum:

este meio de representação verbal da música barroca não era


nem direto, nem psicológico, nem emocional, mas tinha um
caráter indireto, isto é, intelectual e pictórico. A psicologia
moderna relativa às emoções dinâmicas ainda não existia na
época barroca. Os sentimentos se classificavam e convertiam
em estereótipo, formando um conjunto dos chamados afetos,
cada uma dos quais representava um estado mental que em si
mesmo era imóvel. Era assunto do compositor fazer com que a
tendência da música correspondesse à das palavras. Segundo o
racionalismo lúcido da época, o compositor dispunha de um
conjunto de figuras musicais [...] seguindo a pauta dos mesmos
afetos e pensadas para representar esses afetos em música
(BUKOFZER, , 1986, p. 20).

A figura musical era o lócus tópico (lugar aqui e agora) que


consistia em uma padronização dos meios musicais empregados para a
representação dos afetos. A classificação dos loci topici se inicia com
Nucio, Crüger, Schönsleder e Herbst; segue-se com Bernhard e se
cristaliza com Vogt, Mattheson e Scheibe. A obra considerada como a
mais importante classificação da Teoria dos Afetos é Volkommene
Capellmeister, de Mattheson, músico e teórico que já está apontando os
caminhos para a nova música que irá gerar o estilo clássico. Os teóricos
que se dedicaram à defesa do stile recitativo no início do século XVII,
em especial Doni, criaram figuras musicais específicas para representar
as figuras de linguagem, como a interrogação (semi-cadência), a
afirmação (cadência autêntica), a repetição e a enumeração, entre
outras. Bernhard afirma: “devido ao grande número de figuras
[musicais], a música atual alcançou tal nível que se pode compará-la a
uma rethorica”. Para Mattheson, os loci topici mais destacados, como os
veículos mais essenciais da invenção e da composição, eram os
seguintes: lcus natationis (se ocupa das figuras musicais abstratas, isto
é, são as técnicas de elaboração musical, como a imitação, a inversão e
a repetição) e lócus descriptionis (se ocupa da descrição de idéias
extramusicais através de figuras sonoras que se assemelham à metáfora
e à alegoria; para os barrocos, os significados verbais, musicais e
13

pictóricos eram inseparáveis, pois fazem parte de uma única e mesma


realidade e são apenas modos distintos de representação das paixões).
O sistema de tópicos se converte assim em um modelo para a criação
musical, ars inveniendi. Com isso, estaria garantida a unidade de afeto
de determinada peça musical. O conceito do “afeto único” ao longo de
uma peça ou movimento inicia-se com a sistematização da segunda
metade do século XVII e alcança um ponto máximo de estereotipagem e
rigidez no início do século XVIII. Para Mattheson, as árias “têm em sua
imensa maioria um tema ou subjectum breve, onde deve estar presente
todo o conteúdo e afeto na maior proporção possível”. Com isso,
acreditava ser problemática a representação de palavras ou trechos
isolados e preconizava a representação do afeto geral do texto.
Mattheson também aconselhava que se deixassem as figuras
secundárias (aquelas que não representam o caráter principal do
segmento em questão) como elementos secundários (contracanto,
acompanhamento, segunda voz, etc.).
Como as figuras não ‘expressam’, mas ‘representam’ os afetos
através da música em conexão com determinado texto ou título, as
mesmas figuras podem ser empregadas para a representação de
diferentes paixões. Assim, as figuras musicais são necessariamente
polissêmicas, isto é, podem ter vários significados e apresentam
multiplicidade de sentidos. Nesse sentido, os afetos barrocos eram
entendidos como situações estáticas (o que não pode ser confundido
com a representação psicológica das paixões, nem com a descrição
programática do conteúdo). Poder-se-ia dizer que a representação
musical, segundo a teoria dos afetos, tem caráter metafórico, isto é, a
relação entre a paixão humana e a figura musical que a representa se
dá por semelhança – a relação metafórica é simplesmente comparativa.
Ao contrário, a intenção de expressão psicológica dos estados de alma e
dos movimentos passionais (a expressão patética) do romantismo se dá
por metonímia, ou seja, os músicos acreditavam que haveria uma
relação de causa e efeito entre os materiais sonoros empregados nas
composições e as paixões da alma.
É interessante notar, como acrescenta Bukofzer, que

a conotação claramente racional e intelectual da doutrina das


figuras surgiu diretamente da tendência característica do
pensamento barroco na direção dos conceitos concretos e
abstratos com a intenção de modelar as idéias abstratas de
modo concreto e os objetos concretos de forma abstrata.
Assim, uma idéia estritamente musical era ao mesmo tempo
concreta e abstrata, apresentava um afeto abstrato de modo
concreto e por esse motivo a figura possuía um significado
estrutural em toda a composição. Bernhard afirma de maneira
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solene o profundo respeito por todas as figuras em música,


quando diz o seguinte: ‘tudo aquilo que não se pode justificar
mediante figuras, deve ser afastado da música como
monstruosidade’ (BUKOFZER, 1986, p. 394).

RETÓRICA

Quintiliano: Institutio oratoria (lat. institutìo,ónis: ‘criação,


formação’; lat. oro,as,ávi,átum,áre 'pronunciar uma fórmula ritual, uma
prece, um discurso', voc. da linguagem religiosa e jurídica, conservado
em romance no sentido de ‘rezar’)
Sete Artes Liberais da Idade Média:
¾ Trivium – (artes lingüísticas ou filosóficas) gramática latina,
lógica e retórica; “na Idade Média, [Trivium é] a primeira parte
do ensino universitário, formada por três disciplinas (gramática
latina, lógica e retórica) ministradas antes do quadrivium e que,
com este último, constituía as sete artes ou as artes liberais”
(Houaiss).
¾ Quadrivium – (disciplinas matemáticas) aritmética,
geometria, astronomia e música
Do século XV ao século XVIII, o estudo da retórica fazia parte dos
currículos escolares e nas universidades: “todo o homem instruído era
hábil em retórica” (GROVE, p. 793). Os músicos passaram a conhecer
retórica e adotaram suas técnicas nos processos de composição e
interpretação musical, o que forçou a uma mudança de posição com
relação às Artes Liberais da Idade Média (a música continuou ligada à
matemática até o séc. XVIII).
Gallus Dessler, Praecepta musicae poeticae (1563): organização
formal com base nas divisões da oratória: exordium (abertura),
medium, finis (esse princípio permanece até o séc. XVIII).
Heinichen, Der General-Bass in der Composition (1728): loci topici
(lat. topico: idéia) como padrões ou figuras musicais. Quintilian tinha
falado nos loci topici como sendo as “fontes da argumentação”. Desse
texto também sai os conceitos de antecedente e conseqüente.

DOUTRINA DAS FIGURAS MUSICAIS


Desde Burmeister, os teóricos buscam entrelaçar figuras de
retórica com figuras musicais. Dos pesquisadores do século XX, Unger
chegou a catalogar mais de 150 figuras de retórica musical. Vários
autores também experimentaram organizar essa diversidade de figuras
em algumas categorias gerais, porém ainda não se tem nenhum
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consenso sobre isso. A lista de categorias abaixo é dada por Buelow (in:
GROVE, p. 795-800):
¾ Figuras de repetição melodia
¾ Figuras com base em imitação fugal
¾ Figuras formadas por estruturas dissonantes
¾ Figuras de intervalos
¾ Figuras de Hypotyposis (também denominada
“madrigalismo”) – “descrição de uma cena ou situação com
cores tão vivas, que faz o ouvinte ou leitor ter a sensação de
que as presencia pessoalmente; gr. hupotúpósis,eós ‘esboço;
exposição sumária, definição geral; modelo, exemplo; figura de
retórica’, pelo lat. hypotypósis,is ‘evidência’ [fig. de retórica];
f.hist. 1713 hypotyposis, 1813 hypotypósis” (Houaiss).
¾ Figuras sonoras
¾ Figuras formadas por silêncio

Muitas figuras de retórica musical foram empregadas por


compositores para justificar trechos em que não seguiam rigorosamente
as regras de contraponto.

TEORIA DOS AFETOS


O termo germânico Affekt vem do grego páthos, através do latim
afectus, que consiste em um estado emocional ou passional.
“Como um resultado de suas inter-relações intrincadas com as
teorias retóricas, a música barroca tomo como seu objetivo estético
primordial a conquista da unidade estilística com base em abstrações
emocionais denominadas Afetos. [...] Durante o período barroco o
compositor era levado, assim como o orador, a provocar no ouvinte
estados emocionais idealizados – melancolia, ódio, amor, alegria, cólera,
dúvida e outros mais – e cada aspecto da composição musical refletia
esse propósito afetivo. [...] todos os elementos da música – escalas,
ritmo, estrutura harmônica, tonalidade, extensão melódica, forma,
colorido instrumental, etc. – eram interpretados de maneira afetiva. Os
estilos, formas e técnicas compositiva da música barroca eram, assim,
sempre o resultado desse conceito dos Afetos. [...] Pesquisas mais
recentes demonstraram claramente que o conceito de figuras musicais
estereotipadas com conotações afetivas específicas nunca existiram na
mente do compositor ou nas explanações teóricas do Barroco [como
Pirro e Shweitzer fizeram pensar, como base no leitmotiv wagneriano]”
(GROVE, p. 800).
Cf. teoria do ethos grega (p. 801)
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Kircher, Mussurgia Universalis – primeira obra a tratar das


relações dos intervalos com os afetos.
Werkmeister – combinação de elementos matemáticos com
conceitos retóricos para a formação de afetos.
C. P. E. Bach, Quantz e L. Mozart: ênfase na execução
(pronuntiatio – lat. pronuntiatìo,ónis 'publicação, declaração, anúncio;
pregão; declamação, recitativo de ator ou orador', do rad. de
pronuntiátum, supn. de pronuntiáre 'anunciar abertamente em alta voz;
contar, expor; levar ao conhecimento público, discorrer, exprimir-se';
ver nunci-; f.hist. sXIV pronunciaçon, 1536 pronunciação).

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