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Aplicação de antiaderente em vagões GDT Aplicação de

antiaderente em vagões GDT


RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo empírico que teve início em 2007 através de pesquisas
relacionadas à origem do material com o maior índice de ocorrência desta adversidade, assim como o
período do ano de maior incidência. Várias pesquisas foram realizadas para entender melhor o
problema, seguidas de um levantamento através de dados estatísticos e entrevistas com clientes e
fornecedores, internos e externos. As informações foram tratadas e a partir dos resultados foi possível
desenvolver um quadro comparativo entre os modos.
1. INTRODUÇÃO

A MRS Logística é uma concessionária que controla, opera e monitora a Malha Sudeste da Rede
Ferroviária Federal. Foi constituída em agosto de 1996, com o objetivo de participação no processo de
privatização da concessão para operar a Malha Sudeste (constituída pelas antigas superintendências
SR-3 e SR-4 da Rede Ferroviária Federal S.A. – RFFSA).

Em 1º de dezembro de 1996, assumiu o controle da concessão de uma malha ferroviária com extensão
de 1.676 km. Dentre os fatores determinantes da evolução da empresa, destaca-se, principalmente, o
crescimento acentuado do mercado de cargas de grandes volumes, como minério, carvão, bauxita,
ferro-gusa, produtos siderúrgicos acabados e semi-acabados, além de produtos agrícolas e
contêineres, tendo como principais clientes: Vale, CSN, Cosipa, Gerdau, CBA e Usiminas.

Fig. 01 Principais produtos transportados pela MRS em 2009

Conforme demonstrado na figura 01, o transporte de minério de ferro para exportação representa 73%
de todas as cargas transportadas pela empresa, donde conclui-se que a sua representatividade no
resultado da empresa é determinante.

A MRS utiliza, em seu transporte de minério, vagões do tipo gôndola, equipados com engate rotativo
em uma das extremidades que permite a operação de descarga com dupla de vagão, sem necessidade
de desengate da composição. Cada unidade geminada é interligada através de uma haste rígida com
uma das extremidades rotativas, o que possibilita a operação da unidade dual em viradores de vagões.

O virador de vagão é um sistema complexo que promove o giro do vagão dual a cerca de 165o em seu
eixo horizontal, promovendo o travamento do vagão por um sistema de ancoragem. O minério
durante o giro cai num sistema chamado de alimentador que direciona o minério para uma correia
transportadora que conduzirá o material ao pátio de estocagem ou diretamente ao navio. Os viradores,
normalmente, são equipados com sistema de vibradores que ajudam na soltura do material.

Um dos grandes problemas enfrentados pela MRS, atualmente, é a sazonalidade da produção ocorrida
em virtude do período de chuvas, que se inicia na segunda quinzena de outubro e se estende até
março.
Nesse período fica claro uma redução dos volumes transportados, principalmente, dos clientes de
minério de ferro, conforme mostrado na figura 02.

Sazonalidades Chuvas

Crise mundial

Fig. 02 Evolução de transporte de minério MRS 2003 - 2010

Como principais causas é possível apontar problemas de circulação de trens provocados por quedas
de barreiras e, principalmente, queda na performance dos tempos de descarga.

Nesse período, a umidade do material, agravado pelas chuvas, associada à baixa granulometria e a
alguns materiais com propriedades específicas, se aderem às paredes dos vagões e se tornam um bloco
compacto, o que traz consequências danosas aos sistemas, aumentando os ciclos dos trens e
impactando a eficiência e os custos operacionais.

Por consequinte, foram estudadas algumas alternativas que possam reduzir a influência desse
materiais na descarga diminuindo a sazonalidade do período chuvoso, propiciando aumento da carga
transportada e maximizando os resultados na medida em que o processo se torna mais eficiente e
menos oneroso.

O resultado demonstra que, no contexto atual, a aplicação da chapa de polipropileno é a alternativa


mais viável, propiciando ganhos expressivos no tempo de descarga, necessidade de redescarga, sobra
de material após redescarga e impacto nos alimentadores.

2. METODOLOGIA

2.1 Avaliação do cenário atual

A sazonalidade da produção gerada principalmente pela queda do transporte de minério no período de


chuvas (figura 02), provoca grande impacto financeiro na empresa.
As chuvas, associadas ao teor de umidade inerente do minério e às características físico- químicas do
material, provocam agregação nas paredes dos vagões e formam um bloco compacto, o que dificulta
enormemente o processo de descarga dos vagões tipo gôndola em viradores.

As descargas que, teoricamente, deveriam ocorrer em 3 horas, levam em média tempos muito
superiores, que são intensificados com minérios provenientes de determinados terminais, conforme
explicitado nas figuras 03 e 04.

Fig. 03 Tempo de descarga cliente 1 período abr/09 a mar/10

Fig. 04 Tempo de descarga cliente 1 e Origem 1 período abr/09 a mar/10

Na figura 03 é demonstrado o tempo médio de descarga por trem nos períodos de abril/09 a
setembro/09 e outubro/09 a março/10, em um dos clientes de transporte de minério de ferro da MRS.

Na figura 04 observa-se esse efeito somente nos trens carregados com material no terminal de origem
com maior incidência de problemas. Esse efeito impacta não só o trem em descarga, mas toda a cadeia
de trens na malha, devido à geração de fila.

É possível destacar os principias motivos que levam ao aumento de tempo para remoção do minérios
dos vagões. São eles:

Necessidade de redescarga - Os vagões de minério, que deveriam ser descarregados com um


único giro, precisam de 2 ou mais para esvaziar completamente o vagão.

Aumento do tempo de virada – O vagão permanece maior tempo com a sua face superior
voltada para baixo, com atuação intensa de vibradores para que o minério se solte.

Aumento das avarias por sobrecarga e água – Ocorre um aumento das paradas por defeito
devido à sobrecarga dos sistemas, uma vez que a utilização do sistema de giro, ancoragem do
virador, vibradores e outros são utilizados de forma muito mais intensa. Além disso, a existência
de quantidade excessiva de água avaria os sistemas, provoca entupimentos, etc.

Desalinhamento de correia – Com a queda do bloco compacto de minério sobre os sistemas de


alimentadores ocorre, com frequência, parada na descarga por desalinhamento na correia, que
também tem grande impacto no tempo total de descarga.

Desta forma, como os tempos de descarga premissados pelos cliente não se concretizam, o
dimensionamento de equipes, locomotivas e vagões geram ineficência do sistema.

Assim, as filas de trens aguardando descarga aumentam, gerando mais horas de maquinistas em trens,
provocando horas extras e excesso de jornada. Ocorrem, também, problemas em rolamentos e outros
componentes dos veículos ferroviários acarretados pelo alto tempo parado das composições
carregadas.

Além disso, a sobra de minério, que ocorre mesmo após descarga, precisa ser espalhada manualmente
no pátio seguinte para evitar que fique concentrada e um dos cantos dos vagões, podendo causar
descarrilamentos na viagem. Esse fato gera parada adicional na composição para execução do serviço
e transporte de “peso morto” (minério não descarregado), aumentando o consumo de combustível,
uma vez que é apenas espalhado no vagão e não removido.

A perda de volume impacta não só a MRS, que gera menos receita, como seus clientes que perdem
negócios por dificuldade de reposição de seus estoques.

2.2 Análise das principais alternativas

Para reduzir a dependência da empresa e de seus clientes aos fatores climáticos, foram realizados
diversos estudos de adaptações em vagões, com o objetivo de reduzir a aderência dos minérios nas
suas paredes. Dentre os principais, foi possível destacar:

2.2.1 Pintura Interzone 954

É um revestimento epóxi modificado de dois componentes, projetado para proporcionar proteção em


única aplicação. Oferece resistência à perda de aderência catódica.

Para a aplicação desse produto é necessária limpeza com jateamento das superfícies internas do vagão
e tempo de cura de 24 horas antes de se carregar qualquer material.

O teste foi realizado em uma dupla de vagões e teve bom desempenho por um período de 75 dias,
cerca de 20 viagens.

Desta forma, devido ao alto tempo de imobilização do ativo e baixa durabilidade, essa alternativa não
se mostrou economicamente viável.

2.2.2. Polímero Líquido

É um redutor de umidade antiaderente à base de resinas etoxi-funcionais.

Requer a retirada das impurezas dos vagões e aplicação do produto de forma manual.
Foi aplicado em 20 vagões, com tempo médio de aplicação de 30 min/vagão. Obteve durabilidade de
63 dias, 19 viagens.

Apesar do baixo custo, a baixa durabilidade gera imobilização frequente do ativo que também
inviabiliza essa opção.

2.2.3. Manta antiaderente

É uma fita sintética impregnada com antiaderente e adesivos de silicone em um dos lados. Possui
baixo coeficiente de atrito e alta resistência à tração.

A sua aplicação também requer a retirada das impurezas do fundo dos vagões de forma manual e o
tempo gasto para aplicação foi de 45 min.
Foi aplicada em uma dupla de vagões e teve durabilidade de 6 meses, cerca de 60 viagens.

Apesar da maior durabilidade, ainda assim, mostrou-se insuficiente para viabilizar o projeto de
implantação.

2.2.4. Chapa de Polipropileno

Chapa de polipropileno emborrachada, impregnada com antiaderente, possui baixo coeficiente de


atrito, alta resistência à tração e boa resistência química.

Requer limpeza do fundo dos vagões e tem tempo médio de imobilização de 60 min/vagão.

Inicialmente foi aplicada em 2 duplas de vagões que estão em operação há meses e as chapas se
mantêm intactas, com alguns ajustes necessários nas fixações.

O fornecedor do material garante, contratualmente, durabilidade de 10 anos.

Devido à alta durabilidade do produto, mesmo com alto custo, essa elternativa se mostrou altamente
viável economicamente.

Entretanto, testes com maior amostragem se fizeram necessários para que fossem comprovados os
ganhos funcionais ora identificados.

2.3 Análise empírica com chapa de Polipropileno

Após análise de viabilidade preliminar, descrita no item 2.2.4, no qual a chapa de


polipropileno apresentou ser a opção de maior viabilidade econômica, foi iniciado o projeto piloto,
que consiste na aplicação do material em metade de uma composição, totalizando 66 vagões,
mantendo a outra metade sem qualquer alteração.

Desta forma, seria possível comparar a performance dos vagões com e sem chapa, carregados
com o mesmo tipo de material e passando pelas mesmas condições meteorológicas ao longo do
percurso. Foi tomado o cuidado de se utilizar vagões com características similares para evitar
distorções nas análises.

Os testes foram realizados por 3 meses, durante o período de chuvas entre janeiro e março,
direcionando a experiência para os terminais de origem e materiais de maior impacto. Durante esse
período ocorreram 16 ciclos de carga e descarga da composição.
Além da performance da chapa, foi possível identificar, a partir de ferramentas estatísticas de análise
dos dados, a influência na descarga dos seguintes parâmetros: tipos de drenos instalados nos vagões,
terminal de origem do material com maior incidência, terminal de destino do material com maior
incidência, tipo de material, teor de umidade do material, granulometria do material, chuvas ao longo
da viagem. Entretanto, a título de simplificação desse paper será apresentado somente o estudo da
utilização do antiaderente.

As viagens foram acompanhadas em todas as suas etapas de carga, circulação e, principalmente,


descarga, onde os seguintes dados foram obtidos: ciclo de descarga por dupla de vagão, quantidade de
redescarga, sobra de material após redescarga, lâmina de água aparente e impacto no alimentador.

O processo de pesquisa foi executado obedecendo às seguintes etapas:

Etapa 1: Caracterização do ambiente a ser explorado e das premissas a serem respeitadas. Etapa
desenvolvida através de reuniões realizadas com o cliente e conhecimento das características e
variáveis de cada terminal de carga e descarga, que servirão como base das alternativas a serem
estudadas.
Etapa 2: Escolha dos atributos técnicos, operacionais e ambientais pelos quais os estudos serão
submetidos à avaliação e análise.
Etapa 3: Quantificação dos atributos técnicos, operacionais e ambientais com base nos dados
levantados a partir de reuniões realizadas com o cliente e setores internos de logística de MRS. A
partir desses dados estatísticos, foram calculados os impactos na produção.
Etapa 4: Elaboração do quadro comparativo (quantitativo e qualitativo) com os resultados
inerentes a cada alternativa estudada.
Etapa 5: Estudo de viabilidade das alternativas.

3. RESULTADOS

Durante o período de testes foi gerado um grande banco de dados, contendo os parâmetros de análises
citados no item 2.3 e os dados obtidos com os experimentos. Como já informado, somente serão
apresentados os resultados relacionados à aplicação da chapa de polipropileno.

3.1. Chapa de polipropileno

Será analisada a perfomance da chapa sob os seguintes aspectos: ciclo de descarga por dupla de
vagão, quantidade de redescarga, sobra de material após redescarga e impacto no alimentador.

Redução de
83%

Fig. 05 Necessidade de redescarca


O número de resdescarga foi reduzido drasticamente devido a maior facilidade do minério se soltar da
parede dos vagões, o que diminui o risco de descarrilamentos durante o giro, avarias no viradores
devido à sobrecarga do equipamento e ao tempo médio de descarga, conforme figura 05.

Redução de
28%

Fig. 06 Variação do ciclo de descarga

O ciclo médio de descarga por vagão foi reduzido significativamente, provocado pela
diminuição da redescarga e do tempo de que o vagão necessita ficar virado até que todo minério se
solte. Além do impacto direto na capacidade do terminal, essa redução traz benefícios ao sistema de
vibradores que são utilizados de forma menos intensa, aumentando a confiabilidade no equipamento.

Redução de
77%

Fig. 07 Sobra de material

Em muitos casos, mesmo após várias redescargas, parte do material não se solta totalmente, ficando
concentrado nos cantos dos vagões.

Nessas situações é necessário que a composição circule com velocidade reduzida até o pátio mais
próximo, onde o material é espalhado manualmente de forma uniforme no fundo veículo, para que se
prossiga a viagem. Além do tempo gasto com essa atividade, que em média dura 3 horas, o material
retorna para a origem podendo provocar contaminação do próximo carregamento, além do aumento
do consumo de combustível pelo transporte de “peso morto” no retorno da composição.

Redução de
81%
Fig. 08 Impacto alimentador

Outro benefício, que inicialmente era inesperado, foi a redução do impacto no alimentador. No vagão
sem chapa, o minério só se desprende no final do giro do equipamento, quando todo o bloco compacto
cai sobre os sistemas de alimentadores de uma única vez, causando grande impacto. Nos vagões com
chapa, o material se desprende na medida em que o virador aumenta o giro, caindo de forma gradativa
e não provocando choque excessivo nos equipamentos.

Desta forma é possível evitar avarias no sistema e desalinhamento das correias que são motivos de
paradas constantes da descarga nesse período.

4. CONCLUSÕES

O enorme impacto gerado pelas chuvas no transporte de minério de ferro e a consequente perda
financeira, gerada para a MRS e seus clientes, levaram a empresa a buscar alternativas de adequação
dos seus ativos, que a tornasse menos vulnerável às condições meteorológicas.

Assim, foram estudados diversos materiais com propriedades antiaderentes, tendo a chapa de
polipropileno se mostrado com maior viabilidade econômica, a partir de diversos benefícios
identificados, conforme abaixo:

Redução do tempo médio de descarga por vagão em 28%;


Redução do risco de descarrilamentos durante a descarga, provocado pela redescarga;
Redução das avarias do sistema de giro dos viradores, devido à redescarga;
Redução das avarias dos alimentadores, devido à sobrecarga no período chuvas;
Redução do risco de descarrilamento no trecho, devido à sobra de material;
Economia de combustível a partir da redução do “peso morto” transportado nos trens vazios,
devido à sobra de material;
Redução do tempo gasto para espalhar material após descarga, devido à sobra de material;
Redução do risco de contaminação do próximo minério a ser carregado, também devido à sobra de
material; e
Redução das avarias nos alimentadores, devido a dimunuição do impacto do minério na queda.

Com os resultados obtidos, a empresa está viabilizando a aplicação do material nos vagões que
atendem os fluxos com maior vunerabilidade ao período chuvoso. Desta forma, espera-se aumentar
sensivelmente a eficiência operacional, permitindo aumento de volume, redução de custo e melhor
atendimento ao cliente.

5. REFERÊNCIAS

[1] ARAÚJO FILHO, G.M., TORRES, B., SESHADRI, V. Caracterização de misturas para
sinterização. Metalurgia – ABM, 1986
[2] Costa, A.G.D. et alii. A importância do modelamento geológico-tipológico no controle de
qualidade dos concentrados e pelotas de minérios de ferro da Samarco Mineração S.A. In:
SEMINÁRIO DE REDUÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO, 29, 1998.
[3] Akcelrud L. Fundamentos da ciência dos polímeros. São Paulo: Editora Malone, 2004.
[4] Lima, A. B. T. Aplicações de cargas minerais em polímeros, Escola politécnica da Universidade
de São Paulo - Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo, 2007.
[5] MRS LOGÍSTICA SA, Disponível: http://www.mrs.com.br, empresa fundada em 1996 no ramo
do transporte ferroviário de carga.

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