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Na Antiguidade, não havia dúvidas de que um poeta chamado Homero havia composto a Ilíada.
Porém, ainda no período alexandrino havia quem atribuísse a autoria da Odisseia a outro autor.
No século XVIII, Wolf colocou em dúvida a autoria homérica dos poemas.
A partir do surgimento da crítica moderna, o debate inicial esteve dividido entre os analíticos (que distinguem
vários autores) e unitários (que aceitam um único autor para os poemas).
A própria data de composição oferece maiores dificuldades, pois os poemas transcorrem na época micênica,
entre heróis micênicos. Ignora-se no relato qualquer invasão dórica , mencionada unicamente em Odisseia
XIX, 177.
Quanto à análise literária, as pesquisas de MILMAN PARRY, publicadas em
1928 são de extrema importância. Partindo da observação direta dos processos
de composição dos bardos servocroatas, Parry chegou à conclusão de que os
poemas de Homero utilizam técnicas de improvisação oral, técnicas que
explicariam as repetições e pequenas incongruências da narração.
Τὸν δ’ ἄρ’ ὑπόδρα ἰδὼν προζέθη πόδας ὠκὺς ᾿Ατιλλεύς (Il. Ι. 148)
Os epítetos nunca são acidentais, ainda que estejam
condicionados pela métrica. Tais epítetos auxiliam na
caracterização de um herói, destacando aquela
característica relevante da personagem em um
momento especial. Os epítetos de Aquiles falam de
sua superioridade física. Por sua vez, os epítetos de
Ulisses na Odisseia asseveram ser o herói um homem
dotado “de mil artifícios” ou “que muito sofreu”. É
muito comum que cada herói tenha epítetos
distintivos, que, segundo as descobertas do professor
PAGE (History and the Homeric Iliad, 1959), procedem
em grande parte de época micênica. Assim, os aqueus
são homens “de grevas bem-feitas”, “de túnicas de
bronze” ou “de longos cabelos”; os troianos são
“domadores de cavalos”; Heitor é o herói “de casco
faiscante”.
Todos estes feitos provocaram uma nova questão: a Questão de Troia, sendo alvo de disputa as datas referidas
anteriormente, e a localização dos Ahhiyawa.
KORFMANN em Troia
(1) A 8 km ao Sudoeste de Hisarlik, na baía de Beșik, os navios tinham que esperar que amainassem
os fortes ventos do Noroeste, que sopravam entre a primavera e o começo do outono. Era, por
tanto, un lugar de passagem de correntes chegadas do Mar Negro (onde desaguam não só o
Danúbio, mas também outros três grandes rios da Rússia e Ucrânia: o Dniester, o Dnieper e o
Don) através do Bósforo e dos Dardanelos. Logo, quando Homero qualifica a Troia de “ventosa”
demostra que conhecia ben a região onde se situava a ação. A longa espera naquele porto de
abrigo colocava em contato os navegadores e a cidade que ficava na colina de Hisarlik, explicando
as razões pelas quais a cidade for tantas vezes atacada, destruída e reconstruída.
(2) Nessa área, apareceu grande quantidade de cerâmica micênica, o que prova pelo menos a
existência de algum comércio entre os dois povos.
(3) Descobriu-se um cemitério, no qual a cremação e a inumação eram praticadas, costumes
geralmente opostos. Também foram descobertos restos de cerâmica micênica.
En 1988 KORFMANN começou a escavar en Troia com a ajuda de todos os recursos da técnica e a
colaboração de várias universidades. Estes são alguns dos resultados:
(1) A colina de Hisarlik esteve sempre fortificada ao longo de três mil anos e sofreu muitas guerras entre
o séc. XIV e XIII por dominar os Dardanelos.
(2) Existem nove cidades superpostas, cuja altura chega a cerca de vinte metros.
(3) As muralhas de Troia VI são dez vezes maiores do que se supunha até então. Logo, Troia VI tem uma
extensão muito maior do que até agora se cogitava.
(4) A última cidade é da época helenístico-romana.
(5) A escrita era conhecida na cidade, o que se revela por causa da descoberta de uma campainha de
bronze (1190-1140 a.C.), com palavras em lúvio, língua indo europeia, que funcionaria também como
língua franca na Anatólia.
(6) Não há qualquer dúvida de que Troia VI é a Troia homérica e que o autor da Ilíada conhecia bem os
lugares que descreve.
A presença de elementos micênicos nos poemas de Homero têm sido muito discutida. Mas,
geralmente, admite-se que são micênicos: