Já era tarde e frio, mas não para um coração que não
pode esperar. Com apenas uma calça branca e um pano vermelho enrolado ao corpo eu sai daquela barraca no meio do deserto. O vento me cortava a alma, mas minha esperança logo a cicatrizava. Buscava uma resposta, um pedaço perdido no tempo, algo que me fizesse enxergar de novo. Passo a passo a noite caia, a lua cheia me encarava e sorria ironicamente, enquanto meus passos longos iam deserto adentro. Ele me engolia, me exilava do mundo. Cada vez mais minha companhia era minha sorte. Sorte pálida. Caminhei sem destino, contra o vento, a favor da morte. As pernas doíam, mas o coração não podia parar, eu precisava chegar ao outro lado da areia infinita, saber se meu coração batia por vontade própria ou se ela ainda era minha vida. Quero estar em seus braços de novo, quero sentir seu cabelo voando em meu rosto, quero ver seu sorriso apenas mais uma vez. A lua parecia tão longe quando a vi pela ultima vez, ainda que irônica, era minha única luz. Cai no tapete de areia... o céu negro e solitário deixava as estrelas te pintarem... as pálpebras se encontravam, estava cada segundo mais perto de minha alma, queria poder levantar e continuar, sentia inveja dos grãos de areia sendo carregado nos braços do vento. Virei a cabeça e olhei ao horizonte, nada havia mudado, a mesma imensidão branca em contraste com a negra, e eu no meio disso tudo. Mais ao lado avistei uma grande pedra cercada de cacto, seria ali meu abrigo. Me lembrei dela, do jeito que ela me empurrava em direção as ondas, fechei os olhos, quando abri de novo vi ela na minha frente a beira da praia, seu sorriso, sua mão segurando o chapéu para não voar. Eu sabia que era uma ilusão, mas foi isso que me fez me arrastar até as pedras. Me sentia mais perto, quase podia sentir o seu perfume, encostei a cabeça na pedra, olhava para o chão fixamente, observava cada grão de areia que rolava lentamente, lentamente... até meus olhos fecharem, era de mais para mim, meu corpo dormiu por vontade própria, mas eu sei que logo acordaria. Luz, o sol veio me visitar, parecia ser bem vindo até então. Meu corpo sentia fome e continuaria assim por um bom tempo, ou para sempre. Me levantei devagar, tirei a areia do corpo, cobri a cabeça com o pano vermelho e voltei a caminhar, agora em direção ao sol. Por quanto tempo, até onde manterei um pé na frente do outro, até quando mantei a cabeça erguida, ou o suficiente para saber para onde estou indo. As vezes na vida as coisas não parecem fazer sentido, você core e corre, mas nunca chega, ou descobre que na verdade o que você sempre fez foi apenas sonhar, mas nunca saiu do lugar. As vezes a vida nos da caminhos que não fazem sentido, caminhos dos quais não sabemos a onde vai dar, estradas que gostamos, estradas que não gostamos, no entanto sempre tivemos a opção de voltar, mas nosso orgulho não deixa. Ei você, não tenha preguiça ou receio de mudar de ideia, mudar de caminho, mudar tudo em sua vida. Enquanto você puder fazer algo para mudar, faça. Caminhe pelas estradas vazias, ou cheias, esburacadas ou lisas. Apenas não pare no meio do caminho, tenha fé e acredite em algo de valor. A vida vale a pena se tu a fazer valer. O sol me castigava, me tirava água, me tirava forças, me tirava esperanças. Paços lentos, olhava para trás e via meu rastro, meu passado estampado em pegadas que se desmanchavam com o vento. Imaginava meu futuro... Um lugar calmo e fresco, uma rede, e ela do meu lado. Mas eram dunas de areia que me esperavam. Quente, tão quente que meus pés pegavam fogo, minha cabeça girava, já não sabia a quanto tempo estava andado. A fome e a sede me embrulhavam o estomago. Me sentia pesado, a luz do sol me abraçava, via apenas uma imensidão branca em meus olhos. De repente uma paz me dominava, já não sentia mais nada, não via mais nada. Ei amor, será que você esta por aqui, grite meu nome, irei onde você está, ei amor, me perdoe, eu errei. Mas hoje estou aqui, me deixei mostrar o que sinto. Amor.. não sei onde estou... Imensidão branca, via seu vulto. Aos poucos uma imagem ia se formando em minha mente; areia, coqueiro, mar azul, pessoas. Estaria no paraíso? As pessoas pareciam não me ver, eu era um espectador observando a vida. Aos poucos elas foram sumindo, as crianças, o mar, a areia.. tudo ia embora. Estendi o braço, sentia uma lágrima escorrer do rosto. O mundo se foi, meus sonhos e minha vida. Minha alma caminha por esse deserto, ainda a sinto muito perto, seria apenas um pedaço de mim? Minha alma finalmente se aproximou mais, segurou em meus braços e com o rosto bem perto do meu dizia: Acorde, ainda é sedo de mais pra quem teve tempo de se arrepender, venha... ela está aqui, ela quer te ver. Não havia o que entender, apenas abri os olhos, apenas ressuscitei para poder olhar naqueles olhos novamente, e saber que eles são o motivo da minha persistência. A razão inconsequente dos meus atos, a fúria e a fome de amor. A vontade sem fim de apenas querer estar do seu lado e ser tão feliz, que se eu morresse de amor, morreria feliz.