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Muito embora, não se possa negar que sempre houve com relação às políticas
sociais brasileiras a conformidade com uma intervenção de natureza institucional
híbrida e capacidade insuficiente de combater as desigualdades e a pobreza. Assim,
afirma Campos (1998, p.13).
longo dos anos 60 e 70, elemento tão característico da formatação prévia de nosso
Sistema de Proteção Social.
A democratização do Estado brasileiro recuperado ao longo dos anos 80
retoma as bases federativas alterando profundamente a natureza das relações
intergovernamentais, na medida em que são reabertas as eleições diretas para todos
os níveis de governo que favorece a descentralização fiscal prevista na Constituição
de 1988. Passando a ter autoridade tributária sobre os impostos de grande
importância, a autonomia política de cada nível de governo é soberana e independente
dos demais.
É justamente devido a essa dimensão da barganha federativa que o processo
de descentralização das políticas sociais no Brasil só pode ter êxito se
necessariamente as administrações locais avaliarem os ganhos a serem obtidos com
a adesão das tributações de gestão, ou ao menos considerem que os custos que
estão sob sua responsabilidade poderiam ser minimizados pela ação das outras
instâncias de governo.
Considera-se então que os processos de descentralização em curso no país
não podem prescindir dos mecanismos de gestão pública visto que são responsáveis
diretos por seu desdobramento em cada localidade.
Em se tratando de Brasil não é difícil deduzir que a gestão das políticas tende a
ser caras e ineficientes, comumente exigindo um alto volume de recursos e
apresentando baixos níveis de proteção efetiva.
Neste caso, não tem como desconsiderar a trajetória de formação socio-política
brasileira, pelo emaranhado de práticas tipicamente patrimonialistas, da permanência
de relações clientelistas e da privatização da coisa pública, questões suficientes para
por em risco a consolidação das relações democráticas em tempo ágil.
Outro aspecto que vale ser ressaltado nas tendências em voga é a
incorporação da proposta de uma gestão interssetorial que viabilize a conjugação e
integração das políticas e programas setoriais. Esta interssetorialidade demanda
mudanças na organização institucional, particularmente nos municípios.
É inevitável correlacionar que a ideologia neoliberal que sustenta os processos
societários em curso associa-se as atuais, múltiplas e crescentes formas de
exploração, desigualdade e exclusão social. A absorção dessa ideologia propicia um
alto grau de resignação dos sujeitos em face da dificuldade de engendrar alternativas
que fortaleça os laços de coletividade, o que estimula o descrédito na possibilidade de
mudanças positivas. Tudo isso acaba por legitimar um sistema que tem como único
compromisso a maximização do lucro.
O deslocamento das responsabilidades do Estado para a sociedade civil, sob o
ideário da complementaridade dos esforços e das ações sociais acaba por consolidar
a iniciativa privada como uma nova alternativa para execução das políticas públicas,
rompendo com as premissas do pacto Keynesiano. [5]
REFERÊNCIA
NETTO, José Paulo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez,
2007.
[2]
A própria Constituição de 1988 fixa responsabilidades compartilhadas entre Poder Público e iniciativa privada nesse
campo, conservando o princípio da complementaridade. Veja-se, por exemplo, o artigo 213, relativo à destinação de
recursos públicos a “escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas” com finalidade não-lucrativa, e também o
197, dispondo sobre a execução de ações e serviços de saúde, considerados de relevância pública, por meio de
terceiros. (CAMPOS, 1998, p.13)
[3]
Pesquisa realizada por Marta T. S. Arrecthe e publicada na revista Brasileira de Ciências Sociais.
[4]
Foi um Estado dotado destas características que consolidou o Sistema Brasileiro de Proteção Social, até
então um conjunto disperso, fragmentado, com reduzidos índices de cobertura e fragilmente financiado de
iniciativas governamentais na área social. Esta forma de Estado moldou uma das principais características
institucionais do Sistema brasileiro: sua centralização financeira e administrativa. As políticas federais de
habitação e saneamento básico eram formuladas, financiadas e avaliadas por uma agência federal e
executadas por uma série de agências locais dela dependentes. Os diversos programas de assistência
social eram formulados e financiados por organismosfederais e implementados por meio de diversas
agências públicas e organizações semi-autônomas privadas. As fatias federais da oferta de ensino
fundamental – particularmente, os programas de reforço alimentar e de apoio à educação básica – eram
diretamente formuladas, financiadas e implementadas por agências do governo federal. A política de
saúde, ainda que dispersa entre diferentes instituições, também era executada supondo a centralização
financeira e administrativa do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) e
os programas verticais do Ministério da Saúde. Tal formato institucional era compatível com o tipo de
Estado vigente durante a ditadura militar, para o qual estados e municípios eram agentes da expansão do
Estado e da execução local de políticas centralmente formuladas. Nestes termos, grande parte da atividade
de planejamento no plano local consistia em formular projetos de solicitação de recursos para o governo
federal, nos termos previstos pela agência federal encarregada da gestão de uma dada política
(MEDEIROS apud ARRETCHE, 1999, p.3).
[5]
A política Keynesiana está fundada numa defesa a intervenção do Estado na economia para assegurar
altos níveis de atividade econômica, de consumo e de emprego.