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Introdução
O facto político
Aula: n.º 1
É comum dizer-se que a vida em sociedade é o modo natural em que ocorre a existência
da espécie humana. Os indivíduos mantêm entre si, desde crescimento até à morte,
mútuas relações de colaboração e de dependência.
A divisão do trabalho conduziu a que cada um de nós possa beneficiar a cada momento
do esforço de muitos milhões dos nossos semelhantes. Cada um de nós é logo ao nascer
herdeiro de uma civilização e de uma cultura, que nos foram legadas por gerações
anteriores, proporcionando-nos a utilização de bens, instrumentos e noções de adopção
de um sistema de princípios, convenções e normas já antes experimentados e que
norteiam a nossa conduta.
Há vários modos de convivência social, ou seja, os vínculos sociais a que estamos
sujeitos podem assumir várias formas. Pode-se, desde logo, referir a família, depois a
aldeia ou cidade, a sociedade religiosa; a sociedade profissional; a sociedade política ou
Estado; a sociedade internacional. Estas formas podem dividir-se em duas grandes
classes, segundo a classificação de Max Weber1: as associações e as comunidades.
Comunidades – Quando os indivíduos se encontram integrados nessas formas de
sociedade por mero facto do nascimento, ou por acto que não tem por fim directo aderir
a elas. Elas existem, independentemente da vontade dos seus membros. Exemplo: a
família, o meio profissional, a nação, o meio residencial, etc.
Associações – Quando resultam da união dos indivíduos, que a elas resolvam aderir por
serem criadas pela sua vontade e podendo delas sair, quando quiserem. Exemplo: Clube
desportivo; uma irmandade religiosa; uma sociedade comercial, etc.
Aula 2 29/09/06
O poder
Chama-se poder à possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta ou de
traçar a conduta alheia de forma eficaz.O PODER manifesta-se na potencialidade de
alguém impor aos outros um determinado comportamento - o respeito pela
"ordem".
Existe poder sempre que alguém tem a possibilidade de fazer acatar a sua própria
vontade aos outros, ou obrigando os outros a fazer o que ele queira.
2 Todo o grupo social organizado tem a sua disciplina que é mantida por normas
jurídicas que formam o
direito social, institucional ou disciplinar desse grupo.
Aristóteles distinguia poder paterno, poder despótico e poder político em função
do interesse prosseguido por quem exerce o poder;
Locke distinguia os mesmos poder paterno, poder despótico e poder político, mas
em função do fundamento do poder que é exercido;
Finalmente, Bobbio distingue antes poder económico, poder ideológico e poder político,
em função dos meios que são utilizados para condicionar o comportamento do outro.
O poder, enquanto forma de imposição de uma ordem que permita a gestão dos recursos
necessariamente finitos ao dispor de uma sociedade, é essencial à sua própria
preservação.
A possibilidade de impor aos outros o respeito da própria conduta traduz a ideia de
liberdade, num dos sentidos deste termo. A possibilidade de traçar e impor a conduta
alheia constitui autoridade.3
• Poder de facto (força)
• Poder legítimo (reconhecimento)
• Poder social (necessidade organização)
• Poder político (sociedade política – res-publica)
• Poder político (Marcelo Caetano “poder de domínio)
Para o Professor Marcelo Rebelo de Sousa é um «poder de injunção dotado de
coercibilidade material», ou seja, «um poder de natureza vinculativa marcado pela
susceptibilidade de imposição, quer pelo uso da força física, quer da supressão, não
resistível, de recursos vitais».
Esse conceito de poder abrange, quer o poder de facto que assenta na força, quer o
poder legítimo que resulta do reconhecimento por aqueles a quem se dirige de que ele
actua de acordo com uma lei ou norma de acatamento geral. Importa para o presente
estudo o poder legítimo que pode ser reconhecido a uma colectividade ou a um
indivíduo.
Na formação de uma colectividade, está implícita a necessidade de disciplina.Em
cada sociedade, há portanto uma norma fundamental que autoriza a definir as normas de
conduta aos seus membros em todo o que diga respeito à conservação dessa sociedade e
á realização dos seus fins. Se um grupo social tem autoridade para estabelecer
3 Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª
ed., Coimbra 2003,
pg 5
normas de conduta dos seus membros, obrigatórias sob pena de aquele que desobedecer
sofrer um castigo, e tem liberdade para actuar, então esse grupo possui poder.
O poder social é exercido por toda a colectividade ou, na maioria dos casos, por alguns
dos seus membros a quem seja reconhecida a qualidade de representante. O poder
social é uma consequência necessária da organização das sociedades primárias
(parentesco, vizinhança, profissão, etc). Ele surge porque elas existem e precisam de
se organizar.
Ao contrário a sociedade politica não existe antes do poder politico existir.A
sociedade política surgiu porque houve necessidade de superar diferenças e hostilidades
entre as sociedades primárias e por isso os homens criaram grupos mais amplos em que
essas sociedades primárias colaborassem e se obrigassem a deveres comuns e a regras
gerais de conduta, tendo por base a existência de um interesse geral superior a todos os
outros: a res-publica.4
A sociedade politica tem um carácter de comunidade e a sua razão de ser é o exercício
do poder político, entendido este como a autoridade da colectividade sobre cada um dos
seus membros, traduzida pela imposição de um direito comum ao qual, todos queiram
ou não, têm de se submeter. Como refere Marcelo Caetano “ o poder político é um
irresistível poder de domínio.”5
Em conclusão: as sociedades primárias resultam do impulso da natureza humana; as
sociedades políticas formam-se por decisão voluntária tendo por base interesses
colectivos que superam os interesses particulares e sob a instituição de um poder
político caminham numa direcção comum. A função deste poder político é subordinar
os interesses particulares ao interesse geral, segundo princípios racionais de justiça que
se traduzem em um Direito Comum da sociedade política que engloba as sociedades
primárias.
4 A sociedade politica é uma sociedade complexa que torna possível a convivência
jurídica, entre os
membros das várias sociedades primárias, graças à existência de um direito comum a
todos eles, ou seja, acima dos interesse particulares ou restritos dos grupos sociais
primários, eleva-se e afirma-se um interesse geral superior a todos os outros: a “res
publica” (coisa pública).
5 Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Marcelo Caetano, Almedina, 6ª
ed., Coimbra 2003,
pg 7. “Esse poder apoia-se na possibilidade do emprego da coacção que a sociedade
política reivindica
com superioridade sobre as outras formas sociais, tendendo mesmo a monopolizá-la. “
O poder político define um Direito Comum a todos os membros da sociedade política,
com meios de coacção superiores aos das sociedades primárias, dispondo de meios
eficazes de empregar a coacção para punir os desobedientes.
Facto Político
Noção de facto politico- chamaremos facto ou fenómeno politico a todo e qualquer
acontecimento ligado à instituição, à existência e ao exercício do poder politico.
Os factos ou fenómenos políticos podem ser objecto de estudo de acordo com métodos
próprios e diferentes ópticas por parte de várias disciplinas: a Sociologia política, a
História política, a Filosofia politica e a Ciência politica. Todas estas disciplinas têm um
objecto comum: o facto político.
À sistematização dos resultados do estudo das várias disciplinas que visam o
conhecimento do facto político pode chamar-se Ciência Política, em sentido amplo. A
Ciência Política é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que é formado por
normas jurídicas reguladoras de factos políticos.
CIÊNCIA POLÍTICA
Conceito de ciência política – este conceito tem sido objecto de muita discussão.
Desde logo porque os próprios vocábulos: política e político podem surgir com
significados diferentes.
Conceito restrito – é a disciplina que estuda as manifestações, as formas e as
regularidades dos factos políticos em si mesmos ou através do comportamento dos
indivíduos mediante métodos de observação.
Conceito amplo – é uma disciplina que estuda os conhecimentos relativos à
compreensão, explicação e fundamento racional dos factos políticos ordenados e
sistematizados em função do seu objecto e seja qual for o método empregado na sua
obtenção.
A Ciência Política estuda factos sociais através do método da observação, embora não
descure o método histórico e tenha tendência a usar o método comparativo.
De um modo muito simples podemos definir este conceito de Ciência Política,como a
ciência que procura ordenar, sistematizar e dar a conhecer a realidade politica. Ela
estuda as leis que presidem ao funcionamento dos sistemas políticos e estuda as causas
com a regularidade dos fenómenos políticos.
Quer a ciência do direito Constitucional, quer a ciência política têm por objecto o
fenómeno político. Contudo a ciência do Direito Constitucional considera a
sociedade política através de normas que se lhe dirigem. Ela debruça-se sobre a
ordem da sociedade e não sobre a sociedade enquanto tal, ao passo que a ciência
politica se volta para os factos no seu desenrolar empírico e funcional. Ela tem por
objecto o Estado como sistema de relações, forças e comportamentos, tendo como pano
de fundo o poder ou a interferência do poder.
Enquanto a ciência do Direito Constitucional se ocupa principalmente da regularidade e
da validade da acção do poder como ciência normativa que é; a ciência política ocupa-se
principalmente da efectividade da acção do poder. Ela é uma ciência não normativa.
A ciência política estuda:
-Os fenómenos políticos em si próprios
-As estruturas governativas
-As estruturas de participação política
- Os sistemas de poder
Portanto a ciência política sobrepõe o seu âmbito ao Direito Constitucional, já que
estuda as estruturas políticas do Estado. A ciência política diz-nos como é na realidade,
o direito constitucional diz-nos como deve ser.
A ciência política é uma ciência descritiva, não normativa, que tem por objecto a
realidade dos factos. O Direito Constitucional é uma ciência normativa que tem por
objecto a realidade das normas.
A ciência política não é uma ciência jurídica, o direito constitucional é uma ciência
jurídica.
As análises feitas pela ciência política ajudam a compreender a realidade política, cuja
ordenação fundamental é estabelecida pela constituição do Estado. O estudo dessa
ciência é indispensável ao estudo do Direito Constitucional que sem ele se alhearia às
questões políticas dos regimes, das ideologias e dos conflitos políticos.
Importante: Não confundir ciência política com política.
Política – é a actividade desenvolvida para a conquista e a manutenção do poder,
segundo certos ideais que se pretende fazer aceitar e realizar na sociedade. Ela é na
linguagem corrente “a arte de governar”.
Ciência é um sistema de conhecimentos, com ela pretende-se saber. Política é um
conjunto de regras práticas e com ela pretende-se agir.
Uma vez que o fenómeno político é o objecto de estudo da ciência política temos que o
analisar. Há três concepções:
1 – Entende-se o fenómeno político, como fenómeno estadual.
2 – O fenómeno político é menor que o fenómeno estadual.
3 – O fenómeno político é maior que o fenómeno estadual.
1 – Fenómeno político identifica-se com o fenómeno estadual e portanto todo o
fenómeno político é um fenómeno estadual. O fenómeno político desenvolve-se no
quadro estadual e coincide com a concretização das 3 funções estaduais: legislativa,
executiva e judicial.
2 – Fenómeno político menor que o fenómeno estadual: estes autores entendem que
efectivamente todo o fenómeno político é um fenómeno estadual, mas nem todo o
fenómeno estadual é um fenómeno político. Existem funções estaduais que não podem
ser consideradas políticas. A função judicial, segundo eles não seria política, mas
meramente técnica de aplicação do direito. Só as funções legislativa e executiva seriam
políticas por serem inovadoras e dispositivas.
3 – O fenómeno político é mais amplo que o estadual. Hoje, entendem a maioria dos
autores, que o fenómeno político é muito mais amplo do que o fenómeno estadual. A
qualidade do político não é algo definitivamente estabelecido podendo em épocas de
forte tensão social transformar-se em fenómenos políticos, actos como por exemplo: a
abertura de uma escola ou reivindicações e manifestações de um sindicato. Portanto os
fenómenos políticos não se reduzem ao Estado, pois têm em regra uma raiz mais
profunda. Eles abarcam as acções dos partidos e dos grupos de interesse (com a pressão
que tentam influenciar no poder).
Portanto o fenómeno político não se identifica com o estadual abrangendo também a
definição e o funcionamento dos partidos políticos, dos sindicatos, das associações
patronais, da opinião pública, as manifestações, ou seja todas as forças que podem
influenciar o poder.
De certo modo, poderá dizer-se que no Estado de direito liberal o fenómeno político
se identifica com o estadual.
No Estado social democrático de direito, o fenómeno político é mais amplo que o
estadual, e no Estado autocrático ou ditatorial, o fenómeno político é
tendencialmente total, abrangendo todo o fenómeno social.
Podemos então definir o fenómeno político como aquele que pressupõe uma relação de
poder, uma diferenciação entre governante e governado ou que resulta de um conflito de
interesses tendo em vista, a conquista ou o exercício do poder político.”
O Estado e o Sistema Político
Aceitando como certo que o fenómeno político extravasa o estadual, a moderna ciência
política Norte Americana começou a estudar esses fenómenos enquadrados não na
estrutura do Estado, mas no campo global das actividades políticas de uma sociedade,
ou seja, um sistema político.
Para estudar os fenómenos políticos, David Easton foi o primeiro a aplicar o chamado
modelo sistémico, assumindo que um sistema é um conjunto de variáveis seja qual for o
grau de relação entre elas que se interligam. David Easton definiu osiste ma político
como um conjunto de interacções através dos quais, numa certa sociedade, se
realiza a atribuição autoritária de valores.
Para este autor, todos os sistemas políticos, têm um ponto comum: não podem subsistir
se não desempenharem com sucesso as seguintes funções:
1 – Distribuição dos valores numa certa sociedade.
2 – A capacidade de levar a maior parte dos membros dessa sociedade a aceitar que essa
distribuição seja feita por via autoritária, pelo menos durante um maior período de
tempo possível.
Estas duas propriedades distinguem os sistemas políticos de outros sistemas sociais e
constituem as variáveis essenciais de toda a vida política. Sem elas, uma sociedade não
tem qualquer espécie de vida política. Isto levanta as seguintes questões:
1 – Como se processa a distribuição de valores a impor por via da autoridade
2 – Como funciona o sistema político.
Para responder a estas questões, David Easton elaborou a seguinte teoria:
Ele propõe que se considere o sistema político como uma caixa preta e que ignoremos o
que se passa dentro dessa caixa. Essa caixa contudo, está inserida, ou mergulhada no
meio ambiente (ambiente social) do qual recebe pedidos e apoios, que são os chamados
inputs e outputs.
Os inputs apresentam-se como acções de causas dos fenómenos políticos, podem ser
exigências, pedidos ou apoios. Exemplo: Votos de confiança, moções de censura ao
governo; reivindicações, manifestações contra ou a favor, protestos, etc.
Os outputs são os resultados de efeito que osinp uts produzem no sistema político.São
portanto as respostas que o sistema político produz face ás pressões, a fim de
adaptar as estruturas ao meio ambiente.
A resposta do Estado em relação às exigências é feita através das suas funções.
Por sua vez, as modificações do meio ambiente que resultam dosoutputs provocam
novosinputs, que entram no sistema através de um mecanismo da retroacção que se
chama feed-back.
David Easton avaliou o sistema político em interacção com o meio ambiente interno e
externo. De facto, o sistema político está mergulhado no meio ambiente que o sujeita a
desafios aos quais deve dar resposta, que são os sistemas exteriores da sociedade global
em análise com os quais ela está presumivelmente em relação, como por exemplo os
sistemas políticos coexistentes, os sistemas supranacionais e os próprios sistemas
ecológicos mundiais. Meio ambiente externo que compreende todos os sistemas
internos inseridos na sociedade global em análise, designadamente por exemplo: o
sistema religioso, o sistema biológico, o sistema social, o sistema psicológico.
No meio ambiente global está inserido o sistema político aberto e em constantes trocas
com o meio ambiente. Em função do carácter aberto do sistema, a análise da corrente
input / output é indispensável juntamente com o conceito de exigências e apoios.
No conceito de exigências de pedidos cabem todas as solicitações do meio ambiente
interno e externo no sentido de atribuir ou negar valores sociais que vão desde as
liberdades e garantias políticas ao tipo de censura, ao sistema de segurança social ou
saúde, aos salários, etc.
O volume das exigências conduz ao conceito de carga e sobrecarga do sistema que
exprimem a medida em que ele pode responder de resistir às exigências. A sobrecarga
pode resultar, quer de uma quantidade excessiva das exigências, quer da sua qualidade
excessiva que não permitem uma resposta antecipada. Desse modo, o sistema político
avalia-se no fundo, como um conjunto de acções que provocam o ajuste constante entre
as exigências do meio ambiente e a capacidade de resposta do sistema. Esse objectivo
de resposta é procurado pelas seguintes funções:
a)Expressão das exigências
b) Depuração das exigências
c) Agregação das exigências
Expressão das exigências – estas são feitas pelos partidos políticos e pelos grupos de
pressão (ex. sindicatos).
Depuração das exigências – procura seleccionar as que têm significado político e
impedir que outras possam assumir relevância política. O próprio aparelho do poder
procura antecipar as suas intervenções de modo a evitar que as exigências atinjam uma
sobrecarga. Os partidos podem, também, assumir uma função depuradora.
Agregação das exigências – procura fazer convergir para alternativas bem definidas e
limitadas as exigências dispersas no meio ambiente total. Esta função é assumida por
exemplo pelos programas dos partidos e pelos programas do governo.
Por sua vez, os apoios de suporte podem ser de três tipos:
- Apoios à sociedade global
- Apoios ao regime, que são os chamados apoios de manutenção
- Apoios ou suportes de órgãos, que são os apoios à personalidade que exerce a
função de autoridade.
Quanto aosoutputs, que engloba a totalidade das respostas do sistema traduzem-se em
normas e acções. As normas dirigem-se imperativamente aos destinatários, as acções
não os atingem directamente mas actuam sobre o meio ambiente condicionando a vida
dos destinatários.
Toda a resposta do sistema acaba por vir a modificar o meio ambiente do sistema
político e desse modo acaba por alterar o fluxo das exigências, estabelecendo assim uma
corrente contínua e infindável de referências em queinputs geramoutputs, que por sua
vez geraminputs, que por sua vez geramoutputs. Isso chama-se efeito de retroacção ou
feed back.
Na sua globalidade, o sistema político é denominado por duas leis principais:
1 – Lei da Homcostase – que diz que os sistemas tendem sempre para o equilíbrio
interno, apesar das pressões e dos factores de alteração que causam desestabilização os
outputs contribuem para manter o equilíbrio.
2 – Lei da Entropia – os sistemas tendem para uma ordem e complexidade cada vez
maiores afim de esbater a força dosinputs sobre o centro de decisão. O sistema vai-se
organizando cada vez melhor de uma forma a esbater a pressão e a fazer com que as
exigências (inputs) causem menos desestabilização.
Os MÉTODOS da CIÊNCIA POLÍTICA
- método de uma ciência: os processos mentais, ou lógico-racionais específicos
mediante os quais desenvolve o seu estudo. A sua actividade tende assim a:
- acompanhar o desenrolar dos fenómenos políticos;
- formular hipóteses, com base nos factos políticos apurados;
- procurar comprovar ou confirmar pela experiência as hipóteses que são
formuladas.
- formular tendências que ajudem a compreender e prever os factos políticos.
Método de investigação e análise em ciência política (perspectivas básicas)
O Prof. Adriano Moreira distingue quatro perspectivas básicas:
1 - a perspectiva das tendências individuais
2 - a perspectiva racionalista
a) teoria do processo de formação das decisões,
b) teoria dos jogos
3 - a perspectiva funcionalista
4 - a perspectiva sistémica
Perspectiva das tendências individuais – esta perspectiva funda-se quando na acção
política os homens são individualmente considerados. O que é importante é o estudo do
comportamento dos indivíduos. Esta perspectiva, mesmo quando para além do
indivíduo ela se dedica a analisar o grupo, nunca se preocupa com a escolha consciente
dos objectivos, pois ela centra a sua atenção no homem e não nos objectivos do grupo.
Perspectiva racionalista – esta perspectiva embora se preocupe com a análise do
grupo, preocupa-se também com a definição dos motivos ou dos factores que entram na
produção da escolha do comportamento político. É uma perspectiva totalizante que para
além de considerar a personalidade básica dos indivíduos ou dos grupos, procura
analisar os objectivos conscientemente. Isto leva a distinguir os objectivos que
pertencem ao domínio da criatividade e as razões que se relacionam com a experiência
acumulada e que se reflecte na personalidade dos agentes políticos considerados a título
individual ou de grupo.
Ao permitir examinar os fenómenos políticos em função das razões e objectivos, a
perspectiva racionalista deu origem a alguns desenvolvimentos metodológicos
conhecidos por processos de formação e decisões dos jogos.
Perspectiva funcionalista – quer a perspectiva das tendências individuais, quer a
perspectiva racionalista inspiram-se no pressuposto que são os homens quem tomam as
decisões políticas e por isso eles colocam em ênfase as variáveis independentes do
ambiente político. A perspectiva funcionalista parte de outro pressuposto: para ela a
explicação dos fenómenos políticos será insuficiente se se limitar a tomar em conta o
comportamento dos agentes políticos a título individual de um grupo e entende que o
comportamento político é essencialmente resultante de uma tensão entre as exigências e
as expectativas que a sociedade global dirige aos agentes políticos e a capacidade de
resposta que elas demonstram no papel de direcção que tiveram.
Segundo esta perspectiva, a acção política é sempre condicionada não apenas pela
personalidade básica do agente, mas também pelo conjunto de funções interdependentes
e conflituantes em que ele se situa.
Perspectiva sistémica – no fundo esta perspectiva sistémica constitui uma tentativa de
síntese de todas as outras perspectivas. A origem deste modelo toma como ponto de
partida um modelo usado na biologia e foi transposto para a ciência política por David
Easton.
15
O Estado é uma entidade abstracta que actua através dos seus órgãos e que é objecto de
interesse de várias ciências. Exemplo: Ciência política, ciência do direito constitucional,
a sociologia política, etc.
Segundo Freitas do Amaral, temos três acepções da palavra “Estado”
1 – Sentido internacional – é o Estado soberano, titular de direitos e obrigações na
esfera internacional (o seu objecto de estudo é o direito internacional)
2 – Sentido constitucional – é o Estado comunidade. É a comunidade de cidadãos que
nos termos do poder constituinte que em si própria (comunidade) se atribui e arroga,
assume uma determinada forma política para prosseguir os seus fins nacionais (Ciência
política, direito constitucional)
3 – Sentido administrativo – aqui o Estado é a pessoa colectiva pública, que no seio da
comunidade nacional desempenha sob a direcção do Governo a actividade
administrativa.
A delimitação do conceito jurídico de Estado em sentido político é feita através de três
elementos:
-O povo – elemento humano
- O território7 – elemento territorial
- O poder político – elemento funcional
Este tipo de Estado definido por estes três elementos é apenas um dos tipos possíveis de
Estado que é o Estado soberano nascido na Europa e difundido pelo mundo.
Definição de Estado, segundo Marcelo Caetano: “Estado é um povo fixado num
território de que é senhor e que dentro das fronteiras desse território institui, por
autoridade própria os órgãos que elaboram as leis necessárias á vida colectiva e impõem
a respectiva execução”8.
7 O território abrange o domínio terrestre (solo e subsolo), o domínio marítimo, o
domínio fluvial (rios), o
domínio lacustre (lagos) e o domínio aéreo. A aquisição do território pode ser originária
ou derivada
(obtida por conquistas)
8 Princípio da legalidade democrática: Todos os Estados estão subordinados à
respectiva Constituição que
tem por finalidade organizar e limitar o poder político. Cada Estado, com base na sua
Constituição exerce a função legislativa, produzindo leis às quais fica subordinado.
Estes aspectos estão consagrados na nossa Constituição (art.º 3.º)
Até fins do século XVI, não existia Estado no sentido em que hoje é entendido pois, de
facto, não existia um território fixo, um poder que se exercia sobre o território e não
existia um vínculo de nacionalidade. Só a partir do séculoXVI, surge o Estado moderno
ou Europeu, no sentido que hoje lhe damos. Este surge em virtude de vários factores e
condições.
Condições espirituais:
1 – A influência do renascimento, a reforma e a contra – reforma.
2 – A passagem da cultura ligada à corte e aos claustros para a cultura de massas.
3 – O espírito científico que começa a ter uma grande importância e que se revolta
contra o regime religioso.
Condições sociais e económicas:
1 – A decadência da nobreza e da aristocracia rural
2 – Os descobrimentos marítimos e a expansão colonial
3 – A ascensão da burguesia
4 – O desenvolvimento do capitalismo
5 – A revolução industrial com o surgir da classe operária, do sindicalismo e dos
conflitos sociais.
Acerca da origem do Estado há várias teses:
1 – Teses naturalistas – que assentam na ideia de o homem é por natureza um ser
gregário que tende a viver em sociedade.
2 – Teses contratualistas - estas teses têm por base uma explicação racionalista com
raízes no renascimento medieval, tendo por substrato a ideia de o homem ser um animal
social com necessidade de viver em comunidade, maior ou menor, de modo a defender-
se melhor e aproveitar as vantagens dessa associação. Para isso, ele reúne-se em
comunidades organizadas, alienando parte dos seus direitos a favor da sociedade geral
em que se integra. Essa incorporação social faz-se através de um contrato social que se
desdobra: por um lado num pacto de união, que é a criação da sociedade organizada e,
por outro, num pacto de sujeição ou submissão, que é a subordinação à vontade da
maioria que escolhe os governantes que vão ditar e fazer executar as regras necessárias
à vida social.
3 – Teses organicistas – que oscilam entre as seguintes vertentes:
-A que entende o estado como uma medida espiritual, ou seja, o espírito do povo.
- A que procura alargar ao domínio jurídico e ao domínio político os esquemas usados
pelos cientistas da natureza que estudam o Estado como um ser vivo.
4 – Tese marxista – para esta tese o Estado surge sem natureza própria perante a
economia, como consequência da sociedade sem classes e uma máquina de domínio de
uma classe sobre as outras.
5 – Teses voluntaristas – o Estado resulta para estas teses de um acto de vontade: de
pequenos grupos ou tribos, ter-se-á passado a outras amplas devido á acção de
indivíduos ou de grupos minoritários, cuja autoridade as massas acabaram por aceitar
com maior ou menor resistência.
6 – Teses Hegelianas – que entende o Estado segundo uma óptica predominantemente
filosófica, vêem o Estado com sendo o espírito objectivo e o indivíduo só como seu
membro que tem objectividade, moralidade e verdade.
Tipos Históricos de Estado
Há várias tipologias9:
Jellinek que distingue entre Estado oriental, Estado Grego, Estado Romano, Estado
medieval e Estado moderno;
Marxista: Estado despótico; Estado esclavagista; Estado feudal; Estado capitalista e
Estado socialista;
Jorge Novais: Estado na fase constitucional e Estado pré-constitucional;
Vamos estudar rapidamente a tipologia de Jellinek:
Estado Oriental
Teocracia, isto é, poder político reconduzido ao poder religioso. O monarca é adorado
como um deus. Há reduzidas garantias jurídicas dos indivíduos, larga extensão
territorial e aspiração a constituir um império universal.
Estado Grego ou polis
O Estado é a comunidade de cidadãos embora existam também os escravos.
9 Pode ser consultado na Enciclopédia Polis uma síntese de Freitas do Amaral, nas pg.
1156-1162
Fundamento da comunidade de cidadãos, inexistência ou deficiência de liberdade fora
do Estado. A pessoa não era um valor em si mesmo, tinha valor ligado só ao poder
político. Pouca importância ao factor territorial (pequena extensão do território; Cidade-
Estado). Diversidade de formas de governo variando de cidade para cidade.
Estado Romano – Século II antes de Cristo ao século IV depois de Cristo.
Desenvolvimento do conceito de poder político como poder supremo e uno, cuja
plenitude pode ou deve ser reservada a uma única origem e a um único detentor.
Consciência da separação entre o Estado (poder público) e o poder privado ( dopater
famílias). Distinção entre direito público e direito privado. São assegurados aos
cidadãos Romanos:
-Direito ao sufrágio
-Direito de contrair casamento legítimo
-Direito de celebrar actos jurídicos comerciais
- Direito a ascender à magistratura
A progressiva atribuição dos direitos aos estrangeiros deu lugar à formação do“ius
gentium”.
Expansão da cidadania num largo espaço territorial, contrastando com o carácter
meramente territorial das monarquias orientais e o carácter pessoal restrito das cidades-
Estado gregas.
O pretenso Estado medieval (Desde o século V até XV)
Durante a Idade Média não é possível considerar a existência de Estado pois a “ ordem
hierárquica da titularidade e exercício do poder político é feita numa relação de
soberanos e vassalos ligados por vínculos contratuais”. Em vez de um conceito de
imperium surge o conceito de dominium, em conexão com os princípios da família e da
propriedade: investidura hereditária; direito de primogenitura; inalienabilidade do
domínio territorial. As comunas, as corporações de mesteres, as universidades, etc.,
cada qual com a sua função formam-se e desenvolvem-se à margem de qualquer
estrutura administrativa organizada. Os direitos não são atribuídos individualmente mas
enquanto membros de um grupo.
Estado moderno ou Estado Europeu (Século XVI até aos dias de hoje)
O Estado moderno vai surgir com a crise do sistema político medieval, podendo
afirmar-se que o processo de criação dos Estados europeus se encontra concluído no
momento de assinatura dos Tratados de Vestefália (1648) que puseram termo à guerra
dos trinta anos. Na base do Estado moderno vai estar o conceito de soberania
desenvolvido por Jean Bodin.
Características:
Estado Nacional, isto é, o Estado tende a corresponder a uma nação ou comunidade
histórica de cultura, deixando de ser o factor de unificação a política, a religião, a raça, a
ocupação bélica.
Secularização ou laicidade – diferenciação entre o temporal e o espiritual; a
comunidade já não tem por base a religião e o poder político não prossegue fins
religiosos.
Soberania – poder supremo dá ao Estado a capacidade para vencer as resistências
internas e permite a afirmação da sua independência em relação aos outros Estados.
O processo de criação do Estado moderno vai implicar: a centralização do poder (acabar
com o poder feudal e com os privilégios atribuídos a determinados estratos sociais;
emancipação política em relação ao Papa e ao Imperador; ligação directa entre o Estado
e o indivíduo (tratamento igual para nobre e plebeu); poder concentrado no Rei com o
surgimento de uma administração burocrática (profissionalizada e hierarquizada).
Na evolução do Estado moderno, os autores fazem algumas distinções de Estado
• Estado corporativo ou estamental(co rt es)
Fins do século XV ao século XVII . Estado de transição – O rei tinha o seu poder
limitado pelas ordens.
• Estado absoluto
Máxima concentração de poder no rei. É no rei que se concentra o poder, a palavra do
rei é lei. O rei era escolhido por Deus. O rei exercia o poder religioso, tinha plena
liberdade para atingir os seus fins.
Soberania – poder supremo dá ao Estado a capacidade para vencer as resistências
internas e permite a afirmação da sua independência em relação aos outros Estados.
O processo de criação do Estado moderno vai implicar: a centralização do poder (acabar
com o poder feudal e com os privilégios atribuídos a determinados estratos sociais;
emancipação política em relação ao Papa e ao Imperador; ligação directa entre o Estado
e o indivíduo (tratamento igual para nobre e plebeu); poder concentrado no Rei com o
surgimento de uma administração burocrática (profissionalizada e hierarquizada).
Na evolução do Estado moderno, os autores fazem algumas distinções de Estado
• Estado corporativo ou estamental(co rt es)
Fins do século XV ao século XVII . Estado de transição – O rei tinha o seu poder
limitado pelas ordens.
• Estado absoluto
Máxima concentração de poder no rei. É no rei que se concentra o poder, a palavra do
rei é lei. O rei era escolhido por Deus. O rei exercia o poder religioso, tinha plena
liberdade para atingir os seus fins.
Neste tipo de Estado há o Estado propriamente dito com soberania e há o Fisco,
entidade de direito privado e sem soberania. Só o Fisco entra em relações jurídicas com
os particulares e só contra este ( Fisco) é que os particulares podem reivindicar direitos
subjectivos.
• Estado de Polícia
Estado como uma associação para a consecução do interesse público, devendo o
príncipe, seu órgão ou primeiro funcionário, ter plena liberdade nos meios para o
alcançar.
• Estado Constitucional, representativo ou de direito
Constitucional porque assente numa Constituição que regula a organização e a
relação com os cidadãos, tendente à limitação do poder.
De Governo representativo porque há uma separação entre a titularidade e o
exercício de poder, sendo que a primeira está radicada no povo, na nação ou
colectividade; e o segundo atribuído a governantes eleitos ou representativos da
colectividade( de toda a colectividade e não de grupos como no Estado estamental)
De Direito porque para garantia dos direitos dos cidadãos se estabelece a divisão
de poder e o respeito pela legalidade ( formal e mais tarde material).
Fases do Estado Constitucional
Após o final da II guerra mundial a evolução do Estado tem de ser compreendida tendo
em consideração os seguintes aspectos:
• Transformação do Estado num sentido democrático, intervencionista, social, em
contraposição com o laissez faire, laissez passer,… liberal;
• Aparecimento e desaparecimento dos regimes autoritários e totalitários;
• Emancipação dos povos coloniais;
• Organização da comunidade internacional e a protecção internacional dos
direitos do homem
Jorge Miranda defende que com o final do século e do milénio se verifica:
1. O desaparecimento de quase todos os regimes autoritários e totalitários;
2. Surgimento desde 1979 de um novo modelo de Estado diverso do Estado europeu: o
Estado do fundamentalismo islâmico em que se unem lei religiosa e lei civil, poder
espiritual e poder temporal;
3.Observa-se no Estado social de Direito sintomas de crise: crise do Estado- providência
por causas administrativas, financeiras, comerciais (quebra da competitividade devido
globalização da economia);
4. Degradação da natureza e do ambiente; desigualdades económicas entre países
industrializados e países não industrializados; situações de exclusão social mesmo nos
países mais ricos; manipulação comunicacional (4º poder); cultura consumista de
massas; desaparecimento de certos valores éticos familiares e políticos.
Estado Totalitário
É um tipo de Estado que assume todo o poder na sociedade e identifica a liberdade
humana com a prossecução dos seus fins.
Os Elementos do Estado
Não existe uma teoria geral sobre a origem e formação do Estado. De facto o Estado
não teve só uma origem mas muitas. Formou-se de maneira independente: em diferentes
lugares, épocas e por diversas formas, por conquistas externas, desenvolvimento
interno, ou por ambos.
Desenvolveu-se um território entre uma combinação de relações territoriais e
consanguíneas.
Contudo a noção de Estado Moderno que é uma sociedade política organizada, fixada
num determinado território e dotada de um poder institucionalizado para satisfazer os
interesses gerais dos seus membros só no século XVI entrou na terminologia política.
Ele surge na Europa com a idade moderna e sob as ruínas do fundamentalismo. Teve
por base o desenvolvimento da economia mercantil e a libertação da sociedade civil do
domínio temporal da Igreja e apoiou-se na concentração do poder nas mãos do príncipe
e no despertar da consciência nacional que vai permitir encontrar um fundamento e um
fim despersonalizado para o poder. Ao contrário do que acontecia nas sociedades
primitivas onde a autoridade política era em regra o prolongamento da autoridade
familiar e das sociedades feudais onde o poder era fortemente personalizado ( pois a sua
propriedade e o seu exército confundiam-se na pessoa daquele que mandava na
sociedade política moderna onde o poder está institucionalizado), quem assegura o
poder é uma instituição despersonalizada: o Estado.
O Estado moderno é pois uma instituição social dotada de um poder racional separado
da pessoa dos governantes e sentido pelos governados.
O conjunto de governantes e de governados formam a população do Estado que vive
num determinado território, segundo regras de conduta, definidas pelos órgãos do poder
e salvaguardadas pelas autoridades públicas (povo, território, soberania).
O Professor Marcello Caetano dá-nos uma definição sucinta de Estado como a de «um
povo fixado num território, de que é senhor, e que dentro das fronteiras desse território
institui, por autoridade própria, órgãos que elaboram as leis necessárias à vida colectiva
e imponham a respectiva execução».
Segundo esta teoria, a organização política, jurídica de uma sociedade dispondo de
órgãos próprios, exercem o poder sobre determinado território, corresponde a um
conceito estático de Estado.
Direcção do estado:
-Chefe de estado.
-Parlamento
- Governo
Corpo do Estado:
- Órgãos administrativos
- Os tribunais
- O aparelho militar
Base do Estado:
- População
Olhando o Estado pela óptica do seu funcionamento integrado, verifica-se que a
pirâmide do poder que corresponde a uma visão estática desaparece na medida em que o
órgão superior do Estado é a representação popular integrada por fracções. As fracções
que formam a maioria sustentam o governo, apoiam projectos legislativos e defendem a
sua política. As outras fracções formam a oposição e criticam o governo. Assim, as
decisões da direcção do Estado dependem de uma vontade que se forma num ambiente
social do próprio Estado, ou seja as associações e a opinião pública bem como os
partidos políticos constituem canais de comunicação entre a sociedade e o aparelho do
Estado.
Cada partido está apoiado em certas organizações às quais pertencem a maioria dos seus
deputados, que defendem os seus interesses no parlamento.
A opinião pública que se expressa através dos meios de comunicação tem influência
directa nas decisões políticas, na direcção do Estado.
A maioria dos estímulos e dos impulsos políticos provêm do ambiente social,
transformando-se em decisões executórias, através do aparelho do Estado.
Estado – é uma sociedade organizada na qual existe um sistema de canais de influência
que nascem em cada um dos cidadãos e que através dos meios de comunicação, das
associações e partidos confluem em unidades cada vez maiores até desembocar nos
órgãos superiores do Estado. Através desses canais circula a energia que sustenta o
aparelho do Estado e o mantêm em movimento. Numa visão dinâmica, o Estado surge-
nos como uma sociedade política integrada caracterizada por uma base social e o
aparelho do estado.
Nação – é uma comunidade de base cultural, ou seja, é uma forma de sociedade
caracterizada por um passado comum, um desejo de viver em comum e aspirações
comuns. Embora a nação tenda a constituir um Estado, não há uma necessária
coincidência entre esses dois conceitos.
Há nações que ainda não são Estados ou que estão repartidos por vários Estados e há
Estados que não correspondem a nação. Por outro lado, se é verdade que, em regra se
parte da nação para se atingir o Estado, casos há também em que é o Estado que depois
de fundado vai formando uma comunidade nacional.
O Prof. Jorge Miranda aponta as seguintes características essenciais do Estado
Moderno:
-complexidade – de organização e actuação com cada vez maior diferenciação de
funções, órgãos e serviços;
-institucionalização do poder – que se encontra despersonalizado, pertencendo à
colectividade como ideia para além dos seus detentores concretos e actuais;
-autonomia – no sentido de uma dinâmica própria do poder e do seu aparelho frente à
vida social;
-coercibilidade – o Estado avoca a si o monopólio do uso legítimo da força;
-sedentariedade – fixação em determinado território;
-secularização - ou laicidade dos fins prosseguidos;
- Poder soberano - concepção de poder em termos de soberania – poder supremo e
independente.
Elementos do Estado
Povo
Território
Poder
POVO
POVO, enquanto elemento do Estado, é aquela colectividade humana que afim de
realizar um ideal próprio de justiça, segurança e bem estar, reivindica a instituição de
um poder político privativo que lhe garanta o direito adequado às suas necessidades e
aspirações, dentro de um território que reclama como seu. Marcel o
Rebelo de Sousa define o povo como o conjunto de cidadãos ou nacionais de certo
Estado.
Povo é diferente de população que tem um sentido significado económico ( é um
conceito demográfico e económico e representa o conjunto de residentes em certo
território sejam cidadãos ou estrangeiros)
Sendo o povo a comunidade dos cidadãos ou súbditos importa determinar quais são as
pessoas que devem ser qualificadas dessa forma, tendo os Estados uma competência
exclusiva na definição das regras de aquisição e perda da cidadania, em conformidade
com o Direito Internacional.
NACIONALIDADE
Ao vínculo jurídico que se estabelece entre um indivíduo a uma comunidade política e
que os integra em certo povo atribuiu-se a designação de Nacionalidade
Existem dois critérios essenciais quanto à atribuição de nacionalidade:
- IUS SANGUINIS (usual nos estados mais antigos)
- IUS SOLI (usual nos estados mais recentes ou com grande influência de imigrações ou
emigrações)
Também é comum distinguir:
- a AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA da nacionalidade;
- de AQUISIÇÃO DERIVADA da nacionalidade.
A nacionalidade pode ser apreciada de duas vertentes:
- enquanto um vínculo jurídico-político;
- enquanto um direito fundamental (questão da dupla cidadania e dos apátridas)
É que a atribuição do vínculo jurídico-político de nacional a determinada pessoa
humana confere-lhe determinados direitos e deveres:
-de participar na vida política do Estado;
- de beneficiar da defesa dos seus direitos dentro do território do Estado;
- de beneficiar da defesa dos seus direitos fora do território do Estado;
- de participar na defesa do território;
TERRITÓRIO
O território é formado por um certo solo e toda a altura do espaço aéreo que lhe
corresponder e, quando banhado por mar, engloba igualmente a faixa das chamadas
"águas territoriais", que abrange normalmente 3 milhas marítimas a contar da costa,
bem como o "terra" que prolonga a costa, subjacente ao mar, até que se abra o
arquipélago profundo – a plataforma submarina ou continental.
Características do território enquanto espaço jurídico próprio do Estado:
-imposição da sua autoridade sobre certo território;
- a atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado depende da
efectividade desse poder;
- os órgãos do Estado encontram-se sempre sedeados no seu território;
-Exclusão de poderes concorrentes de outros Estados sobre o seu território;
-os cidadãos só podem beneficiar da plenitude de protecção dos seus direitos
pelo respectivo Estado no território deste.
Assim o poder do Estado sobre o seu território há-de ser:
-ind ivisível,
-inalienável,
-excl usi vo.
Neste sentido, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa refere que a função do território é
tripla:
1 - Constitui uma condição de independência nacional;
2 -circunscreve o âmbito de actuação do poder soberano do Estado,
3 - Representa um meio de actuação jurídico-política do Estado.
PODER POLÍTICO
O Prof. Marcello Caetano dá-nos a seguinte definição: “Poder Político é a faculdade
exercida por um povo de, por autoridade própria (não recebida de outro poder), instituir
órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas
jurídicas, dispondo dos necessários meios de coacção”.
O Poder Político do Estado reveste-se das seguintes características próprias:
- É um poder constituinte, originário, que tem um fundamento próprio e não
está dependente de qualquer outro poder;
- É um poder de auto-organização, que tem por objectivo permanente e continuado a
criação de condições para a manutenção da segurança, a administração da justiça e a
promoção do bem-estar da comunidade política;
- É um poder de decisão que faz as opções consideradas e adequadas à organização da
vida da comunidade política, designadamente através da criação de normas jurídicas.
O poder político é exercido por um conjunto de órgãos do Estado que são poderes
constituídos e que devem actuar na estrita observância das competências previstas na
lei, estando por isso limitado pelo Direito.
PODER POLÍTICO e SOBERANIA
De acordo com a doutrina de Jean Bodin, cada Povo erigido em Estado teria um
príncipe soberano, entendendo esta soberania como um poder supremo sobre o seu
território que nenhuma lei positiva limita, e um poder independente em relação a todos
os demais poderes humanos.
O Poder Político próprio do Estado é assim um Poder Político Soberano, ou seja,
supremo e independente.
PODER POLÍTICO e DIREITO
Poder político e soberania (aparelho do poder) (existem diferenças).
O poder político – é a faculdade exercida por um povo, por autoridade própria (não
recebida de outro poder), instituir órgãos que exerçam a soberania (o domínio) de um
território e nele criem e imponham normas jurídicas dispondo dos necessários meios de
coação.
A soberania – é uma forma de poder político que corresponde à sua plenitude, é um
poder político supremo e independente. Se uma colectividade tem liberdade plena de
escolher a sua constituição e de se poder orientar no sentido que bem lhe parecer,
elaborando as leis que julgar convenientes. Então essa colectividade forma um estado
soberano.
Mas nem sempre os Estados são soberanos. Há casos em que a colectividade tem
autoridade própria para exercer o poder político formando um Estado e contudo esse
poder político está condicionado por um poder diferente e superior. É o que se passa
com os Estados protegidos, entre outros.
O poder político é exercido dentro do Estado por um conjunto de órgãos do Estado,
designados como poderes constituídos, e que devem actuar na estrita observância das
competências previstas na lei.
O poder político é um poder limitado pelo Direito:
1 - pelo direito interno;
2 - pelo direito internacional; e,
3 – pelos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais.
ESTADO → BEM COMUM
PODER POLÍTICO → INTERESSES DOS GOVERNADOS
A Divisão do Poder Político
A divisão do poder tem a sua origem na contraposição das concepções de Montesquieu
e de Rousseau. Montesquieu faz a apologia de um regime de governo em que o poder
esteja limitado pelo pluralismo político-administrativo e pela separação de poderes.
Rousseau tem uma concepção oposta pois entende que a única função soberana é a
função legislativa.
Jorge Miranda entende que na actualidade a ideia da separação de poderes continua a
ser válida, pelo menos nos seguintes termos:
1.Por imperativo de racionalidade jurídica e necessidade de ordem política deve o poder
estar dividido por órgãos com competências próprias de modo a que os seus detentores
se limitem reciprocamente;
2. Que não há coincidência entre os poderes (legislativo, executivo e judicial) e as
funções do Estado (política, legislativa, administrativa e judicial);
3. É essencial ao Estado de Direito a separação de poderes no que toca ao poder
judicial (reserva da função jurisdicional aos tribunais)
4. É essencial ao Estado de Direito a subordinação dos órgãos administrativos à lei;
5. A efectividade da separação de poderes depende da intervenção de diversos
partidos e forças políticas de poder;
CATEGORIAS de ESTADOS MODERNOS
Estados soberanos; Estados não soberanos; Estados semi-soberanos
Estados Soberanos: são os que desfrutam sobre um determinado território de um poder
supremo, sem igual, na ordem interna e de um poder independente, sem superior na
ordem externa. Para que o Estado seja soberano, o poder de querer e o poder de
comandar não podem estar subordinados a nenhum outro Estado.
Estados soberanos – são aqueles que na ordem interna não admitem que nenhum outro
poder se sobreponha ao seu e na ordem externa gozam todos os direitos na comunidade
internacional, a saber:
- Direito de fazer a guerra
- Direito de legação, direito de receber e enviar agentes diplomáticos
- Direito de celebrar tratos internacionais
- Direito de reclamação internacional
Os Estados soberanos dividem-se em:
- Unitários (Portugal)
-Federais (complexos) (EUA)
Estado unitário – é um Estado simples em que há um só poder para todo o território.
Estados federais10 – são uma união de Estados membros, um só Estado central que se
rege por normas constitucionais comuns a todos os membros. Há dois tipos de
federalismo:
1 – As federações propriamente ditas ou perfeitas (EUA, Suíça, Canadá).
2 – Federações imperfeitas ou fictícias (Brasil, Austrália)
O Estado Federal (Federação ou União) tem o seu órgão legislativo (congresso ou
assembleia), o seu órgão executivo (presidente ou governo federal), os seus Tribunais
Federais, as suas leis e os seus exércitos.
O Estado Federal baseia-se na seguinte dualidade:
- Numa estrutura de sobreposição - «a qual recobre os poderes políticos locais (isto é,
dos Estados federados), de modo a cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas
Constituições, - a federal e a do Estado Federado a que pertence - e ser concidadão de
actos provenientes de dois aparelhos de órgãos legislativos, governativos,
administrativos e jurisdicionais»;
- Numa estrutura de participação - «em que o poder político central surge como
resultante da agregação dos poderes políticos locais, independentemente do modo de
formação»;
Jorge Miranda aponta os seguintes princípios directivos dos Estados Federais:
1º - Dualidade de "soberanias";
10 Três teorias sobre a construção do Estado federal:
1 – Teoria do Estado federal de dois membros 2 – Teoria do Estado federal de três
membros 3 – Teoria dos chamados Estados-partes
No primeiro caso – os estados federados são parte da federação e estão a ela
submetidos. Esta teoria
defende a primazia da federação sobre os Estados federados.
A segunda teoria – os Estados federados formam juntamente com a federação uma
república federal e atribui a esta república a qualidade de Estado. Esta teoria nega a
primazia da federação sobre os Estados federados.
A terceira teoria – a federação e os Estados federados são membros de igual categoria
de um conjunto que entre si mesmo, não tem qualidade estatal, ou seja, não dá a
qualidade de Estado á república federal e também nega a primazia da federação sobre os
Estados federados.
Diferenças entre federação e confederação:
Confederação de Estados – é uma associação de Estados criada por um tratado
internacional do qual resulta a instituição de órgãos comuns para prosseguir certos fins,
geralmente internacionais. Exemplo: Cantões Suíços até 1848 e dos EUA entre 1781 e
1787.
Federação – é uma simples associação de Estados, embora muitas vezes tenha acabado
por constituir um
Estado.
2º - Participação dos Estados Federados na formação e na modificação da Constituição
Federal;
3º - Garantia (a nível da Constituição Federal) da existência e dos direitos dos Estados
Federados;
4 º - Intervenção institucionalizada dos Estados Federados na formação da vontade
política e legislativa federal;
5º - Igualdade jurídica dos Estados Federados;
6º - Limitação das atribuições federais;
A questão da repartição de matérias entre Estado Federal e os Estados Federados pode
também dividir-se em duas formas:
- a repartição horizontal ou material (federalismo clássico - EUA e Suíça) «em que o
dualismo de soberanias envolve um dualismo legislativo e executivo (O Estado Federal
faz e executa as suas Leis, e o mesmo acontece com os Estados Federados)»
- a repartição vertical (federalismo cooperativo - Alemanha) «em que o Estado Federal
legisla e define as bases gerais da legislação e os Estados Federados executam e
desenvolvem as bases gerais»
Diferenças entre Estado Federal e Estado Unitário regional:
1ª - Ao nível do Poder Jurisdicional;
2ª - Ao nível do Poder Constituinte;
3º - Ao nível da atribuição do Poder residual.
Estados Não Soberanos são os que não desfrutam de nenhuma prerrogativa na ordem
externa, mas têm um poder superior na ordem interna. Há situações em que determinada
colectividade tem autoridade própria para exercer poder político sobre um determinado
território, constituindo um verdadeiro Estado, no entanto, esse exercício do poder
político está condicionado por um poder diferente e superior. Os Estados federados
são a única modalidade actual de Estados não soberanos embora também tenha
existido a união real11.
11 A união real – é uma associação de união de Estados que dá lugar á criação de um
novo Estado, no qual alguns dos órgãos dos Estados associados passam a ser comuns.
Exemplo histórico: Portugal e Brasil, entre 1815 e 1926.
Os Estados federados existem quando um certo número de colectividades territoriais,
politicamente organizadas decidem unir-se e aceitam mediante a adopção de uma
constituição comum, transferir para os órgãos da união os seus poderes soberanos de
ordem externa e reconhecem a estes órgãos competência para decidir sobre alguns
domínios da sua ordem interna.
Os Estados federados continuam a ser verdadeiros Estados12, pois podem elaborar as
suas próprias constituições e fazer leis no domínio da sua competência e dispõem de
meios próprios para fazer respeitar essas leis, mas não são Estados soberanos:
1. Porque as suas constituições têm que respeitar a constituição federal;
2. Porque as suas leis têm que se subordinar ás leis que provem dos órgãos da
federação, isto é devem obediência à constituição federal;
3. Porque não podem abandonar a federação por vontade própria;
4. Porque não podem manter relações internacionais próprias, pois perdem o direito de
legação, o direito de celebrar tratados, o direito de fazer a guerra e o direito de
reclamação internacional a favor do Estado federado.
Os Estados Semi-Soberanos são os que possuem certas prerrogativas na ordem externa
e reconhecem um poder igual ou superior na ordem interna. Por sua vez estes Estados
semi-soberanos dividem-se em:
- Estados protegidos de protectorados - Estados exíguos (pequenos Estados) - Estados
neutralizados
Estado protegido13 de protectorado é a situação que resulta de um acordo entre
Estados soberanos, pelo qual um Estado assume a obrigação de proteger outro,
recebendo total ou parcialmente a gestão das relações internacionais do Estado
12Os ESTADOS FEDERADOS têm o seu órgão legislativo (parlamento ou
assembleia), o seu órgão
executivo (governo estadual), os seus Tribunais Estaduais, as suas leis e a sua polícia
armada.
13 Nos ESTADOS PROTEGIDOS existe: povo; território; poder político efectivo
internamente. Mas está
dependente do Estado Protector para as relações internacionais, e para aconselhamento
na resolução de questões internas. Podemos assim considerar que o Estado Protegido é
verdadeiramente um Estado, mas não é soberano pois não é independente nem supremo
nas suas decisões.
protegido e alguns casos, a própria política interna. Exemplo: Tunísia, Marrocos,
protegidos pela França; Manchúria pelo Japão.
O Estado protegido não perde totalmente a soberania, porque não tem que respeitar
a constituição do Estado protector, mas apenas o tratado que celebrou com ele.
Estados exíguos – são comunidades políticas que pela sua diminuta extensão
territorial e escassa população não tem condições de exercer plenamente a sua soberania
em especial ou “ius belli” (direito de fazer guerra). Exemplo: Andorra, Mónaco e S.
Marino.
Estados neutralizados – são aqueles que por vontade própria e de acordo com a
vontade manifestada pelas principais potências internacionais gozam de um estatuto de
neutralidade. Através da aceitação desse estatuto, o Estado neutralizado abdica do
direito de fazer guerra, excepto nas situações de legítima defesa, perdendo a sua
prerrogativa de soberania externa. Normalmente é aceite a neutralização do Estado
quando se pretende pôr fora das lutas políticas e militares e dispor de zonas de paz em
períodos de conflito global. Exemplo: Suíça
ESTADOS UNITÁRIOS ≠ ESTADOS COMPLEXOS
Estados Unitários: aqueles em que existe apenas um poder político, podendo, no
entanto, existir uma descentralização política ao nível territorial, caso em que
distinguiremos entre Estados unitários centralizados e Estados unitários regionais.
Estado complexo ( ou composto): aquele que agrega diversos Estados num outro de
hierarquia superior, sendo que o poder político é repartido entre o Estado “mãe” e os
estados agregados, de tal modo que o povo e o território ficam sujeitos simultaneamente
a dois poderes políticos.
Estados Unitários
Descentralização Política: consiste na existência de províncias ou regiões que se
tornam politicamente autónomas por os seus órgão desempenharem funções políticas,
participarem ao lado dos órgãos estaduais no exercício de alguns poderes ou
competências de carácter legislativo ou governativo.
alização política é distinta de:
-desconcentração;
-descentralização-administrativa;
-regionalização;
-autonomia-política;
-federalismo.
Não há descentralização jurisdicional em Estados Unitários.
Estado Unitário Centralizado Ou Clássico: os órgãos políticos nacionais conservam na
sua esfera todo o poder legislativo e executivo.
Estado Unitário Regional: atribuem-se, por um processo de descentralização política, a
entidades infra-estaduais «poderes ou funções de natureza política, relativas à definição
do interesse público ou à tomada de decisões políticas (designadamente, de decisões
legislativas)».
O Estado Unitário Regional pode dividir-se entre:
-integral e parcial;
-homogéneo e heterogéneo;
- regiões com fins gerais e regiões com fins especiais;
Estados Unitários
Descentralização Política: consiste na existência de províncias ou regiões que se
tornam politicamente autónomas por os seus órgão desempenharem funções políticas,
participarem ao lado dos órgãos estaduais no exercício de alguns poderes ou
competências de carácter legislativo ou governativo.
alização política é distinta de:
-desconcentração;
-descentralização-administrativa;
-regionalização;
-autonomia-política;
-federalismo.
Não há descentralização jurisdicional em Estados Unitários.
Estado Unitário Centralizado Ou Clássico: os órgãos políticos nacionais conservam na
sua esfera todo o poder legislativo e executivo.
Estado Unitário Regional: atribuem-se, por um processo de descentralização política, a
entidades infra-estaduais «poderes ou funções de natureza política, relativas à definição
do interesse público ou à tomada de decisões políticas (designadamente, de decisões
legislativas)».
O Estado Unitário Regional pode dividir-se entre:
- integral e parcial;
- homogéneo e heterogéneo;
- regiões com fins gerais e regiões com fins especiais;
Estados Complexos (Ou Compostos)
A «União Real»: resulta da fusão entre dois Estados Soberanos, da qual resulta a
criação de órgãos comuns de exercício de parte do poder político que exercem em
cumulação com os órgãos de cada Estado Soberano que se mantém. (Ex. Portugal e
Brasil de 1815 a 1822).
O que é distinto da União Pessoal que resulta apenas da coincidência do titular do órgão
executivo do Estado (ex.: Portugal e Espanha entre 1580 e 1640).
Estados Complexos (Ou Compostos)
A «União Real»: resulta da fusão entre dois Estados Soberanos, da qual resulta a
criação de órgãos comuns de exercício de parte do poder político que exercem em
cumulação com os órgãos de cada Estado Soberano que se mantém. (Ex. Portugal e
Brasil de 1815 a 1822).
O que é distinto da União Pessoal que resulta apenas da coincidência do titular do órgão
executivo do Estado (ex.: Portugal e Espanha entre 1580 e 1640).
Fins e funções do Estado
São fins do estado os objectivos comuns que um Povo visa alcançar pela instituição de
um Poder Político em determinado Território.
São funções do estado as «… actividades desenvolvidas pelos órgãos do poder político
do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos que se lhes encontram
constitucionalmente cometidos.» (Jorge Miranda)
Os fins do Estado – estão sujeitos à evolução histórica e à variação da conjuntura
(económica e social)14
• Estado de Polícia: Estado Totalitário → Estado de poder absoluto →
regulamentação e fiscalização de todos aspectos da vida social.
• Estado Liberal: Advento dos Direitos do Homem → garantir a plena realização
das liberdades individuais dos cidadãos, → SEGURANÇA e JUSTIÇA, enquanto
garantia de dar a cada um o que é seu. no Estado de direito liberal, caracterizado pelo
abstencionismo e capitalismo concorrencial, do ponto de vista económico e por um
regime democrático liberal, do ponto de vista político, o objectivo primordial era o da
segurança.
O que interessava era que todos fossem iguais perante a lei, embora essa igualdade
se reconduzi-se apenas a um ponto de vista formal.
• Estado de Direito: Instituição dos princípios da democracia e da igualdade →
assegurar a igualdade de oportunidades →
SEGURANÇA e JUSTIÇA,
enquanto garantia de liberdade colectiva e igualdade efectiva de direitos.
• Estado Social de Direito: Consciencialização social colectiva → garantia de
condições de dignidade humana mínimas → SEGURANÇA e JUSTIÇA + BEM-
ESTAR social, económico e cultural dos cidadãos. No Estado social de direito, que
reflecte a passagem do capitalismo concorrencial para o intervencionismo passou a dar-
se prevalência ao objectivo da justiça, quer comutativa, quer distributiva, tratando-se de
uma igualdade de situações
14 Segurança (individual e colectiva)
Justiça – satisfazer a ideia de justiça, da colectividade: Justiça comutativa e Justiça
distributiva
Desenvolvimento económico e social – O Estado deve promover as condições de vida
dos cidadãos,
manter o acesso a bens e serviços a toda a comunidade.
económicas e sociais mais do que uma mera igualdade formal dos direitos. O Estado
procura criar estruturas para defesa dos direitos económicos, sociais e culturais, indo
além da simples defesa dos direitos civis e políticos.
FINS DO ESTADO MODERNO (Estado Social de Direito)
• a SEGURANÇA - interna e externa.
• a JUSTIÇA - realização e fiscalização de normas que regulem a sociedade em
razão da satisfação do sentimento de Justiça da sociedade, que pode revelar-se
em dois sentidos:
1 - a Justiça comutativa
2 - a Justiça distributiva
• o BEM-ESTAR - bem estar não só físico, mas também económico, social,
cultural e mesmo ecológico. Não só na promoção destas condições, como na garantia de
acesso de todos aos serviços essenciais do Estado, e na obrigação de prestar esse
serviços em igualdade de circunstâncias a todos os cidadãos. É a actual "cultura" dos
serviços públicos.
Os fins do Estado da nossa constituição (CRP)
- Artigo 1.º - “Portugal é uma república soberana”
- Artigo 2.º - “Visa a realização da economia”
- Artigo 9.º , alíneas a, b, c e d – “Segurança colectiva e segurança individual, ….”
FUNÇÕES DO ESTADO
Funções do Estado – são as actividades levadas a cabo pelos órgãos do poder político,
com vista á realização dos fins ou objectivos consagrados na Constituição.
Cada órgão realiza um conjunto de actos independentes ou dependentes de actos de
outros órgãos, mas todos eles tendo em vista a prossecução de fins comuns.
As funções do Estado são:
-Função política (legislativa e governativa)
- Função administrativa
-Função Jurisdicional
Classificação de Estado, segundo as actividades que desenvolvem:
-Estado gestor – O Estado assume a tarefa de organizar os meios necessários e de
desempenhar as actividades adequadas á realização do bem comum. Neste tipo de
Estado, ele realiza por si próprio as finalidades que certamente integram os seus
objectivos.
-Estado árbitro – O Estado confia inteiramente na iniciativa e na capacidade das
instituições públicas e deixa ao critério a escolha dos meios adequados á realização dos
fins da comunidade política, acredita que uma lei natural conduzirá à harmonização
final dos resultados da livre iniciativa. Nesta classificação o Estado assume apenas o
papel de árbitro, assegurando as regras mínimas da competição.
-Estado coordenador – embora confie na livre iniciativa dos indivíduos e das instituições, o
Estado não confia na existência de uma lei natural que conduza à harmonia final dos
resultados e prefere ser ele próprio a promover essa harmonia.
Estado revolucionário – em vez de tomar as atitudes de disciplina e correcção das
estruturas existentes para realizar as suas finalidades concretas. O Estado pode entender
que para essa realização ele necessita de alterar as estruturas, transformando-as de
forma a atingir o que ele entende ser o bem comum.
O Estado gestor tem um plano imperativo.
O Estado concorrencial tem um plano indicativo
O Estado árbitro não tem plano
O Estado revolucionário não tem plano, é um Estado de excepção.
Muitas vezes, o Estado não é gestor, nem coordenador em sentido rigoroso e puro na
sua totalidade, já que o plano pode ser imperativo para o sector público e meramente
indicativo para os sectores privados e cooperativos (é o que acontece entre nós, pela
constituição).
O Prof. Jorge Miranda, refere dois sentidos em que podemos analisar as FUNÇÕES DO
ESTADO:
1º - «… como fim, tarefa ou incumbência, correspondente a certa necessidade
colectiva ou a certa zona da vida social» - traduz a realização dos fins do Estado
enquanto legitimação do exercício do poder!
2º - «… como actividade com características próprias, passagem a acção, ou modelo de
comportamento» - que traduz a actividade desenvolvida pelo Estado através dos seus
órgãos, contínua a repetida, definida pelas estruturas e normas jurídicas que conformam
o seu comportamento»
Neste conceito de FUNÇÃO DO ESTADO enquanto actividade, o Prof. Jorge Miranda
distingue 3 características:
a)é uma actividade específica e diferenciada, pelos seus elementos (1) materiais – as
respectivas causas e resultados que produz – (2) formais – os trâmites e as formalidades
que exige - (3) orgânicas – os órgãos ou agentes por onde corre;
b) é uma actividadedu rado ura – prolonga-se indefinidamente;
c) é uma actividadeglobalizada – tem de ser encarada como um conjunto, e não
como uma série de actos avulsos.
O Prof. Jorge Miranda propõe uma DISTINÇÃO entre funções fundamentais e
funções complementares, acessórias ou atípicas:
FUNÇÕES FUNDAMENTAIS: Correspondem à divisão tripartida entre função política
(que incluí a função legislativa e a função governativa), função administrativa e função
jurisdicional.
FUNÇÕES COMPLEMENTARES, ACESSÓRIAS E ATÍPICAS: Traduzem-se em actos
do Estado, de carácter residual, que não se reconduzem às funções fundamentais ou
clássicas. São exemplos:
- a actividade do Ministério Público em processo penal;
- Órgãos que interferem no exercício da função administrativa sem dependeram da
direcção ou superintendência do Governo – Comissão Nacional de Eleições.
Assim a FUNÇÃO POLÍTICA será:
- do ponto de vista material: a definição primária e global do interesse público,
interpretação dos fins do Estado e escolha dos meios adequados para atingir em cada
conjuntura esse fins; direcção do Estado;
- Do ponto de vista formal: liberdade e discricionariedade, quer quanto ao conteúdo
(desde que respeitando as normas Constitucionais) quer quanto ao tempo e
circunstâncias de actuação (ausência de sanções jurídicas específicas);
- Do ponto de vista orgânico: competência atribuído a órgãos ou colégios em conexão
directa coma forma e sistema de governo, com pluralidade de órgãos , ausência de
hierarquia e apenas relações de responsabilidade jurídica.
A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA será:
- Do ponto de vista material: a satisfação constante e quotidiana das necessidades
colectivas, prestação de bens e serviços;
- Do ponto de vista formal: iniciativa no sentido das necessidades, e parcialidade na
prossecução do interesse público.
- do ponto de vista orgânico: dependência funcional e subordinação.
A FUNÇÃO JURISDICIONAL será:
- do ponto de vista material: a declaração do direito, decisão de questões jurídicas, seja
em concreto seja em abstracto;
- Do ponto de vista formal: passividade (actua apenas perante a iniciativa de outrem) e
imparcialidade;
- Do ponto de vista orgânico: independência de cada órgão (sem prejuízo do direito de
recurso), e, em princípio atribuição a órgão específicos, os Tribunais, formados por
juízes.
Artigo 61.º - Iniciativa privada, cooperativa e auto gestionária.
Artigo 82.º - Os sectores da propriedade dos meios de produção.
Estrutura orgânica do aparelho do poder:
A colectividade constituída em sociedade política actua como uma unidade, tem
interesses colectivos, só seus, de atingir e para os realizar necessita de impor a sua
vontade
É uma pessoa colectiva e para formar e afirmar a sua vontade, a pessoa colectiva precisa
de uma organização, ou seja, estrutura-se segundo uma diferenciação de funções, na
qual se distinguem as missões e as tarefas a desempenhar pelos indivíduos e se repartem
os poderes e deveres que competem a cada um.
Aparecem portanto, certos elementos aos quais é reconhecida de forma expressa ou
tácita a autoridade para exprimir a vontade colectiva, são os cargos.
Nas sociedades antigas não se notava, de início, pela separação entre os cargos e as
pessoas que os exerciam, havia a chamada personalização do poder. Mas a sucessão dos
indivíduos, nos cargos, veio a fazer salientar a diferença entre o cargo em si e o
respectivo titular.
Aos cargos, colégios de assembleias, aos quais, segundo a ordem constitucional o poder
de manifestar uma vontade imputável ao Estado, chamam-se órgãos do Estado.
O facto de numa colectividade existirem membros seus que actuam como titulares dos
seus órgãos, ou seja, como encarregados de formar e manifestar a vontade da
colectividade, sem ao mesmo tempo deixarem de tratar os seus interesses individuais,
exige o estabelecimento de normas que digam com o é que o individuo deva agir
quando actua como titular do órgão do Estado.
A ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO DO ESTADO
O Estado desdobra-se em duas facetas:
-ES TADO -SO CIEDADE (ou colectividade) - que representa um povo, senhor de um
território, ao serviço do qual existe um poder organizado;
-ES TADO-PODER (ou governo) - que representa a estrutura pela qual se exerce o
poder político, de certa forma, representa a institucionalização do poder político.
“O ESTADO-PODER”
ESTADO
↓
PESSOA COLECTIVA
↓
PERSONALIDADE JURÍDICA
→ distinta de cada uma das pessoas físicas que compõem a comunidade e dos próprios
governantes e
→ comcapacidade para manter relações jurídicas com outras entidades, tanto no
domínio do Direito interno como no do Direito Internacional, tanto na veste de Direito
Público, como sob a do Direito privadoESTADO
↓
PESSOA COLECTIVA
↓
ORGANIZAÇÃO
↓
actua através de ÓRGÃOS
Órgãos do Estado: são as entidades às quais a ordem constitucional reconhece o poder
de manifestar a vontade imputável ao Estado.
O estado manifesta-se na vida jurídica através dos seus órgãos e os titulares dos seus
órgãos quando actuam nos termos da lei produzem actos imputáveis aos órgãos e que
como tais passam a ser imputados ao Estado. Isto significa que a vontade do indivíduo
que actua como órgão do Estado é imputada ao Estado.
Órgão do Estado – é o centro autónomo institucionalizado da invocação de uma
vontade que é atribuída ao Estado. Cada órgão diferencia-se dos demais, pelo conjunto
de poderes jurídicos que recebe para esses fins e estrutura-se em função desses poderes
e insere-se na estrutura do Estado.
O conceito de órgão implica quatro elementos inseparáveis15:
1 – A instituição (ou oficio)
2 – A competência – o complexo de poderes funcionais que são cometidos ao órgão, ou
seja, a parcela de poderes públicos que lhe cabe. A competência pode ser delimitada em
razão da matéria, da hierarquia, do território, do tempo e do valor dos actos. A
competência deriva obrigatoriamente da lei, não se presume.
3 – O titular – a pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que em cada momento
encarnam a instituição e formam a vontade do órgão.
4 – O cargo ou mandato – quando se trata de órgão electivo (são eleitos).
CLASSIFICAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO ESTADO
Classificação Estrutural:
15 Conceitos essenciais:
competência dos órgãos do estado - complexo de poderes funcionais que estão
cometidos a
determinado órgão e que determinam a capacidade de acção do órgão, na medida em
que o órgão
do estado não pode actuar sem ser em conformidade com a competência que está
prevista na lei.
"titular" (ou "titulares") dos órgãos do estado - pessoas físicas através das quais os
órgãos do
Estado actuam, e cujos actosi mp ut á mo s aos órgãos do Estado
41
a) singulares / colegiais;
b) simples / complexos;
c) electivos / não electivos;
d)representativos / não representativos;
e)constitucionais / não constitucionais;
f) de existência obrigatória / de existência facultativa;
Classificação Funcional
a)deliberativos / consultivos;
b) a se / auxiliares;
c) de competência originária / de competência derivada;
d) legislativos / governativos / administrativos /
jurisdicionais;
e) de decisão / de controlo / de fiscalização / de garantia;
Classificação Estruturais-Funcionais
a)externo / internos;
b)políticos / não políticos;
c)primários / vicários;
d)centrais / locais;
e) hierarquizados / não hierarquizados
Os órgãos superiores do Estado
Os Estado têm usualmente 3 órgãos de direcção: o Chefe de Estado, oParl amento (ou
assembleia) e oGov erno.
O Chefe do Estado
Quase todos os Estados tem um órgão supremo que garante a sua unidade e que
genericamente se designa por chefe do estado. A chefia do Estado pode revestir um
carácter singular (Imperador, Rei, Presidente da República) ou um carácter colegial (o
caso de duunviratos e triunviratos em que a chefia do Estado era feita por 2 ou 3, e os
directórios que são as chefias colegiais). O chefe de Estado pode ser designado por
herança (monarquia), por cooptação (nos sistemas colegiais) ou eleição.
A designação do chefe do Estado podem variar de país para país e de regime político
para regime político, consoante as épocas, podendo limitar-se á mera representação
protocolar do Estado ou abranger o exercício efectivo da autoridade no domínio
governativo.
Funções – quando às assembleias políticas o chefe do Estado pode ser considerado um
mero delegado delas, não possuindo poderes próprios ou noutro extremo ao chefe do
estado compete fazer eleger as assembleias políticas, convocar as suas sessões, adiá-las,
interrompe-las ou até dissolve-las.
- Em relação à legislação também pode haver várias hipóteses:
1 – O chefe do estado não tem qualquer intervenção na elaboração e publicação das leis.
2 – Tem uma intervenção que se reduz à declaração solene de que a lei foi feita pelo
órgão competente e manda publicar a lei (promulgação).
3 – Direito a demorar a promulgação das leis que lhe forem enviadas pelas assembleias
legislativas e a devolver-lhas para que repensem certas disposições, pedindo que de
novo a discutem e votem (direito de veto suspensivo).
4 – Exigência de concordância por parte do chefe do Estado para que a lei seja posta em
vigor. Esta intervenção da vontade do chefe do Estado tem carácter constitutivo na
formação na formação da lei e chama-se ratificação.
5 – O chefe do Estado é o único legislador (ditaduras, monarquias absolutas) ou em
situações de perigo excepcional ou de calamidade pública.
- Quanto às nomeações dos ministros, as soluções mais correntes são:
1 – O chefe do Estado não tem qualquer iniciativa nesta matéria, limita-se a acatar a
escolha feita pelo paramento ou pelo chefe do partido que ganhou as eleições, ou no
caso das ditaduras, do partido único.
2 – Pode escolher os ministros (o governo), mas apenas dentro das indicações
parlamentares. Mas a permanências dos ministros no poder dependerá a partir dai dos
votos de confiança das assembleias políticas.
3 – Pode escolher os ministros por sua livre vontade sem depender da indicação ou dos
votos das assembleias políticas ou dos partidos.
- Quanto ao exercício do governo:
1 – O chefe do Estado alheado da intervenção nas decisões governativas e apenas tem o
direito de ser informado e o direito de aconselhar.
2 – Embora não participe no exercício efectivo do governo, acompanha este de muito
perto e pode desempenhar de forma efectiva certas atribuições, conferidas por lei.
Exemplo: nomeação de altos funcionários, direcção de organismos superiores da defesa
nacional ou de relações internacionais.
3 Detém por direito o poder governativo, embora deva entregar o exercício a um
primeiro-ministro, perante ele responsável, com maior ou menor liberdade de orientação
da política interna e externa.
4 – O chefe do Estado é simultaneamente chefe do governo e exerce em colaboração
com os secretários ou ministros da sua confiança, as funções governativas.
- Quanto à função judicial: temos várias hipóteses:
1 – O chefe de Estado não tem quaisquer atribuições relativas aos tribunais e á execução
das penas.
2 – Pode com ou sem a referenda do ministro da justiça, exercer atribuições de
clemência e indultando ou comutando penas criminais.
3 – Preside ao órgão superior da magistratura, ajudando com ele na organização dos
tribunais.
4 – Em certos casos, o chefe de Estado exerce a função de julgar.
No Estado Português os poderes do Presidente da República estão descritos na C.R.P.
nos artigos 120.º a 140.º
O PARLAMENTO
-órgão colegial por excelência;
-cabe primordialmente a função legislativa;
-podem ter igualmente funções consultivas e de fiscalização;
- finalmente podem intervir no processo de formação ou destituição do governo.
A existência das assembleias representativas ou políticas (parlamentos), tornou-se
comum á maioria dos Estados contemporâneos, sendo as excepções a esta regra poucas
(ditaduras militares, regimes revolucionários e oligarquias tradicionais). A natureza, os
poderes, funções, estrutura e funcionamento dos parlamentos variam muito de país para
país, mesmo com sistemas constitucionais semelhantes. Essa variação depende de
muitos factores, designadamente da estrutura vertical do Estado, o sistema eleitoral, o
sistema de partidos e o sistema de governo.
Natureza e composição dos parlamentos
Podem integrar membros de uma classe aristocrática, designados por herança ou
pessoas nomeadas intencionalmente ou temporariamente pelo chefe do Estado ou
governo, ou pessoas delegadas de vários grupos de interesses de profissionais ou
representantes dos partidos políticos eleitos por sufrágio que pode ser directo ou
indirecto, universal ou restrito.
Poderes e funções dos parlamentos
Variam de país para país e de acordo com o sistema de governo. Geralmente compete-
lhes a votação das leis financeiras: lançamento de impostos e autoliquidação anual da
sua cobrança; a fixação da receitas e despesas do Estado através da aprovação do OGE
(orçamento geral do estado). Pertence-lhes, também, exclusiva ou cumulativamente com
outros órgãos, a função legislativa, estando esta função cada vez mais reduzida á
aprovação das bases gerais dos regimes jurídicos e ao condicionamento da autorização
por eles dada ao governo para publicar leis e decretos-leis.
Na teoria clássica da separação de poderes o poder legislativo cabia exclusivamente ao
parlamento, competindo ao governo e à administração a tarefa de executar as leis
adoptadas. Mas as tendências constitucionais contemporâneas caracterizam-se pela
redução progressiva do papel dos parlamentos na elaboração das leis.
Actualmente, na generalidade dos Estados as leis são mais produtos dos governos do
que dos parlamentos. As razões para esta desvalorização da função legislativa e do
declínio dos parlamentos são as seguintes:
- A multiplicação das tarefas legislativas exigidas pelo estado de direito social
(Welfarestate) ou Estados de providência.
- A tecnicidade cada vez mais exigida.
- A lentidão dos processos parlamentares, que não se coaduna com as exigências
crescentes.
- O receio da impopularidade resultante de votações de medidas que desagradem aos
eleitores.
- A razão política que dando competência legislativa ao governo, tal constitui um meio
de evitar determinadas leis fossem discutidas no parlamento e sujeitas á contestação da
oposição parlamentar.
Estrutura e funcionamento dos parlamentos
Também variável conforme a constituição da cada país.
Os parlamentos podem ser de dois tipos estruturais:
Monocamarais – uma só assembleia
Bicamarais – Assegurados por duas assembleias
As câmaras altas são, em alguns casos, não eleitas (Grã Bretanha) ou então parcialmente
eleitas. A regra é a eleição, embora por um processo diferente do da primeira câmara.
No que diz respeito ás funções das câmaras altas, elas também são diferentes de Estado
para Estado.
Em certos países existe o bicamaralismo perfeito: significa que as duas câmaras
concorrem em igualdade de circunstâncias e igualdade de poderes para a elaboração das
leis e têm a mesma competência para fiscalizar a actividade do governo e da
administração pública. Noutros Países, a segunda câmara tem poderes legislativos e de
fiscalização política menos amplos que a primeira. Neste sistema só a câmara baixa
(primeira câmara) tem poderes para deliberar e o seu voto é suficiente para fazer
aprovar as leis. A câmara alta (segunda câmara), serve para sugestões de alterações,
aditamentos de impressões, levando a que se pondere e redija melhor as leis, podendo
dispor de voto suspensivo ou de mera competência consultiva.
Quer seja bicamaralismo ou monocamaralismo, os parlamentos podem funcionar em
reuniões plenários em que são convocados todos os membros ou em comissões que
podem ser permanentes ou especiais (comissões ad doc) ou em secções (que são grupos
de trabalho).
O Governo
- composto por Ministros;
- compete a autoridade de orientação política dos serviços públicos e a chefia desses
serviços e pessoal
- ao governo cabem, assim, as funções político-executivas e administrativas, embora
possam também ter atribuídas funções legislativas reduzidas;
Também chamado de executivo – as suas estruturas e competências variam de Estado
para Estado, consoante o tipo de relações que estabelecem entre os três órgãos supremos
do estado: O chefe do estado, o parlamento e o governo.
Aulas seguintes a 12-10-2006
SISTEMAS POLÍTICOS (ou de Governo)
Os sistemas políticos (oude gove rno) definem-se pelo relacionamento dos diferentes
órgãos encarregados do exercício do poder, ou seja, reflectem a estrutura interna do
poder político: a existência ou não de pluralidade de órgãos de poder, as suas
competências, relações e interdependências.
O principal elemento dos sistemas políticos é a sede do poder e todo o processo
político se traduz, essencialmente, na luta pela sua ocupação e manutenção. Há que
distinguir entre a sede do exercício do poder e a sede de apoio; e entre a sede de apoio
do poder e sede efectiva ou real.
A sede do exercício do poder é o órgão ou conjunto de órgãos sem o consentimento dos
quais o poder não está disponível. É o elemento que mais interessa para identificar o
sistema de governo pois ele diz respeito ao próprio aparelho do poder. A sede de apoio
diz respeito aos grupos, aos extractos sociais e classes que estão numa relação de
obediência consentida com o aparelho do poder e que quer de uma forma
activa, quer de uma forma passiva, não formam uma resistência que implique uma fonte
de competição pela ocupação do poder ou mesmo o eventual uso da força.
A sede efectiva diz respeito aos grupos de órgãos que têm capacidade de influenciar ou
até de controlar o exercício do poder.
A entrega da sede do exercício do poder ao partido maioritário é uma
consequência do princípio da legitimidade democrática. Ela anda associada à sede
de apoio, pois se esta deixar de se manifestar, quer de modo activo através da militância,
quer de modo passivo, baseado numa obediência silenciosa ou no alheamento á sede do
exercício do poder, dificilmente poderá continuar a exerce-lo. Em regra,as
Constituições situam a sede do exercício do poder num dos órgãos supremos do
Estado. É esse órgão que responde perante o eleitorado, pela política geral da
governação do país e é essa importância em relação aos outros órgãos de soberania
que permite identificar o sistema de governo.
Assim conforme os órgãos legalmente proeminentes (importantes) do aparelho de
Estado são: o parlamento e o governo ou o chefe do Estado e a assembleia parlamentar,
encontramo-nos perante sistemas de governo parlamentares ou presidencialistas, ou de
convenção ou assembleia, ou regimes mistos entre os quais osemi-
presidencialista. Para esta caracterização será necessário atendermos a 3 conceitos:
- separação de poderes;
- dependência, independência ou interdependência dos órgãos;
- responsabilidade política;
Sistema de governo
- Sistema presidencialista
- Sistema de assembleia ou convenção
- Sistema semi-presidencialista
Sistema de governo parlamentarista:
Exemplo: Grã Bretanha, Alemanha, Itália
Neste sistema, o governo compreende, em regra, um chefe do executivo, que se pode
chamar primeiro-ministro, presidente do conselho, chanceler; também tem ministros
com funções e competências diversas e, ainda, tem secretários de Estado.
Neste sistema, o chefe de Estado não pertence ao governo nem detém qualquer
intervenção na política governamental. A política geral do governo é definida pelo
Conselho de Ministros sob orientação do chefe do executivo (primeiro-ministro). No
entanto, a formação do governo depende do parlamento e é perante este responsável, a
título individual ou colectivo.16
Assim:
• a função política é exercida pelo Governo e Parlamento;
• o Governo é um órgão colegial que resulta da composição e nomeação do
Parlamento;
• o Governo depende da confiança e responde politicamente directamente ao
Parlamento;
16 Muitas vezes, os ministros fazem parte do parlamento, sendo simultaneamente
deputados. Neste
sistema, em particular na Grã Bretanha, alguns ministros têm funções
predominantemente políticas, enquanto outros desempenham funções
predominantemente administrativas e os secretários de Estado exercem funções
administrativas
• o Chefe do Governo é distinto do Chefe de Estado e usualmente é o líder da
maioria parlamentar;
• o Chefe de Estado está reduzido às suas funções de representação protocolar,
com reduzidas funções de exercício efectivo de poder político.
O parlamentarismo é um sistema político de governo que se caracteriza essencialmente
pelas seguintes regras jurídicas:
- Responsabilidade do governo perante o parlamento
- Reconhecimento do parlamento como fonte de todos os poderes
- Ausência da democracia directa
- Eleição do chefe do Estado por sufrágio universal
- Direito de dissolução do parlamento pelo chefe de Estado
- Acumulação de poderes e funções
O poder executivo neste sistema está dividido por dois órgãos: o chefe do Estado que
não tem responsabilidade política e exerce apenas poderes formais, muitas vezes de
simples representação; e ogoverno que dirige a acção do poder executivo, assumindo a
direcção política sob a orientação do chefe do Estado.
O governo resulta das eleições directas e universais, pois a sua nomeação obedece aos
resultados das eleições parlamentares. Na medida em que o governo é investido pelo
chefe do Estado e com o apoio do parlamento, o governo só pode exercer as suas
funções, se tiver a confiança deste ou, dito de outra forma, se tiver o apoio da maioria
dos deputados.
O parlamento eleito directamente pelos cidadãos, dispõe de muitos meios para controlar
a acção do governo, além de ter a faculdade de elaborar leis, sem as quais o executivo
não poderia governar. O Parlamento pode exigir ao Governo as explicações que entenda
serem necessárias; podem criticar a acção governativa e apresentar moções de censura,
de confiança, etc..
Quando o Governo não dispuser da confiança do Parlamento, terá de se demitir ou ser
demitido. É esta responsabilidade política do governo perante o parlamento que
constitui a característica fundamental do sistema parlamentar. Este aspecto
reduz o papel do chefe do Estado a uma importância muito pequena
A ligação estreita entre o governo e o parlamento pressupõem que estes dois órgãos
colaborem nas funções do Estado. O executivo colabora na função legislativa e o
Parlamento na função governativa, dando ao Governo meios para agir.
Uma outra característica do sistema parlamentar reside no facto de o chefe de Estado,
em alguns regimes republicanos, não ser eleito por sufrágio universal sendo escolhido
por um colégio restrito cuja composição varia de país para país.
Sistema de Governo Presidencialista
Neste sistema, o governo engloba o chefe do Estado que é o chefe do executivo e a
quem compete definir a política geral do país. Além do chefe do Estado existem os
secretários de estado que são meros colaboradores do Presidente e exercem funções
predominantemente administrativas. Exemplo: EUA
Neste sistema puro, o governo é independente do parlamento, quer quanto à formação,
quer quanto à subsistência, pois nem o parlamento pode demitir o governo, nem este
pode dissolver o parlamento.
Assim:
• o Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e directo;
• o Chefe de Estado é o Chefe do Governo, formando em total liberdade do
Parlamento;
• o Chefe de Estado possuí veto suspensivo das leis do Parlamento;
• o Chefe de Estado não possuí poder de dissolução do Parlamento
• o Parlamento não pode demitir o Chefe de Estado /Governo
• Total independência entre executivo e legislativo
• Não existe um Governo enquanto órgão colegial autónomo, o Executivo é um
órgão singular constituído exclusivamente pelo Presidente.
Este sistema funda-se no princípio da separação dos poderes; na eleição do chefe do
Estado por sufrágio universal; na atribuição ao presidente da república das funções do
chefe de Estado e chefe do executivo; na independência do governo perante o
parlamento e na responsabilidade do presidente da república dissolver o parlamento.
Nestes sistemas, as instituições estão concebidas de forma muito semelhante à ideia de
separação dos poderes tradicional. Por um lado, há órgãos que têm a incumbência de
traçar as linhas gerais da acção política mediante a função legislativa (o parlamento) e
outro encarregado de executar as leis (o presidente). Ambos os órgãos têm carácter
representativo sendo independentes quanto à origem e quanto ao exercício dos poderes
que a Constituição lhes confere. Essa independência, que difere e contrasta com o que
se passa nos sistemas parlamentares, torna esses dois órgãos responsáveis perante o
eleitorado, dispensando a existência de um terceiro órgão que tenha por finalidade
resolver os desentendimentos que possam aparecer entre eles.
O poder judicial, por seu lado, pertence a um supremo tribunal, cujos juízes são
designados pelo Presidente sobre proposta e com o consentimento da câmara alta do
parlamento (Senado). O Presidente da República eleito por sufrágio universal é
simultaneamente o chefe do Estado e chefe do governo, competindo-lhe nesta qualidade
assegurar o exercício da função executiva. Legitimado que é por sufrágio universal, o
Presidente da República não pode ser destituído pelo Parlamento, excepto por acusação
criminal. Por sua vez, também o Parlamento eleito de igual modo por sufrágio universal
é independente do Presidente. Este não pode dissolvê-lo, nem pode fazer parte dele.
O princípio da separação dos podres e o princípio da independência são contudo
limitados por regras constitucionais e pela própria prática política que definem as
normas de relacionamento entre esses dois órgãos. De facto, o Presidente da República
tem a faculdade de vetar as leis aprovadas pelo parlamento, forçando este a revê-las.
Tem, também, a possibilidade de propor ao Parlamento projectos de lei, quer de uma
forma directa por meio de mensagens que lhe dirige; quer de forma indirecta, através
dos membros do parlamento que pertençam ao seu partido político.
O Parlamento dispõe de meios que lhe permite influenciar a acção do Presidente da
República, como por exemplo recusando aprovar certas nomeações; aceitando ou
recusando o orçamento geral do Estado ou criando comissões de investigação acerca de
determinados assuntos.1 7
.Sistemas de convenção ou assembleia
Neste sistema, a política geral do governo é traçada pela assembleia e os membros
do governo desempenham funções predominantemente administrativas. O governo
faz parte do parlamento, sendo por ele nomeado e perante ele responsável.
Caracterizam-se pela supremacia expressa do parlamento sobre o governo. Nas
assembleias representativas concentram-se por delegação do povo todos os poderes
soberanos registando, em regra, formalmente o princípio da separação dos poderes.
17 Nos sistemas presidencialistas os partidos políticos desempenham, também, um
papel relevante, uma
vez que o estando o Presidente da República no centro da vida política e sendo ele um
alto dirigente do
partido vencedor das eleições presidenciais não é difícil nem de estranhar que ele exerça
essa influência (
ex.EUA)
Neste sistema não existe poder executivo distinto da assembleia pois os membros do
governo são escolhidos por ela, de entre os seus membros, e podem por ela ser
demitidos. Tanto o poder legislativo como o poder executivo pertencem à assembleia e
o governo é uma espécie de comissão da assembleia.
Em regra neste sistema não há chefe de Estado singular; a assembleia representativa
elege entre os seus membros uma comissão permanente ou conselho de Estado.18
Este sistema foi instituído em França durante um período revolucionário, entre 1973 a
1975, e foi, também, o sistema usado nos países comunistas e, ainda, da confederação
helvética (Suíça).
Sistemas Mistos
Os três sistemas de que falamos são sistemas puros, que correspondem ao sistema de
governo dos E.U.A, da Grã-Bretanha, e ao que vigorou na URSS até 1989/1990. No
entanto, esses sistemas nem sempre têm as mesmas características totalmente idênticas,
pois há sistemas de governo que não são mais do que uma mistura de características do
sistema presidencialista e parlamentar e que são designados por sistemas mistos, como o
caso do sistema semi-presidencialista. Esses sistemas de governo mistos podem assumir
uma preponderância dos elementos presidencialista (França), ou podem revestir uma
predominância dos elementos parlamentares, ou até podem assumir o equilíbrio dos dois
sistemas, todo dependendo das características concretas do Estado em questão,
contando-se como factores que podem exercer influência num determinado domínio,
que são os seguintes:
1 – A existência ou não de um governo maioritário.
2 – A consonância ou dissonância entre a eventual maioria parlamentar e a
maioria política que apoia o presidente.
3 – O facto de o líder do partido maioritário ser o chefe do Estado ou o primeiro-
ministro.
4 – A personalidade de cada um dos titulares dos órgãos.
Sistema de Governo :
Componente parlamentarista:
18Nestes sistemas, o governo é colegial. Há um órgão colectivo praticamente sem
chefe. Na Suiça o
presidente do conselho federal é escolhido rotativamente pelos seus membros pelo
período de um ano.
• o Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal e directo;
• o Chefe de Estado é o Chefe do Governo, formando em total liberdade do
Parlamento;
• o Chefe de Estado possui veto suspensivo das leis do Parlamento;
Componente presidencialista:
• o Chefe de Estado não possui poder de dissolução do Parlamento;
• o Parlamento não pode demitir o Chefe de Estado /Governo;
• Total independência entre executivo e legislativo;
• Não existe um Governo enquanto órgão colegial autónomo, i.é, o Executivo
é um órgão singular constituído exclusivamente pelo Presidente.
Sistema misto – o esquema institucional é semelhante ao do sistema parlamentar, pois
também existe um chefe de Estado e um chefe do governo, e o executivo só pode
governar se tiver a confiança do parlamento. Contudo, o chefe do Estado é eleito por
sufrágio universal, não se limitando, no entanto, a ter uma função meramente
representativa ou protocolar, como no sistema de parlamentar pois, ao contrário, é ele
quem dirige o governo e toma as grandes decisões políticas, sem ser responsável por
elas perante o parlamento.
O chefe do Estado é o elemento fundamental do sistema tendo amplos poderes. O
governo que é responsável perante o parlamento que tem meios para controlar a sua
acção através de desaprovação do programa ou da aprovação de moções de censura, só
pode exercer as suas funções com o apoio do chefe do Estado.
Uma das principais características deste sistema consiste, portanto, no facto de o
executivo depender do Presidente da República e do Parlamento. Uma vez que estes
dois órgãos são eleitos separadamente por sufrágio universal, poderá levar a que o
parlamento possa dispor de uma maioria contrária à maioria que apoia o Presidente,
(tornando a situação complicada), pois neste caso o Presidente pode dissolver o
parlamento e convocar novas eleições, embora isso possa não solucionar o problema, se
os resultados eleitorais voltarem a confirmar a mesma maioria eleitoral do
parlamento.19
19 Neste sistema misto de presidencialismo e parlamentarismo, o governo integra o
chefe do Estado,
integra o primeiro-ministro, os ministros e os secretários de Estado, podendo haver
subsecretários. O chefe do Estado preside normalmente ás reuniões do conselho de
ministros e pode exercer certas actividades governativas de política externa. O chefe do
Estado nomeia e demite o primeiro-ministro e os ministros também são nomeados por
ele. Apesar de serem propostos pelo primeiro-ministro, os ministros são responsáveis
perante o presidente da república e perante o parlamento que tem competências de
Órgãos do corpo de Estado
O aparelho administrativo
A complexidade das sociedades modernas obrigou ao aumento significativo das funções
administrativas do Estado, fazendo crescer e dar uma importância maior ao seu aparelho
administrativo.
A importância da administração pública nas modernas sociedades políticasleva
mesmo alguns autores a falar de Estado administrativo, de Estado tecnocrático e há
muitos autores que qualificam o aparelho burocrático como um “respeitável grupo de
pressão junto dos órgãos superiores do Estado”. Na verdade, a classe detentora do
aparelho administrativo do Estado, mesmo que não seja a classe governante,i nfl uencia
significativamente a orientação da política governamental, quer porque o processo
de elaboração das decisões políticas passa pelas suas mãos, quer porque a execução
dessas decisões depende muito da sua vontade de fazer prosseguir essa política. N o
entanto, os agentes do aparelho administrativo estão sujeitos a diversos tipos de
controlo, com uma dupla finalidade:
-Reforçar a eficácia do serviço
-Velar pela aplicação do direito por parte desses serviços.
Esses tipos de controlo são de três tipos:
1 – Controlo interno que é feito pela própria administração.
2 – Controlo jurisdicional feito pelos tribunais.
3 – Controlo político.
censura ás actividades do executivo e exercem também funções políticas e
administrativas, sendo estas
exercidas em colaboração com os secretários de Estado.
No caso português o chefe do Estado não integra o governo, embora tenha competência
para o demitir
depois de ouvido o Conselho de Estado.
Os tribunais
São considerados pelas Constituições como um dos órgãos de soberania e têm por
função administrar a justiça.
Nos sistemas políticos ocidentais os Juízes são independentes. No entanto, a realidade
mostra que os tribunais são um poder do Estado, que podem ter uma influência mais ou
menos vasta no processo político e que desempenham um importante papel na
manutenção do sistema político e na conservação da ordem existente.
Estrutura dos tribunais
O princípio da hierarquia dos tribunais é comum à quase totalidade dos sistemas
políticos. Eles distribuem-se conforme os países por dois ou três ou mais níveis,
existindo no vértice um tribunal superior que tem a função principal de julgar os
recursos dos tribunais inferiores e de uniformizar jurisprudência.
Nos países de tradição anglo-saxónica todos os tribunais estão em regra integrados
numa estrutura única independentemente de especialização e com um único tribunal
superior no topo (só há tribunais comuns, não há tribunais especializados). Nos países
de influência Francesa, existe uma distinção entre tribunais comuns ou ordinários e
tribunais especiais como por ex. os tribunais administrativos e fiscais, tendo cada um
deles uma estrutura própria.
Os tribunais constitucionais têm fundamentalmente poderes para fiscalizar a aplicação
das normas em termos de inconstitucionalidade e desempenham um papel importante no
funcionamento do processo político. Há, contudo, países onde
estes tribunais constitucionais não existem, sendo a fiscalização da constituição da
competência dos parlamentos, como por exemplo: Grã Bretanha; os países
Escandinavos e os países socialistas – Ex. URSS; ou então dos tribunais comuns.
Estatuto dos Juízes
O modo de designação dos juízes pode ser feito:
- Por nomeação feita pelo governo
- Por eleição directa das assembleias parlamentares (escolha)
- Cooptação pelos próprios juízes.
Podem coexistir no mesmo país, as três modalidades consoante os tribunais a que se
destinem.
Os requisitos de recrutamento dos juízes também podem variar. Por exemplo, quando os
juízes são eleitos não se exige, muitas vezes um título académico específico. Não existe
portanto uma carreira profissional específica, nem a magistratura constitui de forma um
corpo próprio. Quando são nomeados, a formação académica em direito é um requisito
indispensável e estão em regra sujeitos a um estágio especial e existe uma carreira
específica da magistratura.
No sistema português os juízes são inamovíveis, (artigo 215.º a 218º da CRP)
Cfr.
Artigo 202.º a 214.º - sobre as normas dos tribunais.
Artigo 219.º a 220.º - sobre as normas especiais do ministério público.
Artigo 221.º a 224.º - sobre as normas do tribunal constitucional.
FORMAS DE DESIGNAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO ESTADO COM RUPTURA
DA ORDEM CONSTITUCIONAL:
1) Golpe de Estado - quando os governantes actuam através da utilização da força e
violação da legalidade vigente, com o objectivo de manter-se no poder. O golpe de
Estado é o procedimento de certos governantes que recorrem à força para alterar a
legalidade existente e mudar os titulares dos órgãos supremos do Estado.
2)Insurreição - manifestação das forças armadas, apoiadas por forças sociais ou não,
contra o governo constituído, a fim de lhe imporem certa orientação ou mudarem os
governantes;
3)Revolução - manifestação violenta de forças sociais estranhas à organização do
Estado (massas, classe ou partido), apoiadas ou não pelas forças armadas, tendo em
vista a alteração brusca do regime político ou da ideologia dominante, das leis e das
instituições fundamentais e dos titulares dos órgãos de soberania;
FORMAS
DE
DESIGNAÇÃO
DOS
ÓRGÃOS
DO
ESTADO
CONSTITUCIONAIS:
1)Herança - transmissão hereditária das funções por aplicação das regras de sucessão
familiar - Monarquia;
2)Cooptação - escolha do titular de um órgão por outros titulares do mesmo órgão;
3)No meação - designação do titular de um órgão pelo titular de um órgão diferente.
Exemplo: a nomeação de um director geral;
4)Inerênci a – o desempenho de funções num órgão implica o desempenho de funções
em órgãos distintos. É a atribuição legal da qualidade de titular de um órgão
governativo ao titular de um cargo público ou privado. Entre nós, temos o exemplo de
Portugal em que o Presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, o
provedor de justiça, etc., são por inerência membros do Conselho de Estado;
5)Elei ção - por sufrágio de entre um determinado grupo de eleitores - colégio eleitoral.
É o processo mais usado actualmente para seleccionar os representantes públicos e
consiste na escolha através da expressão dos votos de uma pluralidade de pessoas, que
são os eleitores.
ELEIÇÃO
A eleição política é um direito político - de eleger e de ser eleito - e um modo de
intervenção dos cidadãos na vida pública, na gestão dos destinos do Estado, onde tem
prevalecência o princípio da maioria.
ELEIÇÃO - escolha de titulares de órgão do estado é diferente de REFERENDO -
consulta sobre uma questão concreta.
O corpo eleitoral ou colégio eleitoral - é o conjunto de pessoas que têm capacidade
eleitoral (reúnem os requisitos legais para votar), e varia de país para país.
As condições ou requisitos de elegibilidade e os processos de escrutínio também variam
conforme o sistema eleitoral de cada país. Ao longo do tempo, foi-se evoluindo do
sistema de sufrágio restrito, censitário ou capacitário, para um sufrágio universal.
SISTEMA ELEITORAL
É o conjunto de regras, de procedimentos e de práticas, com uma coerência e lógica
interna, que permite que os votos de determinado conjunto de cidadãos sejam
convertidos em mandatos de determinado(s) titular(es) de órgãos de poder político. A
democracia impõe que os governados (cidadãos) possam manifestar a sua vontade sobre
a forma como o poder político deve ser exercido pelos governantes. A forma
contemporânea mais eficaz de o fazer é através do sufrágio na modalidade de eleição. A
eleição é uma forma de sufrágio que tem por objectivo a escolha dos titulares dos
órgãos políticos.
O referendo é outra forma de sufrágio que tem por objectivo a deliberação ou consulta
de questões concretas.
A eleição por força do resultado da votação vai permitir apurar uma vontade baseada no
princípio da maioria. Este princípio de maioria, fundamenta-se em dois princípios: o
principio da igualdade e da liberdade.
O sistema eleitoral tem principalmente a ver com a forma como os votos são
convertidos em mandatos.
Assim, a eleição e o sufrágio implicam que sejam definidos previamente:
- o colégio eleitoral (O colégio eleitoral, ou seja, das pessoas que podem votar em geral
ou numa determinada eleição);
- o órgão de fiscalização (As entidades ou órgãos do Estado que acompanham o
processo eleitoral, ou seja, que têm competência em matéria de fiscalização e de
contencioso eleitoral);
- o círculo eleitoral;
- o número deti tulares cujomand ato se pretende eleger;
- as pessoasel egí vei s para esse cargos.
TIPOS DE SUFRÁGIO (em função do colégio eleitoral):
O sufrágio universal constitui um dos mais importantes traços caracterizadores das
democracias representativas. Só existe uma democracia em sentido material se a eleição
permitir aos eleitores uma escolha efectiva entre as alternativas que correspondam à
pluralidade de interesses dessa comunidade.
O sufrágio pode ser:
1)di rect o (quando os eleitores escolhem imediatamente os seus representantes) /
indirecto (quando apenas escolhem pessoas que vão a seguir escolher essas
representantes);
2)restrito (limita-se a uma parte dos cidadãos e chama-secensitário em que o direito de
voto depende dos meios de fortuna ecapaci tári o quando o direito de voto depende dos
meios de instrução e de sexo) /universal ( quando se destina á
generalidade dos cidadãos a partir de uma certa idade);
3)inorgânico (de base territorial) /orgânico (de base corporativa)
4)plural (+ que 1 voto) /múltiplo (+ que uma qualidade) /simples
5) público / secreto
6) facultativo / obrigatório (com sanção);
7) individual / por listas (lista previamente estabelecidas pelos partidos)
8)uninominal(em que cada divisão eleitoral o eleitor só pode votar num
candidato) /plurinomi nal (vota em + de 1 candidato)
DIVISÃO ELEITORAL (por círculos eleitorais)
a) círculos nacionais / locais
b) círculos uninominais / plurinominais
b.1) círculos uninominais: sistema de representação maioritária (maioria relativa
/ absoluta)
b.2) círculos plurinominais: sistema de representação maioritária ou
proporcional
SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO
No sistema de representação maioritária ganha o partido que tiver mais votos.
a) representação maioritária a.1) maioria absoluta a.2) maioria relativa
Há também sistemas de representação proporcional em que existe uma correspondência
entre o número de votos por cada lista e o número de candidatos que vão ser eleitos.
Neste sistema, a representação dos mandatos pode ser feita de acordo com vários
critérios. Um deles é usado em Portugal e é designado como método de Hondt.
b) representação proporcional
b.1) quociente eleitoral
b.2)divisor comum (sistema da média mais alta de Hondt)
EXEMPLO PRÁTICO:
Colégio eleitoral: 85.000 eleitores.
Círculo eleitoral plurinominal: 4 mandatos.
Listas de candidatos: A, B, C e D.
Votação:
Lista A: 30.000 votos
Lista B: 25.000 votos
Lista C: 21.000 votos
Lista D: 9.000 votos
Como distribuir os 4 mandatos?
SITUAÇÃO 1: sistema de representação proporcional por quociente eleitoral
Divide-se o número de eleitores pelo número de mandatos e a cada lista pertencerão
tantos candidatos eleitos quantas vezes que o quociente apurado couber no número de
votos recebidos. Se restarem mandatos por atribuir eles irão para a(s) lista(s) em que
tiver sobrado mais votos.
85.000 eleitores : 4 mandatos = 21.250 eleitores/ mandato.
REGIMES POLÍTICOS
Forma política
Forma política é o modo como se estrutura e se exerce o poder político em sociedade.
Este modo de estrutura e de exercício do poder político pode assumir-se de dois modos:
1.Atendendo à política, à titularidade do poder, de modo a determinar-se o título dele e
quais os órgãos estabelecidos para o exercer. Deste modo determina-se o sistema do
poder;
2.Têm em conta as concepções fundamentais das relações com o indivíduo e a
sociedade política com a ideologia, o poder político tem por missão estabelecer- se na
ordem jurídica, neste caso temos o regime político. Quer o sistema de governo, quer o
regime são essenciais para definir a forma política do Estado.
Regimes políticos
ORegime Político é definido pela concepção dos fins e dos meios do poder e da
comunidade, representada pela expressão política da Constituição material, ou seja, este
conceito não se esgota na mera organização do poder político, prendendo-se, também,
com o respeito pelos direitos fundamentais e com a organização económica e social.
Segundo a classificação de Aristóteles havia três regimes puros:
(falta aqui uma tabela tem de ver no site e fazer a mão)
Classificação de Jean Bodin:
(falta aqui uma tabela tem de ver no site e fazer a mão)
Classificação de Montesquieu
(falta aqui uma tabela tem de ver no site e fazer a mão)
Critério de relação que se estabelece entre a população e o poder. Segundo esta
classificação temos os regimes aristocráticos e os democráticos.
-Os aristocráticos – são aqueles em que só uma parcela da população adulta participa na
escolha e no controlo dos governantes. Essa fracção da população pode ser constituída
pelo exército, por um partido único, por uma classe social ou por uma família. A esta
categoria pertencem os regimes ditatoriais, estejam ou não baseados numa constituição.
- Os regimes democráticos – são aqueles em que a totalidade da população adulta pode
participar de forma directa ou indirecta, na tomada de decisões e na escolha e controlo
dos governantes. Estes regimes podem assumir as seguintes formas: a democracia
directa e a democracia representativa.
- na democracia directa, a totalidade da população adulta reunida periodicamente em
assembleia plenária, pode participar directamente na tomada de decisões.
- Na democracia representativa, a totalidade da população adulta, apenas pode participar
na designação e controlo dos governantes, mas não nas decisões concretas.
Tendo por critério a ideologia que os orienta ou o poder que prossegue – podemos
definir esta classificação em dois grupos:
- Regimes comunistas que não consentem, nem a circulação da sede do poder, nem a
alternância ideológica o que facilmente estabiliza a forma do Estado, como autoritário
ou totalitário.
- Os regimes pluralistas que prevêem a revolução legal, que torna viável a alternância
no poder e a mudança ideológica pelo consentimento expresso da população.
O Professor Marcelo Rebelo de Sousa adianta outro critério de distinção: «a
existência ou não de uma filosofia ideológica exclusiva ou liderante, de aparelho
destinado a impô-la, de efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos e de livre
participação na designação dos governantes e no controlo do exercício das suas
funções»: Ditatorial / Democrático
REGIME POLÍTICO DITATORIAL(estes podem serautori tári os outo t alitários)
a) filosofia ou ideologia exclusiva ou dominante;
b) aparelho destinado a impor a ideologia;
c) inexistência de efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos;
d) inexistência de livre participação na designação do governantes;
e) inexistência de controlo do exercício das funções dos governantes;
REGIME POLITICO DEMOCRÁTICO
a) pluralidade e liberdade de filosofia ou ideologia;
b) inexistência aparelho destinado a impor a ideologia;
c) efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos;
d) livre participação na designação do governantes;
e) efectivo controlo do exercício das funções dos governantes;
O Estado e o sistema político
Sistema político – é o conjunto de processos de decisão e das relações de poder que
dizem respeito à totalidade de uma sociedade global. Mas nem todos os processos de
decisão inerentes a uma sociedade global passam de uma maneira efectiva pelo aparelho
do Estado, pois as relações de poder estabelecem-se e permanecem entre o Estado e a
sociedade civil. O sistema político não pode confundir-se, portanto, com o Estado pois
há outros tipos de estruturas políticas existentes na sociedade global:
Há as estruturas do aparelho do Estado, dotadas da faculdade legítima de
recorrer à força para se fazer obedecer;
Há, também, as estruturas que embora desempenhem funções políticas não
fazem parte do aparelho do Estado.
Nos regimes democráticos não pode confundir-se Estado com sistema político, embora
seja certo que ele ocupa a parte mais relevante.
Modelos de sistema políticos:
1 – Modelo da classe dominante “Burguesia e proletariado”.
2 – Modelo da elite do poder “Fascismo”.
3 – Modelo pluralista ou de concorrente dos eleitos “Democracia”
1 – Modelo da classe dominante – é de origem e inspiração marxista. Para os
marxistas o Estado que encara o poder político é uma instituição que tem por objectivo
assegurar os privilégios da classe dominante e a manter a exploração das classes
dominadas. Para os marxistas a classe dominante da sociedade capitalista é a que obtém
o controlo e os meios de produção e que é capaz, de por força do poder económico que
lhe é conferido, de usar o Estado como um instrumento para dominar a sociedade. Karl
Marx (1863) optou por estratificar as sociedades em apenas duas classes sociais:
Burguesia – classe dominante, detentora dos meios de produção, exploradora e
usurpadora de todos os privilégios sociais.
Proletariado – classe dominada, possuidora da força do trabalho, explorada e
permanentemente afastada do poder e dos benefícios económicos e sociais que ele
acarreta.
2 – Modelo da elite do poder – esta teoria baseia-se no princípio de que o poder político
está concentrado num grupo social restrito dotado de coesão interna, partilhando origens
sociais, “status” económicos e educação comum. Esta teoria assenta no conceito da
superioridade dos membros da elite dominante (massa organizada), em relação à não
elite (massa inorganizada).
A elite, seja por força da sua organização, ou pelo seu poder, ou pelas qualidades
pessoais dos seus membros, é sempre capaz de explorar as suas posições de modo a
assegurar o seu domínio na sociedade sobre a classe da massa inorganizada, que é
politicamente inerte e apática. Os adeptos desta teoria defendem que em todas as
sociedades há uma minoria da população com características próprias e aptidões que
lhes permitem dominar política, económica e socialmente a maioria, que não tem meios
para controlar a elite do poder. Não admitem que a massa inorganizada possa atingir o
poder (Fascismo).
3 – Método pluralista ou de concorrente dos eleitos (Democracia) – esta teoria baseia-se
no princípio de que nas sociedades não existe um grupo dominante e que a política é
fundamentalmente o resultado de compromissos entre vários grupos de interesse, que
entram em competição pela conquista do poder. Segundo esta teoria o poder está
disperso por muitos centros e nenhum deles se pode considerar totalmente dominante.
Portanto, o poder está efectivamente fragmentado e nenhum dos grupos em competição
é suficientemente forte para se impor de forma definitiva aos outros. (Democracia).
Grupos de interesse e de pressão
O funcionamento do sistema político depende das exigências que lhe são formuladas e
dos recursos e apoios de que dispõem e de que existem ou que provêem da comunidade
política. Nas modernas sociedades os indivíduos não conseguem em regra expressar os
seus interesses e necessidades de uma forma individualizada, nem fazer chegar as suas
reivindicações aos centros de decisão do sistema, nem têm influência na tomada de
decisões. Por isso eles necessitam de se associar em função dos seus interesses. A essas
associações chama-se em política grupos de interesse ou grupos de pressão.
Ponto comum entre grupos de pressão e grupos de interesse são as pessoas com
interesses comuns, ou com um ou mais denominadores comuns.
Diferenças:
Os grupos de interesses são associações que procuram realizar os seus fins de acordo
com a lei vigente, actuando apenas na esfera da vida privada.
Os grupos de pressão são organizações, constituídas para a defesa de interesses, que
exercem pressão sobre os poderes políticos em função das decisões que estes venham a
tomar, para que estas sejam favoráveis à realização dos seus interesses. Exercem
pressão sobre os governantes para que modifiquem a lei em benefício dos seus
interesses sem pretenderem conquistar o poder político. Os grupos de pressão estão em
conformidade com as características dos regimes democráticos constitucionais
pluralistas, e podem dividir-se em três características:
a)Grupos económicos:
1) Fundamentais;
2) Secundários.
b) Grupos não económicos:
1) Associações com objectivos políticos mas que não dependem de partidos, Igrejas e
associações religiosas, Associações culturais, Filantrópicas, Humanitárias, etc.
c) Grupos políticos:
1) Partidos políticos
Características dos Grupos de pressão:
a) grupo organizado - organização bem estruturada e especializada na articulação de
interesses com cariz voluntário e durável;
b) visa a defesa de interesses particulares/privados - morais ou materiais
c) exercem pressão sobre o poder político com vista à satisfação do interesses;
Espécies de Grupos de Pressão:
a)Exclusivos - actuam apenas na esfera política;
b)Parciais - quando acumulam ao fim de exercer pressão política com outras
finalidades, económicas, religiosas, culturais, ecológicas, etc...
Como actuam os grupos de pressão:
Formas de intervenção:
a) intervenção directa sobre os órgão de poder –
amistosa: contactos, negociações, informações, reuniões;
perversa: intimação, ameaça, chantagem, corrupção;
b) intervenção indirecta - actuam sobre o poder procurando influenciar os partidos
políticos, por vezes com relações estáveis ou mesmo orgânicas, ou mediante pressão
sobre a opinião pública com greves, propaganda ou informação.
Eles podem fazer pressões de forma directa ou de forma indirecta, através de partidos
ou da opinião pública, sendo um dos meios mais usados o recurso à informação através
do envio de dossiers e troca de correspondência com o poder.
Os contactos e as negociações: (visitas aos gabinetes dos ministros), são outro meio
usado para influenciar as reuniões. Como esses meios nem sempre surtem efeito, os
grupos recorrem muitas vezes à intimidação, à coacção ou mesmo à chantagem e à
corrupção. Se esses meios não forem suficientes, há também o recurso a outras formas
de acção (greve, encerramento das empresas, etc.).
Outro meio é as “caixa eleitoral”, através das quais as organizações financiam as
campanhas dos partidos que as apoiam.
Os sistemas de partidos e os grupos para-políticos:
Partidos políticos: agrupamento de cidadãos, organizado, tendo em vista participar no
funcionamento das instituições políticas (ser titulares de órgãos de poder) e exprimir
organizadamente a vontade popular (ser condicionante na formação e representante da
vontade popular nos órgãos de poder).
Partidos políticos, são organizações que lutam pela aquisição, manutenção do exercício
do poder.
Características:
- São organizações com uma implementação generalizada e duradoura (representação
política global);
-São organizações com vontade deliberada de aceder e exercer o poder político;
- São organizações de formação e expressão da vontade popular e que querem
participar no funcionamento das instituições;
- São organizações de carácter exclusivo no sentido de que a filiação num partido é
incompatível com a inscrição noutro.
A última característica distingue os partidos das associações políticas.
siste
4.a) perfeito
4.b) imperfeito
5 - sistema sem partidos organizados –( monarquia absoluta)
84
Princípio da separação de poderes31, consiste em que cada órgão de Estado exerça uma
função de Estado. Ao Parlamento cabe a função legislativa; ao órgão executivo
(Governo) a função administrativa; ao órgão judiciário (tribunais) compete-lhe a
jurisdicional. Com esta separação limitar-se-ia de forma eficiente o poder. Apesar de se
manter ainda este princípio da divisão de poderes ele sofreu algumas alterações
perdendo a sua rigidez inicial do ponto de vista orgânico, pois a função legislativa
deixou de ser monopólio do parlamento, por várias razões que podemos resumir nas
seguintes:
a) Razões de maior tecnicidade que a lei passou a exigir e que os deputados, muitas
vezes não tinham competência a nível técnico para legislar nessas matérias.
b) A celeridade que a produção legislativa foi exigindo cada vez mais, apesar disso os
órgãos parlamentares mantiveram sempre e mantêm ainda o primado da competência
legislativa.
Os sinais desse primado na nossa Constituição são numerosos e vão desde a
competência legislativa genérica do parlamento à competência legislativa em matérias
de reserva, nuns casos absoluta, noutros relativa ou mesmo à sujeição dos decretos-leis
à apreciação do parlamento para recusa de ratificação.
A separação e a independência dos tribunais, a quem é reservada a função jurisdicional
constitui um elemento importantíssimo do princípio da separação dos podres. E esta
reserva é até um reduto essencial desse princípio num Estado de direito.
O princípio da separação dos poderes está consagrado no artigo 111.º da constituição e a
sua exemplificação prática assenta-se no relacionamento entre os diversos órgãos de
soberania.
GARANTIA DE ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA LOCAL
É um elemento constitutivo do estado de direito e que está conexionado ( pelos menos
historicamente) com o princípio democrático. A democracia descentralizada (assente
num poder local autónomo) assegurava a separação territorial de poderes contribuindo
31 Relevância jurídico-constitucional:
a) princípio jurídico-organizatório (art. 111º CRP)
b) princípio normativo autónomo
c) princípio fundamentador de incompatibilidade
para uma maior participação democrática no exercício de poder. A Constituição refere a
conexão, também, da administração autónoma com o princípio democrático da
organização do estado: o artigo 6º da CRP refere que “O Estado é unitário e respeita na
sua organização e funcionamento o regime autonómico insular e os princípios da
subsidiariedade, da autonomia das autarquias locais e da descentralização democrática
da administração pública.”. Por seu lado o artigo 235º, nº 1 acrescenta que “. A
organização democrática do Estado compreende a existência de autarquias locais”. O
princípio da garantia da autonomia local terá a ver com o estado de direito nas
dimensões de autonomia normativa ( cfr. Artigo 241º sobre a competência
regulamentar) e da garantia institucional que assegura aos municípios um espaço de
conformação autónoma cujo conteúdo essencial não pode ser destruído pela
administração central32. Esta garantia de administração autónoma local foi elevada a
limite material de revisão constitucional com a Constituição de 1976.
1.2. O PRINCIPIO DEMOCRÁTICO
A Constituição ao consagrar o princípio democrático procurou uma ordenação
normativa para um país e para uma realidade histórica. Como refere Gomes
Canotilho33 “ A Constituição de 1976 respondeu normativamente aos problemas da
legitimidade- legitimação da ordem jurídico constitucional em termos substanciais e em
termos procedimentais: normativo-substancialmente, porque a constituição condicionou
a legitimidade do domínio político à prossecução de determinados fins e à realização de
determinados valores e princípios ( soberania popular, garantia dos direitos
fundamentais, pluralismo de expressão e organização política democrática; normativo-
processualmente, porque vinculou a legitimação do poder à observância de
determinadas regras e processos. (…) a constituição respondeu aos desafios da
legitimidade-legitimação ao conformar o princípio democrático como forma de vida,
como forma de racionalização do processo político e como forma de legitimação do
poder. O princípio democrático, constitucionalmente consagrado, é mais do que um
método ou técnica de os governantes escolherem os governados, pois como princípio
normativo considerado nos seus vários aspectos políticos, económicos, sociais e
culturais, ele aspira a ser um impulso dirigente de uma sociedade. O artigo 2º conjugado
32 J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina,
1998, pg 247. A
Constituição de 1933 destruiu este núcleo essencial ao transformar a autonomia local
em administração
indirecta ou mediata do estado.
33 J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina,
1998, pg 277 e 278
com outros artigos (cfr. por exemplo arts. 9º e 81º), sugere a existência de um objectivo
a realizar através da democracia”.
Caracterização do Princípio Democrático
1)princípio complexo – de democracia representativa( órgãos representativos, eleições
periódicas, pluralismo partidário, separação de poderes) e de democracia
participativa( oferecer aos cidadãos efectivas possibilidades de aprender a democracia,
participar no processo de decisão, exercer controlo crítico na divergência de opiniões,
produzirinputs políticos democráticos) (art. 2º, 9º/c), 109º da CRP)
2)princípio dinâmico –aberto à liberdade de participação crítica, e logo à evolução
pessoal e de ideologias (artigo 9º/c) da CRP)
3)princípio informador do Estado e da sociedade – processo de democratização extensiva
aos vários aspectos da vida económica, social e cultural (art. 51º n.º 5; 54, nº 5/b); 38º,
nº 2/a); 77º e 235º CRP).
4)princípio de organização –legitimação da titularidade e exercício do poder político
através do povo. O poder político é constituído, legitimado e controlado por cidadãos
(povo), igualmente legitimados para participarem no processo de organização da forma
do Estado e de governo.
5)princípio de realização dos direitos fundamentais - dado que a participação dos cidadãos
no processo democrático implica a contribuição de todos em igualdade e em liberdade,
(art. 48º e 109º CRP); implica participação livre assente em garantias para a liberdade
desse exercício (direito de associação, de formação de partidos, de liberdade de
expressão); prevê a abertura do processo político no sentido da criação de direitos
económicos, sociais, culturais constitutivos de uma democracia económica, social e
cultural (artigo 2º).
Princípio democrático – ao contrário do que acontece nas ditaduras em que os
governantes exercem o poder com indiferenças, mesmo contra a vontade dos
governados, nas democracias regista-se a presença efectiva destes no estatuto e
desempenho dos governantes, principalmente nos seguintes aspectos:
a) Intervenção na escolha dos governantes
b) Intervenção na fiscalização dos actos dos governantes e na possibilidade da sua
não designação.
Na prática a concretização da relação entre governantes e governados pode assumir-se:
1)Como democracia representativa, em que os governantes mandam em nome do povo e
têm a sua confiança politica. Democracia representativa – a dimensão representativa
relaciona-se com a designação dos titulares dos órgãos públicos, principalmente do
Estado, que desempenham os mandatos em nome do povo, em que a eleição é o modo
fundamental dessa designação, e na qual participam através do voto os cidadãos activos
da comunidade.
2) Como democracia referendária, em que o povo decide pontualmente sobre
questões de governação, com a força de acto jurídico ou público34.
3) Como democracia participativa, em que o exercício dos direitos políticos que formam a
opinião pública contribuem pelo menos informalmente para a limitação do poder do
poder público e para a sua democratização.,
O princípio democrático na nossa Constituição assume-se como primeiro princípio
estruturante do direito constitucional e é referido em muitos artigos da Constituição,
desde logo no seu preâmbulo, parágrafos 1 e 2, e também (só a título de exemplo):
(artigos n.(s) 1, 2, 3, 40, n. 2 e 114, n. 2). Também na Constituição são visíveis as três
modalidades ou dimensões de democracia que atrás referimos.
CONCRETIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO
esdobra-se em 4 princípios:
I - princípio da soberania popular
- princípio da representação popular
III - princípio da democracia semi-directa
IV - princípio da participação
Princípio da Soberania Popular - art. 2º e 3º da CRP
a) princípio de titularidade da soberania do Estado ( o domínio político carece de
uma justificação quanto à sua origem, isto é, precisa de legitimação);
b) princípio de legitimação do poder político ( só pode derivar do próprio povo);
c) princípio da titularidade do poder (o povo é ele mesmo o titular da soberania ou
do poder35);
34Eleição e referendo, são coisas diferentes: Eleição – destina-se à escolha dos
governantes. Referendo –
destina-se à tomada de decisão sobre uma questão concreta
d)princípio da soberania popular (a soberania popular existe, é eficaz e vinculativa no
âmbito de uma ordem constitucionalma terialmente informada pelos princípios da
liberdade política, da igualdade dos cidadãos, da organização plural de interesses; e
procedimentalmente dotada de instrumentos que garantam a operacionalidade deste
princípio ( artigo 2º e 10º);
e) princípio de legitimação material e formal da CRP ( há um plano de construção
organizatória da democracia, pois é ela que determina os pressupostos e os
procedimentos segundo os quais as decisões e as manifestações de vontade do povo são
jurídica e politicamente relevantes).
Princípio da Representação Popular - art. 10º da CRP
a) como derivação directa ou indirecta do princípio da soberania popular;
b) como exercício jurídico de funções de domínio por órgão do estado em nome do
povo;
c) como exercício do poder com vista a prosseguir os fins ou interesses do povo.
Na CRP este princípio tem a sua expressão máxima na representação parlamentar -
art. 147º da CRP.
Princípio da Democracia Semi-directa - art. 2º "in fine" da CRP
- como expressão do complexidade do Princípio democrático e aprofundamento da
democracia participativa.
Formas:
a) Referendo –artigo 115 ( cfr. art. 115º , nº 2 e 166º da CRP ; Referendo
regional artigo 232º, nº2; referendo da instituição das regiões em concreto
256º)
b) Iniciativa popular - art. 167º n.º 1 CRP
c) Veto – Instrumento político que permite aos cidadãos exigir que uma
determinada lei seja submetida a voto popular. Não previsto na CRP
d) Plebiscito – pronúncia popular sobre escolhas ou decisões políticas. Não
previsto na CRP
Princípio da Participação - art. 2º, 9º c), 48º e 109º CRP ou princípio da democracia
participativa.
35 O que significa que o poder do povo se distingue de outras formas de domínio –
castas, classes,
monarcas; e que há necessidade de uma legitimação democrática efectiva para o
exercício do poder – a
legitimação vem do povo e a esta se deve reconduzir
Democracia participativa diz respeito à intervenção dos cidadãos individualmente, ou
principalmente em associações sociais, ou profissionais, nas tomadas de decisão das
instâncias do poder, ou nos próprios órgãos do poder. O seu objectivo é suprir a
distância entre o poder e os cidadãos, que resulta das fórmulas tradicionais da
democracia que a constituição se refere, quando fala no aprofundamento da democracia,
que tem que ser visto como um conceito dinâmico.
Os instrumentos que se colocam ao serviço da democracia participativa estão muito
relacionados com os direitos políticos, que se materializam na liberdade de opinião, de
expressão e informação (artigo 37º), liberdade de imprensa (artigo 38º) liberdade de
reunião (artigo 45º), liberdade de manifestação (45º), liberdade de associação (artigo
46º), liberdade de criação e militância nos partidos (artigo 51º), direitos de petição
(artigo 52º) e direitos de acção popular (artigos n.(s) 52º, nº 3 e 109º, 9, alínea c); 263º,
207º, 267º, n.º 5 e 6).
REFERENDO
Regime jurídico-constitucional do referendo:
a) âmbito territorial36
- a nível nacional - 115º n.º 1 e 2 e 166º CRP
- a nível local (Autarquias Locais) - 240º CRP
- a nível regional (Regiões Autónomas)- 232º, 2 CRP
b) âmbito material dos referendos nacionais
- questão de relevante interesse nacional de competência da Assembleia da República
ou Governo através de aprovação de convenção internacional ou acto legislativo - art.
115º n.º 3 CRP
- estão excluídos: alterações à constituição; questões orçamentais, tributárias ou
financeiras; as matérias dos art. 161º e art. 164º da CRP; - artigo 115º n.º 4 CRP
c)decisão - art. 115º n.º 1 e 134º al. c) CRP
- a decisão de efectuar um referendo cabe exclusivamente ao Presidente da
República37
d)ini ciativa - art. 115 n.º 1 e 2 , 161º al. j), 167º n.º 1, 197º , n.º 1, al. e) CRP
36 O referendo político nacional tem a sua argumentação básica no artigo 115º da
constituição; o artigo
232º, n. 2, refere-se ao referendo regional e o artigo 240º, refere-se ao referendo local. O
referendo de
âmbito nacional, e só pode ter por objecto questões de relevante interesse nacional.
37 O referendo encontra-se na dependência da maioria parlamentar, mas só pode
efectuar-se se o
Presidente da República concordar. (artigo 115, n. 1)
- a proposta de realização de um referendo cabe ao Governo ou à Assembleia da
República por sua iniciativa ou por iniciativa dos cidadãos38
e) eficácia jurídica - art. 115º n.º 11 CRP
- o referendo só tem eficácia jurídica quando o número de votantes for superior a 50%
dos eleitores recenseados - colégio eleitoral - ou seja, nesse caso os órgão de soberania
competentes estão vinculados aos resultados do referendo, sendo obrigados praticar os
actos referendados.
h) universo eleitoral - colégio eleitoral
- os cidadãos portugueses recenseados a nível nacional - art. 115º n.º 1 CRP
- e os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro nas matérias que lhes digam
especificamente respeito art. 115 n.º 12 e 121º n.º 2 CRP
A regulamentação do referendo é desenvolvida por duas leis ordinárias: A lei 15-A/98,
03/04 e a lei orgânica n.º 4/2000, 24/08.39
O PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E O DIREITO DE SUFRÁGIO
O Direito de Sufrágio enquanto instrumento de realização do princípio democrático vai
ser assim determinado por 5 princípios materiais fundamentais: (artigo 10º nº 1 e 113º
n.º 1 CRP):
1 - Princípio da universalidade - art. 49º CRP
2 - Princípio da imediaticidade ou directo (contrapõe-se ao voto indirecto)121º CRP
3 - Princípio do sufrágio secreto - 10º e 113º CRP
4 - Princípio da periodicidade - 118º, 128º e123º, 171º CRP
5 - Princípio da liberdade - 48º n.º 1 CRP
Fases do procedimento eleitoral, que termina com a eleição propriamente dita:
38 Só pode ter por objecto questões que devam ser decididas, quer pela assembleia da
república, quer pelo
governo, através de aprovação de tratados internacionais, ou de actos legislativos, não
podem ser objecto
de referendo certas matérias ou assuntos (artigo 115, n. 4)
O processo de referendo assenta num relacionamento especifico entre a assembleia da
república e o governo, só pode recair sobre um só assunto (tema), com questões
objectivas, claras e precisas que tenham uma resposta de sim ou não. O referendo é
vinculativo nos termos que constam no artigo 115.
39 O instituto do referendo integra-se no sistema representativo, e este apenas se limita
nos casos o
afastamento da política levada a cabo pelos governantes, relativamente aos programas
assentes em eleições gerais e noutros casos a corrigi-la, no sentido da vontade actual do
eleitorado. Como ele se realiza esporadicamente e só acerca de questões determinadas o
referendo constitui muitas vezes um contrapeso de direcção permanente da vida do
Estado.
1. Registo do colégio eleitoral, através do recenseamento
2. Marcação das eleições
3. Apresentação dos candidatos
4. Campanha eleitoral
5. Votação
6. Apuramento dos resultados
7. Fase do contencioso eleitoral
8. Publicidade dos resultados
O sistema eleitoral – que pode ser definido como método que permite traduzir em
mandatos os votos que foram depositados nas urnas pelos eleitores, podem ser
A maioria dos nossos órgãos do Estado são eleitos por sufrágio directo e universal, são
os seguintes:
1 – O Presidente da República
2 – A Assembleia da República
3 – As assembleias legislativas das regiões autónomas
4 – O Parlamento Europeu
O recenseamento eleitoral (Lei n.º 13/99, 23/03), obedece aos seguintes princípios:
b) Permanência
c) Actualização
d) Obrigatoriedade e oficialidade
e) Unicidade
O sufrágio tem as seguintes características:
1 – Universal (não aceita no nosso sistema o sufrágio do tipo capacitário,
censitário, ou de qualquer tipo discriminatório).
2 – Igual
3 – Directo
4 – Secreto
5 – Periódico
6 – Pessoal
Artigo 49, n. 2 da Constituição, refere que o exercício do direito de sufrágio constitui
um dever cívico, isto significa que ele não é obrigatório, situando-se unicamente apenas
no plano da moralidade cívica do cidadão.
O artigo 113º, nº 5 estabelece que a conversão de votos em mandatos é feita pelo
princípio da representação proporcional, sendo adoptado o método da média mais alta
de Hondt. (Artigo 149º e 260º).
Democracia referendária ou semi-directa – consiste na possibilidade de os cidadãos se
pronunciarem acerca de assuntos que se colocam à governação. Nesta dimensão é o
próprio povo que decide. O Artigo 10º,nº1 da Constituição refere-se para além do
sufrágio, o referendo como um dos meios do exercício do poder político.
O PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E O SISTEMA PARTIDÁRIO
a) A CRP consagra o direito constitucional formal à constituição de partidos
políticos: - art. 51º CRP. Os partidos políticos constituem-se livremente, sem
dependência de autorização, embora estejam sujeitos a certos limites de proibição de
violência e de fins contrários à lei penal (artigo 46, n. 1)40.
40 O regime de partidos políticos baseia-se no direito à associação (artigo 46 e 51).
Também não podem
ser consentidos partidos políticos armados ou do tipo militar ou militarizado, nem de
carácter fascista ou
de ideologia fascista.
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de um partido, ninguém pode estar escrito em
mais de um
partido.
Os partidos não podem ser dissolvidos, nem suspensos, salvo nos casos previstos na lei
e só por decisão
judicial.
93
b) a CRP atribui aos partidos políticos direitos fundamentais de participação
política de:
- organização e expressão da vontade popular, art. 10º,2 - participação
nos órgãos representativos - art. 114º
- direitos específicos no funcionamento da AR - art. 180º
- de influencia na formação do governo - art. 187º, 1
c) Os partidos têm direito a funcionar em liberdade externa e interna:
- liberdade externa - liberdade de fundação - art. 51º
- liberdade interna - liberdade de acção e pensamento (ideológico e
programático)
- A liberdade dos partidos encontra limites nos artigos: 51º, 3, 4, 160º, 1
d), 223º, 2, e) CRP41
d) Princípio da igualdade de oportunidade dos partidos políticos - 113º, 3, b) e c),
114º CRP
Lei orgânica dos partidos políticos (Lei n.º 2/2003, 22/08)
Existem garantias de liberdade de filiação partidária. A informática não pode ser usada
para tratamento de dados referentes a convicções políticas ou religiosas, isto encontra-se
desenvolvido na lei de protecção de dados. (Lei n.º 67/98, 26/10)
Não pode haver despedimentos por motivos ideológicos ou políticos.
Como garantia de isenção as Forças armadas são rigorosamente apartidárias (artigo 275,
n. 4). A lei pode estabelecer restrições ao direito de associação dos militares e
militarizados. (artigo 270º)
Os partidos políticos na nossa Constituição têm importância em três matérias:
1 – Em eleições
2 – Acção parlamentar (artigo 180º) e direito a constituir partidos
3 – Em certos poderes de intervenção, tais como o direito à informação
pelo governo (artigo 114º, n. 3) e apreciação dos decretos-leis (artigo
41 Não podem ter uma denominação, que contenha expressões relacionadas com
religião, igreja, símbolos
religiosos. Cabe ao Tribunal Constitucional verificar a legalidade da constituição dos
partidos políticos e das suas coligações, e também a legalidade dos seus nomes, das suas
siglas e símbolos e ordenar a sua extinção nos termos da constituição e da lei. (artigo n
233º, alínea e))
169º). Ainda no direito das minorias à oposição democrática (artigo 114,
n. 2)
PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO E PRINCÍPIO MAIORITÁRIO
Consagração na C.R.P.:
1) princípio maioritário da deliberação dos órgãos colegiais - art. 116º, 3;
2) exigência de maioria para aprovação de certas leis –art.168º;
3) maioria qualificada para rever a CRP - art. 284º e 286º
Limites:
O direito da maioria é sempre um direito em concordância com os direitos das minorias,
nesse sentido:
- a maioria não pode dispor de determinados direitos (Sistema de Direitos
Fundamentais);
- exigência de maiorias qualificadas, que implicam a necessidade de participação
das minorias na decisão;
- finalmente há um limite interno (ético) ao princípio da maioria, a noção que embora as
decisões da maioria sejam vinculativas não são necessariamente materialmente mais
justas nem as únicas verdadeiras.
Se o sufrágio é o modo de participação dos cidadãos, o princípio da maioria é o critério
da decisão, encontrando-se consagrado expressamente, entre outros no artigos 114º,
116º e 126º.
A decisão por maioria decide sobre qualquer questões políticas, em regra, mas há certas
questões em que é exigido uma maioria agravada ou qualificada ( ex. alteração da
Constituição)
Há, ainda, a referir que na sociedade complexa e plural dos nossos dias, nem sempre a
decisão da maioria tem força suficiente para se impor, ou se mostrar idónea para a
presunção de certos objectivos da sociedade. Designadamente em matéria laboral,
salarial, a tendência é para complementar essa maioria por vontades contratuais, que é a
chamada concertação social que existe no domínio das relações laborais.
Aula de 30-10-2006 (suplementar)
Princípio da Socialidade ou Princípio do Estado Social
A DEMOCRACIA ECONÓMICA E SOCIAL art. 2º CRP
Novo Fim para o Estado→ a realização da democracia económica, social, cultural e
ambiental - art. 9º d) CRP. Que se liga com o Fim da Justiça Retributiva→ a promoção
da igualdade real entre regiões e cidadãos – art. 81º a) e d) e art. 90º CRP
A democracia, económica, social e cultural é o que se costuma chamar de Estado social,
e que se traduz essencialmente na responsabilidade pública pela promoção do
desenvolvimento económico social e cultural, na satisfação dos níveis básicos de
prestações sociais para todos e na correcção das desigualdades sociais
Este princípio é um objectivo a realizar mediante a observação do princípio democrático
e o princípio do Estado de direito.
A democracia económica é referida nos (artigos 80º a 89º)
A democracia social é referida nos (artigos 63º a 72º)
A democracia cultural é referida nos (artigos 73º a 79º)
A Constituição refere no artigo 1º a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
No artigo 2º refere claramente que visa a democracia, económica, social e cultural
(artigo n. 9º). Assume, também, o princípio ou direito à igualdade social que tem
implicações a vários níveis (direito fiscal - princípio da capacidade contributiva e a ideia
do imposto progressivo; No direito laboral a protecção do trabalhador como elo mais
fraco). Está também desenvolvida quanto à proibição da discriminação racial (artigo 13º
e 71º, n. 2), aos cidadãos portadores de deficiência (artigo 74º, n. 2, alínea g)).
Assume-se, ainda, quanto aos direitos dos Estrangeiros e Emigrantes (artigos 33º, n. 8 e
74º, n. 8, alínea j)
Com a consagração dos direitos fundamentais, com carácter económico, social e
cultural
(Artigo 58 – Direito ao trabalho)
(Artigo 53 – Direito à Segurança Social)
(Artigo 64 – Direito à Saúde)
(Artigo 65 – Direito à Habitação)
(Artigo 74 – Direito ao Ensino)
(Artigo 78, n. 1 – Fruição e Criação cultural)
(Artigo 79, n. 1 – Cultura Física e Desporto)
A relevância do chamado Estado social é que a sua realização é um processo, um
caminhar no sentido de um crescente de justiça social, constituindo cada avanço nessa
direcção um aperfeiçoamento do Estado de direito democrático e cada progresso vai-se
radicando com um elemento adquirido desse Estado. Por isso qualquer retrocesso no
caminho percorrido não se limita a contrariar o princípio constitucional da democracia
económica, social e cultural, mas infringe também directamente o princípio do Estado
de direito democrático. Assim o princípio do Estado social constitui uma directiva
constitucional, e a sua sistemática desconsideração pode resultar em situações de
incumprimento da Constituição que afirma o princípio do não retrocesso social.
Este princípio pode formular-se do seguinte modo:
- O núcleo essencial dos direitos sociais, já realizado e efectivado através de
medidas legislativas (exemplo: Lei do Serviço Nacional de Saúde, Lei da Segurança
Social e Desemprego, etc.), deve considerar-se constitucionalmente garantido, devendo,
por isso, entender-se como inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que não
criando outros esquemas alternativos ou compensatórios se traduzam na prática na
anulação, revogação, ou aniquilação pura e simples daquele núcleo essencial.
O princípio da democracia económica e social aponta para a proibição do retrocesso
social, também designada como proibição de contra-revolução social ou da evolução
reaccionária. Isto quer dizer que os direitos sociais e económicos (direitos dos
trabalhadores, direito à assistência, direito à educação) uma vez obtido um determinado
grau de realização, passam a constituir, simultaneamente uma garantia institucional e
um direito subjectivo. A proibição de retrocesso social não pode fazer nada contra as
recessões e crises económicas mas esse princípio limita a reversibilidade dos direitos
adquiridos ( ex. segurança social, subsídio de desemprego, prestações de saúde, etc),
sob pena de existir uma clara violação do princípio da protecção da confiança e da
segurança dos cidadãos no âmbito económico, social e cultural e do núcleo essencial da
existência mínima que é inerente ao respeito pelo princípio da dignidade da pessoa
humana. A violação deste núcleo essencial efectivado justificará a sanção da
inconstitucionalidade relativamente a normas que manifestamente aniquilem a chamada
“ justiça social”. Será inconstitucional uma lei que extinga o subsídio de desemprego ou
que pretenda alargar excessivamente o tempo de serviço necessário para a aquisição do
direito à reforma.42
Este princípio da proibição do retrocesso pode, no ensinamento de Gomes Canotilho,
formular-se da seguinte forma:
O núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efectivado através de medidas
legislativas ( lei da segurança social; lei do subsídio de desemprego; lei do serviço de
saúde) deve considerar-se constitucionalmente garantido sendo inconstitucionais
quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou
compensatórios, se traduzam na prática numa anulação, revogação ou aniquilação pura
e simples desse núcleo essencial. A liberdade de conformação do legislador e inerente
auto-reversibilidade têm como limite o núcleo essencial já realizado.
Princípio da Unidade
O artigo 6º da Constituição considera o princípio da unidade do Estado como princípio
estruturante do Estado, na óptica organizatório-territorial. Estado unitário será aquele
que, num determinado território e para a população que nele vive, tem uma base única
para a estadualidade ( ou estatalidade). Isto significa que: a) existe uma organização
política e jurídica ( o Estado) à qual se imputa a totalidade das competências estaduais
( defesa, justiça, representação externa, por exemplo); b) que existe uma só soberania
interna e externa, não existindo outras organizações soberanas ( como nos estados
federais); c) da unitariedade do Estado resulta a imediaticidade das relações jurídicas
entre o poder central e os cidadãos; d) do carácter unitário resulta, ainda, a ideia de
indivisibilidade territorial.
Em resumo unidade do Estado significa República una, com uma única Constituição e
órgãos de soberania únicos para todo o território nacional
Princípio da autonomia das autarquias locais
O princípio da autonomia das autarquias locais é uma das dimensões da organização do
Estado unitário (artigo 6º da CRP), ao lado do respeito pelo regime autonómico insular.
42 J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina,
1998, pg 320 e 321.
Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional 39/84 e 148/94.
A Constituição refere no artigo 235º que as autarquias locais são uma componente da
organização democrática do Estado, podendo dizer-se, assim, que é um princípio
estruturante da organização política e da organização territorial do Estado.. Esta
autonomia verifica-se, desde logo, pela inserção do Poder Local num título
autónomo( Título VIII), isto é fora da administração do Estado. Depois porque a
existência de autarquias locais é uma garantia institucional (artigo 235º, nº 1),
transportando um núcleo ou reduto do poder local indisponível para o Estado. São
dimensões concretas deste núcleo essencial do poder autárquico: 1- o direito à
existência (artigo 235º, nº1), implicando autogoverno local, com órgãos representativos
eleitos directa e indirectamente pelo colégio eleitoral de base; 2- garantia de órgãos
representativos dotados de determinadas competências autárquicas; 3- garantia da
prossecução de interesses próprios das populações respectivas através de órgãos de
governo próprios ( 235º, nº 2). Há, assim, um conteúdo subjectivo, um conteúdo
objectivo e um conteúdo institucional globalmente integradores da autonomia das
autarquias locais, isto é, a autonomia local inclui um núcleo estável e irrevisível ( artigo
288º, alínea n))43, levando a que o legislador não possa eliminá-las, embora caiba
dentro da sua liberdade de conformação ( pelo menos em relação às freguesias e
municípios) a criação e extinção de autarquias; e o direito à organização própria e o
direito às competências próprias para através dos seus órgãos representativos,
livremente eleitos, prosseguirem os interesses próprios das populações, que pode ser
feita de forma autónoma ou em cooperação com o poder político central.
O princípio da subsidiariedade
O princípio da subsidiariedade44, em articulação com a cláusula de integração europeia
(art. 7°/6) e com o princípio do Estado Unitário (art. 6.°/1) adquiriu uma dimensão
estruturante da ordem constitucional portuguesa.
O princípio da subsidiariedade densificado a nível das relações Estados-membros/União
Europeia e do Estado Unitário/regiões e autarquias locais é expressão de um princípio
geral de subsidiariedade que pode formular-se da seguinte forma: as comunidades ou
esquemas organizatório-políticos superiores só deverão assumir as funções que as
43 As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
n) A autonomia das autarquias locais;
o) A autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
44 Depois da revisão de 1992, no que respeita à União Europeia, e depois da revisão de
1997
comunidades mais pequenas não podem cumprir da mesma forma ou de forma mais
eficiente45.
O princípio da subsidiariedade articula-se com o princípio da descentralização
democrática: os poderes autonómicos regionais e locais das regiões autónomas e das
autarquias locais (comunidades de dimensões mais restritas) devem ter competências
próprias para regular e tratar as tarefas e assuntos das populações das respectivas áreas
territoriais (administração autónoma em sentido democrático). Ligado a este princípio
da administração autónoma democrática, está o principio da desburocratização (art.
267.°/ 1) assegurando a participação das populações na defesa e prossecução dos seus
interesses (princípio da subsidiariedade como princípio antiburocrático).
Em relação às relações dos Estados-membros/União Europeia o princípio da
subsidiariedade transporta duas dimensões fundamentais: (1) as competências da União
Europeia são competências de atribuição não devendo transferir-se para uma
comunidade de nível superior competências esvaziadoras da estatalidade (dos Estados
membros) e da autonomia regional e local; (2) a execução das políticas e decisões da
União Europeia devem localizar-se nos Estados membros (cfr. Tratado UE, art. 3.°/B)
na medida em que os objectivos possam ser por estes suficientemente realizados e desde
que não se trate de competências exclusivas da Comunidade.
Assim, como refere Gomes Canotilho46 “o princípio da subsidiariedade não tem
contornos definidos nem nas relações Estados membros - Comunidade Europeia nem
nas relações República - poderes regionais e locais, podendo transformar-se, até, num
princípio normativo de controlo, obrigando, por exemplo, os tribunais e outras
instâncias de controlo a fiscalizar se certas medidas comunitárias ou estatais violam o
princípio da subsidiariedade”.
INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO - a interpretação das normas jurídicas implica não
só a apreensão do seu significado objectivo como a sua aplicação a situações concretas.
Como refere Jorge Miranda47 “ Há sempre que interpretar a Constituição como há
45 R. Zippelius, Teoria Geral do Estado, 3ª edição, 1997, pg 159 VITAL MOREIRA, A
Administração
Autónoma, pg. 250.
46 46 J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina,
1998, pg 340-341
47 Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 649
sempre que interpretar a lei. Só através desta tarefa se passa da leitura política,
ideológica ou simplesmente empírica para a leitura jurídica do texto constitucional”
Acrescenta o mesmo autor que “ existe, pois, hoje, o reconhecimento da importância da
interpretação constitucional – não só para o juiz ( sobretudo, quando pode desaplicar
normas inconstitucionais) mas também para os cidadãos em geral; “ chegando ao ponto
de se preconizar uma “ sociedade aberta de intérpretes da Constituição, especialmente
no domínio dos direitos fundamentais como expressão de uma res publica” como refere
Peter Haberle.
A interpretação constitucional não é diferente da que se faz em outras áreas do direito.
No entanto a interpretação constitucional tem de ter em conta condicionalismos e fins
políticos, apesar de não poder visar outra coisa que não sejam os preceitos e princípios
jurídicos que lhes correspondam.
Não há norma na C.R.P. sobre interpretação e por isso vamos socorrer-nos do artigo 9º
do Código Civil48
ARTIGO 9º
(Interpretação da lei)
1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o
pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é
aplicada.
(…)»
ELEMENTOS DE INTERPRETAÇÃO
1) elemento literal / gramatical – a “letra da lei”
2) elemento lógico – “reconstituir o pensamento legislativo”:
2.1) elemento racional / teleológico - "ratio legis", ou seja, “para quê” e “por quê”;
2.2) elemento sistemático – “unidade do sistema jurídico”;
2.3) elemento histórico – “circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições
específicas do tempo em que é aplicada”.
A INTERPRETAÇÃO DA C. R. P.
48 Há quem refira que este artigo 9º é uma norma materialmente inconstitucional e que
aqui não iremos
abordar.
A função integradora da constituição reclama a função racionalizadora da interpretação
da C. R. P.. Assim, a interpretação da Constituição tem de ser objectiva e evolutiva de
maneira a assegurar a coerência e a subsistência do ordenamento.
No entanto a interpretação deverá ter sempre em conta os seguintes aspectos:
1) a Constituição deve ser entendida como um todo, na busca de uma
unidade e harmonia de sentido;
2) se existirem “contradições de princípios” deverão ser superadas quer mediante a redução
adequada do respectivo alcance e da cedência de parte a parte; quer noutros casos,
mediante a preferência ou a prioridade na efectivação de uns princípios em relação a
outros, nuns casos através da coordenação e noutros através da subordinação. Mas é
necessário fazer-se, sempre, um esforço de concordância prática assente num
critério de proporcionalidade, podendo existir ponderação e
hierarquização dos valores inerentes aos princípios constitucionais;
3) são verdadeiras normas jurídicas e, logo, devem ser interpretadas de forma a dar-lhes a
máxima eficácia possível, ou como refere Gomes Canotilho49 “ a uma norma
fundamental tem de ser atribuído o sentido
que mais eficácia lhe dê”. Interpretar a Constituição é ainda realizar
a Constituição.
4) atender não só ao que as normas constitucionais explicitamente ostentam
como também ao que implicitamente delas resulta;
5) As normas constitucionais devem sempre ser interpretadas e aplicadas como normas da
Constituição actual, da Constituição que temos e em vigor, e não como normas de uma
Constituição futura;
6) Na interpretação dos preceitos da Constituição é legítimo e pode ser conveniente
considerar o modo como é feita a sua aplicação prática na lei e nas decisões dos
tribunais, mas sem nunca perder de vista que é a Constituição que conforma a lei
ordinária e não o contrário, poisn ã o é a Constituição que deve ser interpretada em
conformidade com a lei, mas
sim a lei que deve ser interpretada em conformidade com a Constituição.
49 J.J.Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina,
1998, pg 1187.
Inclusivamente no caso das chamadas normas programáticas;
Em conclusão podemos dizer que apesar de não estarem previstas normas de
interpretação na Constituição, será de recorrer a outros preceitos previstos no
ordenamento jurídico, nomeadamente ao Código Civil ( artigo 9º), pois essas regras são
válidas e eficazes e traduzem uma vontade legislativa que não é contrariada por outras
disposições. Como acrescenta Jorge Miranda50, “regras sobres estas matérias podem
considerar-se substancialmente constitucionais não repugnando, mesmo vê-las dotadas
de valor de costume constitucional (praeter legem)”.
A INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA DA CONSTITUIÇÃO
a) Através de Lei Ordinária?
Lei Ordinária deve obedecer à Constituição, mas:
- tem força jurídica inferior
- tem menor legitimidade democrática
b) Através do Tribunal Constitucional?
O Tribunal Constitucional tem poderes de fiscalização da conformidade das Leis
ordinárias com a Constituição, mas:
- não têm poderes legislativos
- apenas jurisdicionais
c) Através de Lei Constitucional?
SIM:
- tem a mesma força jurídica e legitimidade democrática!
Aula de 31-10-2006 (suplementar)
A INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO
Interpretar a lei ordinária de forma a que esta respeite os preceitos constitucionais
requer a prévia interpretação da Constituição no sentido de se apurar em que sentido o
legislador constitucional quereria que dar à lei ordinária caso a tivesse feito. Logo a
interpretação da constituição é relevante enquanto parte do elemento sistemático a ter
em consideração na interpretação da Lei Ordinária. Mais, a interpretação conforme a
Constituição é também a regra de interpretação decorrente da fiscalização da
constitucionalidade operada pelo Tribunal Constitucional.
50 Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 657
Interpretação conforme com a Constituição será discernir no limite – na fronteira da
inconstitucionalidade – um sentido que, embora não aparente ou não decorrente de
outros elementos de interpretação, é o sentido necessário e o que se torna possível por
virtude da força conformadora da Lei Fundamental.
A interpretação conforme a Constituição tem de estar sujeita a um requisito de
razoabilidade: implica um mínimo de base na letra da lei; e tem de se deter aí onde o
preceito legal conforme com a Constituição, fique privado da função útil ou onde,
segundo o entendimento comum, seja incontestável que o legislador ordinário acolheu
critérios e soluções opostos aos critérios e soluções do legislador constituinte.51
A INTEGRAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
A CRP não regula tudo quanto dela deve ou pode ser objecto. A Constituição
expressamente o admite prescrevendo a integração pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem no artigo 6º n.º 2 CRP e remetendo para a lei ordinária e para as
regras do Direito Internacional quanto a Direitos fundamentais não previstos na CRP
(artigo 16º n.º 1 da CRP).
Por fim, a universalidade do ser humano e da sociedade humana não é comportável num
texto constitucional, ou sequer, na previsão internacional globalmente considerada. Por
isso a existência delacun as.
INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DA C.R.P.
Recurso à unidade de princípios e valores previstos na própria CRP .A integração de
lacunas de normas formalmente constitucionais deve ser feita no interior da
Constituição formal à luz de valores da Constituição material, sem recurso a normas de
legislação ordinária. Os critérios do artigo 10º da Código Civil aplicam-se pelo facto de
traduzirem uma vontade legislativa, não contrariada por nenhumas outras disposições,
podendo, da mesma forma que o artigo 9º do C.C. para a interpretação, considerar-se
normas substancialmente constitucionais não repugnando mesmo vê-las dotadas do
valor do costume constitucional (praeter legem), como refere Jorge Miranda52.
CRITÉRIOS DE INTEGRAÇÃO:
51 Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 661
52 Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição, Coimbra Editora, 2002, pg 657
Não há norma na C.R.P. sobre integração. Artigo 10º do Código Civil5 3
«ARTIGO 10º DO CÓDIGO CIVIL
(Integração das lacunas da lei)
1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos
análogos.
2. Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões justificativas da
regulamentação do caso previsto na lei.
3. Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que o próprio
intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema.»
Assim, a integração de lacunas da constituição deverá ser feita por analogia ou pela
ficção da norma que o legislador constitucional criaria caso tivesse previsto a situação
em atenção à unidade do sistema constitucional.
MODIFICAÇÃO E SUBSISTÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO
A Constituição enquanto diploma fundamental de expressão da vontade popular
materializada na criação e regulação do Estado pretende perdurar no tempo
acompanhando a vida desse Estado. Nessa medida, toda a Constituição sofrerá
inevitavelmente as vicissitudes da evolução das circunstâncias económicas, sociais,
culturais e políticas do próprio Estado e, se quiser perdurar, deverá modificar-se em
atenção a esta evolução.
Nomeadamente, a Constituição de um Estado Democrático que aceita a circunstância
dinâmica do princípio democrático, não pode deixar de ser permeável a este dinamismo,
pois a vida constitucional é igualmente um processo dinâmico. Assim, a vida do Estado
gera inevitavelmente factos e momentos históricos que se projectam na Constituição -
chamaremos a estes as vicissitudes constitucionais.
VICISSITUDES CONSTITUCIONAIS
QUANTO AO MODO
a) expressas: revisão (formal) ou ruptura constitucional.
53 Há quem refira que este artigo 9º é uma norma materialmente inconstitucional e que
aqui não iremos
abordar.
b) tácitas: costume constitucional, interpretação evolutiva.
QUANTO AO OBJECTO
a) parciais: todas menos a
b) totais: revolução e transição constitucional
QUANTO ÁS CONSEQUÊNCIAS:
a) evolução constitucional: todas menos a↓
b) com ruptura: revolução e ruptura não revolucionária
QUANTO À DURAÇÃO DOS EFEITOS
a) definitivos: todas menos a↓
b) temporários: suspensão (parcial) da constituição (art. 19º, 134º d) e 138º da
CRP - estado de sítio ou estado de emergência)
RIGIDEZ E FLEXIBILIDADE CONSTITUCIONAL
Diz-serígida a Constituição que, para ser revista, exige a observação de uma forma
particular distinta da forma seguida para a elaboração das leis ordinárias.
Diz-sef lexível aquela em que são idênticos os processo legislativo e o processo de
revisão constitucional, aquela em que a forma é a mesma para a lei ordinária e para a lei
constitucional.
A rigidez constitucional é a norma nos Estados modernos e resulta da adopção do
conceito da constituição formal e instrumental.
VANTAGENS DE UMA CONSTITUIÇÃO RÍGIDA
- A superior legitimação democrática confere legitimidade à sua superior força
normativa
- Impede que a Constituição possa ser alterada levianamente sob a pressão de
quaisquer acontecimentos circunstanciais
- Garante assim a necessária estabilidade ao ordenamento jurídico e à confiança
e fiabilidade do mesmo
VANTAGENS DAS CONSTITUIÇÕES FLEXÍVEIS
- Permite a fácil actualização da constituição formal e instrumental em função
natural evolução da consciência global;
- Impede que a Constituição formal e instrumental seja ultrapassada pela realidade
constitucional, tornando-se obsoleta, e de certo modo ilegítima, e nesse sentido
potenciando a sua própria derrogação
RIGIDEZ E FLEXIBILIDADE CONSTITUCIONAL
CONCLUSÃO:
Por um lado, os fins de Segurança e Justiça que o Estado Direito pretende alcançar
exigem estabilidade ao ordenamento jurídico e à confiança e fiabilidade do mesmo, o
que só pode ser garantido mediante a rigidez dos princípios estruturantes deste
ordenamento.
Por outro lado, é imperioso a existência da possibilidade formal de revisão, ainda que
dentro de regras mais apertadas, no sentido de impedir que a Constituição seja
ultrapassada pela realidade constitucional.
A par da rigidez, uma flexibilidade controlada de revisão, é a melhor garantia da
perpetuação da própria Constituição.
OS DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS
PROCESSO DE ACUMULAÇÃO HISTÓRICA
1ª GERAÇÃO – LIBERAL (liberdades face ao poder do estado)
2ª GERAÇÃO – DEMOCRÁTICA (igualdade, liberdade de associação, de
participação)
3ª GERAÇÃO – SOCIAL (novas liberdades: greve, sindical, etc... direitos sociais:
direitos à participação do estado)
4ª GERAÇÃO – SOLIDARIEDADE MUNDIAL ( OU SOLIDARIEDADE
INTERGERACIONAL – nosso sublinhado (Direito ao Ambiente, ao Património
Cultural)
DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
1ª - DIREITOS NATURAIS:
. reconhecidos independentemente do tempo e do lugar
2ª - DIREITOS HUMANOS:
. reconhecidos em dado momento histórico independentemente do
lugar.
3 ª - DIREITOS FUNDAMENTAIS:
. reconhecidos em dado momento histórico e em determinado lugar
SISTEMA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA PORTUGUESA
Direitos fundamentais – são os direitos ou posição jurídica subjectiva das pessoas
enquanto tais individual ou institucionalmente considerados, assentes na Constituição,
ou seja na Constituição formal e na Constituição material. Daí que se possa falar em
direitos fundamentais em sentido formal ou em sentido material.54
Regime jurídico dos direitos fundamentais – a Constituição não consagra um regime
unitário dos direitos fundamentais, mas ao contrário ela estabelece um regime geral dos
direitos fundamentais, aplicável a todos os direitos fundamentais, quer sejam
consagrados com os Direitos Liberdades e Garantias, quer com os direitos económicos,
sociais e culturais, e quer se encontrem no catálogo ou fora do catálogo.
Consagra, ainda, um regime específico dos Direitos Liberdades e Garantia, aplicável aos
Direitos Liberdades Garantia e aos direitos de natureza análoga.
54 Uma das classificações, muito importante é a que se refere aos Direitos Liberdades e
Garantias, que
se encontra no Titulo 2 da constituição, que se dividem em Direitos Liberdades e
Garantias pessoais, que
vêm no Capitulo 1, de participação política, que vêm no Capitulo 2 e dos trabalhadores,
que vêm no
3.
Direitos Liberdades e Garantias
Pessoais
Participação política
Trabalhadores
Direitos económicos, sociais e culturais, têm um regime diferente dos Direitos,
Liberdades e Garantias.
Dos direitos fundamentais formalmente constitucionais, e direitos materiais
formalmente constitucionais
que não tem assento na constituição.
Os primeiros, são enunciados pela constituição, mas a constituição admite outros,
constantes das leis e
regras aplicáveis ao direito internacional (artigo 16º)
Portanto não podemos entender o artigo 16º, n. 1, como uma clausula fechada, mas sim
como uma
clausula aberta a outros direitos fundamentais.
Direitos fundamentais dispersos (fora do catálogo), e direitos fundamentais do catálogo.
Os direitos fundamentais que vêem referidos na primeira parte da constituição (artigos
12 a 80), são o que
se costuma chamar os direitos fundamentais do catálogo, o mesmo não esgota o campo
constitucional dos
direitos fundamentais existem outros direitos fundamentais dispersos ao longo da
constituição,
regularmente chamados fora do catálogo.
E alguns desses direitos, são direitos de natureza análoga.
Exemplo: (artigos n.(s) 99º, alínea e), 103º, n. 3, 124, n. 1)
Direitos de natureza análoga aos Direitos Liberdades e Garantias
O (artigo 17º), fala-nos de direitos de natureza análoga aos Direitos Liberdades e
Garantias.
Não é fácil estabelecer os contornos desses direitos, mas é importante fazer essa
qualificação, porque eles
têm o mesmo regime dos Direitos Liberdades e Garantias.
Nota: Estes dois regimes não se excluem. O que acontece é que o primeiro (regime
geral), é aplicável a todos e o segundo (regime específico), acresce para alguns deles
(Direitos Liberdades e Garantias, e direitos de natureza análogos) ao primeiro regime.
REGIME GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS - aplicável a todos os direitos
fundamentais, quer se encontrem no «catálogo dos direitos fundamentais» ou fora desse
catálogo, dispersos pela Constituição, ou ainda em outras fontes de direito reconhecidas
pela Constituição – artigo 16º CRP.
REGIME ESPECÍFICO DOS DIREITOS LIBERDADES E GARANTIAS –
consagrado nas normas constitucionais para aplicação exclusiva aos designados
«direitos, liberdades e garantias e aos direitos de «natureza análoga»55.
REGIME DOS DIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS – não tendo
normas de regulação específica, e aplicando-se o regime geral dos Direitos
Fundamentais, pela natureza das suas normas e preceitos é possível caracterizar um
"regime" próprio que lhes é implícito
REGIME GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
55 Não é fácil estabelecer os contornos desses direitos, mas é importante fazer essa
qualificação, porque
eles têm o mesmo regime dos Direitos Liberdades e Garantias.
Como ponto de partida devemos ter em consideração o seguinte:
1 – Direitos de natureza análoga – são os que embora não venham referidos no catálogo,
beneficiam de
um regime idêntico aos Direitos Liberdades e garantias.
Os direitos de natureza análoga, tento podem encontrar-se entre os direitos económicos
sociais e culturais,
como dispersos na constituição.
As operações metódicas, que nos conduzem à captação da natureza análoga devem
tomar em consideração um esquema que, permita classificar em cada caso concreto a
analogia, relativamente aos seguintes aspectos:
- Em primeiro lugar procurar e analisar em cada uma das categorias: (Direitos,
Liberdades e
Garantias), e não em relação ao conjunto dos três.
- Dentro de cada uma das espécies sistematizadas, na constituição, deverá procurar-se
dentro da
respectiva analogia.
Exemplo: passíveis de direitos de natureza análoga.
Titulo da primeira parte, número um, temos o direito de resistência e o direito legitimo a
defesa (artigo
21º)
Direito de acesso ao direito e à justiça (artigo 20º)
Direito de queixa ao provedor de justiça (artigo 23º)
Titulo três da parte um, temos os direitos dos consumidores (artigo 60º)
Direito da iniciativa económica privada (artigo 61º, n. 1)
Direito de propriedade (artigo 62º)
Na parte dois – o direito de participação dos trabalhadores, na gestão das empresas do
sector público
(artigo 89º)
Direito de resistência fiscal (artigo 103º, n. 3)
Na parte três – os direitos das administrações em geral (artigo 268º)
Direito à objecção de consciência (artigo 276º)
Regime geral: todos aplicam-se os Direitos Liberdades e Garantias
Âmbito da titularidade dos direitos fundamentais (a quem se aplicam?):
1) Princípio da Universalidade - artigo 12º da CRP
2) Princípio da Igualdade - art. 13º CRP
3) Princípio do acesso ao direito e da garantia da tutela jurisdicional efectiva -
artigo 20º da CRP
Princípios Reguladores:
1) Princípio da Universalidade - artigo 12º da CRP
Naturalmente que há direitos fundamentais, que pela sua natureza, são exclusivos de
determinadas pessoas:
Dos cidadãos portugueses - art. 15º n.º 2 ; 121º, n.º 1; 122º; 275º n.º 2 CRP.
Dos cidadãos europeus - art. 8º do Tratado da União Europeia.
Dos cidadãos dos CPLP - art. 15º n.º 3 CRP
Dos estrangeiros em geral - - art. 33º n.º 8
Fala-se ainda de Direitos Fundamentais de Pessoas Colectivas - art. 12º n.º 2 -
na medida em que estes sejam «compatíveis com a sua natureza».
Os direitos fundamentais são direitos de todos, são direitos humanos e não só dos
cidadãos Portugueses, excepto quando a Constituição, ou a lei (com autorização
constitucional), estabelecer uma reserva de direitos para os cidadãos Portugueses.
Nota: Este princípio embora inseparável do princípio da igualdade, não se confunde
com ele.
O princípio da universalidade tem a haver com os destinatários das normas, enquanto o
princípio da igualdade tem a haver com o conteúdo do direito. O primeiro tem uma
dimensão essencialmente quantitativa, enquanto o segundo tem uma dimensão
qualitativa. Na nossa Constituição, podemos detectar quatro círculos subjectivos nas
normas que consagram os direitos fundamentais:
133
– artigo 198º n.º 1 c) – em desenvolvimento de Bases Gerais definidas pela A.R.
OS TRIBUNAIS
1 – Poder separado
- artigo 202º n.º 1 - dois sentidos: o poder judicial pertence exclusivamente aos
Tribunais, os Tribunais apenas detêm o poder jurisdicional.
2 – Órgão independente
- artigo 203º - colectiva (Tribunais enquanto judicatura)
- artigo 203º - funcional – apenas estão sujeito à Lei
- artigo 216º n.º 3, 4 e 5 – individual – incompatibilidades mínimas.
- artigo 165º - interna e externa – a sua organização é garantida pela reserva de Lei da
Assembleia da República
3 – Ausência de responsabilidade política
- artigo 216º n.º 2 - a Independência e imparcialidade dos Juízes é garantida também
através do princípio da irresponsabilidade – individual e colectiva.
4 – Órgão plural
- artigo 209º - O poder jurisdicional está dividido por diversas jurisdições:
Direito Constitucional (Tribunal Constitucional);
Direito Privado (Tribunais Judiciais - Civil, Criminal, Comercial, Família,
Trabalho);
Direito Público (Tribunais Administrativos e Fiscal)
Despesa Pública (Tribunal de Contas)
Jurisdições facultativas (Marítimos, Arbitrais e Julgados de Paz)
Militar (Tribunais Militares)
5 – Órgão “polarizado”
O poder jurisdicional está disperso por juízos individuais.
6 – Órgão sem legitimidade democrática directa
A legitimidade dos Tribunais resulta da própria Constituição, enquanto “corpo”
independente e imparcial essencial ao funcionamento do Estado de Direito
SISTEMA SEMI-PRESIDENCIALISTA DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA PORTUGUESA
Presidente da
República
Assembleia da
República
Governo
Os Tribunais
Falta aqui um grande quadro
A CONSTITUIÇÃO E O SISTEMA DAS FONTES DE DIREITO
1ª - Identifica as FONTES DE DIREITO:
Art. 8º - direito internacional e direito comunitário
Art. 56º, n.º 4 - convenções colectivas de trabalho
Art. 112º, n.º 1 - actos normativos:
leis, decretos-leis e decretos legislativos regionais;
n.º 6 e 7: regulamentos
n.º 5 – poder exclusivo da constituição
Art. 115º - referendo
Art. 226º - Estatutos das regiões autónomas
2ª - estabelece os CRITÉRIOS DE VALIDADE E EFICÁCIA de cada uma:
Art. 112º
n.º 2 - as Leis e os Decretos-leis têm igual valor;
n.º 3 - algumas leis tem valor reforçado
n.º 4 - as Leis e decretos-leis prevalecem sobre os
decretos legislativos regionais
n.º 8 - transposição de directivas comunitárias
3ª - determina a COMPETÊNCIA das entidades que emanam normas jurídicas:
Art. 161º, 164º e 165º - Competência legislativa da AR
Art. 198º - Competência legislativa do Governo
Art. 227º - Competência legislativa das Regiões Autónomas
Art. 241º - Competência legislativa das autarquias locais.
PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DOS ESQUEMAS RELACIONAIS DAS
FONTES DE DIREITO
Constituição e fontes de direito – a Constituição é o cume da pirâmide. Além de
identificar as fontes de direito estabelece os critérios de validade e de eficácia de cada
uma dessas fontes e determina a competência das entidades que produzem normas
jurídicas.
Princípios estruturantes dos esquemas relacionados entre as fontes de direito são os
(três) seguintes:
1 - Princípio da hierarquia
2 - Princípio da competência
3 - Princípio básico sobre produção jurídica
1º - Princípio da Hierarquia
Princípio da hierarquia – a ideia básica deste princípio é que os actos normativos (leis,
decretos-leis, decretos legislativos regionais e regulamentos), são todos actos
normativos, mas não têm todos a mesma hierarquia, ou seja existe uma pirâmide
jurídica que a Constituição ordena de acordo com os seguintes princípios:
A hierarquização das fontes de direito é um poder cuja exclusividade constitucional
decorre do artigo 112º n.º 5, e concretiza-se nos seguintes princípios:
1) Princípio da preeminência ou superioridade dos actos legislativos (Leis, decretos-leis e
decretos legislativos regionais) relativamente aos actos normativos regulamentares - art.
112º, 6 e 7;
2) Princípio da tendencial paridade ou igualdade entre Lei e Decreto-lei - 112º n.º 2 - o que
significa poderem as leis e os decretos-lei interpretar-se, suspender-se ou revogar-se
reciprocamente60
3) Princípio da prevalência dos princípios fundamentais das leis gerais da
República sobre os actos legislativos regionais - 112º n.º 4
4) Princípio da superioridade ou proeminência das normas de enquadramento e das
leis de bases sobre as normas complementares - 112º n.º 2
5) Princípio da aplicação preferente das normas comunitárias relativamente às
normas internas nacionais - 112º n.º 8 + Tratado da UE.
6) Princípio da inderrogabilidade de norma de grau superior por norma de grau
inferior.
2 - Princípio da competência
Este princípio está associado ao facto de existir uma pluralidade no ordenamento
jurídico que não se reduz ao Estado, pois existe também o ordenamento regional, o local
60 Princípio da tendencial prioridade entre as leis e os decretos-leis, o que significa, que
eles podem em
princípio interpretar-se, suspender-se, ou revogar-se reciprocamente (artigo 112, n. 2)
e o institucional (institutos públicos, empresas públicas, etc.). É também este princípio
que justifica a regulação de certas matérias por determinados órgãos, formando desse
modo blocos de competências em certas matérias. Este princípio não afecta, nem
perturba o princípio da hierarquia.
Delimita a competência legislativa dos órgãos com funções legislativas a determinadas
matérias em função da qualidade (AR, Governo) ou em função do território (Regiões
autónomas e Autarquias Locais):
Assembleia da República – artigos 161º 164º e 165º
Governo – artigo 198º
Regiões Autónomas – artigos 226º a 228º
Autarquias Locais – artigo 241º
3 – Princípio básico sobre a produção jurídica (artigo 112, n. 5)
1 – Nenhuma fonte de direito, pode atribuir a outra um valor do qual ela própria não
detém.
2 – Nenhuma fonte pode atribuir a outra um valor igual ao seu.
3 – Nenhuma fonte pode dispor do seu próprio valor jurídico, quer acrescentando, quer
diminuindo.
4 – Nenhuma fonte pode transpor para o Estado outros actos de real valor.
Nota: Nenhuma fonte de direito pode criar outras fontes com eficácia igual, ou superior
à dela própria, apenas pode criar fontes de eficácia inferior..
Com base neste princípio serão inconstitucionais:
1 – Os regulamentos interpretativos das leis, se eles se arrogarrem o direito de fazer a
interpretação autêntica da lei, mesmo quando esta expressamente o autorize, pois a
interpretação autêntica da lei só pode ser feita por acto legislativo de igual valor.
2 – Os regulamentos derrogatórios das leis, mesmo que a lei autorize a sua revogação
por fonte regulamentar.
OS ACTOS NORMATIVOS
1 - Leis Constitucionais
Leis constitucionais – a Constituição refere expressamente esta categoria (artigo 199, n.
1), alínea a)), são obrigatoriamente publicados no Diário da República, e prescreve a
forma de lei constitucional para certos actos jurídicos. (artigos 284º a 289º). A reserva
de lei constitucional pertence apenas ao poder constituinte e ao poder de revisão.
CONCEITO:
São as que se destinam a produzir alterações à constituição nos termos dos artigos 284º
e seguintes - artigo 166º e 161º a) da CRP.
COMPETÊNCIA:
competência exclusiva da AR - 161º a) + 284º -, por iniciativa
dos deputados - 285º,
FORMA:
necessitam para a sua aprovação de uma maioria de 2/3 dos
deputados em efectividade de funções - 286º.
ESPECIFICIDADES:
O Art. 119º n.º 1 a) determina a publicação das Leis Constitucionais em Diário da
República, conjuntamente com o novo texto integral da CRP - art. 287º n.º 2.
2 - Leis Orgânicas
1 - Não se trata de uma lei diferente das outras leis da assembleia da república, elas são
leis ordinárias ou comuns, ficando desse modo posta de lado a ideia de existir um
escalão entre a lei constitucional e as leis ordinárias. Apesar da sua natureza de lei
ordinária a Constituição confere-lhe a natureza de leis reforçadas (artigos 112º, n. 3,
280º, n. 2, alínea a) e 281º, alínea b))
2 – As leis orgânicas estão vinculadas ao princípio da tipicidade, pois só a lei
constitucional pode atribuir forma especial, valor reforçado e reserva material a certos
tipos de actos legislativos.
3 – Sempre que a Constituição reservar por lei orgânica a disciplina jurídica de uma
certa matéria, então o legislador orgânico é competente nessa matéria em termos
exclusivos. Assim serão inconstitucionais as leis orgânicas de autorização, leis
orgânicas de bases e leis orgânicas limitadas ao regime geral de certas matérias.
4 – É obrigatório a observância do princípio da competência, o princípio da hierarquia e
da reserva de lei absoluta, assim a lei orgânica, pode incluir normas sobre matérias de
lei ordinária, mas não pode reenviar para um lei não orgânica, algumas regulações
normativas sobre matérias qual a constituição inclui no âmbito das leis orgânicas.
5 – A maior parte das leis orgânicas, são obrigatoriamente votadas na especialidade do
plenário da assembleia da república, elas não são só uma reserva do parlamento mas
também uma reserva do plenário (artigo 167º, n. 4).
6 – Embora não sejam as únicas as leis orgânicas exigem maioria qualificada de dois
terços dos deputados presentes e portanto um largo consenso parlamentar, para a
superação do veto político do Presidente da República (artigo 136, n. 3).
7 – A constituição no seu (artigo 116, n. 2) exige a forma de lei orgânica.
8 – As leis orgânicas têm um regime especial de fiscalização preventiva da sua
constitucionalidade (artigo 178º, n. 4).
CONCEITO:
- categoria de leis introduzida pela revisão de 1989 - conceito não
está bem definido na CRP.
- a CRP reservou a disciplina de determinadas matérias para a
forma de Lei Orgânica, artigo 166º n.º 2
- têm um regime próprio, que será o elemento relevante do seu
conceito.
COMPETÊNCIA:
- artigo 166 n.º 2 e artigos 164º e 255º
- são sempre da competência absoluta da Assembleia da
República.
FORMA:
- requerem a aprovação em plenário por maioria absoluta dos
deputados em efectividade de funções - art. 168º n.º 5
ESPECÍFICIDADES
art. 278º n.º 4 - regime especial de fiscalização preventiva
art. 136º n.º 3 - exigem maioria qualificada de 2/3 dos deputados
presentes para superação do veto político.
3 - Leis de Bases (ou de Princípios)
São leis que, consagram as leis as bases gerais de um regime jurídico, deixando a cargo
do executivo os desenvolvimentos desses princípios.
O tipo de leis de bases encontra-se na Constituição (artigo 112º, n. 1, alínea c) e 164º,
alínea d) e i)). Com o princípio da reserva legislativa de bases gerais pretende-se
assegurar a intervenção legislativa primária da Assembleia da República, e permitir ao
Governo, mesmo sem autorização legislativa, legislar sobre essas matérias, depois de
fixadas essas bases gerais, através da lei do parlamento.
Sobre um ponto de vista material as leis de bases constituem directrizes e limites dos
decretos-leis.
Embora as leis e os decretos-leis sejam actos legislativos com igual dignidade
hierárquica, as leis na modalidade de leis de base adquirem um primariedade material e
hierárquica, com a correspondente subordinação dos decretos-leis de desenvolvimentos
(artigos 112º, n. 2, 198º, n. 1, alínea c))
CONCEITO:
- consagram princípios vectores ou bases gerais do regime jurídico
de determinado instituto,
COMPETÊNCIA:
- São da competência da Assembleia da República
FORMA:
- Revestem a forma de Lei - artigo 166º n.º 3 + 161º c) + 164º i), 165º f), g), n), t), u), z)
- e são aprovadas por maioria simples - art. 116º n.º 2 e 3
ESPECÍFICIDADES:- Nessa medida, as Leis de Bases servem como directivas e
limites
materiais aos decretos-leis do governo e decretos legislativos regionais da Assembleias
Legislativas Regionais, no âmbito das matérias que estão reservadas a estas Leis. - Art.
198º 1, c) e 3 +
227º n.º 1 c) e 4.
4 - Leis de autorização legislativa
Leis de autorização legislativa – através destas leis a Assembleia da República habilita
ou autoriza o Governo a emanar actos normativos com força de lei, que também se
chamam de delegação ou de autorização.
CONCEITO:
Leis emitidas com base na expressa autorização de delegação de competências
constante do artigo 165º, em que a AR autoria o Governo ou as Assembleias
Legislativas das Regiões Autónomas a legislar matérias da sua competência relativa. -
198º b) + 227º, 1, b)
COMPETÊNCIA:
Da Assembleia da República - art. 166º n.º 3 e 161º d)
FORMA:
Lei - artigo 166º n.º 3 + 161º d)
ESPECÍFICIDADES:
Têm um regime específico de utilização.
4.1. Regime das Leis de autorização legislativa
LIMITES
MATERIAIS61
- art. 165º n.º 2 - definem o objecto, sentido e extensão da
autorização
- art. 111º n.º 2 + 161º + 164º - não podem incidir sobre matérias
da competência exclusiva absoluta da Assembleia da República
LIMITES
TEMPORAIS:
- art. 165.º n.º 2 - indicam o prazo de duração da autorização;
CESSAÇÃO
DA
AUTORIZAÇÃO62:
- 165º n.º 3 - quando é utilizada - princípio da irrepetibilidade
- quando é revogada pela AR – de
61 Um desses limites é a exigência constitucional de as leis de autorização definirem o
objecto da
autorização (artigo 165, n. 2), o que significa, que é necessário especificá-lo e não
indicar apenas de
forma vaga e imprecisa, quais as matérias que irão ser objecto dos decretos-leis
delegados.
Nos termos desse mesmo artigo (165, n. 2), a lei de autorização também tem de definir
o seu sentido, ou
seja tem de estabelecer os princípios orientadores do governo para emanar esses
decretos-leis.
Uma outra espécie de limites materiais, é a de que a lei de autorização não pode incidir
sobre matérias
necessariamente reguladas por lei formal, nesses casos estamos perante matérias de
especial sensibilidade
política, cujo regulamento deve ser atribuído exclusivamente e indelevelmente ao
parlamento (artigo 161º
e 164º).
Também não pode ser objecto de autorização a emanação de actos que a assembleia da
república pratica
sob uma forma diversa de lei, tais como moções, censuras e resoluções.
62 Para além dos limites referidos, no (artigo 165, n. 2), a autorização pode cessar por
três motivos:
forma expressa mediante Lei revogando a autorização, ou de
forma tácita quando a AR aprova leis durante o período de
autorização regulando directamente as matérias objecto da
autorização.
- artigo 165º n.º 4 – sempre que ocorra:
a demissão do governo
o termo da legislatura
a dissolução da AR
4.2. LEIS DE AUTORIZAÇÃO versus LEIS DE BASES
Semelhanças com as Leis de Bases:
I. nenhuma delas esgota a regulamentação da matéria sobre que versam carecendo
de posterior intervenção legislativa.
II. ambas delimitam e condicionam a área de intervenção legislativa do Governo e a
sua liberdade de conformação.
Diferenças com as Leis de Bases:
I. a lei de bases altera directamente a ordem jurídica, estabelecendo normas gerais que
permanecem efectivas mesmo após a sua regulamentação específica, as leis de
autorização não são directamente eficazes no ordenamento jurídico requerendo a
intervenção do decreto autorizado que vigorará na ordem jurídica.
1 – Utilização dessa autorização pelo governo (artigo 165, n. 3), vigora portanto no
nosso sistema constitucional o princípio da irrepetibilidade dessa autorização, o governo
não pode utilizar essa autorização mais do que uma vez, e estar-lhe também vedado a
revogação, alteração ou substituição do decreto-lei autorizado.
Nota: Isto não significa a proibição de utilização parcelar da autorização.
2 – Revogação pela assembleia da república, esta pode revogar a autorização, com base
neste princípio,
quem pode conceder também pode revogar.
Essa revogação deve ser feita de forma expressa e através de um acto de igual valor ao
da autorização (lei), no entanto se a assembleia da república durante o período de
autorização da autorização emanar leis que, regulem directamente as matérias que eram
objecto da lei de autorização, isso significa que, houve
uma revogação tácita ou implícita.
3 – Caducidade pelos razões enumeradas no (artigo 165, n. 4), são três:
- Demissão do governo
- Termo, ou fim da legislatura
- Dissolução da assembleia da república
Estamos aqui perante uma relação de confiança, entre o órgão parlamentar e o governo,
motivo pelo qual
a autorização caduca, com a alteração de qualquer desses órgãos.
(Artigo 165, n. 5) – As autorizações concedidas ao governo na lei do orçamento, só
caducam no termo do
ano económico a que respeitam, quando incidam sobre matérias fiscais.
II.a lei de bases fica apenas suspensa do desenvolvimento legislativo por parte do governo;
enquanto a lei de autorização caduca se não for utilizada, ou esgota-se nessa mesma
utilização.
III. a lei de autorização delega no governo a competência ara legislar sobre aquela assunto
apenas uma vez, enquanto perante uma Lei de Bases o governo pode livremente e
sucessivamente modificar o desenvolvimento que deu á lei.
IV. só pode haver leis de autorização em matérias pertencentes ao domínio reservado da AR,
enquanto as leis de bases podem surgir em qualquer domínio legislativo.
5 - Leis Estatutárias
As leis estatutárias, são as leis da assembleia da república que, aprovam os estatutos
políticos, administrativos das regiões autónomas (artigo 226), os estatutos ocupam uma
posição hierarquia privilegiada devendo considerar-se como leis reforçadas (artigos
226º, n. 2 e 280º, n. 2, alínea b)).
CONCEITO:
Leis da AR que aprovam os estatutos politico-administrativos das regiões autónomas,
onde se definem os seus esquemas organizatórios fundamentais e a regulação do
exercício dos poderes regionais
COMPETÊNCIA:
- o impulso de procedimento estatutário cabe À ALR - art. 226º n.º
1- a deliberação cabe à AR, 161º, 1, b) e 226º 1, 2 e 3
FORMA:
- Têm a forma de Lei da AR, devendo ser aprovada por maioria
simples. art. 161º, 1 b) e c) e 116º.
ESPECÍFICIDADES:
---
6 - Leis reforçadas
Leis reforçadas – algumas das categorias de leis cabem no conceito de leis reforçadas,
como é o caso das leis orgânicas, leis de autorização leis de bases e leis estatutárias
(artigo 112, n. 3), faz alusão a esse tipo de leis.
Este artigo diz-nos que devem ser consideradas como tal as leis que devam ser
respeitadas por outras leis.
A lei das grandes opções do plano do governo (artigos 91, 106, n. 2).
A lei-quadro das reprivatizações (artigo 293).
Os estatutos das regiões autónomas (artigo 226)
As leis das finanças autónomas (artigo 229, n. 3 e 164, alínea t).
CONCEITO:
Vêm tipificadas no art. 112º n.º 3 em quatro categorias:
- leis orgânicas
- leis que carecem de aprovação de maioria de 2/3
- leis que por força da constituição sejam pressuposto
normativo de outras leis
- leis que por outras leis devam ser respeitadas
COMPETÊNCIA:
São sempre Leis da AR.
FORMA:
Serão assim leis reforçadas, além das Leis Orgânicas:
- as leis de bases
- as leis de autorização
- as leis de enquadramento do orçamento - 106º, 1 ; 164º,
r), 227º 1, r) e 232º 1.
ESPECÍFICIDADES:
- prevalecem sobre as Leis e Decretos-leis que versam
sobre a mesma matéria - 112º n.º 3;
7 – Leis de enquadramento
Leis de enquadramento ou leis-quadro: as leis de enquadramento não se confundem com
as leis de bases, pois com elas pretende-se estabelecer os parâmetros estruturantes de
um sector da vida económica, social e cultural: é o que acontece com a lei de
enquadramento do orçamento do Estado, com a lei-quadro da criação, modificação e
extinção das autarquias e com a lei-quadro das reprivatizações.
2.2.1 OBJECTO
Art. 281º n.º 1, a) - apreciação da inconstitucionalidade directa de quaisquer normas
jurídicas já promulgadas ou assinadas;
Art. 281, n.º 1, b) c) e d) - Apreciação da inconstitucionalidade indirecta (ilegalidade)
resultante da violação de normas de hierarquia superior por normas de valor inferior
2.2.2. LEGITIMIDADE
Art. 282º, n.º2 - todos os constantes
2.2.3. PROCESSO
O requerimento pode ser efectuado a todo o tempo e até à decisão final do Tribunal
Constitucional, o processo a apreciação da inconstitucionalidade abstracta sucessiva não
determinam a suspensão da vigência ou aplicação da norma, ou sequer a suspensão da
sua eventual publicação caso ainda não se tenha verificado, pois o Tribunal
Constitucional não pode adoptar providências cautelares.
2.2.4EFEITOS
Art. 282º n.º 1, 2, e 3 - Força obrigatória geral
Art. 282º, n.º 1 - tratando-se de inconstitucionalidade originária, produz efeitos desde a
entrada em vigor da norma declarada inconstitucional, retroactivamente, e determina a
repristinação das normas por ela revogadas
Art. 282º n.º 2 - tratando-se de inconstitucionalidade superveniente, apenas produz
efeitos após a entrada em vigor da norma constitucional ou legal posterior,
retroactivamente, e não produz a repristinação das normas por esta revogadas
Art. 282º n.º 3 - não há retroactividade dos efeitos quanto a casos julgados, salvo
decisão em contrário do Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria
penal, disciplinar, de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao
arguido.
Art. 282º n.º 4 - a retroactividade definida nos números 1 e 2 pode ser restringida
quando o Tribunal Constitucional entender ser justificado por razões de segurança
jurídica, equidade ou interesse público de excepcional relevo.
2.3) No caso de estarmos perante uma questão de constitucionalidade levantada no
âmbito de um processo judicial comum pendente, estamos perante uma
FISCALIZAÇÃO CONCRETA SUCESSIVA.
2.3.1 OBEJCTO
Art. 280º, n.º 1, 2 e 5 – Só há recurso à fiscalização concreta sucessiva directa para o
Tribunal Constitucional no âmbito de decisões dos Tribunais e nunca de qualquer órgão
de soberania.
Art. 280º, n.º 6 – O objecto do recurso é só da constitucionalidade directa ou indirecta
(ilegalidade) da norma e não do mérito da decisão do caso concreto
Art. 280º n.º 1, 2 e 5 – O âmbito da fiscalização concreta restringe-se às normas
aplicadas a um caso concreto submetido a julgamento em Tribunal comum, e logo a
título incidental e desde que com interesse (nexo causalidade) com a questão em juízo.
Art. 280º n.º 5 – Tipos de decisões:
- decisões judiciais que recusem aplicar normas com fundamento em
inconstitucionalidade directa ou indirecta (ilegalidade),
- que apliquem norma cuja inconstitucionalidade directa ou indirecta (ilegalidade) haja
sido suscitada durante o processo.
- que apliquem normas anteriormente julgadas inconstitucionais pelo próprio Tribunal
constitucional.
2.3.2. LEGITIMIDADE
Art. 280º n.º 4 - No caso de aplicação de norma cuja inconstitucionalidade directa ou
indirecta (ilegalidade) haja sido suscitada, só pode recorrer com este fundamento para o
tribunal Constitucional a parte que alegou a inconstitucionalidade
Art 280º n.º 1, b) e 2, d) – sendo que, neste caso, a questão da inconstitucionalidade
deverá ter sido suscitada em primeira instância ou em fase de recurso para os Tribunais
comuns superiores, e não no recurso para o Tribunal Constitucional.
No caso de recusa de aplicação de norma com fundamento em inconstitucionalidade
directa ou indirecta (ilegalidade) qualquer parte pode recorrer para o tribunal
constitucional desde que tenha interesse e legitimidade processual para isso.
Art. 280º n.º 3 e 5 - O Ministério Público é obrigado a recorrer para o Tribunal
Constitucional nos casos de decisão judicial que recuse a aplicação de norma constante
de convenção internacional, de acto legislativo ou de decreto regulamentar, e nos casos
de aplicação de norma anteriormente julgada inconstitucional pelo próprio Tribunal
constitucional.
2.3.3. PROCESSO
A recurso para o Tribunal Constitucional respeita as normas de processo dos Tribunais
Comuns e do próprio Tribunal Constitucional.
2.3.4. EFEITOS
A decisão de inconstitucionalidade de uma norma no âmbito de fiscalização concreta
sucessiva faz caso julgado, quanto a essa inconstitucionalidade, mas apenas no âmbito
do processo em que foi suscitada
Por outro lado, a decisão do Tribunal Constitucional apenas se debruça sobre a
constitucionalidade da norma, e não sobre a decisão da questão concreta em juízo. Logo
a decisão do Tribunal Constitucional não substitui a decisão do Tribunal recorrido, ou
sequer a anula, apenas ordenando que o mesmo profira nova decisão em conformidade
com o julgamento de constitucionalidade das normas aplicadas.
Em caso de decisão de inconstitucionalidade de norma aplicada pelo Tribunal, ou de
conformidade de norma não aplicada pelo Tribunal com fundamento em
inconstitucionalidade, os autos baixarão ao tribunal de onde provieram a fim de este,
consoante o caso, reforme a decisão ou a mande reformar em conformidade com a o
julgamento da questão de inconstitucionalidade.
2.4.) No caso de estarmos perante uma norma julgada inconstitucional por 3 vezes em
sede de fiscalização concreta pode igualmente haver lugar à FISCALIZAÇÃO
ABSTRACTA SUCESSIVA:
2.4.1.) Quanto ao OBJECTO:
Nos termos do 281º n.º 3, o Tribunal Constitucional também aprecia em abstracto e com
força obrigatória geral as normas que haja julgado inconstitucionais em três casos de
fiscalização concreta.
O relevante nas 3 situações de fiscalização concreta é a identidade da norma julgada
inconstitucional e não do fundamento da inconstitucionalidade.
2.4.2) Quanto à LEGITIMIDADE
A iniciativa é dos próprios juízes do Tribunal Constitucional ou do Ministério Público
(Lei do Tribunal Constitucional).
2.4.3) No mais aplicam-se as regras gerais da fiscalização abstracta sucessiva (ver ponto
2.2.)
2.5) O facto de estar a decorrer uma fiscalização concreta sucessiva da
constitucionalidade não impede que as pessoas com legitimidade para o efeito
requeiram a fiscalização abstracta sucessiva da constitucionalidade da mesma norma.
Nem o facto de estar a decorrer uma fiscalização abstracta sucessiva de determinada
norma, ou existir uma decisão de conformidade do Tribunal Constitucional sobre essa
norma, não impede que no âmbito de um processo pendente nos tribunais comuns se
requeira a fiscalização concreta sucessiva da constitucionalidade.
2.6) Finalmente, no caso de estarmos perante a omissão de aprovação de legislação
necessária à exequibilidade de norma constitucional estaremos perante uma
FISCALIZAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO:
2.6.1. OBJECTO
Art. 283º n.º 1 - São pressupostos da inconstitucionalidade por omissão:
a) que o não cumprimento da CRP derive da violação de certa e determinada norma;
b) que se trata de norma constitucional não exequível por si mesma;
c) que, nas circunstâncias concretas da pratica legislativa, faltem as medidas legislativas
necessárias para tornar exequível aquela norma.
2.6.2. LEGITIMIDADE
283º n.º 1 - em geral cabe ao Presidente da República e ao Provedor de Justiça; no caso
de "violação dos direitos da regiões autónomas cabe aos presidentes das assembleias
legislativas da regiões autónomas.
2.6.3. PROCESSO
Art. 283º n.º 1 - a requerimento a todo o tempo de qualquer das pessoas com
legitimidade.
2.6.4. EFEITOS
Art. 283º n.º 2 - o Tribunal Constitucional dá dessa omissão conhecimento ao órgão
legislativo competente, mas a CRP é omissa quanto à consequência da manutenção da
omissão, após esta comunicação.
Admite-se que seja requerido novo processo de fiscalização por omissão se esta se
mantiver.