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TREINAMENTO, QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE PESSOAL EM

ENSAIOS NÃO-DESTRUTIVOS.

Paulo César Francisco Henriques


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Eduardo José Staszczak


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Resumo: A qualificação de pessoal em Ensaios não Destrutivos é um processo que envolve várias fases e como tal, requer um
tempo natural para evolução deste processo.
Experiência profissional, escolaridade, aptidão física e treinamento são as fases deste processo, que necessitam ser vencidas.
O treinamento é uma importante fase deste processo, mas não esgota a necessidade da capacitação técnica requerida para a
execução do ensaio de maneira tecnicamente correta e confiável.
Uma análise sobre esta realidade, levando em conta o perfil dos participantes de programas de treinamento ao longo dos últimos
20 anos, permite avaliar as principais causas de insucesso nos Exames de Qualificação.

Palavras-chave: Treinamento, qualificação, e certificação, ensaios não-destrutivos.

1. Histórico

No início dos anos 70 os ensaios não-destrutivos (END) tinham pouca ou nenhuma importância na maioria dos
setores industriais no Brasil. O ensaio mais conhecido naquela época era o radiográfico.
No final da década de 70, a construção de plataformas marítimas impulsionou de forma forte os setores de
construção e montagem, caldeiraria e etc. Estas estruturas soldadas de geometria complexa e de grande porte
exigiram um controle da qualidade mais sofisticado, não só por seu ineditismo e grande responsabilidade, como
também exigências das companhias certificadoras.
Nesta época houve uma grande necessidade da utilização dos END’s e, por conseguinte uma grande procura por
profissionais tecnicamente capacitados a atuarem nesta área. Como praticamente não havia no Brasil esta mão-de-
obra especializada, a alternativa encontrada foi a contratação de técnicos estrangeiros notadamente do Mar do Norte,
como também dos Estados Unidos.
No caso específico das juntas tubulares das plataformas off shore, o ensaio por ultra-som era o mais indicado
devido à impossibilidade da utilização da técnica radiográfica, por causa da geometria variável deste tipo de junta.
Para resolver o problema de falta de técnicos nesta modalidade de ensaio, assim como nas demais, foi assinado
um convênio entre a PETROBRAS e a ABENDE com o objetivo de treinar técnicos de diversas empresas nacionais
para posterior qualificação profissional.
A PETROBRAS criou, em 1978, um setor especializado em qualificação e certificação de pessoal em ensaios
não destrutivos, localizado em São José dos Campos, São Paulo.
Para todas as obras da PETROBRAS em que fossem utilizados os END’s, a empresa prestadora deste tipo de
serviço, tinha que submeter seus técnicos a avaliação daquele setor, para obter a qualificação profissional para cada
modalidade. Somente após então, é que a empresa através seu técnico poderia prestar este serviço.
A necessidade desta qualificação fez com que aumentasse a procura pelos cursos de END’s no Brasil.
Outras empresas, a exemplo da PETROBRAS montaram sistemas cativos de qualificação. Embora estes
sistemas viessem a contribuir significativamente para com a qualidade deste tipo de serviço e também, com o
crescente interesse por cursos de END, esta diversidade de qualificações fechadas, traziam problemas para os
profissionais qualificados, que tinham seu campo de trabalho limitado a estas empresas.
No final dos anos 80 foi criado o Sistema Nacional de Qualificação e Certificação de Pessoal – SNQC, cujo um
dos principais objetivos é uniformizar a qualificação de profissionais em nível nacional.

02 a 06 de Junho de 2003 / June 2 to 6 2003


Rio de Janeiro - RJ - Brasil
2. Pré-requisitos para a qualificação

O documento DC-001 da Norma de Qualificação e Certificação de Pessoal em Ensaios Não Destrutivos


ABENDE NA-01, estabelece as seguintes etapas do processo de qualificação:

Escolaridade e experiência profissional


Treinamento
Aptidão Física
Credenciamento CNEN (para ensaio radiográfico)

Após a conclusão destas etapas o candidato estará apto a solicitar seus exames de qualificação junto ao Bureau
de Qualificação e Certificação.
É importante ressaltar que a falta de conhecimento destes pré-requisitos tem impossibilitado alguns candidatos
de prestarem seus exames.
Com o objetivo de esclarecer as principais dúvidas sobre cada uma das etapas listadas anteriormente, apresenta-
se de forma resumida um comentário de cada uma delas.

2.1. Escolaridade e Experiência Profissional

O candidato a exame de qualificação deve comprovar, mediante documentos legais, o atendimento aos requisitos
mínimos de escolaridade e experiência profissional.
Quanto maior for o grau de escolaridade, menor será a experiência profissional exigida. A título de exemplo, a
tabela a seguir apresenta três situações de escolaridade para três candidatos à qualificação de inspetor de ultra-som
nível 2.

ESCOLARIDADE EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL


(MESES)
Primeiro grau completo 30
Segundo grau completo 12

Terceiro grau (engenharia plena) 6

2.2. Treinamento

O candidato deve comprovar formalmente (através de certificado) ter obtido aproveitamento em curso de
treinamento supervisionado por um nível 3, com carga horária e conteúdo programático, conforme especificado na
Norma NA 01-Anexo III e apresentado no item seguinte deste trabalho.

2.3. Aptidão Física

O candidato deve comprovar que possui acuidade visual satisfatória, através de atestado médico, que cite
explicitamente o atendimento aos seguintes requisitos:
a) Acuidade visual natural ou corrigida, comprovada pela capacidade de ler as letras J-1 00 padrão JAEGER
para visão próxima a 400mm de distância.
b) Para o ensaio visual, deve ter acuidade visual para visão longínqua, natural ou corrigida, igual ou superior a
20/20 da escala SNELLEN.
c) Ainda para o ensaio visual, deve ter visão binocular, comprovada através dos testes FRISBY ou TITMOS.
d) Na aplicação dos itens de A até C, admite-se o emprego de métodos equivalentes aos especificados para
avaliação da acuidade visual.
2.4. Credenciamento CENEN em Radioproteção

O candidato a exame de qualificação para ensaio radiográfico deve estar credenciado pela CENEN, no mínimo
como operador.
Finalmente, deve-se observar que a qualificação em ensaios não destrutivos não se restringe apenas à realização
dos exames teóricos e práticos. Trata-se de um processo que se inicia com o cumprimento das etapas aqui descritas.

3. Programas de Treinamento

Os programas de treinamento devem contemplar no mínimo os seguintes requisitos, com as respectivas cargas
horárias:

3.1. Radiografia

Assunto N1 N2 N3
(H/A) (H/A) (H/A)
1- Princípios do Ensaio 3 4 6
2- Equipamentos – Fontes de Radioatividade 3 8 4
3- Sistema de Detecção da Radiação 4 6 10
4- Técnicas do Ensaio 10 10 10
5- Tipos e Origens das Descontinuidades 1 6 16
6- Técnicas de Ensaio Considerando-se o 4 8 8
Equipamento a ser Testado
7- Método de Ensaio Considerando-se Normas, 2 8 16
Códigos, Etc.
8- Registro de Ensaio e Interpretação de 1 16 8
Resultados
9- Aplicações Especiais - 4 4
10- Segurança e Proteção Radiológica 12 10 6
Total (H/A) 40 80 88

3.2. Ultra-Som

Assunto N1 N2 N3
(H/A) (H/A) (H/A)
1- Princípios do Ensaio 4 8 8
2- Equipamentos 2 6 6
3- Técnicas de Ensaio 4 8 4
4- Calibração do Equipamento 8 6 6
5- Tipos e Origens das Descontinuidades 2 8 16
6- Medidas e Localizações das Descontinuidades 8 8 6
7- Técnicas de Ensaio Considerando-se as 4 10 10
Condições da Peça
8- Método de Ensaio Considerando Normas, 2 8 12
Códigos, Etc.
9- Execução e Registro do Ensaio 4 10 2
10- Interpretação dos Resultados 2 8 10
Total (H/A) 40 80 80
3.3. Partículas Magnéticas

Assunto N1 N2 N3
(H/A) (H/A) (H/A)
1- Princípios do Ensaio 2 4 8
2- Equipamentos e Acessórios 4 6 8
3- Técnicas de Ensaio 14 14 16
4- Tipos e Origens das Descontinuidades 2 8 16
5- Seleção do Método - 4 8
6- Método do Ensaio Considerando Normas, 6 12 16
Códigos, Etc.
7- Interpretação e Registro de Resultados 2 8 12
8- Avaliação 2 4 4
Total (H/A) 32 60 88

3.4. Líquido Penetrante

Assunto N1 N2 N3
(H/A) (H/A) (H/A)
1- Princípios do Ensaio 2 4 6
2- Equipamentos 2 4 6
3- Técnicas de Ensaio 10 12 14
4- Tipos e Origens das Descontinuidades 2 8 16
5- Códigos, Normas, Especificações e 6 12 16
Procedimentos de Ensaio
6- Interpretação dos Resultados - 8 16
7- Técnicas Especiais - - 2
8- Avaliação 2 4 4
Total (H/A) 24 52 80

3.5. Ensaio Visual

Assunto N1 N2 N3
(H/A) (H/A) (H/A)
1- Princípios do Ensaio - 2 4
2- Aparelhagem - 12 12
3- Tipos e Origens das Descontinuidades - 8 10
4- Seleção de Métodos de Ensaio Considerando- - 2 2
se a Peça
5- Seleção do Método de Ensaio Considerando - 4 12
Códigos, Normas, Procedimentos, Etc.
6- Registro de Ensaio e Interpretação de - 8 12
Resultados
7- Avaliação - 4 4
Total (H/A) - 40 56
4. Qualificação de Pessoal

Para habilitar-se aos exames de qualificação, os candidatos devem apresentar ao Bureau de Certificação,
solicitação especificando o método e sub nível de qualificação e setor industrial pretendidos, acompanhada de toda
documentação comprobatória requerida para demonstrar o cumprimento dos pré-requisitos exigidos, conforme
mencionado anteriormente.

4.1. Exames de Qualificação

Para níveis 1 e 2, os candidatos são submetidos aos seguintes exames de qualificação:


a) Teórico Geral
b) Teórico Específico
c) Prático

Para o nível 3, os candidatos são submetidos aos seguintes exames de qualificação:


a) Teórico Geral
b) Teórico Específico
c) Prático (dispensado para os candidatos certificados como nível 2)

4.2. Conteúdo dos Exames


O exame Teórico Geral abrange os princípios fundamentais do ensaio e consta de questões tipo múltipla escolha.
Para o nível 3, abrange conhecimentos de processos de fabricação, condições de serviços e princípios gerais de
outros métodos de END, além de requisitos de treinamento e qualificação de pessoal em END.
O exame Teórico Específico é composto de questões dissertativas, de cálculo e/ou múltipla escolha. As questões
abrangem equipamentos, procedimentos de ensaios, técnicas operacionais e para os níveis 2 e 3, critérios de
aceitação.
Para o nível 3 abrange ainda, conhecimento de normas e especificação e a preparação de procedimentos.
No exame Prático o candidato deve demonstrar, com base em um procedimento técnico escrito fornecido pelo
Bureau de certificação, sua competência na aplicação do método de END, realizando mediante inspeção de corpos-
de-prova, com avaliação, registro de resultados e laudo.

5. Principais Causas de insucesso

Uma parcela considerável dos candidatos à qualificação em ensaios não destrutivos não tem chance de
aprovação pelos seguintes motivos:
• Falta de experiência profissional na área específica, ou seja, alguns candidatos até possuem experiência em
áreas correlatas (soldagem, manutenção, caldeiraria), mas normalmente falta-lhes conhecimento específico
em inspeção de equipamentos e ensaios não destrutivos.
• Grau de instrução abaixo do requerido (conhecimento de desenho técnico, física, matemática, processo de
fabricação entre outros).
• Carga horária de treinamento insuficiente, principalmente, considerando os itens anteriores.
• Falta de atividade prática pós-treinamento. O candidato quando não trabalha na área tem dificuldade de
praticar, e como o treinamento prático adquirido no curso é insuficiente, este fica sem condições de
desenvolver sua habilidade e velocidade de inspeção necessárias para um bom desempenho nos exames de
qualificação.
6. Conclusões

Após um longo período (desde 1979) trabalhando com treinamento e consultoria em qualificação e certificação
de pessoal em END, pode-se enumerar algumas causas relevantes de insucesso nos exames de qualificação:
• Falta de informação sobre a sistemática de qualificação e certificação. Em alguns casos, o candidato não
sabe exatamente como funciona o processo de qualificação. O pensamento comum é que ao completar o
curso está qualificado para executar a função e conseqüentemente auferir boa remuneração. Para solucionar
este problema o candidato ao inscrever-se num determinado curso, deveria ser orientado sobre os pré-
requisitos estabelecidos para submeter-se ao processo de qualificação.
• Os candidatos aos cursos de treinamento devem ter segundo grau completo, sendo que o desejável seria ter
curso técnico (mecânica, metalurgia, estruturas navais, etc) ou obter aproveitamento satisfatório em prova
de conhecimentos mínimos necessários para realização do ensaio (matemática, física, desenho técnico,
processos de fabricação, etc).
• Falta de turma homogenia em termos de conhecimentos básicos e técnicos. Isto pode ser resolvido com a
exigência de realização de um curso de nivelamento, anteriormente ao treinamento específico.
• Carga horária mínima dos cursos insuficiente para formação profissional com o grau de responsabilidade e
complexidade de um inspetor de END. Portanto, tais programas devem ser revisados. Uma alternativa,
como solução de curto prazo, seria a obrigatoriedade de participação de todos os candidatos nos cursos de
nivelamento.
• Falta de profissionais qualificados ministrando os cursos e sem a supervisão de um nível 3. Há casos onde
um excelente profissional de campo, revela-se em um péssimo instrutor por falta de didática ou capacidade
de comunicação para com a turma. Outro exemplo é um mal dimensionamento de tempo de explanação dos
tópicos do curso, o que afeta o desempenho dos participantes. Seguramente estes fatos podem ser resolvidos
com a atuação efetiva de um nível 3 que atuaria como coordenador técnico e supervisor do curso,
identificando os pontos fracos e tomando medidas corretivas para serem implementadas principalmente em
novos cursos.

7. Bibliografia

Norma ABENDE NA – 01 – Qualificação e Certificação de Pessoal em Ensaios Não-Destrutivos (revisão 7).


Norma ISO 9712 – Qualificação e Certificação de Pessoal em Ensaios Não-Destrutivos.
Norma PETROBRAS N – 1590 – Ensaio Não-Destrutivo – Qualificação e Certificação de Pessoal.

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