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João Moura
Mar. 23, 2007 at 10:18 AM
Há dias, ao fim da tarde, antes de irmos à festa do Igor, fui com a Ema ao "Noo Bai",
uma esplanada num recanto suspenso de Lisboa, com vista para o Tejo.
O "Noo Bai", fica para além do Adamastor e enquanto desciamos as escadas de ferro,
ela confidenciava-me que tinha preferido ficar lá em cima a ver os malabaristas e os
engolidores de fogo a praticarem.
Sentei-me na esplanada a beber uma cerveja que pedi ao balcão, na única mesa que
estava livre e numa posição em que podia ver a minha filha brincar com a Maria que
tinha aprendido a andar há pouco tempo. Desenhavam num quadro preto em ardósia,
como os das escolas.
Toda a gente parecia feliz, como se aquele pôr-do-sol fosse apenas partilhado por
quem ali estava naquele momento. Uma espécie de "nós", formado por
desconhecidos que partilhavam algo de importante. Aquilo era algo mais do que ser
dono do seu próprio Banco. Então, lembrei-me daquele empresário do Lusco-Fusco
que dizia:
-Aquilo dura apenas uns minutos. Mas olhe que vale a pena. Imaginei-o naquele
preciso momento a começar a "dar tudo", mas apenas por alguns instantes.
À entrada da festa, uma mulher jovem com um sorriso bonito, em vez de uma
bandeja com flutes de champanhe, estendeu-nos uma terrina com marcadores de
acetato coloridos. A Ema tirou uma caneta vermelha e outra verde.
Por cima do ombro dela via gente empoleirada e de cócoras, com canetas na mão a
pintar paredes. Coloriam desenhos a preto nas paredes brancas da loja.
Felicitei o nosso anfitrião pela fantástica ideia, cumprimentei alguns amigos e dirigi-
me ao Bar onde a Joana empoleirada no cubículo do barman, pintava as letras do
reclamo luminoso com caneta côr-de-rosa. Pedi um vodka.
A Ema propunha ao Merlin uma troca de canetas:
-Troco a verde e a vermelha pela côr-de-laranja e a azul.
P.S.
As fotos em anexo permitem entender as alusões cromáticas relativas à troca de
canetas entre a Ema e o Merlin: O autor (eu) pretende sugerir que o encantamento do
mágico Merlin, levou a Ema a abdicar do Verde e do Vermelho (Pátria e Benfica) em
troca do azul (FCPorto) e do laranja (cor da casa D'Orange, a mãe é holandesa)...
Porque o amor, se não é cego é pelo menos, daltónico.