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FACULDADE GUANAMBI

ALEXANDRO SANTANA
DIORGAN AMARAL
EVELLIN LIMA MENDES
JÚLIO AUGUSTO SPÍNOLA
LUÍS ANTÔNIO DE SOUZA SILVA
MARCELA DOS SANTOS

CONSTITUIÇÕES DE 1934 E 1937:


contexto histórico e análise

Trabalho apresentado ao curso de bacharel


em Direito da Faculdade Guanambi, para a
disciplina Direito Constitucional I.

Professor: Fernando Lorenzzo.

GUANAMBI – BAHIA
2

2008

“Mas ela era do mundo em que vivem as coisas mais belas


Têm o pior destino
E a Rosa viveu o que vivem as Rosas,
O espaço de uma manhã.”

(François Malherbe)
3

Sumário

Sumário.................................................................................................................. 3

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................4

2 CONSTITUIÇÃO DE 1934......................................................................................5

2.1 Contexto histórico.........................................................................................5

2.1.1 Crise de 1929..........................................................................................5

2.1.2 A Revolução de 1930..............................................................................7

2.1.3 Revolução Constitucionalista..................................................................8

2.1.4 Governo Constitucional (1934 – 1937)....................................................9

2.2 Caraterísticas..............................................................................................10

2.3 Classificação................................................................................................13

3 CONSTITUIÇÃO DE 1937....................................................................................13

3.1 Contexto histórico.......................................................................................14

3.2 Caraterísticas..............................................................................................17

3.3 Classificação................................................................................................19

4 Comparativo 1934 x 1937.................................................................................20

5 ANÁLISE COM A CONSTITUIÇÃO ATUAL.............................................................22

6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................24
4

1 INTRODUÇÃO

Hauriou1 define constituição como um conjunto de regras relativas


ao governo e à vida da comunidade estatal, encaradas sob o ponto de
vista fundamental de sua existência, este é essencial às liberdades
individuais, a organização política e ao funcionamento do governo.
A grandiosidade desta Nação foi construída mediante a constante
busca pelos valores democráticos por parte de seu povo. Pode-se
perceber esta sede por um Estado ideal através duma análise da
evolução constitucional sofrida pelo então Brasil.
O processo evolutivo inicia-se com a independência brasileira,
quando o príncipe regente, Dom Pedro I, convoca uma Assembléia
Constituinte e Legislativa para a elaboração da Carta de 1824. Em 15 de
novembro de 1889 proclamou-se a República, surgindo em 24 de
fevereiro de 1891 a nova Constituição, que aboliu a monarquia, trouxe a
representatividade política, o Estado laico e o habeas corpus.
A Revolução de 1930 pôs a baixo o poder das oligarquias,
enfraquecendo o coronelismo, ocasionando a tomada do poder por
Getúlio Vargas, líder desta revolução. Governando provisoriamente e
através do decreto 3.5.32 marcou eleições à Assembléia Constituinte
para 3.5.33, em 09 de julho de 1932 eclodiu em São Paulo a chamada
Revolução Constitucionalista, onde exigia-se a criação da Constituição.
Tendo como base os fatos históricos acima, iniciar-se-á um estudo
aprofundado dos princípios basilares que nortearam a elaboração das
Cartas Magnas de 1934 e 1937.

1
HAURIOU, Maurice. Précis de droit constitutionnel. Recueil Sirey, 1923.
5

2 CONSTITUIÇÃO DE 1934

Por quase nove meses – de novembro de 1933 a julho de 1934 – o


Brasil viveu sob a proteção da Assembléia Constituinte responsável pela
criação da constituição que iria substituir a Lei Fundamental de 1891.
Em meio às agitações políticas, sociais e religiosas em 16 de julho de
1934 foi promulgada a Nova constituição. Sofrendo influências do
constitucionalismo europeu, democrático e social, a Carta de 1934
marcou o início da Segunda República.

2.1 Contexto histórico

2.1.1 Crise de 1929

Desde 1920, com a superprodução de café, o Brasil sofreu uma


crise econômica. Antes do estouro da Crise de 29, iniciada nos Estados
Unidos vários cafeicultores declararam falência. Diante de uma forte
especulação no mercado de ações americano, e sem a intervenção do
governo, o chamado liberalismo econômico, e diante de um consumo
desenfreado devido a recuperação européia após a Primeira Guerra
Mundial, inicia a crise, que teve seu ponto culminante no dia 24 de
outubro de 1929. Esta crise refletiu no Brasil, pois os EUA era o maior
importador do café brasileiro, acrescente a este alvoroço na economia
mundial a iminente ruptura da política do café com leite.
Com Washington Luís como presidente, diante desta crise que
afetava a base econômica do Brasil, não criando nenhuma política
eficiente e com a instabilidade social-democrática, Júlio Preste, paulista
como Washington Luís, rompendo a política do café com leite, a qual
6

consistia com a alternação de governo entre mineiros e paulistas, se


candidata à presidência. Surge a Aliança Liberal, a qual tinha como
candidato Getúlio Vargas e era apoiado pelas elites mineiras, gaúchas e
paraibanas. Getúlio era aclamado pelo povo durante a campanha,
evidentemente seria eleito. Para surpresa, Júlio Prestes é eleito, mas o
resultado desta eleição foi violentamente fraudada.
Contudo a vitória de Prestes causou um profundo
descontentamento político no país e as tensões se avolumaram. As
forças populares se agitaram. As forças oligárquicas e burguesas
inquietavam-se com as agitações populares e buscavam controlar o
processo político para que não caminhasse para uma radicalização em
que as elites perdessem o controle do poder.
O assassinato de João Pessoa, candidato a vice pela chapa da
Aliança Liberal, precipitou o conflito. Eclodia a Revolução de 1930.
Partindo do Rio Grande do Sul, as tropas desta revolução, lideradas
pelo tentene-coronel Góis Monteiro em direção a capital federal.
Recebeu apoio de várias tropas militares, de Minas Gerais, do nordeste
e por fim, no Rio de Janeiro um junta militar formada pelos mais
importantes generais depuseram o ainda presidente, Washington Luís.
Getúlio assumindo o poder, pondo fim a República Oligárquica.
Getúlio Vargas assumindo o governo provisório, a crise do café
ainda presente, necessitando, portanto, de uma política econômica
emergente. O preço do café havia caído e os armazéns estavam
entupidos com as safras de café. Para que não houvesse uma
desvalorização excessiva, o governo brasileiro comprou e queimou
toneladas de café. Desta forma, diminuiu a oferta, conseguindo manter o
preço do principal produto brasileiro da época. Por outro lado, este fato
trouxe algo positivo para a economia brasileira. Com a crise do café,
7

muitos cafeicultores começaram a investir no setor industrial,


alavancando a indústria brasileira.
A solução para a crise surgiu apenas no ano de 1933. No governo
de Franklin Delano Roosevelt, foi colocado em prática o plano conhecido
como New Deal. De acordo com o plano econômico, o governo norte-
americano passou a controlar os preços e a produção das indústrias e
das fazendas. Com isto, o governo conseguiu controlar a inflação e
evitar a formação de estoques. Fez parte do plano também o grande
investimento em obras públicas (estradas, aeroportos, ferrovias, energia
elétrica etc), conseguindo diminuir significativamente o desemprego. O
programa foi tão bem sucedido que no começo da década de 1940 a
economia norte-americana já estava funcionando normalmente.

2.1.2 A Revolução de 1930

Ao se aproximarem as eleições de primeiro de março de 1930, não


era mais possível ignorar os efeitos da crise econômica. A oposição
apresentou Getúlio Vargas, o governador do Rio Grande do Sul, como
candidato a presidente, e João Pessoa com vice. A chapa recebeu o
nome de aliança liberal. Getúlio Vargas percorreu em campanha
algumas capitais, e em todas foi muito bem recebido. Eram os efeitos da
crise econômica, da impopularidade de Washington Luís e do
esgotamento da política do café-com-leite.
Em primeiro de março realizou-se a eleição. Como já era
esperado, apesar da simpatia popular, venceu Júlio Prestes, o candidato
oficial, que recebeu 1,1 milhão de votos contra 737 mil votos atribuídos a
Getúlio Vargas. A fraude eleitoral, tão comum na época, voltou a
funcionar, beneficiando a aliança liberal. Vargas recebeu no Rio Grande
do Sul 298.627 votos contra apenas 982 votos de Prestes.
8

A oposição não se conteve com a derrota eleitoral e em julho de


1930, o governador da Paraíba, João pessoa foi assassinado em Recife.
O crime foi explorado politicamente, crescendo as articulações para um
golpe militar, tendo em três de outubro iniciado a revolução. Sob o
controle da aliança liberal e de seus aliados militares o país passou a
permanecer.
O novo governo tinha de enfrentar outros desafios, vitoriosa a
revolução de 30, Getúlio Vargas tratou de nomear interventores para
todos os estados, com exceção de Minas, que substituiu os antigos
governadores. Os interventores deviam obediência apenas a Getúlio, e
muitos até desconheciam os estados aos quais governariam. Além
disso, o congresso nacional foi fechado, suspenderam a constituição de
1891, assim como os partidos políticos.
Foram de início essas medidas recebidas com indiferença, pois se
acreditava que durariam por pouco tempo. Com o passar dos meses,
porém, começaram a surgir algumas manifestações contrárias ao
governo, passando a exigir uma nova constituição, eleições livres,
liberdade partidária, enfim, a democracia que tinha sido prometida. No
entanto os efeitos da crise econômica de 29 colocaram essas questões
em segundo plano.

2.1.3 Revolução Constitucionalista

Em nove de julho começou em São Paulo a chamada revolução


constitucionalista, a radicalização chegou ao terreno das armas, as
manifestações refletiam um anseio pela imediata reconstitucionalização
do país, estas eram contrárias ao ditador Vargas. Numa delas, em vinte
e três de maio de 1932, a polícia reprimiu os manifestantes e matou
9

quatro estudantes. Com esse incidente, cresceu ainda mais o clamor


pela implantação de um regime democrático.
Não havia mais condições para o governo manter-se no poder de
forma indefinida. Assim, as exigências democráticas levaram-no a
realizar em 1933 eleições para a assembléia constituinte.
Em 1934 promulgou-se a segunda constituição republicana, nesse
mesmo ano o congresso elegeu Getúlio Vargas como presidente.

2.1.4 Governo Constitucional (1934 – 1937)

Nesse segundo mandato, conhecido como Governo Constitucional


(1934 a 1937), observou-se a ascensão de dois grandes movimentos
políticos em terras brasileiras. De um lado estava a Ação Integralista
Brasileira (AIB), que defendia a consolidação de um governo
centralizado capaz de conduzir a nação a um “grande destino”. Esse
destino, segundo os integralistas, só era possível com o fim das
liberdades democráticas, a perseguição dos movimentos comunistas e a
intervenção máxima do Estado na economia. De outro, os comunistas
brasileiros se mobilizaram em torno da Aliança Nacional Libertadora
(ANL). Entre suas principais idéias, a ANL era favorável à reforma
agrária, a luta contra o imperialismo e a revolução por meio da luta de
classes.
Contando com esse espírito revolucionário e a orientação dos altos
escalões do comunismo soviético, a ANL promoveu uma tentativa de
golpe contra o governo de Getúlio Vargas. Em 1935, alguns comunistas
brasileiros iniciaram revoltas dentro de instituições militares nas cidades
de Natal (RN), Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE). Devido à falta de
articulação e adesão de outros estados, a chamada Intentona
Comunista, foi facilmente controlada pelo governo.
10

Mesmo tendo resistido a essa tentativa de golpe, Getúlio Vargas


utiliza-se do episódio para declarar estado de sítio. Com essa medida,
Vargas ampliou seus poderes políticos, perseguiu seus opositores e
desarticulou o movimento comunista brasileiro. Mediante a “ameaça
comunista”, Vargas conseguiu anular a nova eleição presidencial que
deveria acontecer em 1937. Anunciando outra calamitosa tentativa de
golpe comunista, conhecida como Plano Cohen, Getúlio Vargas anulou
a constituição de 1934 e dissolveu o Poder Legislativo. A partir daquele
ano, Getúlio passou a governar com amplos poderes, inaugurando o
chamado Estado Novo (1937 – 1945).

2.2 Caraterísticas

A Constituição Brasileira de 1934, promulgada2 em 16 de julho pela


Assembléia Nacional Constituinte, foi inspirada na constituição alemã e
em alguns pontos pelo plano New Deal dos EUA. E todas as decisões
do governo provisório foram incorporados a Carta de 34. Foi uma
constituição democrática e também social, sendo a primeira a incorporar
avanços sociais, visto que seus antecessoras eram só constituições
políticas, e que a partir dela todas passaram a ter avanços sociais.
Estabeleceu que todos os presidentes fossem eleitos diretamente
pelo povo, exceto o primeiro3, dando inicio ao governo constitucional
onde a lei exige a participação dos cidadãos na feitura da legislação e
na tomada de decisões políticas, visto que a instituição que
principalmente caracteriza o Estado constitucional é o parlamento que,
exprimindo os desejos e a moral viva da sociedade, permite e controla a

2
Constituição promulgada ou pragmática é aquela que resulta das assembléias populares. É também
chamada pelo qualificativo de “imposta” porque o povo, através dos seus representantes, a impõe à
autoridade que governa. ( João Baptista Herkenhoff).
3
No caso o 1º presidente constitucional seria eleito de forma indireta; e Getúlio Vargas vence Borges
de Medeiros.
11

ação racional e razoável do governo e dá-lhe a possibilidade de educar


o povo.
Instituiu os três poderes (legislativo, judiciário e executivo), e o
poder executivo tinha o direito de intervenção nas áreas política e
econômica. Os ministros tinham por obrigação a adoção de uma
assessoria técnica, para que essa ajudasse a se cumpri os trabalhos de
forma mais objetiva e organizada. O Poder legislativo devia ser eleito
proporcionalmente ao número de habitantes de cada Estado, Outro fato
muito interessante em relação aos cargos públicos foi a extinção do
cargo de vice-presidente.
Também trouxe avanços no campo eleitoral com a criação da
justiça eleitoral e instituição do voto secreto, direto e universal, na época
havia deputados eleitos indiretamentes por sindicatos (deputados
classistas) e imperava o voto de “cabestro” empregado para assegurar a
prática do Coronelismo e da Política dos Governadores no revezamento
das oligarquias agrárias paulistas e mineiras no Poder Central.
Estabeleceu o voto obrigatório para maiores de 18 anos e deu
direito ao voto às mulheres, uma vez que isso era uma tendência
mundial onde movimentos como o sufrágio feminino4 lutava pelo direito
ao voto feminino, e foi na Nova Zelândia sua primeira conquista nesse
sentido.
Incorporou a liberdade religiosa, de pensamento e de imprensa
passos importantes para a democratização e o pluralismo cultural
brasileiro.
Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, dando
garantias mínimas ao trabalhador brasileiro, pela primeira vez;
Criação da Justiça do Trabalho e Leis Trabalhistas como, por
exemplo, jornada diária de 8 horas, repouso semanal, férias
4
Era um movimento social, político e econômico de reforma, com o objetivo de estender o sufrágio (o
direito de votar) às mulheres.
12

remuneradas, e proibição do trabalho infantil, ou seja, bem próximo das


leis atuais.
A constituição de 1934 vêem com uma onda de nacionalismo,
limitando a entrada de imigrantes e nacionalizando empresas de seguro,
bancos e do subsolo nacional e também das comunicações, inicialmente
da imprensa.
Um grande avanço para o Direito da época, foi criado o mandado
de segurança para a defesa dos direitos e liberdades individuais,
previsto no Art. 133, 33 da Carta Magna de 1934 – “Dar-se-á mandado
de segurança para defesa do direito, certo e incontestável, ameaçado ou
violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer
autoridade. O processo será o mesmo do habeas corpus, devendo ser
sempre ouvida a pessoa de direito público interessada. O mandado não
prejudica as ações petitórias competentes”. Houve a manutenção do
Habeas Corpus, no sentindo muito próximo do atual, que visa proteger o
direito de liberdade de ir e vir do cidadão, no caso de ameaça por
ilegalidade ou abuso de poder. Estabeleceu-se o princípio da
retroatividade da lei penal para beneficiar o réu (Art. 113, 27).
Criou a Justiça Militar com competência para processar e julgar os
militares integrantes das Forças Armadas, Marinha de Guerra, Exército,
Força Aérea Brasileira, civis e assemelhados. No Estado democrático de
Direito, que tem como fundamento a observância de uma Constituição
estabelecida pela vontade popular por meio de uma Assembléia
Nacional Constituinte, no caso do Brasil um Congresso Constituinte.
Por fim, foi a constituição de menor duração que o Brasil já teve
porque em 1935 Getulio Vargas suspendia seus garantias através do
estado de sítio.
13

2.3 Classificação

3 CONSTITUIÇÃO DE 1937
14

Vigente por oito anos, a quarta constituição brasileira foi marcada


por caraterísticas fortes e até mesmo por grandes acontecimentos na
história política do Brasil, que tem conseqüências até hoje.
Sendo a constituição de 1937 outorgada, de caraterística
republicana autoritária, militarista, conservadora, que era conduzida por
um executivo ditatorial. Mas estas particularidades, fez com que o Brasil
buscasse uma identidade nacional e também promovesse o
desenvolvimento da nação. Contudo, seus aspectos ruins são maiores,
basta dizer que atrocidades foram cometidas sob a égide deste diploma,
tudo a pretexto da paz e da ordem pública.
Mesmo com todas as emendas que sofreu a constituição de 37,
vale dizer que não houve uma aplicação pacífica deste diploma
constitucional, pois devido a ditadura que concentrou poderes nas mãos
do executivo, muitos de seus dispositivos permaneceram sem
efetividade.

3.1 Contexto histórico

Com a sucessão presidencial de 1938 estipulada pela constituição


de 1934 Getúlio Vargas teria que entregar o cargo a um sucessor que
seria o governador de São Paulo, Armando Salles de Oliveira, oposição,
ou o candidato governista José Américo de Almeida. Mas isso não
aconteceu.
Se Sentindo ameaçado pela campanha alarmista da ameaça
comunista, onde teve seu auge em 30 de setembro de 1937 quando foi
divulgado o “Plano Cohen” (Esse plano seria uma estratégia comunista
orientada pela URSS para a tomada do poder e inauguração de uma
espécie de "república soviética brasileira"), o presidente Getúlio Vargas
mandou fechar o Congresso Nacional, as assembléias legislativas e as
15

câmaras municipais, e com o apoio dos integralistas, dos militares


conservadores, da burguesia industrial e de interventores /
governadores de vários estados, Vargas outorga em 10 de dezembro
1937 a nova constituição, sendo ela a primeira constituição republicana
autoritária que o Brasil teve, atendendo a interesses de grupos políticos
desejosos de um governo forte que beneficiasse os dominantes e mais
alguns, que consolidasse o domínio daqueles que se punham ao lado de
Vargas. A principal característica dessa constituição era a enorme
concentração de poderes nas mãos do chefe do Executivo. Seu
conteúdo era fortemente centralizador, ficando a cargo do presidente da
República a nomeação das autoridades estaduais, os interventores.
Esses, por sua vez, cabia nomear as autoridades municipais.A
constituição de 1937 foi redigida em sua maior parte pelo jurista
Francisco Campos que logo após de outorgada a constituição foi
nomeado ministro da Justiça.
O golpe do Estado Novo, instaurado pela constituição de 1937,
propusera a criação das condições consideradas necessárias para a
modernização da nação que seria um Estado forte, centralizador,
interventor, agente fundamental da produção e do desenvolvimento
econômicos, e também onde os militares tiveram grande importância no
novo regime, definindo prioridades e formulando políticas de governo,
em particular nos setores estratégicos, como siderurgia e petróleo.
No regime do Estado novo foram criados Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), formado para difundir a ideologia do
Estado Novo junto às camadas populares e, a partir do ideário
autoritário do regime, contribuir para a construção da identidade
nacional, o DIP exercia também uma forte censura aos meios de
comunicação, suprimindo eventuais manifestações de
descontentamento; e também o Departamento Administrativo do Serviço
16

Público (DASP), que implantar, no recrutamento do funcionalismo, a


lógica da formação profissional, da capacidade técnica e do mérito, um
órgão especialmente voltado para a reforma e a modernização da
administração pública, e foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI), destinado a formar mão-de-obra para a indústria,
assim como os estudos para a criação do Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC), destinado a promover a difusão e o
aperfeiçoamento do ensino comercial no país. Importante lembra que
também o estado novo Vargas criou a carteira de trabalho, a Justiça do
Trabalho, o salário mínimo, a estabilidade do emprego depois de dez
anos de serviço (revogada em 1966), substituída pelo Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), e o descanso semanal
remunerado. Decretou o Código Penal e o Código de Processo Penal e
a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), todos até hoje em vigor.
Regulamentou o trabalho dos menores de idade, da mulher e o trabalho
noturno. Fixou a jornada de trabalho em oito horas diárias de serviço e
ampliou o direito à aposentadoria a todos os trabalhadores urbanos. Em
1943, foram criados territórios federais nas fronteiras, para o
desenvolvimento do interior do Brasil, ainda praticamente despovoado.
Criaram-se então os territórios federais do Amapá, do Rio Branco, hoje
Roraima, do Guaporé, hoje Rondônia, de Ponta Porã e do Iguaçu. Estes
dois últimos não prosperaram.
O regime ditador do Estado novo veio ao fim em outubro de 1945
após a II Grande Guerra. Getúlio Vargas foi deposto em 29 de outubro
de 1945, por um movimento militar liderado por generais que
compunham seu próprio ministério, renunciando formalmente ao cargo
de presidente. Vargas foi substituído pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal. E este presidente interino, José Linhares, ficou três
meses no cargo até passar o poder ao presidente eleito em 2 de
17

dezembro de 1945, Eurico Gaspar Dutra. E sendo assim realizando uma


nova eleição para a assembléia constituinte, seus membros se reuniram
para elaborar uma nova constituição, que entrou em vigor a partir de
setembro de 1946, substituindo a Carta Magna de 1937.

3.2 Caraterísticas

A constituição de 1937 instituiu muitas inovações; com grande


influência do regime fascista, pois era autoritário, com centralização do
poder nas mãos do poder executivo, pois o legislativo e o judiciário
foram extremamente reduzidos em suas funções e garantias.
O legislativo era composto pelo Parlamento Nacional com a
colaboração do Conselho da Economia Nacional e do presidente da
República. O Parlamento era composto por duas câmaras: dos
deputados e o Conselho Federal, com mandatos de quatro anos e 6
anos respectivamente, com eleições indiretas e sendo que dez
conselheiros eram nomeados pelo presidente.
Teve enorme influência da Constituição Polonesa, por isso ficou
conhecida como “polaca”. Tinha 187 artigos, sendo que o último deles
previa um plebiscito – Art. 187(CF/37) Esta Constituição entrará em
vigor na sua data e será submetida ao plebiscito nacional na forma
regulada em decreto do Presidente da República. – que jamais ocorreu.
Tinha caraterísticas rígida, de caráter absolutista, outorgada, imposta
por Getúlio Vargas através do Golpe do Estado Novo.
Previu em seu Art. 137 uma série de direitos trabalhistas, tais como
o salário mínimo, repouso semanal e anual, jornada de trabalho de oito
horas diárias, licença gestante, entre outros, porém proíbe o direito de
greve e lock out.
18

Dentre as modificações da constituição de 1937, além das citadas


acima, estão:
• O presidente podia dissolver o Congresso e expedia decretos-leis;
• Os partidos foram extintos;
• Aboliu-se a liberdade de imprensa;
• Interventores passaram a governar o estado;
• Criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para
censurar a imprensa, orientar a opinião pública e fazer
propaganda do regime;
• Criação dos territórios de Fernando de Noronha, Amapá, Rio
Branco, Guaporé, Ponta Porã e Iguaçu, para facilitar a defesa e
estimular o povoamento e desenvolvimento do país;
• Criação de institutos centrais para centralizar o econômico,
planejar e controlar a produção nacional;
• Exclusão de “writs” – direitos – constitucionais, habeas corpus e do
mandado de segurança;
Contudo, o que se pode perceber com os pontos abordados acima
é que essa Ordem Constitucional representou um retrocesso jurídico no
Brasil.
19

3.3 Classificação
20

4 COMPARATIVO 1934 X 1937

A criação das constituições de 1934 e 1937 se dá de formas


antagônicas, a Lei Fundamental de 1934 veio ao encontro do anseio
social, com uma base democrata-social, introduzindo ambiciosamente
no campo da matéria constitucional, a ordem econômica e social, a
família, a educação, a cultura e, alargando a democracia, permitindo o
voto feminino – Art. 108 (CF/34) São eleitores os brasileiros de um e de
outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.
Já a Carta de 1937 foi outorgada, eivadas das marcas do
totalitarismo, intolerância, aboliu a forma democrática, embora em linhas
gerais, conforme disposto no Art. 1º, “O Brasil é uma República. O poder
político emana do povo e é exercido em nome dele e no interesse do
seu bem-estar, da sua honra, da sua independência e da sua
prosperidade.”, mantinha os fundamentos da democracia.
Princípio basilar
1934 1937
Documento efetivamente Fortalecimento do poder
democrático, que refletia a executivo, faculdade de fazer
vontade e necessidade do leis e assim a minimização da
povo. Constitui então o bem função legislativa e, portanto, da
estar social. participação popular. “Fazer leis”

Com a transição da constituição de 1934 para a constituição de


1937, o Brasil, sofreu em diversos pontos um retrocesso, à exemplo
tem-se: o sistema de constitucionalidade, onde na Carta de 1937 dá ao
presidente a prerrogativa de revisão a inconstitucionalização da lei.
Os direitos invioláveis, que na constituição de 1934 fora
amplamente disciplinados, a Carta de 1937 simplesmente aboliu.
21

1934 1937
Art. 113 - A Constituição assegura a Art. 122 - A Constituição assegura aos
brasileiros e a estrangeiros residentes brasileiros e estrangeiros residentes no
no País a inviolabilidade dos direitos País o direito à liberdade, à segurança
concernentes à liberdade, à individual e à propriedade, nos termos
subsistência, à segurança individual e seguintes:
à propriedade, nos termos seguintes: 1).........................................................
1)........................................... ................................................
.............................. 13) não haverá penas corpóreas
29) Não haverá pena de banimento, perpétuas. As penas estabelecidas ou
morte, confisco ou de caráter agravadas na lei nova não se aplicam
perpétuo, ressalvadas, quanto à pena aos fatos anteriores. Além dos casos
de morte, as disposições da legislação previstos na legislação militar para o
militar, em tempo de guerra com país tempo de guerra, a lei poderá prescrever
estrangeiro. a pena de morte para os seguintes
crimes:
a)..............................................................
.....
..............................................................
f) o homicídio cometido por motivo fútil e
com extremos de perversidade;
Art. 113 Preâmbulo:
- .......................................................... “ATENDENDO às legitimas aspirações
.......................................... do povo brasileiro à paz política e social,
1)................................................................ profundamente perturbada por
...... conhecidos fatores de desordem,
........................................................... resultantes da crescente a gravação dos
25) Não haverá foro privilegiado nem dissídios
Tribunais de exceção; admitem-se, partidários, que, uma, notória
porém, Juízos especiais em razão da propaganda demagógica procura
natureza das causas. desnaturar em luta de classes, e da
extremação, de conflitos ideológicos,
tendentes, pelo seu desenvolvimento
natural, resolver-se em termos de
violência, colocando a Nação sob a
funesta iminência da guerra civil;
ATENDENDO ao estado de apreensão
criado no País pela infiltração
comunista, que se torna dia a dia mais
extensa e mais profunda, exigindo
remédios, de caráter radical e
permanente;........”

Tribunais de exceção.
22

5 ANÁLISE COM A CONSTITUIÇÃO ATUAL

Ao analisar a Carta de 1934, nota-se uma grande semelhança em


pontos relacionados aos direitos individuais e coletivos. Vale ressaltar
nesta constituição, e que a atual resgatou, a amplitude da matéria
constitucional, a qual se introduziu a ordem econômica e social, a
família, a educação e a cultura. A inserção do direito à cultura
inseparável do direito à educação.
Outro fator, que põe a constituição de 34 como uma social, é a
criação de uma legislação do trabalho buscando melhorias das
condições dos trabalhadores. Isso também permanece na atual (Art. 7°).
Dentre outros fatores que se pode destacar, acima se encontra
como caraterística desta Carta, entretanto condiz relatar que a
democracia e os aspectos sociais inseridos na Lei Fundamental de 34,
contribuiu sem dúvida alguma para um grande avanço no âmbito do
direito no Brasil e no que se relaciona a busca pela democracia, já que
encontra-se estes princípios na atual constituição de 1988, que vigora
sendo a mais democrática: a constituição cidadã.
No que tange a uma comparação à Carta de 1937, pouco se tem a
relacionar com a atual constituição. Visto que foi outorgada, ilegítima e
como afirma José Afonso da Silva, “muitos de seus dispositivos
permaneceram letra morta”5. O que converge com a Lei Maior de 1988
cabe destacar a função do Estado em fomentar políticas públicas de
incentivo ao crescimento econômico.

5
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. p.83
23

6 CONCLUSÃO

Diante do conteúdo exposto neste trabalho, e mediante uma visão


crítica acerca do constitucionalismo brasileiro, cabe findar a importância
histórica de ambas as constituições analisadas. Devido as inquietações
populares, e por meio de revoluções foi consolidada as bases
democráticas que hoje há neste país.
Segundo Sahid Maluf a Carta de 34 por seu “excessivo ecletismo
teve vida efêmera. Com certa razão lhe é atribuída a responsabilidade
de ter preparado o clima favorável à implantação da ditadura de 1937”6.
Maluf, sobre a Constituição de 37 admite que esta manteve os
fundamentos da democracia, citando o Art. 1°, em que declara a origem
popular do poder. Mas, o regime governamental foi praticado à margem
e à revelia da mesma, não respeitando a Carta outorgada. Pois o Brasil
foi governado, durante o Estado Novo, por meio de decretos-leis.
Os motivos da implantação ditatorial já haviam sido superados,
logo não havia mais razão para a subsistência do governo. Avolumou-se
em todo território nacional uma reação da consciência democrática, que
viria a ser restaurada com a Carta constitucional de 1946.
Contudo, faz-se necessária a participação do povo, de forma
integral, atuando ativamente na vida política da nação a fim de construir
uma sociedade livre, justa, solidária com igualdade de possibilidades, de
modo a promover não uma idéia utópica de democracia, com uma
constituição de folha de papel sem vida e utilidade, mas numa ordem
social eqüitativa com a prevalência da dignidade da pessoa humana.

6
MAULUF, Sahid. Direito constitucional.São Paulo: Sugestões Literárias S/A. 4ª ed. 1968.
24

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LIMA, Wesley de. Da evolução constitucional do Brasil. Disponível em:


<http://www.clubjus.com.br/print.php?content=219459 >.Acesso em :
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FILHO, Robério Nunes dos Anjos. Curso intensivo para carreira jurídica:
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SANTOS, Márcio Vieira. Curso de pós-graduação em direito público.


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BONAVIDES, Paulo. A evolução constitucional do Brasil. Conferência


500 anos de Brasil. Academia Piauense de Letras. 2000.

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%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1934>. Acesso em: 25/08/2008.

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Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui
%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1937>. Acesso em: 25/08/2008.

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