You are on page 1of 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – UFSM

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS – CCSH


MESTRADO EM COMUNICAÇÃO MIDIÁTICA
LINHA DE PESQUISA: MÍDIA E IDENTIDADES

Resenha

MARTINO, Luiz C. O campo da comunicação e suas teorias. In.: KÜNSCH, Dimas A. (org);
BARROS, Laan Mendes de. Comunicação: saber, arte ou ciência? São Paulo: Plêiade,
2008. 199p.

SOLANGE PREDIGER

Disciplina: Metodologia de Pesquisa em Comunicação


Professoras: Eugenia Barichello / Maria Ivete Trevisan Fossá

Santa Maria-RS, 14 de setembro de 2010.


Desenvolveu-se, a partir do texto de Luiz Martino, intitulado “O campo da
comunicação e suas teorias”, inserido no livro “Comunicação: saber, arte ou ciência?”, Dimas
Künsch e Laan Mendes de Barros, uma resenha para apontar os aspectos importantes do
mesmo, a fim de que o mesmo pudesse ser discutido em sala de aula, durante a disciplina de
“Metodologia de Pesquisa em Comunicação” do Mestrado em Comunicação Midiática da
Universidade Federal de Santa Maria.
O autor busca, através deste artigo, mudar um pouco a visão que se tem do termo
epistemologia, o qual não mereceu grandes atenções em nosso campo de estudos. Segundo
Martino, “a epistemologia pensa o pensamento” (2008, p. 14). O termo possui duas
concepções: a primeira, típica do mundo anglo-saxônico, trata a epistemologia como o estudo
de qualquer tipo de conhecimento. A segunda, típica do mundo latino, vê a mesma como o
pensamento que pensa o conhecimento científico. Nesse sentido, falar de uma epistemologia
da comunicação, seria pensar a comunicação como ciência. Mas nem todos situam a
comunicação na área da ciência.
Martino não se pergunta se “a comunicação é uma ciência”, mas se poderíamos pensar
ou estudar a comunicação pelo viés da ciência. Logo responde que para pensar uma teoria da
comunicação, deve-se sim situá-la neste plano, já que o termo “teoria” só se aplica à ciência.
O autor fala em teorias da comunicação pois, para a epistemologia da comunicação em seu
sentido latino, o campo da comunicação é um campo de teorias. Assim, Martino se pergunta
como, nesse campo, as teorias interagem e influenciam umas às outras, ou seja, como formam
um certo sistema.
Acerca do sistema ou campo, o autor diz que este conceito ganha força com o
pensamento de Galileu, quando se começa a pensar as coisas não mais em termos de
substâncias, como pensava Aristóteles, mas em termos de relações, onde a soma das partes,
por si só, não explica o todo. O que explica seriam as relações existentes entre essas partes.
Isso aumenta o grau de reflexão que se deve ter quando se estuda os limites e significados do
nosso campo de estudo.
Nesse sentido, Martino afirma que uma teoria só pode crescer quando forma um
sistema com outras teorias, já que ela não é algo isolado e só tem sentido quando forma esse
sistema, essa relação de diálogo, sendo isso chamado de disciplina. Isso é importante na
medida em que entendemos que um campo de conhecimento é, antes, um campo de teorias,
que possui um centro de articulação através do qual as teorias dialogam entre si, reduzindo as
diferenças radicais que existem entre uma teoria e outra. Assim, qualquer alteração de uma
teoria repercute nas demais.
O autor afirma que a noção de campo, em comunicação, é pensada muitas vezes pelo
olhar de um sociólogo, por exemplo, Pierre Bourdieu, o qual entende a comunicação não
como um campo de teorias que se relacionam, mas como sendo formada por extratos da
realidade, que, juntos, formam o pensamento comunicacional. No Brasil, os professores
Clóvis Barros e Immacolata Vassalo de Lopes consideram o campo de comunicação como
sendo formado por instituições e seus atores. Mas para Martino e para quem faz
epistemologia, o campo comunicacional, em seu sentido latino, é um campo de relação de
teorias.
Ao avançar em suas análises, Martino traz a evolução do termo comunicação. Afirma
que na Antiguidade, o termo nasceu nos mosteiros da Idade Média para significar o momento
em que se estabelecia uma conversa entre companheiros durante a janta. O que é estranho,
pois quando conversavam entre si, os monges saiam da banalidade, já que só conversavam
com Deus. Mas o termo vem daí. Já na Renascença, comunicação é entendida como meios de
transporte e comércio e no século XIX, comunicação é meio de comunicação. Nessa época
aparece a comunicação moderna e a necessidade de pensá-la. A primeira forma de pensá-la
foi como informação produzida para ser vendida e, depois, como informação mediatizada, ou
seja, atravessada pela técnica.
Já na virada do século XIX para o XX, começa a se pensar a comunicação e sua
relação com a ciência, já que esta emerge também nesta época, anunciando uma nova forma
de a humanidade se organizar. Por volta de 1940 até 1960, finalmente, a comunicação
assume um status de ciência, mas este período científico é marcado pela presença de teorias
emprestadas de outras ciências. A partir do final de 1960 é que são produzidos os primeiros
livros de teorias da comunicação. Mas estes ainda não tratam da teoria a partir de um saber
comunicacional. Em 1970 surge o período cético, quando se diz que não há ciência da
comunicação, pois não há teorias. O que existem são conhecimentos importadas.
Em 1980, já existem escolas e instituições para os estudos de comunicação, mas,
segundo Martino, ainda não temos teorias da comunicação. Assim, continuava o ceticismo, ou
seja, acreditar que não existia uma ciência da comunicação. O que havia era um campo da
comunicação, mas com vários empréstimos, chamada por Martino de fase interdisciplinar.
Mas, em 1990, a idéia de interdisciplinaridade ganha sentido de oposição à ciência.
Diz-se que a comunicação parece que nunca foi ciência e que deixou de ser ciência muito
rapidamente. Nesse período, pensava-se que a comunicação poderia abarcar todo o campo de
conhecimento das ciências humanas, ou seja, seria uma visão ampla de comunicação que
abrangeria todas as teorias. Isso não é exatamente uma oposição à ciência, como se disse
anteriormente, mas uma negação da ciência, como se ela não existisse mais. Para Martino,
este pensamento interdisciplinar é uma pseudo-crítica que está longe de poder se constituir
como alternativa ao conhecimento científico.
Em um estudo que vêm realizando, Martino se questiona sobre o que são as teorias da
comunicação e quais são elas. A conclusão a que chega, com os dados recolhidos até o
momento é que ninguém concorda sobre quais são as teorias da comunicação, sendo que
temos em mente conjuntos e idéias muito diferentes ao empregar esta expressão. Por isso que
quando abrimos um livro de teorias da comunicação, podem vir teorias dos mais amplos e
variados domínios. O problema, apresentado por Martino, é que nenhum dos autores dos
livros se perguntou o que seria uma teoria da comunicação. Eles apenas citam algumas teorias
como sendo teorias da comunicação, mas não explicam os critérios que enquadram estas
teorias como sendo da comunicação.
Em outros termos, Martino quer dizer que não há uma epistemologia da comunicação,
ou seja, não há pensamento que pense o conhecimento científico acerca da comunicação.
Fala-se que é uma teoria da comunicação, mas não se diz por que e como, ou que critérios
fazem com que uma teoria possa ser chamada de teoria da comunicação. O que há é a visão
cética, que diz que não há uma ciência da comunicação, e a visão interdisciplinar, que diz que
a comunicação não é e nem precisa ser ciência, já que seria muito mais do que ciência.
Nesse sentido, Martino faz uma analogia com uma piada acerca de um quebra-cabeça
e a utiliza como argumento para dizer que não há ainda um saber comunicacional. Para ele, as
teorias que muitos pensadores tentam juntar e dizer que formam um saber acerca da
comunicação, na verdade não se juntam, pois pertencem a outras tradições (sociologia,
psicologia) e nunca consideraram a possibilidade de se inscrevem dentro do saber
comunicacional. O que leva Martino a afirmar que há pouco sensatez na abordagem do
problema da epistemologia da comunicação e, por isso, diz que nós, da comunicação,
precisamos ultrapassar as metáforas.
Nesse sentido, Martino apóia o ensino da teoria da comunicação para a formação de
um profissional de comunicação. Mas isso é considerado um luxo, já que, atualmente, a
graduação se volta para o ensino dos problemas da atualidade, que não necessitariam de teoria
e, além disso, os próprios teóricos da comunicação não sabem bem o que oferecer em termos
de teorias da comunicação. Martino afirma que “a teoria é uma maneira de ver as coisas. O
que a teoria faz é reformular os problemas, transformar a nossa visão, mudar completamente a
abordagem do real. Essa, antes de mais nada, é a função da teoria” (2008, p. 29). Nesse
sentido, a teoria vem a ser importante para o profissional da comunicação já que este, assim
como a teoria, é quem possui a capacidade de mostrar o que os outros não estão vendo.
O autor afirma que o profissional da comunicação é um intelectual que trabalha com
idéias. Por isso, tem muito ganhar se entender o que é uma teoria. Segundo Martino, “ele não
é um teórico, mas tem muito a ganhar ao entender que é um pensador, que trabalha com
idéias, com interpretações. O que ele faz é algo próximo ao que faz o artista” (2008, p. 31).
Nesse sentido, é que a teoria da comunicação contribui no trabalho do profissional de
comunicação, ou seja, se queremos ter conhecimento ao final de um curso, precisamos
entender o que fundou estes conhecimentos, precisamos pensar acerca do conhecimento
científico que originou a comunicação, ou seja, pensar a epistemologia da comunicação.
Assim, não simplesmente fazemos, mas pensamos sobre o que fazemos.
Nesse sentido, Martino finaliza afirmando que a ciência e o campo profissional têm
muito a ganhar quando conectados.

Se o profissional encontra, na ciência, matéria para o seu pensamento e para


a sua auto-formação, o cientista, por sua vez, encontra na vida profissional o
objeto sobre o qual pensar, que são as práticas desses comunicadores, o
significado dessas práticas para a sociedade, a razão de ser desses
comunicadores para a sociedade (MARTINO, 2008, p. 31).

You might also like