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CRÔNICAS & ENSAIOS
GALENO PROCÓPIO M. ALVARENGA
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Tags: Comportamento / Condutas, Crenças antigas / Mitos / Superstições,
Doenças Mentais (transtornos), Drogas / Medicamentos / Remédios, Educação e
Conhecimento, Emoções Sentimentos Controle, Estresses Problemas e Adversida-
des, Família e Casamento, Festas populares e Lazeres, Informação Linguagem e
comunicação, Livros Online Grátis, Livros Psicologia, Livros Psiquiatria, Pintura
dos esquizofrênicos, Política: Políticos e Corrupção, Problemas Familiares, Socie-
dade: Valores e Cultura, Uso de Drogas (Consumo)
Hoje elas se dão, em grande parte, pela disputa do poder. Luta-se pelo
direito de dar ordens. Antigamente, o poder, quando exercido pelas
mulheres, o era às escondidas, pois aceitava-se como normal os homens
mandarem.
Uma pessoa se casa por dois motivos básicos: o primeiro – e a cada dia
torna-se o principal – é a busca da própria satisfação e a do seu cônju-
ge, através do encontro com o outro. Busca-se uma “complementação”
do que lhe falta, ou seja, uma preenchimento de si mesmo. Um nutre o
outro do alimento biopsicossocial. Em segundo lugar, casa-se para pro-
criar, mas, diga-se de passagem, aumenta o número de casais sem filhos.
Essas são frases comuns entre pessoas enamoradas. Nada mais falso.
Cada cônjuge busca apoio nas pessoas que têm o seu próprio modelo e
isto reforça a falsa crença no “erro do outro”, aumentando e cristalizan-
do as desavenças e o abismo entre o casal, onde cada um, seguido por
seu exército, dá origem à guerra conjugal. Esta batalha é reforçada com
a ajuda de tropas alienígenas, isto é, advogados, psiquiatras e outros
assessores.
Caso o modelo mental do cônjuge não lhe permita viver só, ao procu-
rar os seus familiares estará perdendo a oportunidade de “curtir” uma
solidão, que, uma vez bem cultivada, poderá lhe permitir ser criativo
ou recompor sua vida. O medo ao desconhecido, viver sem o cônjuge,
poderá ser uma forma de crescimento individual, pois constitui um
novo modo de vida e é, talvez, o principal obstáculo à separação, quando
o casamento está se deteriorando. Outros fatores criam pressões para
a não separação: a antiga crença no compromisso “até que a morte nos
separe”, a admiração por aqueles que, mesmo vivendo mal, não ousam
separar-se, o valor atribuído pela sociedade à vida conjugal, reputado
como superior à vida de solteiro, a ideia de que um homem bem-sucedi-
do deve estar casado, os problemas financeiros futuros, a dificuldade de
educar os filhos sozinhos e, por último, o sofrimento do afastamento da
família.
Altamente treinados para esse trabalho de ajuda, mais tarde esses “pa-
cientes” preocupados e sensíveis aos problemas dos outros, não de si
mesmo, provavelmente encontrarão outros exploradores e, explorados
por esses, irão ocupar posições de responsabilidade, continuando a fazer
o que aprenderam precocemente: ajudar as pessoas a qualquer preço.
Casam-se, muitas vezes, com mulheres tendo o mesmo perfil de sua mãe
e cuidam delas para sempre. Estes santos ou altruístas fanáticos, que vi-
veram orientados pelos problemas alheios e não pelos próprios, morre-
rão, possivelmente infelizes e arrependidos, por não terem escolhido, há
muito, um caminho diferente do trilhado.
Ele é chamado para opinar sobre isto. Sua missão fundamental não é
verificar se existe um transtorno e fornecer um rótulo psiquiátrico para
o magistrado, mas se o problema – se existente – é crônico ou inter-
mitente, sutil ou óbvio, quais estresses existem e quais podem estar
favorecendo o aparecimento do quadro clínico atual, bem como era a
personalidade anterior do examinado. Precisa examinar a existência ou
não de outros fatores tais como: se ele tem ou não a ajuda de parentes ou
amigos, se tem ou não consciência de seus problemas, se ele está seguin-
do algum tratamento e qual o efeito que a doença tem tido, ou poderá
ter, sobre a criança em discussão, se é que possa ter algum. O melhor
guia para um comportamento futuro é o comportamento passado do
indiciado.
Meu pai continuou lutando contra a morte até às 15 horas daquele dia.
Lá fora, a chuvinha miúda e cansativa transformou-se, repentinamente,
numa violenta tempestade. Ventos fortes e nuvens escuras formaram-se.
O silêncio existente no quarto foi quebrado quando ele se despedia desse
— Está na hora do filho homem largar a família e viver por conta pró-
pria.
Seus primeiros dias aqui foram de penúria, tendo passado até fome:
entregou marmitas, vendeu jornais, lavou carros. E conta, rindo:
— Até gigolô já fui, num período pior… mas por pouco tempo…
Pouco a pouco sua sorte foi mudando: entrou como servente do banco,
passou para contínuo, caixa, gerente e assim foi subindo. O que nunca
lhe faltou foi inteligência, persistência e coragem, e esta ele possui até
demais.
Esse início de vida, entretanto, não foi tão ruim como parece. J. S. “era
feliz e não sabia”, como me contou:
— Era um homem que sabia o que queria, e, quando tinha dúvidas, estas
eram simples e fáceis de solucionar, tais como: sair ou não sair certa
noite, colocar os filhos num ou noutro colégio, bater ou não neles para
educá-los. É, nessa época eu decidia quase tudo sozinho ou, no máximo,
com a colaboração, apenas, de minha mulher.
Ele olha para mim triste e envergonhado por ter falado tanto, mais do
que seu normal, de ter sido fraco conforme seu sistema de crenças. Sus-
pirando fundo, desabafou, despedindo-se:
— Tenho pensado até no suicídio. Sinto que não sou mais o mesmo.
Não me reconheço. Deixei de ser o J. S. que conhecia e não sou mais
A construção da submissão
Aos poucos, a criança torna-se apta para deduzir e sentir, através de suas
auto-observações e autocríticas, sentimentos de prazer e orgulho, ou de
sofrimento e humilhação, por possuir, ou não, esta ou aquela caracterís-
tica. Inexoravelmente ela descobre que os papeis importantes na socie-
dade estão reservados para os homens, pois é fácil notar que eles são os
principais dirigentes políticos, espirituais e financeiros. Além disso, na
sua própria casa, quem manda e quem decide, além de ser mais respeita-
do, inclusive por sua mãe, é seu pai.
Grupos Ideológicos
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Os principais grupos ideológicos de nossa sociedade, começando com
os familiares, cooperam para o mesmo fim: a pregação, explícita e im-
plícita, da inferioridade da mulher. Em todos os lugares, diariamente, as
crianças são educadas, treinadas e ajustadas para assimilarem essas cren-
ças delirantes. Os grupos inoculadores de crenças, unidos pelo discurso
pró-masculino, fazem parte de uma forte e poderosa rede, avaliando
e aprovando as regras da conduta. A obediência à palavra, através dos
tempos, tem sido uma tendência natural do homem, tomando o mapa
pelo território, a palavra pela coisa, a ideia pela realidade. As ideologias,
além de doutrinárias, de explicarem dogmaticamente tudo, também
assimilam os fatos observados e mesmo experimentados, fazendo-os
desaparecer quando eles poderiam ser úteis para contestar e destruir a
fala utilizada. De outro modo, as ideologias, para sobreviverem, preci-
sam rejeitar os fatos.
Para que haja harmonia social, é preciso nivelar, isto é, conduzir para
um ponto comum a forma de pensar das pessoas. Para que haja a repro-
dução da força de trabalho há necessidade, não apenas da reprodução
da qualificação profissional, mas também, e ao mesmo tempo, que haja
a reprodução da submissão às regras da ordem estabelecida. Não have-
ria ordem e harmonia nas ações caso não houvesse um entendimento e
Da mesma forma, para que haja “harmonia social” entre os sexos “su-
perior” e o “inferior”, torna-se necessário que os símbolos usados pelo
“superior” – manipulador do domínio e da repressão (Estado, Direito
e Polícia) possam ser entendidos pelo “inferior” dominado – povo em
geral – se possível, com simplicidade e orgulho. É preciso que o discurso
não-igualitário, instituído de cima para baixo por um grupo, seja assimi-
lado e entendido pelo outro grupo sem restrições.
A ordem social não poderia ser mantida apenas com a divisão simples
de um grupo superior e outro inferior. Haveria sublevação da ordem
pública, caso existisse apenas a afirmação da inferioridade da mulher.
Era preciso criar, além dessa “ordem”, um outro sistema de crenças,
circundando o primeiro, para que as mulheres e outros estigmatizados,
pudessem, não só aceitar pacificamente seu papel, mas também, “valori-
zar” a inferioridade.
Cada frase desse tipo não só tranquiliza o agente e executor, como tam-
bém lhe fornece, muita vezes, uma alegria e orgulho em realizar tarefas
quase penosas. Acalma o dominado, adoça a boca do servidor servil.
Por outro lado, o dominador, como o pai agressivo, o mau patrão, o pro-
fessor intolerante, o governo injusto, o ditador assassino, todos esses, em
lugar de serem agredidos pelos subordinados, recebem obediência, hon-
rarias, medalhas e gratidão dos dedicados servos, prontos para servir.
Contaminado por essas ideias, começo a acreditar que alguns nasceram
para mandar e outros para obedecer. Será?
Não há projeto para diminuir essa divisão. Tudo indica que, com o pas-
sar do tempo, o espaço entre os dois modos de pensar tende a aumentar.
O prejuízo é imenso para todos. Os fatores, econômico e término de
curso “superior”, não são os únicos responsáveis pela diferença. Existem
pessoas ricas, outras formadas no terceiro grau, que estão culturalmente
segregadas, fazendo parte do imenso grupo dos analfabetos ou semia-
nalfabetos.
Aprendi que devia rezar todas as noites três Ave-Marias e três Padre-
-Nossos e, em momentos de maior perigo, a Salve-Rainha. Devia ir à
missa aos domingos, confessar-me pelo menos uma vez ao ano e rezar
algumas Ave-Marias extras às três horas da tarde da Sexta-Feira Santa,
as quais, uma vez estocadas, seriam de grande valia em momentos de
grande aflição. Diga-se de passagem, eu as venho usando atualmente em
grande quantidade, pois têm sido frequentes os meus apuros. Felizmen-
te, daquele estoque de preces ainda conto com umas boas reservas.
Aprendi que não devia roubar, mas que furtar frutas no quintal do vizi-
nho, quando houvesse abundância delas, era tolerável.
Não devia maltratar certos animais, mas podia matar galinhas e sapos.
Não devia falar mentiras em hipótese nenhuma. Mas essa regra come-
çou a ser burlada ainda cedo, depois que, no grupo “Barão de Macaú-
bas”, onde estudava, fui obrigado pela professora de Religião a retirar a
imagem de Cristo da sala de aula, por não ter ido à missa no domingo
e confessado contritamente a minha falta. A partir daí descobri que era
menos penoso ir contra o preceito de minha mãe – não mentir – do que
suportar o castigo de d. Mercês – expulsar o Cristo da sala de aula quan-
do não fosse à Missa.
Aprendi que, sendo homem, não podia chorar, fugir a uma briga, assim
como achar outro homem bonito.
Nesse ambiente, que nada tinha a ver com as mesas de boteco da zona
boêmia ou com minha casa, utilizavam-se palavras venenosas, porém
adocicadas, ditas na maioria das vezes com gentileza hipócrita.
3º – Forme seu grupo, faça parte das associações de classe, senão você
estará perdido. Os fortes, além de não o protegerem, poderão destruí-lo.
6º – Peça vários exames, use o mínimo sua própria cabeça para não
cansá-la e, se possível, faça diagnósticos complicados para valorizar seu
trabalho.
7º – Interne seu paciente psiquiátrico sempre que puder, pois isso dará
a você “mais conforto e segurança com menos trabalho”, talvez, até mais
dinheiro e mais poder.
Você também, prezado leitor, que nasceu na família Silva ou Souza, sabe
o que é bom ou mau. Você também está sujeito a centenas ou milhares
dessas leis, sem tê-las criado.
Elas entraram na sua vida e na sua mente sem serem criticadas ou ana-
lisadas: entraram como transe hipnótico. Comece a analisá-las: veja se
elas o estão ajudando, ou não, a ver melhor. As que o estão prejudican-
do-o, jogue-as fora.
Essas tomadas de posição por algo têm uma importante função social.
Precisamos dessas discussões e devemos tomar parte nelas. Qualquer
movimento social seja real ou fictício, importante ou não, agradável
ou aversivo, sábio ou idiota, liberta, ainda que por momentos, o indi
víduo de seu vazio, de sua depressão, ou melhor, de sua desesperança e
Quem ainda não entrou para um grupo desses, não se aflija. Existem
vagas em diversos clubes: entre rápido para o fã Clube de Carmen Mi-
randa, colecione “souvenirs” deixados por James Dean, Michael Jack-
son, participe dos estudos dos Objetos Não-Identificados, frequente o
clube dos machões ou das feministas, compre depressa ingressos para o
maravilhoso “show” do cantor X, o curso para “Ser Feliz” do Professor Z.
Na ausência de tudo disso, faça parte do clube dos amigos de qualquer
coisa. O nome não importa. Se este não for seu caso, para o bem de
sua saúde mental, comece a comprar. Compre qualquer coisa: um lápis
colorido, um Papai Noel, uma boneca, uma cafeteira, uma camisa do
seu time ou uma arca enorme para guardar tudo. É tempo de festa. O
Mas as pessoas não se preocupam se seu desejo, uma vez realizado, será
bom ou não para elas. Nossos desejos estão presos a valores e estes são
transmitidos na infância, aprendidos sem critério do meio social ou sur-
gem como reações ao ambiente. As crenças, desejos e os valores passam
de uma pessoa à outra, geralmente na infância e adolescência, através do
contato e aprendizagem com indivíduos “dignos de crédito”.
Não existem valores objetivos. Não se pode falar que isto é melhor do
que aquilo, ou é “melhor” comer chuchu do que dançar”. Não se pode
comparar uma coisa com a outra, quando não há parâmetro para isso.
Não há nada que seja bom para todos e mau para todos. Os governantes
sofrem por isso. Os moradores da rua Maria de Souza acham que a pre-
feitura deveria, prioritariamente, calçá-la, mas a comunidade do Bairro
Esperança pensa ser “absurdo” não existir uma linha de ônibus para
servir a região. Um grupo acha que as árvores devem ser cortadas para a
construção de uma fábrica, pois esta gerará mais empregos em Santana
da Misericórdia. Mas outros fazem abaixoassinado contra o corte, pois
este irá perturbar o equilíbrio ecológico.
Oscar Wilde
O dinheiro agora é o nosso rei e talvez o nosso Deus, pois foi promovido
pelos fabricantes da cultura, de “meio” a “fim”. O dinheiro que era um
instrumento utilizado para se alcançar algum objetivo, tornou-se atual
sistema de valores sociais, o próprio alvo a ser atingido.
1) Ao tomar o seu café sinta o seu paladar, calor e aroma e não pense no
preço do pó, da água, da energia e da mão-de-obra.
Narciso, uma vez sob o encanto da deusa, foi seduzido por sua própria
beleza ao ver sua imagem refletida na água. Enfeitiçado, todas as vezes
que Narciso tentava abraçar e beijar sua própria imagem, esta desapare-
cia na água. A lenda termina com a morte de Narciso consumido pela
sua paixão.
Veja como ele foi descrito no CID 10: “o indivíduo apresenta um sen-
timento grandiloquente de sua própria importância ou do seu caráter
excepcional; preocupação com fantasias de êxito ilimitado; necessidade
exibicionista de atenção e de admiração constantes; respostas caracte
rísticas às ameaças à sua autoestima; e perturbações no relacionamento
interpessoal, como sentimento de “ter direito” a exploração inter-pessoal
e ausência de empatia”.
Mas há algo mais ainda que os une. Todos, sem exceção, adoram contar
a sua vida. Estas são geralmente lindas, sofridas, cheia de coisas inter-
essantes. Eles todos, diferentes dos outros moradores desse mundo,
alcançaram a fama através de “muito esforço e trabalho duro”. Todos,
bondosamente, ensinam o que aprenderam aos seus admiradores.
Os cientistas não desvalorizam uma pedra por ter ou não certa dureza,
Uma vez inculcadas essas “verdades”, elas nos darão uma representação
do mundo semelhante à dos nossos educadores. As novas informações
que nos chegam posteriormente, com frequência vêm fortalecer as ideias
primitivas, pois o comum é convivermos com pessoas que pensam
de modo semelhante ao nosso, lermos livros previamente censurados
e assim por diante. Psicologicamente é mais fácil manter as verdades
iniciais, pois assim não temos que repensar, jogar por terra crenças
queridas e familiares, o que nos obrigaria a reformular nossa conduta ao
criarmos novos modelos mentais. Não é fácil trocar a verdade “minha
mãe sempre me amou”, por “minha mãe, que frequentemente me odia-
Para que uma pessoa se sinta mais segura com respeito às suas interpre-
tações é necessário que, pelo menos parte de seu grupo de referência,
profissional ou cultural, defenda e siga os mesmos pressupostos teóricos,
ou seja, tenha os mesmos conhecimentos assimiladores. Ora, como sou
médico, sigo as ideias compartilhadas pela maioria da comunidade cien-
tífica médica psiquiatra, pois identifico-me com elas.
Não temos outro mais confiável até agora, esses são nossos instrumentos
de observação. Essa ferramenta interpretativa, formulada por um grupo
de psiquiatras, corrigida de tempos em tempos, parece-me menos defei-
tuosa do que se cada um, em cada momento, usasse sua própria ferra-
menta, carregada de “pré-conceitos” científicos, acreditando, com muita
fé, que está tendo “percepções imaculadas”, crença comum existente no
“realismo ingênuo”. Não temos outra saída.
Mas lembrei-me que esse tipo de beleza foi o adquirido por mim, ao
assistir a filmes americanos.
Prossegui, teimoso que sou, a fazer perguntas ao meu amigo e fui des-
cobrindo fatos acerca de sua namorada. Fiquei sabendo ter ela 20 anos,
estuda à noite num colégio estadual, cursa a 6ª série e já foi reprovada
por duas ou três vezes. Não entendi bem essa parte. Como já sabia que
Anastácio havia parado de estudar na 3 ª série, após perder o ano diver-
sas vezes, inferi: “Ah! Por isso ele pensa que sua namorada é muito estu-
diosa… Perguntando mais, fiquei sabendo que a namorada de Anastácio
lhe disse que, muitas vezes, ela ficava horas e horas assentada diante dos
livros abertos à sua frente, estudando seguidamente. Ele aceitou ao pé da
letra essas afirmações, acreditou no que ela disse ter observado e inferi-
do a respeito de si mesma.
Creio que as previsões feitas estão certas, também, para todos os leitores.
Passo para vocês as afirmações da vidente, para que as comparem com
suas próprias previsões: “os nascidos entre os dias 1 e 5 são teimosos,
mas flexíveis para os que sabem agir com eles. Os nascidos entre os dias
6 e 10 têm um grande amor às crianças mas, às vezes, perdem a paci-
ência com essas. Os nascidos entre os dias 11 e 16 são trabalhadores e
persistentes, quando desejam alcançar seus objetivos. Os nascidos entre
os dias 17 e 21 não gastam dinheiro facilmente, somente com pesso-
as ou coisas importantes para eles. Os nascidos entre os dias 22 e 25
apaixonam-se rapidamente, mas abandonam cedo suas paixões, quando
frustrados. Os nascidos entre os dias 26 e 31 são desconfiados e selecio-
nam com cuidado seus amigos”.
Aqui pergunto: Qual ideia teria um leitor que nunca tivesse visto a pala-
vra “amor”, ao examinar esta lista de afirmações? Ora, os diversos con-
textos no qual a palavra foi colocada, onde ela está presa, fez com que o
som ou imagem “amor” adquirisse significados totalmente diferentes. Na
maioria das vezes seu sentido é difícil de ser entendido por quem emi-
O boato age, muitas vezes, como estimulante mental como muitas dro-
gas usadas. Tenho uma amiga perita em “acordar” grupos. Presenciei em
uma reunião sua habilidade: a conversa corria morna e lenta, as pausas
alongavam-se. Percebendo o desânimo dos convidados, ela fez uso do
remédio milagroso. Com voz baixa e lenta, como manda o figurino,
começou a falar, ao mesmo tempo que olhava para um e outro do grupo.
Este, que a conhecia bem, percebeu, através dos gestos teatrais, que algo
de interessante estava pronto para vir à tona. Sônia iniciou, falando
espaçadamente:
— Sabem com quem ela se casou? Não sabem? Com a Ruth, uma loira,
baixa, feiinha, telefonista da firma do ex-marido.
Assisti a tudo sem dizer nada. Tive a sorte de levar Sônia em casa, pois
ela estava sem condução. Rimos juntos do efeito de sua fofoca e fiz al-
guns comentários. Entretanto, para meu espanto, ela me disse que o caso
fora criado na hora. Exultante com o sucesso obtido, contou-me para
finalizar:
Se a robusta criança tiver uma mãe muito desocupada, de modo que lhe
sobre bastante tempo para cuidar da alimentação do seu querido filho,
e se este tiver mais algum tempinho para saborear, degustar, deglutir
e “incorporar” as propagandas das multinacionais, a primeira fase, a
essencial da formação do futuro obeso, acha-se terminada. Seu destino
provavelmente está selado e ele estará “frito”, no mundo maravilhoso dos
alimentos.
A maior parte dos grandes obesos, uma vez iniciado um regime e ter
emagrecido alguns quilos, sente-se como se estivesse passando fome.
Em outras palavras, quando um obeso se submete ao regime e seu peso
ainda não alcançou o chamado “peso normal”, biologicamente ele se
Nos obesos este ponto fixo é elevado, acima do peso constante dos “nor-
mais” de desenvolvimento físico semelhante. O obeso tem um maior
acúmulo de gorduras nas células, ou tem maior número dessas células,
um excesso adquirido geralmente na infância. É comum apresentar os
dois fatores ao mesmo tempo. Em outras palavras, tanto o teor de gor-
dura como o número das células gordurosas alcança, no obeso, valores
superiores aos de um indivíduo não-obeso.
3º – Num tom de voz firme, mas normal, Aníbal dirá ao intruso que
aquilo é uma fila, que deve ser respeitada e que ele, o furador de fila,
deve sair dali e procurar seu lugar lá atrás. Nesse caso, sua ação foi exclu-
sivamente para dar solução ao problema surgido e não para criar outro.
É possível que Aníbal se sinta ligeiramente emocionado, mas satisfeito
consigo mesmo, ao defender o seu direito. Posteriormente, ele se sentirá
melhor ainda.
1º – Ir embora sem receber o seu troco e ficar deprimido por sua con-
duta apática.
Não se pretende aqui defender como correta nenhuma das três posturas
descritas. Não é raro um indivíduo ser afirmativo em um lugar e não o
ser em outro. Uma pessoa pode ser firme e objetiva no seu trabalho, pas-
siva em casa e agressiva no futebol de fim de semana. Também pode ser
agressiva em uma ocasião, com uma determinada pessoa, e ser passiva,
fraca, em outro momento, com a mesma pessoa.
Ao sair – a não ser que desejem perder o seu suado dinheiro ou mesmo
a sua preciosa e, às vezes, inútil vida – você deverá, rapidamente, entrar
numa outra prisão semelhante como cinemas, barzinhos, teatros ou lojas
comerciais. Nesses há menos perigo de ser assaltado “.
Uma vez no mundo selvagem das ruas e praças, ficamos frente a frente
com os perseguidores, que são diversos: os temidos pivetes, estuprado-
res, trombadinhas, vendedores, assaltantes, mendigos, camelôs, malo-
queiros, perguntadores suspeitos e desconhecidos que desejam contar-
-nos sua vida, veículos em disparada, pregadores religiosos, objetos,
cuspe e fezes lançados dos prédios, propagandistas ambulantes, seques-
tradores, vigaristas, etc.
Torna-se cada dia mais difícil driblar todos esses obstáculos. Uma boa
parte da população desistiu da luta, não mais a enfrenta, sucumbiu,
presa ao jogo do adversário. Esses não mais sabem onde querem chegar,
para onde vão. Encontram-se sem rumo e, como disse o gato para Alice,
no livro “Alice no País das Maravilhas”: – “Se você não sabe onde quer
chegar, qualquer caminho serve”.
Os mais velhos, coitados, esses quase não mais saem de casa. Suas vidas
restringem-se a comer, dormir, ver TV e, principalmente, tomar de ma-
nhã, à tarde e à noite grandes quantidades de comprimidos para as suas
dores diversas, outras para o “coração” e para dormir. Os de meiaidade
trabalham incessantemente e, nas folgas que existirem, divertem-se sem
parar após se embriagarem. Os jovens, trabalhando, estudando ou não
fazendo nada, seguem a última moda de qualquer ídolo fabricado e, com
eles se identificando, sentem-se alguém. As crianças obedecem: as de
maior poder aquisitivo estudam nos “melhores” colégios, fazem me-
diocremente ginástica, dançam balé ou tocam algum instrumento. Nas
folgas, assistem aos programas chatos para crianças e outros da mesma
espécie. As de menor poder econômico tentam imitar, sem grande su-
cesso, algumas mazelas das crianças ricas.
Talvez dentro dos cárceres privados viva uma família “feliz”. Todos estão
cercados por vizinhos, colegas e companheiros que fazem as mesmas
coisas, pensam do mesmo modo e têm os mesmos valores, de acordo
com as classes a que eles julgam pertencer. Passeiam e tiram férias, nos
locais “em voga”, conforme sua posição social. Isolados, mas unidos
fisicamente, cada um desses indivíduos, nos seus apartamentos, pobres
ou ricos, ou nas mansões, todos, como autômatos e sem o saber, fazem
as mesmas coisas: contam as mesmas histórias, cantam a mesma letra
da música, leem os livros mais vendidos e assistem e discutem, emocio-
Ora, nas conversas de todos os dias, cada indivíduo tem várias pala-
vras ou frases disponíveis, prontas para serem usadas, fáceis de saírem.
Quanto mais o indivíduo usa essas frases – ou apenas palavras – já arru-
madas, analisadas e sem risco de serem usadas, mais elas estarão prontas
para saírem para o ar, seja qual for a situação vivida. Temos também o
hábito de falarmos muito mais acerca de nossos “pontos de vista” do que
acerca de fatos objetivos. Em lugar de descrever alguns lances do jogo
assistido, o narrador fala:
- O jogo foi ótimo, mas, na verdade, na minha opinião acho que Maria-
no devia ter entrado mais cedo. Esse técnico não presta. Entendeu? Se
tivesse entrado…
Mas nem sempre é assim. Os conselhos são dados também para situa-
ções de extrema importância para a vida de quem os recebe e, depen-
dendo dos interlocutores, é seguido e pode ser fatal. A separação decidi-
da com facilidade numa mesa de bar, sob o efeito liberalizante do álcool,
pode ser catastrófica para a vida de quem se separou e sem nenhum
prejuízo para o conselheiro. Às vezes, até com algum lucro.
É claro que quem reclama teve alguma participação no fato que o leva a
reclamar. Ninguém é somente vítima. Frequentemente, ao procurar um
conselho, quem reclama busca ouvir o que queria. Um aspecto impor-
tante é o de que, quase sempre, o queixoso procura vários conselheiros
e adota, automaticamente, a orientação mais parecida – ou igualzinha
– à sua própria. Eles, nós todos, procuramos um apoio às nossas ideias
e crenças, desse modo, os conselheiros foram, na verdade, seleciona-
dos entre os mais semelhantes ao cliente amador. Assim, o esposo ou a
mocinha desencantada com o companheiro tende a buscar a ajuda da
mãe ou do melhor amigo, reclamando: “É um absurdo o que ele me fez”,
“Ela não podia ter me tratado daquela maneira”, “Ele devia ter-me dito”.
Os terapeutas, quase sem exceção, irão escutar e comentar o ocorrido,
defendendo o queixoso, dando-lhe razão, tudo isso sem examinar o con-
texto e os antecedentes do fato. O consulente sai da “consulta” confiante.
As frases indicam uma crença falsa acerca do poder de nossos desejos
sobre a conduta das pessoa. Isso não existe. A pessoa deseja que o outro
aja de modo diferente, mude, sem seus esforços.
Por azar, nem sempre aquilo que deseja a pessoa que busca o conselho, é
o melhor para si.
Por último e isso pode ser grave: quem faz as confidências fica compro-
metido com quem as ouve. Se o cônjuge pretende separar-se da mulher
e fala muito mal dela, fica difícil depois explicar ao conselheiro a recon-
ciliação ocorrida mais tarde, como também fazer um comentário favo-
rável à mulher, em presença de quem escutou os impropérios dirigidos
a ela. Por tudo isso, cuidado com os terapeutas de botequim, com os
amadores.
“Sou advogado, gosto muito daquela moça, mas ela não é do meu nível,
pois é balconista”. Sou branco, estudante de medicina, não fica bem para
mim ir à festa com Pedro, que é negro, servente de pedreiro, apesar de
ele ser o melhor do nosso time de futebol”. “Sou professor da Faculdade
de Medicina, não posso frequentar tais lugares e andar com essa genti-
nha sem classe, que nem se vestir sabe”. “Eles são gente simples como
nós”, “Só frequento restaurantes de alto nível, não tolero falta de classe”.
Claro que ele não será famoso como foi John Smith, por exemplo, Mas
ficará famoso por ter morrido como soldado do regimento importante,
de um país importante. Ele imagina ser um dia famoso e forte como é
seu guia idolatrado, fantasia dias melhores, paz e felicidade. Começa a
sonhar com seu retorno triunfal, seu nome na imprensa, garotas belas e
carinhosas ao seu redor, numa praia ensolarada, como sempre viu nos
filmes sobre os heróis de guerras anteriores.
Cícero não se emenda, pois, por mais que ele transgrida as leis da na-
tureza e da sociedade, ele não modifica seu modo de pensar e agir, isto
é, não aprende com a experiência vivida. Ele é, como disse, um sujeito
contraditório, em certas ocasiões Cícero só cuida de si. Nessas ocasiões,
ao ser importunado, agride, xinga ou, no mínimo, não ajuda ninguém.
Outras vezes, porém, gasta seu tempo, que é curto, ajudando, ouvindo
lamentações aborrecidas dos outros, até mesmo de pessoas que mal co-
nhece ou que sabe que não gostam dele. Durante essa fase, ele empresta
dinheiro, procura emprego e aconselha pacientemente os pedintes.
Eu, que já conheço essas reações, o perdoo. Mas é comum ele brigar até
comigo, grande amigo seu, quando se torna irracional. Depois, mais tar-
de, arrependido, ele retorna com a sua outra mente e eu o aceito como
sempre.
Levanta-se sempre à mesma hora, vai para o serviço, pelo mesmo cami-
nho, nunca falta a este, chega no mesmo horário, deixa o carro no mes-
mo lugar. Repete no trabalho, maquinal e automaticamente, as mesmas
atividades, os mesmos gestos, sorrisos, expressões e conversas, usando
frases apropriadas para cada pessoa. Nada é criado, nada é diferente.
Parece haver dentro dele um medo à espontaneidade, um pavor em ser
diferente, um culto à mesmice. Seu “computador mental” é dominado
no serviço, no lazer, em tudo, uma programação repetitiva e monótona.
Mas, já disse que o Cícero espanta-me.
A maioria imagina que o controle vem apenas de fora. Esses supõem que
os amigos e parentes, ou mesmo os políticos, deviam ajudá-los a conse-
guir o que eles não alcançaram e, muitas vezes, nem tentaram.
Sabe-se que algumas mudanças podem ser realizadas e várias delas de-
pendem de nossa ação. Entretanto, nem sempre temos energia e vontade
para lutarmos por essas alterações, assim, posso pretender ser médico,
mas não quero gastar meu tempo estudando.
É isso: todo mundo sabe, e provavelmente tem certeza, que sua crença,
religião, seja lá o que for, é a única certa, a que está mais apoiada em
dados e mais, já teve o seu modelo colocado para estudos em um com-
putador não menos maluco.
Isso faz lembrar o grande movimento hippie dos anos 60. Cabelos
grandes, jeans, tênis e alguma sujeira era o máximo de contestação ao
“sistema”. A recusa em usar outros tipos de roupas, acreditavam eles, era
uma maneira de protestar contra o desvairado consumo da época. Pois
bem, os hippies mais espertos se aliaram a não menos espertos industri-
ais e hoje temos a moda “jovem” vendendo e muito: ela envolve milhões
de dólares. Figurinistas, cabeleireiros, perfumistas e outros profission-
ais não tardaram a entrar no negócio e todos viveram felizes até surgir
uma nova moda, a unissex, que fatura de outra maneira. Dizem até que
a moda unissex foi criada pela conjunção de heterossexuais não muito
convictos e homossexuais ainda não-assumidos.
A lista não termina aqui. Cada um desses modelos teve sua época com o
nascimento, crescimento e esplendor, seus seguidores fervorosos, entre
médicos, psicólogos e também entre os clientes e o público. Há pouco
tempo surgiram mais duas novas verdades, como sempre aceitas como
panaceias pelos seus adeptos: a neurolinguística e a psiquiatria biológica.
Daqui a dez ou talvez vinte anos, no máximo, possivelmente acharemos
graça em algumas de suas afirmações. É só esperar o tempo passar.
Morre hoje “sem foguetes e sem bilhetes”, não deixa sementes capazes de
produzir nada útil para o crescimento da psicologia. As hipóteses ou te-
orias equivocadas dos sábios só desaparecerão com a morte dos autores
delas e, principalmente, de seus fiéis seguidores.
Uma por uma, essas “verdades” vêm sendo discutidas, não substituídas
por “novas verdades” dogmáticas, mas analisadas, através da dúvida
constante e equilibrada. O novo caminho traçado é o abandono definiti-
vo de crenças eternas, baseadas na autoridade iluminada, no seu prestí-
gio, na sua sabedoria acima de qualquer suspeita.
Isso ocorreu não por má-fé dos seus clínicos, mas sim em virtude de
que os procedimentos físicos e medicamentos usados em grande parte
dos casos não possuíam qualquer efeito farmacológico esperado sobre a
condição que era tratada. Posso afirmar, sem muito medo de errar, que
a grande maioria dos médicos do passado ajudaram os clientes muito
mais através de técnicas psicológicas intuitivas, do que em virtude dos
chás, poções, ervas, sangrias, incisões, xaropes, catárticos, sacrifícios em
animais e em seres humanos, fumigações, enemas, vomitórios, penitên
cias e outras técnicas largamente utilizadas no passado.
Todos esses grupos, junto aos médicos, exercem a ajuda aos doentes, ne-
cessitados e carentes, cada um acreditando mais e mais em suas próprias
técnicas e pouco ou nada nas dos adversários.
Nesse ponto desejo lhes contar uma experiência pessoal e que era aqui
guardada sigilosamente. Há anos passava férias em Santa Maria de Itabi-
ra, com duas filhas, uma delas com 16 anos naquela época e que sofrera
um corte, em uma das mãos, produzido por um caco de vidro de uma
garrafa quebrada acidentalmente. Já havia meses que o fato ocorrera e
ela se queixava de que a dor na mão não passava e que além disso tinha
dificuldades para executar movimentos normais. A outra, com 8 anos,
apresentava uma inflamação palpebral, rebelde a tratamentos normais,
aos quais já havíamos recorrido.
Pois bem, ficamos mais uma semana em Santa Maria. Após cinco dias,
no máximo, as duas estavam curadas e não tiveram recidivas. É evidente
que a ocorrência me fez pensar. Lembrei-me de Hipócrates: “as nossas
naturezas são os médicos de nossas doenças”.
Você, prezado leitor, que acredita na cura pela fé, perdoe-me por racio-
cinar da maneira acima descrita, diante de tanta evidência. Ao andar
buscando construir meu caminho, talvez tenha traçado um caminho
diverso do seu, mas nunca antagônico, talvez com mais semelhança do
que se possa imaginar.
— Branco é uma cor, como por exemplo, a neve, que é branca, disse-lhe
o homem.
— Não! Não! Ela não tem que ser úmida e fria. Ela é semelhante à pele
do rato albino.
Nada mais errado. Talvez seja mais fácil um juiz alemão entender um
juiz brasileiro, mesmo que ele nunca tenha falado nossa língua, desde
que tenha à mão um bom dicionário, do que um brasileiro comum en-
tender a linguagem dos magistrados. O exemplo pode ser estendido para
todas as áreas do conhecimento humano. O vocabulário de qualquer
área é especializado. Os fatos e acontecimentos são codificados dentro
de cada área e organizados de uma certa maneira, onde cada signo tem
uma enorme riqueza de informações, conforme o estudo e observações
dos peritos da área. Os mesmos sons, ou códigos, nada significam para
os não-versados.
Como será que ela comunicou-se com eles? Como o cego? Será que a
Santa aprendeu português e conseguiu captar nossas experiências cultu-
Holland acredita que 20% dos enfermos hospitalizados com câncer apre-
sentam distúrbios emocionais significativos, exigindo maiores cuidados.
Uma seleção precoce dos que provavelmente não vão cooperar com o
tratamento é muito importante, já que esses podem ser identificados
rapidamente por terem tido dificuldades anteriores ao lidar com crises
em suas vidas.
O câncer muitas vezes é visto pelo paciente como parte do seu destino,
como um azar em sua vida ou até mesmo como castigo. Todas as outras
pessoas, as que não têm câncer, passam a ser profundamente invejadas,
inclusive o próprio médico e as que dele cuidam. O aparecimento do
câncer exigirá uma readaptação ao novo tipo de vida muito semelhante
ao que ocorre quando perdermos um ente querido e temos que viver
sem ele com uma nova forma de vida.
- Economizo a toalha.
- Após imaginar-me sujo, achei que meu corpo sujaria tudo o que tocas-
se. Assim parei de ir à missa e fugi de todos os frequentadores da igreja.
Uma tia, para sair de casa, obriga-se a realizar um ritual esquisito: veste
roupas diferentes por quatro vezes, calça e tira três vezes os sapatos
velhos, coloca duas vezes os brincos e, por fim, lava as mãos. Só assim
ela sente-se aliviada. Minha mãe não dorme sem antes verificar se o
gás está desligado ou se a porta está trancada. Antes de se deitar faz um
teste para verificar se realmente ela está trancada, mas logo que se deita,
imagina que, sem querer, pode ter destrancado a porta ao examiná-la.
Assim a inspeção continua noite adentro, parece-me que não dorme.
A noite estava longe, os carros não mais faziam barulho, um vento frio
de maio exigia mais agasalhos. Milton continuava excitado pelo efeito
do vinho e das recordações que saíam agora mais fáceis. Suas repre-
sentações mentais, presas no porão, fabricadas com esmero, desfilavam
livremente.
O dia amanhecia, era mais um domingo triste para o meu amigo. Pensei
na hóstia, na poeira, no sofrimento criado pelas figuras distorcidas. Des-
pediu-se com um sorriso cansado e envergonhado. Estendeu com asco
sua mão em direção à minha. Desceu as escadas, batendo as pontas dos
dedos nos canos que cercam o corrimão da escada. Deitei-me, pensan-
do: “Será que fechei a porta da geladeira?”. Levantei-me para verificar.
Todos nós já convivemos com a nossa depressão, seja por horas, dias,
meses ou anos. A maior parte de nós tanto entramos, como saímos da
depressão, com relativa facilidade, utilizando os nossos recursos pró-
prios, quase sempre de maneira automática. Assim, vamos supor uma
moça que perde o namorado e, compreensivelmente, fica deprimida. Ela
poderia arranjar um outro namorado e esquecer o anterior, ou buscar
outras atividades para substituir a ausência dele. Poderá criticar o ex-
-namorado, taxando-o de estúpido e ignorante, e com isso sentir até um
certo alívio pelo rompimento, ou usar várias outras técnicas disponíveis
para cada um de nós. Rapidamente a nossa amiga estará bem e suas
emoções normalizadas.
Vamos supor, agora, em outro extremo, uma pessoa que não utilizou
seus recursos para combater a depressão. Nesse caso, a nossa amiga, ao
perder o namorado, vai, pouco a pouco ou rapidamente, caminhando
Para o deprimido, o mundo é mau, e ele, não tendo meios para enfrentá-
-lo, acha-se sem saída. Com essa convicção, surgem frequentemente as
ideias ou a ação de suicidar-se. A obsessão é escapar do sofrimento, ain-
da que seja necessário sacrificar a própria vida. Podem surgir na mente
do deprimido fantasias que o levam a querer exterminar toda a família,
para livrá-la do mundo de desgraças em que vive. Também não é inco-
mum o suicídio indireto, causado pela provocação da própria morte por
outra pessoa ou por um acidente fatal. Nessa fase é ainda frequente o
uso exagerado de bebidas ou calmantes que têm a mesma função, isto é,
tornar as próprias desgraças e as de seu mundo mais toleráveis.
Uma vez mergulhado na depressão, o paciente não crê que possa esca-
par dela. Entretanto, ao receber tratamento adequado, suas chances de
recuperação são grandes. Alguns poucos casos evoluem para a depres-
são crônica, apesar dos tratamentos. Para alguns, o ataque de pânico, o
alcoolismo, a dependência às drogas, as dores crônicas e outras formas
de conduta desadaptada dos jovens seriam equivalentes de uma crise
depressiva. Para terminar, a depressão é a doença mais frequente no
consultório psiquiátrico: atinge cerca de 50% dos pacientes que nos pro-
curam. A maioria dos que dela padece, não vai ao médico.
Cada ciclo completo de sono NREM, somado ao REM, tem uma dura-
ção aproximada de 90 minutos cada. Durante uma noite inteira de sono,
ocorrem 4 e 5 ciclos, de cerca de 90 minutos cada. Nos ciclos posterio-
res, no fim da noite, quase não se observa mais a fase delta.
Uns preferem a cama dura, outros, a macia. Não se dorme bem nas
temperaturas muito baixas ou muito altas. Dorme-se mal acima de 24
graus, nessa temperatura a pessoa acorda e movimenta-se mais vezes à
noite e há um decréscimo do sono REM e do delta. Tudo indica que o
sono melhora, se a pessoa alimentar-se com uma refeição leve à noite.
Se você fuma muito, isto é, dois maços, ou mais, de cigarros por dia, tal-
vez o vício da nicotina o esteja mantendo acordado à noite. Os pesquisa-
dores descobriram que alguns fumantes, após dormirem cerca de quatro
horas, passam por uma necessidade de nicotina tão forte que acordam
ansiosos por um cigarro.
Se você não estiver com fome, pode tentar outro recurso: basta procurar
no seu armarinho de remédios: a aspirina e a dipirona devem estar lá.
Alguns insones descobriram que elas têm o efeito de um suave compri-
mido para dormir. Não force seu sono, a raiva é um poderoso desper-
tador interno. Para dormir, é necessário não pensar em dormir. Para
terminar, Bom Sono e Bons Sonhos.
Uma pesquisa feita nos USA mostrou fatos interessantes e úteis para
os que estão desejosos de se casarem ou de morarem juntos. Inde
pendente do sexo dos entrevistados, através das escalas, foi mostrado
que a qualidade do casamento estava influenciada negativamente pelo
neuroticismo dos cônjuges. Resumidamente, as pessoas apresentando o
traço “Neuroticismo”, também chamado de “Emoção Negativa”, que será
descrito a seguir, tinham mais dificuldades no casamento.
Parentes destes pacientes se sentem perplexos por não entender por que
o “Joãozinho gosta de uma briga”, ou o “Joaquim chega quase todo dia
todo machucado”. Geralmente este tipo de problema não leva ninguém
ao médico. T.J., carpinteiro de 29 anos, solteiro, após receber alta de um
hospital, onde quase morreu após tentativa de suicídio, contou-me que
no dia em que resolveu morrer procurou em seu bairro, na periferia da
cidade, uma pessoa reconhecidamente agressiva, brigona e que usual-
mente andava armada. Fez tudo para brigar com esse cavalheiro. “Como
não consegui”, relatou ele, “fui para casa e tomei uma mão cheia de com-
primidos para morrer”.
Para exemplificar, uma mulher fraca é surrada por seu marido cor-
pulento e agressivo. O que esta mulher andou fazendo para permitir,
precipitar ou desencadear a agressão deste brutamontes? Nada? Pode
ocorrer, mas é pouco provável. Esta mulher deve ter participado, num
grau maior ou menor, na agressividade sofrida. Não a defenda antes de
seguir o raciocínio abaixo. Em primeiro lugar ela geralmente é também
ativa, pois casou-se com ele – ou passou a namorá-lo – quando esse,
provavelmente, já demonstrara esta conduta em outras ocasiões. Desde
o início não se defendeu adequadamente de agressões passadas e, prova-
velmente, se julga inferior ao homem por não ter músculos fortes. Além
disso, deve-o ter criticado por palavras e gestos perigosos para aquele
agressor em potencial. Necessita queixar-se aos filhos ou aos amigos de
“que é uma vítima”, ou de outro modo, precisa sofrer, para acusar seu
marido. Sua vida, naturalmente, está ruim, sem motivações e prazeres,
portanto, qualquer situação excitante – apanhar – é menos ruim do que
nada. Várias outras “razões” poderiam ser pensadas para compreender
as agressões àquela pessoa em particular, não para justificá-las.
Esse encontro bate e fere minha face jovem. Tento mostrar uma fortale-
za que não possuo. Assentada no meu trono, sou a soberana e represento
a farsa da assistência médica ao indigente, papel que forçaram-me a
interpretar com uma sabedoria e um poder fingido. Contenho-me para
não gritar por socorro, dizer-lhes que também preciso de “médicos”
para ajudar-me a suportar as incertezas, as perdas, a juventude que se
vai, a responsabilidade que caiu pesada demais sobre mim e, pior ainda,
possuir a consciência de tudo isso.
Além disso, Marta é um sistema aberto que troca, isto é, recebe e for-
nece energia com sistemas vizinhos como a sua família, seus amigos e
seu meio social. Além disso, cada subsistema do organismo de Marta, o
respiratório, cardíaco, mental, nervoso, etc., está em constante interação,
através de trocas que causam alterações diversas, dentro de um estado
dinâmico de equilíbrio.
Marta não vive sozinha, ela tem família, colegas, vizinhos e mora em
uma cidade. Marta, como sistema aberto que é, não só tem todas as
partes do seu organismo interligadas e interrelacionadas, mas também
todas elas funcionam em harmonia com sua estrutura, de acordo com
seus objetivos. Ela interage igualmente com os sistemas vizinhos, tais
como o sistema-familiar, o sistema-colégio e outros mais à sua volta,
recebendo e enviando agentes de mudanças ou, em outras palavras, tro-
Além disso, seu ponto de apoio, que era a família, teve seu contato
diminuído e muito, para que o sistema hospitalar pudesse funcionar a
contento, em detrimento do primeiro, ou seja, da família. Diante desses
problemas a mais, Marta piorou. À medida que ia se desequilibrando,
o sistema-Marta equilibrava o sistema-hospitalar, pois este último só
existe em função do paciente.
A poeira ainda não baixou nos Estados Unidos, mas começou a levan-
tar-se aqui no Brasil. Durante muitos anos a psicoterapia de base analí-
tica dominou os departamentos das escolas médicas, de psicologia, de
sociologia e de antropologia e também uma grande parte das revistas
sobre o comportamento humano. A psicanálise sutilmente penetrou e
dominou a imprensa leiga, assim como as artes e a literatura, determi-
nando a formação de uma opinião pública altamente favorável a ela. Nos
departamentos das universidades, onde a psicanálise dominava, os que
ousaram duvidar de suas suposições, ou eram afastados de suas funções,
quando as tinham, ou nunca alcançavam cargos de direção. A psicaná-
lise tornou-se, para muitos dos seus antigos seguidores, algo semelhan-
te a uma religião. As suas premissas não podiam ser contestadas, mas
tão-somente discutidas, para serem compreendidas pelos iniciados nas
“verdades” reveladas e não observadas.
Tem sido verificado que os placebos tendem a ser mais eficazes, se cus-
tam mais caro, se muitos amigos e conhecidos já o usaram com “suces-
so”, se são amargos ou se, em algum sentido, apresentam dificuldade de
serem usados. As injeções inertes têm mais efeito do que os comprimi-
dos sem ação.
A uma hora dessa, Jésus, provavelmente no céu, deve estar feliz e orgu-
lhoso por ter servido e interessado aos ocupadosjovens ricos e brinca-
lhões. Eles examinaram e pegaram, por diversas vezes, as várias partes
das peças anatômicas que um dia formaram o corpo vivo de Jésus. Ele,
apesar de ter tido uma vida inútil, agora, depois de morto, despertou a
curiosidade e interesse de pessoas caridosas. Ao se transformar de ho-
mem em órgãos, Jésus ensinou algo de importante ao mundo, através de
seu corpo mudo, nu e sem cabeça.
Oro para que o Natal se torne diferente: menos compras, mais reflexão.
Também imagino mudá-lo para um outro dia: 14 de dezembro ou 9 de
novembro. Um dia comum, sem significado para maioria das pessoas,
sem recordações dolorosas, nem lembranças alegres, que jamais se repe-
tirão.
Preciso atravessar mais esse Natal. Não tenho saída. Lá longe, muito
longe, quando tudo em volta era majestoso para meus olhos amedron-
tados, assimilei algumas ideias e valores. Ensinaram-me a adotar os
ensinamentos e a participar dos rituais religiosos que comemoram o
nascimento de Cristo. O menino de Itabira acreditou, sonolento, no
propagado: igualdade entre as pessoas, justiça social e liberdade para
escolher. A criança perdida continua acorrentada nesses ensinamentos,
talvez antiquados. Ele ainda acredita em tudo que Cristo pregou há dois
milênios. O menino não acordou, nem sei se um dia acordará.
“Senhor todo poderoso, Jesus, filho de Deus, nesse dia em que come-
moramos Seu nascimento, ajude-me. Permita-me pensar como meus
irmãos. Amarre-me para sempre junto ao rebanho ordeiro. Só assim
poderei viver em paz com todos. Liberte-me da loucura de criticar os
sadios, os tranquilos e felizes. Almejo transformar-me numa cópia, sem
retoques, dos que me rodeiam. Senhor, auxilie-me. Sonho em poder
enxergar o céu azul e não cinzento, achar o Natal feliz e não um dia de
sofrimentos. Já procurei ajuda terrena: psiquiatra, pai de santo, padre e
pastor. Nenhum me compreendeu! Todos pensam da mesma forma! O
que me fez ficar assim?”
Finalizo o desabafo, sabendo que ele foi tecido num dia inadequado.
Essa é a minha sina: expresso o que penso na hora errada, o manifestado
é impróprio para os ouvintes e para o tema. Peço desculpas por carregar
esse vício maligno. Assim fui construído. Mas, para escapar de ser inter-
nado num hospício, no alegre e festivo dia de Natal, fazendo um esforço
sobrenatural, desejo a vocês, leitores amigos, bondosos e tolerantes: Feliz
Natal e Próspero Ano Novo.
Uma outra cliente contou-me que é um período difícil, já que nas férias
ela fica em contato permanente com o seu marido e como os dois não
têm muitos assuntos para manter “o bate-papo” o dia inteiro, terminam
por se sentir tensos. Tal fato não ocorre nos períodos de trabalho, pois
neste os encontros entre os cônjuges são menos frequentes e a conversa
do dia-a-dia flui normalmente, como os relatos acerca das notas dos fi-
lhos ou da nova empregada contratada. Alguns casais já resolveram esse
problema. O marido fica trabalhando e visita a família em férias nos fins
de semana. Assim, tudo corre bem…
Mas Arnaldo continua otimista, está satisfeito e já fala, não tão entusias-
mado como em novembro, nas próximas férias que passará em Nova
Almeida. Para ele, o apogeu da satisfação ocorre quando, ao voltar ao
- Arnaldo, que cor linda! Você está queimadinho, onde você andou?
Retomo meu pensamento acerca das pessoas que não tiram férias, nem
sentem necessidade de tirá-las. Perguntei a uma pessoa que nunca tirou
férias, o que ela pensava delas e há quanto tempo não as tirava. A res-
posta foi rápida:
- Nunca! E não tenho vontade de ir nem ao Rio, nem a São Paulo e nem
mesmo aos Estados Unidos.
Exclamamos que buscamos a verdade. Não sei! Sei que no carnaval cul-
tivamos e realizamos a falsidade. A natureza humana real é abandonada,
deixamos de lado o modo real de se fazer sexo, deixamos de produzir,
para nos consumirmos, passivamente, numa ficção. Os mitos e rituais
do carnaval, como os ingredientes citados, são inumeráveis, oferecidos
à nossa vontade e a granel, nas ruas e nos diversos meios de divulgação:
músicas barulhentas que nos impedem de pensar, danças comunitá-
rias estafantes, bebidas, lançaperfume, bailes gay, onde alguns homens
transformam-se, na superfície, em belas mulheres, fantasias de todos os
tipos. Todos e tudo têm a mesma função: viver o falso, vestir a fantasia
para encobrir a dura nudez real e, principalmente, alimentar os consu-
mistas necessitados.
Não sei explicar precisamente por que isso ocorre. Acredito que essa
rigidez de resposta, essa falta de jogo de cintura tem origem cultural:
foi aprendida como um valor a ser seguido. Costumo sugerir aos meus
clientes revidarem à agressão com respostas diferentes das usuais e pre-
sumidas, recorrendo a “lances” inesperados, como sorrir para o agressor,
olhá-lo sem nada dizer. Percebo, então, da parte deles, uma reação de
quase indignação, pois, ao agir deste modo, de acordo com seus valores,
estariam fazendo um papel de idiotas. A regra seguida é: “se sou agredi-
do, devo ou preciso reagir da mesma maneira”. Quase nunca passa pelas
Maria, que era virgem, conheceu João e nunca mais amou ninguém.
João, que começou sua vida sexual aos treze anos, amou e ama várias
Marias ao mesmo tempo. Maria, cheia de incertezas, pensou muito antes
de se casar. João, seguro e despreocupado, casou com Maria sem pes-
tanejar. Todos imaginaram que o casamento não duraria. Mas, após 23
anos de casados, eles continuam juntos e se completam na sua relação
assimétrica, pois Maria é dependente, tolerante e presa às suas convic-
ções. Ela conserva, custe o que custar, o casamento que João nunca levou
a sério.
Afirmamos que João e Maria são diferentes com respeito ao “ótimo nível
de excitação”. Todos os animais, incluindo o homem, têm um certo nível
de estimulação interna que os faz sentir bem, ou seja, “estar numa boa”.
Quando o indivíduo afasta-se desse nível ótimo, por estar sendo pouco
ou estar demasiadamente estimulado, ele sente-se mal e instintivamente
Ele não está trabalhando porque tirou férias de uma grande empresa,
onde é diretor-presidente. Terminadas as suas “férias”, ele está planejan-
do um vultoso negócio para a companhia e por isso foi dispensado de ir
trabalhar. Que pena! De repente, fizeram-lhe uma injustiça: ele foi demi-
tido. Mas não foi nada, pois ganhará uma grande indenização e antes de
largar o trabalho, já terá sido contratado para novo emprego, por sinal
muito melhor do que o anterior. Sem endereço nem telefone, sua família
é uma incógnita, até seu nome costuma ser falso.
Em sua mente nunca há culpa, ele nunca aprende com seus com
portamentos inapropriados, pois não sofre com isso. Não é leal a nin
guém, nem com nenhum grupo ou ideias. Não consegue julgar adequa
damente nenhum de seus atos, nem os dos outros, pois não é atingido
pelo sofrimento alheio. Explica, com sua lógica deturpada, toda e qual
quer conduta sua, mesmo a mais imoral. Agressivo e impulsivo, não
tolera ser frustrado. É um indivíduo geralmente incapaz de seguir qual
quer objetivo a longo prazo, bom ou mau, isso não importa.
Ele não é um “louco” no sentido literal da palavra, mas é capaz de, após
matar os pais para conseguir dinheiro para suas farras, pedir ao júri
clemência por ser órfão. Após conseguir donativos para um asilo inexis-
tente, afirmar que sua atitude ajudou àqueles que deram esmolas, pois os
doadores ficaram aliviados e felizes por estarem ajudando os velhinhos
pobres.
Não sei; duvido que alguém saiba, as razões de preferências tão diversas,
das diferentes posições e atitudes da sociedade a favor de uma e contra
outras.
Abuso de drogas:
“Uso habitual de agentes químicos apesar das consequências danosas,
que dependem das propriedades farmacológicas e toxicológicas das dro-
gas, da personalidade do usuário, das necessidades nas quais ele vive, e
do grau no qual ele negligencia sua saúde individual e bem-estar através
da diferença e perda econômica”.
Existe abuso da droga quando seu uso ultrapassa os 30 dias e existe tole-
rância quando se necessita de mais droga para obter-se os efeitos deseja-
dos: daí o aumento das dosagens e a instalação dos quadros tóxicos. Por
último, ocorre a síndrome de abstinência quando ao reduzir-se a droga
ou quando ocorre a sua interrupção, seguem-se distúrbios fisiológicos e
psicológicos, geralmente transitórios.
“Sonhei com esse alguém noites e noites sem cessar/ Encontrei esse
alguém como tanto eu queria”.
Essa descrição singela do amor fácil não mostra que, uma vez en
contrado o rapaz ou a moça idealizada, a pessoa está apenas iniciando
um caminho difícil e penoso, onde diversas adaptações e readaptações
serão necessárias para se ter um êxito próximo do esperado, nos raros
casos onde este ocorre. Afirma-se nas canções o contrário: escolhido e
encontrado o ideal, todos os problemas estarão resolvidos:
“Eu sei que vou-te amar/por toda a minha vida eu vou-te amar”.
“Não falem dessa mulher perto de mim/Não falem pra não lembrar
minha dor”.
“Eu sei que vou sofrer/A eterna desventura de viver/ À espera de viver
ao lado teu/Por toda a minha vida”.
Mas seu esforço foi em vão, “tudo foi um sonho”, apenas um desejo, a
amada ficou mesmo nos braços do outro, que era um “tipo qualquer”. A
partir daí, condoído de si, o amante enterra-se na autopiedade, na auto-
depreciação e esforça-se para esquecer a amada ingrata:
“A vida para mim não vale nada/Desde o dia em que a malvada/O co-