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BARROCO – SEISCENTISMO

“No escribo para pocos sino para muy pocos” (Gôngora)

Marco inicial: 1601 – Publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira


Marco final: 1768 – Fundação da Arcádia Ultramarina e publicação do livro Obras,
de Cláudio Manuel da Costa

O termo Barroco denomina genericamente todas as manifestações artísticas


(literatura, música, pintura, escultura e arquitetura) dos anos 1600 e início dos
anos 1700.

Várias são as opiniões sobre a origem da palavra barroco: palavra ligada a um


processo mnemônico (memória) que designava um silogismo aristotélico com
conclusão falsa; tipo de pérola de forma irregular, abundantemente comerciada
em Barokia; terreno desigual. Em qualquer das hipóteses é possível perceber
relações com a estética barroca: jogo de idéias, rebuscamento, assimetria.

Silogismo: Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas


premissas, delas, por inferência, se tira uma terceira, chamada conclusão. Ex.:

1. toda pérola irregular como as de Barokia já se denominava barroco na


península ibérica;
2. aquela pérola não é irregular como as de Barokia;
3. logo, aquela pérola não é barroco de Barokia.

PAINEL DE ÉPOCA:

“Brigam Espanha e Holanda Pelos direitos do mar


Pelos direitos do mar Brigam Espanha e Holanda
O mar é das gaivotas Porque não sabem que o mar
Que nele sabem voar É de quem o sabe amar.”
Brigam Espanha e Holanda (Milton Nascimento e Leila Diniz)

“Primeiro submetido à dominação castelhana (1580 a 1640) e depois preocupado


em consolidar sua independência nas guerras da Restauração, Portugal viveu o
século XVII com os olhos dirigidos mais pela cruz contra-reformista do que para o
telescópio de Galileu. Condicionamentos políticos, religiosos e culturais contribuíram
decisivamente para o semi-insulamento português, pondo-o à margem da Europa
culta. (...) Nas universidades portuguesas, dominadas pelos jesuítas, imperava a
Escolástica. Obrigadas a ler o texto de Aristóteles, dando-lhes as glosas
convenientes, e proibidas de enveredar pelas sendas perigosas das novidades
científicas e doutrinais, as instituições universitárias reverenciavam a fé e a
ortodoxia. A Inquisição, instalada nos domínios portugueses desde 1536, não só
submetia a censura prévia as publicações, emitindo sucessivos róis de livros
defesos, como fiscalizava a entrada de obras e pessoas suspeitas na fé e nas
convicções científico-filosóficas.” (Francisco Maciel Silveira)
Escolástica: doutrinas teológico-filosóficas dominantes na Idade Média, dos sécs.
IX ao XVII, caracterizadas sobretudo pelo problema da relação entre a fé e a razão,
problema que se resolve pela dependência do pensamento filosófico, representado
pela filosofia greco-romana, da teologia cristã.
• Europa entre a cruz e o telescópio: Galileu Galilei – sentidos aguçados e
hipertrofiados (1564-1642), para quem o saber era uma paixão e a
pesquisa uma volúpia; Francis Bacon – método indutivo (1561-1626),
atacando os filósofos escolásticos, considerando-os “aranhas urdidoras de
teias alheias à realidade”; René Descartes – razão soberana (1596-1650),
impondo a razão como guia da Verdade, desrespeitava o amém que se
devia à autoridade e à tradição.
• Declínio da economia portuguesa (decadência do comércio de
especiarias, colônias que davam retorno econômico lento);
• D. Sebastião - Alcácer-Quibir (África-2.8.1578);
• Unificação da Península Ibérica (1580) – Felipe II assume o controle de
Portugal. Tal situação permanecerá até 1640, quando ocorrerá a
Restauração (Portugal recupera a sua autonomia);
• Sebastianismo e seus reflexos no Brasil: Antônio Conselheiro (Séc.
XIX);
• Contra-Reforma – A unificação da Península Ibérica favorece a luta
conduzida pela Companhia de Jesus em nome da Contra-Reforma: o
ensino torna-se quase um monopólio dois jesuítas;

“Metástase do beatismo fanático enquistado no seio da igreja portuguesa,


sobrepôs-se à autoridade régia na caça feroz a todos - financistas ou
artesãos, clérigos ou seculares – cuja limpeza do sangue ou da fé fosse
suspeita. De 1540 a 1732 registra-se a alarmante cifra de 23.068 réus
penitenciados em autos-da-fé – 1.454 dos quais queimados nos braseiros
santos. A estatística é eloqüente quanto ao poder do Santo Ofício. Ainda mais
se considerarmos que, tendo Portugal à época cerca de 2 milhões de
habitantes, ela indica que pouco mais de 1% da população fora presa e
julgada pelo arbítrio inquisitorial, cujas sentenças, irrecorríveis, não podiam
ser revogadas nem mesmo pelo rei.” (Francisco Maciel Silveira)

• Concílio de Trento (Itália, 1535-1563);


• Ocorre a censura eclesiástica às ciências e cultura em geral (Índex)
• O homem vivia em estado de tensão e desequilíbrio
• As invasões Holandesas no Brasil Colônia: maior conflito político-militar
da Colônia. Salvador (1624-1625); Pernambuco (1630 - 1654); de Sergipe
ao Maranhão, uma extensa faixa de terra litorânea foi tomada pelos
holandeses. A Insurreição Pernambucana, que durou dez anos, culminou
com a expulsão dos Holandeses.

“(...) Embora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a um simples


episódio regional. Ao contrário, fizeram parte do quadro das relações
internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da luta pelo
controle do açúcar e das fontes de suprimento de escravos. (...)” (Boris
Fausto, História do Brasil)

CARACTERÍSTICAS

• Exagerado rebuscamento formal;


• Busca pelos detalhes;
• Conflito entre o terreno e o celestial, o homem e Deus, o pecado e o
perdão. A religiosidade medieval e o paganismo renascentista; o material
e o espiritual;
• Jogo de contrastes;
• Uso excessivo de figuras de linguagem: metáforas, antíteses, paradoxos,
oxímoros, hipérboles, hipérbatos.
• Cultismo (Luiz de Gôngora, poeta espanhol - Gongorismo): jogo das
construções, das palavras e das imagens.

Ao braço do Menino Jesus de Nossa


senhora das Maravilhas, A quem
infiéis despedaçaram
O todo sem a parte não é todo;
O braço de Jesus não seja parte,
A parte sem o todo não é parte;
Pois que feito Jesus em partes todo,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Não se sabendo parte deste todo,
Em todo o Sacramento está Deus todo,
Um braço que lhe acharam, sendo parte,
E Todo assiste inteiro em qualquer parte,
Nos diz as partes todas deste todo.
E feito em partes todo em toda parte, Em
(Gregório de Matos)
qualquer parte sempre fica o todo.

• Conceptismo (Quevedo – Quevedismo): jogo das idéias, dos conceitos.

Uma crítica conceptista ao estilo cultista

“Se gostas da afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam culto, não me
leias. Quando este estilo florescia, nasceram as primeiras verduras do meu, mas
valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser
ouvido. (...) Este desventurado estilo que hoje se usa, os que o querem honrar
chamam-lhe culto, os que o condenam chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem
muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro, e negro boçal e muito cerrado. É
possível que somos portugueses e havemos de ouvir um pregador em português, e
não havemos de entender o que diz?!” (padre Antônio Vieira)
“Hoje em dia afogamo-nos na mídia visual; o público à época de
Shakespeare, habituado a freqüentar a igreja, era mais capacitado a
absorver complexidades através da audição.” (Haroldo Bloom, Gênio. Os
100 Autores mais Criativos da História da Literatura)

Parrrede!
Quando eu estudava no colégio, interno,
Eu fazia pecado solitário.
Um padre me pegou fazendo.
─ Corrumbá, no parrrede!
Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e
decorar 50 linhas de um livro.
O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésima
de Vieira.
─ Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.
O que eu lera por antes naquele colégio eram romances
de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.
Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei
embevecido.
E li o sermão inteiro.
Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!
E fiz de montão.
─ Corrumbá, no parrrede!
Era a glória.
Eu ia fascinado pra parede.
Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato.
Decorei e li o livro alcandorado.
Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.
Gostar quase até do cheiro das letras.
Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.
Ficar no parrrede era uma glória.
Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.
A esse tempo também eu aprendi a escutar o silêncio
das paredes.
(Manoel de Barros)

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