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INTRODUÇÃO
Em 31/3/2011, a Diretoria da ABRASBUCO – Associação Brasileira de Saúde
Bucal Coletiva – entidade fundada em 11/8/1998, em Fortaleza, Ceará, quando se
realizavam o 14º ENATESPO (Encontro Nacional de Administradores e Técnicos do
Serviço Público Odontológico) e o 3º Congresso Brasileiro de Saúde Bucal Coletiva,
iniciou negociação com o Conselho Federal de Odontologia (CFO), com vistas a
tornar nula a Resolução CFO-108/2011, publicada no Diário Oficial da União em
3/3/2011, que alterou o nome da especialidade odontológica até então denominada
“Saúde Coletiva”.
Como parte desse processo, foi agendada nova reunião para o dia 5/5/2011.
Para esta reunião, a ABRASBUCO solicitou ao CFO que três cirurgiões dentistas (CD)
especialistas, reconhecidos e com inscrição no CFO, indicados por ela, pudessem
participar da atividade. A solicitação foi aceita pelo CFO.
Um desses especialistas convidados pela ABRASBUCO, o CD Paulo Capel
Narvai (CROSP nº 18155), também professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP),
da Universidade de São Paulo (USP), considerou necessário preparar e apresentar,
na referida reunião, uma Exposição de Motivos para fundamentar posição contrária à
alteração da denominação da especialidade. Para elaborar o mencionado documento,
consultou colegas CD docentes dessa área (Saúde Coletiva) das universidades
públicas mantidas pelo Estado de São Paulo, a saber: USP, UNESP (Universidade
Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho) e Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas).
Desse processo de consultas resultou a presente Exposição de Motivos.
É expectativa dos signatários que seu conteúdo seja levado em consideração
nas próximas etapas do processo de negociação envolvendo a ABRASBUCO e o CFO.
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RESOLUÇÃO CFO-108/2011
A Resolução do CFO que alterou a denominação da especialidade, aprovada
em reunião plenária realizada pelo órgão em 25/2/2011, foi publicada no Diário
Oficial da União em 3/3/2011.
O documento está escrito nos seguintes termos:
“RESOLUÇÃO CFO-108/2011/Altera a denominação da especialidade de Saúde
Coletiva./O Presidente do Conselho Federal de Odontologia, no uso de suas
atribuições regimentais, cumprindo deliberação do Plenário, em reunião realizada no
dia 25 de fevereiro de 2011,/RESOLVE:/Art. 1º. A denominação da especialidade de
Saúde Coletiva passa a ser Saúde Coletiva e da Família./Art. 2°. Esta Resolução
entrará em vigor na data de sua publicação na Imprensa Oficial, revogadas as
disposições em contrário./Rio de Janeiro, 03 de março de 2011./JOSÉ MÁRIO
MORAIS MATEUS, CD SECRETÁRIO-GERAL/AILTON DIOGO MORILHAS RODRIGUES,
CD PRESIDENTE”.
ANTECEDENTES
A origem da especialidade em tela pode ser fixada em 1952, no contexto
histórico em que o Governo do Brasil organizou os primeiros programas de saúde
pública com componente odontológico. Esses programas pioneiros foram planejados
e executados pelo Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), depois Fundação SESP,
atual FUNASA – Fundação Nacional de Saúde.
Criado 10 anos antes, em 1942, e mantido por um Acordo de Cooperação
Técnica entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, com apoio da Fundação
Rockefeller, o SESP implementou, inicialmente em Aimorés-MG e em seguida em
vários municípios do Norte, Nordeste e Sudeste, os primeiros programas de
odontologia escolar no Brasil.
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Esta é uma das razões pelas quais não é possível formar esses especialistas
tendo, no corpo docente dos cursos, apenas CD. Isto não faz sentido, uma vez que é
indispensável à formação, conforme referido, a participação de profissionais de
várias áreas – do historiador ao engenheiro, passando pelo filósofo, o bioquímico e o
sociólogo, p.ex. Todos são igualmente importantes ao processo formativo nesta área.
Não cabe, também, a propósito, em nosso entendimento, restringir a outorga do
título, somente a egressos de cursos de especialização coordenados por cirurgiões-
dentistas. Ainda que o CD egresso de cursos com essas denominações seja, sem
dúvida, um especialista em Saúde Coletiva, tais cursos são, na maioria das vezes,
estruturados para turmas multiprofissionais podendo ser coordenados por
profissional habilitado não CD. Há outros aspectos conflitantes que não cabem ser
aqui arrolados, entre as exigências para a obtenção do título acadêmico e os critérios
para a outorga do título profissional que, por falta de harmonização, acabam
prejudicando os egressos desses cursos.
As normas que o CFO mantém, sobre formação e inscrição de especialistas
nessa área, estão na base de frequentes atritos e incompreensões que vêm
marcando as relações da Autarquia Federal, com órgãos formadores, sobretudo a
Universidade Pública, e também com colegas CD. Quanto a estes, exigências
impertinentes – por não aplicáveis – para inscrição têm, por vezes, excluído do CFO
especialistas do mais alto gabarito, que honram e dignificam a profissão
Odontológica. Além disso, vêm, concretamente, prejudicando-os em ascensões em
carreiras de quadros de pessoal, com importantes implicações salariais. Ao invés de
ampará-los e apoiá-los, inscrevendo-os como especialistas, o CFO vem prejudicando-
os, em razão de exigências meramente cartoriais, relacionadas aos cursos dos quais
são egressos. Tal é o caso da exigência de que cursos nessa área, organizados por
universidades públicas, reconhecidaspelo MEC para esse fim, submetam suas
decisões de planejamento pedagógico ao CFO, a fim de solicitar credenciamento,
como condição para reconhecimento dos certificados que comprovam a
especialização. Ao fazer tais exigências a essas instituições, dentre as quais
informações sobre designação de coordenadores, definição de programas, opções
pedagógicas, critérios de avaliação, dentre outros, pretende o CFO tutelar,
pedagogicamente falando, instituições credenciadas pelo Ministério da Educação, o
que caracteriza evidente exorbitância de competências legais. Na raiz desse
equívoco, está a incompreensão das características essenciais da especialidade
“Odontologia em Saúde Coletiva”.
Parece-nos um erro grave que o CFO siga colocando à margem da
Odontologia centenas de especialistas dessa área, justamente num contexto histórico
de importante impulso da política nacional de saúde bucal e de consolidação da
assistência odontológica pública, tanto na atenção primária à saúde quanto nos
níveis de atenção de média e alta complexidade. É paradoxal que exatamente os
cirurgiões dentistas portadores de títulos acadêmicos nessa área, e cujo trabalho
cotidiano tem contribuído tanto para essas conquistas, sejam punidos pelo CFO com
a não outorga do título profissional, por não lhes reconhecer a formação atestada
por certificados emitidos por importantes universidades brasileiras. É nesse contexto
que o número de especialistas em Odontologia em Saúde Coletiva (925, segundo
informação da ABRASBUCO) deve ser analisado.
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SAÚDE COLETIVA
Em 27/12/2001, por meio da Resolução CFO-22/2001, uma vez mais sem que
se saibam as razões, e uma vez mais sem dialogar com os segmentos
representativos da especialidade, o CFO alterou a denominação de “Odontologia em
Saúde Coletiva” para, apenas “Saúde Coletiva”. Agiu como se palavras, a mais ou a
menos, não tivessem importância; como se não envolvessem referenciais teóricos
que devem ser respeitados. O termo “Odontologia” foi retirado do nome da
especialidade, segundo consta, como conseqüência da 2ª ANEO, realizada de 6 a
9/9/2001, em Manaus.
A decisão, descabida, revela apenas ignorância do que é a “Saúde Coletiva”.
Tomar uma pela outra, considerar a “Saúde Coletiva” sinônimo de “Odontologia em
Saúde Coletiva”, e vice-versa, é um despropósito.
Com efeito, compreende-se que, sendo cirurgiões dentistas, e sendo
especialistas em saúde pública (ou saúde coletiva), esses profissionais, experts num
campo de conhecimentos e práticas que extrapola a Odontologia, sejam, ao mesmo
tempo, especialistas da Odontologia e de outros campos (Planejamento,
Administração, Vigilância Sanitária, Epidemiologia, Sistemas de Informação,
Educação, dentre outros). Não obstante, sentem-se – e, de fato, o são –
profissionais da Odontologia. Nessa condição têm todo o direito de se vincular a
entidades odontológicas, como, p.ex., o CFO. Nada a estranhar, portanto, que o CFO
os acolha, por meio de uma especialidade odontológica que seja compatível com o
fato de serem, simultaneamente, cirurgiões dentistas e sanitaristas.
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De qualquer modo, está bem claro, para os especialistas em OSC que é esta a
denominação mais adequada para a sua especialidade, não sendo necessário nem
retirar o termo “Odontologia”, nem acrescentar a expressão “e da Família” ao nome.
Em conseqüência, urge que o CFO corrija seu erro histórico, acentuado agora
com a recente decisão de alterar o nome da especialidade.
CONCLUSÃO
Em vista do exposto nesta Exposição de Motivos permitimo-nos recomendar
ao CFO a imediata revogação da Resolução CFO-108/2011 e a realização de consulta
formal à ABRASCO – Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva –, à
ABRASBUCO e aos CD inscritos na Autarquia Federal como especialistas nessa área,
sobre a definição do objeto, a identificação do campo de atuação, e o nome mais
apropriado para a especialidade.